Antonio Aparecido Carrara

Projeto: Memória da Petrobras

Depoimento de Antonio Carrara

Entrevistado por Ana Lage e Elodia Lebourg

Rio de Janeiro 09/12/2004

Realização Museu da Pessoa

Entrevista HV/2004-09-01

Transcrito por: Maria Luiza Pereira

P/1 – Boa tarde, Carrara!

R – Boa tarde!

P/1 – Eu gostaria de começar que o Senhor dissesse para a gente o seu nome completo, local e data de nascimento.

R – Antonio Carrara, nasci em Salto Grande, Estado de São Paulo, no dia 25/6/57.

P/1 – Agora fala para a gente o nome dos seus pais e dos seus avós.

R – Meu pai é Gil Carrara e minha mão Guiomar Leocádio Carrara, meu avô paterno Francisco Carrara, meu avô materno Francisco Leocádio.

P/1- Agora diz qual a atividade dos seus pais e dos seus avós, o que que eles faziam?

R – Meus avós trabalharam... principalmente os avós maternos, tinham sítio, trabalhavam com lavoura, né, na região de Saldo Grande, que fica na divisa com Paraná, Estado do Paraná. Meus avós paternos também. Depois tiveram outras atividades, que eu me lembro, é... meu avó trabalhou com... tinha indústria de madeira, lá em Salto Grande, meu avô paterno.

P/1 – E seus pais?

R – Meu pai sempre trabalhou... meu pai trabalhou na Prefeitura de Salto Grande; se aposentou na Prefeitura de Salto Grande, durante um tempo ele ficou fora, trabalhou em indústria de farinha, na região tem muita mandioca para produzir farinha, então ele trabalhou na indústria de farinha de mandioca, depois trabalhou como operador de máquinas e também trabalhava às vezes... um tempo ele trabalhou com caminhão, ele tinha um caminhão de transportar areia, pedras, essas coisas. Mas se aposentou na Prefeitura. Minha mãe ajudava em casa, ela sempre foi do lar e ajudava meu pai fazendo... tipo... lavava roupas para famílias, né, ela contribuía assim, mas do lar, sempre do lar.

P/1 – E você passou a sua infância em Saldo Grande?

R – É, fiquei em Saldo Grande até os 9 anos de idade.

P/1 – Conta para a gente como era o seu bairro quando você era criança, como era a sua turma...

R – Lá não tem bairro, lá é uma cidade muito pequenininha, a gente chama Cidade de Primeira, que era a cidade, porque se você botar Segunda você não vê a cidade no carro, entendeu? Então não tinha bairro, eu morava ali no centro, a cidade era aquilo.

P/1 – E como é que era?

R – Bom, eu me lembro um pouco quando meu pai trabalhou na indústria da... nessa indústria que eu estou te falando, de produção de farinha de mandioca, a gente morava na fábrica, a fábrica ficava fora da cidade, numa região onde tinha o plantio da mandioca, próxima do plantio das lavouras de mandioca. Me lembro dos rios que tinham lá, lá tem muito rio, naquela região.

P/1 – Você gostava de brincar nos rios?

R – Nos rios... é. Minha mãe não gostava muito não!

P/1 – Qual eram as suas brincadeiras?

R – A gente gostava de nadar, agora a minha mãe sempre preocupada, porque a gente ia para o rio, aí ficava com medo de se afogar, então ficava sempre... eu sou o filho mais velho, então eu tinha que cuidar dos outros meus irmãos.

P/1 – Você tem quantos irmãos?

R – Nós somos em cinco: quatro homens e uma mulher. Depois de um tempo minha mãe adotou uma outra menina, que é minha irmã também, então somos em seis na verdade. Pois é: a gente brincava ali, brincava no rio, brincava com os meus irmãos e eu tinha essa tarefa de cuidar dos meus irmãos. Salto Grande é uma ilha na verdade, né, ela tem... a gente chama “quase uma ilha”, porque ela é cercada por três grandes rios. Então a atividade nossa era pescar, era... a brincadeira era isso, pescar...

P/1 - _____ ______ rio.

R – É.

P/1 – E você teve educação religiosa, política, quando era criança, adolescente?

R – Minha mãe é uma beata. Meus avós... é, então a gente nasceu na verdade dentro da Igreja ali, então a relação que a minha família tinha com a religião e essa freqüência que ela tinha, minha família tinha, com a Igreja nos levou; eu falo nos levou porque eu e os meus três irmãos também fomos para o Seminário, né, então, com 9 anos eu saí da cidade por isso, eu fui estudar num Seminário... Minha mãe tinha... a vocação era da minha mãe! Tanto é que nenhum dos três conseguiu se ordenar padre. Eu fui o último a sair Seminário, eu saí... até porque fiquei com essa carga nas costas, que a minha mãe queria ter um filho padre, então eu fiquei no Seminário até terminar meus estudos, comecei fazendo Filosofia, saí nessa época, saí do Seminário. Mas desde os 9 anos que a gente saiu do Salto Grande, eu e o meu irmão... primeiro eu e o meu irmão abaixo de mim, que é o Paulo...

P/1 – E vocês saíram sozinhos?

R – Não. Aí foi todo essa relação com o Padre lá na Paróquia e foi ele que nos levou para o Seminário. O Seminário era... nós começamos num Seminário menor, que era em Ourinhos, é próxima, uma cidade próxima a Salto Grande, dá 16 km de Salto Grande, então nós começamos ali. A gente fez... naquela época tinha admissão, eu entrei no admissão no Seminário.

P/1 – Como é que era o dia-a-dia de um Seminário?

R – Olha, o Seminário, a gente chama de “Seminário Menor”, naquela época tinha, hoje já não tem mais, mas naquela época tinha um Seminário menor, onde era trabalhado as vocações adolescentes, ainda de meninos nessa fase de 9 anos e 10 anos e o Seminário lógico que ele tinha uma disciplina meia rígida, né, parecida com o regime militar. Você no Exército, por exemplo, tem horário para tudo, né, mas era muito bom, era gostoso porque você tinha a oportunidade de exercer atividades culturais, educacionais e lazer, que a gente não tinha. Se a gente tivesse ficado na cidade e feito o estudo nosso, por exemplo, foi no admissão, depois o ginásio, naquela época era ginásio, a nossa atividade seria ali, aquela coisa de ir para a escola, ir para casa, né, e lá a gente teve oportunidade, foi ali que a gente começou de fato a nossa educação, eu, o meu irmão e outro irmão também, porque você teve oportunidade de conhecer muita gente. Eu me lembre que eu fiquei quatro anos estudando nesse Seminário de Ourinhos, que era o Seminário Menor, fiz todo ginásio, né, quatro anos de ginásio e pude conhecer gente do Brasil, que vinha estudar ali naquele Seminário, então, passou ali, eu acredito, mais de 2 mil, 2 mil pessoas que a gente conviveu ao longo desses quatro anos. O objetivo era que ali começasse os estudos e a pessoa fosse se desenvolveu e de fato despertasse a vocação. Então muitos saíram dali, mais de 50% ali não ficaram no Seminário, ao longo desses quatro anos saíram.

P/1 – E você ficou lá até quantos anos?

R – Eu fiz o Ginásio lá, eu entrei com 9 e saí com 13, 13 para 14 anos. Quando eu fui fazer o colegial aí já mudei para uma outra cidade, porque essa Congregação ela tinha esse Seminário em Ourinhos, depois um em Apucarana, que é no Paraná, e o Seminário maior que a gente chama, que é quando você já está iniciando o curso superior, é em Curitiba. Então fiquei até os 13 anos ali. Aí fui para Apucarana, que era fazer o colegial, aí já no Seminário médio, que a gente chamava.

P/1 – E você foi para lá com o seu irmão também?

R – Fui com o meu irmão. Nesse período aí o irmão, o terceiro, né, ele entrou lá em... nesse Seminário de Ourinhos, mas ele ficou dois anos e saiu. E o meu irmão abaixo de mim a gente chegou a ir para Apucarana. Em Apucarana o meu irmão saiu também, aí fiquei só eu.

P/1 – E você ficou até quanto tempo nesse Seminário?

R – Eu fiz o Colegial lá, os três anos de Colegial, fui para Curitiba. Aí lá a gente... lá tem uma coisa que chama noviciado. Noviciado é um ano que você estuda a sua Congregação. Aí já começa a fazer os seus primeiro votos de pobreza; pobreza não precisava fazer, porque... Mas fiz votos de castidade e obediência, né, que já é uma... eles são votos temporários, né, já é uma coisa assim mais de preparação para o celibato, para ser padre.

P/1 – E era um regime interno, vocês não podiam sair...

R – Regime interno, era internato. Só íamos para casa nas férias, né, férias de julho e final de ano.

P/1 – Então você quando era jovem você não costumava sair, ir aos bailes...?

R – Não! Me lembro de um episódio que aconteceu nesse Seminário em Apucarana, porque aí já éramos mais adolescentes, já aquela coisa de namorar, né, nós estudávamos... a gente morava lá dentro do Seminário e tinha um colégio, Colégio São José que era um colégio... esses colégios particulares, né, onde estudavam todos os alunos que podiam pagar as mensalidades, estudavam nesse colégio, era um colégio particular dos padres e a gente freqüentava o mesmo colégio, junto com esses jovens. E aí tinha, lógico, as jovens também, as meninas e lógico que você se apaixona, né? Me lembro...

P/1 – Conta para a gente como foi sua primeira namorada.

R – Não... vou te conta um fato que aconteceu lá nesse Seminário. Uma das nossas amigas lá da nossa classe, também de família católica, freqüentava a Igreja e nos convidou para ir no aniversário dela, todo pessoal da classe. A gente poderia sair, não tinha... esse Seminário já não era uma coisa fechada, diferente desse de Ourinhos, que era mais fechado. Então a gente podia sair para a cidade, poderia assistir filme, não era uma coisa... você não ficava preso. E a gente ia em aniversários, em festas. Só que ela convidou, a menina convidou... os pais dela também convidaram o nosso Reitor, mas a gente não sabia.(riso)E a gente está lá na casa dela, todo o meu pessoal lá do Seminário, né, aí começou a tocar uma musiquinha, aí fomos dançar e nisso chegou o nosso Reitor. Aí viu, não falou nada. No outro dia de manhã, no horário que a gente acordou ele já nos chamou para conversar e disse: “Ó, hoje vocês vão pensar o que que vocês querem da vida aqui. Porque aconteceu isso e isso ontem, então vocês hoje não vão para o colégio, vocês vão ficar o dia todo meditando se vocês querem continuar aqui ou não”. Aí a gente ficou o dia todo lá pensando, porque tinha muito esse negócio de meditação, né, cada um pensando na vida. E lá tinha... essa coisa de ir embora era arrumar a mala, aí ele falou: “No final do dia quero conversar com um por um e, se for o caso, quem optar, pode arrumar suas malas para ir embora.” Eu optei por ficar!(riso) Fiquei ainda mais uns três anos ainda além disso. Mas era assim, é um pouco isso, a nossa vida lá era um pouco diferente de um jovem que viveu fora de um Seminário, né, tinha alguma, algumas restrições, né, que são normais, né

P/1 – Vocês praticavam esportes?

R – Tinha tudo! Eu tinha piscina, tinha o campo de futebol nosso...

P/1 – A diversão então era dentro do Seminário.

R – Dentro não, mas a gente podia ir ao cinema como eu disse para vocês, a gente podia sair na... normalmente a gente saía na sexta-feira, no sábado, era mais tranqüilo. Sexta à noite a gente às vezes ia ver um filme, então a gente tinha uma relação com a comunidade é... nós também exercíamos um trabalho junto a comunidade ali, né, pastoral, junto com jovens, grupos de jovens que participavam ali daquela Paróquia, né, então a gente tinha toda uma relação com a sociedade e um trabalho também junto com eles.

P/1 – E você, o tempo todo dentro de Seminário, vamos dizer assim entre aspas, preso dentro do Seminário, você já tinha ouvido falar de Petrobras?

R – Não.

P/1 – Qual era a idéia que você tinha, ou você não tinha idéia nenhuma...?

R – Não conhecia a Petrobras, não conhecia.

P/1 – Nunca tinha ouvido falar?

R – Não, não conhecia a Petrobras. Lógico que o que a gente via, a gente assistia, lia jornal, via notícias, mas não...

P/1 – Não tinha idéia.

R – Não tinha idéia do que a Petrobras... não imaginava.

P/1 – Quando que você descobriu que você realmente não queria ser padre, que você saiu de vez e...?

R – Foi logo após, quando eu terminei o meu colegial lá que eu fui fazer um ano de noviciado, né, e nesse tempo eu já comecei a pensar um pouco mais. Foi aquilo que eu te disse, na verdade a vocação era muito da minha mãe, ela queria ter um filho padre, então eu fiquei com essa carga muito pesada nas costas, né, e tive que conversar com ela um dia e falar: “Olha, não dá mais, não é isso que eu quero...” Mas aí, logo depois que eu terminei o noviciado aí fui começar filosofia, aí já saí.

P/1 – E quando você foi fazer filosofia o que que mudou na sua vida, em que que você ficava pensando em fazer, como que você teve a idéia de entrar para a Petrobras?

R – Olha, uma coisa que eu senti muito é... todo o estudo que eu tive ali, o conhecimento, isso foi muito importante para a minha vida. O que eu acho que foi negativo na minha foi que, quando eu saí, eu saí num mundo assim, sem... nunca tinha trabalhado fora, né, não tinha essa coisa da relação muito... a gente tinha a convivência com a comunidade, mas não era uma coisa... Ali tinha tudo, você tinha roupa, comida, estudo, né, você não se preocupava com nada. A partir dali eu tinha que me preocupar, entendeu, porque os meus pais não tinham condições de bancar estudo, não tinham condições de nada disso. E aí eu fui ver que... e disse:“Bom, eu tenho que me virar!” Então a minha vida profissional mesmo começou daí, que eu comecei a ver que eu tinha que buscar um trabalho e aí muita dificuldade por conta de não ter experiência nenhuma, né, eu saí do...

P/1 – E qual foi o seu primeiro trabalho?

