Projeto Memória dos Trabalhadores Petrobras
Depoimento de Wanderley Antunes Bezerra
Entrevistado por Márcia Treza
São Paulo, 11 de setembro de 2003
Realização Museu da Pessoa
PETRO_TM005
Transcrito por Transkiptor
Trabalhadores da Petrobras, realização do Museu da Pessoa, entrevista temática 005, Campinas, 11 de setembro de 2003, entrevista realizada por Márcia Treza. Vanderlei, você podia dizer seu nome todo, a cidade, a data que você nasceu?
Eu sou Vanderlei Antunes Vieira, nasci na cidade de Guadu, Ceará, dia 23 de setembro de 1962. Na rua de Zagallancá.
Você lembra?
Não lembro não, mas me disseram.
Vanderlei, como é que foi a sua entrada na Petrobras? Por que você resolveu ir trabalhar lá? Quando foi?
A minha entrada na Petrobras foi uma coisa meio casual. Embora, como eu sou de um curso profissionalizante que não tem muito a ver com petróleo, sou do curso de estradas, Eu nunca visualizei trabalhar em Petrobras, muito menos em plataforma marítima, com essa eleição que eu fiz. Na época eu trabalhava na equipe de saneamento no estado, era um trabalho que há pouco tempo não era a era de ser registro. Há cinco meses tinha sido só de estrada na minha carteira. Apareceu a seleção de uma hora para outra. Aí fiz a seleção. Era eu e mais 350 pessoas. Aí aprovaram 30 e eu estava nos 30. Então foi esse meu casual.
Que ano foi?
Em julho de 1984.
E assim, o que é que você tem para contar da sua passagem na Petrobrás? O seu trabalho lá?
Bem, o trabalho, até eu faço uma diferenciação entre o trabalho e o ambiente em que eu trabalho. Porque o trabalho em si, o trabalho de operador, eu acho um trabalho excelente. Eu nunca tive uma tendência a fazer trabalho burocrático. Sempre temi muito, nunca fiz seleção para a Banca do Brasil, com alguns colegas na época, acho que era a melhor opção que se tinha. não tinha tendência a trabalho burocrático. Quando eu vi o trabalho de operador, que eu não sabia nem o que era...
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Depoimento de Wanderley Antunes Bezerra
Entrevistado por Márcia Treza
São Paulo, 11 de setembro de 2003
Realização Museu da Pessoa
PETRO_TM005
Transcrito por Transkiptor
Trabalhadores da Petrobras, realização do Museu da Pessoa, entrevista temática 005, Campinas, 11 de setembro de 2003, entrevista realizada por Márcia Treza. Vanderlei, você podia dizer seu nome todo, a cidade, a data que você nasceu?
Eu sou Vanderlei Antunes Vieira, nasci na cidade de Guadu, Ceará, dia 23 de setembro de 1962. Na rua de Zagallancá.
Você lembra?
Não lembro não, mas me disseram.
Vanderlei, como é que foi a sua entrada na Petrobras? Por que você resolveu ir trabalhar lá? Quando foi?
A minha entrada na Petrobras foi uma coisa meio casual. Embora, como eu sou de um curso profissionalizante que não tem muito a ver com petróleo, sou do curso de estradas, Eu nunca visualizei trabalhar em Petrobras, muito menos em plataforma marítima, com essa eleição que eu fiz. Na época eu trabalhava na equipe de saneamento no estado, era um trabalho que há pouco tempo não era a era de ser registro. Há cinco meses tinha sido só de estrada na minha carteira. Apareceu a seleção de uma hora para outra. Aí fiz a seleção. Era eu e mais 350 pessoas. Aí aprovaram 30 e eu estava nos 30. Então foi esse meu casual.
Que ano foi?
Em julho de 1984.
E assim, o que é que você tem para contar da sua passagem na Petrobrás? O seu trabalho lá?
Bem, o trabalho, até eu faço uma diferenciação entre o trabalho e o ambiente em que eu trabalho. Porque o trabalho em si, o trabalho de operador, eu acho um trabalho excelente. Eu nunca tive uma tendência a fazer trabalho burocrático. Sempre temi muito, nunca fiz seleção para a Banca do Brasil, com alguns colegas na época, acho que era a melhor opção que se tinha. não tinha tendência a trabalho burocrático. Quando eu vi o trabalho de operador, que eu não sabia nem o que era direito, na verdade era auxiliar de plataforma, aí eu fiz e comecei. O trabalho era bom, que não era rotineiro, sempre com novidades, sempre com desafios diários.
Você ficava embarcado?
É, aí o problema era o ambiente do local. Era um trabalho confinado, numa plataforma marítima de aço, característica lá do Cerrado, não sei, ficar longe da família. Eu ficava sete dias longe da família, isolado, no meio do mar, numa ambiência totalmente que eu não tinha costume, né, que era tudo aço, tudo nada, que tem nada de natureza, embora é uma... é uma planta, é uma anomalia dentro do oceano que é uma coisa da natureza, é uma coisa meio difícil. Mas fora a questão do distanciamento, isolamento, porque nós tínhamos muita dificuldade de falar com nossas famílias, porque na época não tinha tecnologia para ter uma informação, um telefone diário, que às vezes não existia, foi bastante penoso. Mas o gratificante era exatamente pela função, você trabalhava numa coisa que você sabia que estava gerando riqueza, você não tinha a rotina, todo dia era um desafio, toda... às vezes em condições péssimas, até para dormir, de alimentação, mas a gente achava muito gratificante ver.
E você ficou quanto tempo assim, trabalhando na plataforma?
Eu trabalho até hoje, né? Até hoje eu sou lotado em plataforma marítima, lá no Mar de Paracuru, lá no Ceará. Mas... intercalei com alguns períodos de liberação de dirigente, e foi nos momentos em que eu me afastei da minha atividade como só esse. Eu tive três anos afastados no início da minha vida sindical, assim que eu entrei no filial sindical, e quando eu completei dois anos, uma derrilação mandada, eu concorri a delegado sindical. Eu fui o primeiro delegado sindical no Robshon. Foi um momento interessante, porque A petrobrás no Ceará era uma atividade que vinha desde a década de 60. Aí solta uma unidade industrial, que foi a primeira, a primeira não, a segunda unidade industrial do Nordeste, precisamente a fábrica de asfalto no Ceará. Aí quando começaram a descobrir, só que era uma unidade muito pequena, uma unidade muito pequena. Quando começaram a descobrir petróleo no Ceará, certo aí, começou a surgir outra atividade, e o mundo muito maior de pessoas. Então, na minha na minha gestão, como os primeiros a serem criados, nós optamos por não montar outro sindicato, que não é preciso montar outro sindicato, um sindicato só da área de produção. Nós optamos por ser, já não criar outro, para ser do mesmo sindicato, um sindicato só do Estado.
