Projeto CTBC Telecom
Depoimento de José Simão Sobrinho
Entrevistado por Luiz Egypto de Cerqueira e Norma Lucia da Silva
Uberlândia, 08/03/2001
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número: CTBC_HV041
Transcrito por Daniele Coutinho
Revisado por Luiza Gallo Favareto
P/1 - Boa tarde, Seu Simão.
R - Boa tarde.
P/1 - Pra começar, eu gostaria que o senhor por favor, dissesse o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R - Meu nome completo José Simão Sobrinho, data de nascimento e local de nascimento é em Dores do Indaiá, em três do onze de 1938.
P/1 - O nome do seu pai e da sua mãe, por favor.
R - João Simão da Silva e Horizontina Maria de Jesus.
P/1 - Qual era a atividade de seu pai?
R - Meu pai era pedreiro lá em Indaiá, e aqui também.
P/1 - O senhor conheceu seus avós?
R - Conheci.
P/1 - Como é o nome deles?
R - Meus avós paternos são Joaquim Simão da Silva e Maria Antonia de Jesus, e o meu avô materno é Pedro Teixeira de Magalhães, e avó eu sei que é Amélia, mas não sei o sobrenome, e a gente nem falava Amélia, falava Milica. A gente chamava por apelido, não me lembro o sobrenome dela não, assim não sei se seria Amélia Teixeira, devia ter alguma coisa de Magalhães, mas não me recordo bem.
P/1 - Os seus avós eram lá de Dores do Indaiá mesmo, ou eles vieram de outro lugar? O senhor tem ideia de como eles chegaram lá?
R - Não, eu acredito que a origem seja de lá mesmo, não tenho muita certeza, mas acho que são de lá mesmo de Indaiá, daquela região mesmo.
P/1 - E o seu pai nasceu lá, sempre viveu lá?
R - Sempre viveu lá depois até que a gente se mudou pra cá.
P/1 - Como era Dores do Indaiá?
R - Dores do Indaiá é uma cidade pequena, eu não sei se aqui vocês conhecem a região, um povo muito alegre, era uma cidadezinha pacata, o pessoal que trabalha mais em agricultura, em lavouras era uma corrutela, e ali a gente viveu, nasceu, quer dizer, a gente morava mais até em um...
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Depoimento de José Simão Sobrinho
Entrevistado por Luiz Egypto de Cerqueira e Norma Lucia da Silva
Uberlândia, 08/03/2001
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número: CTBC_HV041
Transcrito por Daniele Coutinho
Revisado por Luiza Gallo Favareto
P/1 - Boa tarde, Seu Simão.
R - Boa tarde.
P/1 - Pra começar, eu gostaria que o senhor por favor, dissesse o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R - Meu nome completo José Simão Sobrinho, data de nascimento e local de nascimento é em Dores do Indaiá, em três do onze de 1938.
P/1 - O nome do seu pai e da sua mãe, por favor.
R - João Simão da Silva e Horizontina Maria de Jesus.
P/1 - Qual era a atividade de seu pai?
R - Meu pai era pedreiro lá em Indaiá, e aqui também.
P/1 - O senhor conheceu seus avós?
R - Conheci.
P/1 - Como é o nome deles?
R - Meus avós paternos são Joaquim Simão da Silva e Maria Antonia de Jesus, e o meu avô materno é Pedro Teixeira de Magalhães, e avó eu sei que é Amélia, mas não sei o sobrenome, e a gente nem falava Amélia, falava Milica. A gente chamava por apelido, não me lembro o sobrenome dela não, assim não sei se seria Amélia Teixeira, devia ter alguma coisa de Magalhães, mas não me recordo bem.
P/1 - Os seus avós eram lá de Dores do Indaiá mesmo, ou eles vieram de outro lugar? O senhor tem ideia de como eles chegaram lá?
R - Não, eu acredito que a origem seja de lá mesmo, não tenho muita certeza, mas acho que são de lá mesmo de Indaiá, daquela região mesmo.
P/1 - E o seu pai nasceu lá, sempre viveu lá?
R - Sempre viveu lá depois até que a gente se mudou pra cá.
P/1 - Como era Dores do Indaiá?
R - Dores do Indaiá é uma cidade pequena, eu não sei se aqui vocês conhecem a região, um povo muito alegre, era uma cidadezinha pacata, o pessoal que trabalha mais em agricultura, em lavouras era uma corrutela, e ali a gente viveu, nasceu, quer dizer, a gente morava mais até em um distrito de Dores, mas a gente trabalhava na lavoura, e a gente estudou por ali, até que em 59 eu vim aqui passear com a minha avó, e nem voltei, deixei ela voltar sozinha, e não voltei mais, e depois eu fiquei aqui de 59 até parece sessenta, 61, meu pai veio com meus irmãos e aqui estamos até hoje.
P/1 - Antes de nós chegarmos até aqui eu queria que o senhor falasse da sua casa lá nessa... Em Dores do Indaiá, como era sua casa?
R - A vida lá era difícil, rapaz, era muito difícil. A gente tinha uma dificuldade muito grande, e meu pai ficou viúvo novo, tinha eu e minha irmã e outro irmãozinho que veio a falecer, até minha mãe faleceu de parto e ficou eu e minha irmã. Depois meu pai casou a segunda vez, depois adquiriu nova família e uma família numerosa que chegou no número que parece onze, depois ele enviuvou de novo e tornou a arrumar uma outra companheira, e arrumou mais sete filhos até que nós formamos o número de dezoito irmãos. Lá a coisa era difícil, mas aí a gente veio pra cá, eu já era pessoa adulta, graças a Deus, aí a gente começou a trabalhar até que eu trouxe meu pai e com meus irmãos e que a gente conseguiu estabilizar, ter um trabalho melhor um ordenado melhor, porque a gente teve uma condição, conseguiu uma vida melhorzinha.
P/1 - E lá em Dores do Indaiá essa atividade de cultura agrícola, o que vocês plantavam o que vocês colhiam?
R - Era arroz, eram coisas comuns do dia a dia. Arroz, feijão, milho, mandioca, cana de açúcar, que eu lembro ainda criança meu avô tinha um engenho de cana de açúcar que fazia rapadura, quer dizer, essas coisas mesmo de agricultura, a coisa que seria o sustento da família era o arroz o feijão, o milho, a cana de açúcar, que fazia a rapadura, quer dizer, era o que substituía o açúcar, usava a rapadura ou vendia para outras pessoas para adquirir qualquer outra coisa que faltasse, e a vida ia indo.
P/1 - E o senhor tinha obrigações nessa lida ali, tinha que ajudar seu pai?
R - Eu, nessa época, eu to dizendo do meu avô, eu não tinha nenhuma obrigação, a gente era moleque de cinco, seis, oito anos, mas depois por volta de doze anos, treze anos, aí sim, aí a gente teve que começar firme, porque é o que eu te falei, a família cresceu, a renda do meu pai era muito pequena e a gente partiu pra outro campo, que era pras lavouras de panha de café, onde a gente ali conseguia ganhar um dinheirinho mais, nas épocas das panhas de café, e aí a barra era pesada. A gente tinha que levantar cedo, por volta de quatro e meia cinco horas da manhã todo dia. Aí o dia todo e durante três, quatro meses que era o período da panha de café, e nesse período o horário de cinco e meia até seis horas da tarde, por aí, que se tava chegando do serviço.
P/1 - E sempre mais longe da moradia de vocês?
R - É. E esse ai você saia da cidade onde a gente morava, ia pra lavoura e ficava lá durante o tempo, ali você ficava, fazia uma outra moradia, durante o tempo que a gente tava ali trabalhando a gente ficava lá.
P/1 - E onde que se estalavam as pessoas? Dormiam onde, ficavam onde?
R - Essa questão, era como se fosse uma colônia, eles falavam as cafuas, as barraca, fazia uma casinha de dois cômodos, um, dois cômodos, ali a gente ficava, mais cada família tinha a sua barraca pra ficar.
P/1 - E fazia as refeições ali mesmo?
R - Fazia comida de madrugada e levava pra lavoura, você chegava e começava a trabalhar, horário de almoço parava, acendia um fogo lá, fazia uma trempa, esquentava a comida, pegava e malhava, só vinha a tarde pra fazer a janta e descansar.
P/1 - Como é que era? O que o senhor comia no café da manhã, no almoço e no jantar?
R - Café da manhã praticamente não existia, se levantava às cinco e meia, fazia comida depois você já ia pra lavoura, às vezes, levava rapadura um pedaço de queijo as vezes, aí você já começava a trabalhar ali pras oito horas, se comia qualquer coisa ou uma rapadura com pedaço de queijo ou um bolo de fubá, ali pras 9:30 almoçava, lá pelas três horas tinha, eles falavam uma merenda, e aí era isso, mas eram as coisas mais... Eram uma ou tinha umas laranjas, porque no meio da lavoura de café tinha umas bananas, laranjas, e aí a gente tinha autoridade pra pegar e usar, embora o dono da lavoura desse, a gente cortava aquilo, levava pra casa, amadurecia, e a gente levava pra fazer as merendas.
P/1 - Como essa garotada trabalhando tão cedo, como que se divertiam, o que tinha de brincadeira, de hora de recreio o que vocês faziam?
R - Não existia hora de recreio, a gente trabalhava cedo, nesse horário das seis às oito, chegava a noite e ainda tinha uma disposição de brincar, daquele de um pute que eles falavam de pique-esconde, ou então sentava ali, tinha muita moça, tinha muito jovem, quer dizer, então se fumava umas quatro tábuas, aí fazia uma roda ali e você ia brincar de passar anel, direito está vago, por exemplo direito está vago tal... Senta aqui fulano de tal e a brincadeira era essa, a gente não tinha tempo pra brincar, não tinha porque chegava no final de semana, a gente trabalhava de segunda a sábado, no domingo quer dizer, as mulheres iam lavar a roupa, a gente ia buscar uma lenha, ia caçar uma variedade pra comer durante a semana, buscar um palmito, quer dizer, não tinha tempo, tempo era todo dedicado ao trabalho.
P/1 - E a escola, Seu Simão?
R - A escola a gente estudava, só que nessa época você faltava na escola três, quatro meses. Todo ano a gente tinha que faltar na escola, mas mesmo assim eu consegui, eu falei pra fazer o quarto ano naquela época e depois já aqui na CTBC, CTBC me formou, deu uma condição pra gente estudar, porque o próprio pessoal do (sezuia?) lecionava pra gente na CTBC, a gente parava o trabalho e já ficava estudando, cada um levava um lanche e tal, e eu consegui completar o primeiro grau.
