Joel Sant’Ana. Nasci no dia cinco de abril. Eu tenho que acompanhar os documentos, minha mãe me disse que foi nessa época, mas no documento está cinco de maio de 1927, na cidade de Belmonte, no estado da Bahia.
Na Petrobras, eu comecei em 1962, no dia primeiro de abril. Tomei conhecimento quando trabalhava na Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda, e lá me informaram que a Petrobras estava admitindo. Eu vim para a Petrobras, fiz um “testezinho”, que eles chamavam de concurso, e graças a Deus fui aprovado e admitido no dia primeiro de abril de 1962, era Presidente Francisco Mangabeira. Fui trabalhar na área de administrativa. Comecei como arquivista, daí foi extinto o cargo de arquivista e datilógrafo, passei para auxiliar de escritório e, depois, passei para ajudante. Fui cassado, na ocasião da Revolução, porque me equivoquei com uma informação do chefe da ASFE.
Veio a Revolução, eu continuei na Petrobras, não fui perturbado. O Sindicato estava sob intervenção para concorrer a uma eleição. Houve a eleição, concorreu à eleição, não agradou a eles o que era presidente, então cassaram os outros todos e fizeram uma segunda eleição, no Sindicato do Rio. Passada a segunda eleição, nós assumimos o cargo de secretário e continuamos o trabalho. Daí, então, veio a cassação e nós ficamos até quando a anistia foi assinada. Eu fui cassado até 1971. Fiquei no sindicato do Rio trabalhando como primeiro secretário, chamava-se secretário geral. Atuar no Sindicato, no meio de uma ditadura, era uma coisa perigosa e fazia você pensar em coisas que não devia pensar. Como nós fazíamos, porque tínhamos que estar pensando no crescimento da Petrobras e não podíamos pensar, continuar pensando, porque éramos perseguidos e, socialmente, eram os militares que estavam no comando da Petrobras. Onde eu estava, era o coronel Darcy Siqueira e foi o maior “carrasco” dos trabalhadores, ele não ouvia. Até a entrada do...
Continuar leituraJoel Sant’Ana. Nasci no dia cinco de abril. Eu tenho que acompanhar os documentos, minha mãe me disse que foi nessa época, mas no documento está cinco de maio de 1927, na cidade de Belmonte, no estado da Bahia.
Na Petrobras, eu comecei em 1962, no dia primeiro de abril. Tomei conhecimento quando trabalhava na Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda, e lá me informaram que a Petrobras estava admitindo. Eu vim para a Petrobras, fiz um “testezinho”, que eles chamavam de concurso, e graças a Deus fui aprovado e admitido no dia primeiro de abril de 1962, era Presidente Francisco Mangabeira. Fui trabalhar na área de administrativa. Comecei como arquivista, daí foi extinto o cargo de arquivista e datilógrafo, passei para auxiliar de escritório e, depois, passei para ajudante. Fui cassado, na ocasião da Revolução, porque me equivoquei com uma informação do chefe da ASFE.
Veio a Revolução, eu continuei na Petrobras, não fui perturbado. O Sindicato estava sob intervenção para concorrer a uma eleição. Houve a eleição, concorreu à eleição, não agradou a eles o que era presidente, então cassaram os outros todos e fizeram uma segunda eleição, no Sindicato do Rio. Passada a segunda eleição, nós assumimos o cargo de secretário e continuamos o trabalho. Daí, então, veio a cassação e nós ficamos até quando a anistia foi assinada. Eu fui cassado até 1971. Fiquei no sindicato do Rio trabalhando como primeiro secretário, chamava-se secretário geral. Atuar no Sindicato, no meio de uma ditadura, era uma coisa perigosa e fazia você pensar em coisas que não devia pensar. Como nós fazíamos, porque tínhamos que estar pensando no crescimento da Petrobras e não podíamos pensar, continuar pensando, porque éramos perseguidos e, socialmente, eram os militares que estavam no comando da Petrobras. Onde eu estava, era o coronel Darcy Siqueira e foi o maior “carrasco” dos trabalhadores, ele não ouvia. Até a entrada do Presidente Geisel. O Presidente Geisel entrou, melhorou um pouquinho, mas muito pouco, mesmo assim você não tinha liberdade nem de reuniões sindicais. Não podia ter assembléias, não podia ter nada. Então, os companheiros foram sendo presos. Na Petrobras, muitos foram presos, expulsos, tiveram que mudar, ir para outros setores e outros países. Os companheiros foram todos presos, como foi o caso do Genuíno, que participou da revolução do Araguaia, tudo isso por causa dessas perseguições, para mim, “baratas”. Se havia culpabilidade, punia o cara, mas punia mostrando que ele estava seguindo um caminho que não era o caminho correto que ele devia seguir. Mas estas buscas nunca foram feitas, desconfiava, alguém indicava “fulano de tal está contra”, quando o sujeito chegava em casa, a família só sabia: “Foi preso” “Para onde foi?” “Não sei... Batalhão de Santa Cruz, Polícia do Exército, rua Barão de Mesquita.” E daí desaparecia, você não tinha como dizer. A Bahia, foi o estado que sofreu maior perseguição. Foram os baianos, com ou sem culpabilidade. O certo é que não havia prova. O fato é que estava sempre ocorrendo. O sujeito ia para o trabalho, chegava na porta do elevador, a polícia estava esperando, pegava fulano de tal, ali na Praça Pio X, acho que no número 90 ou 99, não sei, onde era a sede do Banco Ultramarino. Dali, o cara sumia, o sujeito não dava notícia para onde foi, tanto que a anistia até hoje ainda não contemplou esses que foram presos e alguns que as famílias não sabem onde andam.
