Projeto Memórias de Serra Pelada
Entrevista de Luiz Alves da Silva
Entrevistado por Lucas Torigoe (P/1) e Dedison Carvalho (P/2)
Serra Pelada / Pará, dia 4 de agosto de 2024
Código da entrevista: MSP_HV001
Revisão: Nataniel Torres
P/1 - Obrigado, Senhor Luiz. Senhor Luiz, me fala uma coisa para registrar aqui. Qual é o nome do seu completo, que cidade que o Senhor nasceu e que dia que foi?
R - Nome completo, Luiz Alves da Silva, cidade Balsas, Santo Antônio de Balsas, Maranhão, um interiorzinho, Vão da Boa Esperança, residente em Balsas. Aqui só tem eu perdido no meio do mundo, mas estou em casa também, tem um bocado de amigo, tô em casa também, né! Nasci em 5 de março de 1953.
P/1 - E o senhor nasceu em casa, ou onde que foi, em hospital?
R - Não, em casa mesmo, no interior. Lá no interior, distante da cidade, muito longe. Na terra da família lá, Vão da Boa Esperança.
P/1 - E te contaram como foi o dia do nascimento do senhor?
R - Depois vão revelando pra gente, depois! Fui criado pela família, por avô, ele me pôs logo no colo. De 1953 a 1958. Aí faleceu, mãe recolheu para onde era.
P/1 - Por que o senhor foi morar com o seu avô?
R - Não! De vários netos eu fui o preferido, né! Isso é muito gostoso, né! Sabe como é gostoso você ter a pessoa que te acolhe na hora que você nasce. “Não, esse aqui é meu!”. Pegou aquele preto, cor preta mesmo, pegou aquele preto: “É esse aqui!” Com tantos mais brancos, brancos mais alvos, mas índio, tudo, porque família grande mistura, sempre mistura. E teve aquela agraciação de eu ser cuidado por ele.
P/1 - Por que o senhor acha que ele escolheu o senhor e não os seus irmãos ou suas irmãs?
R - Porque da filha caçula, eu fui o primeiro. Não sei! Os velhos têm aquele negócio, da preferência pelo mais velho e pelo mais novo, né! Uns tem aquele negócio, aquele agraciamento, né! E essa foi a caçula. Aí ele preferiu o primeiro também.
P/1 - O seu avô escolheu o...
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Entrevista de Luiz Alves da Silva
Entrevistado por Lucas Torigoe (P/1) e Dedison Carvalho (P/2)
Serra Pelada / Pará, dia 4 de agosto de 2024
Código da entrevista: MSP_HV001
Revisão: Nataniel Torres
P/1 - Obrigado, Senhor Luiz. Senhor Luiz, me fala uma coisa para registrar aqui. Qual é o nome do seu completo, que cidade que o Senhor nasceu e que dia que foi?
R - Nome completo, Luiz Alves da Silva, cidade Balsas, Santo Antônio de Balsas, Maranhão, um interiorzinho, Vão da Boa Esperança, residente em Balsas. Aqui só tem eu perdido no meio do mundo, mas estou em casa também, tem um bocado de amigo, tô em casa também, né! Nasci em 5 de março de 1953.
P/1 - E o senhor nasceu em casa, ou onde que foi, em hospital?
R - Não, em casa mesmo, no interior. Lá no interior, distante da cidade, muito longe. Na terra da família lá, Vão da Boa Esperança.
P/1 - E te contaram como foi o dia do nascimento do senhor?
R - Depois vão revelando pra gente, depois! Fui criado pela família, por avô, ele me pôs logo no colo. De 1953 a 1958. Aí faleceu, mãe recolheu para onde era.
P/1 - Por que o senhor foi morar com o seu avô?
R - Não! De vários netos eu fui o preferido, né! Isso é muito gostoso, né! Sabe como é gostoso você ter a pessoa que te acolhe na hora que você nasce. “Não, esse aqui é meu!”. Pegou aquele preto, cor preta mesmo, pegou aquele preto: “É esse aqui!” Com tantos mais brancos, brancos mais alvos, mas índio, tudo, porque família grande mistura, sempre mistura. E teve aquela agraciação de eu ser cuidado por ele.
P/1 - Por que o senhor acha que ele escolheu o senhor e não os seus irmãos ou suas irmãs?
R - Porque da filha caçula, eu fui o primeiro. Não sei! Os velhos têm aquele negócio, da preferência pelo mais velho e pelo mais novo, né! Uns tem aquele negócio, aquele agraciamento, né! E essa foi a caçula. Aí ele preferiu o primeiro também.
P/1 - O seu avô escolheu o senhor e por que?
R - Como diz o caboclo, é aquele negócio da sorte, a gravidade da sorte chega pra um. Então, graças a Deus chegou para mim. No meio de vários, chegou pra mim!
P/1 - E esse seu avô fazia o quê? Qual era o nome dele?
R - Domingos de Uruçuí, porque ele era do Piauí. A minha avó era do Ceará. Ele pegou uma mulher com cinco filhos, quatro filhas mulher e um filho homem. E comprou esse terra diferenciada porque na família dos brancos no Ceará, não aceitava preto no meio. E aí ele… O marido dela morreu e ele tomou conta da família. E foi comprar essa terra lá nessa região, dessa diferença de distância. Naquela época era coisa distante, longe. Ele comprou dessa família lá e até hoje ainda está em nome dessa família. Aí botaram o nome do Vão Boa Esperança, do Vão do Uruçuí, porque o velho do Uruçuí, um negro com seus vinte tantos anos, trinta anos, e casou com essa cearense, e foi misturando a família, sangue com sangue, e vem várias nacionalidades com diferença. E eu fui agraciado pela caçula, ser agraciado pela caçula, ficou solteira, aí veio eu. E ele disse: “Esse aqui é o meu!” Ele preferiu eu e me segurou. E graças a Deus tenho uma boa sorte, graças a Deus! Tive vários empregos, carteira assinada, e surgiu o trabalho, conheci de lá a enxada, a foice, o trabalho de cana, o trabalho da vida e a barriga cheia, graças a Deus!
P/1 - E quem ensinou o senhor a trabalhar?
R - Já foi a mãe. Depois dos 8 anos de idade.
P/1 - Seu pai estava aonde?
R - O pai abandonou. É aquele negócio, abandonou e eu fui para a parte do avô. Ela arrumou outro casamento. Teve eu e outra. Depois arrumou um casamento, casou, depois com vários anos se largaram. E eu passei, mais o outro, filho desse outro, passamos a tomar conta da casa, da família. Minha mãe… Nós somos nove filhos, desses nove filhos, três homens e o resto mulher. E a gente naquela opinião, não deixar trabalho pra ninguém, conviver com ninguém, trabalhar para ninguém, empregado para ninguém. Eu e o outro nos incorporamos para cuidar da casa e da família. O outro casou logo, com vinte e poucos anos casou e eu fiquei no batente pra lá e pra cá, me envolvi com a vida de trecho, botava a mala nas costas e corria o trecho. Surgiu o garimpo, em 1981 me agreciei de vir aqui olhar, peguei o dinheiro de fazer a casa para minha mãe na cidade, que nos mudamos para a cidade, em 1970. Peguei o dinheiro de fazer uma casa melhor para a minha mãe, achei por bem correr para cá e aplicar aqui. E aqui eu fiquei! Vendo com frequência muita coisa importante, muita gente rica, muita gente milionária, mas muitos precisados também. Eu fui a parte do que peguei lá fora e trouxe para gastar aqui dentro. E os daqui pegaram daqui e gastaram lá fora, outros desapropriaram. Tem gente bem em Serra Pelada, não tem dinheiro amaldiçoado, tem o amaldiçoado que não sabe cuidar do dinheiro, correto?
P/1 - Só para eu entender. O Senhor pagou casa para a senhora sua mãe? Foi isso?
R - Não, eu ia fazer, para fazer a casa bem feita. O dinheiro que eu tinha lá, peguei trinta, naquele tempo trinta e poucos mil, quase o dinheiro de 2 quilos de ouro, o ouro estava treze contos a grama, que dizer, dava treze gramas, eu trouxe trinta e poucos mil. Eu queria comprar uma fazenda, chegou aquele surgimento lá em 1985, chegou aquela produção lá, que hoje é o corrimento da cidade, soja, arroz. O primeiro serviço que eu fui trabalhar numa fazenda lá, foi seiscentos hectares plantados numa primeira vez, mil, quase mil e quinhentos da segunda vez. E eu fui agraciado de trabalhar nisso lá, passei a ser chefe de campo, passei a tirar o solo das costas e as mãos dos calos para aliviar. Isso é leitura, fiz muito bem. E dez sócios dessa fazenda lá, dez sócios. E fui agraciado para cuidar da família, ganhei bem, graças a Deus. A região pagava dez reais a diária, que hoje é cem, e lá eram quinze contos a diária. E eu e meu irmão, nós ganhava trinta contos todo dia, né! Fora as horas extras que a gente fazia, três horas, duas horas, três horas.
P/1 - Mas isso a partir de 1985, é isso?
R - É, a partir 1985. Até o desemprego. Passei a dirigir trator, fui tratorista. E aí, surgiu uma empresa lá, fizemos uma ponte, a construção de uma ponte, tenho um ano e um mês de carteira assinada, dois meses de carteira assinada, por causa da construção dessa ponte. Fui encarregado também. Bom, e tudo ajudando a família. Em 1981, eu peguei esse dinheiro da Caixa Econômica, Banco do Estado do Maranhão, passei para a Caixa Econômica, peguei da Caixa Econômica e apliquei aqui em Serra Pelada. Eu devia ter feito uma casa muito bem arrumada para a minha mãe, mas eu queria era comprar uma fazenda para eu tocar a minha vida com a família. Consegui criar dois moleques de uma irmã minha, consegui dar um melhor estudinho para eles. E eles já conseguiram dar um melhor estudo para as filhas, tem duas netas formadas, doutora fulana, doutora ciclana. E outro que teve aí dois meses atrás, está tentando auxiliar os outros dois filhos dele também. E bem empregadinho meus filhos, graças a Deus, me tem um amor de vida, me tem um amor de pessoa, vixe Maria! É os meus cuidado mesmo. E estou aqui nessa esperança, lutando por isso. E aqui venho passando por vários movimentos, várias coisas, várias lutas. ________, o nosso interventor, já mudando para cá, para o garimpo…
P/1 - Desculpa! Eu gostaria de voltar, antes da gente engatar no garimpo. Me fala o seguinte: o senhor cresceu no Maranhão.
