Página Inicial | História de vida
Nascido em Quissamã em 22 de abril de 1949, formou-se em Engenharia Industrial Mecânica pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Ele ingressou na Petrobras em 21 de janeiro de 1974 como engenheiro de perfuração/fiscal.
Áudio na íntegra
(não disponível)
Projeto Memória dos Trabalhadores Petrobras
Depoimento de Cláudio Silva Barcelos
Entrevistado por Rosana Miziara
Macaé, 25 de março de 2003
Realização Museu da Pessoa
Depoimento PETRO_CB101
Transcrito por Transkiptor
00:00:08 P/1 - Cláudio, como é seu nome completo?
00:00:43 R -Meu nome completo é Cláudio Silva Barcelos.
00:00:46 P/1 - Local e data de nascimento?
00:00:48 R - Quissamã, 22 de abril de 1949.
00:00:52 P/1 - Quissamã fica onde?
00:00:53 R - Quissamã fica próximo aqui a Macaé. Quissamã era um antigo distrito de Macaé que emancipou-se há 13 anos. Então, hoje o progresso lá vai de vento em polpa, graças ao Royal Petrolic da Bacia de Campos. Bem aplicado, nós temos lá um desenvolvimento a olhos vistos. Parte de saúde, educação, infraestrutura, estrada. Muito bom.
00:01:21 P/1 - Cláudio, que ano você ingressou na Petrobras?
00:01:24 R - Eu ingressei na Petrobras em 74. 21 de janeiro de 74.
00:01:29 P/1 - Pra trabalhar em que?
00:01:31 R - Para trabalhar como engenheiro de perfuração, engenheiro fiscal, como chamavam.
00:01:36 P/1 - Você se formou em engenharia onde?
00:01:38 R - Eu fiz engenharia na Universidade Federal Fluminense, Niterói, engenharia industrial mecânica e entrei na Petrobras como engenheiro de perfuração.
00:01:47 P/1 - Você tinha algum desejo, assim, vou trabalhar na Petrobras enquanto você estava se formando, como é que era isso?
00:01:52 R - Não, não, pelo engenheiro mecânico a gente pensava muito em trabalhar em indústria automobilística, né? Então, próximo da conclusão do curso, Uns colegas me avisaram, olha, tem uma inscrição lá no Rio pra concurso pra Petrobras, vamos lá fazer. Fui lá, fazei a inscrição. Fizemos vários testes, né? Teste por escrito, teste psicotécnico, etc e tal. E graças a Deus fui aprovado e estamos aí.
00:02:21 P/1 - E como é que foi? Você lembra do seu primeiro dia de trabalho?
00:02:25 R - Bem, o primeiro dia de trabalho, quer dizer,...
Continuar leituraProjeto Memória dos Trabalhadores Petrobras
Depoimento de Cláudio Silva Barcelos
Entrevistado por Rosana Miziara
Macaé, 25 de março de 2003
Realização Museu da Pessoa
Depoimento PETRO_CB101
Transcrito por Transkiptor
00:00:08 P/1 - Cláudio, como é seu nome completo?
00:00:43 R -Meu nome completo é Cláudio Silva Barcelos.
00:00:46 P/1 - Local e data de nascimento?
00:00:48 R - Quissamã, 22 de abril de 1949.
00:00:52 P/1 - Quissamã fica onde?
00:00:53 R - Quissamã fica próximo aqui a Macaé. Quissamã era um antigo distrito de Macaé que emancipou-se há 13 anos. Então, hoje o progresso lá vai de vento em polpa, graças ao Royal Petrolic da Bacia de Campos. Bem aplicado, nós temos lá um desenvolvimento a olhos vistos. Parte de saúde, educação, infraestrutura, estrada. Muito bom.
00:01:21 P/1 - Cláudio, que ano você ingressou na Petrobras?
00:01:24 R - Eu ingressei na Petrobras em 74. 21 de janeiro de 74.
00:01:29 P/1 - Pra trabalhar em que?
00:01:31 R - Para trabalhar como engenheiro de perfuração, engenheiro fiscal, como chamavam.
00:01:36 P/1 - Você se formou em engenharia onde?
00:01:38 R - Eu fiz engenharia na Universidade Federal Fluminense, Niterói, engenharia industrial mecânica e entrei na Petrobras como engenheiro de perfuração.
00:01:47 P/1 - Você tinha algum desejo, assim, vou trabalhar na Petrobras enquanto você estava se formando, como é que era isso?
