Memória dos Trabalhadores da Bacia de Campos
Depoimento de Luciano Amaro Ribeiro da Silva
Entrevistado por Morgana Maselli
Campos, 1º de Julho de 2008
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista nº PETRO_CB458
Transcrito por Gabriel Monteiro
P1 – Então, Luciano, eu queria começar a entrevista pedindo pra você dizer seu nome completo, local e a data do seu nascimento.
R – Meu nome é até muito comprido, né, Luciano Amaro Ribeiro da Silva Vaes, mas todo mundo me conhece como Luciano Vaes, fora os apelidos que a gente, no âmbito Petrobras, todos eles tem. Não vai dizer que ninguém tem esse... qualquer pseudônimo, qualquer apelido, mas na base do carinho, da amizade, da fraternidade, nunca fazendo brincadeiras até de... sem... pra machucar alguém, né. Eu sou nascido aqui em Campos dos Goitacazes, entrei na Petrobras em Janeiro de 1977 e aposentei em Setembro de 2001. Fiquei três anos afastado do mercado, mas aí, atendendo a pedidos, a própria Petrobras ela fez com que... uma empresa tava precisando de alguns técnicos e eu fui agraciado com isso, né. A Petrobras me recomendou essa empresa e eu já tenho quatro anos, vou fazer agora em Outubro de uma empresa prestadora de serviço para a Petrobras.
P1 – E você entrou aqui na Petrobras em 77. Como é que foi? Qual era a sua função?
R – Eu tava no segundo grau na Escola Técnica Federal, teve um concurso no ano anterior, e eu fiz essa prova, fiz a inscrição, fiz essa prova e fiquei relativamente bem colocado e quando foi em Janeiro eu fui admitido por Vitória, porque a Petrobras ainda não era em Macaé, a base dela era em Vitória no Espírito Santo. Depois, dois anos depois disso é que ela veio a mudar-se para aqui pro estado do Rio de Janeiro, propriamente a cidade de Macaé.
P1 – E você entrou a sua função qual era?
R – A minha função na época era até um nome até feio, é praticante de produção, hoje é técnico de operação júnior.
P1 – E descreve pra...
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Depoimento de Luciano Amaro Ribeiro da Silva
Entrevistado por Morgana Maselli
Campos, 1º de Julho de 2008
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista nº PETRO_CB458
Transcrito por Gabriel Monteiro
P1 – Então, Luciano, eu queria começar a entrevista pedindo pra você dizer seu nome completo, local e a data do seu nascimento.
R – Meu nome é até muito comprido, né, Luciano Amaro Ribeiro da Silva Vaes, mas todo mundo me conhece como Luciano Vaes, fora os apelidos que a gente, no âmbito Petrobras, todos eles tem. Não vai dizer que ninguém tem esse... qualquer pseudônimo, qualquer apelido, mas na base do carinho, da amizade, da fraternidade, nunca fazendo brincadeiras até de... sem... pra machucar alguém, né. Eu sou nascido aqui em Campos dos Goitacazes, entrei na Petrobras em Janeiro de 1977 e aposentei em Setembro de 2001. Fiquei três anos afastado do mercado, mas aí, atendendo a pedidos, a própria Petrobras ela fez com que... uma empresa tava precisando de alguns técnicos e eu fui agraciado com isso, né. A Petrobras me recomendou essa empresa e eu já tenho quatro anos, vou fazer agora em Outubro de uma empresa prestadora de serviço para a Petrobras.
P1 – E você entrou aqui na Petrobras em 77. Como é que foi? Qual era a sua função?
R – Eu tava no segundo grau na Escola Técnica Federal, teve um concurso no ano anterior, e eu fiz essa prova, fiz a inscrição, fiz essa prova e fiquei relativamente bem colocado e quando foi em Janeiro eu fui admitido por Vitória, porque a Petrobras ainda não era em Macaé, a base dela era em Vitória no Espírito Santo. Depois, dois anos depois disso é que ela veio a mudar-se para aqui pro estado do Rio de Janeiro, propriamente a cidade de Macaé.
P1 – E você entrou a sua função qual era?
R – A minha função na época era até um nome até feio, é praticante de produção, hoje é técnico de operação júnior.
P1 – E descreve pra mim um pouco como é que era essa sua atividade.