R - Cresci no Maranhão.
P/1 - Então, me diz uma coisa, você trabalhou quanto tempo na roça lá no Maranhão?
R - Na roça vou te contar que dos 8 anos até chegar aos 20 anos, era na roça.
P/1 - Você plantava o que lá?
R - Plantava o básico, o arroz, a mandioca, o milho, o feijão, a fava, eu chamo o básico, né! Então, esse básico era o nosso plantio da roça.
P/1 - Tinha bicho também?
R - Porco e galinha, gado não tivemos, porque o recurso e a terra pequena para uma família grande, se todo mundo criasse tinha que fazer um trabalho diferenciado, a boca do uno nós cercava pra criar os porcos para baixo, e pra dentro trabalhava a granel.
P/1 - E qual é o nome da sua mãe?
R - Otilia Alves da Silva.
P/1 - Ela que ensinou o senhor a trabalhar?
R - Ela que me ajudou no trabalho e o esposo dela. E o esposo dela, que a gente acompanhava.
P/1 - E ensinou suas irmãs e seus irmãos também?
R - Também! Aí, quando foi em 1970, desistimos de lá, porque ela começou a adoecer, começou com uns problemas, viemos para perto da cidade. E perto da cidade você sabe como que é, já passa para outro corrimento. Aí passamos para perto da cidade, pra lá. Os velhos da gente lá, os irmãos dela tentaram colocar nós para trás. “Nós unidos é melhor!” Tem gente que gosta daquele patrimônio junto, mesmo com discussão de família, mas quer estar junto. E a gente já pegou outro ritmo na cidade. Já botamos as irmãs para estudar, e tinha que ajudar na parte de comida para não deixar empregada na casa de ninguém, que nós somos aquele pessoal ciumento de família. Chegou lá em casa, a casa, mas até o cuidado, nós tínhamos bastante cuidado. Eu e um irmão meu, nos incorporamos. Eu sou de 1953, uma irmã de 1954 e um irmão de 1956. Mas eu olhava para ele, ele era mais forçado, olhava pra ele, depois nós com nossos 30 anos, olhava para ele, olhava pra mim, parecia que eu era mais novo do que ele. Porque o sangue dele já era mais branco, e o sangue branco envelhece mais, né! Tô com 70 anos, e o cabra vai fazer 60 anos, 60 e pouco, quase 10 anos de diferença. E é porque eu trabalhei bastante, eu passei muito sono, gastei com muito sono.
P/1 - Antes de falar dos seus irmãos, me fala um pouquinho da sua mãe. Ela é viva?
R - Não, não, tem uns dez anos que morreu.
P/1 - Como que ele era?
R - Uma morena bem alta, trabalhadeira, pessoa que nos deu ensino, deu para nós aquele corrimento de família, aquela ajuda familiar, que uma mãe daquela é para poucos filhos, uma senhora daquela não é todo filho que tem. E uma filha degostou ela tanto, mas ela nunca deixou de acolher na necessidade, na precisão, nas horas que ela precisou, ela nunca deixou de acolher, nunca deixou. E é muito difícil dizer assim. Era o meu telefone, naquele tempo o telefone era só para o seu fulano, seu beltrano, mas foi na data de hoje, eu fazia todo esforço para minha mãe, para nós está ligado, conversando todo minuto, toda hora. Uma mãe como para pouco filho. Nunca chegava pra estar precisando dela e ela não estar ali na hora. Mas sofreu quinze anos de asma pesado, quinze anos pesado. Até revelação também, porque sou católico. Foi quem primeiro recebeu as bombinhas, quatro caixinhas de bomba veio, um padre foi e trouxe para ela, parece que Padre José, trouxe pra ela da Itália. Ela chegava lá, descia do hospital, vinha direto lá na paróquia. De lá eles compravam aqueles pães, aquelas coisas, alface. Foi a primeira vez que eu comi alface na minha vida. Ia deixar lá em casa no Jipe. Então, uns favores, que eu não tenho nada com as religiões, com as outras que foram criadas, que foram extintas. Eu queria que fosse só duas religiões, ou três religiões. Nós temos quatro milhões de religiões esparramadas, um puxa pra cá, outro puxa pra cá. Você chega tem dez padres numa igreja, mas você chega numa Pastoral, um pastor, outro pastor, e ali não se congrega, três, quatro pastores numa igreja. E nós temos dez padres numa igreja, cinco padres numa igreja, três padres numa igreja. Na hora que sai deixa tudo, só leva a roupa do corpo, e o pastor chega o caminhão carregado de coisas, quando vai pra lá, carregado de coisas. Eu estranho essas outra religiões, eu vou ficar lá onde eu tô.
P/1 - Se eu entendi, sua mãe foi ajudada pela igreja, é isso?
R - Foi ajudada, muito, muito, muito, pela igreja. Muito pela nossa igreja católica. Muito, muito, muito…
P/1 - E me fala dos seus irmãos então? Qual é o nome deles?
R - A mais velha é a Matilde, o mais velho o João Batista, mas ficou só com Alves da Silva, quando nós tiramos o documento no exército, já aqui em Goiás, eles não aceitam quatro, cinco nomes. Não sei se você que já foram cadastrados já passaram por isso. O governador do Estado de Goiás, na época, mandou cadastrar, porque tinha uns gatos que estavam pegando pião de acolá, vendia para acolá, matava acolá e tal. Predestinado, um governador do Goiás em 1977, mandou que todos os fazendeiros daquela região de Araguaína, Colina, essa baixada todinha lá, mandou documentar todo mundo. E lá eu tirei reservista, tirei identidade, tudo lá no exército. Passei por essa disciplina de conhecimento, 15 dias num local, 15 dias em outro, 15 dias em outro, 15 dias em outro. Meu amigo, eu já vi tribulação na vida, muita tribulação na vida, já passei por muitas tribulações na vida.
P/1 - Vamos passar por elas. Você consegue listar seus irmãos e irmãs?
R - Não! Eu sei que somos nove, já faltou dois. Sei que somos nove, mas faltou dois. É João, Matilde, João, Raquel, Maria Dalva, a Valdirene, Dinalva, Rosenan, tá faltando mais um, faltando mais dois. Não vou conseguir, depois, botar na lista. Os dois que eu criei já são sobrinhos, Valdir e Valmir, na hora que botar no ar eles vão ver tudo, esses me acompanham direto.
P/1 - E me fala uma coisa, vocês lá na roça, antes de vim para a cidade, o que vocês faziam para se divertir lá?
R - Só um radiozinho comum mesmo, lá não tinha televisão, uma radiozinho comum lá mesmo, ligado na Rádio Nacional, na época, né! Na época, em 1969. Aquela programação, entrevista quase não tinha, era ouvir a Voz do Brasil, que a gente pegava o itinerário com a família da gente lá de Goiás, que é um povo lá de Goiás, que andaram lá, tiveram lá na nossa região também, um ex deputado estadual do estado de Goiás, que esteve lá conjunto com nós, que veio a passeio. E a gente pegamos aquele itinerário de rádio, né? E televisão vim conhecer depois de muitos anos, as outras áreas de divertimento.
P/1 - O senhor lembra de alguma música dessa época? De algum programa de rádio que o senhor gostava quando era pequeno?
R - Dos nossos cantores velho, veio primeiro Roberto Carlos, Amado Batista, aí veio o Milionário e Zé Rico. Agora está passando um programa de um véio também que teve, cantor sertanejo. Então, a gente ouvia muito aquele locutor antigo, velho, que depois que veio os outros, Márcia Ferreira, Delson Moura. Mas antes tinha outro velho que fazia programação da manhã, da tarde, e a Tia Leninha para as crianças, né! Que primeiro veio outro, depois a tia Leninha. E nossas modas sertanejas.
P/1 - E o senhor gostava mais de qual artista, qual música? Tem alguma música que o senhor lembra dessa época?
R - Tem o cabra, a coisa de relato que a gente passava para a gente lembrar. Tem o Dudu Galvão, o Belmonte e Amaraí, tem umas músicas deles também que tem horas que a cabeça não dá, eu pelejo pra relatar uma música. Do Milionário e José Rico, Amilton Lelo, “A Maior Mudança do Mundo”. Era aqueles cantor velho também, Maior Montanha do Mundo.
P/1 - De quem era essa música?
R - “Vou procurar a maior montanha do mundo e vou subir para ver se eu vejo o mundo inteiro, assim talvez encontre a ex, o meu amor, então consigo encontrar o seu paradeiro”.
P/1 - Essa é de quem?
R - Amilton Lelo. E o Amado Batista: “Andava a noite alento a procura de amor e de paz…. a procura de amor e de paz, fui para lá na porta num bordel lá distante do céu, morada de Satanás”. Se for relatar a vida não é bom não, hein! E do Milionário e José Rico, a melhor é “Essa Estrada Longa da Vida”. “Essa longa estrada da vida vou correndo e não posso parar”. E Roberto Carlos, já é as mais novas, que ele diz mata, mata. Aquela, eu quero um couro de passarinho. “Quero um coro de passarinho”. Do Roberto Carlos, a gente curtia. Mas sobre todas essas coisas que nós passamos pela vida, algumas coisas a gente relata, né! Aí tem outra que eu me esqueço do cantor. “As pedras que são pedras que rola se encontram, talvez nós se encontra aí um dia”. Então, estamos contando, quem sabe um dia nos encontramos de novo.
P/1 - Seu Luiz, nessa época ainda, que vocês ouviam rádio, vocês faziam festa também ou não?
R - Quando eu cheguei já tinha um tio que era tocador de festa, daí passou para o filho dele. E aquelas regiões tinham muito festejo, época de junho, festa de maio, junho, julho e agosto. Então, tinha aqueles contatos de festa pra ali, pra acolá. E esse tempo lá a região era muito cheia de gente. Hoje se você anda lá, o que você vê lá é plantios grandes, com grandes imensidões, na cidade hoje lá. Eu conheci naquele tempo dez carros dentro da cidade, dois caminhões, o resto Jeep, fusca, só do seu fulano e seu beltrano. Em 1969, 1968, 1969, tinha dez carros na cidade. E hoje tem uma casa com 15 carros, né? Como mudou, como hoje é movimentado, como hoje é diferenciado lá. Então, pra quem conheceu, hoje se chegar lá, o cabra até se espanta. Cidade com seis, oito mil habitantes, e hoje tem cento e poucos mil habitantes.
