Meu nome é Eduardo Machado de Souza Araújo. Nasci em 16 de maio de 1956, na cidade do Rio de Janeiro.
Eu me formei em 1978, pela UFRJ, em Geologia. Foi a minha formação fundamental. Depois, eu me formei em 1992, também pela UFRJ, pela nossa famosa Faculdade Nacional de Direito, em Direito. Os dois cursos pela UFRJ.
Eu fiz Geologia porque, quando estava ainda no antigo científico, que hoje é segundo grau, eu tive um despertar. Um professor de Geografia e de História, que também era uma pessoa muito politizada. Hoje, inclusive, ele é uma pessoa muito reconhecida, escreveu livros. O nome dele é Gisálio, professor de História da UFF, e é uma pessoa reconhecida no meio acadêmico. Na época que ele assumiu como professor estava jovem ainda. Ele começou a falar sobre várias ciências alternativas. Naquela época, as ciências ainda eram aquelas ciências tradicionais, em que o grosso dos estudantes tentavam as carreiras: Medicina, Engenharia, alguma coisa um pouquinho diferente. Mas essas carreiras alternativas, novas, Geologia, Agronomia, Veterinária, Ciências Naturais, eram muito pouco difundidas. E isso me despertou por algumas coisas que ele falou. Então, eu comecei a me interessar. Eu fui pesquisar um pouco e me despertei para fazer Geologia. É Ciência Natural. Uma ciência da terra e que também envolve alguns aspectos de tecnologia também. Na época, início de 1980, final de 79, já tinha alguns aspectos tecnológicos também.
Eu entrei na Petrobras em 1981, por concurso público. Mas eu me formei em 1978.
Entre em 1979 e em 1980 trabalhei em duas empresas diferentes na área de geologia. A primeira, na área de mineração, trabalhava com campo. E a segunda, na área de geofísica, também na área de aquisição de dados para exploração. Também na área de exploração. As duas, uma mais na área mineral e a outra mais na área de exploração geral.
Eu participei de muitas lutas. Aqui foram muitas lutas, realmente foi um...
Continuar leituraMeu nome é Eduardo Machado de Souza Araújo. Nasci em 16 de maio de 1956, na cidade do Rio de Janeiro.
Eu me formei em 1978, pela UFRJ, em Geologia. Foi a minha formação fundamental. Depois, eu me formei em 1992, também pela UFRJ, pela nossa famosa Faculdade Nacional de Direito, em Direito. Os dois cursos pela UFRJ.
Eu fiz Geologia porque, quando estava ainda no antigo científico, que hoje é segundo grau, eu tive um despertar. Um professor de Geografia e de História, que também era uma pessoa muito politizada. Hoje, inclusive, ele é uma pessoa muito reconhecida, escreveu livros. O nome dele é Gisálio, professor de História da UFF, e é uma pessoa reconhecida no meio acadêmico. Na época que ele assumiu como professor estava jovem ainda. Ele começou a falar sobre várias ciências alternativas. Naquela época, as ciências ainda eram aquelas ciências tradicionais, em que o grosso dos estudantes tentavam as carreiras: Medicina, Engenharia, alguma coisa um pouquinho diferente. Mas essas carreiras alternativas, novas, Geologia, Agronomia, Veterinária, Ciências Naturais, eram muito pouco difundidas. E isso me despertou por algumas coisas que ele falou. Então, eu comecei a me interessar. Eu fui pesquisar um pouco e me despertei para fazer Geologia. É Ciência Natural. Uma ciência da terra e que também envolve alguns aspectos de tecnologia também. Na época, início de 1980, final de 79, já tinha alguns aspectos tecnológicos também.
Eu entrei na Petrobras em 1981, por concurso público. Mas eu me formei em 1978.
Entre em 1979 e em 1980 trabalhei em duas empresas diferentes na área de geologia. A primeira, na área de mineração, trabalhava com campo. E a segunda, na área de geofísica, também na área de aquisição de dados para exploração. Também na área de exploração. As duas, uma mais na área mineral e a outra mais na área de exploração geral.
Eu participei de muitas lutas. Aqui foram muitas lutas, realmente foi um histórico, muitos companheiros até que já estão falecidos, mais antigos. Mas eu participei de muitas lutas, aqui do prédio. Da construção do movimento sindical petroleiro, que era um movimento muito tradicional. Veio da formação da Petrobras. Os sindicatos, o nosso sindicato foi o primeiro formado na indústria de petróleo, um sindicato muito antigo, pela ocorrência da refinaria de Manguinhos, que foi a primeira refinaria do Brasil.
