Página Inicial | História de vida
Nascido em Belém em 19 de janeiro de 1959, ingressou na Petrobras em 1º de junho de 1982, após experiência em vendas. Atuou na logística de sondas na Amazônia (Roraima, Acre, Amazonas), sendo pioneiro em Porto Urucu e enfrentando desafios como a criação de portos na selva e contato com povos indígenas.
Áudio na íntegra
(não disponível)
Projeto Memória dos Trabalhadores Petrobras
Depoimento de Waldyr Alberto Costa Santos
Entrevistado por Mirella
Macaé, 25 de março de 2003
Realização Museu da Pessoa
Depoimento PETRO_CB102
Transcrito por Transkiptor
00:00:34 P/1 - Bom, Waldyr, boa noite. Eu queria que você me dissesse o seu nome completo, local e data de nascimento.
00:00:41 R - Waldyr Alberto Costa Santos. Nasci em Belém, no dia 19 de janeiro de 1959.
00:00:51 P/1 - Sim, eu queria que você me contasse um pouquinho como e quando se deu o seu ingresso.
00:00:59 R - Como um garoto de 23 anos, eu fiz um curso para a Polícia Federal e um curso para a Petrobras. E passei nas duas. Fui chamado primeiro para a Petrobras e quando já estava no processo de entrada na Petrobras, Fui chamado para a Polícia Federal. Fiquei tentado a ir, mas me aconselharam a ficar na Petrobrás. E, no dia 1º de junho de 1982, começou a minha história aqui.
00:01:45 P/1 - Sim. E fala um pouquinho mais da sua história, dos locais onde você trabalhou, por onde você passou, um pouco do...
00:01:55 R - Eu achei engraçado que eu consigo lembrar do primeiro dia, aliás, dos dez primeiros dias. Em 82, em Belém, eu me apresentei para a administração e, preocupadíssimo, eu tinha vindo de uma empresa de representação de vendas de carros, né? Estão preocupadíssimo em produzir, em apresentar alguma coisa. Me deram um jornal e disseram, olha, lê esse jornal, fica quietinho ali, não te mexe, que quando tiver uma atividade você vai. Passei dez dias conhecendo as pessoas e andando. Dez dias depois, chegaram pra mim e disseram, tomam a passagem, e vai assumir, em boa vista à Roraima, a administração da estrutura que tem lá. E eu me espantei com aquilo, né? E peguei a passagem e fui. Cheguei lá e encontrei uma pessoa fantástica, muito experiente do tipo de atividade, me passou... Qual é a atividade que você deseja? Nós administrávamos a parte logística do apoio às sondas de perfuração. Então, na...
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Depoimento de Waldyr Alberto Costa Santos
Entrevistado por Mirella
Macaé, 25 de março de 2003
Realização Museu da Pessoa
Depoimento PETRO_CB102
Transcrito por Transkiptor
00:00:34 P/1 - Bom, Waldyr, boa noite. Eu queria que você me dissesse o seu nome completo, local e data de nascimento.
00:00:41 R - Waldyr Alberto Costa Santos. Nasci em Belém, no dia 19 de janeiro de 1959.
00:00:51 P/1 - Sim, eu queria que você me contasse um pouquinho como e quando se deu o seu ingresso.
00:00:59 R - Como um garoto de 23 anos, eu fiz um curso para a Polícia Federal e um curso para a Petrobras. E passei nas duas. Fui chamado primeiro para a Petrobras e quando já estava no processo de entrada na Petrobras, Fui chamado para a Polícia Federal. Fiquei tentado a ir, mas me aconselharam a ficar na Petrobrás. E, no dia 1º de junho de 1982, começou a minha história aqui.
00:01:45 P/1 - Sim. E fala um pouquinho mais da sua história, dos locais onde você trabalhou, por onde você passou, um pouco do...