R – Na verdade o meu primeiro trabalho, eu coloquei na ficha que foi trabalhei no hotel, mas quando eu saio e volto para a minha cidade; aí meu pais já estavam morando em Ourinhos, meu trabalho foi trabalhar num balcão de restaurante desses postos de estrada, né, tinha um lá e foi o primeiro emprego que eu tive, né? Então eu atendia ali no balcão. O primeiro trabalho mesmo que eu conto é esse do hotel, foi quando eu entrei no hotel, fui registrado, trabalhei no hotel como garçom e como recepcionista de hotel.

P/1 – Quanto tempo você trabalhou?

R – Dois anos. Trabalhei dois anos nesse hotel. Quando eu saio do hotel, aí já não consigo mais trabalho, aí eu saio de Ourinhos, porque Ourinhos é uma cidade que não oferecia muitas oportunidades, né? E aí eu vou para São José dos Campos! Vou para São José, eu tinha um amigo meu que tinha estudado comigo no Seminário, né, e estava morando em São José, estava estudando lá, aí conversei com ele, fui para São José e fiquei lá na casa dele. Fui procurar trabalho, fiquei dois meses em São José dos Campos procurando trabalho e não consegui. E foi numa época, em 78, 79, né, numa época que São José estava num crescimento, numa expansão, muita indústria se instalando. Mas o grande problema era a falta de experiência, então eu tenho ficha... naquela época eu fiz ficha em tudo quanto é empresa lá de São José dos Campos, mas não conseguia porque sempre pediam experiência, aí foi difícil de conseguir. Eu volto para Campinas, eu tinha um irmão trabalhando no Bradesco, em Campinas, ele vai até São José, aí converso com ele: “Ah, vamos embora para Campinas, lá vamos ver se a gente consegue um trabalho.” Foi quando eu fui trabalhar na construção da Rodovia dos Bandeirantes. Lá estavam Campinas a São Paulo.

P/1 – Em que ano?

R – 78, 78.

P/1 – E você trabalhou lá durante quanto tempo?

R – Seis meses. Porque estava no fim da obra já, até terminar a obra fiquei. Trabalhei no Laboratório de Análise de Solo, aprendi lá também, né, e foi quase no final da obra. Acabou a obra aí acabou o trabalho. Eu poderia ter acompanhado a minha Empresa que eu trabalhei, que era um empresa de laboratório que analisava solos e asfaltos. Mas teria que... eles estavam indo para a região do Nordeste, eu não quis acompanhar, aí voltei para Ourinhos, fiquei em Ourinhos. Aí comecei a trabalhar com meu pai, meu pai tinha um caminhão, aí então a gente trabalhava junto, ele tinha dois caminhões. Fiquei trabalhando com ele um tempo, por conta.

P/1 – E o que que você fazia, qual era o tipo de trabalho?

R – Eu puxava areia e pedra. Areia do rio, né, para construções que tinha lá, então vendia areia e pedra, essa pedra para construção. Fazia isso. Aí até que um dia um amigo do meu irmão que trabalhava na Refinaria de São José dos Campos; ele tinha entrado em 78, em São José dos Campos... ele era de Ourinhos, aí ele foi passear em Ourinhos e foi lá conversar com meu irmão em casa; eu lembro disso que eu estava em casa conversando, aí esse amigo dele chegou e chamou ele para conversar e perguntou se ele queria entrar na Petrobras. Aí meu irmão ainda era novo, é o caçula: “Não, não quero, mas o meu irmão...” Aí ele falou de mim, falou que eu estive em São José dos Campos, não sei o que, aí chamou, fui conversar com esse amigo meu, o Mauro, um amigo que está até hoje na Petrobras, está em São José dos Campos também, aí ele me falou: “Olha, vai ter concurso na Petrobras e...” Eu me lembro que tinham três, concurso para três funções. As três que ele falou eu não conhecia nenhuma, né? Era auxiliar de Segurança, Auxiliar de Serviços Gerais e não sei o que mais lá. Aí eu disse: “Mas eu não conheço isso, eu não sei o que que é isso.” Aí ele falou: “Ó... não, vai lá, vai ter concurso para aquilo que eu estou fazendo, eu sou Auxiliar de Segurança.”, ele disse, “Acho que é o melhor dos três.” Aí, peguei todos os dados, fui com ele; ele voltou para São José, fui de carro com ele para São José, fiz a minha inscrição, aí teve um concurso, né, eu voltei, porque aí depois eu deixei todos os endereços, a Petrobras disse que ia demorar um tempo para sair o resultado, né, ia sair primeiro nos jornais da cidade, aí que eu tinha que ver a minha inscrição. Eu só esperei isso, quando saiu no jornal eu tinha passado, que estava classificado ali, porque eram 11 vagas. Não lembro, mas tinha muito, mais de 1000 que prestaram concurso para essa função, Auxiliar de Segurança. Que eu nem sabia o que que era.

P/1 – E porque que você escolheu essa?

R – Porque foi o Mauro que me disse assim: “Ó, das três que está aí, eu faço essa e acho que é a melhor.” Por isso, mas não conhecia, foi ele que me disse que aquela era a melhor.

P/1 – Foi no escuro!

R – No escuro. Como eu precisava trabalhar, fui.

P/2 – E aí nesse meio tempo então da sua trajetória profissional, de início você já tinha ouvido falar na Petrobras.

R – Sim. Quando eu estive em São José dos Campos procurando trabalho eu fui lá na Petrobras, né, estava tendo obras e a Refinaria ainda não estava pronta, estava sendo construída, tanto é que quando eu entrei na Petrobras, na Refinaria de São José, ela não estava operando, ela estava em final de obra já, mas é... foi quando de fato conheci mais a Petrobras; conhecia a Revap na verdade, não conhecia a Petrobras ali. Esse tamanho da Petrobras não, não tinha idéia do que que era, né, só conhecia ali primeiro. Foi esse o meu primeiro contato.

P/2 – Mas qual era essa visão que você tinha então da Refinaria, da Petrobras ali, o que que era para você nesse momento?

R – Para mim era a minha oportunidade de começar a minha vida, né e foi isso que aconteceu. Foi a primeira oportunidade, é... o fato de eu não ter experiência e poder prestar um concurso, mesmo sem saber, nem conhecia o que eu ia fazer. Para mim foi a grande oportunidade da minha vida e nem acreditava que passaria, com mais de 1000 candidatos para 11 vagas, eu não acreditava que ia passar.

P/1 – E aí quando você descobriu que você foi aprovado você foi logo chamado, como é que foi?

R – Fui logo chamado. Foi muito rápido, eu não lembro aqui quando foi, mas eu acho que num espaço de quando eu fiz a primeira inscrição minha e o primeiro teste; porque foi teste de conhecimentos gerais, essas coisas todas, né, que já eliminou a grande.. mais da metade eu acho que nesse primeiro... nessa primeira avaliação aí já foi eliminado mais da metade. Depois começaram os exames médicos e psicológicos, aí fui chamado. Eu acredito que num espaço de 30 dias, de quando eu fiz a minha inscrição até de fato começar o curso, né? Porque também nos disseram o seguinte: “Você vai começar o curso, são 11...”; nós estávamos em 12, dos 12, um vai sair, entendeu? Aí começou a fazer o curso, o curso durou uns três meses, mais ou menos.

P/1 – E fizeram esse curso aonde?

R – Lá em São José dos campos, na Refinaria. Fizemos o curso lá...

P/1 – E o que que vocês faziam nesse curso?

R – Aí era um pouco do conhecimento e fazia prova. Eram aulas teóricas...

P/1 – Práticas.

R – Prática não, teóricas. Teóricas e provas de todas as materiais aí. Então a gente ficou um tempo estudando; não me lembro agora se foi um mês, dois meses aí. Um saiu, não me lembro nem quem era que saiu, mas um saiu. Ficamos em 11. Aí, como a gente não estava... como eu disse, a Refinaria ainda não estava produzindo, nós, os 11, fomos para Campinas, aí fui conhecer a Refinaria de Paulina. Que Paulina já estava... a Refinaria que construída em 1970, já estava... servia como uma escola para nós. Aliás, não só nós, muitos trabalhadores que entraram na Revap, também na área de operação, área de segurança como a nossa, também ficaram em Campinas fazendo estágio. A gente foi para Campinas. Lá começamos a trabalhar. Aí sim, aí já foi prático.

P/1 – Você ficou lá quanto tempo?

R- Em Campinas?

P/1 – É.

R – Aí foram seis meses, foi só para a gente antes de iniciar a operação da refinaria, a gente ficou lá para de fato ter mais um conhecimento prático e uns seis meses, mais ou menos, a gente ficou lá em Campinas.

P/1 – Como é que era a Refinaria naquela época?

R – Olha, eu gostei muito da Replan e do pessoal que trabalhava lá. Tanto é que depois eu me transferir para Campinas, para Replan. Voltei para São José, trabalhei um tempo em São José e pedi transferência para Campinas.

P/1 – Aí você gostou de ficar lá, ficou lá até seis meses...

R – Gostei! Fiquei seis meses que era esse trabalho prático, né, foi mesmo a gente vivenciar o trabalho nosso, me assustei no começo, primeira vez que eu vi que que era o meu trabalho eu fiquei meio assustado, falei que não ia ficar lá não...

P/1 – Assustado por que?

R – Porque a minha atividade de Segurança do Trabalho também tem atuação como Bombeiro, né, então a gente atendia as emergências e a gente fazia treinamento. Primeira que fui ver o treinamento, que eu vi o pessoal fazer o treinamento, que era apagar fogo no maracanã; tem um lugar que é o campo de treinamento, que eles botam fogo e a gente vai apagar, é treinamento mesmo para combater incêndio. E tem um treinamento que se chama “combater o fogo no maracanã”; maracanã porque é um tanque grande, tem relação com o Maracanã aqui. Por isso que chama maracanã. Um tanque grande, ele botam gasolina, botam diesel, botam combustível lá dentro e mete fogo e você vai apagar. E aí apaga contra o vento. Contra o vento é o seguinte: o tanque é baixinho, né, não é tanque alto, ele é baixinho, e... contra o vento o fogo fica assim, a gente entrava com as mangueiras, né, para se proteger e combater o incêndio e abaixar aquele fogo e você entrava contra o vento. Então o fogo... eu fiquei olhando o pessoal, eles entraram, o fogo, eu só via fogo e o pessoal no meio do fogo. Eu falei: “Não, vou embora, não vou fazer isso aqui.”(riso)

P/1 – E fez?

R – Sim, depois... hoje, muito tranqüilo.

P/1 – Teve que fazer!

R – Não, mas a gente perdeu o medo. Que é um pouco isso, né, você... as técnicas e o conhecimento que você vai tendo nessa coisa, você perde o medo. Até porque não tem risco, né, se você ficar tranqüilo não tem risco nenhum.

P/1- Aí, quando você terminou esse curso você foi para onde depois desses seis meses?

R – Aí eu voltei para São José dos Campos. Aí fui comecei a trabalhar, a Refinaria ainda não tinha entrado em operação.

P/1 – E qual era a sua função?

R- Essa mesma, auxiliar de segurança. auxiliar de segurança, o que que ele faz? Ele atenderia as emergências; seria um tipo Corpo de Bombeiros e também atua na prevenção, né, você vê as áreas, você faz ronda na área, você cuida dos equipamentos de combate a incêndio, emergência de combate a vazamento de gás, tudo isso, então a gente cuida disso. A rotina nossa era essa de... liberação para trabalho. Por exemplo, vai ter um trabalho numa área lá, que o cara vai soldar uma linha que passa gasolina ou que passou gasolina ou vai fazer qualquer trabalho a quente; que a gente chama trabalhar a quente é qualquer coisa que gere fagulhas que tenha risco de poder dar um incêndio ou uma explosão. Então a gente acompanha isso também, você mede qual é concentração de gás, tem todo um trabalho técnico. Lógico que é muito mais amplo do que isso, mas a minha atividade enquanto auxiliar de segurança era mais essa coisa da prevenção e do cuidar dos equipamentos, manutenção de equipamentos de combate de prevenção a incêndios: extintores, hidrantes, toda essa coisa e a gente operava os caminhões, né, os caminhões de bombeiro;

P/1 – Aí você ficou lá quanto tempo, como é que era?

R – Eu fiquei 79, aí entrou em operação, a gente acompanhou toda operação, instalamos todos os equipamentos de segurança na área, né, a gente trabalhou bem no começo da obra antes de entrar em operação, então todo equipamento que foi instalado na área a gente é que fez, né, extintores, mangueiras, hidrantes e... e agente fez isso. Entrou em operação e eu saí de lá em 81. Aí eu consegui, tinha uma vaga em Campinas, eu pedi para ir para Campinas, porque eu gostei muito de Campinas e do pessoal que trabalhava lá em Campinas. Na Refinaria a gente fez uma amizade muito grande. Em São José também era bom, mas o problema é que era todo mundo novo, então é um pouco mais difícil para engrenar. Lógico que isso ia acontecer depois em São José, mas como a Refinaria de paulina já era uma Refinaria mais antiga, já estava com tempo, pessoal muito experiente e eu gostei, gostei do grupo que eu trabalhei lá e pedi para ir lá e fui transferido para Campinas. Eu fui antes de acontecer um grande acidente em São José dos Campos, né, que eu perdi dois desses amigos meus que entraram comigo morreram nesse acidente em São José.

P/1 – Conta para a gente um pouquinho desse acidente.

R – Eu não estava lá, né, como eu disse, eu tinha ido para Campinas, logo depois teve um vazamento de H2S; H2S é um gás altamente tóxico e letal. E numa madrugada, numa manhãzinha teve um vazamento desse gás num dos tanques próximo à casa de controle, lá na área operacional e o pessoal estava chegando, eles estavam fazendo troca de turno, então estava chegando o pessoal da manhã, né, para render o pessoal que trabalhou à noite. E nessa troca o pessoal... foi quando deu o vazamento e o pessoal notou o seguinte: começou a cair, as pessoas entraram numa área e as pessoas começaram a cair. Foi quando deu o alarme, né, porque o pessoal estava caindo, por que está caindo? Muitos inclusive morreram porque...

P/2 – Mas o pessoal funcionários ou...?