P/1 - E vocês tinham energia elétrica nessa época?
R - Nessa época tinha um motor. Quando fui já para a cidade, tinha um motor e apagava doze horas da noite. Depois de doze horas da noite silenciava tudo. O motor que abastecia a cidade lá.
P/1 - Sua mãe, os mais velhos, eles contavam histórias para vocês dormir? Lendas da época, ou não?
R - Contava, os bons e melhores momentos. Inclusive, essa nossa avó, eles são da família cearense pobre, mas as famílias muito envolvidas na política do Ceará. Aquele tempo chamava-se costureira que fazia paletó e gravata, era conhecido como modista, então ela era a pessoa que teve aquele historiamento por família. E aí, namorou um caboclo pobre do interior lá, deles lá, e quando ela se formou em modista, esse apaixonadinho dela não deixou ela sair mais, aí casou. Produziram cinco filhos, e aí deu aquela seca de quinze no Ceará, de nove a dez, parece, de doze a quinze. Aí tinha aquele terreninho pequeno deles lá, que já não estava dando nada, porque não tinha como dar, no seco. Aí, se mudaram do Ceará e vieram ficar no Piauí, na região do Piauí. E me contavam aquelas histórias, do que passou, do que veio, o que teve, e tal. Chegaram em quinze, em dezesseis o velho morre, aí o meu avô já passou a mão, já carregou também. E quando o meu avô falou para o pai dele, que gostou daquela mulher, mas a mulher não queria ficar no meio da família, o velho chamou o filho dele lá, já que era tudo trabalhador, um povo trabalhador. “Meu filho, vamos embora no baú. Cata um dinheiro lá, vou procurar um lugar para o meu filho, tá na hora de voar”. Aí foi lá no baú, mas o velho, o velho botou umas moedas lá dentro. E ele pegou o motor e subiu para a nossa região nossa lá. De lá procurou terra, encontrou esse local, o velho queria ir embora, encontrou esse local, comprou, já deixou tudo iniciado, casa, tudo arrumado. E voltou lá atrás da branca. Quem é preto gosta de branca, não sei o que é. E ao contrário que não gosta de preto, mas algumas gosta de preto. Como família deles, os avós dele vinha daquelas famílias de escravo, um pessoal que aprendeu a trabalhar e viver a vida. E tinha a barriga cheia. Quando ele voltou que foi buscar ela, já trouxe um dinheirinho, comprou uns quatro animais na cidade, para transportar as coisas, para não ser nas costas. Porque três dias de viagem, com mala nas costas, carrega pouca coisa. Mas ele trouxe tudo, levou pra lá tudo, tudo levou para lá. E lá situou de cana, lá situou de banana, lá situou de tudo. E movimentou a família toda de barriga cheia. Ela não teve um resguardo dela para não ter um quarto, uma banda de carne pendurada para comer, tirar o resguardo. E o terreiro cheio de galinha, cheio de porco. Fomos criados, graças a Deus! O colégio aquele tempo era difícil, pegamos um professor… Cada família aquele tempo pegava um professor, levava pra lá, pra dar o colégio para a família. Era fulano acolá. Aí juntava aqueles vinte, trinta alunos, para aquele professor daquelas aulas, tudo pago por cada pessoa da família. Como facilitou hoje, o governo dá tudo e o cara não quer estudar, né? Hoje o filho se invade na droga, na cachaça, discute com pai e mãe, mata, pinta e borda. Naquele tempo da gente era criado, o filho com 40 anos, o pai chamava atenção, botava ali, o cabra chorava que nem uma criança. Hoje com dez anos está respondendo o pai e a mãe.
P/1 - Me conta uma coisa: Senhor Luiz, o senhor saiu da sua cidade, lá da roça, e foi para outra cidade, é isso?
R - Eu sai da roça, largamos a roça, mudamos para perto da cidade, depois mudamos para a cidade mesmo.
P/1 - Que cidade que você foram?
R - Balsas, Santo Antônio de Balsas. Hoje a cidade é padroeira lá da região. E aí passei para a cidade, passamos a trabalhar braçalmente. E depois, chegando máquina, chegando essas coisas, a gente conseguiu trabalho também em máquina, produzir mais e a vantagem mais é que o salário da gente era certo no mês, para a gente auxiliar a família.
P/1 - Mas qual é o nome dessa cidade maior que o senhor morou depois de Balsas?
R - Não, só aqui! Só Balsas lá, onde está a família lá, quando eu vou lá visito. Agora tem uns três anos que eu andei lá, e agora em Setembro, Outubro, eu quero ir lá de novo, com fé em Deus, senhor! Quero ir lá passar uns dias com a turma lá de novo.
P/1 - E o senhor quando foi trabalhar em máquina, nessas coisas, o senhor namorava, casou? Como é que foi?
R - Não! Até agora eu estou sem aliança no dedo, não possuiu, não botei. Só mesmo as cachaças da rua.
P/1 - Mas o senhor não teve filho nessa época não?
R - Não que aquele tempo não podia registrar. E agora não adianta registrar, que se tem alguma está adulto e não apareceu.
P/1 - Então, me diz uma coisa. O senhor se lembra do dia que o senhor soube de Serra Pelada? Como é que contaram? Como é que o senhor soube daqui?
R - Foi um canal de televisão, na época a Globo, passou as primeiras notícias. E muitos de lá já correram pra cá. Eu já vim mais por último. Mas chegou lá nego bamburrado, nego festivo e tal. E eu estava empregado na época, bem empregado numa empresa. E aí, não queria largar a empresa, tinha que continuar. Final de 1980, a empresa terminou o serviço, aí eu fui pegar o meu seguro trabalho, quando eu cheguei na cidade, tinha chegado uns caras daqui lá, farreando, jogando perna pro ar. Aí, “eu quero conhecer esse lugar também, né!” Um pior que os outros, vou conhecer também! E quando eu cheguei aqui, que eu vi o fervo, vi o trem fervendo, vi o trabalho. “Eu vou encarar!”
P/1 - O senhor veio como pra cá?
R - Eu vim de carro até Marabá, de Marabá vim de carro até o quilômetro dezesseis, de lá já tinha a estradazinha, já tinha carro correndo pra lá e pra cá. Aí gente vinha por dentro do mato beirando, na beirada estava que nem carreto de formiga, limpinho que não tinha um graveto nas bandas. Mas… E chegamos numa época bem difícil, no inverno de 1981, que eu aproveitei o inverno pra gente tomar conhecimento. Cheguei, quando eu vi aquele movimento, voltei em casa, fui à Caixa Econômica, e peguei um dinheirinho, cheguei e fui semeando, comprando 1% dali, 2% de acolá. Fiquei administrando ali com o dinheirinho. Como eu já tava com essa ideia na cabeça, fui a Caixa Econômica lá, uma cachaça com a turma lá, com uns caras ricos que tinha aí, tinha porcentagem com eles lá. “Rapaz, sabe quem vai comer uma carne agora de noite aqui? Um delegado da Polícia Federal, um presidente da Caixa Econômica e quatro soldados”. Um uísque ainda e aí chama nós pra comer lá. “Isso tudo também não”. Chegamos lá, entramos lá, daqui a pouco os homens chegaram. Eu me sentei com o presidente da Caixa Econômica: “Rapaz, eu tenho como abrir uma conta pra passar um dinheiro para minha mãe que está na cidade? Eu tenho assim, assim, assim”. Ele: “Claro, vamos conversar amanhã às dez horas”. Cheguei lá às dez horas, uma hora de conversa mais ele lá. Abri uma continha, já coloquei logo um dinheiro, cem contos. A velha ganhava seus trinta e poucos contos da aposentadoria. Liguei pra “véia”: “Tem cem conto aí, já está seu nome aí tudo no cadastrado”. Em junho de 1983 no festejo da cachaça lá, eu fui para lá. Cheguei lá, tive que ficar sentado lá com ele. Quando foi em dezembro de 1983, o avião da Vortex que pousava nesse aeroporto aqui, que tinha um lá embaixo, mudamos pra cá. E aí, o avião da Vortex, vinte e pouco de dezembro de 1983, chocou em outro avião de Imperatriz, que vinha, fazia São Luiz, Belém, Marabá, Serra Pelada, Carajás e Brasília. Esses dois aviões chocaram um no outro e caiu. Morreu o Presidente da Caixa Econômica, o Prefeito da minha cidade e o povo da região soube, todinho, caiu, queimou tudo. Em junho de 1984, eu tive novamente com outro Presidente da Caixa Econômica. Então, eu fui um cara, Graças a Deus, que eu tive um privilégio, a minha família com privilégio. Era difícil eu passar quarenta, cinquenta dias sem botar dinheiro pra minha mãe pagar as continhas e educar os filhos, os netos. Chegou aqui acolheu, ficou aquela casa de chegar a ter dez pessoas para se alimentar todo dia. Cara, tu com 10 kg de ouro, hoje com 2 kg você faz a vida que com 10 kg naquela naquela época tu não faz, porque a terra era mais barata, tudo era mais barato naquele tempo. Mas um monte de dinheiro, naquele tempo tinha um valorzinho. Quando eu vi aquilo, não é possível, quer as roça dos outros, que eu não quero a minha roça também. Então, a sensação foi aquela. Ver a organização da Caixa Econômica, ver a organização do trabalho, organização da vida, e ver os homens sinceros, porque em toda a área tem gente boa, mas tem gente ruim. Na policia tem gente boa e na polícia tem gente ruim. Na política tem gente boa e na política tem gente ruim. E nós vem sofrendo depois que descobrimos que eles tiravam o nosso interventor daqui e levava lá para a política, nós sentimos a pele doer. E ele vai enfraquecer. E não! Pra nós, depois que nós descobrimos, fortaleceu mais, porque o dono da terra aqui, quando ele chegou, voltando lá atrás, o dono da terra aqui, o Senhor Genésio, desculpa a família, que Seu Genésio já morreu. Foi pego num desvio de ouro aí. Tiraram pra fora. O que o nosso interventor fez? “Não! Ele pode entrar na justiça um dia voltar”. Foi lá no Marabá, pegou o Ícaro no Marabá, mediu, parece que 900 e poucos hectares, pegou o Seu Genésio, mediu ali fora outra área pra ele ali, fez o documento no INCRA e entregou para o Senhor Genésio e família. Para tirar de dentro. O que ele fez nessa tirada de Genésio? Passou esse direito para os garimpeiros. Pois criamos, em 1984, criamos a cooperativa, uma cooperativa para administração do garimpo. Oitenta e não sei mais o que, para noventa não sei mais o que, mudamos o nome da cooperativa, matrículas, para COOGAR, COOMIGASP. O nosso interventor achou por bem não mudar a sigla de novo. Pra que? Pra cooperativa de minerações. Por que cooperativa de minerações? Para virar um empresa. Naquele tempo de Coomigasp a gente não podia contratar uma empresa, não podia contratar uma sondagem. Sim, na sondagem que ele fez. Ele fez uma sondagem, para poder fazer o primeiro rebaixo, que deu um desastre que morreu dezoito pessoas, dezenove, porque morreu uma depois, também em consequência. Ele achou por bem. Mas para saber se existia ouro em profundidade, tinha que fazer um corpo de saneamento que chamam perfuração, corpo de prova. Isso a gente aprende depois também. Nesse corpo de prova que foi feito quarenta e três furos, deu um com a substância de ouro incalculável, no vinte e um. Isso é gravado na mente.
