P1 - Bom dia Guéron?!
R - Bom dia.
P1 - Primeiro eu quero agradecer você por estar aqui dando essa entrevista para o projeto Memória Aracruz. E a primeira coisa que eu quero que você diga é seu nome completo, o local e data do seu nascimento.
R - É Renato Guéron. Local de nascimento Rio de Janeiro. Data 1 de setembro de 1943.
P1 - Agora eu queria que você falasse o nome completo dos seus pais. E dissesse qual é ou qual era a atividade profissional deles.
R - Meu pai é ________________ Guéron, minha mãe Carmem Guéron. Meu pai era atividade de comércio. Uma das últimas atividade que ele teve foi proprietário de uma empresa de empreendimentos imobiliários. Minha mãe não trabalhava. É viva ainda hoje, tem 94 anos e é prendas do lar.
P1 - Guéron, você tem irmãos?
R - Tenho um irmão. Tive dois. Um faleceu. Agora tenho um.
P1 - Qual é a atividade dele?
R - É aposentado. Mais velho que eu e é aposentado.
P1 - Guéron, você passou a sua infância no Rio de Janeiro?
R - Passei. Passei no Rio.
P1 - Em que bairro?
R - Morava em Copacabana na Rua Barão de Ipanema. Dava duas quadras para a praia. Em cima de um local famosos na época, que era a Confeitaria Colombo. Então tinha um nomezinho lá embaixo.
P1 - E fez os estudos primários onde?
R - Estudei em um colégio que não existe mais, chamado Colégio (Marisouza?). Ficava próximo de casa. Na esquina da Rua _________________ Silveira com Copacabana. E era, na época, um colégio dos bons. Eu tive alguns colegas hoje conhecidos. Que eu me lembre, da minha época, tinha Marco ____________, tinha Danuza Leão que era mais velha, tinha Nara Leão, dois anos na minha frente, tinha o Jards Macalé, esses são os que eu me lembro assim.
P1 - E era uma turma animada?
R - Era uma turma animada. Na época, Copacabana era um bairro muito animado.
P1 - E como é que era? Você brincava na rua? Você ia à praia?
R - É. Naquela época a gente...
Continuar leituraP1 - Bom dia Guéron?!
R - Bom dia.
P1 - Primeiro eu quero agradecer você por estar aqui dando essa entrevista para o projeto Memória Aracruz. E a primeira coisa que eu quero que você diga é seu nome completo, o local e data do seu nascimento.
R - É Renato Guéron. Local de nascimento Rio de Janeiro. Data 1 de setembro de 1943.
P1 - Agora eu queria que você falasse o nome completo dos seus pais. E dissesse qual é ou qual era a atividade profissional deles.
R - Meu pai é ________________ Guéron, minha mãe Carmem Guéron. Meu pai era atividade de comércio. Uma das últimas atividade que ele teve foi proprietário de uma empresa de empreendimentos imobiliários. Minha mãe não trabalhava. É viva ainda hoje, tem 94 anos e é prendas do lar.
P1 - Guéron, você tem irmãos?
R - Tenho um irmão. Tive dois. Um faleceu. Agora tenho um.
P1 - Qual é a atividade dele?
R - É aposentado. Mais velho que eu e é aposentado.
P1 - Guéron, você passou a sua infância no Rio de Janeiro?
R - Passei. Passei no Rio.
P1 - Em que bairro?
R - Morava em Copacabana na Rua Barão de Ipanema. Dava duas quadras para a praia. Em cima de um local famosos na época, que era a Confeitaria Colombo. Então tinha um nomezinho lá embaixo.
P1 - E fez os estudos primários onde?
R - Estudei em um colégio que não existe mais, chamado Colégio (Marisouza?). Ficava próximo de casa. Na esquina da Rua _________________ Silveira com Copacabana. E era, na época, um colégio dos bons. Eu tive alguns colegas hoje conhecidos. Que eu me lembre, da minha época, tinha Marco ____________, tinha Danuza Leão que era mais velha, tinha Nara Leão, dois anos na minha frente, tinha o Jards Macalé, esses são os que eu me lembro assim.
P1 - E era uma turma animada?
R - Era uma turma animada. Na época, Copacabana era um bairro muito animado.
P1 - E como é que era? Você brincava na rua? Você ia à praia?
R - É. Naquela época a gente andava na rua o tempo todo. Copacabana era um bairro bem provinciano, né? Todo mundo se conhecia. As turminhas das várias ruas ou eram amigas ou eram inimigas. Mas todos se conheciam. Frequentava-se muito a praia, né? Naquela época ainda mal estava começando a prática do surf, né? Era mais pegar jacaré, onda, né? Futebol de praia, andava-se de bicicleta pela rua. Bem diferente do que é hoje.
P1 - Qual era a brincadeira que você gostava mais?
R - Ah, eu gostava de bicicleta, né? Ir à praia, não tinha nenhuma coisa específica de brincadeira que eu mais gostasse?
P1 - Guéron, e o ginásio?
R - O ginásio também foi lá. Nesse mesmo colégio. Eu fiquei até o final do que na época era o científico. Hoje é o segundo grau, né? E é nesse mesmo colégio.
P1 - Algum professor nesse período dos primeiros estudos te influenciou particularmente?
R - Não especificamente. Tinha um bom círculo de professores. Muito amigos. A gente tinha uma vantagem que hoje eu vejo que não tem nas escolas que as turmas eram as mesmas, seguiam as mesmas. Na faculdade eram as mesmas. Então, isso criava um círculo de amizades e continuidade de amizade com professores e alunos, né? Que acompanhavam a gente desde o início até o final. E se perdeu um pouco com esse alto sistema de créditos, né? Mas era uma vantagem que a gente tinha naquela época. Então, eu não sei nenhum professor em especial, mas de um modo geral com todos a gente mantinha esse tipo de relacionamento, digamos, a longo prazo, né? Que é meio diferente do que eu vejo hoje, por exemplo, como a minha filha pequena, né? Que muda de professor todo ano, enfim.
P1 - Guéron, havia alguma expectativa na sua família para que você seguisse alguma carreira em especial?
R- Ah, sem dúvida, né? O meu pai tinha como firme propósito que eu tivesse um diploma universitário, né? Provavelmente pela razão dele não ter tido um diploma universitário e ele ter vindo da Europa na época da guerra, eles fugiram da guerra. E o meu pai tinha uma certa posição razoavelmente boa na Europa e teve que largar tudo e perder tudo. E eu acho que isso deixou bem forte nele essa necessidade. Então a gente até brincava com ele que ele seria um general: "vocês têm que ter um diploma". Então os três tiveram um diploma, né? O meu irmão o falecido era arquiteto e esse outro que é vivo era engenheiro também mecânico. Os três filhos saíram com diploma universitário.
P1 - Qual é a origem do nome da família Guéron.