P/1 - Nessa época, que meses eram os de panha de colheita de café?
R - Parece que eram os meses de junho, julho, agosto, setembro, essa época ai, época de muito frio, hoje o pessoal fala: “é, hoje tá fazendo muito frio”, hoje não faz frio não, naquela época a gente saía às cinco e meia pra ir à lavoura de café, a gente chegava seis, seis e meia, começava a trabalhar, as folhas, os pés de café ficavam brancos de tanto gelo, às vezes tinha determinada hora que você tinha que parar, acender um fogo pra esquentar as mãos porque se não, não funcionava não.
P/1 - E todo mundo tinha agasalho, as pessoas...
R - É, não tinham, nem tanto, nem sempre, as vezes nem calçado a gente tinha direito, mas agia do mesmo, dessa maneira, sentia bem, e levava a vida.
P/1 - Tá certo, me diz uma coisa Seu Simão. Depois, quando o senhor deixa de estar mais diretamente envolvido no campo, na colheita, o tempo de Dores do Indaiá era dividido como, quer dizer, escola, casa...
R - E trabalho...
P/1 - O que o senhor fazia, lá?
R - Eu ficava, eu até falo assim: Dores do Indaiá foi onde eu nasci, depois eu fiquei... Meu pai mudou pra uma outra cidadezinha chamada Estrela do Indaiá, e foi ali que eu estudei, e era onde a gente tinha essa função da lavoura do café, depois ali por volta dos quatorze, quinze, dezesseis anos eu já comecei a trabalhar numa serralheria, serraria de madeira, e fiquei, ali eu já trabalhei e comecei a ter uma vida diferente, porque mesmos meus pais, a minha madrasta com os irmãos mais novos, às vezes ia pras lavouras, mais eu já era... Minha função já era outra, já tava mais na adolescência, e eu fiquei uns três anos, não chegou três anos, dois anos, aí eu tive um acidente, cortei esse dedo, e devido a isso eu e meu patrão acabamos nos desentendendo e eu sai, quer dizer, mais aquele que a gente fala, a males que vêm pra bem...
P/1 - Como foi esse acidente, o que aconteceu?
R - O acidente... Tem as máquinas, uns falam plaina outros falam desempenadeira, é uma máquina que tem a faca que gira assim, você passa a tábua em cima assim pra alisar, e eu passando a tábua, e ela _______ que tem um nome a ____, plaft, fez assim e minha mão desceu, ai eu só vi que cortei quando virei a tábua assim pra ver o que tinha acontecido, aí que eu vi que meu dedo tava cortado, quer dizer, daí eu saí. Aí sim eu mudei pra Dores do Indaiá, fiquei lá uns três anos, passei a trabalhar numa serraria, é outra lá em Dores do Indaiá, e o meu pai... E a minha madrasta doente, meu pai já mudou pra lá, porque ela era de uma cidadezinha maiorzinha um pouco do que a Estrela do Indaiá, pra ter condições de tratamento médico, que a gente mudou pra lá e foi uma melhora, quer dizer, então o que eu falo que a males que vêm para o bem, porque talvez se não tivesse acontecido isso, eu me dava bem com o patrão, de repente eu poderia ter ficado lá, eu poderia estar bem, poderia não estar, ou ter melhorado ou não, aí eu fui pra Dores, fiquei lá uns tempos, uns três anos, aí um dia eu tava desempregado e minha avó vinha aqui, porque ela tinha um filho que morava aqui, que era meu tio, ai eu vim com ela só que eu cheguei aqui e gostei tanto da cidade que eu não voltei mais.
P/1 - E o senhor lembra em que ano foi isso?
R - Foi em 29 de agosto de 59, eu cheguei aqui e estou até hoje.
P/1 - Como era Uberlândia dessa época, o que o senhor viu quando chegou aqui?
R - Pra mim, quando eu cheguei aqui em Uberlândia, eu achei que eu tivesse em outro mundo, porque a proporção de tamanho da cidade, quer dizer, a cidade maior que eu conhecia era Belo Horizonte, que realmente era uma cidade bem maior que Uberlândia na época, mas a hora que eu cheguei aqui eu fiquei uns três, quatro dias, era a época que minha avó ficava, eu saí com minhas primas, meu tio, tinha umas moças e a gente saia e tal, ia ao cinema, quer dizer, eu me deslumbrei com isso aqui, era uma cidade pra mim fora do comum, e aí a gente viu, eu já senti, era a condição que você tinha de trabalho, o campo pra você trabalhar, aí eu falei: “não, é aqui que eu vou ficar”.
P/1 - E o senhor...
R - Aí minha vó voltou sozinha, e eu fiquei aqui, aí eu fiquei aqui dois anos, sozinho, ai depois eu trouxe meu pai com meus irmãos, e hoje tá todo mundo aí, até hoje. Meu pai veio a falecer, mas meus irmãos, nós somos dezesseis irmãos vivos, ta todo mundo aqui, graças a Deus.
P/1 - Dezesseis? E nesses dois anos primeiros que o senhor passou aqui, o senhor vivia onde?
R - Eu vivia na casa do meu tio.
P/1 - Como era essa casa, onde ela ficava?
R - A casa era ali onde hoje é o bairro Bom Jesus, antigamente se falava Taboca, não sei, o senhor não é daqui, não é?
P/1 - Sim, mais eu conheço mais ou menos...
R - O senhor sabe onde é o bairro Bom Jesus, antigamente lá era Taboca, era na antiga Rua Morrinhos, hoje é Jerônimo Martins do Nascimento, bem lado, bem beirando o anel viário ali.
P/1 - Como era essa casa assim?
R - A casa era uma casa simples, mais que dava até um bom conforto, confortante. Para média de vida da pessoa, era uma casa que tinha um bom conforto, era uma casa que parece que tinha quatro quartos, sala, copa e cozinha, dois banheiros, e uma área, quer dizer, então era uma casa boa até.
P/1 - Tinha quintal?
R - Tinha um quintal muito grande.
P/1 - O que tinha nesse quintal?
R - No quintal tinha mandioca, plantava-se milho na época e algumas frutas, laranjas e tal, quintal dele era grande, hoje seria uns quatro a cinco terrenos, de doze por... De 360 metros, que seria a norma do terreno na época.
P/1 - E nesses dois anos o senhor ficou fazendo o que aqui em Uberlândia?
R - Eu, graças a Deus, como eu comecei a trabalhar cedo, eu tive uma vida as vezes assim, até um pouco castigada, porque geralmente a gente que é criado por madrasta a vida não é das melhores não, mas ela me ensinou muito, ela me ensinou a trabalhar, a ser honesto, e não ter preguiça, então eu comecei, pra mim trabalho era diversão, quer dizer, então eu cheguei aqui, como eu te falei, eu vi que aqui o campo de trabalho seria bom, ai eu fiquei, trabalhei poucos dias numa marcenaria, mas não deu certo, aí de repente eu tinha um primo que também morava aqui, trabalhava numa máquina de beneficiamento de arroz, e eu sempre não tava fazendo nada, ia pra lá ficava ali batendo papo, entrava um caminhão de arroz pra descarregar ou carregar. Eu comecei a trabalhar de chapa, e ali eu trabalhei, acabei sendo fichado, trabalhei lá uns cinco anos, depois eles venderam a máquina de arroz, eu saí, fiquei mais uns 45 dias trabalhando de chapa, na… Hoje é a praça onde é o terminal, ali era a estação ferroviária, e carregando e descarregando vagão, aí depois eu entrei na CTBC, fiquei até 95 agora, até eu me aposentar, fiquei praticamente trinta anos.
P/1 - Sei, antes de chegar na CTBC, como é que era esse serviço de chapa, quer dizer, o senhor ficava ali esperando carga pra…?
R - Na máquina de arroz a gente ficava fazendo ponto ali na porta, parecia um caminhão pra carregar, você ia, carregar ou descarregar, aí depois que eu fui registrado eu trabalhei uns cinco anos quando eu sai, é o mesmo sistema, você vai ficar ali num ponto esperando, um caminhão pra carregar e descarregar.
P/1 - Tinha muita concorrência?
R - Não, tinha trabalho demais, tinha muita gente, mas se quisesse trabalhar o dia inteiro sem parar, você trabalhava.
P/1 - Como era o movimento desse lugar que não existe mais, que era ali nos armazéns, da Mogiana, como eram aqueles…?
R - Ali era um pátio, quer dizer, aquela Praça da Rua Afonso Pena, até na Fernando Vilela, como fala o nome da pracinha meu Deus, Sergio Pacheco, é, ali, quer dizer, logo saindo no começo da Afonso Pena, tinha a estação, dali até na Fernando Vilela, entre a João Pessoa e a parte de cima, era cercado, era armazéns de… Onde se armazenava as coisas que chegavam, e vinham de trem, quer dizer, então ali a gente ficava na praça, ali na calçada, no calçadão, uma turma de homem ali, esperando, pintava um caminhão, nego já corria logo e pegava.
P/1 - E era movimento o dia inteiro?
R - O dia inteiro, tanto faz ali na estação, como nas máquinas de arroz. Na época que aqui em Uberlândia tinha o pessoal que fala chapa, o pessoal ganhava mais dinheiro, era esse pessoal que trabalhava de chapa, só que a gente ganhava de dia e gastava a noite, ganhava fácil, quer dizer, era árduo o serviço, mas você ganhava bem, mas a noite se saia pra orgia e gastava tudo, no outro dia você começava tudo de novo.
P/1 - Como era a noite?
R - A noite era brava, era quente, quando solteiro, às vezes, a gente ficava a noite toda na rua, rodeando, tomando uma cervejinha, gastando dinheiro, no outro dia você começava tudo de novo, sete horas da manhã, você tava na...
P/1 - Mas e a disposição no dia seguinte?