00:01:52 R - Não, não, pelo engenheiro mecânico a gente pensava muito em trabalhar em indústria automobilística, né? Então, próximo da conclusão do curso, Uns colegas me avisaram, olha, tem uma inscrição lá no Rio pra concurso pra Petrobras, vamos lá fazer. Fui lá, fazei a inscrição. Fizemos vários testes, né? Teste por escrito, teste psicotécnico, etc e tal. E graças a Deus fui aprovado e estamos aí.
00:02:21 P/1 - E como é que foi? Você lembra do seu primeiro dia de trabalho?
00:02:25 R - Bem, o primeiro dia de trabalho, quer dizer, a gente começou primeiro fazendo o curso. Eu vim para trabalhar em uma firma em Volta Redonda, passei numa pensão que eu morava em Niterói e recebi o telegrama da Petrobras. Então eu fui até a Volta Redonda, pedi uma semana para fazer os exames, Fiz os exames na Petrobras e trabalhei 15 dias lá na Cobrap, uma subsidiária da Siderúrgica Nacional. Depois recebi o chamado da Petrobras, uma passagem para a Bahia e fui embora para lá. Em fevereiro, nós iniciamos um curso, um curso rápido, porque estavam começando a desenvolver a parte offshore da Petrobras, então foi um curso intensivo. só de perfuração e algumas noções de algumas matérias básicas de perfilagem, condições meteorológicas, geológicas, etc. E o nosso curso começou nas primeiras semanas de fevereiro e terminou no dia 17 de maio de 1974. E logo a metade da turma saiu para embarcar e a outra metade para já pegar uns dias de folga para embarcar depois.
00:03:44 P/1 - Você foi de qual turma?
00:03:45 R - Eu fui da segunda turma. Eu lembro bem que o primeiro embarque meu foi em Vitória, no Espírito Santo. Eu fui para Penródio 55. Pegamos um helicóptero Higgs 500 lá no Aeroclube de Vila Velha. Eu, o engenheiro André Barcelos e o engenheiro Sassahara. E fomos para Penródio 59. Eu e o Sassahara na Penródio 59. E o André Barcelos acho que foi na P5, em Minagarrum.
00:04:14 P/1 - Como é que foi esse embarque?
00:04:17 R - Bem, você chega... Nunca tinha ido numa plataforma, né? Você chega lá e vê a grandiosidade daquilo. E, como estagiário, você sai de um curso intensivo de teoria. Muita teoria. Nunca estudei tanto na minha vida. Muito mais que no vestibular. E na faculdade, aquele curso da Petrobras. E caímos ali na prática, né? A prática é muito melhor pra mim do que melhor pra estudar. E cheio de curiosidade, vontade mesmo, correndo atrás para entender aquilo tudo ali. Ainda tínhamos um outro estagiário já em fim de estágio, o engenheiro Eglon. E ficamos lá. Uma coisa que muito me intrigou foi que o engenheiro Sasahara, o engenheiro Eglon já estava no final de estágio, então praticamente ele tocava ali a parte de fiscalização, que era o nosso serviço. E o Sassara ficava mais observando, não ia assim na sonda com muita frequência. E ele sabia de tudo que estava acontecendo na sonda. Como é que esse engenheiro não sai do escritório e sabe de tudo que está aqui dentro? E eu ando a sonda toda e fico igual um perdido aqui. Depois que eu fui perceber que pelos barulhos característicos da sonda, já depois de experiência também na atividade, você percebia tudo que estava acontecendo lá dentro. Pelo desempenho da bomba de lama, pelo freio do guincho, você sabia. Pelo balanço da sonda. Se a sonda estava balançando muito, a formação estava muito dura. Pelo cantar do freio do guincho, você tinha noção da taxa de penetração. Se o freio cantava toda hora, é porque a penetração estava muito boa.
00:05:50 P/1 - Qual que é o barulho do guincho?
00:05:52 R - O trabalho do guincho é sustentar a coluna de perfuração.
00:05:56 P/1 - Mas que barulho que ele faz?
00:05:58 R - Ah, é um som agudo, né? Então, o sondador levantava a alavanca e soltava o freio do guincho para descer mais a coluna. É pelo som. E quando era uma sonda do Magia Cap, sonda de perna no fundo, Quando a formação estava muito dura, a sonda sacudia inteira, ficava tudo balançando. Você tinha noção também de como é que estava aquilo ali. E pelo também bater dos pistões da bomba, você tinha noção também.