R - Guéron é de uma origem espanhola francesa, né? A minha família é de origem judaica. E na época, nos anos de 1500, 1400, havia uma população muito grande na Península Ibérica, né? E daí vem a origem. A origem nossa vem daí. Vem da Espanha, vem da França, né?
P1 - Agora vamos voltar aos estudos. Quando é que você se decidiu pela engenharia? E por que você foi fazer na PUC?
R - Por que é que eu me decidi pela engenharia? Eu já sentia uma certa afinidade com matemática, com ciências. Eu tinha mais ou menos uma mente levada à um direcionamento que ia desembocar em uma profissão técnica, né? A gente não tinha muitas dúvidas naquela época, né? Tinha menos opções. Ou você ia para medicina, ou ia para humanas ou ia para engenharia. Não digo que foi difícil. Foi fácil a minha decisão. E chegando dentro da engenharia eu escolhi engenheiro mecânico de produção. Que também combinava o que eu pensava com as minhas características, meus desejos profissionais. Por que é que eu escolhi a PUC. Na época, tinha três faculdade no Rio de Janeiro para eu escolher. Aliás, quatro uma já era meio distante que era em Niterói. Niterói é considerado meio distante, né? Então tinha a faculdade nacional que era muito boa, né? Que era mais concorrida e era gratuita. Tinha a PUC que já vinha se colocando também como número um. Tinha a faculdade Estadual do Rio de Janeiro, recém criada. Essa era muito nova. Então não era ainda consolidada. Então as duas melhores top de engenharia nacional é hoje e UFRJ e a PUC. Fiz exame para todas, o vestibular e saiu o resultado da PUC positivo. As outras duas eu parei depois que saiu o resultado da PUC porque eu queria estudar na PUC. Meu irmão já tinha estudado lá. E foi assim.
P1 - No tempo da PUC, você participava das atividades assim do movimento estudantil?
R - Não participava muito não. Isso é uma das características que eu não fui muito atraído. Eu não era muito atraído por atividades em diretório.
P1 - E você estudava muito, estudava o tempo todo?
R - É. Basicamente a gente ficava bem ocupado, né?
P1 - Mas também tinha atividades de lazer com os seus amigos. Eu queria que você falasse um pouco disso.
R - É, as atividade da época, né? Em volta de atividade típicas do Rio de Janeiro, né? Ir à praia, ir ao cinema, eu gostava de música, ia muito ao teatro, Teatro Municipal que eu frequentava com uma certa frequência. Festas, né? Tinha muitas festas naquela época e todo final de semana era na casa de alguém que a gente se reunia. Enfim, fizemos um círculo de amizade também muito bom. E era por aí.
P1 - Guéron, nessa época que você estava fazendo o estudo universitário. Qual era a expectativa que você tinha com relação à sua carreira na engenharia mecânica de produção?
R - A expectativa inicial, como sempre é arranjar um bom emprego inicial. Na época abundava empregos. A gente se dava ao luxo de recusar. Então, as grandes empresas iam à faculdade no último ano, faziam apresentações, diziam o que é que elas queriam, que tipo de candidatos, quais as vantagens, etc, etc. E a gente se escrevia. Firmas tipo Ford, Petrobrás, IBM, são essas que eu me lembro mas haviam outras. E eles iam lá e faziam toda uma parafernália de propaganda das empresas. O Brasil estava em uma fase de início de crescimento. Aliás, começando aquela etapa de desenvolvimento daquela época. Eu me lembro que os engenheiros eletrônicos que se formaram junto comigo, eles na hora eram arrancados da universidade para ir trabalhar nas estatais grandes que estavam se formando em telecomunicações. Enfim, foi fácil na realidade.
P1 - E qual foi o seu primeiro emprego?
R - O meu primeiro emprego então, eu vi um anuncio no jornal de uma empresa chamada ___________ _______________. Na época era uma das grandes empresas de fabricação de telefones e equipamentos correlatos da telefonia. E o telefone é uma desgraça no Brasil. Não tinha interurbano, você tinha que encomendar interurbano para o dia seguinte e aquilo foi o primeiro grande passo à frente. O governo brasileiro lançou um programa de, naquela época 150 mil linhas de telefônicas novas. 150 mil linhas telefônicas hoje deve ser para um bairro de periferia, né? Então aquilo foi um boom no mercado e as empresas do setor começaram a contratar gente. Então eu me lembro que eu fui, me apresentei na (Estadeira?) Elétrica. Ficava em Vicente de Carvalho lá no subúrbio do Rio de Janeiro. E tinha um entrevista com duas pessoas. Uma era um baixinho americano e outro era um engenheiro brasileiro. Aí a minha entrevista foi a seguinte: "do you speak english?" "Yes, I do. O que mais você fala? "__________ ______________" Ah, então tá bom. E assim eu fui admitido no meu primeiro emprego. Então a gente vê como é que era a facilidade naquela época e como é difícil hoje. Então, nessa empresa eu passei a fazer parte de uma equipe que era chamada de métodos e processo. Cuja função nossa era descobrir nas linhas de montagem modificações que introduzissem melhoria e com mais eficiência no processo, e que com isso, no mínimo a gente pagasse o nosso salário, né? então era um trabalho interessante. Era um grupo lá de uma meia dúzia de engenheiros. Conseguimos descobrir um monte de melhorias lá. Pagamos várias e várias vezes os nossos salários. Mas aí eu não fiquei muito tempo não porque...
P1 - Quanto tempo?
R - Eu fiquei lá, se eu não me engano, uns seis ou sete meses. Ou alguma coisa assim. Porque começou a ficar muito chato, muito rotineiro e eu vi que era uma daquelas empresas que têm muita política gerencial. Então, o americano foi embora, o ____________ que tinha me contratado era o meu chefe e aí veio um que não mandava coisa nenhuma e aí o nosso departamento ficou lá embaixo, não valia mais porcaria nenhuma. E aí eu falei: "está na hora de procurar outra coisa". E aí apareceu outra coisa. E eu nunca nem sabia o que era celulose. Sabia o que era papel porque escrevia em cadernos e lia livros. Então apareceu um anúncio no jornal dizendo: "procura-se engenheiro para trabalhar em uma empresa do ramo de papel e celulose com possibilidade de curso de pós-graduação no exterior". Aí fui lá e em apresentei. De uma série de candidatos eu fui aprovado, né? Era multinacional a empresa. Ela aqui no Brasil não era muito grande. Mas era uma das empresas que fabricava equipamentos, máquinas para a indústria de papel e celulose. Mas fazia parte de um grupo maior, internacional, que também era dono de fábrica de papel, de fábrica de celulose. Abrangia toda a gama do setor. Engenharia, fabricação de máquinas e fazer o produto mesmo.
P1 - Guéron, como era o nome dessa empresa?