P/2 - Deixa eu entender. Como foi para o senhor se agregar com os outros garimpeiros? O senhor veio com algum conhecido, com algum parente?
R - Não, foi tudo no meio do caminho. Aí, depois que eu trouxe a família, uns irmãos aqui. Mas se você bate no meio do caminho, você bate no meio do caminho, é como você fosse viajar daqui para o Salobo, tu vai sozinho, quando chega da entrada do Salobo pra frente, para lá também tem várias funções, chega para frente, chega um, tu arma a rede num lugar, daqui a pouco o cabra chega cansado, sem o cara estar armado, já te dá um café, já te dá uma merenda. E aí tu já entra naquele pelotão de gente. Daí tu vai achar o destino para tu incorporar com um grupo daqueles ali e acompanhar. Mesma coisa aqui. Chegava o furão, com cuidado, porque furão não podia existir, mas o cara chegava. “Vou armar a rede aqui!” Qualquer coisa a polícia chega e te bate aí, mas se eu ver a policia eu te aviso. E aí, a nós ficamos como aquele tipo de pessoas que andava o dia, mas à noite não podia tá zanzando na cidade, tinha que estar com documento na mão, no bolso. Mas quando o cara chegava aqui, o cara comprava uma bolsa nova, trocava na bolsa velha de um peão velho. Por que? Trajeto de garimpo, o cabra tem que aprender a estrada, aí quando o cara visse a sua bolsa já com um bocado de coisa, o policial passava por ti, não ia te revistar, mas quando…
P/1 - Qual era a roupa que vocês usavam mais nessa época?
R - Aqui era só o short mesmo. Short e aquelas cuequinhas bem ralas e o short de trabalho e o short… Aqui quando o garimpeiro chegava aqui vestido de calça, nego ficava batendo: “Ó, o cara está andando com medo das mutucas”. Uma mala, era uma bolsa nas costas, porque o cara que entrava com uma mala aqui. “E, o cara está trazendo roupa para vender”. Era sacanagem! Era peão latindo, era peão fazendo zoada. “Chegou o bravo, olha o bravo!” Então, era sacanagem. Quando você comprava bolsa nova para colocar os documentos, aí trocava com o garimpeiro, com uma bolsa velha dele. Para poder andar exposto da rua, andava tranquilo, passava pela polícia federal pra lá e pra cá, passava, abaixava a cabeça, não olhava para o outro lado, não olhava pra eles. Então pra te matar, dez dias não era fácil! Mas depois de dez dias em diante ia pegando o estilo do cara. A gente pegava esse “bujão” de gás, cortava no meio, aí pegava a grota… entrava com um bocado de meia para moer, aí tu ia passar meio dia grosando aquilo ali com “azobro” dentro. Quando era de tarde batia, ia limpar, aí espremia, levava para um fogo, queimava pra ti separar o mercúrio do ouro. Aí, já pegava um peão com a carteira para mandar lá vender, porque se não tinha carteira não aguentava ir lá vender, na hora que entrava sem carteira não vendia, já era pego pela polícia e expulso pra fora.
P/2 - E como era a rotina do trabalho dos garimpeiros no dia a dia?
R - No dia a dia, quando dava quatro horas da manhã a gente tinha que estar todo mundo preparado, merenda pronta, barrigada e descer para dentro do garimpo. Ali no teu barranco, onde tu tinha porcentagem, ou tu comprava, onde tu tava trabalhando, tu estava com o documento no bolso, enroladinho no papel. E dali dez horas, onze horas, tu tinha botado… Que lá do centro mesmo, era trinta viagens lá na castanheira lá fora, ou da outra para lá. E quando aquele tempo vai baixando, vai pegando as escadas, né! No mato, cortando madeira, e fazendo as escadas. Chegamos numa escadinha pequena, cento e quatorze degraus, chamada “Adeus Mamãe”, aquilo ali cabra, você treina, quando você começa sem treinar, é difícil. Você chega com o saco nas costas na pequena, e depois sua coragem vai aumentando. Todas as funções da gente começam aumentar quando tu bota na cabeça que tu tem que vencer. É muito ótimo isso aí! Mas depois que chegou ali no garimpo, cinco, seis anos no fundo, oito anos no fundo. Chegava peão que olhava lá embaixo e se tremia todinho. “Rapaz, não aguento não, não vou trabalhar não!” Botava no palenque e dava o dia. “Vai te embora esmorecido”. Fizemos muito aquilo, de manhãzinha e a tardezinha. Colocava o peão no carro para ir embora, porque não aguentava, chegava e se tremia. Foi construído também, foi dado a liberação, o cabra chegava furando e já tirava a carteira. Mas isso depois de 1983, isso depois de 1983. Cabra chegava com um furão de lá pra cá, não pegava carro, depois passou a vim os carros, furão trazendo por um amigo, por outro, chegava recente e tirava a carteira, porque vinha para trabalhar. Então, era um clima muito gostoso. Olha, mas tu bater num clima com oitenta mil pessoas, pra tu trafegar por aquilo tudo, o dia a dia, oitenta e tantas mil pessoas, só os cadastrados foi permanente oitenta e três. Quando ver aqueles jornais de longe. Vão procurar nas redes sociais, vocês vão ver, aquela fama de pepita sessenta e poucos quilos, aquelas coisas tudinho. Mas vi muita gente bem de situação. O Zé Maria pegou quase três mil quilos de ouro, o Marlon pegou quase dois mil quilos de ouro, o fulano ali, pegou setecentos, oitocentos quilos de ouro. O Chico Osório pegou seiscentos quilos, a parte dele foi quatrocento e poucos quilos. Comprou dois aviões, comprou uma terra boa para a família no Ceará, tá lá! Um tempo desses queria vender, o São Francisco passou no meio. Desculpe quem foi quem votou no PT ou quem foi que não votou, mas o PT começou com o São Francisco, eu pensei que era para fazer, era não! Para jogar uma minhoca na cabeça dos nordestinos, que vai lançar no governo de Fulano não só, mas Fulano vai terminar. O Bolsonaro acabou de fazer e ele agora acabou de tapar, quando não puder, acabou. Água não serve nem para beber e nem para plantar nada. Que mentalidade que tem o nordestino. Nós somos nordestinos.
P/1 - Me conta uma coisa, Seu Luiz, vocês começavam quatro da manhã, terminava que horas?
R - Pegava quatro da manhã porque tinha o garimpo vago, o garimpo depois das oito, nove horas, começava a encher, sete horas começava a encher, a gente já tinha botado metade das viagens, acabava de colocar aquilo completo de trinta viagens. Botava vinte, ficava dez para a tarde. Quando chegava uma hora da tarde, estava vago de novo, quando era três horas estava cheio, a gente estava acabando de botar nossas outras dez viagens. Porque de qualquer maneira o cansaço. Mas a gente novo, bate diferente. Um cabra velho, batida mais diferente. Mas nós conseguia. Então, a medida que foi afundando, a gente deixou para vinte e cinco viagens. Mas não precisa aumentar o número de gente no barranco, né! Não precisava aumentar o número de gente no barranco.
P/2 - E quando chegava à noite, tinha alguma diversão para vocês?
R - Abriram um cinema. Essa turma toda que está aqui, foi trazida porque o pessoal da Caixa Econômica que morava naquele recinto aqui, precisava de canal, tinha cinco canais de televisão, tinha quatro televisões na Praça pra gente assistir. Tinha as televisões aqui, era tudo comandado pela torre que foi levantada em cima daquela Serra. Por bem nós tiramos de lá essa torre e mudamos para cá, trazida oitenta por cento nas costas de peãozada, porque quando era essas frentes assim, peão estava disponível para ajudar, de graça. E montamos aqui. Quer dizer que ficou dentro do quarto também da cooperativa tudo financiado. E que comandava, na época, até 90, quem comandava, era o SNI, o governo federal, controlado, né! Quando o governo saiu, passou para a cooperativa. Ainda hoje, o restante de coisas, de montagem é da cooperativa. Então, nós tinha o cinema também, que era o kung fu, tudo quanto era coisa passava. Nós tinha uma placona grande, a praçona. E tinha o cinema também comandado por eles também, passava filmes de todas as espécies. De 1980 a 1985, era só homem. De 1985 a 1986, foi abertura para entrar mulher. Mas ele ainda fez a outra coisa, separações, que muita gente tem um debate, briga, que atrás desse morro tem um local ali, atrás desse morro aí, que era das mulheres da vida das pessoas particulares, que não tinha marido, tirado de Trinta, de Parauapebas, de Xinguara de_________. E se amontoou ali. Não tinha nada, ali tinha umas três mil mulheres.
P/1 - Me diz uma coisa, algum desses filmes que o senhor assistiu na época, marcou o senhor? O senhor lembra até hoje?