00:06:29 P/1 - Os pistões da bomba fazem que barulho?
00:06:32 R - Bomba triplex, com três pistões, bombas de alta pressão, trabalhando com 3.000, 3.200, até no máximo 3.500 PSI, com duas bombas em cima ali. Era um negócio muito bonito.
00:06:46 P/1 - Se alguma coisa te marcou nessa passagem, algum fato que tenha acontecido fora esse de você ficar intrigado, como é que ele sabia?
00:06:57 R - Bem, o... Tínhamos o fato da... A atividade em si, a técnica que era empregada, tudo aquilo que a gente aprendeu no curso e está utilizando ali. Muita gente envolvida e com uma vontade grande de encontrar alguma coisa. Até naquele instante, nós não tínhamos nada na Bacia de Campos descoberto. Tinha algumas sondas lá, o petróleo só foi descoberto em novembro, no Petrobras 2, em novembro de 1974. Isso foi em junho, primeiro embarque meu, dia 6 de junho de 1974, ainda não tinha noção nenhuma. Então, quando descobriram o petróleo aqui na Bacia de Campos, nessa época eu já estava no norte, porque eu estagiei na Bacia de Campos lá na Perrote 55, digo, na Perrote 59, P3, 55, trabalhei depois nela lá no Rio Grande do Norte, Perrote 59, depois embarquei no Ciclone, como eu tenho problema de de enjoo, peguei um sábado lá com o mar virado, quase que eu boto as tripas fora, e disse amanhã eu vou embora desse negócio aqui, nem que o Petrobrás me mande embora, mas eu pego o primeiro helicóptero e vou embora daqui, não aguento mais. Aí no dia seguinte o mar parecia um espelho, né? Interessante, de um dia para o outro que mudou aquilo. Foi no ciclone, navio de perfuração ciclone. Depois eu embarquei ainda na P5, de novo, uma sonda francesa que tinha garçom para te servir, então tinha coelho, tinha vinho. Tem até foto, podia ter trazido essa foto ali.
00:08:33 P/1 - Ah, pode trazer amanhã.
00:08:34 R - A foto da gente comemorando o dia dos pais lá na...
00:08:37 P/1 - Traz amanhã.
00:08:39 R - E daí, então, me mandaram para Aracaju. Eu ia para estagiar na Bahia, mas me mandaram para Aracaju. Foi bom. Aracaju é uma turma muito boa lá. Estagiei em Carmópolis e depois fui para São Miguel dos Campos. Depois de três meses estagiando em Aracaju, já estava tudo certo para eu ficar trabalhando em Aracaju. Acabou o estágio e permaneci lá. Só que um colega nosso, durante o estágio, não se deu bem lá na Bahia e o mandaram para Aracaju. Quando eu cheguei de volta das folgas, na Bahia para pegar a minha passagem para Aracajú e me deram uma passagem de ida para Belém. Eu digo, e quem foi que disse que eu quero ir para Belém? Me deram uma passagem de ida e fizemos lá uma confusão danada por causa disso. Eu e mais um colega, o José Mário, ele hoje já está aposentado, um pernambucano arretado danado, e um senhor virou para mim e disse assim, rapaz, você está criando tanta confusão, você conhece Belém? Eu digo, conheço, nem quero conhecer. Não, vai lá, rapaz, pega pelo menos essa passagem de ida para Belém Valeu conhecer Belém. E foi muito bom. O pessoal de Belém era bastante diferente do pessoal da Bahia. Pessoal bastante atencioso, né? Você tinha acesso aos chefes com bastante facilidade. Você fazia relatórios que eram apreciados. O chefe da perfuração, o engenheiro Malcher, pegava os relatórios e sublinhava as passagens lá que ele achava interessante e você tinha livre acesso para ir lá conversar com ele e quando ele tinha alguma dúvida ele te chamava lá e mostrava o relatório e você via que o teu relatório era dado importância devida nele. Então eu passei lá em Belém dois anos e meio praticamente, de novembro de 74 até até maio de 77. Naquela época não havia base em Natal e Belém dava apoio desde o Acre até o Rio Grande do Norte. Então nós embarcávamos uma hora para Omapá, outra hora para a Amazônia, perto de Manaus, outra hora para o Acre, outra hora para o Rio Grande do Norte, outra hora para o Ceará. E já em 76, ainda em 77, em 74, logo quando eu cheguei lá e embarquei para o Acre, E no segundo embarque meu em Belém, foi no Amapá, para a sonda Zephyr-2, SS-1, a primeira submersível que tinha operando para a Petrobrás, estava lá no Amapá. A SS-1 tentou perfurar cinco poços e todos eles tiveram problemas no início do poço. E eu lembro bem que o porquê de nós termos feito um curso intensivo Por causa da chegada dessas sondas extremamente submersíveis, não havia engenheiro suficiente para trabalhar nessas sondas. Tanto é que quando eu cheguei lá, nessa Zephyr, eu substituí o engenheiro Manel João, que era já um engenheiro antigo de Petrobras, depois veio até ser