R - A empresa chamava _________ Company. E no Brasil tinha um nome chamado Companhia Federal de Fundição. Ficava em um lugar interessantíssimo na época, que era exatamente na zona de baixo _______________ do mangue, né? Então os nossos vizinhos eram as moças lá. Ainda existia aquilo e depois durou mais uns anos e foi acabando. E perto do Monte São Carlos que também é um local que, na época, reduto do samba não tinha ainda muita guerra de tráfico, né? Então era um local assim bem típico assim, cariocão mesmo. Eu fiquei um mês lá até me preparar para o tal estágio, o tal curso de pós-graduação no exterior que de fato tinha. O trabalho consistia em fazer esse curso de um ano e depois voltar e assumir uma posição no grupo. Fosse no Brasil ou no exterior. Então fui para uma universidade nos Estado Unidos Universit ____________.
P1 - Então foi aí que você foi para o (Maine?)?
R - Foi aí que eu fui para o (Maine?). Na época, a forte concentração da indústria de papéis e celulose era no leste dos Estados Unidos. Leste da América do Norte. Então, as melhores universidades estavam lá. Tinha outras muito boas, né? Tem a _________________, onde ____________ estudou também. E fiz lá o curso de pós-graduação. Fiquei um ano, né? E aí eu tirei o certificado de quinto ano. Que equivale ao Master mas sem a tese. Então, como à empresa não interessava que eu ficasse dois anos, que é o tempo necessário para eu apresentar a tese, optei pela opção de só o curso. Porque tinha mais o quinto ano. Na universidade são quatro. Então, quando você faz um curso adicional é quinto ano.
P1 - Esse curso era qual Guéron?
R - Tecnologia de fabricação de celulose de papel.
P1 - Como é que foi esse ano que você passou no (Maine?)?
R Foi muito interessante. Acho que foi um dos anos que mais contribuiu para a minha formação como pessoa.
P1 - Por quê?
R - Fui para um lugar completamente desconhecido, né? Eu acho, se eu não me engano, que para eu ir para lá, foi a primeira vez que eu fiz um vôo de avião. Acho. Isso com 24 anos. Hoje a minha filha com 15 dias viajou de avião, né? A menor. 15 dias já foi viajar de avião. Mas naquela época já levava algum tempo até a gente andar de avião. E eu estava noivo aqui, né? Aí primeiro a decisão, né? Como é que a gente faz? Porque naquela época não tinha esse negócio de ficar nem juntar. Tinha que casar mesmo. Noivar e casar. Aí, bom, não dava tempo de preparar coisa nenhuma. Foi meio assim rápido isso. Então nós resolvemos, vamos casar. Agora vamos descobrimos um jeito de casar, né? E então o que é que aconteceu? Eu fui para lá, fiquei um mês e meio. Enquanto isso a minha mulher foi preparando papéis aqui. E nós casamos por procuração, né? Eu ____________ lá e ela casou aqui. E o procurador era o meu pai, né? E ela é católica, eu não sou católico. E ela resolveu que ia casar na igreja também. Então casou na igreja da candelária. E o procurador era o meu sogro. (risos) Aí já eram dois casamentos aí. E quando chegou nos Estado Unidos: "Ah, tem um rabino aqui que casa também". (risos). Então tudo bem, vamos casar aqui também. E foi uma das viagens que eu fiz à Nova York, descobrimos o tal rabino e o rabino casou a gente. Mas nos Estados Unidos, especificamente em Nova York, quando você casa no religioso ele tem poder civil também. E aí então eu tive que ir lá no registro civil americano onde também tinha lá uma senhora, que eu acho que era juíza, né? Que também nos casou. Então nós fomos casado quatro vezes. (risos). E então, ficamos sozinhos lá os dois. começamos a vida absolutamente sozinho, sem dinheiro, né? Porque o dinheiro era pouquíssimo era só para pagar lá os estudos.
P1 - E onde moravam?
R - Nós morávamos lá no (Maine?), né? É uma cidade mínima, né? Ao lado da Universidade chamada _______________. E aluguei, era uma casa de dois andares e nós alugamos o andar de baixo. E nos viramos, né? Então, acho que esse ano, tanto com estudos, tanto com responsabilidades, em um país diferente, em um país novo. E considerando a época, porque hoje para a gente mudar para um outro país é uma coisa fácil. Todas as crianças vão, fazem seus intercâmbios e vão à Disney. Então, o trânsito internacional hoje é uma coisa facílima. E naquela época era um coisa complicada. Ninguém ia. Eu lembro que para telefonar para casa tinha que ser um dia antes, né? Eu me lembro que eu fiz um ou dois telefonemas durante um ano e pouco, né? Porque era um coisa rara você usar o telefone. Mandava telegrama de vez em quando, mandava carta, né? Então foi muito bom nesse aspecto. A gente foi obrigado a se virar sozinho e ficar em um país que, na época era novidade, né? E eu falava inglês mas mesmo falando inglês você chega em um país com uma pronúncia típica da região da Nova Inglaterra. E eu me lembro que eu fiquei um mês. No primeiro mês eu entendia metade do que eles falavam. Apesar de ter estudado inglês desde o curso primário. Então levou esse tempo para acostumar. E o lugar era frio. Tinha pouquíssimo dinheiro. Comprei um carro velho lá que tinha um problemão o carro, né? Ele não partia de manhã com tanto frio. Então, nos primeiros dias de inverno rigoroso eu virava chave e não ligava. Ia até a bateria morrer. E tinha que chamar alguém para dar um chupeta. E o camarada cobrava dinheiro e eu não tinha dinheiro. Até que alguém me ensinou o segredo, né? Então você faz o seguinte, antes de dormir deixa o carro rodando meia hora. Aí coloca um cobertor no motor e fecha a tampa. Dito e feito. No dia seguinte podia estar 15 abaixo de zero, 20 abaixo de zero que o carro partia.
P1 - Como é que era o convívio com os seus colegas de universidade?
R - Era bom. A maioria eram internacionais, né? Um outro americano. Tinha chinês, eu me lembro. Tinha japonês, tinha, a gente vai logo para o lado no americano, né? Tinha um ____________, que foi muito nosso amigo. Tinha o outro paraense, né? Outro brasileiro. E a gente se reunia e tinha a universidade toda preparada para isso, né? Tem clube internacional, tem esse tipo de atividade. E tinha um grupinho lá que a gente. Não dava para fazer muitas atividade sociais primeiro porque não dava tempo e segundo porque eu não tinha dinheiro, né? Mas fazia-se o suficiente. Minha mulher não conseguiu ter trabalho lá, né? Não podia trabalhar. E ela falava quase que zero de inglês, né? E aí com é que a gente faz para que ela aprenda inglês, né? Aí a gente ficou bolando. Lá não tinha curso de inglês. Não tinha curso para estrangeiro, que normalmente hoje em qualquer universidade tem. E aí descobrimos um casal que passou a ser nosso amigo que era o pastor de uma das igrejas lá protestantes. E a mulher era uma professora especializada em crianças com dificuldade de linguagem. Aí opa, foi por aí mesmo. Ela passou a ajudar a pastora, a esposa do pastor dentro. Fazia parte da universidade um curso de psicologia ou pedagogia. Era um desses cursos. Que tinha um setor, uma escolinha onde as crianças com dificuldade de aprendizado iam. E a minha mulher foi lá, passou a ajudar a professora e com isso ela foi aprendendo inglês, né? Pela metodologia de quem tem dificuldade de linguagem. E ela aprendeu, foi falando, a gente saia na rua para se virar também, fazer compras. E foi assim que ela aprendeu inglês.