R - Não! Marcou a gente porque a gente assistia um pouco, quando era aqueles karatê, aqueles negócios de guerra, esses trens. E sempre os peões que gostava de violência, gostava de assistir aquelas coisas. Mas tinha de sexo, tinha de tudo. Parou quando entrou família, aí tiraram para as casas particulares.
P/1 - Nessa época até 1985, tinha bar aqui, pode beber, ou não?
R - Não! Bebia escondido. Só que não paramos de beber, mas bebia escondido. Veio abrir depois de 1986, que foi aberto para lá, também era proibido. Depois de 1988, foi que foi liberado o bar, a cachaça, tudo, foi liberado. Mas até lá era proibido. Até lá mesmo, nos bordéis, bebia, mas escondido. Se aparecia bêbado ia pra cadeia, para tirar a ressaca na cadeia, pra não ficar na rua e bagunçar com os cidadãos.
P/1 - Me conta uma coisa, o senhor explica pra quem é de fora, que vai ver essa entrevista depois, como é que era dividido o barranco, qual era a hierarquia?
R - A hierarquia, 1983 quando ia descer________ que vão acompanhar, era medido, e calculado, quinze pessoas por cada barranco de dois metros por três. Dois metros por três. Não era um aqui outro acolá, não, era tudo emparelhado. Como teve um fragmento que deu ouro bombril num barranco de um cidadão, que esse deu raspagem, foi cortado com um machadinho, que cortava osso antigamente, que depois veio a serra, tinha o machadinho. E o cara com a antena, não, o cara com o cordão medindo aqui pro cara não entra um centímetro, pra não colher uma grama de ouro do barranco do outro. Isso com Polícia Federal, PM lá, entrando naquela área só os donos, aquilo ali naquela hora, aquelas três horas, dez horas de trabalho, não podia entrar ninguém. Pro peão não sacanear, não roubar, sabe! Porque ladrão sempre escapou. Nunca escapou ladrão, sempre teve. No Zé Maria, foi catado 600 kg, 800 kg, catando do barranco, batendo as pedrinhas aqui e botando no balde, aquele balde foi calculado 20 kg, 25 kg de pepita. E o peão não subiu com dois sacos de pepita, vestido de uniforme, vigiado e tudo. E o cara ainda conseguiu tirar a roupa, conseguiu tirar tudo isso, levar aqueles dois sacos e se emburacou no mundo.
P/1 - Depois disso tiveram que dividir, é isso? O barranco.
R - Não! O cara foi descendo, quando passaram a medição da área controlada, foi dividido tudo, já era dividido tudo, todo mundo tinha sua arinha, seu barrancozinho, seu lugar de trabalhar. O cara ia pisando de um barranco para o outro. Foi conseguido naquele tempo vinte e poucos mil barrancos. Oitenta mil pessoas foi consagrada ao dia, de abril a dezembro, oitenta mil pessoas ao dia, dentro do garimpo. Fora o trânsito aqui de fora. Só carteira amarelinha, nós chegamos em 1984, cento e vinte e poucas mil pessoas, que era aquela carteira amarelinha. Só homem, não tinha mulher, só homem.
P/1 - E quando o senhor chegou, o senhor foi trabalhar aonde nessa hierarquia?
R - Já fui trabalhar nessa hierarquia, já no barranco dividido. Já comprei porcentagem também desse barrando dividido. Que dezembro era a época que o peão ia sair pra fora, ia em casa tudo. Aí, um por cento valia mil e quinhentos, dois mil. Foi a época que eu fui em casa, peguei o dinheirinho que estava depositado para fazer a casinha pra minha mãe e tudo. “Não, eu quero comprar uma fazenda grande pra ajeitar minha vida”
P/1 - E o senhor foi crescendo? Foi subindo?
R - Fui subindo! Eu gastei trinta mil e poucos naquela época aqui, comprando, estava com dezoito por cento comprado, barranco ali, pra acolá, ali pra acolá. Eu tinha dezoito por cento, registrado, documentadinho. Depois que acabou tudo a gente pega e desvai fora.
P/1 - Fala para o pessoal que vai ver depois, o que é bamburrar?
R - Bamburrar é aquele peão que pegou acima de cem quilos de ouro, de cinquenta quilos pra cima. Chama-se Bamburrado. Quando é do cara sozinho, aquele ouro, aí chama o Bamburrado. Aqui foi criado uma loja ali, loja dos Bamburrado, três irmãos Bamburraram, e aí dois montou uma loja grande ali, de relógio especial, tudo, cordão de ouro, tudo, aqueles enfeites. Peão saia daqui com uma boroca, duas borocas cheia de ouro, saco cheio de dinheiro, botava no carro dele aqui, já mandava ir em Marabá comprar o carro, já entrava aqui, botava na mala do carro, e despencava para fora. Hoje o cara não pode carregar cinquenta contos no bolso, né! E naquele tempo o cabra saia. Pegava o avião aqui, que nem o Chico Osório, pegou o avião aqui e foi para Imperatriz, de Imperatriz foi para o Ceará, para onde a família dele no Ceará. Com os sacos de dinheiro, as boroca cheias de dinheiro dentro do avião. Na estrada para chegar em Marabá, o cara falou: “Queria vender esse avião para o garimpeiro, mas o garimpeiro não tem dinheiro”. E ele, parece que com dezoito, vinte milhões e pouco de dinheiro no bolso, na mala, no saco. “Quanto é esse avião?” “Sete milhões!” “Não, Chico, dá pra tu comprar! Sou piloto Chico!” “O que? Tu é cavador do barranco.” “Sou piloto! To querendo viver minha vida pra mim. Eu larguei voo de avião, porque eu estava trabalhando para os outros. Eu vim para Serra Pelada, porque é uma vida diferente. Eu posso comprar um avião desse pra mim, qualquer hora”. Sete milhões! Chegou lá na parada, o cara foi lá, botou uma cadeira pro Chico, foi lá na _______. Foi lá, puxaram a vida do cara, tudo, tudo, tudo, tudo. “Não, Chico, dá pra comprar!” “Compramos!”. Contou o dinheiro pro cara, o cabra pegou a boroca. No outro dia o Chico, acostumado voar nas asas também, desses garimpos aí. “Pega o avião lá”. O cabra foi lá pro avião, controlou tudo, botou o rádio amador, chamou a torre, chamou a conexão de Imperatriz toda, como é que tá isso? Como é que tá aquilo? Aí, chegou. “Rapaz, você sabe mesmo o que é avião?” Aí, o cabra pegou o motorzão deu a partida. “Se prepara Chico, que nós vamos subir agora”. Ah, não, rapaz, não pode! Eu tava com peão, agora quase meu patrão.” Aí, ele pegou o aviãozão e foi. Quando ele em imperatriz. “Minha casa é aquela lá e a casa da minha sogra é aquela lá, dá para dar um vácuo aqui” “Não, não pode!” “Pode! se não eu te demito e boto outro” O cabra juntou a roda lá, e quando passou na casa da veia, “beinnnn”, deu aquela roncada no motor, que as telhas da velha, espanou umas lá. Ele desceu lá, quando ele chegou. “Sou eu minha sogra!” A véia pegou o cabo da vassoura. “Não minha sogra!” “Entra aqui dentro, olha como está aqui, vai ter que fazer outra nova” Então, é muita molecagem. O Marlon foi quase dois mil quilos de ouro vendidos em uma semana e pouco. Só um ouro que a gente conhece aqui, o ouro bombril. Comprou um jatinho de dez passageiros, ele, o dono, fez o trabalho de piloto, fez tudo. Mas cadê? Porque Marlon hoje não está sendo entrevistado? Os erros da vida leva o cara. Acabou com tudo, até o nome dele. Comprou uma terra de bagunça, aqui nas beiras, na região de Marabá. Matou doze famílias, dizem que passou o motor serra na barriga de uma mulher buchuda, com oito meses, o bichinho se tremendo todo, coisa absurda. O cara chorou depois da cachaça e maconha que ajudou fazer aquilo, revelou, e esse cara correu daqui dentro da área, sumiu. Por que isso aconteceu? Porque o cara não soube controlar a concentração dele, é difícil, não é fácil enricar. É bom ser pobre, e quando enricar saber o que está fazendo. O que eu planejei fazer, estou esperando para fazer. Hoje eu estou aqui nessa batalha da vida, ainda esperando pelas nossas coisas. Uma hora Deus há de lembrar, porque os políticos são falhos, são difíceis. E a gente tem muita coisa engasgada, é coisa que a gente não pode jogar assim, vamos dar conta das coisas devagarinho. Mas eu já denunciei na Record, tudo lá, pode puxar também nas redes sociais, Record News, Domingo Espetacular, Luiz Barbudo, Serra Pelada. Luiz Barbudo está atrativo hoje. Quando a gente faz um vídeo para o pessoal que vem aí, que eles fazem aquele campo turismo, aquela via turismo. Pessoal chega: “Eu quero ver o Luiz Barbudo, quero falar com o Luiz Barbudo. Eu quero saber como é que foi”. Olha, ainda hoje aqui na Grota Rica, nós temos uma terra com esmeril. O que é terra com esmeril, o que é esmeril? Esmeril é o ferro granado no ouro. Como é que a gente faz isso? A gente faz uma barragem ali e vamos botar a concha, que é uma tábua, eu vou mostrar pra vocês, está ancorada lá, eu já mostrei para algumas pessoas, eu vou mostrar para vocês hoje lá também, pra vocês entenderem chamávamos da máquina, estratégia para pegar o esmeril. Nós jogamos aquela terra ali durante o dia todo, de tarde nos tira um saco de esmeril, meio saco. Daquele esmeril nós corta um bujão no meio, encaba um ferro, chama marreta, corta ela no meio, mete um cabo nela, solda e roda, pra moer aquilo, e bota o azobo pra depois de tarde nós colher. E tem aquela zoadinha nos ouvidos, a gente tampa os ouvidos, mas não tem jeito. Mas atrás do ouro a gente vai, vai dar uma grama, maia grama. Hoje meia grama de ouro e uma diária de cento e poucos contos. Onde é que você vai arrumar um serviço que você arranca isso?
P/1 - Uma pergunta que eu ia fazer para você, o senhor está contando a história dos outros que bamburraram, o senhor e o seu sócio bamburraram ou não?