Sindicato, como é que chamava?
Sindicato da indústria de destilação e refinação de petróleo. Até hoje é assim. Aí tínhamos sindicatos, trabalhadoras de exploração e produção. Você podia criar esse outro sindicato. Aí nós preferimos ficar no sindicato que já existia, de petroleiros. Nós saltamos o número de filiados do sindicato, que era em torno de 150 pessoas. Nós saltamos para 800, em dois anos, porque nós mudamos a vida do sindicato, se dá água por vinda.
Isso como delegado sindical?
Isso como delegado sindical.
Você falou que comandava a legislação, mas como que era isso assim?
Como que a legislação servia para você.
Saber que podia se candidatar?
É, porque até 88, de todo o arcabouço jurídico, você tinha umas regras que a própria Comissão de Trabalho definia.
Sim.
Então, para você fazer parte do sindicato, você tinha que ter pelo menos dois anos de categoria profissional. Era parte da normatização do estatuto padrão que os sindicatos deveriam ter. Então, eu fui militante filiado no sindicato até de 1984, na época em que eu entrei. Eu vinha de uma militância no movimento estudantil, na universidade.
Ah, isso eu queria saber, como é que você tinha entrado para o movimento?
É, não, aí é um pouco antes. Minha próxima ação primeira foi no Grêmio Institutivo da Escola Técnica, com 15 anos de idade. Aí aos 17 anos eu já estava na universidade. Aí eu militava junto, próximo ao centro pessoal do que chamava Jornal da Tribuna da Luta Operária, que era o pessoal do PCdoB, que depois ficou PCdoB. Aí eu militava próximo a eles, sem nunca fazer parte, mas militava. Quando entrei no sindicato, quando entrei na Petrobras, eu já descobri que era essa questão militar, o que tinha ajudado certa montagem. o DC da minha universidade, a gente reconstruiu o DC na época, no início da década de 80, eu era o companheiro do meu centro, que era o centro onde eu estudava, era o articulador do centro para poder fazer o encontro de criação para o DCR, DCR e tal. Então, quando eu entrei na universidade, quando eu entrei na Petrobras foi uma coisa natural, uma coisa bem natural. Quando foi, aí pronto, esperei completar os dois anos, de filiação, pude concorrer, bumbletei em agosto e em setembro me inscrevi na chapa. Aí pronto, aí isso aí, já pegamos em 88, a primeira greve dos petroleiros depois de 83, depois da chamada greve de 83, que teve um grande recluso dos petroleiros nesse período, Como assim?
Fala um pouco desse refluxo.
Depois de 83 foi uma greve. A greve não conseguiu ser nacionalmente articulada, foi apenas dois estados. Deu um grande refluxo ao movimento e não conseguia mais fazer populações mais concretas, mais decisivas por um longo período. Foi ao menos a fase mais vazante de 95 também. Sim. Por que você acha que teve esse refluxo?
A greve aconteceu em Bahia e... É, e por que eu acho que atinge a...
O indivíduo grande da repressão pública.
Entendi.
Embora nós tivéssemos um momento, certo, de reacender a democracia, certo, a própria categoria, alguns próprios, assim, a CUT tinha pouco influência dentro dos sindicatos, a CUT estava aparecendo.
Tinha ou não tinha?
A CUT... Não, no Acute... Estava se organizando ainda.
Sim, mas ele disse que a influência ainda não tinha.
Não, não tinha. Não tinha muita influência. Os sindicatos pedroleiros do Cearaça, na época que eu entrei como delegado, nós estávamos organizando, que eram os sindicatos ligados a Acute, nossa vinculação era com votos das estatais. Nós tínhamos um fórum, nós articulávamos no dia das campanhas, articulávamos bancários, Banco Central, que é uma organização de bancários, coelho adversitários, que tinha uma demanda própria. Então, nós tínhamos uma série de categorias, mas nos articulávamos informalmente, sem ser com o CUT, mas com a não filiação a CUT. A filiação a CUT, ela se deu, ficou no Congresso de 88 da CUT, que hoje em dia é o Conselho de Direção da CUT, agora sei mais a profundo o porquê.
Então, Banderlei, voltando, você começou a falar da relação com a CUT, nessa época. Me cita a época novamente.
Bem, a época, a minha relação com a CUT, ela começou em 87, participando do Fórum, Fórum das Estatais. Entrei para o sindicato em 86, com a tarefa de fazer a inserção dos trabalhadores da área de produção, dentro do sindicato, filiando o trabalho, basicamente era isso, filiando e organizando, sentar a base de trabalhadores offshore, na plataforma marítima, entre os campos de produção terrestre. Nessa, que é a base Aracati, Aracati, Capuí, que faz a interseção com o Rio Grande do Norte. Então essa era a discussão da minha tarefa enquanto categoria. Dentro da tarefa, um movimento mais amplo, já extrapolando uma atividade intercategoria, eu representava os petroleiros no fórum das estatais. Era um fórum que articulava as campanhas dos vários segmentos, eletricitários, banco central, os bancários que nós estávamos preparando para disputar o sindicato com o campo da CUT, O sindicato dos bancários não era de campo da CUT ainda.
No Ceará.
No Ceará. Não era ainda, mas apoiava o MOB, o Movimento de Oposição Bancária, que ganhamos em 88. Então, a minha história na CUT, ela remonta à primeira relação com esse fórum das estatais. Nem em 89 nós participamos do primeiro congresso. Filhamos do sindicato Acute, do nosso congresso estadual, e já participamos do primeiro congresso da Acute. Aí foi o início da minha relação mais concreta dentro da Acute. Isso com uma característica um pouco diferenciada, porque como eu militava nos petroleiros, As forças políticas dos petroleiros, a atuação das forças políticas nacionais era muito diferenciada no estado do Ceará.