R - Não tinha problema nenhum não, sô, a gente tinha saúde graças a Deus, e até hoje eu to com 62 anos, não tem problema não, se você falar assim vamos pegar um caminhão ali e carregar, capinar um quintal, não to nem ai, é diferente, se for preciso ficar a noite num baile também dançando eu fico, tô pronto pra outra… E assim foi a vida, então por isso que eu falei, então às vezes a gente, geralmente a gente vê o lado mal, ou ruim das pessoas, mais esquece de ver o lado bom, e eu sempre comento com meus irmãos, por parte de pai, que são os filhos da minha madrasta, que ela às vezes até foi um pouco rigorosa, má comigo, mas ela me ensinou demais, quer dizer então que eu devo muita obrigação pra ela, talvez se ela não tivesse dado duro pra gente trabalhar, de repente podia ser um malandro aí hoje, quero dizer, então a gente aprende. É com o dia a dia, a gente vai vivendo e aprendendo, eu entrei na CTBC, quer dizer, então às vezes eu falo, ninguém é melhor que ninguém, e nem é insubstituível, só que, alguém que conhece a história da CTBC, a pessoa pra ficar trinta anos conforme eu fiquei na CTBC, tinha que realmente trabalhar, porque o Senhor Alexandrino, não era brincadeira não, ele era um cara que, o negócio dele era trabalho mesmo.
P/1 - Como foi o seu contato com a CTBC, como o senhor se aproximou da companhia?
R - Eu tinha uns amigos que já trabalhavam na CTBC, a gente formou uma amizade e tal, e por aí que eu pedi um dia, quando nessa época que eu estava aqui no ponto da estação fazendo ponto de chapa, é que eu conheci dois casais, o Senhor Carloto Marques, que ficou na CTBC até aposentar, e Déia Nascimento Lacerda, que hoje está em Goiânia, já aposentado também. Nós ficamos amigos através de uma entidade que era Circo dos Trabalhadores, antigamente falavam Circo do Operário, e aí eu conversando com ele, vendo que eu estava desempregado, a minha esposa, já nessa época a vida ainda tava um pouco difícil, aí eu falei: “eu vou ver se pintar uma vaga lá, eu vou arrumar procê”, e arrumou, e eu entrei lá e fiquei, até...
P/1 - E como foi esse processo de admissão na CTBC, o senhor entrou pra fazer o quê?
R - O processo de admissão da CTBC antigamente era muito fácil, porque através de um amigo, ou qualquer um parente, um amigo chegava: "Ô, eu tenho um amigo precisando trabalhar, tal”, ou falava, naquela época o contato era direto com o dono, era com o Senhor Alexandrino, o Doutor Luís falava com eles: “manda ele vim aqui”, ou "manda ela vir aqui", quer dizer, você chegava lá automaticamente você começava a trabalhar, e eu comecei no pessoal de serviços gerais, e passei a trabalhar logo, logo, uma semana depois eu tava trabalhando como ajudante de construção de rede, que era uma coisa realmente difícil, que era fincar poste na beirada das estradas pra fazer a antiga linha física que eles falavam. Hoje não se existe mais isso, acabou, quer dizer, pra você falar daqui até Ribeirão Preto, São Paulo era... Tinha postes fincados daqui até Ribeirão Preto, com linhas esticadas ali, e aquilo você tinha que dar manutenção naquilo dia e noite, que era uma coisa muito sujeita a intempérie, quer dizer, dava uma chuva, era uma faísca da atmosfera que caia, arrebentava o fio ou um vento que dava, derrubava poste, e aquilo parou, você tinha que sair, fosse qualquer hora da noite. Eu, como passei a trabalhar com manutenção dessas linha físicas, então aí realmente foi também um serviço muito árduo, árduo assim, o serviço judia muito da gente, porque era um sistema que precisava dele pra falar daqui pra fora, por exemplo, se desse defeito a gente tinha que sair a qualquer hora da noite eu tava em casa: "ó, deu defeito em circuito tal", você tinha que vazar, pois então isso aí, foi o que eu te falei, graças a Deus. Eu, como fui um cara, uma pessoa que sempre trabalhei em serviços que exigiam muito da gente, não tinha muita dificuldade pra isso não, me chamava, podia estar chovendo, eu iam saía, e ia trabalhar, às vezes trabalhava a noite todo molhado, a roupa enxugava no corpo, as vezes nem em casa você vinha, continuava, eu vinha, trocava a roupa e voltava, e começava de novo, quer dizer, então era normal, mas era uma coisa rara, só que a gente tinha que ter uma responsabilidade, porque eu sempre comento com o meu filho ou minhas filhas, o seguinte: o serviço exige de você tal coisa, você tem que estar disposto a fazer aquilo, então eu aprendi, e aí eu fiquei na faixa de uns quinze, vinte anos só nesse serviço de manutenção de linha física, aí depois foi melhorando, automatização, aí foi acabando isso, aí eu já passei a trabalhar mais na parte interna, de serviço interno, instalação de... E reparos telefônicos, mas foi uns quinze anos de serviço árduo, mas foi gratificante.
P/1 - Como era uma expedição dessas pra esticar uma linha física daqui, conta uma história, por exemplo, era um momento que a CTBC tava começando a se expandir, né?
R - Tudo bem, quando eu entrei em 66, quer dizer, já tinha algumas linhas, daqui pra Uberaba, tinha daqui pra Ituiutaba, e tava modificando o sistema, que era poste de madeira e eles passaram a usar o poste de trilho, porque como tinha Mogiana alí, senhor Alexandrino adquiriu uma quantidade de poste de trilhos que não usava mais na Mogiana, passou a usar aquilo, porque o de madeira era uma coisa forte, mais com faísca, a faísca era danada pra descer, e rachar, quer dizer, então passou-se a usar o poste de trilho. Estava essa modificação, mas tinha aquela turma que trabalhava na construção de rede, um exemplo só pra você ter um exemplo, daqui a Uberaba, quer dizer, tinha uma turma de homens ai, que inclusive o Joaquim Pires trabalhou nessa construção, tem o Francisco Moreira Pinto, Seu Rivalino, outras pessoas, e tinha uma turma de uns quinze, vinte homens, enchia um caminhão de poste aqui, chegava na beirada da estrada, soltava aqueles postes ali, então o cara tinha que pegar aqueles postes no ombro e levar até um determinado ponto, que era mais ou menos a média de uns vinte a trinta metros da margem da rodovia, então o pessoal tinha que furar buraco, fazer picada, às vezes onde tinha o cerrado, onde era mais sujo, e furar buraco, fincar aqueles postes, e esticar, era um serviço braçal mesmo, o pessoal fazia isso e tinha o pessoal da manutenção, que esse seria a retaguarda, né?
P/1 - Como era esse processo? Só pra gente entender melhor, o poste, qual é a melhor madeira pro poste, e como se fazia isso, primeiro fazia a picada depois fazia o buraco?
R - Correto...
P/1 - Como esticava o fio?
R - O melhor material pra poste de madeira seria a Aroeira, que é uma madeira mais resistente e mais, como eu vou dizer, que não é tanto atingida pelos raios, mesmo assim ainda acontecia. Aí depois apareceu esse sistema de trilho pra melhorar, então aí o que acontecia, esse ai ou ia cair, ou quebrar com o vento, então a primeira coisa, o cara ia fazer a picada, fazia uma picada, demarcava o local dos postes, alguém ia fazendo picadas, outros viam furando os buracos, depois vinham com os postes, levantava os postes, se encruzetava o poste, e ia esticando o fio, até chegar, vamos supor, até sair daqui de Uberlândia até chegar lá em Ribeirão Preto.
P/1 - Que distância tinha que ter um trêm?
R - O poste, é a média de oitenta metros, no começo era oitenta metros de um poste, como aquilo tava começando, com qualquer vento, vendaval que dava os postes caiam, aí dividiu, de quarenta em quarenta metros, que aí dava uma consistência maior, pra evitar dos postes deitar, mais as vezes dependendo o vento que dava, às vezes deitava esses postes de trilho, tinha uma vantagem, ele não quebrava, não danificava com faíscas, mais por outro lado como ele era estreitinho, às vezes conforme o vento, eles deitavam cinquenta a sessenta postes, você entendeu? Um trajeto de cinquenta postes, “parou Uberaba, parou Ribeirão Preto tal”, você saia doido, chegava lá tava aquele monte de postes. Aí ia dois, três dias e noites, pra levantar aquilo novamente, só que você chegava e tinha que dar uma maneira de fazer aquilo funcionar, como por exemplo, se tivesse caído aí trinta postes, o que você ia fazer? Como não dava, ia ter que levantar, fincar novos postes e tal, onde tava o poste em pé você cortava a linha aqui, pegava uma alternativa, pegava o fio drop, que é um fio desse de esticar pra usar o telefone dentro da cidade, e ele esparramando aquilo no cerrado, até chegar no outro ponto, o que tava em pé, cortava e ficava só a parte dos postes caídos, você ligava a parte boa de lá com a de cá.
P/1 - Sei...
R - Daí punha pra funcionar e aí você ia fazer o serviço mas com calma. Mas aí a hora que der, você tem que sair a noite, e fazer o que fosse a noite, teria que ser feito.
P/1 - O senhor ainda no tempo do poste de Aroeira, o que o senhor se referiu, tinha Aroeira suficiente aqui na região pra cortar, tinha...
R - Eu não sei a procedência, eu sei que comprava de mais, aparecia caminhão cheio de Aroeira pra vender pra eles, pra companhia.
P/1 - Ah, certo...
R - Quer dizer, agora eu não sei a procedência da onde, eu não sei da onde vinha, eu sei que tinha demais, aparecia, todo dia tinha caminhão lá na porta oferecendo poste pra vender, como sabia que a firma usava muito, a companhia usava muito.
P/1 - E eles tinham um gabarito assim, um...
R - Tem que ter um gabarito.
P/1 - Qual que era?
R - O gabarito ele tem que ter pelo menos, a ponta dele lá em cima, tem que ter no mínimo de vinte centímetros, e embaixo tem que sair na parte de uns quarenta centímetros, mais ou menos, pra ele sair despontado, pra dar um padrão, tem um gabarito.
P/1 - E a altura?
R - A altura é a medida de oito, nove metros, a média é de nove metros, eram postes de nove e meio, fincava ele aí um metro, um metro e meio, ficava em média oito metros, em determinado lugar, na travessia de rodovias, estrada, ai as vezes tinha que ter poste de ate de doze, quinze metros.
P/1 - E quantos fios passavam em cima dele?
R - Tinha um determinado, um padrão, falava circuito, cruzeta interurbana, a cruzeta interurbana é uma cruzeta de dois metros e meio, tinha, a ponta da cruzeta mais ou menos, cinco ou oito centímetros, furava um buraco pro pino em média de vinte centímetros, um espaço de vinte centímetros, duma linha na outra, que era o par, linha A e linha B, por exemplo, em um espaço de uns trinta centímetros e mais um, eram quatro circuitos, com uma cruzeta interurbana, eram quatro circuitos que seriam quatro linhas. Por exemplo, atendia quatro circuitos, daqueles, um exemplo, mas poderia usar-se mais, então quer dizer, então as vezes tinha duas cruzetas interurbanas que serviam oito circuitos, e tinha cruzeta rural, que falava, ai a cruzeta rural, ela já era oito circuitos, era quatro e quatro, de um lado e do outro do poste, o interurbano é de dois e dois, de um lado do poste, a rural já era oito e oito, e ia se estendendo por aí, você entendeu? Ia aumentando.