R - Não, dos meus, por onde eu passei, parece que vem um sangue mais pesado que o meu. Eu não cheguei a pegar trinta gramas de ouro da minha porcentagem que eu comprei. Mas tô na crença, pelo o que tem aí, segundo as mil e poucas informações que a gente tem também, de sondagem, Colossus, de 2007 a 2013, puxaram, fizeram um túnel aí, tem seus dois mil e tanto metros de terra, de buraco, nós não vimos um décimo de ouro. Era um contrato social com essa Colossus e Cooperativa, mentiram rebolsadamente para os diretores quatrocentos e tantos milhões. E a sociedade não viu um centavo. O ouro que montaram a usina aí, em quatro anos, para montar uma usina que montava em um ano e meio, enrolaram quatro anos para montar. Ficaram, segundo a reportagem que um diretor deu para a Record, ficaram para chegar num corpo minerário de vinte e cinco metros. Na nossa entrevista, com o nosso deputado, que nós conseguimos trazer Deputado, Senador, cinco pessoas. Para eles, eles falaram que estava de setenta a cem metros para chegar nesse corpo minerário. Só que com a água que eles fizeram o bombeamento em roda, dos poços artesianos para bater a água, não estava dando conta. Tinha que modificar aquilo tudo, equipamento, para chegar naquele corpo minerário e não parar. Segunda nós estamos sabendo, passaram por vários fios, inclusive o que o Chico Osório está procurando, chegar ali com oitenta, cem metros de profundidade, encontra uns fiozinhos que dele acaba uma riqueza novamente, no bolso dele.
P/1 - O senhor não bamburrou, então? Como é que o senhor sobreviveu então esse tempo todo?
R - A gente é aquele modelo, aquele modelo, tem que trabalhar o dia para comer. E guardar um pouquinho para depois, porque depois se não trabalhar não tem o que comer. Então, a gente se virou por aqui. E depois que garimpava, nos viramos na montoeira. Nós abandonamos a montoeira e quando eles viram que a gente estava pegando ouro na montoeira, na terra que nós botamos fora, que a terra dava duas gramas, três gramas, nunca levava para britador. A gente botava no saco e punha fora para a montoeira. Essa montoeira está forrada de minérios. Fizemos duas versões, para limpar a montoeira e limpar a cava. Nós jogamos toda a terra para dentro da cava novamente, cava cento e oitenta metros de profundidade, cento e noventa metros de profundidade, algum buraco, para nos chegar numa rede, que chega numa conexão que está a duzentos e vinte metros de profundidade, que lá é calculado dois metros por três, em cálculo, dez toneladas, cálculo mínimo, de dez pode dar trinta, pode dar cinquenta. Dois metros por três, chamado um corpo minerário. E nós tivemos várias fragrâncias das nossas políticas, governos federais, não, estaduais e municipais, pra barragem não chegar nesse ouro, se chegarmos lá. Se eu estou dizendo pra vocês que está lá, nós temos quase uma tonelada de ouro para receber em moeda lítica, em benefício social de um bombeamento, e os homens não deixaram aplicar esse dinheiro. Porque se aplicassem as sustentações. Nós tivemos aqui uma intervenção do Governo Federal para limpar a casa da cooperativa para funcionar, através dos políticos.
P/1 - Quando foi isso?
R - Eu não lembro bem! Manuel Cândido foi eleito depois dessa intervenção. Chamou todas as contas da cooperativa que tinha para pagar com o dinheiro que tinha na casa. Nós tinha mais de duas toneladas de ouro na Caixa Econômica, sobra de ouro. Chamado sobra de ouro, ou chamado prata, platina e paládio. Incorporado. Dessa prata e platina a gente não viu o resultado ainda, do paládio também não. Mas nós temos essa sobre a de ouro. E a intervenção veio para limpar a casa da cooperativa pra funcionar, através dos políticos que nós arrumamos, através do nosso interventor, Sebastião Curió. Isso era escondido até ontem, hoje vai revelar.
P/1 - Me fala desse interventor, quem que é esse interventor que você está falando esse tempo todo? Qual é o nome dele?
R - Esse interventor, vem da relação da Guerrilha do Araguaia, cunhado do Presidente da República, chamado João Figueiredo, que nomeou esse interventor para vir aqui, para fechar tudo. Quilômetro trinta e Grota Rica. Esse interventor sofreu uma consequência lá, dois tiros no peito, apesar________ de maior. Eles chegaram naquela barca do Rio Araguaia lá, e nessa corrida do Araguaia lá, nessa política que estavam querendo tomar o Sul do Pará, aquele negócio. E esse pessoal bateram aqui, estavam dividindo isso aqui na marra, no cacete, tudo armado, num confronto armado que hoje tem num país, num lugar aqui fora do Brasil, aquela mesma coisa que teve lá. E aqui veio para eliminar. E aí, estava sozinho no meio do mato, fazendo inspeção no mato, tomando banho, beleza, água limpa, ela jogou dois revólveres lá dentro, para caso de emergência, e eles chegaram e atacaram ela lá. Aí, ele disse: “Covardes! Vocês ficam olhando mulher nua tomando banhando” “A culpa não é nossa, a culpa é da senhora. Quem é você?” “Não quero e não vou dar o meu nome” “Deixa ela se vestir!” Eles viraram as costas. O olhudo que viu mulher bonita não vai olhar a próxima vez, hein! Quando ela boiou na água ele foi olhar o corpinho, né! Ela já levantou com dois trinta e oito, meu filho, na mão. Já focou ele, o interventor. Tá! E os outros. Tá! Os homens trabalhando para ver a cidade, alvejaram ela. Mas ele pegou duas balas no peito. Tombou pra trás na corrida, botaram na rede, levaram de helicóptero e mandaram para Brasília de volta. Quando ele salvou, veio para terminar o serviço, terminou o serviço, aí quando veio… Nasceu o Quilômetro trinta e Grota Rica, ele veio para fechar, em nome do governo, veio para fechar. Quando ele chegou encontrou aquele povo socorrendo lá no Quilômetro Trinta. Aí subiu. “Rapaz, Curió, você vai acabar com nós, você conheceu nossa vida na beira do Araguaia, conhece nossa lida ali, de verão é bom, mas de inverno tu vê. Nós estamos aqui para ver uma vida pra nós”. Ele cruzou os braços, olhou para os caras, sacudiu com a cabeça. “Eu vou ver o que eu posso fazer para vocês, que eu estou em nome do governo. Tudo que eu fizer aqui hoje, eu não posso fazer e desmanchar. Mas eu vou levar a consequência de vocês ao governo e vou tentar intermediar um lado melhor para vocês, e vou dar um tempo para vocês se ajeitarem” Aí um fazendeiro sai de lá com os braços cruzados. “Se você liberar para garimpeiro, ele vai vestir saia”. E o bicho já na raiva, a gente percebe a raiva. “Pois corte o pano, compre o pano e corte, faça a saia que daqui a trinta dias eu quero estar aqui para você vestir essa saia. Gente, acabou o papo! Eu vou lá pra Grota Rica”. Aí ele pegou o bufão do governo, chegou na clareira lá limpo, aterrissou. Quando ele chegou que viu aquelas vasilhas cheia de ouro, garrafa cheia de ouro. E o dono da área, tinha dez por cento naquele ouro, tinha que passar dez por cento para ele. Uma lata de óleo era uma grama de ouro, um litro de óleo era uma grama de ouro, um quilo de feijão era uma grama de ouro, um quilo de farinha era uma grama de ouro. E só ele podia colocar na cantina dele, ninguém podia trazer. E ele sondou aquilo tudo. Aí, quando ele encontrou o outro povo lá também, que remediou, da Grota. “Curió, você não pode fazer isso com nós”. “Eu estou em nome do governo, tudo que eu fizer aqui hoje pode ser desmanchado, então hoje eu não posso prometer para vocês. Eu vou voltar aqui! Estou voltando no Quilômetro Trinta e vou voltar aqui. Daqui trinta dias eu quero estar aqui junto com vocês pra ver”. Naquele tempo não tinha uma espingardinha, era doze, dezesseis e um monte de trinta e oito. Tinha casa que tinha quarenta espingardas, trinta espingardas, mas tinha vinte homens, trinta homens trabalhando. Ele olhou aquele modelo todinho, todo aquele jeito. Chamou a turma no limpo lá. “Em nome do governo o que eu posso fazer por vocês, já deixei uma proposta ali no Quilômetro Trinta. Eu vou com o governo, daqui trinta dias eu quero estar aqui com vocês de novo, para dizer o que que eu arrumei com o governo, de facilidade ou dificuldade. Quebrar, jogar vocês tudo no mato aqui é uma perversidade. Então, eu vou tentar intermediar com o governo o que eu posso fazer. Para dar mais um tempo para vocês se organizarem.” Tá bom!” “Vem, deixa eu abraçar vocês tudinho.” Rapaz, aí deu um abraço com uns caras que ele já tinha conhecido, naquele problema. Quando chegou, Silva Costa era o Ministro da Energia, está no relatório também. E aí, ele chegou. “Curió quer que eu mande os homens para acabar com aquilo?” “Negativo! O sofrimento que eu passei na época, o pessoal está sofrendo hoje, os que me ajudaram na época estão sofrendo hoje lá, estão precisando de nós” “Curió, mas não pode!” Ele disse: “Mas quem tem duas balas no peito sou eu. O meu sangue foi derramado no ombro dele também, agora o meu milagre vai ser derramado no ombro deles também e vocês vão me ajudar. Então, eu vou querer a Caixa Econômica” “Como é que você quer?” “Eu quero sim! Eu quero a Caixa Econômica para comprar o ouro, quero a segurança da polícia para exportação, o governo e a tiração do garimpo. Vou dar uma carteira provisória para ser modelada todo ano, e quando for para parar nós paramos, mas vamos amparar dentro da lei, dentro da amizade, dentro do povo. Mas enquanto tiver recurso no solo, nós vamos tirar e vamos aproveitar. Eu vi lá! Uma grama de ouro é para comprar dois sacos de arroz, comprar isso, comprar aquilo, uma grama de ouro. Tava comprando um litro de farinha. O fazendeiro está se aproveitando da situação da pobreza, e o governo tem como manter isso aqui. E nós temos como aumentar isso daqui”. Quer dizer, o nosso interventor fez isso, por durante dois anos, trouxe, quando foi dia 10 de maio ele entrou. Chegou, pousou ali, chamou todo mundo ao vivo, tudo. “Trouxe assistência do governo para vocês, estou trazendo tudo. Agora, vamos combinar um negócio, quero as armas de vocês todos para eu registrar, ao menos uma por cada barraco”. Mas quando chegou a agregação que estava nos seus quinhentos homens, mil homens trabalhando, quantas espingardas não tinha, quantos trinta e oito não tinha? Aquele mais esperto, que já tinha passado pelo exército, por qualidade de PM, mandou uma e jogou a outra dentro do mato. Para poder usar também. E aí, ele trouxe a polícia federal, trouxe tudo________. E levantou a Cobal, a assistência do governo vinha de helicóptero pra cá, para integração, já tirou seu Genésio de um ponto de vista. Já dividiu, seu Genésio ficou com um por cento em cada barranco. Foi pego num desvio de ouro, tiraram seu Genésio do caminho, mas ele trouxe engenharia e mandou medir. “Seu Genésio, corte por onde o senhor achar que é seu, corte!” Seu Genésio colocou para medir, garimpeiro para medir, cortar, limpar tudo, cuspir.” Ele mediu outra terra para acolá e entrou para o Seu Genésio. “Não…!” “Não, ele pode entrar na justiça e voltar amanhã, ele teve prejuizo, prejuizo nosso também.” Então, pra nós, esse interventor, por não gostar de ladrão, de bandido. Foi uma salvação para nós. E está sendo uma salvação até hoje. E o nosso nome…
P/1 - O senhor estava falando das ações do Curió. Então, já estava estruturado o garimpo, é isso? Depois que ele chegou.