P1 - Então essa temporada no (Maine?) foi muito importante para vocês.
R - Foi fundamental.
P1 - E depois quando você voltou para o Brasil e para essa companhia? Como é que foi?
R - Bom, voltei. Já estava sendo esperada a minha volta e voltei ganhado menos do que eu ganhava na outra empresa antes de sair, né? Mas como eu tinha investido em mim, e eles tinham investido em mim, eu falei: "bom eu vou ficar por aqui mesmo, né?". Como era uma empresa pequena e não tinha muitas atividades, né? Não era setorizada, departamento e tal. Então isso me deu uma oportunidade desde o início de ter uma atividade muito generalista. Eu trabalhava em engenharia, ia visitar clientes, ajudar pessoal de vendas. Era assistente do presidente. Enfim, fazia de tudo. O presidente quando eu voltei, não era o mesmo que tinha me contratado. Era um argentino. E até hoje a gente, às vezes, se corresponde. É um camarada que eu tive amizade com ele. E com ele eu aprendi muita coisa nesse aspecto assim já com uma mentalidade bem internacional. Porque ele viajava pelo mundo inteiro, fazia negócio pelo mundo inteiro. Isso também eu acho que me abriu um horizonte para começar a ter contatos. E eu fui subindo na empresa. Cheguei a ser diretor na empresa. Fazia muitas viagens para os Estados Unidos, para a Argentina e isso foi me abrindo o campo, a cabeça, começar a ver como são as coisas nos outros países. Enfim, acho que foi muito bom.
P1 - Você ficou quanto tempo na empresa?
R - Eu fiquei de 1968 até 1973. Por aí. 1974. E depois os americanos perderam o interesse pelo Brasil, não investiam, a coisa foi diminuindo, foi perdendo mercado e aí a gente sentiu que estava na hora talvez de ir para outras alternativas. Eu digo a gente porque era a gente e mais dois. E resolvemos fazer uma empresa nossa que era também meio que coligada à esta. Onde provinha para eles serviços de engenharia e outros aportes técnicos. E depois resolvemos também fazer uma empresa, uma pequena empresa de conversão de papel. Conversão significa transformar o papel em um produto final. Então compramos um galpão ali perto do Mangue também, por ali. E fazíamos rolinhos, que é um produto hoje extinto, né? Que é rolo para máquina de telex. Não existe mais máquina de telex, né? Então é um produto que foi extinto. E fazíamos rolinhos para máquinas de calcular, para máquina de compensação bancária. Mas era um negócio com um certo futuro, né? Porque nós pretendíamos também fazer uma fábrica que produzisse um papel base para fazer tudo isso. E fomos atrás de financiamento, etc. Então passou uma época um pouco conturbada da economia. Eu me lembro que a gente estava quase certo já com uma linha de financiamento estadual. E aí apareceu um pacote do Simonse que na época era Ministro da Fazendo e acabaram com tudo. Fecharam a linha de crédito e aí a gente tinha que esperar não sei quanto. E éramos três e uma indústria muito pequena para sustentar três engenheiros. E daí que um ficou com um negócio e os outros dois resolveram ir para outras atividades. Dos dois que não ficaram um deles foi para Xerox depois com empregado. E depois, eu acompanho um pouco a vida profissional deles e foi para outros ramos. Foi presidente do grupo da ______________, enfim. E eu entrei para a Aracruz, né?
P1 - Pois é, e você já tinha filhos nessa ocasião?
R - Já tinha filhos. Eu tinha três filhos. Minha filha mais velha nasceu em 1969. A segunda nasceu em 1971 e a terceira em 1973. E depois eu tive mais um que depois veio a falecer. E eu tenho uma outra filha agora com 14 anos.
P1 - Guéron, mas como é que você foi para a Aracruz? Eu quero saber essa história. Também foi assim um anúncio?
R - Não. A Aracruz foi um processo assim meio aos poucos, né? O primeiro contato que eu tive com a Aracruz, foi quando eu estava nesse empresa de fabricantes de equipamentos, o grosso da indústria papeleira era do Sul do Brasil. São Paulo era o forte. Paraná, Santa Catarina. Rio Grande do Sul. Para cima começou a se desenvolver o nordeste com os incentivos da Sudene. Mas eram fábricas bem menores, né? Pequenas. Nada comparadas às fábricas grande do sul. E, de repente, começou a aparecer um movimento nessa região. Espírito Santo, Minas Gerais, resultante do programa de reflorestamento de incentivos fiscais para reflorestamento que o governo tinha lançado. Então é uma série de empresários que foram aplicando os seus incentivos fiscais. E aqui era uma região que começou com isso. E começaram a aparecer notícias, começou a fazer pré-estudos, né? E começou-se a ouvir muito que a Vale do Rio Doce estava envolvida. Que a Vale do Rio Doce era muito forte aqui nessa região, que ela que estava envolvida, que ela que estava empurrando isso para a frente. E, em princípio, todo mundo achou um projeto meio maluco quando se ouviu falar em Aracruz, né? Gente que não é do setor, que ninguém conhece. Primeiro veio a notícia que iriam exportar cavacos, né? Que iam pegar a floresta aqui e exportar cavacos para o Japão, na época ávida por cavacos. E ninguém acreditava muito. O governo brasileiro tomou a frente desse assunto de exportar cavacos e proibiu. Eu acho que foi muito bom porque aí é que desenvolveu a grande indústria de celulose no Brasil. Porque o perigo era a gente ficar um exportador de matéria prima barata, né? E começou a consolidar mais, né? Porque eu contactado por um amigo do meu sogro, chamado Afonso Almiro. E ele era diretor financeiro daquela empresa que estava se formando. Como ele sabia que eu estava no ramos de celulose, papel e etc. Em uma empresa multinacional, eles me chamaram e disseram: "Olha, eu estou trabalhando para esse empresa. Nós não temos a estrutura ainda de capital formada e queremos fazer uma associação com alguma empresa grande do setor. E eu sei que a sua empresa tem fábrica de celulose e tal, não dá para você arranjar algum tipo de contato com essa turma e tal? E eu quero que você venha trabalhar conosco" eu disse: "Não tenho interesse de trabalhar, eu estou bem lá". Mas fiz os contatos lá. Acho que houveram reuniões, que não deram em nada, é óbvio, né? E esse foi o primeiro contato com a Aracruz. Eu ainda estava, naquela época, trabalhando para a empresa americana. Quando a gente resolveu ir para a empresa pequena e depois fechar a empresa pequena, eu fui atrás de emprego e eu sou então, alguém me disse: "olha a Aracruz está procurando gente porque o projeto já está em fase de começar implantação". E fui. Tive um entrevista na época com o Ciro Guimarães que era o presidente, que na época chamava-se vice presidente executivo, mas ele era o _________________. E fui entrevistado pelo Ciro e chegamos à conclusão de que o que o Ciro precisava não era adequado para o meu perfil. O que ele precisava era um camarada para ser relator projetos. Ou seja, para fazer relatórios mensais. E eu estaria desperdiçando a minha capacidade. chegamos à essa conclusão e então eu não entrei. Mas cheguei, na época eu me lembro a fazer uma bateria de testes psicotécnicos, psicológicos. Tudo o que tinha direito.