Por quê?
Porque a tendência majoritária da CUT, da qual eu pertencia no campo petroleiro, era totalmente minoritária no estado. Nós tínhamos apenas 10% da representação no Congresso. Então, nós assumimos naquela época uma tarefa muito árdua. Já com o Sindicato dos Bancos marco na construção da CUT no Estado e na construção da articulação, que a maioria dos sindicatos bancários era do campo da articulação. Então aí, em 88, com a nossa vitória, nós delimitamos a alteração na correlação de forças na inserção da CUT.
Agora, quando você fala da inserção da CUT, que a tendência era minoritária, mas em um sindicato dos petroleiros no Ceará, as tendências todas, quando você fala, eram do campo da esquerda ou tinha...
Não, nós tínhamos uma composição lá, uma composição onde pegava militantes do PDT, Na época em que eu entrei, o dirigente sindical, inclusive, um ex-Petista, que na época estava no PDT, um dos fundadores do PT no Estado, se chama Zé Webber Demetrio da Ponte, um dos fundadores do sindicato, um dos fundadores do PT no Estado, saiu do PT, estava no PDT, e ele foi quem abriu o sindicato para as outras forças, que aí congregou, sentou o PC do B, vinha do PC do B, tinha gente que na época era sem partido, Minha vida partidária, primeiramente, eu fui do PSB. Antes de ser do PT, eu fui do PSB. Quer dizer, ele foi que deu a abertura, nesse processo de abertura, aí veio. Aí veio eu, que era próximo ao PSB na época, o PSB estava se organizando no Estado, o PC do B veio, o PT veio pra dentro do sindicato, e eu com o pessoal do PT era quem fazíamos a discussão da CUT, já que o PCdoB tinha uma visão diferenciada na época. Inclusive, só conseguimos filiar o sindicato quando o PCdoB também assumiu também a posição de filiação à CUT, mas não conseguimos filiar o sindicato antes de o PCdoB juntar no campo da CUT para fazer o processo e dar as condições de a gente fazer esse marco. Isso aí foi o início, foi um processo de construção, onde eu sempre, a minha vida sindical foi toda dividida entre a categoria, a minha categoria, e a construção da CUT, e mais especificamente da articulação no Estado do Ceará, articulação sindical e comunitárias da articulação. Então foi sempre pegando esse ramo de atuação muito delineado, nunca num foco somente Nunca no foco somente.
Agora, assim, você enquanto fazendo essa relação do sindicato do Ceará com a CUT, assim, como que é a atuação dos petroleiros na CUT? Como é que você vê isso agora mais amplamente?
Nós temos duas fases dentro dos petroleiros. Uma que até 95 nós petroleiros tínhamos uma atuação na CUT muito à parte.
Por quê?
Embora grande parte dos sindicatos filiados ao campo da Cruz. Nós não conseguimos fazer uma atuação, nós tivemos uma atuação muito corporativa. Esse é o espírito que tinha mantido vivo a categoria desde a greve de 83. O sentimento do corporativismo, nós tínhamos um sentimento quase de autossuficiência. Nós contribuímos, éramos solidários nas lutas, mas sem ter uma integração maior. Tanto que eu fui um dos primeiros membros a ser parte de direção de CUT.
Sendo petroleiro?
Sendo petroleiro.
Tinha a FUP nessa época?
Não, não tinha a FUP. A FUP foi outro processo, assim, à parte.
Mas voltando para a relação.
Voltando para a relação. Nós tínhamos uma posição que a gente não dialogava muito, a gente atuava muito desarticulado. As atuações eram meio isoladas. Tinha eu lá no Ceará, que fazia questão de ter a relação petroleiro, de articulação petroleira e de articulação sindical. Eram as duas articulações. Articulação petroleira e articulação sindical. Eles se davam, na verdade não disputavam, na verdade não conviviam. Elas não conviviam muito. Normalmente algumas lideranças de São Paulo, mas concretamente pessoal de Campinas, pessoal de São Paulo, já tinha convivência, mas ficava aqui na convivência e pronto, também não dialogava muito. Estamos aí contribuindo, ajudando, mas sem se integrar muito. Nessa convivência, a gente tinha, na Bahia, uma liderança que atuava muito articulada com o Estado. E como eu vinha do Estado pequeno, porque a minha categoria era pequena, a minha atuação, minha militância, sempre priorizei a relação do Estado. Eu era de um Estado longe do centro de poder, que era São Paulo. Então, a nossa prioridade era a consolidação do Estado e integrar o Estado.
Em nível nacional?
Não, em nível de atuação local, as categorias e a culta no Estado. Então, nós tínhamos um acerto. Como era longe do Centro de Poder, a nossa discussão ela se dava de forma muito mais integrada, muito mais intensa, porque nós tínhamos que... não podíamos contar com ninguém, só contávamos com nós mesmos no processo de construção. Os apoios eram esporádicos, eram momentâneos e tal, no dia a dia, era nós com nós, certo? Então não tinha uma discussão muito de categoria, certo? Se eu era bancário, se eu era petroleiro, se eu era rural, mas fazer uma discussão era articulação, aí igualava todo mundo e a discussão de categoria praticamente que zerava. E nisso aí nós fazíamos a nossa construção da articulação e a construção da crítica. Isso, quando retomo, aí os petroleiros em 1995, é um marco histórico na questão de... a retomada para... devido com a questão da greve, a vinda do próprio Espis como símbolo da nossa greve, da nossa existência, a executiva nacional da CUT, na época... Espis de Campinas. Espis de Campinas. Já estava em São Paulo. Aí o SPIS vem para a Direção Executiva Nacional da CUT. Na época eu já era da Executiva Estadual da CUT. Já era membro da Executiva Estadual da CUT. E a gente coincide, no caso a gente vem para a Executiva Nacional... Não, desculpe, não coincide. quando ele termina a primeira gestão dele na executiva nacional, que foi de 95 a 98, é na segunda gestão dele que ele terminou agora, em 95 a 98, acho que foi, né? Estou meio perdido agora, 2003, 2000.
Não, só mais ou menos.