Nessa segunda fase do Brasil, pós-abertura, pós virada da ditadura militar, as pessoas começaram a ter um envolvimento. Querer participar. Querer fazer ouvir uma série de direitos que estavam sucumbidos aqui nesse tempo todo de cerceamento. As pessoas começaram a se aglutinar. Então, houve alguns fatos aqui. Nós tivemos uma greve geral em agosto de 1987, por exemplo. Então, foi uma série de greves gerais, que nós não tínhamos ainda uma organização sindical muito forte.
Mas a sociedade estava organizada também, algumas áreas mais. Mas participamos aqui. Eu participei junto com outros companheiros da organização dessa greve geral, que foi em 20 de agosto de 1987. Ela teve uma amplitude muito grande, paralisou a cidade. E os petroleiros aqui do Rio paralisaram parcialmente.
Participaram principalmente das atividades dessa greve geral, das passeatas. E tive um incidente: eu fui preso e autuado pela Polícia Federal, pelo Dops. Inclusive, sofri um processo por paralisação de greve. Depois, esse processo foi arquivado. E minha detenção foi o seguinte: houve toda uma organização da greve geral, que veio se preparando por 15, 20 dias, até antes. Alguns companheiros estavam integrados nesses comitês de greve geral, divulgando, panfletando e tal. No dia da greve que, foi no dia 20, houve algumas manifestações na cidade. E eu estava em uma manifestação dessas, foi às 7 horas da manhã. As greves gerais geralmente acontecem cedo para tentar paralisar transporte, que são os mecanismos importantes para uma greve geral. Então, eu estava em uma atividade lá na porta de uma empresa, fazendo uma manifestação, e aí a polícia chegou e terminou com a manifestação. Prendeu várias pessoas. E foi cedo, eu não estava ainda dentro do meu horário de trabalho. Eu estava fora do meu horário de trabalho. Fui preso, detido, levado para a Polícia Federal e tive esse processo aí. A participação foi nesse sentido de reforçar e tentar chamar os trabalhadores que não estavam convencidos daquele propósito a aderir à greve.
Mas foram manifestações pacíficas que nós fizemos na época.
Tem um outro evento também que eu acho que foi muito importante, a primeira greve de grande envergadura que teve aqui na Petrobras, que foi dia 3, 4 de maio de 1988. Também foi um evento marcante de que eu participei. Foram dois dias de greve. A greve vinha sendo organizada já havia algum tempo por toda a categoria. Nós ainda não tínhamos o sindicato nosso, o Sindipetro ainda não era filiado à CUT. A CUT já tinha sido fundada, que nós também participamos da fundação.
Eu fui fundador da CUT em 1983, em São Bernardo do Campo. A categoria participou, alguns membros foram delegados. Eu, na época saí delegado pela Associação Profissional dos Geólogos, que eu era membro. Atuava também em outras frentes, Associação dos Geólogos e aqui também no Sindicato dos Petroleiros, e nós fomos fundadores da CUT em 1983. Foram todos os principais líderes hoje: o Lula e toda essa turma. Todo o sindicalismo que hoje está governando o país estava lá fundando a CUT. E, após isso, a categoria começou a tentar se alinhar. No sindicato, existia uma direção que não era aliada aos propósitos cutistas. E nós, então, começamos a formar uma oposição sindical para conseguir o sindicato.
Em 1988, houve essa greve nacional. Foi uma greve fortíssima. Nós participamos. O Edise participou. Foi uma greve espetacular, paralisação excelente. Alto nível e com adesão maciça aqui do prédio e de todo o Brasil. Foram dois dias de greve. E foi a primeira greve que os petroleiros aderiram maciçamente em uma campanha salarial.