P/1 - Mais o senhor tava contando desses circuitos que a posteação sustentava, e o senhor tava falando das cruzetas, ali dos postes de madeira e tudo mais, e quando mudou pra trilho, conseguiu ser o mesmo tipo de instalação superior?
R - A instalação era a mesma, quer dizer, melhorou o sistema, que é justamente o que eu to falando, apesar de às vezes conforme o vendaval, ter que deitar com os postes, mas pelo menos dava uma consistência bem melhor que do poste de madeira, apesar de ser a madeira de Aroeira, ser uma madeira de primeira lei, mas ela tinha aquele problema, com a faísca, por exemplo, pra você ter uma ideia, o poste, é um poste redondo, às vezes caía uma faísca lá na cabeça do poste, ele rachava assim em 4,5 virava uma bucha, então melhorou o sistema, quer dizer, era menos sujeito a defeito, o poste dava uma consistência maior ao condicionamento de funcionamento mais constante, sem interrupção, a não ser na época de tempestade, que isso aí, isso é coisa que ninguém tinha condição de segurar, apesar que se fazia aterramento, pra evitar questão de faísca, mas acontecia.
P/1 - Todo poste era aterrado?
R - Não, nem todo poste era, em determinada distância, fazia esse aterramento, só que o poste de trilho em si era um aterramento, ele era um condutor de terra, ele tava enfincado, ele era um condutor.
P/1 - Senhor Simão, como se localizava um defeito, quer dizer, caiu a linha daqui pra Itumbiara, e ai?
R - É, hoje o sistema é o seguinte, por exemplo, a telefonista tá ali na mesma, por exemplo, a pessoa quer falar em Ituiutaba, quer dizer, então naquela época não existia ainda as vias, ela tinha que pegar na nivelinha, da uma tocada e caia lá na mesa da telefonista, lá em Uberaba, ou então no Estado de São Paulo ou por exemplo, “Quero falar em Ribeirão’, pegava um circuito que ia direto a Ribeirão. “Eu quero falar em São Paulo”, a menina atendia e ia completar a ligação, quer dizer, então o sistema era esse, a telefonista… Era um telefone magnético que a gente falava, ligava, então deu um defeito, “O que aconteceu menina? Fala”, “o circuito de Uberaba não ta funcionando, quer dizer, geralmente se fosse durante o dia, já tinha o técnico de teste de linha físicas, ele já testava, já tinha uma mesa de teste, e na mesa ele entrava no circuito, ele sabia, tinha tudo numerado, um, dois, três, um exemplo, de Uberaba ele já sabia se o circuito tal, dois, tá com defeito, ele já saia, então ele entrava lá e já sabia, vai na mesa e mede. O que acontece: ou dava aberto, aberto é quando a linha ta arrebentada, e media da aberta, dava por exemplo, uma resistência… Um exemplo, quando a linha ta normal, ela tinha uma resistência de novecentos ohm, por exemplo, só pra gente explicar, ela deu aberto sabe-se que a linha ta arrebentada ou então dava um curto circuito, deu um vento lá numa árvore, pegou na linha, a linha cruzou, quer dizer, interrompeu. Como a gente sabia que por exemplo daqui em Uberaba dava novecentos ohm no circuito, se dava 450, eu sabia que ele tava mais ou menos aproximadamente no meio do caminho, então o que acontece, o cara testava, entrava em contato com a gente, que era da manutenção da linha e falava: “Simão, o fulano”,qualquer pessoa, “o circuito TLA de Uberaba ta com defeito", eu poderia estar aqui, ou poderia estar na estrada, mas aí a gente tinha o telefone magnético também, que a gente subia no poste, ligava o fio e sempre ligava pro exame de linha, "tô aqui em tal lugar", então a gente sempre tava mantendo contato. A linha... Eu achava melhor o curto, pra achar, porque eu sabia a distância mais ou menos, então a gente tinha um O'Miter na mão, e eu na linha...
P/1 - Como que chamava?
R - O'Miter, é um sistemazinho de medir que você mede a distância, por exemplo, eu saia daqui, como eu sabia que aquele... A primeira medida que tava dando ia dar mais ou menos a metade do caminho, então eu ia lá na metade do caminho, o que eu fazia? Eu me entranhava na da linha, aí eu media com meu O'Miter, ou então se eu conseguisse falar aqui, o exame entrava e eu fechava um curto, ou se eu conseguisse falar com ele eu sabia que o defeito ainda estava pra frente, como o meu é aquele multiteste, eu media, eu sabia aproximar do defeito, eu ia diminuindo, então você vai acostumando, você chega a medir, você vai medindo. Então não tá daqui a tantos postes, a dez ou vinte postes, então você ia adaptando, a linha aberta era o seguinte: tá aberta o que você ia fazer, você ia olhando até ver o fio arrebentado e caído...
P/1 - Mais ai você ia percorrendo o...
R - Ah, não. Ia na beirada da estrada, a gente ia de carro, ia um motorista e outro ajudante do lado, porque motorista não tem como ficar dirigindo e olhando, porque a linha, apesar de ser na beirada da rodovia, mas é à uns vinte a trinta metros, então o cara ta dirigindo e o ajudante ta de lado pra ir observando qualquer problema, então eu vi um poste caído, uma árvore caída em cima, fala: “ali tem um problema”.
P/1 - E quando havia ocorrência desse tipo de defeito, a equipe que saia era formada de quantas pessoas?
R - Duas pessoas, era o motorista e o ajudante, mas espera aí, eu vou explicar, nós vamos chegar lá. Se o circuito está em curto poderia simplesmente colocar uma linha a essa distância, uma da outra, um passarinho que vinha, batia as vezes ela cruzava, simplesmente eu chegava e descruzava, quando acontecia aquele caso de eu chegar no local e ter dez, vinte postes caídos, a gente acionava aqui, aí já mandava uma equipe pra lá para dar um maior desenvolvimento naquele defeito.
P/1 - O senhor subia no poste, fazia...
R - Aí tinha um telefone pra gente fazer contato, ligava, falava, ó tá acontecendo isso e isso, aí elas já mandavam uma equipe com a caminhonete, já com os fios que era pra fazer aquele trabalho de pôr logo, o principal de uma manutenção era fazer com que o circuito funcionasse com o menor tempo possível, ficasse parado, entendeu?
P/1 - Sim, sei. Mesmo que fosse necessário fazer esse tipo de gambiarra que o senhor se referiu?
R - A gente tinha que trabalhar de maneira que ele ficasse interrompido o menor tempo possível.
P/1 - Qual foi o pepino mais complicado que o senhor teve que descascar nessa sua vida de manutenção?
R - Rapaz, teve demais viu, teve demais, mas a gente passa. Eu tenho um sistema, eu sempre tive um sistema comigo de dedicação, dedicação, questão de horário, nunca gostei de ninguém me esperar, chegar no serviço sempre um pouquinho antecipado, quer dizer, então eu passei a gostar daquilo que eu fazia, mas era difícil, de repente a gente chegava aí, vamos supor você tá olhando uma linha, de repente tem uma lagoa, você tem que entrar na lagoa sem saber. Quando eu comecei trabalhar, nos primeiros defeitos que eu saí, quando era com um cara que era na época o encarregado, e era o cara que cordenava, então eu sai com ele pra olhar um defeito, eu não tinha conhecimento nenhum daquilo, simplesmente ele disse: “você tem que fazer”, chegou no mato, a noite eu peguei uma escada, ele falou ali tem um capão de mato, vai lá e dá uma olhada que as vezes costuma cruzar a linha ali, botei a escada no ombro, lá vou. De repente vulpt, tinha uma grota, nem sabia, cai lá dentro. Então o que aconteceu, minha sorte é que a escada tava atravessada no meu ombro, ai a escada me sustentou, a escada bateu no chão e eu fiquei pendurado, saí, passei, isso aí acontecia muito, por exemplo na época de chuva você tava subindo num poste daquele, você tá ligando um fio, vem uma faísca atmosférica, te dá um choque e você cai do poste. Várias vezes cheguei a cair do poste, teve uma vez de queimar, fio pegar nas minhas costas e queimar a camisa, queimar a roupa, mas coisas que a gente... Você tinha que se adaptar com aquela situação, tinha época que o cara falava: "pô, mas nessa época você não pode mexer com isso", eu não posso como, eu tenho que fazer, o serviço exige aquilo de mim, eu não podia chegar lá e ficar quieto, porque eu sabia que o patrão sabia mais ou menos o determinado tempo que você ia levar pra arrumar aquilo, então não ia fazer só, porque não era meu feitio, eu saia pra trabalhar, eu realmente saia pra trabalhar, então, quer dizer, fazia minhas orações, pedia proteção de Deus e o resto só Deus mesmo, então às vezes eu comento com a minha esposa: "É que isso é perigoso", eu andei no mato uns quinze anos, então você entrava no mato, via que você não sabia onde você tava pisando, de repente você esbarrava e via uma cobra sair correndo ali e tal, mas nunca me aconteceu nada, a não ser essas coisas, mais tinha umas situações difíceis, que a gente enfrentava, mas tinha que passar.
P/2 - O senhor teve um treinamento pra aprender a trabalhar com essa manutenção...
R - Não, isso aí, eu entrei e comecei a ir, mesma coisa que eu chegar aqui e começar a falar, e vou falando, então eu comecei a trabalhar, e no dia a dia a gente foi treinando, quer dizer, a pessoa com quem eu fui trabalhar, era uma pessoa muito já experiente, então nós chegávamos, ele falava: "você tem que...", por exemplo, até pra subir no poste tinha umas esporas que você usava pra subir no poste, nem sempre você usava escada, pra ser mais rápido, mais ágil, o serviço. Então o poste, por exemplo, tinha um tipo de espora, que você... Era mais facil, pra não ficar, quer dizer, te dava até uma melhor condição pra você trabalhar do que ficar carregando uma escada pesada no meio do mato, então você chegava no poste e tinha que ir lá em cima e ligava, e então o cara me explicava: "você tem que fazer desse, desse jeito", dai pra frente era você, a pessoa fazia e ia embora, você vai aprendendo no dia a dia, cada dia você vai aprendendo os macetes.