Exatamente. Aí ele faz a... aí quando ele chega na segunda gestão dele, ele vai para a CUTE, para a CUTE... para a CUTE estadual, para a CUTE estadual, e eu passo a ser o petroleiro da Executiva Nacional, sou eu. E na época também, na época que conseguimos constituir, na primeira vez, na CUTE Ceará, a hegemonia da articulação. Aí foi oito marcos. O outro marca a construção. Primeira vez que a articulação consegue de hegemonia partindo do quase zero, no início de 89, até a hegemonia de 2003, onde estava. Eu indo para a Executiva Nacional da CUT e eu à frente da coordenação da articulação do Estado. Eu que coordenava a articulação na época do Estado.
Agora você falou uma coisa assim, que no Estado você... A ênfase maior era na articulação da categoria. Na articulação política. Agora, na CUT já, os petroleiros tinham uma atuação mais corporativa. E isso, como é que isso refletia, vamos dizer assim, os trabalhadores da Petrobras lá no Ceará? Como é que tudo isso que você falou, como é que se relacionava com os trabalhadores lá?
Uma...
Na base?
Na base, certo. A relação, certo, ela era muito assim, era um pouco à parte, a relação. Porque, como a base, ela era uma base pequena, e nós tínhamos vindo da derrota eleitoral, que hegemonizou-se o PC do B, nós tínhamos uma derrota eleitoral, certo, Em 89, nós fizemos uma derrota eleitoral para os campos budistas que foram derrotados na disputa contra o PCdoB.
Na CUT?
Na CUT não, lá na direção do sindicato.
Lá no Ceará?
Lá no Sindicato Petroleiro do Ceará. Ainda naquela época o PCdoB ainda não.
Estava alinhado com a CUT.
Entendi agora. Aí, quando nós fizemos a disputa, nós perdemos a disputa eleitoral e passamos três anos em oposição de base. E a vida não era fácil. Então, a partir do momento que nós filiamos e passamos a ter essa relação com a CUT, a direção do sindicato estava hegemonada pelo PCdoB e nunca fortaleceram muito a CUT. Nunca fortaleceram muito, era uma coisa meio assim, né? Nós estamos quitando e tal, deixa pra lá, é uma coisa diferente e tal. A categoria vem sentir a questão da CUT, dentro da sua consistência, durante os movimentos paradistas.
Quais?
O primeiro foi de 89, o de 88 não foi, o de 89 já sentiu. Na questão da luta, a luta pelo monopólio, já no início da gestão de Collor, também a CUT integrou muito isso, a ação, a resistência, e principalmente na greve em 1995.
Agora, por que vocês falam no movimento parentista? Por que vocês falam no movimento parentista, nos movimentos parentistas?
Como assim?
Você não falou no movimento parentista?
É, no movimento parentista.
O que significa esse termo?
Agora você me pegou.
Mas são as greves que você fala?
As greves, exatamente, as greves. É que é o seguinte, tem um pouco assim a diferenciação da greve E a questão de movimento paredístico. Nunca eu tinha parado para raciocinar sobre isso. Eu estou sendo... É porque as greves em si, os movimentos paredísticos, a greve tinha a conotação da parada de produção. Os movimentos paredísticos não. Nós parávamos o trabalho sem parar o processo produtivo. Então, vários movimentos que nós fizemos, eles não constituíam, é tanto que existe uma nomenclatura, uma diferenciação desses petroleiros, a greve com parada de produção e a greve sem parada de produção. Então, o movimento paralelista, dando uma conceituação, é o movimento da paralisação das atividades dos homens. se pára, pára o trabalho.
Mas não pára a produção.
Não pára a produção, não pára o processo. Porque dentro dos petroleiros a gente só consegue parar o processo produtivo se o sindicato tiver 90% do controle do local de trabalho. Ou seja, você não consegue fazer um movimento grevista, um movimento com parada de produção se não tiver o controle total. e hierarquias no local de trabalho são totalmente quebradas. O sindicato assume o controle. Só sobe, só desce, só se movimenta, só diz o que é para ser feito, o sindicato. Então, era uma ruptura muito forte que nós experimentávamos. Então, tinha a paralisação, por isso, adivinha, movimento paredista, tinha a paralisação e tinha a greve. E aí a greve, era a parada de produção.
Teve qual?
Tivemos várias. Nós do Ceará, muitas. Mais do que nós devíamos ter feito. Sinal que foram muitas. Porque o trabalhador não gosta da greve, da ruptura. O trabalhador, em geral, é básico. Não gosta disso. E acho que nem sindicalistas também.
Por isso que você falou que talvez.
Fizeram muitas, É, talvez tenhamos feito muitas. Porque na de 88, a partir da ameaça, da invasão das plataformas marítimas pela marinha, chegou a esse ponto na de 88, nós paramos a produção e desembarcamos tudo efetivo, não ficou ninguém nas plataformas. Aí era o controle, o sindicato tinha autoridade ou não tinha.
E aí mostraram isso?
Aí mostraram isso.
Isso foi nacional?
Não. Não foi nacional. As paradas totais de produção, elas tinham duas diferenciações. Nós na área de produção, nós só tínhamos essa forma de fazer. Nós tínhamos que romper o paradigma da parada por exaustão. Por quê? Porque nós trabalhávamos confinados. Então o sindicato tinha que ter o controle total do local. com um controle total do local, ele tinha um controle sobre o que funcionava e o que parava.
Por que não era por exaustão?
Porque as refinarias, as unidades industriais, elas tinham parado por exaustão.
Como assim?
Ela interrompia a rendição, então os grupos que estavam dentro das refinarias, eles passavam a trabalhar 24 horas, passavam a trabalhar direto, sem ter como descansar. Então a parada vinha pela exaustão daqueles companheiros no comprometimento, a segurança e a integridade das instalações e das pessoas.
Aqueles que ficavam?
Os que ficavam.
Porque tinha os que faziam a cadeira e uma greve e os que ficavam iam parando por exaustão.