Eu nunca fui preso, porque fugi para a Bahia. Eu vim para agricultura, me disfarcei de agricultor, fiquei lá até quando a anistia mandou me recolher. Não sei como eles me descobriram. “Venha para o Rio agora, urgente.” Eu digo: “Mas como é que eu posso ir para o Rio? O porto mais próximo fica a mais de 200 quilômetros daqui, para poder pegar condução... Eu cheguei no Rio e me apresentei, um companheiro já falecido, Jaime Montenegro, me levou à presença da Comissão que estava constituída para a reintegração dos anistiados, aí ele chegou e disse: “Ô, companheiro anistiado, você vai agora para Brasília.” Eu digo: “Não tem problema.” Aí, eu procurando os companheiros passados, que não me abandonaram, inclusive alguns almirantes que estavam lá, mas desconheciam a causa trabalhista, esses me deram a mão e disseram: “Procura o Almirante Maximiliano da Fonseca.” Maximiliano da Fonseca foi diretor da Petrobras na área de transporte, já falecido. Então, eu procurei uma menina que trabalhou comigo quando cheguei lá, como auxiliar de escritório, e ela disse: “Não, meu tio vai saber disso agora, eu sei que foi feita uma injustiça com você.” Ela falou com o tio, o tio abriu a porta; ele era um homenzinho desse tamanhinho assim, aí perguntou quem era esse aí, me cumprimentou, mandou eu sentar e disse: “O que está havendo ?” Eu digo: “Está havendo o seguinte: eu fui anistiado, tô querendo voltar e não tenho uma porta aberta e todas as portas estão fechadas, até o processo sumiu, meu processo de anistia sumiu.” Ele mandou chamar o auxiliar de gabinete, que era um comandante da Marinha: “Comandante Paiva Comandante Paiva...” Mandou entrar, sentou: “Como é a história?” “A história é essa, essa, essa...” Almirante tornou e disse: ”Vê, faz o que for necessário, contanto que se descubra onde que está a falha.” Ele telefonou para Brasília, perguntou como era o nome da moça, eu disse: “É Doutora Cândida.” Então, ele localizou e do outro lado de Brasília disseram: “Quem que falar com ela?” Ele disse quem era, aí disse: “Ele é da ativa ou da reserva?” Ele respondeu: “Eu sou da ativa e estou na ativa e se for necessário nós vamos aí agora” Mandou preparar, inclusive, o avião para nós irmos para Brasília. Ela disse: “Não, não. Daqui a pouco eu dou um retorno para o senhor.” E ela deu o retorno: “Não, essa pessoa não foi cassada e não consta nada a respeito disso.” Ele disse: “Então o que ele tem que fazer?” “Toda essa documentação está aí na Petrobras, porque ele era dirigente sindical e os dirigentes sindicais foram cassados por uma outra força e não foi a força que cassou a maioria, por ação dos políticos.” Resultado: não acharam. Ele foi encaminhando e o Almirante botou ombro a ombro comigo, disse: “Ó, vou descobrir onde é que está isso.” Procurou de um lado, procurou de outro, vai de cima, vai de baixo e nada do processo aparecer. Eu não podia ficar no Rio de Janeiro pagando hotel. Então, eu vinha para a Bahia, dai a pouco: “Novo chamado” Até que descobriram onde estava o processo: na mão de um dos diretores, esqueci o nome dele, já é falecido também, usava cabelinho jogado de lado. Ele disse que eu não voltava porque o Coronel Siqueira não queria que eu voltasse. Se ele precisasse, saía do cargo, mas eu não voltava. Enquanto ele fosse diretor da Petrobras, eu não voltava. Eu digo: “O problema não é o caso.” Rodou o processo pra cima, rodou pra baixo, a Petrobras acordou em me indenizar o tempo todo que eu levei afastado, porque a anistia mandava. Veio a Emenda Constitucional 26, que mandava também, quer dizer, o que tiver condição