P1 - Mas Guéron essas entrevistas eram no escritório no Rio ou eram aqui?
R - Não. Aqui não tinha. Passou alguns meses e aí eu fui contactado pela Aracruz de novo e fui lá para um entrevista. Dessa vez não era com o Ciro, era com o Geofredo de Morais que era o diretor de obras. Aí conversamos e tal. E eu falei: "Olha, eu preciso que você comece já a trabalhar. Você pode começar a trabalhar amanhã?". E eu falei: "Posso. Tudo bem.". Então, no dia seguinte eu já estava iniciando minhas atividades como coordenador de área. O empreendimento que estava sendo executado já estava em uma fase inicial de obras. E essa obras são divididas em três grande pedaços. E cada uma era coordenada por um engenheiro. E um deles tinha saído e eles precisavam de uma pessoa já para atuar. E aí foi que eu entrei na Aracruz, como empregado da Aracruz. E isso foi em abril de 1977. Primeiro emprego na Aracruz. Aí tem toda uma série de atividade, o que é que eu fazia, o que é que eu não fazia.
P1 - Mas Guéron, como é que foi? Você veio com a tua família para cá?
R - Não. O trabalho lá inicialmente era ficar no Rio de Janeiro que era o centro de coordenação de todo o projeto. Nós tínhamos um equipe enorme de gerenciamento de projeto. E uma equipe aqui também. Mas a engenharia era toda feita em São Paulo, por exemplo. As compras eram todas feitas no Rio de Janeiro. E a inteligência toda do projeto estava no Rio de Janeiro. Então na fase inicial, nós éramos responsáveis por alimentar a obra de necessidade de engenharia, de necessidade de materiais. Enfim, tudo o que fosse necessário em uma primeira etapa para que a área funcionasse. Naquela época se fazia um projeto onde a Aracruz fatiou o projeto em vários pedaços, e ela mesma fazia tudo. Então ela comprava tudo, ela comprava engenharia, ela comprava materiais, ela os comprava equipamentos. Diferente do que se faz em um projeto hoje. Então eu me lembro que, em uma determinada área, cada equipamento havia um fabricante diferente. Então isso dava uma qualidade enorme de trabalho, de gerenciamento, de coordenação, se seguir prazos, de fazer gerenciamentos para ter certeza de que tudo se juntasse e chegasse a tempo aqui. Tinha que contratar empreiteiras, contratar construção civil, contar montagem, contratar tudo. Pintura e tudo. Tudo o que vai em um fábrica era contratado aos pedacinhos separadamente. Então era um trabalho imenso, né? Feito no Rio de Janeiro inicialmente, passados alguns meses o foco começou a ficar muito mais aqui. Começou essa de correr atrás de fornecedores, de correr atrás de engenharias e tinha que se concentrar em fazer o negócio funcionar aqui. Então foi aí que a gente, o grupo de engenheiro de coordenação se mudou para cá e eu vim sem a família, né? Porque eu não sabia se eu ia ficar na Aracruz. Então eu primeiro, o plano era entregar o projeto funcionando. E eu não sabia se eu ia gostar daqui, não sabia se a minha família ia gostar. E ninguém saia do Rio de Janeiro. Só maluco. Isso era típico da época, né? Vai sair desse marzão aqui, dessa cidade maravilhosa para ir lá para a roça do Espírito Santo? Você está maluco. E isso era um comentário geral, né? Bom, vim para cá.
P1 - Mas você e os seus colegas engenheiros se alojavam onde?
R - Mudamos então para o Espírito Santo em base de ponte aérea, né? A na segunda-feira de manhã vinha para cá. E eu não me lembro se sexta à noite ou se sábado de manhã eu voltava para o Rio de Janeiro. E ficávamos em um lugar chamado Hotel da Praia. Que era uma ex-escola que existia no município de Aracruz. E a Aracruz comprou. Ia ser um escola de pesca. Eu acho que a escola de pesca nunca funcionou. Então a Aracruz comprou, ampliou aquilo e na frente do prédio, ele até hoje existe. Na frente do prédio era a escola ativa. Onde as crianças dos funcionários estudavam. E a parte traseira desse prédio eram quartos onde ficavam engenheiros enfim, quem estava trabalhando aqui e que não era residente local. O bairro do Coqueiral, que era um bairro semi construindo pelos empregados já estava sendo ocupado. Acho que uns 20 dele já estava feito, né? E dos que se estabeleceram-se aqui já moravam no Coqueiral. E os que iam ficar para a operação, porque muitos já tinham sido contratados também já moravam no Coqueiral e a turma da ponte aérea morava no Hotel da Praia. O Hotel da Praia era uma coisa interessante, né? Era umas acomodações modestas. Limpinhas, mas modestas. E no começo cada um tinha o seu quarto e tal, tudo bem. Mas, à medida que foi apertando e foram chegando os que iriam ficar e nós nos aproximamos da época que tinha que entregar. Então opa, vamos começar a botar essa turma, concentrar essa turma de engenheiros boa vida. E aí construíram um puxado lá no hotel e era um suite. E os quatro engenheiros tinham que dormir juntos no mesmo quarto. Mas tinha a grande vantagem pelo menos de ter um banheiro. Os outros quartos tinham o banheiro do lado de fora. E fizeram duas suítes dessas. Em um vão ficar os quatro brasileiros lá. E no outro ficou um engenheiro escocês, da manutenção. Era um suitão só para ele, mas ele era escocês, né? (risos). E aí eu me lembro que um belo dia nós fomos para casa em um final de semana, e quando chegamos segunda-feira o puxado tinha caído. Aí eu fui olhar a minha cama e tinha uma tora de madeira em cima do meu travesseiro, né? Que se eu tivesse ficado lá já estava morto. E depois eu soube que até foi tragicômico. Uma discussão tragicômica do que é que tinha acontecido com o coitado do escocês, né? Ele não se feriu nem nada, mas disse que a imagem foi uma fumaceira e, de repente, foi um camarada saindo do meio dos escombros, né? Não aconteceu nada com ele mas poderia ter acontecido. Ele ficava aí no fim de semana.
P1 - Mas por que é que caiu?