superintendente lá em Belém, né? Antiga Renoir, região do Norte. E no dia 24 de dezembro, lá na Zephyr, a gente observava que os operários não estavam acostumados a trabalhar em sonda flutuante. Nós tínhamos lá na época, no Amapá, três sondas. Era a PA-12 Demaga, que era uma G-CAP, sonda de pernas, encostada no solo. Tinha a P-ROID-62, a PA-6, e tinha a Zephyr-2, SS-1. E o pessoal não estava acostumado a trabalhar em sonda flutuante. A sonda flutuante balançava muito. A correnteza lá no Amapá é muito grande. Tanto é que uma determinada época um helicóptero caiu lá e nem procuraram o helicóptero que não ia encontrar mesmo, né? No fundo dava mais de quatro nós e aquilo ali levava tudo embora. E no dia 24 de dezembro nós tivemos, só nesse dia, três acidentes lá na Zefir. Por volta das 9 horas, um operário foi pegar uma peça da coluna de perfuração, um SUB, que estava em uma prateleira. Ele pegou a peça no colo, no balanço da sonda, ele foi para trás e a peça caiu por cima dele. A peça devia ter em torno de uns 30 quilos. Bateu no peito dele, ele desmaiou. Por sorte, logo depois chegou um helicóptero. E nós o mandamos para Belém, né? Vieram lá para a Mapazinho. A Mapazinho era uma base que os Estados Unidos utilizou na Segunda Guerra. A próxima cidade é o Mapazinho, lá no Amapá. Era onde a Petrobras tinha as instalações só de apoio de chegada de Belém e embarque para as sondas no mar. Por volta das nove horas, esse acidente. Mais tarde, o pessoal da equipe estava preparando uma eslinga, um laço de uma eslinga com cabo de aço de uma e meia polegada. O laço se soltou e atingiu o peito de um torrista, um escuro, alto e forte, e bateu no peito dele e jogou ele sentado lá. Só pequenas escoriações e mais o susto. O bravo foi ter que segurar o rapaz, esqueci o nome no momento, porque o gringo ficou rindo da cara dele e ele queria bater no gringo de qualquer jeito, né? Ter que segurar aquele negão lá não foi fácil, não. Tudo bem. Lá pelas 16 horas, nós descemos alguns operários para um rebocador que estava próximo, que a sonda ia mais uma vez mudar da locação, E nós tínhamos que recolher as âncoras. O recolhimento da âncora se faz através do... Você primeiro retira, puxa as boias de marcação da âncora. Porque lá você puxa a âncora no sentido contrário de onde ela está e você retira a âncora lá do fundo. Ao recolher essa boia para cima do rebocador, quando já estávamos com a boia subindo ao invés do rebocador, a cabeça da boia arrebentou e o cabo de aço veio chicoteando pelo conveio. Pegou a perna de um dos operários, a perna direita, e praticamente arrancou o pé do rapaz fora. Ficou pendurado só numa pele. E, de imediato, nós o trouxemos a bordo da unidade marítima. Só que, naquela época, em 1974, as condições da Petrobras eram bem diferentes das atuais. Por exemplo, não haviam radiooperadores em todas as sondas. O engenheiro de perfuração, o fiscal, tinha um rádio na sala de rádio e o outro que ficava no camarote dele. Você ia dormir e botava o radinho bem baixinho ali para qualquer chamado você se acordasse a atender. Então não havia radiooperador e muito menos enfermeiro. Então nós trouxemos aquele acidentado a bordo, com o pé praticamente pendurado. Os poucos remédios que haviam a bordo estavam numa... eu acho que eram provenientes da da Suécia, porque nem os americanos entendiam nada do que estava escrito nas bulas. E nós, o que é que vamos fazer? Vamos colocar esse rapaz de novo dentro de uma lancha, a lancha da Geodesia, que estava marcando a locação, e o mandamos para a Pia XII de Maga, que ficava a duas horas de distância de lancha, de navegação. Lá na Pia XII tinha enfermeiro, então, lá por volta das 19 horas, ele chegou lá na Pia XII, foi atendido, fez os primeiros socorros, recolocado na lancha e foi mandado para Belém. Só que durante a madrugada, na hora de entrar no Amazonas, estava um forte nevoeiro e o comandante da lancha se perdeu e foi parar quase que na costa do Maranhão. Depois ele retornou, durante o dia, entrou pelo Amazonas e chegou em Belém quase 24 horas depois do acidente. Era dia de Natal, até uma ambulância recolheu o acidentado e o levou para o hospital. Quando chegou no hospital, foi só para acabar de retirar o pé do rapaz. Quer dizer, é um acidente assim que... Por quê? Porque lá no Amapá, o helicóptero, depois das 13 horas, ele não ia mais na sonda. Então, depois das 13 horas, você ficava por conta de Papai do Céu, era rezar para que nada te acontecesse. Se acontecesse, era o azar que deu esse rapaz aí.