00:01:55 R - Eu achei engraçado que eu consigo lembrar do primeiro dia, aliás, dos dez primeiros dias. Em 82, em Belém, eu me apresentei para a administração e, preocupadíssimo, eu tinha vindo de uma empresa de representação de vendas de carros, né? Estão preocupadíssimo em produzir, em apresentar alguma coisa. Me deram um jornal e disseram, olha, lê esse jornal, fica quietinho ali, não te mexe, que quando tiver uma atividade você vai. Passei dez dias conhecendo as pessoas e andando. Dez dias depois, chegaram pra mim e disseram, tomam a passagem, e vai assumir, em boa vista à Roraima, a administração da estrutura que tem lá. E eu me espantei com aquilo, né? E peguei a passagem e fui. Cheguei lá e encontrei uma pessoa fantástica, muito experiente do tipo de atividade, me passou... Qual é a atividade que você deseja? Nós administrávamos a parte logística do apoio às sondas de perfuração. Então, na época, tinha uma sonda perfurando próximo da fronteira com a Venezuela. E nós ficarmos responsáveis pelo apoio logístico, recebimento de material, envio para a sonda, troca de turma, movimentação de pessoal. E essa era a nossa parte. Nós ficarmos na cidade, E fazíamos o meio de campo com a sonda, o apoio logístico para a sonda. E foi assim que eu comecei. Depois fomos para... Passamos uns oito meses operando em Roraima, Depois disso, nós fomos para Cruzeiro do Sul, no Acre. 82, 83... É, no primeiro momento. E... Já no Acre também era mais ou menos o mesmo ritmo, só que era uma região diferente, um estado diferente. E... Lá, no Acre, tem uma história que eu já relatei aí, Olha, é longa, não é longa não, mas são histórias que uma das coisas que me impressionou no trabalho na Petrobras é que nenhum dia é igual ao outro. Então, principalmente na selva, você tem que tomar iniciativa, você tem que ter criatividade, você tem que fazer um pão sem trigo. Você tem que ter ferramentas ou criar essas ferramentas para poder resolver as dificuldades que te aparecem, daquelas que você não conta. Então, uma história que eu conto aí é que nós tínhamos uma locação, a locação que nós estávamos apoiando em Cruzeiro do Sul, ela ficava muito distante do local. Como os helicópteros que nos apoiavam tinham uma autonomia curta em função dessa distância, nós tivemos que criar, no meio da selva, um porto intermediário, onde nós pegávamos o material, levávamos até esse porto, criamos ali um sistema de reabastecimento, ele pegava a carga novamente e levava até o final, até a sonda. Isso gerava um custo muito alto, E também gerava uma perda de tempo significativa. Tinha um helicóptero menor, o Jet Range. Nós percorríamos esse trecho quase que diariamente. E um belo dia nós descobrimos um rio. Se eu não me engano... Era o Rio Branco. o Rio Branco, no Acre. Nós percebemos que ele chegava quase que bem próximo da locação. E nós, nessa época, conversando com o pessoal ribeirinho, eles informaram que dava para se navegar até mais próximo. Eu comuniquei a minha chefia em Belém, pedi autorização para entrar de barco para dar uma verificada no rio. E essa entradazinha eram horas e quase dias de viagem, né? Nós entramos e eu descobri o próximo local que era possível fazer o desmatamento e criar um porto ali para diminuir o tempo de voo de helicóptero com a carga, o que gerava um custo bem elevado e iria diminuir o tempo também. O nome desse porto passou a ser Primavera, que era próximo de uma localidade chamada Primavera. E eu achei aquilo fantástico, porque a gente ia otimizar os custos e ia dar um ganho de tempo considerável. Só que aí joguei todo o material para lá, começamos a colocar o material, mas fomos produzindo e tal, melhorou muito. Só que de repente eu percebi, percorrendo de novo de helicóptero aquele trecho, partes do rio totalmente secas. Já você via o fundo, você via as pedras. E aquilo me apavorou, porque nós tínhamos balsas que levaram todos os materiais, algumas da Petrobras e outras contratadas. E aquilo eu fiquei preocupadíssimo porque perguntando para os ribeirinhos, disseram que o rio só iria encher depois de seis meses. Então, eu disse, pois, estou... vou ser demitido, porque eu achei aquilo tão maravilhoso, eu achei que tinha sido um gênio, levando todo aquele material para lá e, de repente, talvez o ganho que a gente tenha conseguido vai ser todo perdido com as balsas, principalmente as contratadas presas ali. Aquilo me apavorou, mas um caboclo lá disse, não, existe uma enchente, quer dizer, existe uma chuva que dá numa determinada época na cabeceira do rio e vem trazendo. Então tem que se aproveitar daquela enxurrada, tem que se aproveitar daquilo e dá para tirar todas as suas balsas sem problema nenhum. Eu quase que não dormia mais, então eu me preocupava muito em Deixei o rádio, deixei comunicação lá e aguardando diariamente alguma informação. Um belo dia, umas sete horas da noite, eles ligaram e disseram, olha, está chovendo bastante na cabeceira do rio. E eu fui no dia seguinte, o mais cedo possível, pegamos o helicóptero com os empreiteiros da época e fomos até esse local. Inclusive, os empreiteiros da época, um deles depois viu ser governador do estado do Acre. E entramos ali, sentamos nas balsas e começamos a empurrar, fazendo um varejão. Pegamos aquelas madeiras e começamos a empurrar, feito uma jangada, porque não tinha outro recurso. E as balsas iam, umas batendo nas outras, aproveitando a enxurrada do rio. Só que, no meio desse caminho, nós encontrarmos