R - Foi mal construído e desabou. Fizeram as peças correndo, né? E desabou o negócio. Mas é um lance engraçado, né? Na época a gente achou meio não muito engraçado mas hoje a gente acha engraçado. Tinham outras coisas engraçada na época. Eu me lembro que cerveja Brahma e Antártica não existia aqui. O que chegava até o Hotel da Praia era uma aventura. Chegava duas horas, tinha que atravessar uma balsa. Então a cerveja que tinha era a Alterosa. De Minas Gerais. Era um horror a cerveja. Novela era do dia anterior, né? E se não tivesse chovido. Porque se chovia muito o avião da Transbrasil não parava aqui. Então só vinha novela no outro dia. Porque era ainda em take, né? Não era rede a globo. Então as novelas eram de um dia antes. E coisas desse tipo, né?
P1 - Então Guéron, você participou de toda a construção de toda a fábrica, né?
R - Quase toda. Quando eu cheguei estava começada 20%.
P1 - Mas nessa época que estava nesse processo todo, você não tinha expectativa de ficar na Aracruz. Você achava que você não ia ficar. Eu não tinha certeza se eu ficaria ou não. Alguma expectativa sempre porque eu gostava. Queria trabalhar em uma fábrica e estava vendo que era um empreendimento grandioso, né? Que ia realmente ser uma coisa grande. Eu, mais ou menos, comecei a consolidar o desejo de ficar aqui. Eu estava um pouco consolidando esse desejo. Quando chegou em uma determinada época, fevereiro de 1978, os empregados da Aracruz que se dedicavam a coordenar atividade de obra, como era o meu caso, começaram a sair da empresa. Começaram a ameaçar sair. Todo mundo saía para procurar emprego, né? Vai acabar a obra daqui a pouco então vamos procurar outra coisa. Aí a Aracruz começou a ver como reter esse pessoal até o fim. E uma das maneiras foi bolada lá pela diretoria de obras. Nós vamos fazer uma empresa, nós vamos passar todo esse pessoal de coordenação de obra para essa empresa. E nós vamos fazer a mesma coisa terceirizados. E essa empresa depois continua. A gente vai ao mercado e vira uma empresa de consultoria de engenharia e gerenciamento. E o Ciro Guimarães iria ser o chefe dessa empresa. Só que a diretoria não aprovou, né? Que o próprio presidente fosse o dono da terceirização e o Ciro continuou como vice-presidente e a empresa foi formada então tendo como diretores o Geofredo, que era o diretor de obras, o Licurgo que era o diretor adjunto. E chamaram um outro engenheiro o Ribas. Que era um almirante da marinha aposentado. E ele passou a ser presidente e todos os empregados eram sócios. A gente entrou com cotas, né? Um sistema que já tinha sido usado, se não me engano na Promon, onde todos os participantes são sócios.
P1 - Uma espécie de cooperativa.
R - Era uma empresa mesmo, né? O espírito pode até ser, mas era uma empresa capital e tudo. E cada um tinha a sua cota, e direito à ceder dividendos, enfim. Então eu fiquei nessa empresa chamava-se Implan. E eu fiquei de fevereiro até agosto. Até julho de 1978. Então foi um prazo muito rápido porque eu fui chamado pela Aracruz, pela equipe que iria ficar. Tinha um diretor um norueguês chamado _____________ _______________. E faltou fazer um pedaço do projeto. Porque era uma fábrica de cloro e soda cáustica. E a decisão tinha sido que quem faria esta fábrica seria o pessoal de operação normal. Que não precisaria de uma estrutura enorme de obras e diretoria para isso. Era uma unidade menos. E não tinha sido feita antes porque a idéia era comprar soda em cloro para o mercado. Então a Aracruz não precisava ser auto-suficiente em soda ou cloro. Só que quando se procurou soda em cloro não tinha no mercado..
P1 - Então esse foi o motivo da criação da fábrica de cloro e sódio?
R - Exatamente. O Brasil estava, como eu já disse, em época de Brasil grande. Todas as fábricas funcionando acima de 100% da capacidade ou com 100% da capacidade. Então se achou que podia achar soda tem por aí e não tinha, cloro tem por aí e não tinha. Então vamos fazer a nossa fábrica de cloro e sódio. Já era um projeto que havia sido pensado, né? Que já havia um trabalho em cima dele. E agora a gente vai tocar ele adiante. Então saí da Implan e fui trabalhar para a Aracruz de novo. Então passei a ser de novo empregado da Aracruz. Isso a partir de meio de agosto de 1978. É isso o que estava escrito no crachá. Então quando eu conto 27 anos de Aracruz, essa história toda, é a partir de 1º de agosto de 1978. Mas eu já tinha vindo para cá em 1977. Então tem mais alguns anos de Aracruz aí.
P1 - Mas você foi o responsável por essa planta, não foi? Da planta de cloro e soda cáustica.
R - Então, só para deixar a partir da fábrica de lá. Então teve um pouquinho mais de seriços, a fábrica lá partiu, eu não estava aqui nesse momento. E em setembro de 1978, funcionando a fábrica A. E já com a turma de operação e etc. A Implan saiu e foi procurar outros caminhos. E então eu fui ser o coordenador do projeto da fábrica de cloro e sódio. Quem fazia a engenharia era uma empresa brasileira chamada Anatron que ficava no Rio de Janeiro, na rua D. Gerardo, que é embaixo do Mosteiro de São Bento. E a tecnologia era de uma empresa americana chamada Oxitec. Não tenho absoluta certeza desse nome mas acho que era. Depois eu vou dar uma investigada. Era um empresa de Ohio, nos Estados Unidos, que pertencia à um grupo italiano que era o grupo que dominava todo o cloro e a soda do mundo. É o grupo Denora. Então tinha essa sucursal americana que era quem estava fornecendo tecnologia para nós. E a Anatron desenvolvia o projeto aqui. Então eu passei um ano, mais ou menos, dentro da Anatron lá em D. Gerardo, né? Sentado lá como coordenador do projeto. Eu era o único da Aracruz lá dentro. Tinha uma secretária que estava comigo. E nós tínhamos o escritório de compras lá no Rio de Janeiro, mas não lá dentro da Anatron. Ficava perto do escritório da Aracruz lá na Augusto Cedep. Tinha um comprador, uma compradora e uma secretária lá. Fiquei um ano lá. Ou seja, voltei para o Rio de Janeiro. Não posso ficar constantemente lá. Quando chegou em uma determinada hora eu trouxe a minha mulher. Aí já estava na hora de tomar uma decisão, né? Porque o próximo passo seria mudar para cá. Ou sair ou mudar para cá. Na hora que a obra começasse. Eu trouxe a minha mulher achando que ela não ia querer coisa nenhuma de Aracruz, a família inteira no Rio. A minha mulher tem 12, a família dela são 12 irmãos. Ela tem 11 irmãos. Eu tinha família no Rio. O círculo de amizades todo consolidado e tal. Então, eu falei: "ela não vai sair daqui nunca, né?". Ela estava grávida do Felipe, que era o meu 4º filho. Viemos aqui e passamos uma semana mais ou menos. Era um feriadão etc. E ela ficou maravilhada. E falou: "Isso aqui é um beleza. Praia linda, deserta e tal". E falou: "Não, vamos nos adaptar mesmo, né?". E aí resolvemos nos mudar. E aí chegou a hora então realmente de se mudar. E em agosto de 1979 eu mudei para o Espírito Santo e fui morar no Coqueiral. Pegamos uma casa lá e aí passei a morar lá e fazer o projeto da cloro e soda que acabou partindo agora, eu não me lembro exatamente em que época. Acho que um ano depois mais ou menos em agosto de 1980. E funcionou a fábrica de cloro e sódio. Para colaborar veio o presidente Figueiredo com aquela cara carrancuda. E aí teve lá um churrasco, participou do churrasco e aí inaugurou o cloro e sódio.