R – Funcionários, morreu uma senhora que era terceirizada também. Mas ela estava trabalhando dentro da casa de controle, os operadores que estavam dentro da casa de controle morreram lá dentro, porque as salas são pressurizadas, ela pega o ar de fora para pressurizar. E ela pegou ar e próximo ao tanque onde estava vazando H2S e jogou esse gás dentro da casa de operação, os operadores que estavam dentro e essa senhora que cuidava do café e da limpeza, também morreu dentro da sala de controle. E eu perdi os dois amigos meus que entraram comigo, desses 11.

P/1 – Em que ano foi isso?

R – 81, 81, logo depois que eu saí. Morreram 11 pessoas nesse acidente. Que era um gás muito... ele é letal muito letal, ele vaza, você percebe a primeira; dependendo da concentração, você consegue sentir o primeiro cheiro dele, que ele tem um cheiro característico de ovo podre. Depois ele neutraliza o seu olfato e aí neutraliza o sistema nervoso, para tudo, dá parada respiratória e tudo, é muito rápido, dependendo da concentração você às vezes nem sente o cheiro dele. E lá foi alta a concentração, ele é pesado, ele vazou e... mais pesado que o ar, desceu e foi quando a gente teve o maior acidente aí, lá em São José dos Campos.

P/1 – E em Campinas, como foi a nova fase do trabalho?

R – Ah, em Campinas era tudo que eu queria, trabalhar em Campinas, eu com esses seis meses a gente já conhecia o pessoal, se “enturmou”, né, e a gente tem ali que era uma coisa que me admirava muito ali que era a unidade que a gente tinha entre nós, a gente ali era uma família, né, a gente vivia muito tempo... o trabalho você vive uma parte muito grande da sua vida lá dentro e isso era muito bom e foi isso que me levou a Campinas, trabalhar em Campinas, porque a gente tinha essa coisa mesmo de companheiro, né, ali era isso, a operação com o meu setor de segurança, então a gente... e em tudo é isso, né? Trabalhar em turno é bom por isso, porque você conhece todo o seu grupo, você tem uma amizade, você conhece cada um, tem que confiar em cada um, por conta do risco que tem você depende do teu companheiro para... principalmente nas emergências e para a rotina mesmo, depende dele... até para segurança sua. Isso era muito em Campinas, lá na Replan eu senti isso muito forte, muito essa coisa da interação entre as pessoas, entre o pessoal que trabalhava ali, muito boa, muito grande. É isso que me motivou a ir para lá. Era uma coisa de trabalhar, aquela coisa de gostar de fazer aquilo, né, de estar ali, você se sentia bem, entendeu, foi sempre assim. Até que a gente teve uma greve em 83 lá. Aí começou a mudar um pouco. Essa greve de 83 quem fez foi a Replan, eu ainda não era do movimento sindical, né, fomos nós da Replan e o pessoal de Mataripe, foi uma greve importante, para mim foi a primeira greve mesmo que a gente enfrentou no governo militar, né, e que começou a dar consciência para a gente, né, consciência de luta... Foi aí que eu comecei a participar mais do movimento sindical, até então eu não participava do movimento sindical. Toda a diretoria foi caçada lá do Sindicato, me lembro dos diretores, ele passavam sempre pelo meu setor para conversar, para dar informação sobre as coisas que diziam respeito à gente, e eles foram todos caçados. O Sindicato sofreu intervenção e a partir daí que eu comecei a militar no movimento sindical, foi a partir de 83 que eu comecei a militar e fui para o Sindicato em 87. Eu participei da primeira gestão no movimento sindical foi em 1987.

P/1 – Só voltando um pouquinho: na sua opinião quais as vantagens e as desvantagens da Empresa naquela época?

R – Você fala vantagem o quê ? Vantagens....?

P/1 – O que você acha, em relação ao trabalho, ao salário, não sei, alguma coisa que... comparado com hoje.

R – Olha, para mim era tudo ali. Acho que a gente... como eu disse: foi o meu primeiro trabalho, um trabalho que eu gostei, né, lógico que teve toda a dificuldade no começo ali, para adaptar mas que aprendi a gostar. E que dava para mim tudo aquilo que eu queria de retorno para a realização profissional, tem uma fase minha pessoal aí, nesse meio aí de São José para Campinas que meu pai se separou da minha mãe, eu levei minha mãe e meus irmãos mais novos para morar comigo, assumi isso e a Petrobras me dava isso, me dava condição de dar uma... bancar essa coisa da minha mãe separada, dos meus irmãos que não tinham trabalho também, então isso me dava muita segurança e eu sentia segurança ali. E tudo que a Empresa me oferecia era muito importante para mim e para minha família também. Então fiquei um tempo aí de São José e minha transferência para Campinas, foi um pouco essa experiência de não ser casado, né, mas de assumir uma responsabilidade que era a minha mãe e minha irmã adotiva, a minha irmã caçula, meu irmão, os três moravam comigo; os quatro moravam comigo e a gente tocou. E acho que essa segurança que eu tive, né, a condição de poder cuidar da minha família, foi muito importante, né, principalmente num momento onde aconteceu tudo isso, acho que isso foi importante.

P/1 – E você via alguma desvantagem em ser empregado da Petrobras?

R – Não. Não via desvantagem nenhuma não. Acho que o ... Esse tempo foi melhor que agora. É importante dizer que acho que a gente era mais remunerado, melhor remunerado, entendeu, nessa época tinha toda essa unidade, eu acho que o trabalhador tinha mais, mais é... não é respeito mas mais condições, né, tinham mais condições, né, tinham mais oportunidades nessa época. E a Petrobras foi mudando, lógico que ela mudou! Nesse tempo todo a gente... teve períodos muito difíceis aí nesse meio, né, que começa a partir de 83, 84, 85, aí começa a gente ter que começar a enfrentar um monte de dificuldades, de ataques, a Empresa começa a sofrer ataques por parte do governo que começa em 83, a greve de 83 foi justamente um momento onde o governo já estava pensando na privatização e já começava a tomar medidas no sentido de diminuir direitos dos trabalhadores e lá em 83 o que estava mais focado era com relação ao pessoal novo que entrasse na Petrobras já com os direitos mais reduzidos, porque já tinha um pouco esse projeto de desmontar a Empresa, eu acho que começa aí. Eu falo daí porque foi quando eu conheci a Empresa, que eu vivi na empresa, né, nessa fase de 79 até 83. A gente não era tão organizado, não tinha organização, o movimento sindical ainda não estava enraizado, era muito dividido, era muito pulverizado, os sindicatos ainda estavam iniciando alguns deles, outros estavam com direções que não tinha muita preocupação de fato de defender interesses dos trabalhadores, né, e a partir de 83 é que a gente começa a organizar, eu acho que 83 foi um momento histórico na nossa organização, entendeu? Aí eu já falo um pouco da organização enquanto representante dos trabalhadores. 83 começa a criação da CUT, né, foi a partir daí que criou a CUT, que foi criada em 83 e começa a organização nossa interna, porque a gente não tinha, então... a gente começa a criar departamentos, começa a juntar os sindicatos, a discutirem juntos, isso foi fortalecendo para a gente pode defender a Empresa, né, porque o nosso papel é defender a Empresa enquanto uma Empresa pública e defender os interesses também dos trabalhadores, não é só corporativo dos interesses dos trabalhadores. Então, foi a fase que começa assim a ter ataques, a Empresa começa a ser atacada por políticas de diversos governos que tinham o objetivos mesmos de privatizar a Petrobras.

P/1 – Só para a gente voltar um pouquinho, porque a gente ainda vai passar por essa parte de Sindicato, de falar mais um pouquinho...

R – Já...

P/1 – É! Como era o seu dia-a-dia, como é que era a sua jornada de trabalho?

R – Eu trabalhava em turno, né?

P;/1 – E como é que era?

R – Então, nessa época a gente não tinha ainda... a constituição de 88 é que mudou a nossa jornada, foi aí que a gente começou a negociar a jornada de 6 horas. Mas nessa época, até 88 nós trabalhávamos em quatro grupos, 8 horas por jornada, né, fazendo revezamento, com folgas numa escala que tinha as folgas. O horário mais difícil era a 0 hora, né, que à noite sempre é mais difícil para trabalhar por contado cansaço e do sono, mas era muito gratificante, entendeu, essa coisa de você poder trabalhar nesses horários e uma coisa que eu sinto é que as pessoas que estão no turno não querem trabalhar de dia, ela acostumam com esse ritmo de vida. Lógico que tem um prejuízo social, né, a família é... você não está todo tempo, principalmente em dias está todo mundo normal, os trabalhadores normal,os normais, final de semana final de semana, sábado e domingo vão para a piscina, vão para a festa, às vezes a gente tinha que ir para a Petrobras.

P/1 – Os convencionais.(riso)

R – Natal, Ano-Novo, tudo isso tem um prejuízo social, né, de convivência social com a família e com a sociedade como um todo, né, porque você trabalha diferente. Eu lembro que eu morava num condomínio e as vizinhas ficavam preocupadas, porque às vezes durante a semana, segunda-feira eu estava em casa, às vezes terça-feira eu estava dormindo o dia todo, então me viam lá, falavam: “Mas esse cara não trabalha?” É que eu já tinha trabalhado à noite, enquanto eles dormiam, né? Mas o prejuízo desse regime é a convivência social e a família, porque você às vezes no Natal, você tinha que trabalhar na noite de Natal, estava todo mundo comemorando e você estava trabalhando. Lógico que eu seis que mais difícil é trabalhar na plataforma, que fica 14 dias lá, você fica embarcado, as vezes você passa o Natal e o Ano-Novo lá. A gente ia lá, era só 8 horas, mas você saía naquelas 8 horas. Por exemplo, do Natal, da ceia, você estava lá na Petrobras, aí a gente fazia lá uma ceiazinha nossa lá.(riso) É isso!

P/1 – E antes de você entrar para essa militância do Sindicato, você tinha objetivo de crescer, de chegar a chefe, quais eram os seus objetivos a longo prazo, em relação a Empresa?

R – Acho que todo ser humano tem essa vontade de crescer, de progredir, de melhorar profissionalmente, de melhorar, lógico, também economicamente, né, então, natural que eu tinha, eu tinha essa vontade.

P;1 – Como é que era o plano de carreira nessa época, na sua função, como é que funcionava?

R – A gente era auxiliar de segurança, né, e depois você tinha o inspetor de segurança e o sub-inspetor de segurança; o sub-inspetor e depois o inspetor de segurança, que era ali da... do nível médio era o máximo da carreira, né, que hoje, depois de 88 foi refeito o plano de cargos, hoje é o técnico de segurança, técnico I, II e III. E você tinha o tinha o TO, que a gente chama o técnico de segurança operacional, que ficava durante o dia. Mas a carreira nossa era essa, era auxiliar, sub-inspetor e o inspetor. Lógico que inspetor as vagas eram menores, né, eram poucas vagas então, tem uma disputa, lógico que tem uma disputa entre os trabalhadores para subirem.

P/1 – Mas uma disputa como?

R – Não é uma disputa, uma disputa desleal não, mas é uma disputa estudar, de querer se interessar, então isso...

P/1 –Mostrar trabalho.

R – Mostrar trabalho, né, tem muito disso. Lógico que sempre tem alguns que são “puxa-saco”, aí começa...(riso) É natural!

P/1 – E você, como é que você era?

R – Eu acho que eu não era “puxa-saco” não.

P/1 – Não?

R – Não. Não sei, porque eu para contar minha vida profissional, ela é um pouco diferente, eu interrompo a minha vida profissional na Petrobras por conta do movimento e da militância.

P/1 – Mas é... mas quando você interrompeu você estava aonde...

R – Mas eu quero, eu quero... que quero progredir.

P/1 – Você estava em que nível?

R – Eu entrei como auxiliar de segurança, saí para o movimento sindical como auxiliar de segurança, entendeu? E aí parou, lógico que para nesse... quando eu fui para o movimento sindical para a minha... porque eu fico no movimento sindical, me afasto da Empresa para exercer essa atividade e aí uma coisa que nos penaliza. Na verdade o dirigente sindical ele abre mão da sua vida profissional, né, penaliza você e penaliza a sua família, né? Você profissionalmente, família também, por conta do crescimento, porque todo mundo quer crescer, quer melhorar, quer melhorar suas condições de vida, né, então você... Na verdade a gente fez uma opção. Não reclamo disso não, porque é uma opção que eu fiz, né, só acho que a gente poderia ser visto de outra forma, né? Eu sinto que no passado, muito mais do que hoje, que o seu chefe, o teu gerente, o teu... ele te olha como um ser diferente. Mas isso é uma coisa que a gente administra.

P/1 – Me diz como é essa idéia de ser militante, de ser do Sindicato, como isso começou a surgir na sua cabeça, a partir de quando, como foi que...?

R – Foi a partir da greve de 83. Na greve de 83 ela foi muito difícil, né, foram seis dias de greve e...

P/1 – Que você participou?

R – Participei dessa greve, só que por conta da minha função eu fui liberado para ficar dentro da Empresa, né, participando da greve, mas dentro, por conta da segurança. No dia que parou a Refinaria, a gente foi ajudar a parar a Refinaria, porque tinha que parar com segurança, e foi a partir daí que eu comecei a me interessar por isso, a participar das discussões com o movimento sindical, então foi aí que começou a minha vida de militante mesmo.

P/1 – Mas antes de você começar essa militância você já era filiado ao Sindicato?

R – Já era filiado.

P/1 – Desde que você entrou você é filiado ao Sindicato

R – Desde de quando eu entrei, é. Eu não me filiei em São José dos Campos, porque o Sindicato ainda estava sendo construído, a Refinaria era nova, então, quando eu saí de lá ainda não tinha o Sindicato ainda, estava começando ali. Mas me filiei quando cheguei em Campinas, me filiei no sindicato em Campinas, que já tinha um sindicato, já... Aí já comecei a participar, né, participar das atividades, porque a gente tinha as assembléias, a gente tinha conversa com o pessoal do Sindicato que ia na área, né, então a gente já começou ali a militar.

P/1 – E você é filiado em qual sindicato?

R – Eu sou filiado no sindicato de Campinas.. hoje?

P/1 – Hoje, é!