árvores caídas. Nós éramos obrigados a pular na água e começar com aqueles serrotes imensos, côncavos, nós começávamos a serrar a árvore. para que ela cedesse e a balsa passasse. Então foi uma coisa muito maluca. Uma das coisas também que aconteceu nesse... é que nós não tínhamos tempo para fazer mais nada. A preocupação era tirar aquelas balsas, aproveitar aquela enxurrada. E perdemos a noção de tempo. O helicóptero que nos tinha levado para a locação ficou preocupado onde é que nós estávamos. E o piloto... foi até a sonda, pegou quentinha pra gente, comida, e levou até, procurando ao longo do rio, procurando a gente. Até que ele encontrou um local, porque o rio também faz quase túnel, com as árvores muito altas, elas fazem, elas se fecham, as copas se unem. Então ele buscava um local onde ele pudesse se aproximar da balsa pra jogar, pra nos entregar a comida. E, num determinado momento, o piloto muito hábil, ele conseguiu pousar. Ele pousou na balça que eu estava, abriu a porta e me chamou para que eu fosse até ele. E ele se virou para pegar a marmitazinha com a comida da gente. E, quando ele passou, pelo corpo dele, a marmita, e estava me entregando, de repente ele grita e diz para que eu saia de perto do helicóptero. Aí eu, sem entender muito o que estava acontecendo, saí de perto do helicóptero, ele fechou a porta e decolou. Quando ele decolou, o helicóptero, que são dois skids, que substituem o trem de pouso, quando ele decolou, o skid bateu no meu rosto e quebrou o meu queixo. E ele teve que decolar porque essa emergência toda foi em função de ele ter visto um túnelzinho de árvores se fechando. Se ele chegasse ali, ele não conseguiria sair mais. Então ia gerar um problema muito maior. E até ele saiu tirando pedaços de galhos de árvore. E eu fiquei lá com o queixo inchando e na balsa. Nós, não, nós já tínhamos comido, nós já tínhamos comido, levamos aqueles remos, né? Então, levava, os caboclos que foram nos ajudar, levavam aquela lata de conserva de carne, né? E levaram um saquinho de farinha também. Então, a gente tinha, ele tinha servido lá e nós comemos juntos, ele colocava o remo, colocava a lata, pegava a farinha, jogava, misturava, Aí cada um pegava o seu e comia. Então a gente já tinha se alimentado ali daquela forma, né? Mas o processo também, eu falo da criatividade porque o processo, pra gente sem um motor pra ajudar, pra gente passar as balsas naquelas toras de madeira, era interessante. O nível do rio passava um pouquinho só da tora, né? Então nós passávamos uma balsa e puxávamos as outras balsas com cabos contra a maré a uma distância que a balsa, a primeira balsa ficou em cima das toras, até onde ela pôs. Então nós puxávamos as outras e soltávamos. Aí a correnteza vinha, batia, pulava uma balsa, passava, transpunha a tora de madeira. E a outra automaticamente ficava mais ou menos prensada. Nós puxávamos de novo e tal. Pra passar a última, nós juntamos as balsas e soltamos os cabos até que o cabo esticou e puxou o último. Quer dizer, você vai criando na coisa. Eu sei que depois disso, aonde nós já estávamos, nós navegamos um pouco, o rosto inchando e o helicóptero girando lá, ele percebeu que alguma coisa aconteceu comigo, nós conseguimos chegar a um ponto onde um barco já nos aguardava, um barco um pouco calado, e aí eu peguei esse barco, ele me levou imediatamente a um descampado, o helicóptero pegou e me levou até o hospital. E o pessoal continuou, mas eu fiquei muito feliz no hospital saber que tudo aquilo já tinha... que nós conseguimos, né? Aquela aventurazinha que nós nos metemos, nós conseguimos... ter êxito. Então isso é... É uma das coisas que aconteceu em Cruzeiro do Sul. Depois disso, nós fomos para Irunepé. Também no Acre. Já é na Amazônia, no estado do Amazonas. Lá também tivemos outras experiências, experiências com índios. Tivemos... os índios atacaram, em 84, uma... uma equipe sísmica, na beira do Rio Branco, e, nessa época, eu tive uma das sensações mais incríveis da minha vida, porque os índios atacaram essa equipe sísmica, E a forma, assim, foi bem diferente, porque a equipe ficava na beira do rio, mas eles abriam um descampado na margem do rio e ficavam ali, instalavam os seus acampamentos e, dali, eles partiam para a selva e voltavam no final da tarde. Geralmente, no final da tarde, todo mundo ali ficava concentrado, fazia sua fogueira, comia, bebia e batia papo. Um belo dia, no final de tarde, eles estavam... conversando lá quando apareceram dois índios na margem da floresta, dançando. E os índios ali em movimento e tal, e eu quero, olha lá um índio, olha que legal, não sei o quê. O grupo aqui é imenso, e só dois índios ali. Eles acharam aquilo natural, não sentiram, não perceberam o medo e nem perceberiam ali naquelas condições. E foram se aproximando da floresta. E aí foram chegando, os índios não entravam no acampamento, no descampado, e nem voltavam para a floresta. Ficaram ali na beira, dançando, como se estivessem sozinhos. Aí o pessoal foi chegando, foi chegando e aqueles mais engraçadinhos começavam a imitar a dança dos índios e tudo mais, foram se aproximando dos índios, de repente os índios pegam dois, puxam com uma violência bem animalesca, jogam já para dentro da selva e sobem, aparecem vários outros índios com bordunas e massacram a cabeça dos dois. A cabeça dos dois virou pasta. Eu estava lá, não nesta locação. Conhecia as pessoas e estava a uns 100 km próximo da locação de Jandiatuba, com uma sonda contratada, a sonda SM-13. 