Todas as histórias narradas já estiveram encobertas pela pátina do tempo, muitas vezes por um denso véu ou por que nossa memória as encerra em compartimentos estanques.
"Chega mais perto e contempla as palavras... cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível que te deres: "Trouxestes a chave?"(Carlos Drummond de Andrade.Procura da poesia.In A Rosa do Povo)
O Sr. Walterson e dona Madalena, artesãos desta colcha de retalhos começaram a tecer usando pontos simples no tear da vida com exemplos de atitude e sentimentos.
O capuchinho, dono de uma barba comprida, óculos de lentes grossas, sapatos macios com elástico no calcanhar e uma risada sonora... Usava as palavras como um mestre, cada gesto seu a favor das pessoas mais necessitadas era acompanhado de simplicidade e boa vontade e dizia sempre: "tudo posso naquele que me fortalece".
A convivência com ele foi breve, prazerosa e também sofrida. Sempre me chamava de "dinha", tive o privilégio de ser os olhos dele quando ficou cego pelo diabetes, pude ser as pernas quando precisou da cadeira de rodas, fui a voz e a vez dele junto aos companheiros de Hemodiálise no Hospital São Lucas em MG, todos tão cativos da máquina arcaica da época...
Aprendi na convivência dos dias mais difíceis a respeitar os limites entre a dor e a alegria de pequenas conquistas, obstinação e certeza com toque de humor. Mesmo nas situações mais críticas , uma fé inabalável, um exemplo a ser seguido.
Proporcionei a ele, na cumplicidade, pequenos prazeres como o pudim de leite condensado, o café com queijo fresco e a melhor bebida do mundo: água gelada no copo de alumínio areado com capricho. A leitura pausada e sincera da Vida e Obra de São francisco de Assis,num livro amarelado e roído pelas traças, mas de beleza inigualável.
Não posso deixar de mencionar nossas conversas de madrugada na varanda de nossa casa na R Ver. Manoel...
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Todas as histórias narradas já estiveram encobertas pela pátina do tempo, muitas vezes por um denso véu ou por que nossa memória as encerra em compartimentos estanques.
"Chega mais perto e contempla as palavras... cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível que te deres: "Trouxestes a chave?"(Carlos Drummond de Andrade.Procura da poesia.In A Rosa do Povo)
O Sr. Walterson e dona Madalena, artesãos desta colcha de retalhos começaram a tecer usando pontos simples no tear da vida com exemplos de atitude e sentimentos.
O capuchinho, dono de uma barba comprida, óculos de lentes grossas, sapatos macios com elástico no calcanhar e uma risada sonora... Usava as palavras como um mestre, cada gesto seu a favor das pessoas mais necessitadas era acompanhado de simplicidade e boa vontade e dizia sempre: "tudo posso naquele que me fortalece".
A convivência com ele foi breve, prazerosa e também sofrida. Sempre me chamava de "dinha", tive o privilégio de ser os olhos dele quando ficou cego pelo diabetes, pude ser as pernas quando precisou da cadeira de rodas, fui a voz e a vez dele junto aos companheiros de Hemodiálise no Hospital São Lucas em MG, todos tão cativos da máquina arcaica da época...
Aprendi na convivência dos dias mais difíceis a respeitar os limites entre a dor e a alegria de pequenas conquistas, obstinação e certeza com toque de humor. Mesmo nas situações mais críticas , uma fé inabalável, um exemplo a ser seguido.
Proporcionei a ele, na cumplicidade, pequenos prazeres como o pudim de leite condensado, o café com queijo fresco e a melhor bebida do mundo: água gelada no copo de alumínio areado com capricho. A leitura pausada e sincera da Vida e Obra de São francisco de Assis,num livro amarelado e roído pelas traças, mas de beleza inigualável.
Não posso deixar de mencionar nossas conversas de madrugada na varanda de nossa casa na R Ver. Manoel Machado 239, enquanto todos dormiam nós conversávamos e ele me pedia pra que ouvisse o barulho da água no pulmão, realmente audível e de entristecer...sabíamos o que significava isso...
Eu poderia falar de muitas lembranças, tantas que o papel não caberia, mas muito mais do que palavras são as lembranças da convivência e do meu amor por ele pra sempre.
Nosso pai sempre fez tudo o que se propôs , até mesmo não cuidar da saúde, viveu com intensidade, como se cada dia fosse o último, mas semeou para nossa colheita, deixou o campo arado, a história começada e a colcha de retalho que ainda terá diferentes quadros das mais diversas padronagens, com artistas variados e aprendizes que ainda acrescentarão novas estampas.
somos hoje o legado de uma tecitura bordada com fios delicados que entrelaçam a vida e o viver de geração em geração.
A todos a minha gratidão. (Claudia Alves_ filha nº 3)
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