R – Hoje nós somos é... hoje não é o Sindicato de Campinas, é o Sindicato unificado do Estado de São Paulo, que a gente unificou o Sindicato de Campinas com o Sindicato de São Paulo e de Mauá, então é um sindicato só. E sou filiado no Sindicato aqui do Rio de Janeiro também. Quando eu vim para cá, há 2 anos atrás, eu me filiei aqui também, então sou filiado a dois sindicatos.

P/1 – Eu queria que você começasse a contar para a gente, quando você começou a participar ativamente mesmo, quando você resolveu abrir mão da sua carreira para se dedicar ao Sindicato, como é que foi?

R – Isso foi em 92. 92 eu saio liberado, né, porque precisava diferenciar um pouco o dirigente sindical que é liberado e o dirigente sindical que trabalha na base, né, mas eu fiquei de 87 até 2002 já era... já comecei a militar aí mesmo como, como diretor do sindicato, mas eu trabalhava na base, quer dizer, não abri mão da minha função, eu exercia a minha função e meu trabalho sindical dentro da área.

P/1 – Lá em Campinas?

R – Lá em Campinas, na Refinaria de paulina. Tem essa diferença! Quando eu me desligo mesmo da Empresa da minha atividade no dia-a-dia, foi a partir de 92, que eu saio, sou liberado pela Empresa para fazer a atividade. Mas eu entrei em 87. Na primeira participação minha como diretor foi em 87, mas eu era diretor de base, aí eu não abandonei, eu continuei...

P/1 – Diretor de?

R – De base que a gente chama. Diretor de base é aquele que é o diretor, mas trabalha, faz a sua jornada, né, e faz o trabalho sindical lá dentro. Que é importante isso, né? E aí você concilia a sua atividade... E aí uma coisa que para nós é muito importante, é que o diretor do Sindicato ele tem que ser melhor que os outros, ele tem que ser profissionalmente melhor do que os outros, entendeu, não pode... Então é uma coisa que a gente sempre colocava para o nosso pessoal da diretoria, que você tinha que atuar, você tinha que exercer a sua função, tinha que ser muito bom naquilo, entendeu? Até porque seria ruim um diretor de Sindicato que não era um bom profissional, então isso sempre um lema nosso de que você tem que ser melhor do que os outros, profissionalmente. Lógico que você é... dentro da área você está muito próximo do gerente, das questões ali dentro, você está sempre fazendo os embates com o seu chefe, com o gerente da área, porque você vê uma coisa errada; eu me lembro de um movimento que nós fizemos lá em Campinas, que foi assim: nós voltamos de uma folga grande,um dia e era o final do horário de verão e o nosso grupo é... quando nós voltamos; aquele tempo a gente tinha uma folga, a gente chamava...uma única folga por mês, que era grande, que pegava sexta, sábado, domingo e segunda, a gente voltava na terça... Eu lembro quando a gente voltou na tarde, aí tinha uma orientação para nós de que no outro dia a gente ia ter que entrar 1 hora mais cedo por causa do horário de verão. Aí a gente falou: “Ué, que que a gente tem que ver com isso, né, com horário de verão?” Porque vai mudar o horário de verão você tem que entrar mais cedo? Eles colocavam que era para pagar a hora , 1 hora que a gente teve quando mudou. “Ué, mas isso é absurdo! Eu não tenho se mudou lá e eu... mudou o horário e eu estava trabalhando, em vez de trabalhar as 8, trabalhei 7, né, agora vou ter que repor 1 hora por causa do horário de verão?” Aí a gente... eu já era diretor do Sindicato, nós já conversamos, porque veio só o seguinte, a orientação era: “Amanhã o ônibus, a tua condução vai te pegar mais cedo, 1 hora mais cedo.”-“Hã, não vamos!” Aí, já conversamos com o pessoal e “ninguém vem no ônibus, pode passar o ônibus” e já comunicamos, aí fizemos uma conversa lá dentro da área assim, muito rápida, e comunicamos o “Cotu”, que era o coordenador de tudo, que era o cara que... fora do horário administrativo seria o gerente da Refinaria naquele momento. Comunicamos o “Cotu de que nós já tínhamos fechado de que não viríamos mais no ônibus, podia passar os ônibus, mas nós não iríamos vir, nós iríamos vir no nosso horário normal. E a gente já se preparou, já conversou com todo mundo, cada um pega; ”Vamos ó... você tem carro, então passa na cada de...” Já organizamos isso! Aí eu lembro que me chamaram, né, aí já... até o final do turno a gente ia sair às 11:30 h da noite, já veio a orientação: “Não, vai passar no horário normal.” Mas é... tipo assim, são coisas que você faz enquanto diretor dentro da área, que bota você sempre numa relação de embate com as coisas que acontece no dia-a-dia. Então, o diretor de base é um cara que está sempre exposto a isso, então isso tem o reflexo também na sua vida profissional: você não recebe mais letra, você não é promovido...

P/1 – Letra? o que seria letra?

R – Letra seria o nível. Você aumenta por mérito, aumenta por mérito. Você não... lá dentro você não tem... eu fiquei 13 anos sem receber uma... Eu saí em 92, nunca tive aumento por mérito! Por exemplo, a gente tinha no passado uma coisa que era aumento por mérito, que era 12, 18, 24 meses, né? Normalmente a gente nunca tinha de 12, dirigente sindical nunca tem de 12. Não é porque você é um mau funcionário, não é porque você é um mau profissional. É porque você está sempre em atrito ali dentro, né, atrito com teu chefe, com teu chefe imediato, né, então ele sofre muito, o diretor de base ele vive esse embate constantemente, dia-a-dia, né, e isso tem um prejuízo profissionalmente. E ele não abandonou a profissão dele, ele está ali, ele exerce a sua função, ele é tão bom quanto, ou até melhor, porque tem que ser, a gente acha que tem que ser melhor do que os outros. Não tem porque ele ser penalizado por conta do que ele faz a defesa de coisas que ele acha que não é daquele jeito, ou ele defende alguns interesses que é do coletivo, não é dele, né, e ele é perseguido, e ele sofre um prejuízo profissional.

P/1 – Que tipo de perseguição?

R – Essa. por exemplo. que eu te disse, do aumento por mérito, você não tem! Eu fiquei 13 anos sem ter aumento por mérito, né, e as pessoas têm. Que faz parte da carreira sua, faz parte da sua prevenção. Mesmo que você não mude de função, você pode, de tempo em tempo, ir melhorando a tua renda, né, e isso vem através desse incentivo que é esse aumento por mérito. Hoje é diferente! Hoje mudaram, hoje fica a cargo do chefe; pior ainda do que no passado! Porque no passado você não tinha nem com 12, nem com 18, você tinha com 24, com dois anos você teria que ter, né, embora também criavam muitas situações para você não ter nem com dois anos. Isso aconteceu muito. Hoje é pior! Porque hoje é o gerente, é... É o gerente que... depois de 95 que começou isso, que acabou com essa coisa dessa metodologia de 12, 18, 24, o gerente dá para quem ele acha que tem que dá, entendeu? Tem um tal de GDP, que é uma avaliação que eles fazem lá, mas fica muito na mão do gerente. Se você... Se ele não for muito com a tua cara, não vai ter. É assim! Então esse tipo... é isso que eu falo que é um de... não é perseguição muito forte, mas de dificuldade de uma pessoa que é dirigente sindical, de poder ter um crescimento profissional. Não são todos não, não se assuste porque não são todos, temos gerentes que têm tido pelo menos uma percepção disso tudo, tem tido um bom diálogo, né? Mas uma parte deles trata a “ferro e fogo”.

P/2 – Mas aí, como é que o Senhor percebia relação de vocês sindicalistas, com os outros funcionários da Petrobras, os colegas de trabalho?

R – Olha, a gente é eleito, né, então eles depositam na gente toda confiança e acredita e essa relação é muito boa, eles te elegem para isso, né, e ele vota em você. De tempo em tempo você é eleito para cumprir esse mandato. Na verdade, delegam para você uma coisa que vai cuidar de interesses, interesses outros corporativos. É lógico que também é questão política, né, maior que a questão corporativa. Mas essa relação é muito boa, muito importante. Lógico que a gente tem dificuldades, tem sempre críticas e... o movimento sindical é isso, né, você está aqui, você sofre pressão de todos os lados, né, da base que te cobra, ela quer ver resolvido, da direção da Empresa, que também te pressiona muito, então você fica ali no meio do conflito. Agora, Sindicato somos todos! Lógico que a gente tem conversado muito isso com os trabalhadores, eles entendem que Sindicato somos nós, a direção é mais para poder dar os encaminhamentos e dar as direções que tem que ser dadas num determinado assunto.

P/2 – E quais eram as reivindicações mais comuns dos funcionários que levavam vocês e iam discutir?

R – Bom, o dia-a-dia, tem muitas questões do dia-a-dia, agora, no passado, mais do que no passado já bastante distante, a principal reivindicação é a questão econômica, né, a questão do reajuste e de ganho real. E de um tempo para cá eu acho que o movimento sindical ele saiu dessa coisa economicista, né, e foi para outras áreas importantes, como por exemplo, condições de trabalho, área de segurança que para nós da Petrobras, para quem trabalha no setor do petróleo, sabe do risco que é e o que que isso pode trazer. Tanto é que muitos acidentes, esse que eu citei de São José e muitos outros que foram acontecendo, a gente teve perda de vidas, né, de pessoas que morreram nos acidentes. Então essa é uma preocupação muito latente dentro da categoria, por conta do risco que ela convive. É um risco inerente ao setor petróleo, ao setor petroquímico, mas que na nossa avaliação ele é potencializado por conta de políticas... da forma como a política é tocada. Uma política dentro de uma empresa que se ela não tiver uma preocupação com isso, esse risco é potencializado, né? Então, essa é uma grande reivindicação dos trabalhadores. Então, são essas as principais, assim, talvez as mais importantes, depois tem “trocentos”. Se você pegar uma pauta de reivindicação, tem cento e poucos itens de reivindicações, né? Então, vai das mais... do dia-a-dia, das menores, até as mais importantes.

P/1 – Certo. Então o seu primeiro cargo foi como diretor.

R – Diretor de base.

P/1 – Em?

R – Em 1987. Diretor de base; que era assim: eu era da diretoria, né, mas não era da executiva. Então meu trabalho era ali... Meu trabalho qual era? - diretor de base era estar ali, pegar as coisas do dia-a-dia, essa conversa mais direta com o trabalhador, ir para as reuniões da direção, levar todos esse sentimento, essas reivindicações, então era esse trabalho e procurar resolver as questões do dia-a-dia. Essa história que eu contei do horário verão, é um exemplo de coisas que você faz lá, que o diretor de base faz, sem ter que fazer muita... né, não tem que fazer reunião, não tem que fazer nada, é uma coisa, é uma ação no local do trabalho, entendeu? Esse é o trabalho do diretor de base e essa era a minha função. Eu comecei na área de segurança, porque eu sou da segurança, eu entrei na área de saúde e segurança do trabalho. Então minha secretaria era essa no Sindicato, eu estava atuando mais nessa área, então Cipa, condições de trabalho, essa era a minha atuação enquanto... no início do meu trabalho no movimento sindical.

P/1 – O que que é Cipa?

R – Cipa é Comissão Interna de Prevenção de Acidente. Cipa é... Está na NR-5, ela cria uma comissão que analisa acidentes, trabalha na prevenção, né, das condições de trabalho, faz inspeções dentro do local do trabalho, né? Então Cipa é isso, é uma comissão de prevenção de acidentes.

P/1 – Agora deixa eu me localizar: você falou que o seu primeiro cargo foi em 87.

R – Primeiro cargo.

P/1 – Mas você quando começou a pensar em sindicato na greve de 83.

R – De 83. Foi a partir daí que eu comecei a...

P/1 – É. E de 83 a 87 você era só militante, vamos dizer assim.

R – Só militante. Não era da direção.

P/1 – E durante...

R – Ia para as assembléias fazia... mas não era um militante; eu era um militante, não era um dirigente.

P/1 – É, mas você chegou durante esse tempo de 83 e 87, você participou de algum... como militante, de algum movimento grande?

R – Sim!

P/1 – Fala para a gente um, dá um exemplo.