R – Esse trabalho cada... tem diversos setores na Petrobras e essa função... um técnico de operação, ou praticante de produção, ou técnico de operação júnior ele começa tirando pressões de temperatura, operando com válvulas, abrindo e fechando válvulas, tanto manualmente como até eletronicamente através de botões, a gente trabalha até com computadores também. Isso aí tanto vai no campo, a gente tira amostras de óleo, tanto no campo quanto também na parte mais até escritório de uma plataforma, uma sala de controle, onde se via o pulmão da Petrobras em relação as operações. Só que hoje eu não trabalho mais com isso, eu trabalho com outras operações, que eu fiz na própria Petrobras mesmo.
P1 – E hoje então você trabalha com o que?
R – Trabalho com colunas de produção, a perfuração dos poços e depois a gente tem que completar esses poços pra eles produzirem. Então a gente coloca uma série de equipamentos, entendeu? _________, ________, tubulação, entendeu? Porque o petróleo simplesmente você não perfura e ele vem, a gente tem que fazer com que o petróleo suba com segurança, que ele venha pra superfície com segurança. Então são diversos equipamentos que são colocados para que tenham um... uma margem de segurança em relação a isso. A Petrobras ela é pioneira em muitas coisas e a gente trabalha aqui com muita segurança.
P1 – Essa coisa da segurança do trabalho vem crescendo a cada dia, né. Como é que você acompanhou essa mudança?
R – Eu, na minha época que eu aposentei até os dias de hoje houve uma mudança muito grande. A Petrobras continua se preocupando muito com segurança, ta entendendo? Às vezes tem alguns problemas que são relatados e a Petrobras procura fazer alguma coisa, só que ainda não está, digamos aí, num patamar de 100 por cento, eu creio que a Petrobras ainda ta em 70, 80 por cento em relação a isso. A gente vê outras empresas fora daqui do Brasil, eu às vezes acompanho e vejo que a Petrobras ela trabalha com muita segurança e as próprias empresas... a minha empresa, por exemplo, ela preza muito pela segurança das operações dos próprios colaboradores e empregados. E a gente vê, todas essas empresas querem o acidente zero, né, que não tenha nenhum acidente com nenhum colaborador que trabalha pra ela.
P1 – E você trabalhava e ainda trabalha diretamente com as máquinas e os equipamentos, certo? E como a mudança da tecnologia veio a afetar o seu trabalho?
R – Olha, melhorou bastante, né. A gente trabalha... eu trabalho mais em coordenação de equipe, né, a gente pega as pessoas __________ tem mais a técnica e a gente faz cursos, essas coisas, e o pessoal a gente pega: “Olha, faz assim. Eu quero que coloque assim”, pro melhor andamento das operações, né, pra sair tudo com segurança, que não haja dano nos equipamentos. Mas o principal que eu sempre prezo nas operações, início de operações a gente faz uma reunião e isso antigamente a gente fazia... eu também fazia isso na Petrobras. Hoje eu continuo fazendo isso, entendeu? Em todo início de operação a gente pede às pessoas pra trabalharem com a máxima segurança, o pensamento no trabalho. Procure... se tiver com algum problema, dê um tempo. Se tiver alguma coisa errada a gente fala, mas se eles acharem que tem alguma coisa errada eles também tem condições de parar o trabalho e corrigir essa coisa que está errada.
P1 –
R – Trabalhava embarcado, trabalhei embarcado durante 24 anos e alguns meses, entendeu? Fiquei... teve... a gente... nós temos época que nós vamos tirar férias, tirar folga de alguém, então a gente faz algum trabalho em terra, mas... fiz curso, levei um ano fazendo curso, mas o grande tempo meu foi embarcado, o grande tempo da minha vida.
P1 – E aí embarcado tem alguma história interessante?
R – Ah, tem muitas historias interessantes.
P1 – Pra contar pra gente?
R – Passei por momentos bons, muitos... muito bons, por momentos ruins, acidentes. Eu graças a deus eu não vi mortes de ninguém perto de mim, mas vi muitos acidentes graves, entendeu? Inclusive eu não tenho nem as fotos por aqui mas eu vou trazer as fotos pra vocês, hoje ainda talvez. Amanhã de manhã eu vou fazer uma viagem, vou ver até meu Fluminense amanhã, se deus quiser vencer, eu vou trazer algumas fotos de uma... de um navio, hoje ele já mudou de nome, na época era Presidente Prudente de Morais, e hoje ele passou a ser Presidente Juscelino Kubitschek, que era o primeiro nome dele. E hoje a Petrobras tem uma seqüência de unidades, ela é a P-34, ela até trabalha no Espírito Santo. E eu tenho fotos disso aí, coisas interessantes, brincadeiras que a gente fazia, era gratificante. Eu fico até emocionado às vezes de contar essas histórias.