84. Esse chegou até a ser anunciado no Jornal Nacional. Então, aí o que aconteceu? Logicamente, as pessoas ficaram apavoradas, né? E correram de volta. Na locação só tinha um helicóptero, um helicóptero antigo, um S-58, que os passageiros ficam embaixo, o piloto tem que subir uma escadinha pra ir pilotar em cima. E o piloto... Espero que ele não veja isso, que o meu amigo, mas estou esquecendo o nome dele agora, Milton, Hamilton, não me lembro. Ele estava lá, ele estava operando aqui em Macaé, inclusive, de vez em quando a gente se encontra. Ele tentou entrar no helicóptero, o helicóptero tinha capacidade para 16 pessoas, entraram mais de 30, e ele não conseguia entrar para poder subir para a cabine para acionar o helicóptero. Naquela confusão, naquela coisa toda, ele conseguiu entrar no helicóptero, decolou e avançou para cima da selva como uma arma para espantar os índios. E ele conseguiu êxito. E os índios foram embora. E a partir daí eu entro no circuito, porque a Petrobras contratou, quer dizer, contratou, chamou um indianista, o Sidney Poçuelo, que recentemente foi presidente da FUNAI. Ele foi lá com a gente e nós começamos a fazer uma varredura na região, tentando encontrar essa tribo que eles desconheciam, que a FUNAI desconhecia, e... e que ninguém sabia que existia, não tinha registro daquela tribo. E numa reunião lá foi dado, foi sugerido o nome, ninguém sabe o nome dessa tribo, então vamos falar de Caceteiros, que eles foram com as bordunas lá, então ficaram os índios caceteiros numa reunião que aconteceu no meio da selva, lá na sonda. E a sensação que eu falei no início, que eu tive, uma das mais estranhas estava Eu ia com ele, eu, esse indianista Sidney Poçuelo, e um colega nosso. Pegámos o helicóptero, um helicóptero pequeno, determinávamos uma área a ser percorrida em função do combustível que nós tínhamos, da autonomia, ficávamos fazendo aquela varredura, olhando o tempo todo para a selva, não via nada, voltava, reabastecia, fazia um replanejamento de outra área e ia novamente para outra área. Então, nesse vai e vem, já cansado até de ver tanta árvore rodando assim embaixo de você, a gente viu um sinal deles. Eles eram nômades, já víamos um negócio abandonado.
00:21:40 P/1 - Eram muitos?
00:21:43 R - Não, nós percebemos uma clareira que eles já tinham habitado. Então, nós estamos perto. E a gente e o helicóptero tinham uma altura que nós determinávamos para poder visualizar bem, né? E dessa vez, como nós já tínhamos encontrado um indício bem forte de que eles estavam ali por perto, nós baixamos um pouco mais essa altitude para visibilizar, para ter não uma visão panorâmica, mas uma visão já direta da coisa. E o helicóptero lá, de repente, quando a gente vê, dá com o descampado imenso, Nesse descampado, uma imensa oca, não eram várias malocas, era uma imensa oca com uma porta só na frente e uma porta só atrás. E ela deveria ter um negócio maior do que um galpão desse aqui, toda feita de palha. E a sensação que me deu naquele momento, porque eu sabia que tínhamos encontrado aqueles índios, a sensação foi incrível, porque depois, até reunido, confessando o que sentiu, todos tiveram mais ou menos a mesma coisa, sentimos a mesma coisa. Os índios mais velhos, correndo, entrando naquela portinha, naquela grande oca, as mulheres pegando as crianças e fazendo a mesma coisa. Os mais novos, correndo, tipo aquele veado campeiro, para a selva, para a floresta. E os mais velhos entravam e saíram com as bordunas. Quando eles saíram com as bordunas ameaçadoras, e o helicóptero faz um movimento de parar no ar, que a gente chama de roverar, quando ele ficou roverando ali, e a gente registrando tudo aquilo, ficou aquela sensação, meu Deus, se esse helicóptero cai ou tem uma pane e é obrigado a pousar, nós estávamos fritos. Então, todos tivemos aquela sensação. E aí, estávamos sob a coordenação do Sidney Pozuelo, e vamos embora, porque já pegamos a localização geográfica daquela clareira, e fomos embora. Então, o engraçado é que isso aconteceu em 1984, Depois fui fazer outras coisas. Foi quando começamos em Urucu. Aliás, fomos para Carauari, depois de Irunepé. Já em Carauari, emendou para Urucu, onde começou a província petrolífera da Petrobras. Isso tudo aconteceu bem antes. E aí eu perdi o contato. com esse indianista, ele me disse mais ou menos como é que era o processo de aproximação dessas tribos desconhecidas. Ele disse que era uma coisa longa, um processo longo e tudo mais, e recentemente já, quer dizer, recentemente, Me parece que foi em 96 ou 97 que eu li no jornal que eles finalmente tinham conseguido chegar, chegar e se aproximar dos índios e começar aquele processo de civilização. Quer dizer, foram os primeiros contatos, o quê? 84, 97, 13 anos depois. Porque o processo realmente é bem lento. Ele me explicou todo o processo, mas a gente não precisa detalhar aqui. Mas essas coisas, e durante esses episódios que eu estou contando, aconteciam acidentes, aconteceu aquele negócio de você precisar urgentemente de um material, senão a sonda podia parar, e você não tinha esse material, e você dependia de situações bem adversas, o avião vai chegar de noite, mas não tem condições de pouso, você tem que criar. Então essas coisas todas... Vão fazendo que você se sinta... Você acha necessário estar criando o tempo todo. Você acha necessário estar atento para o inusitado. Você fica preocupado com a coisa.