00:16:51 P/1 - Claudio, você presenciou alguma descoberta?
00:16:56 R - Presenciei. Só concluindo essa parte, porque alguns anos depois, já na Bacia de Campos, Eu estava operando, fiscalizando a SS-9, a Messick Pioneer. Eram duas horas da manhã e eu havia terminado o relatório diário de perfuração que nós fazíamos após o encerramento das atividades do dia, do período, às 24 horas. E, de repente, eu vi uma aeronave, um helicóptero que se encaminhava para a SS-10, que estava próxima. E eu perguntei ao rádio operador se não era um helicóptero que veio buscar um acidentado. e aquilo muito me emocionou porque eu lembrei logo do fato do rapaz lá do Amapá que depois das 13 horas não havia condições de helicóptero lá voar e aqui já de madrugada o comandante Krieger pilotando uma aeronave da Voltec já nos primeiros voos noturnos aqui para socorrer e acidentar na base de Campos. Me deu vontade de contactá-los via rádio, SSB, mas me emocionei, comecei a chorar e não consegui falar com a tripulação por causa desse. Hoje nós temos o helicóptero de ambulância, já há 15 anos, no ano passado nós comemoramos 15 anos do helicóptero de ambulância aqui na Bacia de Campos e hoje a qualquer hora você tem uma tripulação pronta no aeroporto para atender o acidentado em qualquer lugar aqui. encaminhá-lo para o Rio, para qualquer outra... Continuando lá em Belém, depois o engenheiro Moucher nos fixou por sonda, então eu e o engenheiro Miyazaki revezávamos na PA-12 de Maga. Mais ou menos 22, acho que foi na data de 22 de dezembro de 76, eu embarquei na PA-12 de Maga e no momento que eu cheguei no heliponto, já os colegas na sala de rádio, felizes da vida, que estavam desembarcando e dizendo, olha, você fica aí porque nós vamos passar o Natal em casa. Nós fomos fazer uma cimentação do 9 e 5 oitavos e o cimento ficou todo dentro da coluna. Deu um problema aí, o cimento tá todo dentro da coluna. E até você limpar isso tudo, a gente vai passar o Natal, depois a gente volta. O engenheiro de perfuração, que ia passar aquele dia de folga, e eles passaram o Natal em casa. O técnico de perfuração, o Rui Souto Maior, que era da Dawson no Berger, o engenheiro de produção, Francisco Rosa Neto, E eu acho que mais alguém, não lembro. Sei que era pelo menos uma meia dúzia. Só que os 900 e tantos metros de cimento que estavam dentro da coluna, os primeiros 50 metros estavam mais ou menos já duros, né? Já tinham dado a pega, como se diz. E nos deu um pouco de trabalho para limpar, mas depois daquilo ali, praticamente o jato da broca, com alta pressão, nós em 12 horas tiramos todo aquele cimento Limpamos a coluna, recondicionamos o poço e no dia 24 eles estavam reembarcando. P da vida, né? Porque deixaram de passar Natal em casa, então nós fizemos a operação com sucesso. E entre o Natal e o Ano Novo, nós concluímos essa operação e partimos para a produção, para teste de produção, porque durante a perfuração haviam sido encontrados vestígios de óleo, de uma formação que você, através da formação que você ia perfurando, você recolhia. as amostras, analisava ali na própria sonda e vestia de óleo. Então, nós testamos e foi a primeira descoberta de óleo no Ceará, no litoral do Ceará. Na sonda PA-12 de Maga, o poço, se não me falha a memória, um Ceará Submarino 8. Eu tenho fotos, trouxe aí para mostrá-las. Então, logo essa notícia chegou à população cearense, a coisa virou Ficou um alarme geral. E a dificuldade de se alugar helicópteros para ir até a sonda, então eles alugavam pequenos aviões de aeroclubes e ficavam rodando a sonda. Naquela época, muito menos do que hoje, eles manjavam alguma coisa de perfuração. Então, o que escreviam nos jornais eram coisas absurdas. Tinha um rebocador do lado da sonda, um