P1 – Você falou de brincadeiras. Você teve algum trote assim uma vez que você embarcou?
R – Eu, propriamente dito, não. Mas eu tive... eu participei de muitos trotes. Era... o pessoal contava que tinha uma história sobre teste de pulmão na plataforma. O pessoal botava o manômetro e fazia a pessoa soprar. Isso tava o... a pessoa vinha soprar e tava tapado os furinhos, tinha os furinho e ela tinha talco, aí quando soprava o talco ia completamente no rosto da pessoa. Aí era aquela galhofada, o pessoal brincando. Outra também... isso era no próprio navio onde eu trabalhei muito tempo, seria chave do porta-ló. Porta ló de um navio é aquela escada que vai na lateral que tem, né, aí o pessoal chamava aquilo de porta ló, aí mandavam uma pessoa que tava chegando nova lá apanhar a chave do porta-ló. A chave do porta-ló era uma peça enorme de acender caldeira, um maçarico que não tinha mais tamanho, e fazia a pessoa andar direto. Ia na sala do chefe de máquinas, do engenheiro fiscal, do comandante do navio, fazia uma brincadeira. Mas no final quando já não tinha mais jeito começava todo mundo rir e o cara ficava invocado, né. Mas aí assim ia passando pra outras pessoas, entendeu?
P1 – E como era, no trabalho embarcado, o convívio com as pessoas de lugares tão diferentes, às vezes estrangeiros?
R – É, inclusive... não, eu quando eu entrei na Petrobras eu trabalhei só com brasileiros, entendeu? No começo eu fui pra Vitória, de Vitória eu fui trabalhar em São Mateus alguns dias, fui fazer curso em Aracaju. Aí fiquei um tempo aí eu vim pra conhecer como seria a... o trabalho aqui no mar. Aí fiz um embarque e eu trabalhei... depois eu fui trabalhar no primeiro poço de petróleo a produzir aqui na Bacia de Campos, eu fui pioneiro, eu e mais alguns aí, nós fomos pioneiros aí no... Anchova 1, entendeu? Eu fui... eu me orgulho disso, apesar de eu nunca ter sido chamado, nunca tive tempo, alguma coisa, pra participar de algum evento em relação a isso, eu... a gente trabalhava e dava duro, dava duro mesmo. Hoje em dia a gente vê o trabalho tem muita terceirização, então é muito dividido o trabalho. Naquela época não havia divisão, não, era pau pra toda obra, todo mundo fazia... fazia um pouquinho pra juntar, ta entendendo?
P1 – E essa coisa de ta junto com várias pessoas do país? Como é que se dava essa convivência?
R – Isso aí a gente tirava... a língua era a mesma, mudava a regionalidade, né, então alguns falavam de um jeito, mas no final era isso que a gente falava, então é isso aí. Até os próprios estrangeiros quando eu trabalhei com estrangeiros no final a gente aprende a se comunicar, eles falam um pouquinho da nossa língua, a gente enrola inglês também e vai falando e a gente procura se dar bem. Às vezes tinha algum atrito mas isso era controlado porque lá nós, numa embarcação, a gente tem que depender de todo mundo. Então não pode haver inimizade em hipótese nenhuma. Numa situação, a gente... de risco, a gente pode precisar de alguém, então jamais a gente pode... evitar atritos é até ruim pro convívio geral, né.
P1 – E como era também, uma coisa que as pessoas falam que é uma dificuldade, a distância da família? Como é que você lidava com isso?
R – É, a gente tem que ter uma estrutura, uma estrutura familiar muito boa. Eu, na minha época, em relação a telefone... hoje em dia as pessoas embarcam e tem todas as vantagens de comunicação. Eu fui da época que jornal chegava com três, quatro dias, uma semana, véspera de desembarcar que a gente ia saber da notícia. Televisão, botava antena em tudo quanto é lugar de uma plataforma pra gente ver televisão. Novela a gente não via novela, eu sou do tempo que o videocassete era um beta-max que a fita dele era em torno de quase 20 centímetros de tamanho. Não tinha internet, não tinha nada. O fax hoje em dia era naquela época... hoje é uma beleza, naquela época era uma coisa que saía uma folha de cada vez e aquele cheiro até ruim porque era papel queimado que fazia, uma coisa muito arcaica. Pra aquela época era uma coisa super moderna, mas hoje em dia, entendeu? E o convívio com a família, a gente ficar longe, eu... aconteceu um problema, minha mãe veio a falecer eu tava embarcado, minha família nasceu eu só minha filha... quer dizer, vi no mesmo dia só porque eu queria presenciar o nascimento dela, eu só fui conhecer minha filha... tem gente que leva mais tempo hoje em dia. Hoje, com as facilidades, a pessoa desembarcar um dia. Eu, na época, a minha filha nasceu eu cheguei duas horas depois, eu queria chegar na hora. E eu poderia ter chegado na hora, mas infelizmente... mas graças a deus no fundo foi tudo muito bom, a Petrobras pra mim foi uma lição de vida. Mais da metade da minha vida eu fiz na Petrobras, né, eu tenho 51 anos, quer dizer, desses 51 anos eu trabalhei quase 25 e to quase quatro anos trabalhando novamente pra ela, trabalhei nela e agora trabalho pra ela. Quer dizer, é mais da metade da minha vida trabalhando no petróleo.