Esta greve foi por motivos salariais. Nós estávamos em uma campanha. Mas ela foi marcante, foi a primeira greve nacional da categoria. Ela foi articulada nacionalmente. Já tinha alguns sindicatos alinhados à CUT, mas eram minoria. E vários sindicatos importantes, com base numerosa de trabalhadores, que era o caso do Rio de Janeiro, não estavam ainda alinhados com a CUT. Estavam com setores de sindicalismo, que a gente até chamava de pelegos. Sindicatos, ainda, com uma ótica um pouco diferente, meio atrasados, que não puxavam pela categoria. Essa greve aconteceu e foi uma greve muito forte, marcante. Foi o primeiro movimento forte. E o governo e a Petrobras puniram realmente. Não chegou a ser maciçamente, mas teve uma punição em torno de 20 ou 30 no Brasil inteiro. Aqui no prédio foram três companheiros punidos com demissão. Eu fui um deles. Demitidos por participação nessa greve, eu e mais outros dois companheiros. O Jorge Eduardo, o Emanoel Cancela. Inclusive, esse último, Emanoel, ainda é diretor do sindicato, assumiu recentemente a direção do sindicato. Os outros dois também continuam participando da direção do sindicato. Eu também continuo em outras frentes; hoje eu estou em outra frente mais partidária do PT. Mas nós hoje continuamos a participar. Nós três fomos precursores desse movimento grevista e continuamos participando da vida política aqui em torno dos ideais da Petrobras. Dois idéias políticos.
Para parar este prédio, a gente fazia piquete, aquele famoso piquete de convencimento. Não é piquete para barrar as pessoas à força. Mas a gente fazia o piquete de convencimento. Ficávamos em todas as entradas. Entrada até de garagem, com as bandeiras e faixas. Distribuindo panfleto, tentando convencer as pessoas a aderir. Essa greve teve uma adesão muito forte. A gente fazia assembléias durante o dia, de manhã e na hora do almoço.
Final da tarde fazia os informes. Os piquetes eram numerosos. Não só pela liderança, como também as pessoas da categoria se dispunham também a fazer esse trabalho de convencimento. Tinha esse trabalho também de piquete e discurso, caminhão de som. Mobilizando as pessoas. Essa movimentação normalmente de greve que é bem agitadal.
O contato com o sindicato se deu depois que eu vim para o Rio de Janeiro. Quando eu entrei na empresa, em 1981, e fui fazer aqueles cursos básicos.
Mas na época da universidade, eu já era um ativista político, participava de centro acadêmico, tinha envolvimentos. Tinha um despertar de interesse naquela época. Ainda estávamos sob um regime duro. E não era um regime de abertura, estava começando a abertura política.
Então, eu participei da primeira eleição que teve na UFRJ do DCE, o Diretório Central dos Estudantes. Foi quando, com a reabertura, eles ficaram fechados pela ditadura. Então, tudo isso aí eu já vinha com um despertar. Então, quando eu entrei em 1981 na Petrobras, eu tive um período na Bahia que realmente fiquei no campo, não tive oportunidade. Mas quando em 1982 eu vim aqui, tive a oportunidade de ter um convite para vir aqui para a sede, logo eu procurei me interar do que é que acontecia aqui, as coisas. E comecei. A participação também estava muito incipiente. O controle muito difícil, mas eu já tinha esse despertar que foi dado pelo movimento estudantil tradicional da UFRJ. Que ali foi um celeiro também de muitas pessoas que se engajaram com visão crítica do mundo. Acho que a universidade, a antiga universidade do Brasil, e a UFRJ tiveram essa característica de formação acadêmica e de mundo.
Depois, também tivemos um outro evento marcante aqui na vida política, vamos dizer sindical, que foi a eleição em 1990, em que eu tive o prazer de ser, inclusive, integrante da chapa e futuramente diretor do sindicato. Nós conseguimos depois de muita luta termos uma chapa vencedora na diretoria do sindicato com o alinhamento da CUT, que já vinha desde 1983. Só em 1990, depois de sete anos, nós conseguimos montar uma chapa. Já tínhamos montado outras chapas, mas tínhamos sido derrotados e tal. E aí assumimos essa direção em 1990. O mandato foi até 1993. Foi a primeira gestão cutista do Sindicato dos Petroleiros após a abertura. Depois dessa gestão, todas as outras, e hoje o sindicato é filiado à CUT.
Na nossa gestão, acho que em 1990, 1992, no final, nós nos filiamos. Teve assembléia de filiação à CUT, nós discutimos e nos filiamos. Hoje, o sindicato é filiado à CUT e à FUP, que é a Federação Única dos Petroleiros.
Campanha de Comunicação
Fizemos aqui outros eventos também de natureza política. Defesa do petróleo. Na época antes de eu entrar na Petrobras, eu também participei da luta contra os contratos de risco, em 1977. Eu ainda era estudante. Então teve muitas lutas, não só sindicais. Aqui o prédio todo e o Rio de Janeiro foram palco de muitas lutas políticas. O evento, a questão da saída do Collor, nós participamos muito dessa luta política, de numerosas passeatas; nós participamos do "Fora Collor!". O pessoal se aglutinava no prédio, a gente fazia panfletagem, mobilização. E o pessoal saía em passeata pela Rio Branco. Quase todo dia tinha passeata. Também participação nas eleições. Todas as eleições que teve: municipais, estaduais, presidenciais principalmente. O pessoal também participava aqui. Não como sindicato, mas como cidadão.