barco de supply, um rebocador descarregando material de gêneros, alimentícios, material para a operação. E já saiu a foto no jornal dizendo que já haviam navios em volta da sonda recolhendo petróleo já, petróleo jorrando em abundância, tinham até navios recolhendo petróleo. E quando nós chegávamos no aeroporto, éramos logo cercados pela imprensa e pelos curiosos, né, parabenizando e tirando foto, colhendo depoimentos, etc e tal, e viramos heróis, pelo menos momentâneos lá na Ceará. Foi muito bom aquilo. Descobridores, pioneiros de óleo lá na UMAPAR. Eu e o meu amigo Chico Rosa. E depois disso, então, eu daqui do estado do Rio, trabalhando a 3 mil quilômetros de casa lá no norte, resolvi arranjar um emprego aqui no Edise, aqui no Rio, mais próximo daqui. Já estava mais ou menos com tudo acertado, cheguei em Belém e aí o engenheiro de perfuração lá, o gerente de perfuração, me chamou e perguntou se eu não queria vir para trabalhar na bacia de campos, naquela época a base era em Vitória. porque a sonda estava sendo deslocada para cá. E eu virei para ele, que era o Francisco Cavalcanti, e disse, olha, o Chico, se você quiser, eu vou embora agora. Minha mala está pronta lá no hotel ainda. Não, rapaz, não precisa tanta pressa. Você trabalha aí e depois vai embora. Passei meus 15 dias e depois vim embora para Vitória. Trabalhamos em Vitória de 77 até 79, quando foi feita uma restituração e aqui é a base da Imbitiba, aqui em Macaé, né? E o último embarque meu como engenheiro de perfuração foi em agosto de 1979, porque naquela época ele já intercalava o engenheiro com o escritório.
00:22:54 P/1 - O que é essa convivência na plataforma, no cotidiano?
00:22:58 R -No cotidiano você tinha alguns técnicos brasileiros. O engenheiro praticamente era um só. Naquele tempo o engenheiro de perfuração cuidava de toda a operação. Às vezes, quando era teste de produção, sim, engenharia de produção. Mas fora isso, nós fazíamos todo tipo de operação, que é diferente hoje. Hoje você já tem um engenheiro para perfuração direcional, você tem um engenheiro para tratar de cimentação, você tem um engenheiro para tratar de perfuração, tem vários técnicos especializados. Mas naquela época era um engenheiro só de perfuração para todas essas atividades. E tinha o pessoal da geologia, nem sempre tinha um geólogo a bordo, muitas vezes tinha só os auxiliares de geologia. E o pessoal de área mesmo.
00:23:46 P/1 - Quando parava de trabalhar assim, quem fez essas ligações?
00:23:48 R - Não, o engenheiro de perfuração não para de trabalhar. O engenheiro de perfuração, naquela época, o meu período lá dentro, a minha atividade diária era da seguinte maneira, nós tínhamos que passar uma operação às 6 horas da manhã. Se estivesse dormindo, o radiooperador te acordava. Quando havia radiooperador, então despertador, né? Te acordava aí 15 para as 6, 7 para as 6. Você, através de interfone ou mesmo ir lá, você precisava saber qual era a situação da operação no momento. para passar uma informação via rádio para a base. Naquele tempo não havia comunicação por telefone, não tinha condição. Ou era rádio SSB ou então na base do telégrafo. Então passava a operação às seis horas. Como a atividade no escritório só começava por volta de sete, sete e meia, ia lá e ainda tirava mais um cochilo até às sete. Então levantava, aí tocava direto ali, acompanhando a operação lá pela área, rodando pela sonda, acompanhava a operação até umas onze e meia, depois ia almoçar, depois você descansava um pouco, ia pro escritório, ou tirava um cochilo, coisa rápida, né? E voltava a acompanhar a atividade de novo até umas cinco e meia. Subia pra tomar um banho, seis horas jantava, e de novo lá na sonda, acompanhando, rodando a sonda.