P1 - Eu queria e que você falasse um pouco sobre a Cridasa.
R - Essa está difícil de eu me lembrar.
P1 - Eu queria saber principalmente porque me parece que o projeto teve um desenvolvimento mas depois parou.
R - É. A história da atrás da Cridasa é a seguinte. Nosso diretor florestal estava muito preocupado na época, que era a primeira grande crise de petróleo, né? Então o pró-álcool começou a se desenvolver. E havia um certo receio de que iria faltar combustível para os nossos caminhões. Naquela época tudo era próprio, né? Os caminhões eram próprios, os motorista eram próprio e não tinha nada terceirizado. Nem existiam empresas grande de transporte que conhecesse esse _________. E aí ele foi sondado e até meio que forçado para que a Aracruz também entrasse nesse ramos. O Banco do Brasil forçava e tinha alguns empreendedores meio fracos. No interior ele queria que a Aracruz fosse um sócio forte para consolidar o financiamento que o Banco do Brasil iria dar. E então tinha um projeto na Vila de Cristal, né? Na Vila de Cristal, né? Que fica na divisa do Espírito Santo com a Bahia. E lá estava sendo consolidado esse projeto, estavam plantando cana e queriam botar a usina. Então a Aracruz viu nisso um nicho de útil com o agradável, né? A gente queria ter combustível. Na época nem existiriam caminhões que funcionassem a álcool, né? E fomos lá para fazer o projeto. E o Leopoldo Brandão, que era o diretor florestal me chamou. Eu não tinha muito conhecimento dele, só muito ligeiro. Mas ele deve ter ouvido falar que eu era um implantador de projetos e aí me chamou para pegar o abacaxi da Cridasa. E aí fomos lá. E era um projeto tipo (tanque?) onde (tanqui?) significa que a gente comprou com chave na mão, né? O fornecedor era a Dedini. Dedini que, na época, era o grande detentor de know-hall de equipamentos e fábricas de usinas de açúcar e de usinas de álcool que estavam começando a aparecer. E então o meu papel lá foi comprar os equipamentos dos Dedini, consolidar o contrato com a Dedini e botar para funcionar o projeto desde o início, né? Terraplanagem, escolher a terra. Mas a Dedini e seus empreiteiros e subcontratados fazia tudo. Nós coordenávamos, nós dávamos a opinião do que é que a gente queria, facilitava o estudo do local e formamos uma equipe, né? Não muito grande e lá era um pioneirismo bravo, né? Porque era uma cidade assim dessas pobre do pobre. Uma típica cidade daquelas vilazinhas no Nordeste. Uma fileira de casas muito simples de cada lado, um monte de porco andando e fuçando as latas de lixo pelo meio da rua. Enfim, era uma zona bem pobre, né? E quando a gente chegou lá foi aquele espetáculo, né? Chegaram os doutores. Uma cidade parada para olhar a gente. Um respeito danado, né? Tinham fazendeiros enormes, né? E isso é típico do Brasil uma cidade paupérrima e fazendeiros com terras enormes ao lado, né? Então tinha gente bastante rica, mas de gente bem humilde que eram os fazendeiros plantadores de cana. Aquela região toda se formou com pioneiro, né? Com pessoas que foram lá na década de 1960, quando abriram a BR 101 e cortaram árvores. Devastaram tudo o que tinha de mata atlântica. O que era lícito naquela época e vendiam madeira de lei. E depois foram transformando aquelas terras em pastagem. Então eram fazendas de gado imensas. E viam-se coisas interessantíssimas. As cercas eram feitas de toras de madeira de lei inteiriças, né? Toras e toras e toras enfileirada em cima de um tipo de um xis, né? Também feito de madeira de lei. Ou seja, ainda era abundante de tal maneira a madeira que dava para fazer cercas de quilômetros e quilômetros e não era arame farpado. Eram essa toras. Tínhamos que escolher uma casa lá. Umas casas para nós, para os nosso engenheiros. A primeira coisa que a gente constatou é que a maioria delas a cisterna era ao lado da fossa, né? Então tivemos que, o primeiro trabalho era tentar fazer o mínimo de saneamento, né? Reformamos as casas e no fim a gente tinha uns quatro engenheiros residentes e eu ia lá. Eu trabalhava na Aracruz como implantador de projetos. Então eu costumava ir na quarta e voltava no sábado. E era esse esquema. E ia muito à São Paulo, né? Muitos eram em Piracicaba com a __________________. E então ficou nesse vai e vem. Até que ela funcionou e veio o pessoal que iria operar, né? Tinha um camarada que foi nomeado diretor industrial chamado Paulo Lacaz. Foi nomeado lá pelo pessoal do Rio de Janeiro. E aí a gente entregou a fábrica. Naquela época foi quando eu comecei a ter grande conhecimento com o pessoal da Floresta, né? Porque toda aquela região do norte era atuação da florestal. E, por estranho que pareça, né? A turma da fabricação de celulose quase não se dava ou não conhecia o pessoal da florestal. Eram duas empresas. Uma chamava-se Aracruz Florestal e outra chamava-se Aracruz celulose. Aracruz florestal tinha seus diretores, seus administradores, seus financeiros e a Celulose tinha seus administradores, seus diretores e seus financeiros. E só se encontravam lá em cima porque o diretor florestal fazia parte da diretoria da Aracruz. Mas em nível operacional, em nível gerencial, os contatos eram mínimos. Então eu passei a ser o primeiro grande elo de ligação, eu diria, entre florestal e celulose na área gerencial. Já existia também algum elo de ligação na área de fornecimento de madeira. Mas restringia-se muito pouco à um camarada que fornecia madeira. À um chefe de transporte de madeira. Mas os contratos de trabalhos operacionais eram quase inexistentes. Então, todo o meu suporte pra fazer aquele _____________ veio da turma da floresta. E eu me lembro que a comunicação era toda por rádio, a gente pedia apoio para fazer estrada, apoio para trazer material, apoio para malote. Naquela região quem mandava era florestal. Então foi interessante porque eu também abri muitos contatos com a turma da florestal. E aí começou, aos poucos, a fazer com que a Aracruz Celulose e a Aracruz Florestal fossem se conversando, né? Interessante.