P1 – E qual você acha, Luciano, que foi o maior desafio que você enfrentou ao longo desses 29 anos?
R – O maior desafio foi... eu sou um cara que sou muito verdadeiro em relação a isso. Nos primeiros dias meu de embarque, que eu fiz o embarque, foi em Sergipe, eu tive a ponto de desistir de trabalhar embarcado, que não era a minha praia. Eu cheguei a chorar, eu vi um cação, um tubarão rodando na plataforma eu falei: “O que que eu to fazendo aqui?” Mas aí na hora: “Eu vou conseguir”, eu dei a volta por cima. Na época tinha 20 anos de idade, com nenhum um mês de Petrobras, eu tava ficando assim, eu disse: “Não, eu vou dar a volta por cima”. Isso pra mim foi um desafio, entendeu?
P1 – E você tem alguma fase da produção da Bacia de Campos que você destaque como mais marcante?
R – O que eu acho mais marcante até hoje foi o primeiro poço a produzir, a sair navio com carregamento. Isso aí, pra nós pioneiros, isso aí foi um fato marcante até na própria vida da Petrobras, que ela fez com que... começou aos pouquinhos, né, e isso aí já é uma grande coisa. Pra nós foi um fato marcante na vida... na minha vida na Petrobras e na própria Petrobras na Bacia de Campos. E do Brasil, porque hoje nós temos... a quantidade de petróleo que a Bacia de Campos produz pra nós, então é uma coisa pra mim, na minha opinião. Creio também que muitos vão concordar comigo, entendeu?
P1 – E, Luciano, como é que você acompanhou o crescimento físico aqui de Campos e de Macaé com a Petrobras?
R – As pessoas falam bastante em a Petrobras deveria ter ido pra Macaé, Macaé não estava preparado. Será que Campos também se estivesse preparado pra ela, pra receber a Petrobras aqui? Então teve bônus mas tem ônus, tem muito ônus pra Macaé a vida da Petrobras. Não houve... eu, na minha opinião não teve preparação adequada pra receber a Petrobras. A Petrobras ela chamou outras empresas, ela automaticamente ela fez com que outras empresas viessem trabalhar pra ela. Mas aí o que? Não tava preparado Macaé, uma cidade em relação um tanto quanto violenta, entendeu? Será que Campos também não teria sido assim? Apesar de Campos ser uma planície maior do que Macaé, entendeu? Teria muito mais vantagens, mas as pessoas quiseram assim, as cabeças pensantes preferiram que fosse pra Macaé, aí...
P1 – Você já falou um pouco pra mim do que é que mudou na tecnologia da comunicação. Como é que você pensa, enxerga a Bacia de Campos no futuro?
R – Olha, é capaz da pessoa embarcar de manhã e desembarcar a tarde, assim constantemente. Existe essas coisas, mas... e muitos até... muitos trabalhos ficarem operando plataformas em terra mesmo e operando lá. Mas só que isso aí é trazer prejuízo, né. Pra que? Pra mão-de-obra, pras pessoas. Que eu, ultimamente, tenho embarcado em plataformas que tem 200, 240 pessoas embarcadas, quer dizer, é muita gente, é trabalho pra muita gente. E isso é importante pro país, né, certo?
P1 – E você já reparou de repente alguma função que não existe mais por conta do avanço da tecnolgia?