de ser readmitido, readmite, o que não tiver, indeniza. Então, de qualquer lado eu estaria amparado. A Lei 6.683, que era a lei da anistia, mandava. Peguei o Diário Oficial, juntei, fiz aquele monte de papéis da ocasião, que falava sobre o assunto, e passei a “peitar”, procurar os meus amigos do passado que sabiam a história, uns eram advogados, inclusive estavam trabalhando lá, depois foram afastados porque tinham chegado aos 25 anos e desenvolveu-se o processo que eu não voltava. O Almirante disse que o processo foi encontrado, mas a informação que – esqueço o nome do cidadão – me deu é que eu não voltaria, e o Coronel Siqueira que, enquanto ele for diretor da Petrobras, eu não volto. Ele disse: “Você vai voltar porque agora quem vai descobrir o resto sou eu.” Aí chamou o Paiva: “Paiva, vamos lá no quarto andar.” Aí embarcou eu, ele e o Paiva. No elevador privativo, eu já estava com todas as mordomias possíveis, ele iria apurar onde estava, ele disse: “Eu estou sentindo cheiro de uma injustiça. E tem que saber onde está essa injustiça.” Aí, chegando no quarto andar, a moça já me conhecia porque eu já tinha ido umas três vezes, ela disse: “É o caso desse?” Aí o Almirante disse: “Eu quero falar com o fulano de tal aí.” Aí ela foi chamar, ele disse: “O senhor me conhece?” “Ah, o senhor é o Diretor Maximiliano.” “Pois é, diga que eu quero falar com ele.” Quando ele abriu: “Ah, um momentinho que ele está arrumando a mesa.” Quando ele abriu a porta, trepou de testa com o Almirante. Aí ele disse o seguinte: “É o caso dele? Já está resolvido, ele vai para Sergipe.” Aí o Almirante falou: “E ele pediu para ir para Sergipe? Não me consta que ele tenha pedido para ir para Sergipe, como é que já está resolvido se nesse instante ele não voltava e agora já está resolvido, inclusive determinado para Sergipe? Você quer ir para Sergipe, Joel?” Eu disse: “Almirante, a Petrobras é de âmbito nacional, então ela tem uma sede, mas que não é sede fixa. Ela sai daqui, ela vai para Brasília, ela vai para o Amazonas, vai para qualquer ponto... ela vai se fixar. E eu sou funcionário dela até provem contrário.” Ele disse: “Não, mas você tem os seus interesses.” Era uma rocinha que eu tenho aqui na Bahia... Eu disse: “Olha, o interesse é meu, pessoal, não é da Empresa.” Eu não sei se com isso eu cresci ou diminuí. Ele disse: “Não, você vai para onde você quiser ir.” E a Lei mandava que eu retornasse ao Rio de Janeiro, era da Assessoria Geral de Contratos, voltasse ao mesmo lugar, no mesmo posto, e ficasse. Eu fui para São Mateus. Eu nem lembrava de São Mateus. São Mateus fica perto da minha roça, então eu pegava o café doce, com açúcar no leite. Porque a roça estava perto e eu podia ir toda semana à minha, não tinha problema. Não sei quem lembrou, disse: “É, mas tem São Mateus.” Eu digo: “É, São Mateus” Eu estive em São Mateus na primeira perfuração, quando jorrou, que a turma se melou de petróleo na rua e saiu passeando perto da SM-8. Ele disse assim: “Então, você vai para São Mateus.” Eu digo: “O senhor é quem diz, Almirante, eu vou para onde me mandarem.” Então ele disse: “Não, se é do seu interesse, você vai para lá.” Aí providenciou: “Moça, prepara a decisão, manda ele para São Mateus, vê o que é que ele tem a receber...” Aí foram ver do tempo do meu afastamento até o tempo da reintegração, que caiu exatamente no mesmo primeiro de abril. E consegui que a Petrobras pagasse esse tempo que estive afastado, a lei mandou pagar. Recebi todo o atrasado como funcionário da Petrobras afastado, de 1971 a 1985. Em 1986, fui reintegrado.