Tem muitas histórias deste movimento. Às vezes fica até difícil você resgatar. Foram tantas coisas. Tem, assim, dois fatos que eu achei até engraçados mas com que a gente tinha uma preocupação. Um foi na questão das eleições do sindicato. Que na época era um embate muito grande com as direções, que a gente chamava de pelega. E tinha a suspeita de fraude. A gente fazia a coleta dos votos, eram dois, três dias coletando votos. Trinta, 40 urnas, porque as urnas eram coletadas nas plataformas. Nessa época, o sindicato movia o de Macaé, que agora é um outro sindicato. Então, eram muitas urnas. E o pessoal tinha um medo danado de fraude, porque já tinha tido outras eleições com fraude, e a gente não tinha conseguido vencer. O pessoal dormia, fazia um plantão, e a gente fazia reunião. O pessoal da chapa ia para dentro de algum local, um outro sindicato, dos engenheiros, que nos dava apoio, e fazia um plantão para dormir na porta do sindicato. A gente fazia plantão toda noite. Dia, noite. Porque essas urnas vinham de Macaé. Demorava até juntar essas urnas todas. A gente ficava uns dois dias, fazia plantão. Geralmente caía no fim de-semana. Então, ficava sábado e domingo, a gente fazia uma escala, levava colchonete na porta do sindicato e ficava dormindo lá. Geralmente dois companheiros. No chão, num colchonete. Então, isso é um fato interessante, que é engraçado, a gente ter que dormir lá no sindicato para evitar fraude. E a gente conseguiu fazer isso.
Um outro evento também que foi engraçado é que em uma greve tinha o que o pessoal chamava de kit pelego, porque nas refinarias, quando o pessoal entrava em greve, aquele pessoal que não aderia ficava meio isolado dentro da unidade, não queria sair. E aí a empresa tinha um tal de kit pelego. O kit pelego era assim: na refinaria era um colchonete, era alimentação. Farta alimentação para o pessoal que não aderia à greve, e aqui no Edise, como a adesão era grande, ficava uma minoria que não aderia à greve. Eles não queriam sair do prédio para não sofrer aquele constrangimento, aquele questionamento. E eles pediam quentinha. Então, quando tinha essas greves, era muita quentinha chegando. Em um dia, o pessoal estava meio agitado e aí, não sei por que, quando chegou um pedido de quentinha, eram umas 40 quentinhas, o pessoal pegou todas. Confiscou as quentinhas do pessoal. E foi muito engraçado, mas não houve violência. O cara chegou lá e acabou: "De quem é essa quentinha? Vamos comprar essas quentinhas aqui." Pegou as quentinhas e o pessoal ficou sem elas, mas não houve nenhuma agressão. O pessoal confiscou a alimentação do pessoal que estava lá em cima. Querendo, com receio de descer para ser convencido a participar.
Fizemos aqui alguns abraços, foi uma coisa emocionante. Nós fizemos vários movimentos pela defesa da Petrobras. Contra a privatização da Petrobras. Nós fizemos vários abraços em torno do prédio, cantando o Hino Nacional. E foi muito emocionante você poder abraçar o prédio, mostrar aquilo simbolicamente. A gente envolvia o prédio inteiro com duas, três correntes, de mãos dadas e, depois que a gente fechava aquele círculo, a gente cantava o Hino Nacional. Quer dizer, mostrando ali que a gente estava realmente fechando simbolicamente as portas de quem queria fazer determinadas atitudes contra os interesses, que a gente entendia, que eram os da Nação. Contra os interesses da Petrobras.
Mas de forma bastante emotiva, a gente cantava o Hino Nacional. Esses abraços ficaram famosos, e nós fizemos uns dois ou três abraços desses ao longo da campanha em defesa da Petrobras. Defesa do monopólio, que acabou, foi quebrado, mas nós conseguimos ainda hoje resistir com a Petrobras estatal.
Eu acho muito interessante e realmente acho louvável não só a empresa, mas a instituição, a gestão atual trazer esse projeto de depoimentos. Eu acho muito importante isso.
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