00:25:12 P/1 - Tinha história de fantasma?
00:25:14 R - Não, não tinha história de fantasma.
00:25:17 P/1 - Ah, teve gente com a porra.
00:25:19 R - Não, eu vi algumas pessoas perderem vida lá na sonda, daí eu vi quão frágil é a vida, né? Vi pessoas morrerem estupidamente por acidentes graves ou por bobagem, levar tombo. Uma vez eu tava jantando, quando voltei da janta por volta de seis horas, passei pela sala de rádio pra ver qual a situação. e o rádio operador estava chamando um helicóptero, isso já aqui na Abacete Campos, um helicóptero em emergência. E eu falei, o que está acontecendo? Ele falou, o rapaz estava ali recebendo material de lama, se descuidou e caiu no porão. A tampa do porão estava aberta, porque eles estavam botando material lá dentro, ele de costas se deslocou e caiu, quebrou o pescoço. Chamamos o helicóptero, ele já saiu de lá muito mal e morreu antes de chegar em Campos. Viu um rapaz cair também, naquela época tinha aquela novela, Selva de Pedra, que tinha aquele sapato, aquela sola branca dessa altura, que chamava Cavalo de Aço, né? O rapaz, ele foi descer uma escada e o salto agarrou na escada, ele caiu, bateu com a nuca num degrau de aço e entrou em coma na mesma hora e saiu de lá duro com a tábua. Viu bastante coisa assim, tipo... Tivemos também coisas... As maiores glórias nossas era o sucesso das operações.
00:26:39 P/1 - Qual foi o momento mais marcante que você viveu na Petrobras?
00:26:43 R - Eu acho que o momento mais marcante foi essa descoberta de óleo lá, no Ceará.
00:26:48 P/1 - O Cláudio, o que você acha dessa iniciativa da Petrobras e o Sindicato dos Petroleiros? Você tem alguma atividade sindical?
00:26:56 R - Não, não. Eu sou afiliado à EPED, Sindicato dos Engenheiros.
00:27:01 P/1 - O que você acha dessa iniciativa do Sindicato dos Petroleiros estar fazendo um projeto junto com a Petrobras para resgatar e registrar essa história dos 50 anos da Petrobras a partir da história dos trabalhadores?
00:27:15 R - Olha, eu acho que isso é importante, de uma importância enorme, porque você tem uma empresa com 50 anos e que é uma empresa que os brasileiros que não conhecem deviam conhecer, porque nós petroleiros, qualquer um de nós tem um orgulho muito grande de trabalhar aqui porque conhecemos a grandeza e o quanto a Petrobras é importante para o Brasil. E eu acho que isso não pode ficar esquecido no tempo. Todos nós temos histórias, muitas histórias para contar. da Petrobras, muitos fatos marcantes e do quanto a gente ajudou e participou nisso tudo. Porque ninguém pode dizer que foi ele que fez ou ele que conseguiu aqui na Petrobras. Aqui tudo, o empregado que tem a atividade menor aqui, ele participou disso também. Ninguém pode estar lá dentro na bacia de campos e sentir que só ele que está lá dentro é que está extraindo óleo lá. porque essa atividade sem a atividade de terra, ela seria inviável. Eu trabalhei durante seis anos como engenheiro perfuração embarcado e como engenheiro fiscal você era o dono da sonda, você mandava e fazia acontecer lá dentro. Então, você não tinha ideia do suporte necessário que você precisa ter aqui em terra para aquilo funcionar. Você não tem ideia de um processo de compra, você não tem ideia de um processo de logística, de transporte. O transporte pode ser marítimo, terrestre ou aéreo. Então, é preciso que as pessoas tenham conhecimento que todos fazem parte do contexto. Desde o menorzinho aqui, tem o maiorzão lá. E outra coisa que a gente todos tem que ter conhecimento da Petrobras é que aqui ninguém é insubstituível. Essa empresa, numa determinada ocasião, ela levou, se não me engano, umas duas semanas sem presidente. E tocou sem problema nenhum. Então pode sair até o presidente da Petrobras que ela vai funcionar da mesma maneira. É uma empresa que ela tem um... as pessoas bastante especializadas, bastante conscientes. E é realmente muito gratificante trabalhar