A sede ainda era em Macaé. Eu fui em Macaé, me apresentei, eles fizeram o histórico e disseram: “O Senhor vai para São Mateus.” Eu digo: “Eu estou vindo para ir para São Mateus.” Ele disse: “Então você vai, se apresenta lá.” Na Petrobras, criou-se um corpo contra o anistiado, porque justamente o anistiado foi reparado nos danos que sofreu ou, pelo menos, fingiram que foi reparado, já que até hoje ainda se briga por reparações que ainda não saíram. Cheguei em São Mateus, a turma me recebeu muito bem – uns já estão aposentados, outros ainda estão em atividade –, o superintendente disse que não recebia ninguém, somente ligados a Sindicato, e abriu a porta, mandou eu entrar, sentar e conversar e ele disse: “O Senhor vai para a área de suprimentos.” “Eu vou para onde eu puder, engenheiro, resolver o problema. Eu satisfaço na área, eu vou trabalhar, eu sou polivalente, eu conheço uma série de atividades, de eletricista à plantio, só não sei plantar mandioca.” E até hoje estou querendo que alguém me ensine como é que se planta mandioca. Ele me tocou para a área de suprimento. A turma engajou logo, me deu uma turma de 11 homens, que eu manobrava para fazer o suprimento do campo. Tem um que tem o apelido de “malvadeza”, ele disse que com o pessoal do Sindicato ele sentiu que o meu problema não era fazer fuzuada, fazer greve, meu problema era procurar o que eu tinha direito. Tinha direito? Tem. Então, vamos procurar onde está. E, constantemente, eu tinha as reuniões com o superintendente: “Joel, o que está faltando, como é que está a área, qual é a reivindicação?“ Ainda não tinha sindicato em São Mateus.
Nós criamos uma associação de trabalhadores da Petrobras, porque a lei não permitia o Sindicato, a criação do Sindicato direto. Veio Caxias e Belo Horizonte e pleitearam fundar uma delegacia em São Mateus, eu fui contra. “Mas você é sindicalista e é contra?” “Eu sou contra porque a lei diz que a base territorial tem que ser ocupada e um Estado não pode intervir no outro. Então, nós aqui somos estado do Espírito Santo, não somos estado do Rio de Janeiro, não somos estado de Minas Gerais, não somos estado da Bahia, então nós temos que criar uma associação.” Dois anos depois da associação criada, nós podemos pedir a transformação em Sindicato. E aí foi assim, nós conseguimos, voltou-se o tempo, criamos o Sindicato, deu um aborrecimento na hora da criação do Sindicato. Caxias vinha para fazer a organização do Sindicato, eu disse: “Se eu estiver aí, não vai organizar não.” E deu cinco horas, deu seis horas, sete horas, oito horas e não apareceu ninguém, eu digo: “Vocês estão vendo o que eu estou dizendo, aí é a turma que fazia parte do movimento para criar Sindicato e um dia nós vamos ser assembléia e criar o sindicato.” Aí tivemos uma assembléia no prédio do Fórum da Câmara Municipal e criamos o Sindicato em São Mateus, ligado ao Espírito Santo, tinha como base territorial São Mateus, Linhares, Conceição da Barra e Jaguaré. É onde tinha atividade de petróleo, nas outras ainda não tinha. Depois, apareceu o povo de Vitória, então nós pedimos extensão de base territorial no Estado do Rio de Janeiro. Então, hoje, todos os municípios, onde houver a atividade petrolífera, ela está coberta e amparada pelo Sindicato dos Trabalhadores de Petróleo do Espírito Santo.
Houve a guerra da Arábia Saudita com aqueles países do chamado Oriente Médio. Então, houve a escassez de petróleo, só a Bahia produzia. E a produção da Bahia estava declinando. Então Sergipe apareceu muito promissor, mas também não estava correspondendo. Nós estávamos comprando mais petróleo para satisfazer as necessidades internas do que produzíamos. Até hoje a produção ainda não superou o consumo, mas naquela ocasião foi muito pior. Então, a pesquisa deu de Ilhéus, do Rio Almada, para cá, para o Espírito Santo, a possibilidade de haver jazidas no mar. Então, começamos perfurando de lá, vindo, vindo, vindo, vindo, achamos em Caravelas. De Caravelas, viemos achar aqui em São Mateus, na SM-8, no mar. Daí, então, passamos para a perfuração em terra. Perfuração de terra deu petróleo, mas era antieconômico, porque era produção de três, quatro mil barris, quer dizer, nós precisávamos de uma produção de pelo menos 100 mil barris. E o custo para quatro mil barris ia ser o mesmo custo para 100 mil barris, era o que fazia ser antieconômico. Só que, como a necessidade de petróleo como matéria-prima era muito grande, teve que manter esses poços. Na área da SM-8, que quem vai para Guriri, foi dada a primeira perfuração, quando jorrou o petróleo a turma enlouqueceu. Todo mundo se lambuzou de petróleo na rua; veio o pessoal da roça, todos com chapeuzinho de palha e melados de petróleo. Foi a festa da “redenção” de São Mateus. Houve a extensão maior. Linhares continuou a perfuração. Hoje nós temos na Barra do Rio Doce a perspectiva de “salvação da lavoura”. Porque a produção deverá dar ainda mais na desembocadura do Rio Doce, entre gás e petróleo deve superar toda a produção do Estado do Espírito Santo.