P/1 - O poste de madeira era mais fácil de subir com a espora, não era?
R - Não, de trilho é melhor, a espora no poste de madeira é um bico que você tem que que fincar no poste, como esse poste é de consistência muito dura, porque é o poste de Aroeira, eu acho que ela era mais perigosa, porque a do poste de trilho... O trilho tem uma parte larga, a espora você pisava do jeito que você punha, do jeito que você pisava aqui e acabou, não tinha problema, dificilmente, só se você não fizesse isso assim, deixa o pé reto, a espora escorrega, mas você forçou com a perna assim, você já dá uma, vai travando, agora o de madeira você usa, mas é mais perigosa.
P/1 - E pra descer, é o mesmo sistema?
R - Mesmo processo.
P/1 - Hum, certo. Seu Simão, o trabalho de manutenção de rede era mais complicado do que o de instalação de rede, né?
R - A manutenção, às vezes, é mais complicada, porque a instalação você vai chegar na casa da pessoa, de uma rede, vamos começar na construção da rede, o cara lança um cabo, sai da central, do DG até um determinado ponto, com o cabo, instalou aquilo, os armários, ponte de teste, pronto, aí tem as caixinhas de distribuição, vamos supor, eu saio com um cabo da João Pinheiro até Nossa Senhora Aparecida. Ali faz a distribuição da área, é um cabo grosso, vamos supor, um cabo de 200 PAR, chega ali, você vai distribuindo, fazendo os ramais e tem o armário de distribuição, você vai nas caixinhas de 10 PAR, dali das caixinhas quem é que tá mais próximo dos assinantes, você vai tirar o fio. Chegou lá, testou, assinou, chegou na casa, ligou o telefone, tudo pronto. Agora a manutenção é... Eu acho ela mais complicada pelo seguinte, vamos supor, "Ah, tem um cabo com defeito", você não tem como saber onde está o defeito, você tem que sair na direção daquele cabo, e ir estudando a situação pra ver o que pode ter acontecido. Um exemplo, na porta você tem um cabo lançado aqui no passeio, de repente vai fazer a construção de um prédio, o cara vai fazer uma cerca ali, ou bate uma estaca em cima de um cabo ali, faz um furo naquele cabo ali ou fecha assim um curto, o circuito telefônico molha de qualquer maneira, então você tem que ficar caçando, por exemplo, dá um defeito no telefone de um assinante lá no fio drop, você tem que ficar subindo no poste, aí fica procurando. Então a instalação é muito mais simples, mais fácil, é mais rápida.
P/1 - Mais rápido. Também pensando nesse tipo de instalação dos tempos heróicos, digamos assim, quando o senhor saiu abrindo picada...
R - Pelo campo...
P/1 - levantando postes, aí também era... Porque tinha que ficar no mato, passava dias no mato assim?
R - O pessoal tinha, por exemplo, eles estavam aqui fazendo uma linha, tava fazendo aqui o beirado, ficava acampado aqui, mas todo dia saia cedinho na caminhonete e voltava a tarde, aí depois, de repente, tinha que deslocar, aí fixava morada em Uberaba, no ponto mais próximo da onde tivesse serviço… Aí essa equipe de construção se deslocaram muito, por exemplo, começava aqui, de repente ficava no meio do caminho, depois ficava em Uberaba, de Uberaba eles iam se deslocando pra onde estivesse mais próximo o condicionamento de trabalho.
P/1 - Senhor Simão, nesse seu grupo tinha o Seu Chiquinho, né?
R - Tinha, o Chiquinho, Joaquim Pires, Rivalino, e esses eram os caras da construção, esses eram os heróis, os desbravadores, de chão, de mato, pra construir essas linhas, esses três que eu citei e tem muitos outros, mas eram realmente os desbravadores. A pior parte que eu acho era a parte da construção, quer dizer, eu ia dar manutenção, o poste tava fixado, o cabo tava esticadinho, às vezes tinha que dar uma limpada e tal, mas o cara vai construir, ele tem que fazer, limpar tudo, então realmente esses eram os desbravadores.
P/1 - E como era esse pessoal, o Seu Chiquinho, esse pessoal, como era? Fale um pouquinho deles, como era a sua convivência com eles?
R - A convivência da gente foi a melhor possível, foi e é até hoje, graças a Deus. Quando eu comecei a trabalhar, o Chiquinho foi um dos meus, da primeira pessoa que eu trabalhei… Um exemplo, eu sou o Seu Chiquinho, quando eu comecei a trabalhar, cheguei na CTBC e essa pessoa amiga me apresentou pro José Leonardo, que talvez seria uma pessoa boa, pra vocês fazerem contato também, que é um dos grandes conhecedores do sistema da CTBC, porque começou a trabalhar muito antes do que eu, e trabalhou quase que no mesmo tempo, na faixa de 25 a trinta anos, quer dizer, e era uma pessoa mais próxima do conhecimento, que ele era cunhado, não é cunhado do Doutor Luiz, a esposa dele, a Dona Ofélia é irmã desse Leonardo, que então era o encarregado da época. Aí me apresentou, ele me levou pra trabalhar com o Chiquinho, o Chiquinho tava fazendo um serviço aqui na saída de Ituiutaba, só que eu trabalhei com ele uns três, quatro dias só, aí ja passei a trabalhar só na manutenção. Mas o Senhor Chiquinho era uma pessoa extremamente... Fácil de conviver, tinha um conhecimento, teve uma experiência e era aquela pessoa que eu falo que é o pessoal mais de antigamente, não é desfazer das pessoas de hoje, a pessoa de hoje trabalha talvez até mais do que a gente, só que ele tem um condicionamento diferente pra trabalhar, e nosso trabalho era trabalho árduo. você está entendendo o que eu estou querendo passar? Então a gente não tinha medo de nada, a pessoa quando o cara é trabalhador, realmente era trabalhador, então não tinha dificuldade, era difícil, mas aquilo, de repente, o cara fazia daquela dificuldade uma brincadeira.
P/1 - Acostumou a pegar pesado.
R - Isso, então o Senhor Chiquinho, Joaquim Pires que vai vim ai dar entrevista pra vocês, Senhor Chiquinho eu não sei se vocês fizeram contato com eles ou se...
P/1 - Já, mas ele não estava disposto.
R - Não tá disposto. Tem esse José Leonardo que era um cara que trabalhava mais na manutenção, mas como era uma pessoa mais chegada a família, sempre foi um encarregado… Acompanhava o serviço da instalação, não da construção, o Chiquinho… O Rivalino ta numa área, o Chiquinho tá na outra, Joaquim Pires tá em outra, então eles, às vezes, tinham que sair, levar material, ver como ia o andamento do serviço, e às vezes, até o seu próprio Alexandrino fazia também, não era...
P/1 - Tá certo. Queria que o senhor falasse um pouco do Senhor Alexandrino, quer dizer, como o senhor conheceu o Seu Alexandrino, o seu primeiro contato com ele o senhor se lembra da primeira vez que o senhor cruzou com ele?
R - Meu primeiro contato com o Senhor Alexandrino foi coisa simples, mas é aquela história do trabalho do dia a dia, como ele era uma pessoa de ir, pra mim... Eu aprendi muito com o Senhor Alexandrino também, a questão de consistência no serviço, não era pessoa de mandar recado não, ele ia. Como eu fui trabalhador no exemplo com o Chiquinho, pra você ter uma ideia, você finca um poste de trilho, ele vai dar mais ou menos, uns dez centímetros na parte mais larga. Então na parte mais estreita, quer dizer, é uma coisa assim... Finca um poste daquele, você tem que subir naquele poste, leva uma corda, e um cara vai amarrar as cruzetas, pra você puxar aquilo e fazer o trabalho lá em cima. Só é apoiado nas esporas e no cinto de segurança, mas se você der qualquer deslize, se vacilar, o cinto não te segura, você vai descer. Então no terceiro dia parece que eu tava trabalhando, a turma que tava junto mandou: "agora você vai subir", me explicou e eu tava lá, subi. Enquanto isso ele chegou, aí eu vi quando o Chiquinho falou assim: "Ah, o rapaz que começou a trabalhar antes de ontem, olha aí tá bichão hein", "não. Então põe ele pra trabalhar, se não servir manda embora". O sistema dele era esse, mas o cara que trabalhava, que entrava na CTBC com o intuito de trabalhar e se dispunha a trabalhar, ficava, hoje eu não sei se fica, ninguém, eles não te mandavam embora, porque eles queriam a pessoa pra trabalhar, se você tava trabalhando, fazendo a coisa certa, não era mandado embora, tanto é que eu fiquei lá trinta anos, não só eu como muitos outros. Foi esse o contato, então a gente tava, por exemplo, fincava suporte, você tava socando e ele chegava alí, se fosse preciso ele te ajudava a levantar o poste, ele ajudava, só que o negócio dele era o seguinte: você tá socando um poste onde a terra tá seca, ele falava assim: "Um, dois, um, dois, um põe terra, como ele falava um pouquinho arrastado… E o outro soca, um põe terra e o outro soca, às vezes, onde o terreno era molhado tem que secar, era coisa que ele usava. Era o sistema dele, mas era uma pessoa, sempre muito simples e hoje eu ainda falo. Eu acho mesmo o Doutor Luiz, pelo tipo de pessoa que o industriário que ele é, eu acho ele uma pessoa simples demais, assim era o Senhor Alexandrino, talvez até mais simples que o Doutor Luiz. O Doutor Luiz é uma pessoa mais estudada, tem mais desenvoltura, o Senhor Alexandrino tinha pouco estudo, mas era uma pessoa que sabia conversar, lidar com qualquer pessoa.
P/1 - E o senhor conviveu muito com ele?
R - Não, o Senhor Alexandrino e o Doutor Luiz, hoje não, mas antigamente o convívio da gente era do dia a dia, alí todo dia você chegava de manhã e eles chegavam juntos com a gente, e você saia pro serviço, e eles, às vezes, mesmo distribuíam o serviço e você ia, e daqui um pouquinho ele já tava lá no local onde você tava trabalhando, então a gente tinha contato direto.
P/1 - Certo. Onde era a sua base de trabalho?