R - Já estava andado. Em meio a coisas, pessoas lucrando mais do que o próprio trabalhador.
P/1 - E a Vale do Rio Doce, onde que ela entra nessa história?
R - Bem aqui! Quando ele mediu a área aqui, que entregou para o garimpeiro, ele fez outra ação. Começou o desmoronamento, aquele negócio. E ele foi pegar…. Só a Vale na época podia fazer a sondagem, porque era empresa do governo. Chamava-se Vale do Rio Doce, era empresa do governo, era quem podia fazer o corpo de minerações para fazer perfuração, que foi furando, fomos encontrando, fomos descendo, fomos encontrando, ouro em profundidade, não foi só no solo. Então, existia ouro em profundidade. Na Grota Rica, no minador, a gente foi cavando e foi encontrando, tem ouro em profundidade. O que que ele fez nesse primeiro rebaixo, trouxe…. A sonda do governo fez quarenta e três furos, ele mirou na ideia, “tem que medir essa área para registrar”. Pegou a área e mediu, cem hectares. Já era deputado, convenceu a bancada do Pará. Na época dele, segundo mais bem votado do estado do Pará, convenceu, converteu. E chegou do Maranhão, que tinha grande influência aqui, que noventa por cento era maranhense, também converteu a banca do Maranhão, a bancada do Piauí, uma parte de Pernambuco. Sei que naquele tempo ele fez a eleição lá no congresso e senado, tudo numa só frequência. Mediu cem hectares, tirou dos cofres do governo valor de seiscentos não sei quantos mil RTN, correspondia a cinquenta e nove milhões de dólares, tirando aquele retalho de chão, no seu direito minerário da Vale e passando para a Cooperativa, para o garimpeiro. E nesse convertimento que ele fez nós viemos tomar conhecimento, quando ele revelou pra gente. “Essa área hoje é do garimpeiro, em segurança do garimpeiro. O governo hoje para mexer com vocês, tem que passar pelos deputados e Senado”. Mas nós tivemos ajuda do governos estaduais, tivemos um telão na cara, nós tivemos umas contradições muito pesadas, não deixaram nós trabalhar, não deixaram nós chegar nessa cota, cento e noventa… Trezentos e pouco de fundura, nós tinha composição para chegar, não deixaram, intervieram de todos os jeitos, os modelos piores que puderam acontecer, revelando autoridade política que… Quando a Colossus entrou em 2007, para 2013, 2008, sei lá, 2006, 2005, 2007, 2007, 2008. Derrubaram cinco casas e tiraram três crianças pra fora e uma de menor, tamanho chuva, tamanho d’água, que essa casa tá lá, que eu não vou falar o nome aqui, mas lá foi falado, da Miriam e quatro casas mais. Sem dizer assim: “Eu vou te tirar daqui e te colocar pra lá, nem que seja na marra. Você vai ter que ficar nessa casa aqui, só se a senhora não quiser” Porque era o jeito de fazer, cara! Eu preciso desocupar a área? Preciso! E lá estava restrita a área dela. Dava para ele movimentar a área deles, sem mexer na área dela lá. E na área do outro, e na área do outro. Só porque o povo que estava na cooperativa, dizia, dizia não, diz ainda hoje: “Os fanáticos do Curió têm que ser eliminados” Os fanáticos do Curió.
P/1 - Queria que o senhor contasse agora, por favor, quais são as coisas que o senhor viveu durante esse garimpo que mais marcaram o senhor? As passagens, os dias que mais marcaram o senhor, a sua vida?
R - Da bondade é nós chegar, onde nós quer chegar. A hora que nós chegamos de Brasília, fizemos a Belém, ficou escrito esse negócio do cabelo, barba também. Esperando a vantagem e nós não tivemos até agora, né! Desacato dessa mineradora Colossus, com os nossos coniventes, que conviveram com a situação pior para nós, porque com certeza sai ouro de dentro daquele túnel, com certeza o dinheiro que entrou na Cooperativa, ao menos para humanizar a cooperativa limpar a cara dela, das contas que a Cooperativa deve. Porque eles usaram para limpar, e botaram uma legalização. Criaram PCDM para poder criar essa Colossus, PCDM, tirando de nome da cooperativa, de nome da sociedade, as coisas sociais. Isso marca, isso me marca. Um telão levantado, lá dentro de onde vocês vão lá mais tarde, vocês vão passar no portão, tem que deixar a tua identidade: “O que vocês vão fazer lá? Vai visitar quem? Você vai olhar o que e que horas tu volta?”. Dentro de uma área nossa? Essa também me marca, me dói dentro. E o nosso governo, os nossos vereadores aqui dentro ajudar, corrigir a gente e ainda vem pedir o meu voto. “Cara, bota na tua cabeça que eu não vou votar em ti, cara! Bota na tua cabeça que eu não vou votar em ti. Para me atrapalhar mais ainda”. Que dizer, eu preciso de uma escora, para me ajudar, cara! Não to precisando de uma escora para me derrubar. Pra me derrubar vou para um bar e bebo cachaça, rolo no chão não. Já to na lama! Me lameio mais. Porque um homem, um cidadão, tem que se limpar. Então, isso marca a gente. Isso dói na gente! Mas o Senhor vale mais.
P/1 - Isso marcou de ruim. Tem alguma coisa que marcou o senhor de bom?
R - Tem! A ajuda que eu dei para a minha família, o crédito que eu dei para a minha família, o que eu fiz por ela até ontem e quero fazer amanhã. Isso me marca saber que nós temos cem hectares, na constituição. Temos cento e vinte e três na_______ do leito. Estamos atrás de colocar isso em prática e colocar uma empresa. Tivemos aqui com uma mineradora mundial, corrida do ouro, Estados Unidos, homem que mexe com ouro, o cara disse pra mim: “Veio pro meu avô, veio para o meu pai, agora eu substituí. E tenho 27 anos, desde os 5 anos que eu pego numa bateia para limpar o ouro. Isso me gratifica quando eu vejo o amarelo, eu venho aqui. Se nós tivéssemos com uma empresinha funcionando ali, com automotivos, se ele tivesse vendo o ouro correndo na máquina. Aliás se ele tivesse apoiado, mas ele levou um mote de terra, ele trouxe uns robôs dele lá dos Estados Unidos, gastou setenta e duas horas para documentar e pegar o avião para pousar aqui no Brasil e trazer para Serra Pelada, pra trazer pro garimpo, para meter dentro do túnel. Levaram um escopo estimativo, está esperando o resultado. Mas eu queria que eles estivessem olhado as plantas que nós tinha. Mas olharam da cooperativa do povo que estava lá. Graças a Deus abriram as portas para eles olharem. Os mapas que nós têm dizendo que é incalculável, não tem cálculo para dizer assim, cem milhões, cem bilhões, ou cem trilhões de toneladas de minério. Dezesseis tipos. Vocês estão vendo ali? Dali da rua vou mostrar pra vocês o manganês que tem nessa área, o mineiro que existe nessa área. O manganês está sendo proibido ali e acolá. De lá vocês vão ver o recurso. Mas está em uma empresa privada, é da Vale. Mas nós não podemos registrar no ministério, demora dez anos para registrar uma coisa dessas para funcionar. Dez anos eu já acabei com a minha vida mais a força, acabei com tudo. Os dentes já se acabou, vou ter que estar tomando papinha. Dez anos mais daqui para frente. E o garimpo nós estamos brigando para ver se chega nesse objetivo, pra limpar nossa cara e nós botar um conversinha pra funcionar. Ali do jeito que está, em seis meses qualquer empresa com um porte melhor, vai botar. Aí eu quero cortar o cabelo e a barba para botar outra vida. Aí é outra alegria, outro conforto que eu quero levar para a minha família. Então, eu espero por isso. Mais tarde alegria. Essa é a hora certa.
P/1 - Vamos, infelizmente, para as últimas perguntas, Seu Luiz. Me fala disso que o senhor acabou de falar. A barba e o cabelo do senhor, é promessa, é isso?
R - É uma promessa. Eu fiz essa promessa e quero ter um poder na vida com alegria e realizar. Quero. Porque é assim: resolveu o problema estimativo de Serra Pelada, vai pra cá, ou negociado ou trabalhar pra gente, uma empresa com grande porte, com grande sustentação, com grande credibilidade, com grande respeitos sociais. Do engatinhando, porque já andou e voltou engatinhar de novo. Ter esse respaldo. Eu vou cortar esse cabelo e essa barba muito feliz. Vou cortar só o cabelo, deixar a barba mais uns dias.
P/1 - O senhor fez essa promessa quando?