Minha aposentadoria é uma outra história. Até hoje eu não sei, não entendi a minha aposentadoria. Porque até hoje eu não estou aposentado, por incrível que pareça. Recebo pela União, não recebo pela Petros. Sou filiado a Petros desde a fundação. Antes da Petros, nós tínhamos uma cobertura previdenciária, veio a Petros, recebeu essa cobertura e até hoje... Chamavam-me lá na área de “Zé das medalhas”, porque eu tinha todas as medalhas possíveis e imaginárias da Petrobras, me roubaram todas. Eu botava no peito, chegava na portaria e dizia: “Chegou o “Zé das medalhas.” Medalhas de ouro de tempo de serviço. Hoje eu só tenho uma do Sindicato. Me chamaram para uma reunião, para um congresso, quando eu chego lá, o cara me pegou totalmente desprevenido, eu tive que chorar – eu já choro à toa – com a placa em homenagem à fundação do Sindicado. Uma placa da fundação do Sindicato e as lutas mantidas até hoje. Eu tinha a primeira medalha de cinco anos, era ouro, com losangos, com as pontas e uma ametista no meio. Tinha de 10 anos, era um rubi, ouro em alto relevo, com rubi. Tinha de 20 anos, era ouro branco, e a de 30 anos era ouro amarelo também, mas já com as novas, sem pontas nos losangos, as outras eram losangos mesmo, com o emblema antigo da Petrobras. Do Sindicato, eu não apóio muito, porque me pegaram de surpresa. Quando eu cheguei em casa, ontem de tarde, o telefone bateu, adivinharam que eu estava chegando. “O Senhor tem que ir à Vitória.” Eu digo: “Por quê?” “Nós estamos precisando de você em Vitória.”
Excelente Pelo menos faz a gente reviver o passado . E recordar é viver É dever nosso transmitir às gerações futuras aquilo que pode e deve ser feito e o que não deve ser feito. Por exemplo: no problema sindical, eu sempre fui posto um pouquinho de lado, porque eu sou inimigo de greve. Especialmente em órgãos como a Petrobras, porque quem é o patrão da Petrobras?
Nós fazemos greve contra o povo. O povo é que sofre, o governo pouco está se lixando se fez 10, 15, deram 30 dias, como aconteceu de ficar 30 dias parados. De quem foi o prejuízo? De ”Zé povo”, que é quem nos apóia, quem nos dá o ressalto para fazer o pulo? Tanto que eu sou contrário ao problema de greve até hoje. Eu nunca participei de uma greve. Todos os anos tínhamos reajustamento salarial. A Petrobras era tida como a “mamãe Joana”, porque todo mundo recebia, só recebia. O que é que acontecia? Antes, nós pedíamos instalação de um dissídio coletivo, nós é quem pedíamos. Nunca foi precisou pedir um dissídio coletivo, porque ela era chamada a negociar. Hoje, antes de você pedir um reajuste, você já está entrando em greve. Ninguém sabe ainda o que você quer, você já está convocando uma greve. E a greve é a última, sempre foi, no meu caso, a última instância. E nunca precisou chegar à última instância antes de negociar, a última instância era a negociação. Então, nunca participei de uma greve, sempre pensando na Empresa, porque a Empresa é quem me paga, se achar que não serve, eu peço minhas contas, eu valho mais do que aquilo? Eu peço as contas e vou trabalhar em outro lugar. Se tem quem me pague melhor, se não tem... Se eu estou recebendo mais do que eu mereço. Até na aposentadoria, entendeu? A aposentadoria está indevida ainda, ainda não chegou ao ponto que quero, já me tiraram as gratificações, mas ainda recebo muito, e muita gente que está aí largando ouro, suou para conseguir.
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