R - A base de trabalho sempre foi aqui da [Avenida] João Pinheiro com a [Rua] Machado de Assis. Toda vida nesse tempo que eu trabalhei alí foi a base, depois criou-se... Nós passamos lá pra João Pinheiro, lá em cima perto da rodovia, aí também deslocou o escritório lá pra Industrial, onde é hoje a Algar. Essa época pra mim foi a época que a CTBC foi crescendo, mas foi se dispersando, o pessoal, enquanto era aqui na João Pinheiro, o contato era dia a dia, você tava junto com o Doutor Luiz, eles moravam no prédio, era só subir a escada, tanto o Senhor Alexandrino como o Doutor Luiz, você tava constantemente junto com eles, e o convívio era… Então depois começou a dispersar, foi crescendo, porque teve que deslocar parte de gente lá pra João Pinheiro, parte lá pra Industrial. Foi dispersando, até os próprios empregados foram começando a distanciar um do outro, aí foi indo, o trem foi crescendo de uma maneira que de repente tinha funcionário que trabalhava na empresa, um dia você tava conversando, tava trabalhando no serviço e a gente não se conhecia, mais o convívio com o Sehor Alexandrino e o Doutor. Luiz foi fora do sério. O Senhor Alexandrino era uma pessoa que eu falo, às vezes, que eu aprendi muito, se eu tiver conversando muito, vocês podem puxar minha língua, que eu sou meio...
P/1 - Não, por favor.
R - Um dia ali na João Pinheiro eu vi uma pessoa falar assim pro Senhor Alexandrino: "Ah, mais você precisa descansar, você...", "Se eu sentar meus empregados deita"...
P/1 - (risos).
R - E eu vi aquela conversa e eu fiquei… Mas aquilo me encucou sabe, e eu fiquei pensando o que ele quis dizer com isso, aí depois ele começou a mudar, como ele já tava em pé ali, os empregados já sentavam, e se ele sentasse o empregado ia deitar, quer dizer, então esse era o lema dele, era trabalho, ele não dava chance pra pessoa vadiar não, se não quisesse trabalhar tinha que vazar.
P/1 - Certo. Ele chegava junto, ia junto lá na frente?
R - Ia, não é o que eu to te falando, ele ia junto, quando a gente tava fazendo esse serviço de poste ou mesmo na construção, ele chegava e se tivesse que entrar embaixo do poste pra ajudar, ele ajudava, nesses acidentes de poste que caia, ele chegava e ajudava a esticar fio, o Doutor Luiz ajudava, não tinha... Entrava e pegava junto também.
P/1 - Tinha uma época do ano que era mais complicada de manutenção?
R - Época de chuva, tanto faz em telefonia, tanto faz, ou parte interna, que é cidade, ou rural. A época de chuva é terrível, essa é, aí que a coisa é brava.
P/1 - E aí, quer dizer, era preciso entrar em galerias pra ver...
R - Tinha que entrar em galerias, ai no caso a rede aqui é urbana, aí tinha aquele serviço de cabo subterrâneo, então você tem que entrar nas câmaras pra ir testando, por isso que eu to te falando, o defeito, a manutenção são mais difíceis, você não tem como ver, a não ser como no caso da linha física, que você saia, via os postes caídos ou vinha uma linha arrebentada, o cabo em si, por exemplo, o cabo sai da João Pinheiro, vai até a Industrial subterrânea, agora tem as câmaras pra você entrar, então você tem que fazer teste de ponta a ponta pra tentar detectar o defeito, então por isso que eu acho a manutenção mais difícil do que a instalação.
P/1 - Nesse caso de manutenção de área urbana, tem algum tipo de risco assim, e entrar nessa câmaras tem alguma acumulação de gases, alguma coisa assim?
R - Tem, tem acumulação de gases, você tá sujeito a inseto, a escorpião ou mesmo cobra, quer dizer, tem os riscos, se bem que apesar de tudo, dos riscos, como eu to te falando, como eu trabalhei esses trinta anos que eu trabalhei na CTBC, eu trabalhei muito no campo, não tive problema, graças a Deus, aqui na cidade dificilmente acontece, teve casos de morrer pessoas com choque elétrico ou mesmo choque atmosférico, mas eu sempre analiso pela proporção, pelo tamanho da empresa, a quantidade de funcionários, a extensão. O que acontecia era coisa mínima.
P/1 - E o senhor se lembra de algum caso dramático desse, alguma tragédia?
R - Lembro, teve uns amigos nossos em Frutal, o pessoal tava dando manutenção na linha e como a nossa linha vai... De repente a linha enérgica atravessa, sempre cruza, tem caso da gente estar trabalhando mesmo dentro da cidade, você tá aqui na posteação, você tá mexendo, você pode esbarrar na parte elétrica, tanto faz na linha física como na instalação do telefone, num reparo que você tá trabalhando no poste da... Hoje, todos os fios telefônicos são conectados nos postes da Cemig, então há riscos, teve o caso lá de Frutal. O cara tava trabalhando, ele tava sentado em uma cruzeta, na hora que ele levantou a linha pra passar assim, bateu assim. Teve uns dois, três casos. Teve um aqui no Estado de São Paulo, colega da gente, quer dizer, coisas que infelizmente a gente tá naquela situação, poderia acontecer como aconteceu com um deles, poderia ter acontecido comigo, com qualquer outro que tivesse na atividade naquele momento.
P/1 - Que tipo de equipamento de segurança que era usado nessa época, por vocês?
R - A gente usava, começou o cinto de segurança e a luva, a luva de borracha, no caso principalmente nessa linha física, porque o seu contato é com a linha, a linha física que eu falo é uma linha _____, hoje a Cemig, só pra você ter um exemplo, trabalhava-se com linha nua, também, era um fio descascado, hoje já estão trabalhando com fio encapado pra ter maior proteção, então você pegava num fio daquele, na época de chuva aquilo era você pegar e a faísca vinha, você pah, tomava um choque, tinha que arrancar a mão da linha, às vezes de repente de te jogar até... você tava em cima de um poste, te jogava no chão, então a gente usava a luva de borracha, passou depois a usar bota, usar botinas com biqueira de aço, e o cinto de segurança, não podia e nem pode subir num poste sem estar usando o cinto de segurança.
P/1 - Qual era a função da biqueira de aço na botina?
R - Ah, a botina com biqueira de aço e pra você, quando você tá trabalhando no campo, você vai, mesmo aí na rua, pode cair um objeto pesado no seu pé, é um sapato, caiu um objeto pesado e vai te machucar. Como a gente sempre trabalhava com material pesado, a biqueira de aço é uma proteção, se cair aqui em cima ela vai proteger, às vezes[acontecia] de machucar os pés ou os dedos.
P/1 - Tá certo. E nessa manutenção de linha urbana, que tipo de equipamento de segurança você usava, para entrar em galerias, para verificar linhas?
R - No meu caso, você tinha que usar uma bota comprida ou uma bota com uma, falava polaina, porque você tem que tampar essa parte daqui pra proteção de qualquer uma cobra, porque a cobra, pra te picar em cima você tem que estar no nível que ela vai estar, mas nessa altura aqui, do contrário ela vai vim aqui ó, então você vai proteger essa parte aqui, porque você entrando no mato, a cobra é rasteira, ela vai pegar você nessa parte, usa uma polaina deuma sola, põe a botina e tampa essa parte da perna, e o resto é pra subir no poste, usava o cinto de segurança e as luvas.
P/1 - E nenhum equipamento pra… Enfim...
R - Não, no caso ai dessa linha não, não tem nada, o que você tá querendo é com relação a gases...
P/1 - Isso no subterrâneo?
R - Isso, aqui no subterrâneo tem que ter as máscaras de proteção, mas no caso que eu citei essa é a linha urbana, a proteção era essa, e as luvas. Às vezes, [dependendo] do tempo, uma capa de chuva e tal, agora aqui dentro da cidade não, tem que ter, nas câmaras o pessoal que trabalha na parte subterrânea aí já passa a ser a parte subterrânea, aí que é perigo de gás, aí o cara tem que ter máscaras pra ir descendo em determinada câmara.
P/1 - O senhor estava contando desses equipamentos de segurança, e na cidade, diferentemente do campo, a pessoa tinha que ter proteção também contra, _______ de gases, e tudo mais?
R - Tem, tem isso, correto, tem que ter...
P/1 - O senhor sempre usou esses equipamentos, o senhor usava sempre esse…?
R - Eu sempre usei. Eu, nesses trinta anos que trabalhei na CTBC, tive uma advertência disciplinar porque subi num poste sem o cinto de segurança, e tinha uma pessoa que tava começando a trabalhar na empresa, a função dele era essa de observar o que estava se passando, aí ele passou, e eu tava subindo no poste, "Ah, eu só vou subir lá e descer rápido, não vou usar cinto, não", então ele passou, passou com outro elemento que já trabalhava na firma num determinado tempo, aí ele falou: "Olha o Simão lá sem cinto, o mais novato", aí ele falou: "Ah, agora eu vou dar uma suspensão pra ele", aí o cara falou: "ah, mas aquele elemento ali é o Simão, aquele cara ali, você não vai mexer com ele não porque ele é um dos braços direito da empresa", ele falou: "não, tô nem aí", tudo bem, ele tá certo, porque ele tá fazendo o trabalho dele, a gente tem respeitar também. Daí eu cheguei na empresa, ele falou: "Simão, você tava em tal lugar, assim, assim, assim, te vi subir sem o cinto de segurança", realmente eu subi, "Então eu podia dar uma suspensão, mas como você é um elemento que sempre trabalhou direito eu vou te dar só uma advertência", falei: "tudo bem, advertência...", assinei e pronto, acabou. Mas são coisas que a gente… Às vezes alguém fala: "Ah, se fosse eu, não assinava", mas eu tenho que respeitar o trabalho do outro, não é porque ele tá ali, é novato, mas ele tá ali, ele entrou ali pra exercer uma função e teria que fazer, não importa quem seja, se é João, se é Paulo ou se é o Pedro, então eu… Até nisso a gente tem que saber respeitar o limite do outro, tudo bem, é um dos maiores amigos que eu tive e tenho até hoje.
P/1 - Senhor Simão, como o senhor sobe no poste sem cinto de segurança? Como é que consegue, o cinto não dá um apoio também?
R - Não, o cinto... Enquanto você tá subindo você tá com o cinto só na cintura, a hora que você chegou num limite da escada, onde você vai trabalhar aí é que você vai passar o cinto em volta do poste, prender aqui pra te dar uma consistência, até você ficar em pé na escada, porque você pode ficar em pé, escorar pra trás sem perigo, mas se você tiver sem o cinto você pode cair de costas. Mas até você subir ele não tem função nenhuma, enquanto eu to subindo, só que pro meu azar eu não tava nem com o cinto na cintura, ele sabia que eu ia trabalhar sem o cinto.