R - Isso foi uma viagem que nós fomos para Belém, uma viagem que nós fizemos aqui, uma comissão, depois de uma eleição, para preencher um quadro social de uns garimpeiros que ficou fora, que não quis obedecer, que não quis… Que nós estamos com uma empresa contratada para mexer com nossa montoeira e nossa mineração do garimpo de dentro da cava, limpar toda a cava, nós estávamos com tudo pronto, quando os caras entraram na justiça, e o nosso interventor era o prefeito do município. Voltando nele lá de novo. Era o prefeito do município. Foi chamado no ministério das energias, que ele queria que elegesse uma meia dúzia de gente, um dos pivôs. Ele chegou pra nós e disse: “Olha, gente, eu estou sendo chamado no Ministério de Minas da Energia, que eles estão me acusando, não é coisa para abrir a porta, ninguém quis, quando está vendo que está movimentando, agora querem. Eu vou voltar a COOGAR entrar na COOMIGASP. A Coomigasp tem hoje o direito de contratar uma empresa. Foi mudado os códigos pra isso, pra nós temos o direito de contratar uma empresa. Eu estou sendo chamado. Ele está lá dentro de Brasília, quando o cara ligou. “Ei, cadê o Curió? Ta aí? Eu estou precisando dele aqui agora para ter uma conversa seria com o ministério de Minas e Energia” “Rapaz, ele estava em Brasília.” “Não tá aí?” Desligou o telefone, ele ia passando bem pertinho. Chamaram ele, ele foi lá. Ele disse: “Eu não posso assinar nada aqui, eu vou lá na Serra, se é isso. Eu vou chamar o meu povo lá na Serra, fazer uma reunião, duas reuniões, três reuniões e trago a decisão para vocês aqui”. Ele veio, pegou, veio aqui, chamou a gente na casa dele ali, fizemos uma cúpula, reunião de novo. “Vamos fazer assembleia, vamos autorizar. Se é só isso que falta para unir, bora fazer. Porque desenrola mais rápido, melhor. E fica menos malquerência”. Fizemos isso! Fomos pra Belém. La nessa contradição, todos tinham que vir a Serra Pelada. “Como nos falta o dinheiro….” Vamos lá! E descemos para R$ 10,00 pro cara fichar e pagar o boleto por mês, R$ 5,00. Pra gente poder ter o dinheiro para correr atrás da justiça, da legalização. Quando chegou lá, o nosso presidente da Cooperativa já abriu mais oito, foi dezesseis. Era só oito. Carteira amarelinha não era para entrar, o cara fez quatro para se sustentar no poder. Aí foi que eu fui conhecer o resto da malandragem. O resto da perturbação que vinha para cima de nós. Acabou eles fizeram o quê mais? Ele fez mais o quê? Não tô acusando ele, eu estou falando que ele foi omisso. Por que fizeram o que fizeram com ele depois? Botaram ele no palanque para xingar o próprio Prefeito. Nós precisamos do prefeito. Agora eu tô com um rapaz ali, que nós corremos atrás para botar outra empresa aí. Ficamos amarrado no prefeito daqui. O que aconteceu com isso? Tirou o cara do caminho, dificultou a situação.Tirou o cara do caminho, e daí pra cá não andou mais nada. Não andou mais nada. Para não andar, para acabar. Quem são os financiadores? Prefeitos Municipais, são financiadores, vereadores, são financiadores.
P/1 - Você estava falando….
R - Do Curió, quando nós fomos lá. Que quando ele chegou, que o cara abriu mais oito postos, fez dezesseis. Aumentou a dívida para cooperativa, aumentou a maldade para a cooperativa, aumentou a maldade para o poder, que era o cara que podia assinar lá, o que nós quisesse assinava. Xingou o prefeito e foi correndo à vantagem para os outros. Quando ele xingou o prefeito, pegaram ele pelo fundo da calça. Nós queria era esse daqui, que é para fora. Agora pode fazer o que quiser. Ele correu para a justiça para entrar de novo. Quinta-feira ele recebia a ordem para sexta-feira entrar, na quinta-feira levou treze tiros de 765 no peito. Foi para o caixão, deixou as coisas abandonadas. E os homens pegaram o poder, sacaneou o Lobão, que era o ministro de minas e energia, sacaneou nós, isso que eu estou falando_______Lula que está lá no poder hoje de novo__________Mas eu estou aqui, eu estou com fé que Jesus vai abrir essa porta qualquer hora e eu corto esse cabelo e essa barba, esses cachinhos aqui. Com fé em Deus acontece.
P/1 - Me fala uma coisa seu Luiz, como é que é o dia a dia do senhor hoje, com o que o senhor trabalha?
R - Hoje é aquele calcinho que nos tem do Governo, aquela aposentadoria que a gente tem, é comer e cruzar os braços, né! Comer e cruzar os braços. Pra mim resfriar a cabeça um pouquinho, eu vou no bar, tomo quatro cachaças repetidas, pra chegar pra dormir em casa. Aí, ligo a televisão e fico lá pra assistir uma decoração da vida, do jeito que vai. Até chegar no campo limpo de novo. Nós vamos limpar….
P/2 - Seu Luiz, qual que é o seu maior sonho?
R - Pois é! Um dos meus maiores sonhos hoje e pegar um dinheiro para eu levar lá onde a minha família, onde estão as irmãs, que estão muito pobrezinhas, necessitando. E uns sobrinhos ainda, minha bisnetazinha, ver ela crescer, ver ela estudar em melhores colégios, a gente poder levar e trazer. Arrumar uma pessoa que dê para lavar nossa roupa também e cozinhar pra gente, aquele pratinho de comida para gente. Esse sonho devia ser realizado. Eu acredito que a vida não estabelece mais, porque a força acabou. Mas ter uma vida melhor, viver mais confortavelzinho, que puder ter um empregozinho bacana e leve, viver uma vida leve, uma vida bacana. E nós ou negociar essa mina, ou funcionar para nós. Serão sonhos meus e a minha alegria que eu quero jogar no ar de novo nossas vidas e mostrar: “Olha gente, está sendo feito isso hoje, por esse conforto esperei anos, décadas de anos, de 1980 para cá, é um bocado de chão corrido, um bocado de rastro. Mas nós estamos beirando um caminho para nós chegar no meio, num clareira melhor. Preciso disso! Eu quero isso! Ver a minha sombra por onde eu passei, eu podendo voltar no mesmo rastro sim, na mente, não caminhando, na mente, voltar na mente procurando tudinho de volta, tudo que me aconteceu. Quando o cara me chamar de babão… “Sabe porque eu estava babando a vida? Porque eu queria chegar nesse objetivo”. Cara, eu não tenho como chamar a pessoa, bater no ombro da pessoa, que bateu nas minhas costas e eu virar a cara para ele bater na minha cara e eu chegar abraçar ele e dar um beijo. Não! O coração velho… Eu sei que a bíblia diz para fazer, só que o sangue não aceita. Não sei porquê? O sangue é nego, não tem jeito. O sangue nego que levou as lâmpadas, o sangue negro fica ruim. Olha o cabelo, você conhece um cabelo desse? Uma barba toda enrolada. O sangue nego não aceita, eu não sei! Não dá para comer na sala do branco, chegar lá na sala de uma pessoa que me esculhambou, que me chateou. Eu fui mandado embora de duas fazendo e eu estava com toda razão. Depois o cara: “Não eu vou aumentar o teu salário, eu vou deixar pra ti isso daqui”. “Eu tinha olhado bem direitinho o que eu te falei, você não olhou”. “Ah, porque eu tenho empregado!”. Sim, ele tem empregado. Agora não sou não! E não vou voltar a ser não. Deus não vai me deixar faltar o pão. Agora voltar a trabalhar contigo, não tem jeito. Como eu vou beber um copo de água olhando para a tua cara? Não tem condição!
P/1 - O que o senhor espera dos jovens de Serra Pelada e do futuro de Serra Pelada?
R - Olha, nós temos….. como eu vou falar de novo, nós temos uns pais, umas mães, que hoje perderam o controle, uns jovens e umas jovens que perderam o controle. E acho muito difícil a vida dos bandaiados, ele consertar fácil. Mas com a boa estrutura conserta, seus 20, 30% dos erros que permanece existindo. Pode nós com uma vida mais estruturada, um caminho mais estruturado, tem hoje umas funções mais estruturadas. Se o governo interessasse, chegava, pegava a planilha que nós temos pronta para o governo, bota ele e mostrar para ele, que nós temos como reverter uma boa parte. Com o que? Com essa mina funcionando a nosso favor, a bem social de uma sociedade, nós temos como colocar segurança importante, nós temos como eliminar 80% das drogas que correm aqui dentro. Nós temos vários presídios para levar os elementos que não servem para viver no meio da comunidade, atingindo ela e atingindo a juventude. E a esculhambação diminui o seu 90%, temos isso! Mas faltando essas agregações, nós vamos viver mais desmantelo.
P/1 - Como é que foi contar um pouquinho da sua história pra gente hoje?
R - Muito louvável, gostei e gosto mais, gostei. Tá aprovado! Assino embaixo! Ô, boto o dedo aí embaixo. E me diz o seguinte: “Eu quero ver o uso, quero ver nós no ar, quero que os meus apreciadores que apreciam a verdade, gostem também. Quero que eles vejam a realidade, quero que nós mentalize a realidade. Nossos políticos regionais, estaduais e federais, que nos socorra também”. Estamos com uma emergência, cara! Estamos com muita gente com a cabeça perdendo e se perdendo porque falta envolvimento. Eu quero botar uma horta, eu quero mexer com a galinha, mas eu não tô podendo comprar… Eu estou lá com um quintalzinho lá para cavar no braço. Estou deslocado o braço de umas quedas. Eu já tenho minha aposentadoria, já fiz empréstimo, mas ainda recebo novecentos e pouco, dá para minha despesinha atual. E cruzar o braço, porque trabalhar eu não vou trabalhar. Tem ouro bem ali, eu sei onde pega um ourinho mais ou menos. Mas eu não posso me agregar com o companheiro para nós botar lá, é botar os homens quebra, vão queimar. Ainda me leva detido, ainda me dá uma consequência na justiça priorizado. E como eu já estou numa vida sofrida, eu não quero sofrer mais nada não, mas essa outra consequência. Então, tem que esperar. É cruzar o braço e esperar. Gente, feliz por vocês, se tiver alguma procura mais, é bom, eu gosto de explicar, porque não complicando, explicando é melhor.
P/1 - Obrigado, Seu Luiz!
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