Iam parando por exaustão. Cansavam, paravam. Cansavam, paravam. A gente em plataforma marítima não podia se dar esse luxo. Porque nós tínhamos dois turnos trabalhando lá. Então, nós não podíamos jogar a responsabilidade da parada para a mão da gerência. A responsabilidade da parada tinha que ser do sindicato. Então, o sindicato dava a ordem. Vamos reduzir todos os poços que produzem só óleo, vamos produzir só gás. E era isso que era executado. Se a empresa colocasse, quisesse fazer o contraponto e fazer a abertura do processo, a ruptura fazia com que nós evacuássemos toda a plataforma. Então a empresa tinha que se contentar com o que nós déssemos pra eles. Entendeu?
Agora, pra conseguir isso, a adesão dos trabalhadores tem que ser grande, né?
Grande.
Quando você fala o sindicato mandava, mas desde que houvesse adesão.
Claro. Tinha que ter adesão. Tinha que ter... Na verdade, a gente ortograva, assumia no imaginário de todos, a partir da adesão, que os trabalhadores estavam isentos das responsabilidades. A responsabilidade era do dirigente sindical que estivesse comandando.
Eles pensavam assim, os trabalhadores de base?
Pensavam.
Porque quando você fala, a gente trabalhava com esse imaginário.
É pesado. Era o dirigente ou a liderança, que às vezes não era nem o dirigente, que assumia as responsabilidades. Tinha que ter sempre uma pessoa que assumisse as responsabilidades. Se não tivesse a liderança, fosse na base do abesismo, em cada momento você não tinha o controle do processo. Então você tinha que ter A partir do momento que eu estou na greve, aí quem manda é o sindicato. Eu não respondo mais a imprensa. E aí funcionava mesmo. Funcionava.
Vanderlei, você está contando como é que a greve acontece, como que elas são diferentes, situações, e você falou de movimento de 88, de 89, 95, então fala um pouco das diferenças entre eles. E onde, assim, se foi só em alguns estados, se foi geral?
Não, o de 88, que foi a retomada, ele foi geral, ele teve um movimento nacional, entendeu? Na característica que ele teve de 95, certa afinidade, foi indignação. Na época, uma indignação contra um resultado discriminatório dentro do TST. O TST deu um reajuste e a porta tinha dado um reajuste há pouco tempo para os bancários. Isso em 88. Aí quando chegou no julgamento do nosso acordo coletivo, o TST deu metade. Tinha dado para os bancários. A mesma data base. Isso aí causou uma indignação, porque por que eu vou ser discriminado? O que é que eu tenho? O que é que eu tenho? Aí foi um movimento assim meio... As gerações sindicais, algumas não estavam nem esperando, foi um meio... Aquela indignação que foi a característica da greve de 95. A greve de 95 foi uma greve de indignação dos petroleiros, contra um acordo que tinha sido assinado, que tinha sido pago, Tanto que se a gente for relatar economicamente o que foi o provocador da greve, que foi os 12%, é uma coisa maluca para você justificar, até empresarialmente falando, com o prejuízo que foi dado. Voltando-se um pouco sobre a questão da característica, como o movimento gravista é, e como nós representamos isso dentro do dos nossos movimentos escravistas, esparedistas, etc. A figura do dirigente era uma figura, assim, fundamental. Se você não tivesse a liderança, você não conseguiria fazer.
Agora, essa liderança, como é que ela se legitima lá na base? Você diz às vezes que nem precisa ser dirigente.
A liderança, certo, ela se legitima pelo seu dia a dia. A liderança, ela se destina pela sua capacidade profissional, que é uma coisa que eu consegui detectar durante o... Quer dizer, os melhores militantes, é os que tinham o melhor desempenho profissional. E nós sempre usamos isso como referência. Nós não podíamos usar o sindicato como âncora para quem quisesse fazer corpo móvel de trabalho, que aí nós perderíamos a nossa a nossa capacidade, a nossa... a confiabilidade da própria base. Então, a capacidade de... a sua própria eficiência profissional era uma coisa, e a capacidade de conseguir enfrentar de igual para igual a gerência da empresa. Eram duas coisas que eu legito, uma liderança ilegitimal, a capacidade seu desempenho profissional e a capacidade de conseguir enfrentar o gerente da empresa, se contrapor. Então, isso daí nós temos que ter pelo menos um em cada local, por isso um dos grandes truncos que nós tínhamos durante o processo de paralisação e de greve era de ter o controle da escala do trabalho. Nós, sindicatos, é que controlávamos quem subia, quem descia das plataformas.
Isso na época de movimento?
Na época de movimento.
De greve ou parada?
Quando rompia, que começava, aí você suspendia qualquer movimentação, qualquer subida e descida de plataforma, e você começava, certa época, a negociar, no mesmo dia começava a negociar a rendição. Aí você começava a negociar rendição. E ensinaria era a mesma coisa. Negociar com a empresa. Nós vamos querer fazer rendição. Agora a escala da rendição é nossa. Era para ter sempre lideranças em cada grupo, em cada local que fosse preciso mandar gente. Tinha que ter uma liderança. Uma pessoa que quando tivesse autoridade perante os outros e quando o sindicato mandasse fazer, ele fazia. Então, nós tínhamos mapeado tudo, o controle total disso.
Agora, vocês aí, nessa época, vocês também diminuíam o número de trabalhadores?
Reduzimos ao máximo as pessoas que podiam estar embarcadas. Porque como era um regime confinado, de alta penosidade, principalmente mental, nós reduzimos ao máximo as pessoas que poderiam, que iriam ser submetidas àquele sofrimento. E sempre um dirigente dentro. o dirigente não ficava fora da escada. Na verdade, o dirigente se colocava na escada. Se ele não estava, ele tinha que ir.
Agora eu vou falar um pouquinho da relação com a CUT, assim, quando você começou a apontar dos petroleiros na CUT, que era uma situação mais corporativa, talvez, corporativista.
Agora eu dou uma visão muito fora da realidade paulistana, não é? É porque eu dou uma visão muito do Nordeste, É, exatamente. Nós não tínhamos uma relação muito, nós aguardávamos, é tanto que eu te disse, tinha uma nomenclatura, tinha articulação petroleira. Inclusive, existe uma certa significativa para essa autodiferenciação. Existe articulação petroleira e existe articulação sindical. Tinha gente que era ligada à articulação petroleira, tinha gente que era ligada, era da articulação petroleira e não era da articulação sindical.
Isso no seu estado, no Ceará.