00:26:08 P/1 - Você saiu daquela região quando?
00:26:11 R - Eu saí em 1998. Porque eu vim aqui para... E hoje.
00:26:14 P/1 - Você ainda acha que está assim? Até 1998 era assim? Ou já tem uma infra melhor?
00:26:21 R - Isso daí eram os poços pioneiros. Então a Petrobras definia, vamos falar no Acre, fazer um furo lá, deu ou não deu, o petróleo fecha. Depois que foi encontrado petróleo na província petrolífera do Urucu, aí começou a produzir, então aí foi criando uma estrutura. Hoje nós temos a Petrobras, o único aeroporto de propriedade da Petrobras é em Porto Urucu. Então hoje nós já temos um aeroporto, uma pista excelente que eu estive lá antes e começamos, inauguramos, ajudamos a inaugurar aquele porto. Isso dá uma sensação legal, sabe, de ter contribuído, de fazer parte dessa história. A província de Urucujá é uma coisa imensa, mas eu fui um dos primeiros a chegar lá. Então, nós estávamos em Carauari, e a balsa, com o trator, com os equipamentos que iriam começar o desmatamento, nós mantínhamos contato diário com eles, e quando eles chegassem num determinado ponto, onde iniciaria-se a história do Urucu, ele comunicaria para a gente que nós iríamos com o operador de máquinas para poder descarregar o primeiro trator que chegou lá. Então eles falaram para a gente, no dia seguinte nós fomos lá, eu tirei uma foto da primeira clareira de Porto Urucu e ali começou a história toda da selva.
00:27:53 P/1 - Na época era um ponto grande?
00:27:55 R - Em 1998 já tinham mais de duas mil pessoas. Hoje, muito menos, porque a perfuração reduziu consideravelmente a atividade lá e fica só produzindo. E hoje você já tem produção por satélite, que você aciona os equipamentos por satélite, então diminuiu mais o número de pessoas, mas a obra continua lá. Então foi... É, em 1998 que eu vim para cá. Mas o que eu queria destacar, até para a gente encerrar, porque a história é longa... O que eu queria destacar é o seguinte, depois dessa parte de Roraima, Acre, Irunepé, Carauari. Depois disso, eu entrei para a parte de segurança de voo. A Petrobras, em 82, ela criou um grupo de segurança de voo. Por quê? Porque ela contratava... Ela chegou até a ter aviões próprios. A Petrobras já teve aviões, com piloto como empregado. E depois ela viu que não era isso, então ela preferiu contratar. E... Começou a contratar, contratar, contratar, mas não tinha critérios, até de fiscalização com relação à segurança. E não tinha eco no Ministério da Aeronáutica. Eles também tinham pouca experiência com helicópteros, com operação de offshore, com operação na selva. E... Aí, acidentes aconteciam e muito, muito... Um alto índice de indisponibilidade. E ela criou, até mesmo pelo decreto-lei, ela criou esse grupo de segurança de voo. Que foi, na realidade, um grupo de pessoas, funcionários da Petrobras, olha, você vai cuidar disso. Mas, em 93, foi criado oficialmente o Grupo de Segurança de Voo Nacional, do qual eu fiz parte. Eu sou um dos membros do primeiro grupo de segurança de voo, né? Tenho. Nós fizemos cursos em Brasília, cursos pela Petrobras, cursos de prevenção de acidentes. Nós somos credenciados hoje pelo Ministério da Aeronáutica para prevenção de acidentes aeronáuticos.
00:30:33 P/1 - Não, não, não.