R – Olha, todo ano a gente tinha... Lógico que... Depois de 83 a gente costuma dizer que 83 tinha aquele medo de fazer greve na Petrobras, né, não era uma coisa comum. A greve de 83 que aconteceu em Campinas e aconteceu em Mataripe, ela foi o fomento para despertar a consciência dos trabalhadores e foi um processo de construção, de formação, foi a partir daí que a gente começou a organizar, se organizar melhor nacionalmente, porque é uma categoria nacional, não é um trabalho fácil, né, então aí começou a nossa participação mais direta, Campinas principalmente, porque a Replan, com o evento dessa greve, ela se destacou no movimento sindical nacional e até internacional, porque ela teve repercussões, essa nossa greve, tivermos muitas demissões na Replan e tivemos também em Mataripe e ela foi o fomento da nossa organização. Então, a partir daí começou a se organizar, lógico que o Sindicato sofreu intervenção, nós tivemos que retomar o Sindicato, começou o movimento que a gente chamou “o movimento de resistência”, em Campinas, onde a gente começou a reunir todo o movimento organizado, o ABC; o ABC... os metalúrgicos tiveram uma participação também nesse movimento nosso em 83; tanto é que eles também sofreram intervenção por isso, né? E aí começam a criar a CUT, a gente começa a participar dentro da CUT e todos os anos a gente tinha os movimentos. Então, a partir de 83 e principalmente de 87 para frente, começam a ter muitas greves dentro da Petrobras, né, muitas greves. A gente perdeu aquele medo, porque tinha isso. Porque nós éramos tratados como uma coisa assim: segurança nacional, não pode ter greve, não pode ter isso, não pode... Então, todo uma pressão ainda do resquício da ditadura, do militarismo, né, que está empreguinado, né, ainda tem... eu sinto que ainda tem um pouquinho dentro da Petrobras ainda desses resquícios aí da ditadura, né? Lógico que hoje, para a nossa felicidade, é muito pequeno, não tem... mas, você ainda percebe às vezes no comportamento. Então, a gente todo ano fazia movimentos e quais eram os nossos movimentos aí? Fazíamos “panelaços”, assembléias na porta da refinaria, atrasávamos a entrada, então, foi uma coisa assim, de 83 para frente começa a ter muito movimento dentro da Petrobras; reivindicatório, político, participações em greves gerais, que eram... é uma greve mais política, né, sai do corporativismo nosso da categoria de pedir aumento dos nossos salários, mas por questões políticas maiores, como defesa da Empresa, né, a atuação que nós tivemos junto ao governo para... principalmente ali na... quando o Collor ganha as eleições, que ele quis desmontar a Empresa, ele fez ao que chamou de “reestruturação” da Petrobras, ele começa.. ele, ele privatiza, ele extingue empresas do sistema Petrobras. Então, esses movimentos que foram impulsionados por nós, eu acho que começa ali essa consciência de que nós tínhamos que nos organizar para defender a Empresa, para defender os trabalhadores, mas também, principalmente, defender a Empresa como uma Empresa pública, uma Empresa estatal, que... acho que vocês conhecem a história que sofreu nessa década de 80, 90, né? Finais da década de 80 e a década de 90, um ataque muito forte por conta do governo, no sentido de desmontar a Petrobras e eles vão tomando parte. Lógico que essa nossa resistência é que barrou, mas o Collor fez muitos estragos na Petrobras, né, ele extinguiu empresas, privatizou o setor petroquímico, foram muitos trabalhadores para a rua, muitos demitidos, a Interbras e a Petromisa foram extintas. Interbras uma empresa altamente lucrativa, né, e foi extinta e todos os seus trabalhadores foram embora para rua, perderam, do dia para a noite ele acabou com a empresa e famílias foram embora para casa. No outro dia, mas saíram sem emprego. E a gente conseguiu voltar agora, que eu acho que é importante é afirmar que nós voltamos esses trabalhadores, estamos voltando, voltamos mais de 400 trabalhadores já, lá do Collor, depois de 13 anos nós conseguimos volta-los à Petrobras agora, quer dizer, está reparando uma injustiça que foi cometida. Eu acho que é tudo isso, essa é a nossa história de luta e de organização. Que começa para mim, começa em 83, para mim começa em 83, porque foi quando eu começo a atuar e de fato a nossa organização, hoje a Federação, a Fup, é fruto desses movimentos, de pessoas que foram pensando nessa coisa da organização nacional, né? E a Fup é a realização desse sonho, de ter os trabalhadores hoje, petroleiros do Brasil, que não são só petroleiros da Petrobras. Com a quebra do monopólio em 97, começam a entrar empresas privadas também e a gente começa a organizar esses trabalhadores, não só da Petrobras.

P/1 – E como surge na sua cabeça a idéia de virar um diretor, um membro mais atuante do Sindicato, como foi isso, como isso surgiu na sua cabeça, foi convite de alguém?

R – Foi.... falta de opção.(riso)

P/1 – Como assim?

R – Eu brinco que foi... não, mas é brincadeira! Eu acho que é uma coisa natural. Você vai militante, vai exercendo a sua atividade, né, e a gente não pode ter quadros permanentes, acho que a gente tem que ter uma renovação de quadros, esse processo de renovação de quadros que não é fácil, né, porque não é fácil uma pessoa assumir o Sindicato. Quando você vai convidar as pessoas: “Pô, vamos lá para o Sindicato, vamos montar uma chapa lá, vamos...” , as pessoas elas... não é que têm medo, eu acho que não é questão de medo, mas elas sabem da dificuldade que é e de abrir mão do seu profissionalismo ,né, e tem a sua família, né, então a gente tem uma dificuldade ______, agora, foi isso, foi essa renovação de quadros, a gente vai assumindo. E eu venho mesmo para o movimento assim, saio da Petrobras e vou para o Sindicato aí na época em que o Collor fez aquele incentivo e muita gente saiu, a Petrobras perdeu muitos profissionais por conta disso, foi muito ruim essa saída precoce que o Collor fez com a Petrobras, e que muitos profissionais que tinham todo conhecimento da Empresa, o conhecimento técnico, a memória da Empresa, eles no Collor, “Vamos embora?”, “- Vamos!”, por medo inclusive do que o Collor podia fazer, privatizar, né, então saíram, foram embora. O movimento sindical também perdeu gente aí. Foi quando eu vim para o movimento sindical, porque também muita gente que está lá no Sindicato também saíram do... que estava na Empresa, também saíram também e aí tiveram que ser substituídos. Foi quando eu venho para o... Eu saio liberado para o Sindicato de Campinas, ainda de Campinas.

P/1 –Por livre e espontaria vontade?

R – Do compromisso, né? Do que a gente foi _______, que precisava ter alguém, precisava ter alguém, então você vai.

P/1 – Aí você começou como diretor, foi isso?

R – Diretor.

P/1 – E foi de 87 a ...?

R – Eu fiquei de 87 a 92 dentro da base, diretor, saio como secretário, né?

P/1 – Mas ficou sempre atuando durante todo esse tempo na diretoria, vamos dizer assim.

R – Sim! Eu era diretor, fazia parte de uma direção, nós éramos em 24 lá em Campinas. O tamanho da direção é 24, tem mandato de 3 anos. Então, tiveram as eleições, eu não fiquei de 87 direto. Eu fui eleito em 87, depois em 90 teve nova eleição, fui reeleito, depois em 93, né, então... de 3 em 3 anos, não é um mandato que... Então fui sendo reeleito, né, mudei de funções, aí fui para o Sindicato, depois assumi o Sindicato como coordenador do Sindicato também, por dois mandatos, em Campinas.

P/1 – E como foi essa sua passagem no Sindicato?

R – Olha, para mim muito rica, né? Muito rica porque quando você... Uma coisa que a gente tem que diferenciar é que o diretor de base ele está muito ligado ali, o dia-a-dia da base. Quando você sai para assumir o Sindicato, você fica fora da empresa, aí você tem uma abrangência, porque você começa a participar de outras categorias, né, nesse período eu vou para a direção da CUT em São Paulo também, sou diretor do Sindicato e sou diretor da CUT, né, começo na minha região a organizar outras categorias, a participar de mobilizações, a ajudar os outros sindicatos. Então você começa a ter um... Abre um leque de conhecimento, do movimento sindical como um todo, entendeu, e você aprende muito e você faz cursos para poder desenvolver a sua atividade, cursos na área de sindicalismo, prática, gestão, concepção e prática sindical, área de segurança, né, as questões de segurança, tem um leque muito grande de formação que você começa a participar. E começa a participar também do movimento como um todo, porque o que a gente defende é isso. Nós isolados, só nós, sozinhos, não vamos para lugar nenhum, então você precisa organizar também outras categorias, outros trabalhadores, para poder fortalecer lutas outras que são de interesses do país. Greves gerais que aconteceram foram organizadas dessa forma, né, que aí era contra uma política, política contra o FMI, ou política é... defender uma política do salário mínimo, reajuste do salário mínimo, quer dizer, você começa a ter um leque mais amplo do que aquilo dentro da seca, dentro da uma refinaria. Então, a experiência que eu tive e esse crescimento, foi em função de começar a ter outras... a ver outras coisas, a participar de outras categorias também, isso foi muito importante e juntar isso tudo, né? A nossa greve de 95; nós ainda não chegamos ainda, mas eu vou falar, o que foi muito forte para nós, para poder sustentar uma greve de 32 dias com um ataque ferrenho do governo, foi essa solidariedade do movimento sindical como um todo. Então a gente recebia lá alimentos, por exemplo, dos acampamentos do MST, dos rurais, do Sindicato dos rurais lá de Sumaré, apoio dos metalúrgicos, vieram caminhões de cesta básica, porque o pessoal ficou 32 dias sem salário, sem nada, entendeu? E o fato não é porque trouxe uma cesta básica, mas o fato da solidariedade desses trabalhadores de outras categorias, foram importantes para a gente poder sustentar aquele movimento.

P/1 – E na sua opinião, durante esse tempo que você ficou ligado a diretoria lá do Sindicato, em Campinas, qual foi o maior ganho, a maior conquista do Sindicato e a maior perda?

R – Eu não vou falar conquista do nosso Sindicato, porque aí a gente já trabalhava assim: “conquista dos petroleiros”, né? A maior conquista que para muitos era utopia, né, que era uma bandeira antiga nossa, foi em 88, a jornada de 6 horas para quem fazia turno. Porque ninguém acreditava que a gente ia conseguir, foi uma luta nossa muito, muito ferrenha a jornada de 6 horas para quem fazia turno, porque era muito difícil você trabalhar em turno uma jornada de 8 horas, muito estressante. Essa foi a nossa conquista, porque muitos achavam que isso era uma utopia, mas a gente vivia nessa utopia e a gente conseguiu, né, que em 88 a constituição criou a jornada de 6 horas para turno ininterrupto de trabalho. Essa foi para mim assim, a maior conquista. Lógico que tivemos o retorno do nosso pessoal que foi demitido em 83, né, nesse período acho que foi uma coisa assim... foi a primeira experiência nossa de luta, porque a gente fez a greve, foi demitido o pessoal, e a gente depois de 2 anos aí consegue, através de ações institucionais e mobilizações a gente consegue voltar esses trabalhadores que tinham perdido o emprego por conta de uma luta, entendeu? Então foi uma injustiça que a gente também , então foi uma das primeiras conquistas nossas também. Mas a maior conquista para mim foi a nossa jornada, a jornada de 6 horas.

P/1 – Aí, depois de 92 você saiu, voltou para o Sindicato de Campinas e foi fazer o quê?

R – Não, não saí de Campinas em 92, eu saí da refinaria para ficar no Sindicato, eu passei a ser o diretor liberado. Aí fiquei em Campinas meu mandato faltava 1 ano para terminar, terminou em 93, aí fui reeleito e assumi como coordenador do Sindicato, né, em 93.

P/2 – Mas como é esse processo, quem te libera?

R – A Petrobras. Isso está no acordo coletivo.

P/2 – A diretoria da Petrobras.

R – Não é a diretoria. Não é libera porque quer liberar não, isso faz parte de uma conquista que nós tivemos, onde nós temos dentro do nosso acordo coletivo a liberação. Nós somos liberados por acordo coletivo. Então tem liberação, a Empresa ela mantém o seu vínculo empregatício, né, a gente só não exerce a função lá dentro, então sou liberado, recebo o salário da Petrobras, vivo do salário da Petrobras, não ganho do movimento sindical, o movimento sindical não paga ninguém para isso, quem banca a gente, quem está bancando é a própria Empresa, isso está dentro do nosso acordo que foi renovado ano a ano, todo ano a gente renova. Tivemos perdas, a gente tinha mais liberados no passado, né, fomos perdendo liberados, a Empresa foi diminuindo, a gente começou a recuperar isso de novo, agora nos últimos 2 anos a gente começa a recuperar esse número de diretores liberados pela Empresa. Mas quem banca é a Empresa. Eu sou liberado por ela, meu vinculo é com a Petrobras, ela me paga o meu salário para que eu exerça a função.

(Fim da fita HV/2004-09-01)

P/2 – Então, como foram as suas expectativas iniciais em relação a sua liberação em 92, para trabalhar só em função do Sindicato?

R – Como toda a coisa, a experiência nova, um desafio novo, você sempre fica... sempre achando se você tinha capacidade para fazer isso, sabe, é uma coisa assim que é um desafio que você topa, né, mas você fica sempre naquela avaliação: “Pô, será que vai dar certo?” Porque era uma nova experiência. Sair da Empresa, sair de dentro da fábrica, assumir uma responsabilidade, porque é muito grande a responsabilidade, né, você está no Sindicato e você tocar a política do Sindicato. Porque aí você é o responsável direto por aquilo. Então, foi um desafio, foi uma experiência que teve dificuldade no início, lógico que você tem porque você está dentro de uma área, você trabalha num setor, você exerce a sua função ali, o seu trabalho enquanto profissional e o seu trabalho enquanto Sindicato é muito tranqüilo, né, porque você, você domina aquilo ali dentro da área, você conhece, né? Ir para uma coisa que você ainda não conhecia, então você... Isso sempre gera um pouquinho de... um friozinho na barriga, “Pô, será que eu vou conseguir isso?”, então... Mas foi, foi um desafio importante, eu comecei a ver, a sair fora, a ir para a CUT, né, via... Eu falava “CUT, CUT”, mas... Aí comecei ir para lá, e no ano seguinte vou para a direção da CUT do Estado de São Paulo, a CUT em São Paulo, assumo outras atividades que não eram só de petroleiros, mas atividades também de tocar o trabalho sindical com outras categorias, condutores, rurais, metalúrgicos. Então você começa a conhecer, começa a aprender, começa a ter uma experiência que é muito rica, né? Foi importante isso. O início foi difícil, o início era difícil até de você chegar, por exemplo, numa assembléia para falar, você ficava sempre com aquele receio: “Pô, vou falar para esse monte de gente, eu não conheço esse pessoal daqui, vou...”, “Oh, vem aqui numa assembléia dos metalúrgicos.”, “- Vem aqui numa assembléia dos condutores.” E você é sempre recebido porque as pessoas, os trabalhadores, querem ouvir, querem te ouvir, então fica sempre aquela expectativa. E você sempre fica falando: “Pôxa, será que eu vou dar conta desse recado?” Então essa dificuldade é natural, mas que a gente vai superando e vai aprendendo e vai conhecendo outras áreas e aí, depois que você conhece... Porque o medo é daquilo que você não conhece, né? Então, o início foi assim.

P/2 – E qual que era o cargo que o Senhor ocupou nesse momento?

R – Quando eu saio liberado em 92, ainda tinha mais uma data, eu vou para secretário, secretário-geral do Sindicato e termino o mandato como secretário. E aí a gente tem novas eleições, aí a gente tinha chapa única, era uma única chapa, eu aí assumo a coordenação do Sindicato de Campinas.

P/2 – Em Campinas.

R – Em Campinas. Por um mandato de 3 anos, de 93 a 96.

P/2 – Certo! E aí você se dedica exclusivamente a isso. Você pensa que conseguiu fazer melhor, quais foram as vantagens para os trabalhadores de Campinas, com a sua transferência integral para o Sindicato?