P/1 - Seu Simão, quer dizer, o senhor passou dessa linha física de cobre, do poste de Aroeira pro trilho, pra manutenção, depois do fim da linha física pra manutenção dentro das cidades, e o senhor acompanhou uma evolução da tecnologia da telefonia, quer dizer, o senhor saiu do cobre e chegou ao microondas...
R - É, foi isso, aí seria um exemplo, eu saí da linha física e voltei pra trabalhar com cabos, pra trabalhar com fios de telefone, então realmente eu acompanhei bastante...
P/1 - E como o senhor foi aprendendo tudo isso? Quem eram as pessoas que lhe ensinavam, o senhor já ia pela sua própria experiência?
R - Não, o processo é o seguinte, por exemplo, como eu comecei a trabalhar na manutenção de linha física, tinha uma pessoa com experiencia que foi me passando a dica no dia a dia, mesmo caso, aí eu já passei a… Já trabalhei também na manutenção de cabo ou na instalação de rede subterrânea, então tem aquelas pessoas que já estão naquela função a mais tempo, você vai começar a trabalhar como ajudante, aí eles vão te passando as coordenadas e você vai pegando, dai depende da gente se desenvolve, ou não.
P/1 - Certo. O senhor se recorda de pessoas que foram importantes nesse seu aprendizado e nessa educação pelo trabalho? Seria esse aprendizado na prática.
R - Tem muita gente viu rapaz, quer dizer, o seu Chiquinho é um deles, como eu citei que eu comecei a trabalhar com eles, o Zé Leonardo foi um deles na parte urbana, ele me ensinou, me ajudou muito, nós trabalhamos juntos uns dez, doze anos, depois eu passei a trabalhar com cabo tem outras pessoas, tem o Edson Toti, que era um engenheiro que a gente trabalhou junto, Nelson Castelo, não Nelson Castelo já era da coordenação. O Valdemar, e tinha ja os técnicos, o Edson, é um elemento que já tá na CTBC também. Nós começamos a trabalhar na mesma época, ele começou um pouquinho depois de mim, mas ele ainda se encontra na empresa até hoje. Já era um cara que trabalhava na área, considerado o cabista, que mexe com a instalação da rede subterrânea ou a rede de cabos, né, então aí a gente começou a trabalhar com eles e eles vão passando a coordenada pra gente e a gente vai desenvolvendo no dia a dia.
P/1 - E com essa revolução, em algum momento o senhor não se sentiu um peixe fora d'água ou o senhor foi acompanhando esse processo?
R - Não, não senti nesse sentido não, não me senti um peixe fora d'água porque mesmo que eu sei, às vezes demora um pouco pra pegar a coisa, mas é uma coisa que você já vem mais ou menos do que você fazia, você tem mais ou menos uma noção do que é aquilo que você tá fazendo, aquele outro serviço que você começou a fazer. Então é fácil, quer dizer, é uma coisa mais difícil, porque você vai começar, um exemplo, a linha física é um circuito, são dois fios, você vai abrir um cabo aí de duzentos pares, você vai fazer funcionar quatrocentos telefones, é uma coisa completamente diferente, você vai abrir um cabo, é aquele emaranhado de fio, então você tem que saber, aprender a lidar com aquilo, qual é o fio que você vai emendar primeiro, se você emendar um aqui, o outro chega lá na frente, não dá certo, então é uma técnica muito bem diferenciada, mas que não é tão difícil, depende muito do interesse em aprender, e procurar aprender, geralmente tem pessoas que mexe, mexe e não aprende.
P/1 - Seu Simão, ainda nessa evolução, quando chegou lá pelo final dos anos oitenta que a companhia cresceu muito, adquiriu uma série de outras empresas, no início dos anos noventa, quer dizer, no início da década passada, teve uma reestruturação grande com a chegada do chamado do Seu Mário Grossi, e tudo mais, como o senhor, que naquela época já estava um bom tempo aqui, como o senhor avaliou aquele processo de reestruturação, que foi uma coisa que atingiu muita gente, né?
R - Ô gente, eu não sei bem como eu vou expor isso aí, em relação a tecnologia o trem mudou muito, agora essa reestruturação eu não sei viu, pra muitos ela foi benéfica, não sei mas isso aí mexeu muito com o pessoal, eu não tenho muito conhecimento porque isso já foi mais na parte de diretrizes, eu não tenho um determinado conhecimento disso daí. Como eu tenho de área técnica... Mas tinha muita gente que reclamava das atitudes tomadas por ele, outros se satisfaziam, mas é um tal negócio, eu acho que ele veio pra desempenhar uma função, e eu acho pessoalmente, observando o que ele fez, ele era um profissional autêntico, eu via ele dessa maneira, mas muita gente não ficou satisfeita com ele, então não tem muito pra falar sobre isso não, porque eu não sei, é coisa de direção, a gente não participa, eu tava na parte técnica.
P/1 - Agora vem cá, uma coisa da parte técnica que é importante é o seguinte: no trabalho que desenvolvia, o senhor e seus colegas tinham muito a ver com a capacidade de construir condições de pessoas se comunicarem, né?
R - Isso...
P/1 - O Senhor Alexandrino sempre dizia que a melhor propaganda era o bom serviço, como era pro funcionário na época, associado hoje, como era? Dava alguma ponta de orgulho saber que está contribuindo pra fazer com que duas pessoas, ou mais pessoas, se comuniquem?
R - Não sei se isso era pra todo mundo, mas eu até hoje me sinto orgulhoso, demais, eu tenho um orgulho, não aquele orgulho de ferir o meu próximo, orgulho íntimo de prestação de serviço, você tá entendendo? Quer dizer, puxa, esse serviço que eu fazia, só pra você ter um exemplo, não sei às vezes eu não sei expor o que quero falar, mas a gente acha uma maneira, no meu caso, por exemplo, às vezes eu saía de madrugada, uma noite de casa, trabalhava no mato de noite, naquela dificuldade, passando dificuldade, correndo risco, mas quando você punha um circuito daquele pra funcionar, que você entrava no circuito que às vezes não dava nem tempo de fazer o teste com a telefonista, já via a pessoa falando lá em São Paulo, em determinado lugar, aquilo pra mim é gratificante, é realmente gratificante. As intempéries que eu tava sujeito, os riscos que eu passava, quando eu sentia que tinha alguém falando, de repente podia até estar falando de um motivo de uma doença, não importa o que fosse o assunto, mas que a gente é profissional... De repente, como eu tinha que ligar, tentar entrar no circuito pra ligar pra Uberlândia, às vezes eu ouvia conversas, mas pra mim não importa, eu não tava ali pra escutar o que a pessoa tava falando, o assunto da pessoa, mas de repente você ouvia, no determinado tempo que você tava, até que você esperava a pessoa terminar de falar. Mas eu, como profissional, não importa quem tava falando e o que tava falando. Mas é gratificante demais, quando você acabava de emendar o circuito, quando você descia pra fazer o teste já tinha alguém falando, quer dizer, isso é gratificante demais você por alguém pra se comunicar com o mundo. Vamos supor que o nosso trabalho é daqui à São Paulo, não importa porque de São Paulo pra frente alguém ia fazer uma conexão pra mandar a pessoa falar lá nos Estados Unidos, então é gratificante. Quando veio a tecnologia, veio surgindo os rádios, anel, cabo, a fibra óptica, então o negócio foi melhorando.
É gratificante demais você trabalha uma noite toda, às vezes emendando um cabo que ta com defeito, no caso daquele acidente de percurso de trabalho que eu to falando, às vezes um acidente de uma construção, ou de furar um cabo, ou uma água que entra no cabo, mas você tá trabalhando ali e de repente, quando já tá começando a sanar aqueles defeitos você já começa até a tomar choque, você tá emendando o fio, aí a pessoa vai discar, tem uma correntezinha, não é choque perigoso, mas aí você sente que o pessoal já tá começando a falar. A gente se sentia muito gratificado, muito, a gente fica satisfeito, você tá fazendo uma coisa em prol de uma comunidade que de repente se você não fizer, o negócio não vai dar certo.
P/1 - Seu Simão, e a sua senhora, o senhor conheceu a sua esposa aonde, aqui, lá...
R - Não, a minha esposa… Nós somos conterrâneos.
P/1 - E ela com essa vida que o senhor levava não tinha hora, não tinha tempo, não tinha lugar, ela sempre teve uma boa relação com isso?
R - Ela assimilou bem, só que ela sofreu muito, sofreu muito. Ficou muito sozinha, porque na hora que os filhos começaram a nascer… Logo que comecei a trabalhar na CTBC, eu comecei a trabalhar em fevereiro, em agosto nasceu minha primeira filha, agosto de 66, um ano e três dias depois nasceu a segunda, e eu às vezes, ficava dois ou três dias fora de casa e minha esposa ficou e praticamente segurou as crianças em determinada... Até uns dez, doze anos, praticamente sozinha, porque eu chegava em casa e meu tempo em casa era pouco, mas a gente assimilou bem, ela me ajudou muito, é uma companheira excelente. Hoje eu dedico minha vida mais a ela, porque eu to mais em condições, ela teve problema de saúde, e tem, porque ela adquiriu o problema da diabete e ta praticamente cega, então... Mas é uma companheira que nós estamos juntos a 38 anos. Se alguém falar pra você que o casal não briga, isso é mentira, isso aí é lorota, todo casal que seja uma discussãozinha pequena tem, mas também tem aqueles que têm um relacionamento ótimo, então eu considero o nosso relacionamento muito bom, tanto com minhas.. Tenho três filhas e um filho. Minha filha mais velha trabalha na CTBC, já tá com trinta e tantos anos, as minhas filhas mulheres estão todas acima de trinta anos, e meu filho é o mais novo ta com 26, vai fazer 27 anos, e as minhas filhas estão comigo até hoje, meu filho também adquiriu família mas mora no meu quintal, então a gente tá sempre juntos. A convivência é boa, mas a minha esposa não deixou de ter algumas dificuldades com as minhas estadas foras, às vezes chegava a comentar, "mas minha filha, é onde eu to tirando o sustento pra sustentar, pra nos sustentar, o serviço exige isso, eu tenho que fazer", então a gente teve...
P/1 - A sua filha faz o que na CTBC, essa que ta trabalhando lá?