00:30:37 R - Hoje nós... sabemos como funciona, fizemos alguns cursos de mecânica de helicóptero, né? E para saber como é que funcionam as engrenagens, para saber o que cobrar das empresas, para saber o que é que elas estão nos falando quando usam termos técnicos, né? Então, na realidade, foram funcionários da Petrobras que se prepararam para para essa atividade de segurança de voo. Ninguém tinha a pretensão de ser piloto, ninguém tinha a pretensão de ser mecânico de helicóptero. Nós queríamos entender como é que funciona para que ela se desenvolvesse. E, graças a Deus, nós conseguimos isso. Hoje, esse grupo de segurança de voo, ele tem o melhor índice de segurança de voo do mundo em operações offshore. melhor que o Mar do Norte, nossos índices são melhores que os Estados Unidos. Então, nós usamos muito isso e é um orgulho para a gente. E é uma atenção que a gente tem considerável. Agora, o que eu queria destacar é que eu entrei, depois daquela saga toda, eu fiquei ainda na Amazônia, mas peguei a parte de segurança de voo. Então, começamos a trabalhar com isso e tal. E eu controlava as operações no Porto Urucu. As operações de helicóptero, nós fazíamos reuniões mensais com os pilotos, promovemos em 97 um simpósio de segurança de voo na selva. As pessoas achavam difícil, mas nós conseguimos fazer. E atuávamos ali. E fiscalizávamos todas as empresas que trabalhavam para a Petrobras. E uma das coisas que me marcou muito na Petrobras foi essa fiscalização das empresas. Nós temos uma empresa de assessoria aeronáutica que presta serviços, que são mecânicos e pilotos, que vão lá na aeronave, vistoriam toda a aeronave, tem o perfil dela, e nos repassam, e nós tomamos a ação em função do que eles encontram, o que eles detectam. apareceu uma empresa lá, chamada Selva Taxi Aéreo, que começou a apresentar baixos índices de qualidade. Então, nós começamos a nos preocupar com ela, nós começamos a chamar a atenção dos superiores, olha, essa empresa não é séria e tudo mais, e chegamos a um ponto de cortar o contrato com ela. Então, foi rompido o contrato, em função da segurança de voo. rompido esse contrato, eu soube depois que ela pegou outros contratos com empresas contratadas da Petrobras e estava voando de novo para a Urucu. E eu, novamente preocupado com a segurança de voo, disse não, ela não está sobre o nosso contrato, não está sobre o nosso domínio, mas está viajando com pessoas nossas, então eu vou tentar proibir também, como não é uma empresa séria, eu vou tentar proibir que ela opere no Urucu, já que o aeroporto é da Petrobras, a operação é da Petrobras, ele é público restrito, então nós tínhamos que dar autorização para que a empresa operasse, para que qualquer empresa pousasse e comecei a tentar proibir. Mas algumas empresas contratadas, até para minimizar custo, insistiam em mantê-la, em contratá-la. De repente a gente sabia, olha, está indo o avião da selva para lá. Um belo dia eu Tomei uma decisão, disse, está muito perigoso, esse avião pode cair. Eu soube que o avião tinha decolado de Manaus e estava indo para lá com 12 passageiros. Eu liguei para Porto Rico e disse, olha, esse avião não pousa aí. E avisa para a tripulação, que eles tinham comunicação, que eles não estão autorizados a pousar. Aí criou ali um mal-estar danado. Eles tinham como voltar, mas não voltariam. Aí o dono da empresa, que estava em Manaus, já de celular, no trânsito, começou a me ligar, dizendo, pelo amor de Deus, que eu autorizasse, era só aquele pouso e não sei o quê. E a gente insistiu. Não, não está permitido. E quando eu vi que ele não ia retornar, eu pedi para a segurança. Olha, se ele pousar aí, só autoriza o pouso, se caracterizar que está com uma emergência técnica, né? E a gente não pode evitar isso aí, pousa e também ninguém sai do avião. Aquelas coisas bem rigorosas para que ele entendesse que nós não queríamos mais aquela aeronave lá. E forçamos mesmo a situação. Quando ele percebeu que tudo aquilo seria feito, ele alternou para uma cidade próxima chamada Tefé. Chegou em Tefé e ele me ligando, o voo levava quase duas horas, nesse interino ele me ligando, tentando me convencer, tentando convencer o meu superior, que nessa hora foi firme e também me ajudou. e ele não conseguiu pousar. Depois ele contentou, insistiu. Olha, eu arranjei um outro avião de uma outra empresa para pegar esse pessoal lá em Tefé e levar para Urucu. Você autoriza? Aí como era uma empresa que a gente já tinha uma certa credibilidade, eu autorizei só no dia seguinte. Eles tiveram um prejúcio significativo. Mas eu deixei claro naquela ação que ele não iria mais pousar lá. que ele desistisse de fazer contratos, apesar de nós termos feito cartas para as empresas pedindo que não contratasse aquela empresa. Eles ainda contratavam, nós demos a mensagem que para eles não teriam condições. Quando eu percebi que ele não iria mais trabalhar com a Petrobras, eu senti um certo alívio, senti um dever cumprido. Aquela empresa que não é séria não vai trabalhar com a gente. Mas me frustrei violentamente uma semana depois que esse mesmo avião caiu e matou 12 pessoas. Era um avião que tinha capacidade para 14 pessoas, colocou 16, tal irresponsabilidade que era, foi fazer um voo para uma prefeitura próxima de Manaus, uma cidadezinha próxima de Manaus, foi fazer um voo totalmente afastado da Petrobras e caiu e matou 12 pessoas, criancinhas e tudo mais. Aquilo me deu um choque violento porque na filosofia de segurança de voo que a gente aprende no Brasil, no CIPAE, você tem responsabilidade por tudo, você passa a ter responsabilidade por tudo. Eu fiquei com aquela sensação de que, poxa, no universo da Petrobras eu consegui esse sucesso, mas terminou o meu limite de atuação, e a aeronáutica que estava com a gente, mas tinha suas limitações, ela tinha sua autoridade, mas tinha suas limitações, não pôde fazer nada, e uma