R – Olha, eu acho que o que a gente fez foi dar continuidade ao trabalho que os meus companheiros fizeram antes de mim, né? Eu acho que a gente correspondeu com isso, de dar continuidade desse trabalho. Eu acho que manter os petroleiros inseridos num contexto dentro da política municipal, dentro da política estadual e nacional, tanto em relação aos trabalhadores petroleiros dos outros estados, quanto com relação aos outros trabalhadores, é... a relação que a gente teve com o movimento sindical de outras categorias. Então, não foi nada de anormal, foi dar continuidade a essa política, é... acho que a gente fez isso, acho que a gente conseguiu dar continuidade a isso... Não sei, acho que a gente... Não fiz nada de extraordinário, né, a gente seguiu os princípios que a gente tinha enquanto um movimento sindical cutista, de classe e de luta e a gente deu conta do recado.

P/1 – E em relação a diretoria da Petrobras, o Senhor percebeu alguma mudança durante esses anos, algum progresso no convívio entre vocês sindicalistas e a diretoria ?

R – Olha, a direção da Empresa, eu faço aí um paralelo com o movimento sindical. Eu acho que a gente evoluiu, o movimento sindical também evoluiu, né, e essa relação também mudou. Essa relação, ela não foi fácil. Nós estamos hoje... Hoje eu posso dizer que a gente tem um respeito muito maior por parte da direção da Empresa. Isso não era no passado. Acho que ao longo desses anos e a greve de 95, porque quando tem a greve de 95 eu estou na direção do Sindicato de Campinas, né, e ali foi um embate muito duro, muito difícil, onde tinha uma política governamental que colocavam para a Empresa o que que ela tinha que fazer e os gerentes da Empresa seguiam a orientação nacional do maior acionista que é o Governo, da Empresa. Então foi um período... A década de 90 foi um período onde a gente teve um ataque muito ferrenho a direitos, né? Compras de direitos, a gente teve que desempenhar uma luta junto com a categoria, para segurar isso. E posso dizer que os petroleiros seguraram a barra. Através a nossa luta a gente conseguiu manter os nossos direitos; nós não conseguimos avançar, não conseguimos, né, mas se você fizer um paralelo com outras categorias que perderam direitos nesse período, perderam direitos. E a coisa se intensificou a partir de 95, quando a gente fez esse movimento, a greve nossa de 32 dias. A partir dessa greve a... nós sofremos um ataque, a categoria sofreu um ataque muito duro do Governo e a própria Petrobras e aí os gerentes da Petrobras; porque não é a Petrobras, a gente fala Petrobras; Petrobras é a Empresa lá. O grande problema foi a postura gerencial da direção da Empresa, né, que seguia o catecismo, que seguiu o que o Governo ditava. E aí foi o período talvez mais difícil que a gente teve; pelo menos eu tive, enquanto na direção lá de Campinas, né, e começa em 95. Foi uma resistência! Eu acho que nós “seguramos o rojão” aí. E a gente começa agora, né; eu estou entrando aqui na frente, mas... A gente agora começa a buscar as perdas e as injustiças que foram cometidas nesse passado. Foi aí também nesse período que teve a quebra do monopólio. Uma resistência que nós tivemos, né, mas infelizmente o Governo Fernando Henrique quebra o monopólio da Petrobras, né, e abre o setor petróleo para as empresas privadas que começaram a chegar no Brasil e entrar no mercado e entrar no setor petróleo. Mas eu acho que a gente conseguiu... O principal foi “não a privatização da Petrobras”, não conseguiram privatizar. Quebra o monopólio; porque a seqüência era essa, lógica era você vai diminuindo, o Collor começa a quebrar o sistema Petrobras, ele era muito amplo, né, aí ele começa... Aquilo que eu contei, que ele privatiza a empresa do setor petroquímico que era do sistema Petrobras, extingue empresas como a Intebras e a Petromisa e vai diminuindo esse tamanho da Petrobras, para poder facilitar a privatização. Aí vem o Fernando Henrique e quebra o monopólio e começa a entrar empresas do setor privado, que iriam disputar o mercado com a Petrobras,né, as multinacionais entraram aqui para isso. E isso tinha o objetivo de enfraquecer, para poder depois ser mais fácil. Qual é a lógica para você poder privatizar uma empresa? A lógica que foi usada foi aquela de primeiro você atacar o trabalhador, porque um trabalhador que começa a perder direitos, começa a ser tratados de uma forma como foram tratados em várias empresas, ele começa a perder o interesse, para depois ele começa a perder o interesse de defender a empresa. Então o primeiro ataque é aí, é nos direitos, nas condições de trabalho, para você desmontar essa resistência. Mas a gente já resistiu, embora tivemos algumas perdas como a criação da Transpetro, que separou a Transpetro da Empresa, o transporte, a parceria que foi feita na Refap, na Refinaria do Rio Grande do Sul com a Repsol, onde a refinaria foi... Essa parceria foi a troca de ativos entre a Repsol e a Petrobras, onde 30% da refinaria hoje é da Repsol, né, a entrada aqui na produção de petróleo de empresas que começaram a explorar petróleo, produzir petróleo como a Shell... A gente teve essas perdas, mas a gente conseguiu segurar a empresa mãe, quer dizer, a Petrobras e a Transpetro também, que é 100 Petrobras, mas ela está separada. Mas a gente conseguiu segurar e resistir contra a privatização.

P;1 – Agora conta para a gente quando e como se deu o seu processo eleitoral para a direção da Fup?

R – Bom, a direção da Fup é eleita diferente de uma eleição de Sindicato, né? Eleição de Sindicato ela você monta a sua chapa e você vai lá na base e a base vota direto, né, e elege a direção do Sindicato. A Fup ela não é um Sindicato. Fup é uma Federação, ela não é um Sindicato nacional, ela foi criada com o objetivo de fortalecer essa organização, unificar os petroleiros, porque nós somos 17 sindicatos no Brasil, de petróleo, representamos o setor privado e o setor estatal, né, e em alguns sindicatos a gente já está conseguindo representar também os trabalhadores terceirizados da Petrobras; temos muitas dificuldades, porque a legislação hoje no movimento sindical da organização sindical no Brasil não permite que nós representemos esses trabalhadores, né, mas a direção da Federação então ela é eleita de 2 em 2 anos, tem mandato de 2 em 2 anos, diferente do Sindicato que são 3 em 3 anos, a gente já quis igualar isso, mas tem uma resistência de parte do movimento sindical de igualar com o mandato do Sindicato, que é de 3 em 3 anos. E a direção da Fup é eleita de 2em 2 anos em congressos nacionais, onde cada Sindicato tem um número de delegados que é eleito na base e que vão para esse congresso e que lá elegem essa direção nacional, que tem mandato de 2 anos. Então foi isso! Eu fui eleito em 2002 para o meu primeiro mandato na Fup, como coordenador da Fup, com um grupo de sindicatos que montaram uma chapa. Então, lá no congresso onde nós tivemos nesse ano três chapas, né? Então essas chapas são votadas pelos delegados que são eleitos para esse congresso, essa chapa recebe os votos e depois você divide proporcionalmente. Então, cada chapa tem um número de representação dentro da direção da Fup, de acordo com o percentual que ele obteve nesses congresso.

P/1 – Quais eram as suas expectativas em relação a Fup, quando você resolveu entrar o que que você esperava?

R – Olha, a Fup ela... A Federação foi criada em 94, né, 93 para ser mais preciso. Em 94 elege a primeira direção com mandato de 2 anos, que tinha... Qual era o objetivo, porque que a gente elegeu além dessa coisa de unificar a luta nacionalmente, de poder fortalecer essa luta, nós também tínhamos o seguinte: a gente pensava da Federação ser a entidade que iria tocar políticas outras também, que não só de fazer negociações com a Petrobras. Então, o desafio nosso da Federação era manter essa unidade, é manter essa unidade nacional, né, com todas as diferenças que a gente tem dentro de um regime sindical de pensamento, né, porque a gente tem dentro de um regime sindical de forças, todas as forças hoje, do movimento, que estão representando dentro da Federação, né, e que trabalham nesse sentido de buscar, unificar a nossa luta, para fortalecer e isso contribuir com a nossa vitória. E o grande desafio nosso, além de tudo isso, era, é, não era, é mudar essa legislação que foi criada, né, na quebra do monopólio, que a lei do setor petróleo aqui do Brasil, que abre, por exemplo, brechas para entrada de empresas multinacionais, no sentido de explorar o petróleo do Brasil. Esse é um dos desafios nosso, nós tivemos uma ação contundente agora no leilão; no 6o leilão de petróleo, que a gente tem como objetivo ainda discutir com o Governo, com o Governo Lula, a mudança da lei do Petróleo aqui no Brasil, no sentido de proteger a questão do petróleo, porque para nós ele é essencial e por ser essencial ele tem que ser desenvolvido, tem que ser explorado, no sentido de trazer contribuição para o país, para o Brasil. Então, essa é uma das nossas expectativas aí, no sentido da gente ainda antes do final desse Governo, podermos mudar essa lei, no sentido de proteger essa riqueza que é nacional, que é do Brasil.

P/2 – Certo. Mas vamos voltar um pouquinho. Nesse início, em 93, com a Fup, quais eram as principais questões que vocês tratavam nesses primeiros momentos?

R – 93 eu não era da Fup. 93 era do Sindicato lá em Campinas. Eu venho para a Fup em 2002.

P/2 – Eu fiz confusão de Fup.

R – É. Fez confusão de Fup. 92 é... É aquela história que eu contei. 92 eu saio para o movimento sindical, saio de dentro da Petrobras, do meu dia-a-dia na Petrobras, para ir para o Sindicato de Campinas. E aí contei toda aquela história para você da nossa luta, foi o período aí de maior embate e o principal embate foi a defesa da Empresa, da Petrobras, né, porque foi a entrada do projeto desestatizante no Brasil, mais intensamente com o Collor, né, e que tinha o objetivo a privatização das empresas. Tanto é que muitas empresas foram privatizadas, não é?

P/2 – De 1990 a 94 teve um movimento em defesa do sistema Petrobras, que foi nesse momento do Governo Collor, certo? O Senhor poderia falar um pouco mais sobre esse movimento?

R – Aconteceu uma coisa aí que foi importante para nós. Tanto nós do movimento sindical, quanto a Empresa; e aí eu vou falar a direção da Empresa, quando o Collor, quando teve o impeachment do Collor , que entra o Itamar e a gente conseguiu fazer um trabalho conjunto. A Petrobras e o movimento sindical na defesa da Petrobras, né? E aí a gente teve um grupo de sindicalistas que... que a gente criou uma comissão, né, que tiveram o tempo todo em Brasília fazendo gestão junto aos parlamentares, né, e aí, inclusive a própria Empresa também lá junto, fazendo esse lobby, essa conversa, no sentido de gente poder defender a Empresa, a Petrobras. Foi um momento muito rico para a gente, né, de resistência. Tivemos algumas derrotas aí que eu contei, que foi a quebra do monopólio, em 97. Mas tivemos uma vitória que foi manter a Petrobras uma Empresa estatal. Então, a gente conseguiu reunir esse grupo de sindicalistas, que fizeram um trabalho muito intenso em Brasília, né, que viajavam para Brasília toda semana e que estavam lá o tempo todo acompanhando todas as discussões do Congresso, né, tivemos mobilizações lá, ocupamos o plenário do Congresso, da Câmara dos Deputados, tivemos embates com a polícia, tivemos uma luta ali, tivemos nesse período também uma participação muito grande dos trabalhadores sem terra, que nos ajudaram também nessa luta; quer dizer, foi um momento muito rico nessa época aí para a defesa da Petrobras.

P/1 – Voltando agora um pouco para a Fup. Desde que você está participando dela, quais foram as principais questões que vocês trataram?

R – Olha, quando eu venho para a Fup a gente vem com uma carga muito pesada, que era de buscar a igualdade de direitos, né? O Governo Fernando Henrique, em 1997, edita uma resolução que diferenciou os trabalhadores que entraram a partir de 97 na Petrobras. E a gente começa então uma luta, no sentido de igualar. Em 97, você não tinha concurso na Petrobras, não tinha trabalhadores novos, ficou muito tempo em abrir concurso. Mas a partir daí começam a abrir concursos e começam a entrar trabalhadores na Petrobras com direitos diferenciados. Então, esse era um...

P/1 – Que tipo de direitos diferenciados?

R ; Por exemplo, férias diferentes, as férias da lei. Tudo que eles tinham era o que estava na lei. Nós tivemos conquistas ano passado. Por exemplo, nós temos coisas como: férias, uma gratificação de férias que não é 1/3. A lei diz 1/3, nós temos ela inteira, esses trabalhadores que entraram depois de 97 não tinham, tinham só 1/3...

P/1 – No caso então eles teriam mais prejudicados do que vocês.

R – Prejudicados! O que que aconteceu: com essa resolução os trabalhadores que entraram a partir de 97 só tinham os direitos restritos a lei. Tudo que nós conquistamos no passado, tudo que a gente tinha de direito do passado eles não tinham, eles só tinham aquilo que a lei dizia que eles tinham que ter. Então, férias era isso, anuênio não tinha, né, que é um adicional por tempo de serviço, não tinha, assistência médica eles pagavam muito mais do que nós, né, era um absurdo você ter o trabalhador junto com você e fazendo a mesma coisa que você, né, e você vê o trabalhador com outros direitos, diferentes do seu, quer dizer, você tinha isso e ele não tinha.

P/1 – Desvantagem!

