Eu vi a história da AIDS no Brasil nascer marcada pelo medo, pelo estigma e pela desinformação, mas também vi essa história ser transformada, ao longo de 40 anos, pela força da comunidade, da ciência e dos movimentos sociais.
Vi o surgimento dos primeiros medicamentos, duros e agressivos, e acompanhei a chegada da terapia antirretroviral, que salvou vidas e abriu caminhos de esperança. Vi pessoas adoecendo e partindo cedo demais, mas também vi pessoas renascerem com o conceito de indetectável = intransmissível, uma revolução que mudou não só a saúde, mas a possibilidade de existir sem culpa e sem medo.
Vi o SUS se consolidar como um marco mundial no acesso universal ao tratamento, vi ativistas ocuparem ruas, conselhos, conferências e ministérios, e vi a arte ser usada como arma política, como voz e como ponte para levar prevenção, amor e informação para quem mais precisava.
Ao longo dessas quatro décadas, pude testemunhar, e participar, de uma virada histórica: da morte anunciada para a vida possível, do silêncio para a palavra, do estigma para o cuidado.
E dentro desses 40 anos da epidemia, eu celebro 30 anos de arte e ativismo dedicados à prevenção, à consciência coletiva e à luta por dignidade e direitos. Foram mais de 100 exposições em 65 países, mais de 1.000 matérias na mídia, mais de 1.000 obras produzidas e a honra de estar presente no acervo de 25 museus pelo mundo, marcos que celebram uma trajetória construída com muitas mãos, muitos afetos e muita luta.
Depois de tudo o que eu vi, agora quero ver outra cena histórica: ver a aids morrer até 2030, e ver a vida seguir viva, potente e possível para todas as pessoas.