semana depois esse avião caiu. Eu tenho, eu acho que não é interessante, mas eu tenho as fotos que eu fiz questão, eu estava em Belém, fiz questão de pegar um avião, ir para Manaus e depois ajudar no resgate do avião, porque os corpos já tinham sido resgatados, sobreviveram algumas pessoas. E fiquei com as fotos do avião como um complemento de, sei lá, como um ensinamento, como uma lição relativa à segurança de voo. Depois nós criamos aqui em Macaé um curso de transporte aéreo, onde eu ministrava uma matéria sobre transporte aéreo e eu evidenciava bem essa... eu usava essas fotos e outros exemplos de lá. Mas Mirella, basicamente é isso. Uma das coisas que eu achei interessante, que eu achava interessante, que é bom falar, é uma oportunidade única essa, é que existia uma frustração no petroleiro. Ele passava por essas situações que não são... você não tá no escritório, sai, pega o seu carro e vai pra sua casa curtir os seus filhos, né? Pra mim, começar a trabalhar, por exemplo, em Cruzeiro do Sul, quando eu estava, eu saía de Belém, pegava um avião duas horas, pousava em Manaus, pegava um outro avião duas horas pra Cruzeiro do Sul, depois pegava um helicóptero quase que uma hora pra dentro da selva. Então, pra começar a trabalhar, você levava cinco horas voando. E lá, uma... doença tropical, animais, em algumas situações, índios. Toda aquela adversidade para você operar, mais a lama, ou então muita poeira, no verão muita poeira, no inverno muita lama, tudo aquilo, os acidentes que aconteciam, você recolher pessoas feridas, aquele negócio todo, é uma atividade totalmente diferente. Antes de entrar na Petrobras, eu trabalhava de paletó, vendendo carros. E aí mudei totalmente. Aí você volta tudo aquilo, chega na sua casa. Muitos petroleiros sofriam com isso, né? Você chegava na sua casa, chegava pros seus amigos e eles não acreditavam muito naquilo que você tá entendendo. Eles não acreditavam. Pô, será que você tá me contando histórias? Será que você... Será que é tudo isso mesmo, entendeu? Aí, de uma certa forma, quando aconteceu aquele acidente lá em... Aquela coisa dos índios lá em 84, que saiu no Jornal Nacional, Poxa, o que tinha de petroleiro, a gente está vendo? É assim que acontece. Mas essa frustração, eu acho que fica enraizada no petroleiro, de você não poder exteriorizar a emoção que você sente com esse tipo de atividade. Eu estive pouco aqui nas unidades marítimas, Mas veja o quanto é diferente a atividade, o quanto ela exige de você. O isolamento, só o fato de você estar isolado 14 dias, e naquela época eu ficava isolado 21 dias. Então, você ficar isolado 14 dias, confinado ali, numa área que, sabe? É preciso você administrar bem isso. E o inusitado, você trabalha 12 horas por dia, numa zona de perfuração, com chuva, com sol, com tudo, ali no tempo. Então, essas coisas não é uma atividade comum. Aí você chega lá e encontra todas as pessoas normais, e não te dão muita atenção. Então isso, com o tempo, a gente percebe. Conversando com petroleiros que estavam naquela época, que conviveram com isso, eu disse, poxa, o pessoal não acredita no que eu falo. Mas é isso.
00:42:00 P/1 - Tem alguma coisa, alguma lembrança marcante, além dessas todas que você contou, tem alguma que, sei lá, que você queira destacar, que ainda não falou, ou coisa assim?
00:42:09 R - Olha, é tal coisa, né? Se explorar... Se espremer, sai muito caldo, né? Sai muito caldo. Eu estava comentando com o Barcelos. Tem momentos tristes, tem momentos dramáticos. Logo que nós começamos no Urucu, a primeira edificação que nós fizemos foi uma casinha de madeira com dois pisos. Eu trabalhava no piso de cima, que eu coordenava os helicópteros todos. Aí, num determinado momento, Eu vi chegar uma Toyota e dentro, na correnteira da Toyota, tinha um rapaz ensanguentado. Desci imediatamente ali e vi que o rapaz estava sem as duas pernas, à altura da canela. E as botas com os pés dele e o resto estavam ali do lado. Então, a minha ação naquele momento foi pegar o macacão dele, pegar você lá do outro lado, chamar o helicóptero tal que eu tinha memorizado onde os helicópteros... Eu sempre tinha na cabeça onde os helicópteros estavam, onde o avião estava. Aí chamei o helicóptero mais próximo, ele pousou, colocamos o rapaz, aí não tinha outra coisa, não tinha nenhuma faca, não tinha nada pra você fazer um torniquete. Aí eu lembro da bota do... de um dos pilotos, o Bruno Ramalho, que depois foi prefeito de Carauari e hoje é nativo de lá. Pedi para ele tirar o coturno, tirar a coisa, e fiz o torniquete numa perna, um outro rapaz já fez o torniquete na outra, até que o enfermeiro viesse lá debaixo do nosso alojamento, que era muito longe, cheio de lama e tal. E eu também fazendo aquilo e raciocinando que o avião já deveria estar decolando de Tefé para Caruari e ia ficar mais complicado o retorno. Aí pedi que um outro helicóptero subisse a 4 mil pés e falasse para aquele avião, para ele retornar para Tefé, que o Puma daqui iria decolar com um acidentado. Então, raciocinado assim, eu sabia onde eles estavam e consegui montar, fazer esse avião retornar e tudo mais. Deu umas palavras de ordem que, às vezes, eles não obedeciam. Meu Deus, estou com 50 passageiros aqui. Será que eu vou atender esse rádio e voltar? Vai criar uma confusão danada. Então, consegui fazer com que essas coisas acontecessem. Mas você disse marcante. O que realmente marcou todo esse episódio que eu contei agora, foi que um dos parentes, uma das pessoas que trouxeram esse rapaz acidentado, era primo do acidentado, que ele cortou as duas pernas numa motosserra, fazendo tábuas de madeira. E esse rapaz presenciou a coisa, e ajudou a colocar no carro e trazer. E ele não sabia o que fazer com as duas botas, com os pés dele. Eu percebi aquilo nele, mas ali, quando fazia o Torniquete, o Kimi cortou o coração depois. Na hora você raciocina...