Não, eu estou falando em nível nacional, dos petroleiros em nível nacional.
Mas por que? Eu não entendi por que isso.
Não, porque é o seguinte, os petroleiros, mesmo na articulação, são considerados os mais, o segmento da articulação, um dos segmentos mais sectários da articulação, mais radicais. Então, a consequência que nós temos várias greves, vários processos de produção, sempre é na base petroleira, na base da articulação.
Mais radical no sentido do movimento.
Do movimento. Mais radical em cima do movimento. Ah, não, exatamente. O termo certo não é esse aqui. É mais radical em termos de movimento. Quando tinha a greve, que estava definida a greve, eram as bases, onde tinha lideranças da articulação que a gente poderia contar. Nós sabíamos, nós mapeávamos. Então, criou-se um estigma, porque a articulação dentro da CUT era considerada a mais moderada. Então, como é que o segmento que é mais moderado, certo, é o mais radical durante a tensão de um processo de confronto capital-trabalho. Então, era uma coisa, e como nós tínhamos muito, a partir do final da década de 80, muitos processos gravistas, paralisações, enfrentamentos e discussões políticas e tal, aí a gente tinha uma certa... os petroleiros vermelhos da articulação.
Isso quando você fala aí, isso você está falando em nível nacional.
É, em nível nacional. Inclusive teve algumas posições em plenários da articulação, em plenários nacionais da CUT, onde nós, petroleiros, nós tínhamos a deliberação de congresso de puxar a greve geral, e NACUT não tinha a deliberação de puxar a greve geral. Nós fomos para dentro da articulação fazer o debate, fomos para dentro da plenária da CUT fazer o debate, aí saiu uma formulação de construção da greve geral. Então, a gente sempre teve esse perfil, e por isso inclusive a gente era muito respeitado pelos segmentos considerados mais à esquerda da articulação NACUT. Eles dão um corte. Até hoje eles fazem um corte. Não, tem articulação sindical. Aí se você é petroleiro, aí... Não, mas é articular. Mas é petroleiro. Quer dizer, já bota... Eles já botam como se a gente fosse um possível aliado, embora em termos de concepção não tenha nada a ver com eles.
Agora, Wanderlei, como é que fica esse radicalismo hoje? Com parte de nossos companheiros, ou dos companheiros.
Nós estamos vivendo um momento político muito rico. Eu acredito que nós temos a capacidade de construir um sonho. Um sonho que eu tento recuperar, um sonho que estava perdido. Quando eu entrei em 1984 na empresa, eu me submeti a condições, que se hoje eu fosse falar aqui, condições impensáveis de trabalho. Não fala alguma coisa. de dormir, de não ter local para dormir, de trabalhar 14 horas direto, de quando ir comer não ter uma refeição decente para comer, ter que comer ao relento. De 84 até 87, já dependia de onde você estivesse. Se eu fosse para uma plataforma que estava em processo de implantação, eu tinha que aguentar essas condições algum tempo enquanto a estrutura era montada. na Petrobrás, no Plataforma Marítima, ela tinha uma visão do seguinte, ela secundarizava o homem. Na época não tinha essa visão toda. Por conta de uma tarefa maior, a gente se dedicava, sem sequer se questionar, a gente não se questionava, a gente se submetia a situações de risco, e até hoje eu penso como é que, graças a Deus que escapei. Mas a gente se submetia a condições de risco e condições de trabalho que eram bastante penoso e bastante insalubro. Eu entrar em vaso, um vaso separador sem nenhum equipamento para fazer uma operação, porque tinha que ser feito, alguém tinha que ir e eu fui. Era um vaso de petróleo. É impensável você fazer uma coisa dessa hoje. Então, nessas condições que a gente tinha de trabalho, que eram não me diria degradante, mas eram bastante penosos, bastante sacrificadas e tal, mas a gente se sentia bem, porque a gente tinha um objetivo maior. Eu estou trabalhando com o engrandecimento do Brasil, isso não é pouco para quem é um militante, mas é muito gratificante. Agora nós temos uma chance de retomar isso. Quando foi perdido esse sentimento? Nós perdemos Nós perdemos quanto a categoria? Nós perdemos na greve. Depois da greve de 1995, depois das várias, naquela greve teve a grande nossa derrota político-externa. Nós perdemos o sentimento nacionalista. Os petroleiros deixaram de vestir tanta camisa.
Perderam o sentimento de que?
Sentimento de nacionalismo. Passaram a ser empregados da empresa. Não eram mais empregados da Petrobras em serviço do Brasil. um belo emprego na empresa. E a luta era para ser respeitado somente, não era mais para construir o Brasil. Eu acho que hoje nós temos a chance de retomar isso, de construir isso. Desde que a gente retome, a gente consiga retomar algumas bases políticas, algumas condições, não é nem políticas, condições reais. Alguns pontos que são implantes, nem implantes, na verdade sequelas da política neoliberal em termos de precarização das relações de trabalho, da falta de respeito com os trabalhadores, elas têm que ser superadas o mais rápido possível. Por exemplo, a discriminação dos novos funcionários. Eu quando entrei em 1984, entrei numa condição de ser discriminado. Eu tinha um nível salarial rebaixado. Através de um processo de negociação, nós superamos isso, foi em 87, passando três anos para superar, quando estabelecemos isso. Quando foi... Outra coisa, no nosso corporativismo, nós temos uma tradição de não deixar ninguém para trás. Nenhum petroleiro fica para trás.
Como assim?
Nós não temos... Nós não temos... Nós somos uma categoria, não temos história, deixar demitidos e desamparados. Nós não temos essa história. Uma história muito sacrificada, certo? Em 1983, foi um número muito grande, poucas bases, mas essas duas bases deram lições para a experiência, certo? E aí nos chamam de corporativistas. Eu tenho um problema sem chamar de corporativista, sou mesmo, acredito mesmo no pobre céu. Então, Nós temos essa pendência política, temos demitidos a greve de 95, 94, 95. Temos a diferenciação de novos empregados, nós temos uma política remuneratória sendo que ela desagrega. A política remuneratória é totalmente individual, ela estimula a concorrência interpessoal, não trabalha em conjunto, coletivo. Se nós conseguirmos resgatar essas pequenas bases da relação capital-trabalho, que não é muita coisa, é vontade política, nós vamos ter todas as condições de retomar as condições que nós tínhamos anteriormente da quebra do monopólio. Com a quebra do monopólio, nós perdemos porra. Agora, o que adianta eu lixar a camisa? Adianta eu lixar a camisa. Agora eu estou tratando com uma empresa meramente capitalista.