R – Desvantagens! A hora extra dele era diferente, era menor, o adicional de sobre-aviso dele aqui dos embarcados era menor, né, então você assim, uma coisa de maluco, né, e que o Governo, em 97, coloca essa diferenciação entre esses trabalhadores. E num momento muito difícil, onde a Petrobras começa a abrir concurso. Porque a gente viveu essa década aí, uma década de desmonte da Empresa, onde começa com o Collor incentivando todo mundo a sair da Petrobras, o cara se aposentar, né? Ele vem e faz... Ele queria fazer 10 mil demissões na Petrobras, a gente vai para um movimento de greve, segura isso, aí ele consegue demitir em torno de 900 trabalhadores, né, a gente volta depois esses trabalhadores para dentro da Petrobras, todos eles, e acho que a Petrobras foi a única Empresa que a gente conseguiu, a gente tem hoje trabalhadores do setor petroquímico que foram demitidos lá no Collor e estão na rua até hoje. A gente conseguiu, nós do movimento sindical conseguimos segurar essa barra. Diminuímos, quer dizer, na nossa resistência fez com que o Collor recuasse, né, mas mesmo assim ele demitiu em torno de 900 trabalhadores e nós vamos para a briga aí, a gente traz de volta esses trabalhadores para dentro da Petrobras. E foi essa década onde começou a diminuir os números de trabalhadores próprios e aumentar os terceirizados, né, para a gente chegar hoje na casa de 120 mil terceirizados dentro da Petrobras contra 37 mil trabalhadores próprios, né, um absurdo! Então... Que fazia parte da estratégia de desmontar a Empresa. Você diminui os trabalhadores próprios, bota terceirizados, né, os terceirizados estão mais fragilizados, eles estão trabalhando não são filiados ao nosso Sindicato, porque a legislação não permite, né, são filiados a outro sindicato, esses sindicatos não têm toda a condição de entrar dentro da área, né, para ver as condições de trabalho, são impedidos, o máximo que eles conseguem é chegar na porta da Refinaria, ou no embarque aqui na Bacia de Campos, onde conversa com o pessoal, mas não consegue ter uma ação dentro, no local do trabalho. Tudo isso foram condições criadas dentro da Petrobras, que tinham o objetivo da privatização. Então, foi uma década de questões que foram criadas, de injustiças que foram criadas, de direitos que foram subtraídos e que nós, quando a gente assume o mandato em 2002, tínhamos esse desafio e que a gente coroou...

P/1 – E vocês conseguiram?

R – Com esse acordo agora, nós fechamos o acordo agora em... esse último acordo em 2002, acabamos com as restrições, com as diferenciações entre os novos, eles hoje têm férias, tem o anuênio, tem assistência médica igual, tem a hora extra igual...

P/1 – Está tudo igual?

R – Tudo igual! E esse último acordo aqui a gente consegue conquistar o ATS que eles não tinham...

P/1 – E o que que é ATS?

R – O adicional por tempo de serviço e as férias entra dentro do acordo, né? O acordo do ano passado a gente conseguiu igualar as férias, mas foi feito um acordo aditivo, um termo aditivo fora do acordo coletivo. Esse ano gente bota para dentro do acordo, iguala e acaba com a diferenciação entre esses trabalhadores. E a gente consegue também uma discussão com a Empresa ao longo desses 2 anos, no sentido de “primeirizar”. É importante ressaltar que para esse número, 120 mil terceirizados, está muito tímido ainda na Petrobras, o processo de “primeirização”. Mas já é uma sinalização de mudança, né, a Petrobras, no seu planejamento, está colocando a contratação de mais 11 mil trabalhadores até 2010, então a gente vai ter aí nesse período 2 anos atrás até 2010, mais ou menos, 18 mil novos trabalhadores na Petrobras. Então isso, isso é importante. E na Transpetro o processo, eu avalio muito mais, mais ousado, começa agora em janeiro a primeirização mesmo de quase que... quase não, 100% do trabalho terceirizado, daqueles trabalhadores que exercem funções permanentes dentro da Empresa. Então acho que a gente começa uma mudança e esse foi o nosso desafio, né, ao longo desses anos; eu vou falar de 2002 até hoje, né, porque foi 2002, 2004 eu fui reeleito e a gente está tocando, estamos avançando. Lógico que ainda tem muita coisa para... Foi tanta injustiça que cometeram no passado com a gente, que a gente não vai resolver tudo de uma vez, tem ainda problemas com o plano de previdência, tem problema com... ainda aposentados tendo diferenciações no seu reajuste, mas a gente está...

P/1 – Mas você citaria outra conquista da Fup para os trabalhadores enquanto você estava lá dentro, de 92 até agora. Você citaria uma outra conquista importante da Fup?

R – Olha, todas essas que eu coloquei para você são conquistas importantes, nós temos ainda desafios e essa coisa do plano de previdência complementar, os novos ainda não tem o plano de previdência complementar eles...

P/1 – A Petros?

R – A Petros. Não tem ainda. Nós estamos num trabalho ai junto a Empresa e junto ao Governo também, para poder resolver isso o mais rápido possível. O que a gente conseguiu agora foi de que a Empresa vai assumir o serviço passado, que é o seguinte: os trabalhadores tinham que ter um plano de previdência complementar, não tem. Então, a Petrobras nesse acordo assumiu que na solução desse problema até a solução desse plano, a contribuição dela e do trabalhador ela que vai pagar, né? Então acho que isso foi importante porque também vai fazer com que pressione a Petrobras para agilizar a solução desse problema, porque quanto mais demorar, mais ela vai gastar. Porque ela está pagando as duas partes, porque o plano nós pagamos uma parte e a Petrobras paga outra, é paritária, é meio-a-meio. Então, se eu pago 10% a Empresa tem que pagar 10% para o plano. Como ela tinha o compromisso de ter dado um plano para o pessoal, não deu o plano para o pessoal, ela está colocando então nesse acordo a gente fechou de que vamos... de 2002 até a solução, ela vai pagar as duas partes. Foi uma conquista importante para nós. Tem muitas outras! Eu não sei aqui colocar todas, mas eu acho que essa solução dos novos foi uma conquista que a gente conseguiu e o retorno de mais de 400 trabalhadores da Interbras, Petromisa que foi para mim assim a coisa mais importante de você pegar pessoas que tinham uma empresa, que trabalhavam numa empresa, que acordaram no outro dia no Governo Collor, sem esse emprego, depois de 13 anos a gente consegui restaurar esse direito dele do emprego; porque ele foi injustiçado, né? Então, nesses 2 anos o retorno, e agora estão voltando mais 68, esse mês já estão voltando mais 68 trabalhadores, em janeiro voltam mais 35 lá em Sergipe, eu acho que a gente está... são conquistas, são coisas que eu acho que precisam ser destacadas como muito importantes, porque o emprego primeiro é... eu acho que é o essencial e o resgate da dignidade, da cidadania dessas pessoas. Você tem hoje trabalhadores da Interbras que voltaram e da Petromisa, que estão com 50 anos, que ficaram 13 anos na rua por conta de uma política injusta que foi feita, uma política... a palavra injusta eu estou sendo muito bonzinho aqui. E uma outra coisa que foi importante, foi zerar, né, a gente está... não zeramos ainda, mas estamos nesse encaminhamento, foi voltar os trabalhadores demitidos da greve 94 e 95, nesse mandato nosso. A gente conseguiu voltar todos aqueles petroleiros da Petrobras que fizeram a greve de 94/95, voltá-los para a Empresa, né, que foi um ataque aí que a gente sofreu no Governo Fernando Henrique, né, e estamos agora fechando outras punições. Tem mais de 12 mil punições que estão sendo anistiadas aí, né, que eu acho que tem que destacar como uma das nossas conquistas nesses últimos anos; vou botar desses 2 anos para cá. Eu acho que é isso!

P/2 – E como que foi essa greve de 94/95?

R – Foi muito dura! Foi muito dura, eu estava no Sindicato de Campinas, Campinas sempre foi... a Replan sempre foi referência nacional para o movimento sindical. Então, quando ia começar uma greve, o trabalhador lá da Bahia, ou lá de Manaus, ou da plataforma, queria saber o seguinte: “ A Replan já começou a greve?” Então a gente... Essa história da Replan, né, num... Não gosto muito de falar isso porque o pessoal fala “você tá contando muita vantagem”, mas foi... Como a Replan depois da greve de 83 ela... né, foi onde a gente começou tudo isso, essa organização nossa e adquiriu um respeito nacional. Os trabalhadores da Replan tem um respeito. Então, a greve de 95 eu tive uma experiência lá que foi muito, muito difícil. Eu estava no Sindicato, o Silvio era o Presidente; na verdade ele era o Presidente do Sindicato, ele estava em Brasília e eu fiquei lá. Foi quando no 11o dia, não lembro agora, veio a primeira ordem do TST , da gente botar 30% da refinaria para produzir. Um absurdo, né! Porque o Juiz falar botar... Você não consegue operar uma refinaria com 30%, né? Era 30% do que, de carga, era 30% de produção, era 30% das pessoas, né? Então a complexidade...

P/2 – E vocês estavam totalmente parados?

R – Zerados. Zeramos nacionalmente.

P/2 – Desde o primeiro dia?

R – A greve de 95 foi a greve que os dirigentes sindicais não tiveram trabalho nenhum de parar, né, os trabalhadores, porque a história é que nós fechamos um acordo, depois descumpre o acordo, então a gente não fechou, saímos da nossa campanha de setembro de 94 até março de 95 sem fechar campanha, onde foi assinado acordo e a Empresa o descumpre acordo, o Governo descumpre o acordo, rasga o acordo, né, e aí os trabalhadores foram ficando naquela... nessa agonia de não fecha acordo e desrespeito a categoria, levou os trabalhadores para a greve. Se o Sindicato não chama a greve a categoria passa por cima da direção e faz a greve. Então... foi a greve mais fácil, você não precisava fazer piquete, você não precisava fazer mais nada, os trabalhadores pararam e zeraram a produção no Brasil. Parou a produção de petróleo, pararam todas as refinarias, pararam os terminais. Eu coloco que depois de 83 foi a greve mais forte que nós fizemos, 95 foi histórico e foi também onde a gente levou a maior cassetada. Porque o Governo estava fortalecido, né, tinha recém eleito o Fernando Henrique e ele que tinha que dar um exemplo para os trabalhadores: “- Ó, se esses trabalhadores conseguirem, eu vou... estou derrotado.” Foi fulminante! Para mim foi o ataque mais forte do que o que nós tivemos na ditadura em 83, no regime ainda militar, em 83. Porque, embora não teve intervenção dentro do Sindicato, mas ele, através do TST, ele consegue uma medida que acabava com a organização sindical. Por exemplo, interviu nas contas, as contas do Sindicato... impôs multa para os Sindicatos, multa de 100 mil reais por dia de greve... Nós terminamos a greve, cada Sindicato e a Fup, cada um devendo 2 milhões; onde que a gente ia pagar? Cada Sindicato 2 milhões! Você faz a conta, nós... A conta daria... na época a gente era em 21 Sindicatos, mais a Fup, 22, vezes 2 milhões por sindicato.

P/2 – Foram quantos dias?

R – Foi 100 mil reais por dia de greve, 100 mil reais. Era impagável! E aí a gente não pagou, né, nós não pagamos. E aí o que que ele fez? Bloqueou as contas dos Sindicatos, tudo que tinha de dinheiro foi para a justiça, né, os Sindicatos não podiam mais... Tudo que entrava nessa conta ficava preso, né, então nós tivemos que criar associações nossas para poder sustentar o Sindicato, para poder viabilizar a nossa estrutura, os trabalhadores... E aí é importante para foi essa politização dos trabalhadores porque eles começaram a contribuir por fora, né, via associação, eles pagavam todo mês, foi o que... E os aposentados também, que nessa época vinham, pagavam direto no Sindicato, foi que viabilizou a sustentação da organização, mas eles penhoraram todos os bens: os carros, as sedes, as máquinas, tudo foi penhorado nesse Governo. Então, essa greve de 95 foi assim um ataque fulminante. E a experiência que eu queria contar que foi assim muito difícil para mim; aí eu falo mais da minha pessoa, foi que na primeira ordem judicial que veio do TST, né, era que a gente botasse 30% para produzir; só que você não bota uma refinaria a 30%, tem unidade que você não consegue botar 30% de carga, ela não funciona. Então, essa falta de conhecimento da justiça, como que funciona uma refinaria, a complexidade que é, colocou alguns absurdos para a gente fazer. Eu me lembro que numa tarde eu recebi um telefonema da procuradoria de Campinas, chamando o Sindicato para uma reunião. E eu fui para essa reunião, eu e mais uma companheira e mais um companheiro do Sindicato lá na Petrobras, junto com a Petrobras. Nós começamos a reunião 4:00 horas da tarde, eram 2:00 horas da manhã e a gente não tinha chegado num acordo, e colocavam para a gente que a gente tinha que cumprir, tinha que cumprir, porque senão ia ser preso, porque não sei o que, porque... Aí eu acabo chamando o nosso jurídico, né, a gente pediu um recesso, 2:00 horas da manhã, chamamos o nosso jurídico porque era um _________ tão grande e o jurídico foi para lá, aí foi pior porque era melhor não ter chamado o jurídico porque ele faz a leitura do legal, do legalismo mesmo; “- Olha...”, ele chegou para nós: “-Vocês têm que cumprir isso!” E aí o que que a gente fazia? A preocupação que eu tinha era que se Campinas... no outro dia saísse na imprensa que Campinas estava produzindo 30%, poderia desmontar a greve nacionalmente, por conta dessa referência que os trabalhadores do Brasil tinham com relação a Campinas. Então, a gente estava num momento muito delicado. Aí a gente volta para a reunião 2:00 horas da manhã e aí não tinha jeito: “Bom, então vamos fechar o acordo.” Aí fechamos lá mais ou menos, no sentido de produzir 30%. Só que não tinha nenhuma secretária na hora, já tinham ido todas embora, né, a secretária do gerente da refinaria, aí não pode fazer a ata. Então a gente só listou os pontos e ficou de de manhã fazer a ata, a gente ia encaminhar então na assembléia de manhã na porta da refinaria. Aquela noite eu não dormi, quer dizer, eu cheguei no Sindicato, fiquei lá no Sindicato não conseguia dormi, porque a minha preocupação era essa, era que se a gente botasse 30% para produzir, a gente podia desmontar a greve nacionalmente, né? Só que a gente deu uma sorte! Quando chegou de manhã, eles foram levar a ata para que eu pudesse assinar, a ata que a gente botaria 30 %, eles tinham colocado, um gerente tinha colocado um item que nós não tínhamos discutido, né, ele... Eram cinco pontos e colocou um item lá que era com relação aos trabalhadores da manutenção e nós não tínhamos discutido o número de trabalhadores manutenção para botar 30%. E aí foi a nossa saída para dizer o seguinte: “Não cumprimos porque vocês não cumpriram o acordo.” E a gente continuou a greve e foi por mais 20 dias. Mas foi, foi muito rica a experiência nessa greve de 95, que trouxe para a gente um conhecimento muito grande e um aprendizado muito grande dessa briga. Todas as refinarias ocupadas pelo exército, muito duro porque a gente não entrava na refinaria, não conseguia entrar e você via os tanques dentro da refinaria, quase todas elas, a refinaria de Cubatão foi ocupada pelos trabalhadores, o pessoal ficou lá dentro e foi onde a gente teve o maior número de demitidos, né, e que e gente conseguiu reparar agora, nessa...