no Petrobras. Quando você visita uma unidade, como nós visitamos no ano passado lá no Urucu, e vê o que é feito dentro da selva amazônica, se todas as pessoas conhecessem o Urucu, ou mesmo conhecessem uma sonda como uma P40, uma P18, ou uma sonda menor mesmo, para ver o trabalho que é executado ali dentro, Hoje nós estamos, eu e mais uma equipe de cinco pessoas, tomamos conta aqui em Macaé da atividade de segurança de voo. Essa atividade era coordenada no Rio de Janeiro. Com a reestruturação, essa coordenação no Rio acabou. Como a BIC de Campos tem um maior volume de serviço, ela passou para Macaé. E eu tenho a satisfação de estar coordenando esse grupo. Responsabilizamos pela atividade no Brasil inteiro. Em cada unidade de serviço, no Sul, no Espírito Santo, na Bahia, Ceará, Sergipe, no Norte, tem um representante lá da segurança de voo. Mensalmente nós fazemos reuniões de segurança de voo aqui em Macaé com as operadoras e os órgãos de DAC, Diretoria de Aeronáutica da Marinha, Infraero, Serac e as operadoras, Líder, BHS, Aeroleo, Casteloé, Elivia, etc. E a cada três meses nós fazemos uma reunião em nível nacional. E nós optamos em fazer essa reunião a cada três meses num local para que as pessoas tenham noção das particularidades de cada unidade dessa. Você operar numa bacia de campo, você é 100% diferente de uma operação na selva lá no meio da Amazônia. Então você chega numa base igual a Urucu. 100% ecológico, em que nada lá é descartado. Todo o lixo é tratado, é tudo ecologicamente tratado.
00:31:47 P/1 - Aqui em Campos?
00:31:48 R - Não, lá em Urucu. E a Petrobras inteira hoje está tratando disso, através do programa de SMS, Saúde, Meio Ambiente e Segurança. Todo o descarte é controlado. É um copo sujo de café, um copo com água, ele é diferente, ele é tratado diferente. Um lixo com resíduo oleoso, um lixo comum, um lixo metálico, um lixo plástico, lata, pilha, tudo tratado ecologicamente. Hoje a segurança na Petrobras, o presidente está dando até mais importância à segurança do que à operação. Digamos assim, meio a meio, 60% da segurança em relação à operação. 100% empenhado em diminuir os índices de acidentes.
RecolherO Museu da Pessoa está em constante melhoria de sua plataforma. Caso perceba algum erro nesta página, ou caso sinta falta de alguma informação nesta história, entre em contato conosco através do email atendimento@museudapessoa.org.
Para a manutenção de um ambiente saudável e de respeito a todos os que usam a plataforma do Museu da Pessoa, contamos com sua ajuda para evitar violações a nossa política de acesso e uso.
Caso tenha notado nesta história conteúdos que incitem a prática de crimes, violência, racismo, xenofobia, homofobia ou preconceito de qualquer tipo, calúnias, injúrias, difamação ou caso tenha se sentido pessoalmente ofendido por algo presente na história, utilize o campo abaixo para fazer sua denúncia.
O conteúdo não é removido automaticamente após a denúncia. Ele será analisado pela equipe do Museu da Pessoa e, caso seja comprovada a acusação, a história será retirada do ar.
Informações
Caso você tenha notado erros no preenchimento de dados, escreva abaixo qual informação está errada e a correção necessária.
Analisaremos o seu pedido e, caso seja confirmado o erro, avançaremos com a edição.
Informações
Os conteúdos presentes no acervo do Museu da Pessoa podem ser utilizados exclusivamente para fins culturais e acadêmicos, mediante o cumprimento das normas presentes em nossa política de acesso e uso.
Caso tenha interesse em licenciar algum conteúdo, entre em contato com atendimento@museudapessoa.org.
Caso deseje reivindicar a titularidade deste personagem (“esse sou eu!”), nos envie uma justificativa para o email atendimento@museudapessoa.org explicando o porque da sua solicitação. A partir do seu contato, a área de Museologia do Museu da Pessoa te retornará e avançará com o atendimento.