E o monopólio? Como é que se lixa a camisa?
Na minha visão, eu acho que internacionalmente não tem espaço mais para o monopólio. O monopólio, acho que não existe espaço mais. A estrutura, o parâmetro, é a força que é a globalização do bolo da economia. Nós perdemos esse espaço. Agora nós temos como nos preparar e dar uma grande contribuição. Eu sou defensor, eu gosto como um bom sindicalista, só um sonhador inveterado. Então, eu acredito que uma das coisas, inclusive, que o Lula já tocou, a Dilma já tocou, eu acredito na capacidade deles de fazer uma grande empresa multinacional latino-americana comprometida com o desenvolvimento da região. Aí não caberia uma empresa, um monopólio estatal, caberia sim uma fusão de empresas, latino-americanas, e seria com certeza a maior empresa de petróleo do mundo. E disputar na contra-ganância das cinco irmãs, que são mais sete, que elas estão se fundindo, elas estão se reduzindo, com a contra-ganância das cinco irmãs para poder garantir o desenvolvimento da região. Eu acho que é uma coisa meio lógica e difícil de operar.
Dá pra sonhar.
Dá pra sonhar.
Só fala por último dos terceiros atos, como é que você vê? Não, assim, como é que você vê?
A relação.
O diagnóstico, daqui pra frente, o sindicato com essa situação.
O sindicato tem um dilema. Outro problema que nós tivemos. Com a redução do efetivo, foi plantado o sentimento que o petroleiro não é mais executante. Petrobras é supervisor. Nós temos um sentimento.
Na categoria?
Na categoria. Não na área operacional. Na área operacional nós preservamos a terceirização. Não tem terceirização em área operacional. Mas nós vamos pegar nas outras atividades, manutenção e... Nós somos supervisores hoje em dia. Supervisores de vários contratados. E o pior sentimento que tem um trabalhador é você ser pequeno burguês. você se sentir chefe, seu sonho é ser chefe. Então, você ser chefe de um banheiro, isso já muda de atitude. Quando você não tem o sentimento de classe, solidariedade, acontecimento político, de companheirismo, etc. Eu acho que isso é um grande problema que temos hoje na categoria, devido à redução e ao aumento desenfreado em terceirizados.
Na operação vocês conseguiram não ter terceirizados.
Exatamente, na operação nós não temos terceirizados. A operação é só petroleiro. Se bem que já tem terceiros atos na área de transferência e tal, nós já temos alguns implantes terceiros atos dentro dessas áreas.
Tem volta também? Você acha que tem volta?
Tem, tem volta. Estamos preparando as discussões, eu acredito muito no processo de mobilização da categoria. Eu acho que esse sentimento, essa capacidade de mobilização, ela tem que ser usada positivamente. Positivamente. É um erro quem achar hoje que mobilizar é contratório ao governo. Ao contrário.
O que é mobilizar positivamente?
Mobilizar positivamente é, por exemplo, engajar, fazer um processo. de paralisação, manifestação, contra a terceirização. Isso é mobilização positiva. Quando você vê que na correlação e na disputa, em torno de reversão do quadro, não for mais favorável através da negociação, você tem que avançar no processo de negociação Na verdade, você tem que continuar e radicalizar no processo de mobilização. Essa foi toda a lógica que a articulação desenvolveu. Essa é a lógica da articulação. Então, o processo de mobilização tem que ser constante. Nós corremos o risco hoje de sermos meramente negociadores. Se nós formos meramente negociadores, nós não vamos conseguir reverter o processo. E hoje, quando nós falamos na reversão, aí é onde a CUT, é o grande hoje, nós não temos nenhuma contestação hoje na base petroleira com relação à referência que é a CUT. Nenhuma contestação.
Contra a CUT.
Contra a CUT. Nenhuma. Tem, até com críticas, até os que fazem críticas, colocam que é positivo.
Que a CUTE é uma referência.
Que a CUTE é a referência. Até quem é contra? Até a empresa. Até a empresa. Que a CUTE é a referência. Aí fazem aquelas... Não deve radicalizar muito. Se a CUTE fosse menos radical, era melhor. Mas o processo de radicalização da mobilização seria natural. não tem, é como eu te disse, o trabalhador não quer, a direção sindical não quer radicalizar, mas é uma consequência. Quando você faz o processo de negociação articular e referendado para o processo de mobilização, se não der resultado, pode escrever, vai acontecer. E às vezes só larga-se. Às vezes, mesmo sendo um segmentozinho, pequeno, porque às vezes você acha que porque você é pequeno, você não tem força, você dá resultado. Por exemplo, uma coisa, nós temos especificamente lá no Ceará, é a única base do Brasil que tem uma escala de trabalho diferenciada em plataforma marítima. Lá nós trabalhamos, a escala de trabalhar do offshore é 14 dias por 21. depois da Constituição de 88, nós conseguimos um dia por um dia e meio de folga. Lá é a única base do Brasil que nós mantemos, desde na época da importação, como a situação era muito penosa, na época da instalação das plataformas, a própria empresa tinha consciência de que não deveria submeter os trabalhadores naquela condição por um longo período. Então ela implantou lá na época uma escala que era sete dias embarcados somente. você embarcava sete, fogava sete, embarcava sete, fogava sete, isso aí amenizava o sofrimento, as condições que eram muito temperas. Hoje em dia, a empresa, por vários momentos, já tentou alterar a escala, colocando 14 dias, e ela não consegue, não consegue. É a única base do Brasil que tem isso. É uma base pequenininha, concentrada e tal, não consegue. sete dias embarcados, sete dias de folga, sete dias embarcados e quatorze dias de folga. É uma coisa que a gente já estudou também. O desgaste, quando ele é dividido, ele é reduzido.
E depois tem os quatorze.