R – Não, muito pelo contrário. Só ta chegando mais coisa, tem muito aprendizado, tem outros trabalhos, outras profissões chegando. Porque o que eu faço na Petrobras, para a Petrobras não tem nem... não se aprende em faculdade, não se aprende em escola, isso é mais na vivencia do trabalho que a pessoa vai aprendendo a fazer alguma coisa. Muitas funções que existe na Petrobras, o cara faz alguma coisa, ele é técnico de operações, mas o que ele faz? Ele mexe com a coluna de produção, ele mexe com equipamento mais complexo, entendeu? Com _________, um nome até assim engraçado, __________ lá no fundo do mar. Que que é uma ___________? Um conjunto de válvulas, é uma coisa engraçada. São nomes que nós temos de equipamentos, você já ouviu falar? Já ouviu falar. Uma árvore de natal, uma coisa interessante, uma coisa bonita, é bonito de se ver a operação dela, o que que ela faz, como que ela faz, um equipamento de suma importância, de segurança num poço de petróleo.
P1 – E, Luciano, o que é, pra você, ser petroleiro?
R – Foi minha vida, então eu só posso dizer... quando eu entrei na Petrobras eu falei: “Ah, não vou ficar muito tempo”. Hoje eu já to aí... aí eu tenho um prazo: daqui a dois anos eu vou parar de trabalhar mesmo. Eu não me vejo parando de trabalhar, não, vou ser sincero pra você. Posso ganhar um dinheiro fora assim... não, acho que eu não paro de trabalhar, não. Acho que só quando Jesus chamar, mas eu quero viver muito tempo ainda, né.
P1 – Então, Luciano, pra concluir eu queria que você dissesse pra mim o que você achou desse nosso projeto aqui de contar a história da Bacia.
R – Eu já tinha ouvido falar muito desse projeto, ata a prima da minha esposa trabalha lá na parte de assessoria de comunicação em Macaé, ela falou: “Olha, você tem que dar um depoimento, você tem muita história pra contar.” Eu tenho... uma vez eu fui num congresso de petroleiros do sindicato e encontrei uma senhora que ela era psicóloga. Eu conversei com ela: “Pó, você tem tanta história, porque que você não escreve um livro?”, eu falei: “Quem sabe um dia eu ainda posso escrever esse livro?” Eu tenho muita... eu paro pra pensar, pra sentar eu lembro de coisas que aconteceu comigo como se fosse hoje, como se fosse hoje, nesse instante, a minha cabeça fica igual a uma CPU assim, ó. Fico pensando, eu lembro de coisa, história, fato pitoresco, brincadeiras que faziam da plataforma, colegas. Hoje infelizmente a gente já perdeu muitos colegas, e o engraçado: muitas mortes de colegas, eu falo isso dói até no coração, a grande maioria de colegas nenhum morreu embarcado, morreram tudo em acidente automobilístico. Muitos e muitos e muitos e muitos, não morte natural, morte por acidente automobilístico. Não foi dois, três, cinco, não. Foi 20, 30 colegas que a gente conviveu bastante com ele... eu fui fazer um curso uma vez de 60 pessoas, dessas 60 pessoas 10, mais ou menos, já morreram de acidente automobilístico. Quer dizer, é uma percentagem muito grande, né. É isso que eu fico muito triste em relação a vida do petroleiro, porque ele às vezes não pensa. Ele às vezes quer viver 14, 21 dias... aí acontece alguma coisa. Não que eu seja perfeito também, não, todos nós temos falhas, nós soos seres humanos, né. Ta bom? Queria falar mais...
P1 – Quer falar mais? Quer contar alguma historia? Você falou que tem historias pitorescas, você quer contar alguma especificamente?
R – Não, brincadeira. Mas aí é só parar pra sentar, escrever, muita, muita, muitas brincadeiras que o pessoal fazia, era gozação, era troca de tudo, sempre tinha alguma brincadeira. Hoje em dia tem as brincadeiras também, eu vejo até na própria... o último embarque que eu fiz eu fui embarcar numa plataforma da Petrobras e o que eu mais vi foi colegas meus que trabalhei na Petrobras embarcando na plataforma. Foi uma coisa interessantíssima, eu falava, aí um: “Ué, você conhece...”, a minha empresa eu trabalho na ________ do Brasil, aí: “Mas você ta na _______, você saiu, pediu demissão?” “Não, eu me aposentei na Petrobras e houve essa condição de vir e eu to aqui prestando serviço pra Petrobras com o maior prazer.” O mesmo trabalho que eu fazia na Petrobras eu faço hoje na contratada para a Petrobras e graças a deus continuo sendo, não vou dizer que sou o melhor, mas muito benquisto pela Petrobras, né.
P1 – Então ta bom, Luciano, brigada.
R – De nada.
FIM
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