R - Ela trabalha, eu vou te falar, pra ser sincero eu não sei bem o departamento que ela tá trabalhando hoje, porque tem as mudanças. Ela começou trabalhando como telefonista, mas hoje ela tá em outra área que eu não sei bem distinguir, mas ela, graças a Deus, a gente procura passar pros filhos, principalmente na parte de responsabilidade, aquilo que a gente aprendeu, eu procurei passar pros meus filhos, tanto é que ela está lá a treze anos, por isso que eu sempre, eu sou o tipo da pessoa até… Como que fala? Quando você gosta muito de uma coisa ou não gosta que a pessoa fala, por exemplo, questão das pessoas falarem da CTBC, eu não admito, eu não gosto, sinceramente. Porque às vezes eu me dou bem com você, com ela, mas outras pessoas não dão, agora o caso do Senhor Alexandrino, muita gente aqui na cidade acha o Senhor Alexandrino uma pessoa má, mas pra mim é onde eu criei, eu consegui comprar uma casinha, consegui ter um carrinho pra eu trabalhar, consegui educar meus filhos, eu não posso admitir de espécie alguma que alguém fale mal dessa pessoa e da empresa que eu trabalhei trinta anos.
P/1 - Tá certo. E de todo modo o senhor viu um crescimento dessa empresa também, quer dizer, começou pequena e tem hoje uma presença mais...
R - Assombroso, um crescimento... A gente, pra analisar da época que eu comecei, até hoje é um crescimento fora do sério, por isso que a gente tem que respeitar as pessoas, as pessoas que estavam lá, no caso o Senhor Alexandrino mais o Doutor Luiz, o pessoal da coordenação, da direção, não são brincadeiras, tanto é, por isso que eu falei, no caso do Mário Grossi. O Mário Grossi veio aqui com uma função a ser desempenhada, e eu acho que ele desempenhou... Então você tem que respeitar o profissional, em qualquer... Não importa que eu seja o cara que to aqui furando buraco ou que to varrendo isso aqui pra alguém trabalhar, mas eu to dando a minha parcela de colaboração, mas agora quem tá aqui em cima, da administração, é que tem que saber com que isso aqui flua, com minha limpeza aqui, ou o que venha a ser feito aqui vai fluindo, entendeu?
P/1 - Tá certo.
R - Não é mesmo, então eu acho que cada pessoa tem um papel pra desempenhar.
P/1 - Tá certo, Seu Simão. O senhor ficou sempre, quer dizer, até aposentar-se na manutenção, nessa área de manutenção de linha?
R - Não.
P/1 - Como foi a sua trajetória?
R - Eu trabalhei, quer dizer, uns quinze anos, quinze a vinte anos, mais ou menos, só nessa função de linha rural, aí o negócio já começou a modernização, aí já foi aparecendo os rádios, quer dizer, então já foi aparecendo a Embratel que julgava… Então as linhas físicas foram deixando de funcionar, tem algumas que em determinados lugares, de uma fazenda, de uma cidadezinha pequena pra outra, ainda funciona, mas praticamente acabou, então o negócio vai mudando, então eu passei a trabalhar na parte de construção de lançamento de cabo e manutenção...
P/1 - Urbano?
R - Urbano. Aí trabalhei, quer dizer, o resto, vamos supor que eu tenha trabalhado uns quinze, dezoito anos ali, depois os outros doze anos, porque eu fiquei praticamente trinta, faltou quatro meses pra eu completar os trinta anos, eu trabalhei na manutenção, uns quatro, cinco anos eu fui encarregado de pessoal da manutenção, quer dizer, os meus últimos anos eu já trabalhei como encarregado...
P/1 - Sempre em Uberlândia, ou saindo pra fora?
R - Na época que eu trabalhava com linha física eu saia muito pra fora, a gente ia pra Ituiutaba, a gente ia onde tinha os circuitos da CTBC. O Zé Leonardo - eu trabalhava com ele era uma pessoa de confiança da empresa, às vezes ele tinha que ir na sua localidade, mesmo pra ajudar a resolver um problema que o técnico que tava lá, às vezes tinha um pouco de dificuldade, o acompanhamento do desenvolvimento do serviço das pessoas da localidade, a gente saia muito, mas era uma saída de dois, três dias, quatro dias no máximo, a gente andava bastante, mas essa aí foi até a faixa dos quinze, dezoito anos, depois o resto eu só trabalhei aqui em Uberlândia, agora já nos últimos dois, três anos últimos, a vez que passou a manutenção pra... Criou-se a Engeset, pra dar manutenção, aí a gente ia nas cidadezinha pequena, pra acompanhar o desenvolvimento do serviço, ou ajudar alguém que tivesse na localidade.
P/1 - Seu Simão, o senhor que conviveu tanto com o Senhor Alexandrino, e trabalhou tanto com ele, que lição o senhor acha que ele deixou pro senhor, aquela coisa que o senhor não se esqueceu jamais, de uma lição de vida que ele tenha deixado?
R - Honestidade, porque ele exigia isso dos funcionários dele, mas pra isso ele era uma pessoa honesta, era uma pessoa super dedicada, e humildade fora do comum, que eu via na pessoa dele, então é por isso que eu falo, eu aprendi muito com ele, aprendi a trabalhar, e ver a consistência que a gente tem que ter no serviço, então ele passava muito isso pra gente, pra mim.
P/1 - O que o senhor imagina que vai ser o destino dessa companhia, quer dizer, o que o senhor pensa que é o futuro dela?
R - Às vezes a gente vem acompanhando, só que quando você tá na ativa é uma situação, você tá acompanhando junto, você sai do serviço, se você não acompanhar você perde a sequência da coisa, quer dizer, na tecnologia, só um exemplo, eu trabalhei trinta anos em telecomunicações, hoje tem coisas em telefonia que eu não sei, o celular por exemplo, pra mim já é uma coisa nova, foi uma novidade, eu não tenho conhecimento nenhum de técnica de celular, então se você não acompanhar, você fica perdido. Qualquer coisa que você faça, até no trabalho de vocês, você tem sempre que buscar pra estar acompanhando o desenvolvimento. Se a gente não acompanhar vai perdendo a sequência da coisa, mas apesar de tudo, como eu vivo aqui esse tempo todo e to sempre vendo, eu sei lá, a CTBC vai num ponto que, hoje eu não sei se ta sendo bom ou se ta sendo ruim essa questão de terceirização, muitas pessoas vêem isso com bons olhos outras já não veem. Eu não posso mais opinar sobre isso, porque eu não to mais ali dentro, eu não sei se alguém está sendo beneficiado ou se tá sendo prejudicado, mas o crescimento em geral da companhia, a gente vê nos olhos, porque ainda é uma grande empresa, onde todo mundo gostaria de estar trabalhando aqui hoje.
P/1 - O que o senhor teria pra dizer a uma pessoa que tivesse chegando hoje na CTBC, que fosse começar a trabalhar hoje na CTBC? O que o senhor diria pra ela, o que essa pessoa vai encontrar aqui?
R - Ela vai encontrar um campo muito grande de trabalho, se essa pessoa é uma pessoa profissional já no ramo ou se não é, ela tem que entrar ali e abraçar aquilo ali com amor e procurar desenvolver outra... Se ela é um profissional é uma questão diferente, o profissional vai entrar ali, ele já sabe o que tem que fazer, mas pode entrar uma pessoa leiga no assunto, mas se ele tiver força de vontade, e colaboração do pessoal eu sei que ele vai ter, porque o pessoal que trabalha lá, quando a gente entrou sempre colaborou com a gente, então o pessoal ainda vai ter um campo de trabalho muito grande.
P/1 - E como ele tem que se comportar, pra se dar bem?
R - Você tá me perguntando, eu tenho que passar o que eu sinto que seria se fosse eu. Primeiramente, eu entrei no serviço… Eu tenho uma tristeza muito grande quando o cara entra em uma firma e trabalha aí quatro, cinco meses e se encrenca pra sair do serviço por causa de seguro desemprego, isso aí pra mim não resolve não. Eu gostaria de ter a segurança de trabalho que eu tive que é o mais importante, é procurar ter a segurança do trabalho, outra coisa, ser honesto no trabalho e procurar realmente desenvolver o papel pra que ele entrou ali, porque eu não admito esse tipo de coisa, eu sou pessoa suspeita pra falar isso porque graças a Deus eu me considero uma pessoa privilegiada pelo tempo que eu trabalhei na empresa, mas eu não admito, eu não gosto da pessoa... Você entra na firma, trabalha dez, doze anos, depois começa criar caso na firma pra ser mandado embora, quando a pessoa vai pedir um trabalho, a pessoa vai com carinha de santinho, depois se não serve... Quando eu trabalhava na coordenação... Não serve, você chega na empresa e fala, pode até pedir um acordo que você quer sair, mas não faça cachorrada pra ser mandado embora, eu não concordo com esse tipo de coisa não. A pessoa tem que ter hombridade no que ele tá fazendo, eu acho que a gente tem que ter responsabilidade desde o momento que você entra na firma até o momento que você sai, então você pode ter um deslize, vai ser mandado embora por um acidente ou problema que você causou, mas é diferente de você provocar... Ou querer sair da firma, brigar, e levar… Isso aí não, mas eu sou suspeito pra estar falando isso, porque graças a deus eu não tive essa necessidade de levar firma nenhuma em justiça ou coisa, você tá entendendo mais ou menos o que eu to querendo passar, né?
P/1 - O senhor tem uma história sólida,né?
R - É.
P/1 - Senhor Simão, eu to satisfeito. Há alguma coisa que o senhor gostaria de ter dito e que o senhor não disse, que eu deixei de perguntar?
R - Eu acho que eu falei até demais (risos). De repente eu até falei demais (risos).
P/1 - Até que não...
R - Não, mais a minha função aqui quando as meninas me ligaram falando: "Ah nós estamos formando, querendo criar um museu", eu acho que eu to aqui com o intuito de colaboração, quer dizer, o que eu puder passar, eu ainda continuo fazendo com a maior da boa vontade, com a maior dedicação.
P/1 - E como o senhor se sentiu dando esse depoimento, como foi pro senhor lembrar essas coisas?
R - Se for benéfico pra… Só em questão de lembrar foi... Por isso que eu falo, tudo que eu faço em função, ou que fala na CTBC, pra mim é gratificante, é um motivo de satisfação, então se eu fiz isso pra um trabalho que seja um engrandecimento, uma formação de um novo trabalho na CTBC, eu faço, pra mim é muito gratificante.
P/1 - Beleza, muito obrigado pela sua participação.
R - Ok.
P/2 - Obrigado.
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