P/2 – Mas como que foi o desfecho dessa greve?

R – Não foi fácil para terminar a greve, entendeu, porque nós estávamos há 32 dias e a Empresa não cedeu em nada. Nós ali, de fato ali, não conquistamos nada nessa greve. Nós tivemos 32 dias sem salário, tivemos perdas, tivemos punições, tivemos demissões, perdemos férias, perdemos 13o, os trabalhadores saíram, do ponto de vista de ganho imediato, de resultado assim imediato da greve, a gente levou uma “porrada” do Governo, do Governo Fernando Henrique. Ele saiu fortalecido. E a partir daí a gente começou a briga, porque a imprensa toda noticiava que faltava gás; eu lembro que eu saía da minha casa e perto da minha casa tinha uma distribuidora de gás e o pessoal no meu bairro me conhecia, sabia que eu era petroleiro, sabia que eu era do Sindicato, quando eu saía de manhãzinha tinha uns amigos meus, gritavam da fila: “- Olha lá, aquele cara é que é responsável, por isso é que não tem gás!” E aquela fila de gás, sabe? Agora, a gente soube. Depois, o próprio TCU divulgou que teve também toda a maracutaia das distribuidoras de gás, que esconderam o gás, armazenaram e esconderam, para poder ter um reajuste e vender depois, logo que termina a greve vem o reajuste do gás, eles ganharam aí, foi um acordo; inclusive para desmoralizar a gente, para colocar a sociedade contra nós. Essa greve teve muito disso, a imprensa jogando toda a sociedade contra os petroleiros. Então nós éramos os terroristas aqui no Brasil. Não sei se vocês lembram dessa greve, mas ela foi muito, muito... E você tinha isso todo momento da imprensa, imprensa TV e eles gostam de ver a coisa pegar fogo, então a imprensa... Agora também foi... para mim foi o começo da... desmistificar essa coisa de que petroleiro era “marajá”. Nós fizemos ações outras que colocavam nosso holerite em varais e a imprensa vinha, fotografava e a imprensa... tanto a imprensa escrita, quanto a imprensa... da televisão, colocava isso e a sociedade também começou a ver. Depois eu lembro de uma pesquisa que teve, que a Folha fez, onde o que estava colocado que se petroleiro era “marajá” ou não, a gente viu que a sociedade entendeu que a gente não era “marajá”, porque... Se lembra que o Collor criou essa coisa de que nós éramos “marajás”, né da Petrobras, nós éramos “marajás”? A gente conseguiu começar a mudar essa visão que tinha a sociedade com relação aos petroleiros. Lógico que a gente tem uma condição um pouco mais privilegiada, mas não somos aquilo que a imprensa colocava, que o Governo colocava. Agora, o ganho mesmo que a gente teve nessa greve foi a organização nossa, o fortalecimento do Sindicato, do movimento sindical e o respeito, inclusive do próprio Governo. Isso foi em março, quando a gente chega foi em maio, quando a gente chega em setembro, né, a gente estava sem nenhuma condição de fazer movimento nenhum, porque levamos uma “porrada”, isso foi uma coisa negativa, porque nós ficamos um “tempão” sem fazer movimento por conta do tratamento que o Governo deu aos petroleiros, então teve um refluxo no movimento sindical no sentido de mobilizações mais fortes, a gente fica muitos anos sem fazer greve por conta disso, mas em setembro, a gente não fazendo nada nós tivemos o maior reajuste de todas as categorias no Brasil.

P/1 – Setembro agora?

R – Setembro... Não, de 95! Lá em 95. A gente não ganha nada na greve, ela termina em março, chega em setembro na nossa campanha, nós temos o maior índice de reajuste de todas as categorias do Brasil.

P/1 – Não precisava fazer nada?

R – Não precisava fazer nada. Mas na época ______. É fruto dessa... foi fruto do movimento. Essa é um pouco a história de 95. O Spis que era o coordenador da Fup foi demitido, né, o Spis foi... O Governo pegou o Spis para dar o exemplo e demitiu o Spis, né, eu acho que ele deve ter contado isso, acho que ele já fez o depoimento dele deve ter contado um pouco essa coisa da greve de 95, porque ele viveu, ele era o coordenador da Fup então ele viveu muito intensamente a greve de 95.

P/1 – Quais foram os principais acordos do Sindicato com o Congresso?

R- Não entendi! Com o Congresso...?

P/1 – Com o Congresso Nacional. Já teve algum acordo, em qualquer época?

R – Não, a gente não faz acordo com o Congresso, né, o acordo nosso é nós e a Petrobras. Você fala de acordo coletivo é isso, não?

P/1 – É, poder ser!

R – Não, não tivemos acordo não. Na greve de 95 o que nós tivemos foi: uma carta compromisso; foi uma carta compromisso no final da greve, para acabar com a greve; e você tinha me perguntado como que acabou a greve, é... teve muitas resistências para acabar a greve, né, lógico que ela estava num momento que não dava para continuar, a direção sindical teve que dar o indicativo para que a greve fosse suspensa mesmo sem ter conquistado nada, né; é aquela coisa, você às vezes tem que dar um passo atrás para poder avançar dois. E a gente chegou num momento que não tinha mais como tocar a greve, né? O ataque muito forte, né? E aí a gente teve uma carta compromisso que foi construída pelo Suplicy que era senador, alguns senadores e parlamentares e deputados, né, que era uma carta que depois a gente trabalharíamos a questão das punições, tinha a questão da construção de uma lei de anistia também e a questão da quebra do monopólio, tudo isso estava posto nessa conjuntura. Então foi assim, um compromisso que tinha dos parlamentares depois, de buscar aí uma saída junto ao Governo, para resolver problemas que a gente teve durante o movimento, entendeu, como as punições e demissões. Daí começa a ser construído uma lei de anistia para anistiar os sindicatos, porque nós tínhamos... Os sindicatos e a Federação foram punidos com essa multa, então tinha que ter essa anistia, né, era impagável, a gente não tinha... não pagaria. Nunca! Então esse foi o entendimento. Não foi um acordo, mas foi uma carta compromisso escrito por vários parlamentares, no sentido de estar negociando todas essas questões com o Governo.

P/2 – Mas e de 95 para cá, como ficaram as campanhas salariais, precisou fazer mais greve, como é que foi isso?

R – Sempre precisa. Trabalhador não gosta de fazer greve. Nem dirigente sindical gosta de fazer greve. É uma ferramenta legítima nossa, que a gente usa e que se for preciso a gente usa. Agora, como eu disse para você, de 95 para cá a gente teve muita dificuldade de fazer greve, muita. Nós só vamos conseguir fazer uma greve de cinco dias, em 2001. Que a gente vai de 95 a 2001 sem movimentos muito fortes, a gente ali naquela coisa porque ficou esse resquício mesmo da “porrada” que nós levamos em 95, então a gente teve que começar a reconstruir. Também foi a partir de 95 que começa a ter mudanças na política da Empresa, em relação à organização sindical. Começam a ser trabalhadas políticas no sentido de neutralizar o Sindicato, né, de tirar o Sindicato da jogada, políticas de RH que começam a trabalhar retiradas de direitos, começa um ataque muito forte. E aí vem 97, que eu te falei, né, dos direitos dos novos, vem proposta da Petrobras no sentido de vender direitos nossos, vender o ATS, nós fizemos uma luta muito grande nessa época para que a categoria não vendesse o ATS, que é o Adicional de Tempo de Serviço...

P/2 – Vender?

R – Vender o seguinte: ela te dava um dinheiro e você congelava. Por exemplo: nós temos lá o Adicional de Tempo por Serviço, você tem um percentual por ano. Cada ano que você trabalha na Petrobras você ganha um percentual, isso vai no teu salário. O que que a Petrobras começou a implementar, né, a política de RH ? - De tirar todas essas coisas. E para tirar, o que que ela fez ? - Ela fez uma proposta: “eu te dou tanto em dinheiro para você abrir mão desse direito.” Nós fizemos uma briga, nós fomos vitoriosos porque a grande maioria não vendeu, né, teve trabalhadores que venderam, porque essa é uma coisa individual, é negociação individual, embora passou por assembléias, teve aprovações em assembléias e que os sindicatos conseguiram segurar; alguns não conseguiram, alguns é... Os trabalhadores votaram que o direito de vender e aí acabaram vendendo. Só que não toda base vendeu, porque tinha que ter... é um direito individual, você tem que ir lá e concordar. Então no final, assim, eu não sei te dizer quantos venderam, mas a grande maioria não vendeu. E outras coisas que foram... até tentativas de que a gente vendesse o direito nosso da jornada de seis horas, queriam acabar com a quinta turma, porque a jornada de seis horas nós conquistamos o que: uma turma a mais, nós éramos em quatro grupos; lembra que eu te falei que a gente trabalhava em quatro grupos lá? Então a gente começou a trabalhar em cinco grupos, quer dizer, diminuiu o tempo de ida a Empresa, que você teve mais dias de folga, quer dizer, diminuiu a sua jornada semanal, né, hoje a nossa jornada é 33.6 horas por semana, então, eles também vieram com tentativas de comprar isso, chegavam a ameaçar isso, né, só que tinha uma resistência, a gente conseguiu segurar. Então esse período de 95, pós 95, foi um período assim, de muitos ataques a direitos nossos, que a gente resistiu. Resistimos... não fizemos greve, né, fizemos mobilizações, fizemos paralizações, mas não conseguimos fazer greve, vamos fazer greve mesmo só em 2001, uma greve de cinco dias com parada de produção, que também foi muito importante, onde a gente zerou a produção de óleo no Brasil, principalmente na Bacia de Campos, né, e a gente conquistou. Foi uma experiência assim, que pela primeira vez, a gente, em greve, a gente continuou a negociação, a Fup e a Petrobras... A Petrobras não suspendeu as negociações, a gente com aqueles cinco dias de greve, a gente negociou e conseguimos conquistar as nossas reivindicações, que eram muitas.

P/1 – Carrara, agora para a gente terminar, eu gostaria que você desse a sua opinião: o que que você achou de você ter sentado aí, ter dado a sua opinião, contado as suas histórias, o que que você achou de ter participado desse projeto?

R – Primeiro dizer que eu fui um dos que, junto com um grupo de companheiros lá de Campinas, idealizamos isso aqui, né? Essa coisa de registrar a memória dos trabalhadores através deles, da história que eles contam, porque ela é mais rica; a minha não é tanto rica, mas eu acho que a de companheiros nossos que viveram esses anos todos dentro da Petrobras é muito rica e isso precisava ser... Então, para mim isso aqui é a realização dessa coisa, que um dia nós tentamos, eu, (Baga?), Santarosa, o Marcelo lá em Campinas, né, e vimos a experiência lá dos companheiros do metalúrgico que fizeram a história deles, então a gente... Para mim isso é a realização. Eu acho que esse projeto ele é rico por conta de que a história que é contada, é contada por quem viveu, né, não é contado pelo chefe que... Ele também conta a história, mas não só ele, não só a Petrobras conta, mas a história que todos, todo mundo que viveu: trabalhador, os trabalhadores todos, tanto no cargo mais baixo, até o mais alto, contam a história da Petrobras. Para mim isso é a realização desse sonho. Que eu sempre falo assim: “Pô, a primeira parte do projeto eu não participei, não tinha tempo.” Porque eu queria participar para contar um pouco também, né, dessa história. E fico muito feliz de poder também conta um pouquinho da minha história aqui, né, de falar um pouquinho do que foi essa vida aí que está sendo dentro da Empresa, a Empresa que nós temos orgulho de poder viver nela, de participar, de poder ajudar, de poder manter essa Empresa, como uma Empresa que tem que trazer e trás para o nosso país muitos benefícios, entendeu? Eu acho que... Lógico que precisa ser corrigido muitas coisas, mas eu acho que vai ser essa nossa vontade de corrigir essas coisas que vão fazer com que a Empresa possa de fato contribuir para uma sociedade mais igual, mais justa. Eu estive em Urucu antes de ontem, né, e vi aquela miséria que tem nas comunidades que fazem parte ali, por volta da Amazônia, ali onde está Urucu, né, e vejo que a Petrobras tem experiências muitas lá e que contribuiu muito com a riqueza, né, às vezes o que eu sinto, o que eu vejo é que muito da riqueza que a Petrobras dá para a Cidade onde ela está instalada, ou para o próprio Governo do Estado, né, nem sempre se traduz em melhoria de vida para a comunidade, né, infelizmente. Eu acho que nós vamos ter que mudar isso e acho que passa pela mudança da lei do petróleo, para que esses recursos sejam de fato usados em benefícios da sociedade e dos mais excluídos, né? Eu vejo muita... por volta da Petrobras, muitas comunidades pobres que não tem porque ser pobre. Porque os municípios têm a maior arrecadação... Você pegar um Município lá da Amazônia, que eu vi lá perto de Urucu, receber o dinheiro que recebe de royalties e a gente vê a miséria do povo, vê... e que não está sendo usado. Então, precisa ser pensado a mudança da lei para que de fato a sociedade e a população que está ao longo desse País e nas vizinhanças das instalações da Petrobras, possam ser de fato beneficiadas. Então, essa é para mim a satisfação de estar aqui falando e de que poder ajudar e contribuir nesse projeto.

P/1 – Então eu agradeço, muito obrigada pela sua participação.

R – Eu é que agradeço vocês.

P/2 – Obrigada.

R – Obrigado a paciência de vocês de ouvir a história.

P/2 – Que isso!

(Fim da fita HV/2004-09-02)