É, ele é reduzido o desgaste. Então a gente faz uma... é um exemplo concreto de que quando o processo de mutação, mesmo quando você é pequeno, você consegue prevalecer suas bandeiras, suas condições e manter sua dignidade, que isso toma um aspecto de dignidade.
Vanderlei, por mim, a gente encerra, você tem alguma coisa que você ainda quer colocar?
Não, não, acho que falei um pouco, falei pouco foi da CUT, né?
Não, mas falou bastante da relação dos petronesos com a CUT.
É.
Mas então, da CUT, hoje, como é que você vê?
Não, não, eu só fiz um comentário que eu achei interessante, a gente acaba falando muito das condições específicas, a gente acaba. A nossa história é tão vinculada, a própria FUP é tão vinculada à CUT. A FUP, que é um pleito histórico da categoria petroleira, categoria da sua história, várias vezes tentou criar uma federação nacional e era impedida de se organizar nacionalmente. Você sabe disso.
Antes dessa FUP ser criada? Antes dessa FUP agora, dessa gestão.
Antes de 88. Antes de 88.
Chamava como?
Nós tínhamos outro artifício, tínhamos o comando, tínhamos os departamentos.
Mas tinha uma federação que a FUP era de outra gestão.
É, não tinha o seguinte, nós tínhamos os departamentos, que era o Departamento Nacional de Petroleiros da CUT, e o Departamento Nacional de petrolieiros que era ligada a 100 ITI. Tinha esses dois departamentos. No processo, devido à necessidade da União, para poder avançar a categoria, os departamentos começaram a fazer congressos unificados. E aí, como não tinha definido, não conseguia definir qual a proporção de cada um, para poder utilizar isso, aí se instituiu um comando paritário. Então tinha um comando que era quatro a quatro. Os companheiros que eram do departamento, eles organizaram, na verdade, a chamada FNAP, Federação Nacional dos Petroleiros, que era com a base, eram os sindicatos que não eram cultistas, mas tinham alguns sindicatos cultistas também, somente os ligados ao PCdoB. Os ligados ao PCdoB eram da FENAP, o meu sindicato especificamente. Uma gente era minoria, a gente era oposição. Ele é um dos fundadores da FENAP, nosso sindicato. Então, aí veio a FENAP. Só que a FENAP ela não conseguiu traduzir em organização concreta, ela ficou, foi criada burocraticamente, uma entidade burocrática, se até ela dar. A tática da reconstrução da CUT foi ao contrário. Primeiro nós disputamos sindicatos politicamente para a CUT, aí fomos ganhando um a um. Cada eleição que vinha era uma vitória, cada eleição uma vitória, é uma coisa linda. Quando praticamente todos os sindicatos estão no campo da CUT, Aí nós criamos, primeiro, já isso com a FENAP criada. Aí nós criamos a Federação dos Petrobrases da CUT, a FTP-CUT, a FUPUC, sei lá, a Federação dos Petrobrases da CUT. E depois, um ano somente de existência, aí nós negociamos, negociamos a extinção que já estava esvaziada da FENAP, que o Sindicato Civiliar da CUT, tudo foi para a FTP-CUT. Aí negociamos a instituição da FENAP, ela extinguiu-se, esvaziou-se e tal. E criamos a FUP. E passamos muito tempo. Foi o espiso primeiro, o presidente da FUP, né. Acho que foi no congresso de 94. Congresso de 94. Aí a partir daí, foi somente a FUP. Aí a FUP tem uma ligação, não é uma entidade orgânica, é uma entidade filiada. mas todos os sindicatos da FUC, que não são cultistas, não tem mais nenhum fora do campo da culto, não existe mais nada. É tudo orgânico, mas é 100% da culto.
A FUC é filiado à culto?
É filiado à culto, são sindicatos 100% filiados à culto. E nem toda a federação orgânica da culto tem essa realidade. Nenhuma. Aí eu Depois disso, a relação da CUT tornou-se, no seu caso, uma questão natural. É tanto que eu sou dirigente que não sou liberado pelo meu sindicato.
Não é liberado?
Não, eu sou liberado pela FUP. Eu não sou dirigente da FUP. Não sou dirigente. Mas uma das vagas da articulação sindical para a FUP é em meu nome para ser colocada em execução na CUT.
Entendi.
E recuperado para a FUP e colocado aqui sob o som da Corte Nacional.
E aí, Vanderlei, está ótimo. Quer colocar mais alguma coisa?
Não, não. Depois, se você quiser mais alguma coisa, você me fala.
O que você achou desse projeto?
Desde quando Santa Rosa me falou a primeira vez, que na verdade eu conheci a intenção desse projeto ainda na intenção, que eram as conversas que eu tinha com o Bargas, Oswald Bargas. Com Bargas. Desde que ele falou, eu fui buscar muito apoio para ele batalhar e tal, e conseguir buscar. Eu conheci o projeto de história dos metalúrgicos com a Volkswagen. Foi ótimo. Inclusive, ele entrou num processo, só foi possível num processo de aproximação, que a Petrobras estava tentando reatar as relações, com movimentos que estavam muito deteriorados. Estava tentando reatar as relações, aí conseguimos dar um gancho de fazer esse projeto. É um projeto muito bom e exluído pelo perfil que a gente está tendo. Embora a Petrobras seja empresa, como eu te disse, na sua história não tenha modernizado muito, as pessoas, na verdade ela foi construída pelas pessoas, O governador da Petrobras resgata a dívida que ela tem com seus funcionários. As pessoas que dedicaram sua vida, não só produzindo para a empresa, construindo na empresa, mas também lutando por ela e pela sobrevivência dela. E nós perdemos muito isso aí. Tem gente que acha que, aposentados, que acha que, não acreditam até hoje que a Petrobras foi quebrada o monopólio. Com certeza, não vi os depoimentos, mas tenho certeza que alguns deram depoimento que não acreditam que alguns não acreditavam que a gente conseguiria naquela naquela greve em 95, o governo teria coragem de fazer o que ele fez e bancar até o quanto ele bancou. Ninguém acreditava. Ninguém, ninguém. Na verdade ali foi uma atitude muito insana, irracional, que na verdade tinha um objetivo. O objetivo era dar lição, não nos petroleiros, mas no movimento sindical do todo, Ninguém se atreveu. Depois. E nós não se acabamos por causa do nosso corporativo.
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