Faz três anos que eu estou na Casa Menina Mulher, mas eu vou contar só um fato que aconteceu comigo dentro do projeto. Teve uma encomenda de cabaça, era para essa encomenda ir depois de um mês. De repente veio uma outra encomenda de 250 cabaças, de repente. E Rômulo que é responsável lá, ele disse: “Meu Deus, como é que eu vou fazer? Tenho que arrumar as cabaças, não sei o que”. Aí eu fui com ele no mercado, tudinho, conseguiu as 250 cabaças. E pra pintar e aquele negócio, poucas meninas e aquele corre, corre, “só tem duas semanas, tem que entregar”. Aí eu já estava sendo professora de pintura, eu disse: “infelizmente você vai ter que escolher alguém aí para poder assumir”. É um trabalho imenso, você tem que lixar a cabaça, tem que pintar, tem que fazer outra pintura por cima. E depois outra menina tem que colocar os cabelinhos, fazer o olho, a boca, tudo, é um trabalho imenso, em duas semanas. Aí complicou mais ainda. Ele: “então, vamos ver, a gente tem que resolver isso aí”. Aí eu disse: “é”. Aí foi quando ele disse: “não, se não tem, então as meninas vão ter que se virar”. Eu disse: “não, eu já sei o que vou fazer”. As meninas que estão na iniciação podem lixar, eu lixo com elas, a gente pinta. E as meninas que estão no projeto Criando Arte, elas pintam e depois eu, no final, eu vejo o que precisa. Ele: “Poxa, Andreza, beleza”. Eu fiz isso. Ele me apressando, eu disse: “calma, calma, não é assim, não é assim”. As meninas pintando, pintando, foi quando um dia eu vi que tinha muita cabaça ainda pra ser pintada e não ia dar tempo. Foi numa quarta-feira, as meninas todas pintando e eu ainda estava ajeitando as outras cabaças que já estavam pintadas. Foi quando eu chamei duas meninas e disse: “me ajuda aqui”. Ela veio: “eu não vou ajudar não”. Eu: “por quê?”. “Porque eu estou pintando, se eu for parar aqui eu vou deixar de ganhar para ajeitar o que é dos outros?”....
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Faz três anos que eu estou na Casa Menina Mulher, mas eu vou contar só um fato que aconteceu comigo dentro do projeto. Teve uma encomenda de cabaça, era para essa encomenda ir depois de um mês. De repente veio uma outra encomenda de 250 cabaças, de repente. E Rômulo que é responsável lá, ele disse: “Meu Deus, como é que eu vou fazer? Tenho que arrumar as cabaças, não sei o que”. Aí eu fui com ele no mercado, tudinho, conseguiu as 250 cabaças. E pra pintar e aquele negócio, poucas meninas e aquele corre, corre, “só tem duas semanas, tem que entregar”. Aí eu já estava sendo professora de pintura, eu disse: “infelizmente você vai ter que escolher alguém aí para poder assumir”. É um trabalho imenso, você tem que lixar a cabaça, tem que pintar, tem que fazer outra pintura por cima. E depois outra menina tem que colocar os cabelinhos, fazer o olho, a boca, tudo, é um trabalho imenso, em duas semanas. Aí complicou mais ainda. Ele: “então, vamos ver, a gente tem que resolver isso aí”. Aí eu disse: “é”. Aí foi quando ele disse: “não, se não tem, então as meninas vão ter que se virar”. Eu disse: “não, eu já sei o que vou fazer”. As meninas que estão na iniciação podem lixar, eu lixo com elas, a gente pinta. E as meninas que estão no projeto Criando Arte, elas pintam e depois eu, no final, eu vejo o que precisa. Ele: “Poxa, Andreza, beleza”. Eu fiz isso. Ele me apressando, eu disse: “calma, calma, não é assim, não é assim”. As meninas pintando, pintando, foi quando um dia eu vi que tinha muita cabaça ainda pra ser pintada e não ia dar tempo. Foi numa quarta-feira, as meninas todas pintando e eu ainda estava ajeitando as outras cabaças que já estavam pintadas. Foi quando eu chamei duas meninas e disse: “me ajuda aqui”. Ela veio: “eu não vou ajudar não”. Eu: “por quê?”. “Porque eu estou pintando, se eu for parar aqui eu vou deixar de ganhar para ajeitar o que é dos outros?”. Aí eu; “poxa” não viu, não quis saber, não quis se importar com o produto, não estava interessada, de ser fazer produto bonito, perfeito. Ela estava preocupada com o que ia ganhar, com o que ia receber. Aí eu disse pra ela: “tá pensando que você fazendo isso, você está se ajudando? Você acha que se a gente mandar um produto feio, de qualquer jeito, só porque a gente tem pouco tempo pra poder mandar? A gente manda o que é possível, agora bonito, porque a gente mandando pouco e mandando perfeito, eu tenho certeza que vai encomendar de novo”. Ela: “ah, quem foi que te disse isso, foi Rômulo? Continua ajeitando aí que tu vai ganhar é nada”. Eu sei que eu fiquei assim, né, porque como é amiga, você nunca espera a outra pessoa dizer uma coisa dessas pra você, mas mesmo assim, eu continuei a pintar tudinho. Eu fiquei triste, eu coloquei pra ele, eu disse: “Ó, eu to fazendo sozinha, as meninas não querem me ajudar mais”. Aí ele: “poxa”. Subiu, falou com as meninas. Praticamente só fui eu e mais duas meninas que fez tudo. As outras apenas fazem, só em olho grande. Não se preocupou muito em dar o design, sabe, não se preocupou de jeito nenhum. Isso marcou muito, porque eu fiquei muito triste por eu estar num grupo e o grupo não teve essa preocupação de ajeitar, de ter paciência de pintar. E é bom quando a gente faz uma coisa que gosta. Eu disse a ela: “eu tô aqui, eu sei que o que eu ganho aqui me ajuda muito, mas eu estou porque eu gosto de pintar, não é porque eu tenho necessidade. Você não, você está aqui por necessidade, eu sei disso”. Hoje a maioria das meninas fala comigo por falar, mas fazer o quê? Mas acho que cada um faz o que gosta. Acho que muitos aqui, fazem bijuterias, outras na área de saúde, está ali porque gosta. Eu mesma estou na área de pintura porque eu gosto, eu amo pintura. E espero futuramente, ser uma grande, reconhecida, uma grande artesã. Eu acho que hoje, a gente deve dar valor ao que a gente sabe e passar pra outras pessoas o que sabe. Não aprender e ficar guardado. Não deve guardar isso. Eram bonecas de cabaça. Ele disse: “pinte com elementos regionais”. Só que algumas cabaças foram modificadas porque as meninas não estavam cuidando. Estavam pintando florzinha, aquelas besteirinhas, porque estavam preocupadas com a quantidade. Porque quanto mais quantidade, você ganha mais dinheiro. Algumas cabaças foram modificadas. Porque como eu fiquei responsável pelo controle das cabaças, aí foi que me quebrei. Mas teve uma encomenda anterior das cabaças. Eu não sei. Aí pronto. Aí depois vieram essas 250, né? Gostaram das primeiras. E acho que gostaram da segunda também.
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