00:45:13 P/1 - Ele era de Lopes?
00:45:14 R - Não, Lopes Filho, era uma contratada. Então o Kimi marcou naquela cena que depois é que eu vim sofrer. Na hora você tem que agir friamente e ser bem prático. foi que o rapaz tentava colocar no lugar as duas pernas, pelo menos para manter a estética, sabe? Ele não sabia o que fazer, meu Deus, o que eu ia fazer com duas botas com dois pés do meu primo, né? Então, aquilo me cortou o coração, até hoje, quando lembro, digo, sabe? Ele não sabia o que fazer, ele tentava colocar no lugar, assim. Aí o helicóptero decolou e, para a minha alegria, são essas compensações que a gente vai tendo ao longo da vida, Tempos depois, eu perdi o contato com essas pessoas, tempos depois eu soube, olha, tem um rapaz lá em Belém, ele era de Belém, que ele quer lhe conhecer, ele disse que o senhor salvou a vida dele, não sei o quê. Aí eu nunca vi, nunca vi ele, mas... Dá aquela sensação de alívio. Se alguma coisa lhe tivesse dado errado, o sangue que ele estava perdendo, realmente ele não poderia não sobreviver. Ele perdeu as duas pernas, mas não poderia não sobreviver. E tem outras situações dramáticas. Tem acidente com um colega que faleceu, eu fazendo massagem cardíaca nele. E outra sensação terrível foi que ele estava fazendo... Foram três acidentados que chegaram de repente naquele mesmo prédiozinho de madeira. E eu comecei a ouvir que o enfermeiro já estava exaurido, estava passando mal de tanto tentar recuperá-lo. Ele se levantou, eu sentei na barriga do rapaz e comecei a fazer a massagem cardíaca. Foi quando chegou o médico e bateu no meu ombro e disse, olha, para de fazer, ele já morreu. E eu, fazendo a massagem, eu senti alguma coisa pressionando a minha coxa, né? Alguma coisa da barriga dele pressionando a minha coxa. Eu percebi aquilo, mas... Aí depois que... Desiste, né? Que eu levantei, o que fazia a pressão era o intestino dele, a barriga dele estava rasgada. E a gente não percebia isso, porque ele chegou de macacão, né? Então, aquela sensação... Foi o Flávio, esse rapaz que morreu, que tomava cerveja com a gente. Então, essas coisas que você vai vivendo, isso vai te machucando. Aí você chega na sua casa, na sua terra, olha, aconteceu isso. Tem certeza? Você não está preocupado em registrar essas coisas. E eu, sinceramente, fiquei muito feliz em saber que tem essa memória. O Sindicato de São Paulo teve essa... Você é sindicalizado? Como eu te falei, eu fui sindicalizado até em Belém. Depois que eu saí de Belém e vim pra cá, eu me sindicalizei de lá porque precisava. E aqui eu não me sindicalizei.
00:48:23 P/1 - E o que você achou de ter participado desse projeto, que é uma parceria.
00:48:28 R - Sindical, Olha, eu parabenizo a iniciativa do sindicato, a iniciativa da Petrobras. Eu acho que isso deve ser, sei lá, sabe? Só o fato de você conseguir exteriorizar coisas, emoções muito intensas que você viveu a serviço da Petrobras, eu acho que é fantástico. Eu tinha uma reunião agora às sete horas, todo mundo deve estar me xingando lá, e eu vou chegar lá sorrindo, feliz, vou ouvir o que eles tiverem de bobagem para me falar, mas eu vou vir com uma alegria muito grande porque, aliás, só o meu sorriso, só a minha satisfação em ter exteriorizado um pouco disso, vai fazer com que eles se calem e entendam que é muito bom a gente poder expressar. Eu acho que se a gente pudesse fazer isso com várias pessoas, muitas pessoas não teriam problemas cardíacos, não sofreriam tanto por aí.
00:49:23 P/1 - Muito obrigada, Waldyr. Foi ótimo.
00:49:25 R - Eu que agradeço. Acabou levando um tempo.
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