P1 - Guéron, quais foram os cargos. Como é que é essa sua trajetória dentro de Aracruz celulose? Porque teve um momento que você passou a gerente geral de engenharia e suprimentos. Eu queria que você falasse desses cargos.
R - Eu não me lembro. (risos)
R - Bom. Quando acabou o projeto da cloro e soda, naquela época eu era o coordenador de implantação do projeto cloro e soda. Aí a Aracruz já se consolidou então como uma empresa operacional. Tinha um departamento de manutenção e engenharia. E passou então, abriu esse departamento em dois. Um passou a ser departamento de manutenção e ficou só com manutenção e o outro passou a ser departamento de engenharia. E queria tratar de implantações, de novos projetos, reformas e tudo o que uma empresa desse tamanho precisa ter. Naquela época a gente tinha um departamento de engenharia enorme, né? Desenhava-se tudo aqui, projetava-se tudo aqui. E o gerente de engenharia, uma das minhas esperanças era. bom, você vai ser o gerente de engenharia. E era até me falado. Só eu não fui ser o gerente de engenharia, né? O gerente de engenharia passou a ser o Vladimir Pelissaro, que era o gerente de manutenção e eu fiquei abaixo do Pelissaro que era o gerente de manutenção. E eu fiquei abaixo do Pelissaro e tinham três implantações, três divisões nessa gerência. Uma chamava-se implantação de projetos, a outra era projetos e a outra era elétrica e automáticos. E eu fiquei com a implantação de projetos, que era a minha característica. E o meu chefe era o Pelizzaro. Então esse foi o primeiro cargo, digamos, no operacional da Aracruz. Em 1982 o gerente de suprimentos, que tomava conta naquela época de compras de materiais de almoxarifado e transporte, foi demitido. Saiu da empresa aí o _________ __________ que já era o diretor industrial perguntou se eu queria encarar a área de suprimentos. E como eu já tinha um experiência generalista de projetos, você passa a ser tudo, né? Desde construtor até comprador, ótimo, vamos lá. Então em 1982 eu passei a ser gerente de suprimentos. E então daí da área puramente técnica e entrei para essa área mais comercial. E isso também foi ótimo para mim porque primeiro me abriu um campo de conhecimento enorme com todo o mercado, né? E novas práticas, novas atividades. Então tomava conta de compras, tomava conta de toda a área de materiais e tinha o almoxarifado com todas as peças sobressalentes. Toda a logística de despache de celulose. O armazém de celulose, não sei por que pertencia à essa área, né? Então todo aquele movimento lá apontados por ponta iam para a minha área. E uma série de transportes internos, né? Para carregar matérias-primas, fornecer produtos. E tudo também nessa área. Era uma área bem vasta. Foi bom. Interessante. Muitas coisas novas eu consegui implantar também, melhorar muito o departamento. Ele era muito burocratizado, era muito entre aspas, nada contra, mas ele era muito administrativo. Quando, em uma fábrica, um departamento de suprimentos tem que ser um misto de comercial, administrativo e técnico. Então, você tem que olhar para o que o cliente quer, né? O operador da fábrica e, ao mesmo tempo resguardar todos direitos e interesses da empresa junto ao mercado, junto à turma lá de fora. E eu acho que foi muito bem, né? Melhoramos muito o departamento. Nessa ocasião eu fazia parte, como representante da Aracruz em um grupo que envolvia todos os gerentes de suprimentos do setor na Associação Brasileira de Celulose e Papel a __________. E ali a gente discutia política de fornecimento de setor, trocava as informações, fomos visitar um ao outro. Então foi uma época de muito intercâmbio, de muito conhecimento. Eu visitei todos os fornecedores da Aracruz. Vários no exterior, outros no Brasil. Conhecia o mercado inteiro. E aí, em 1987, a Aracruz começou a delinear o seu grupo de trabalho para fazer a segunda fábrica a fábrica B. De novo foi então chamado o Ciro Guimarães. Dessa vez como diretor do projeto. E destacaram-se duas pessoas daqui pra ir ao Rio de Janeiro, digamos, para abrir o projeto. Um era o Miguel Senaia, que na época era o gerente de manutenção. Hoje ele está na Suzano. Para tocar a parte técnica. E o outro seria eu para abrir toda a área de suprimentos, coletar subsídios do mercado, ______________ e etc. Aí eu passei a ter uma atividade ao contrário, né? Ponte aérea para o Rio. Morava aqui, a família aqui e eu ia segunda e morava na sexta. E essa base foi feita lá no Rio de Janeiro. Isso foi em 1987. Fiquei um ano mais ou menos. Um pouco menos de um ano formando o departamento. E aí, quando se resolveu o que é que queria mesmo, como é que seria tocado o projeto, o Carlos Aguiar, que já era o diretor industrial, ele falou: "não, eu quero você lá, eu estou precisando de você lá, porque a área e engenharia está um pouco confusa na fábrica. Está sem ninguém. O Miguel estava tomando conta da engenharia que quando foi designada para lá. Então eu preferia que você ficasse aqui na fábrica comigo". Aí eu, em vista de ter que me mudar para o Rio de Janeiro. Já não era o mesmo Rio, né? Eu chegava lá e ainda ficava olhando para cima para prédio, né? Eu estava desacostumado com cidade grande. A garotada achava isso uma maravilha, né? Porque era um paraíso. E eu queria ficar na fábrica mesmo, né? Eu queria me desenvolver dentro da fábrica. E aí o ____________ falou: "não, você vem aqui e fica sendo engenharia e suprimentos". Aí eu passei então a ser gerente de engenharia e suprimentos. Que era fazer toda a área de suprimentos que eu já fazia e mais também a área de engenharia e implantações de novos projetos. Então foi um cargo maior, né? E a estrutura para tocar o projeto dentro da fábrica B ficou independente lá no Rio de Janeiro. O Miguel ____________ ficou durante o tempo todo do projeto como nosso representante técnico lá. Foi ele quem desenvolveu toda a parte técnica. E eu voltei para cá. Foi assim que eu fui assumir essas atividades.
P1 - Agora eu queria que você falasse da construção do Canal do Rio Doce.
R - Essa foi bem mais recente, né? Então eu era já gerente industrial da fábrica, e nós sempre tínhamos determinadas épocas de crise em fornecimento d'água. Mas sempre acabava chovendo e a crise desaparecia. Teve um hora que nós concluímos que era hora de fazer algo mais definitivo. Não podia ficar sempre nesse sofrimento de esse ano está seco, então está perigoso e tal. Nós tínhamos feito um trabalho enorme de economia de água, né? Desde água potável à água de banheiro, que são consumos pequenos, mas educativos, até grande economias na área industrial. então, vários projetos, gastou-se dinheiro, implantou-se. Recirculamos água, enfim. Um monte projetinhos pequenos que levará a Aracruz a cair o seu consumo de água pela metade. Mantendo a mesma qualidade de produto sem afetar nada. Esse era o princípio básico. A gente não pode diminuir água e fazer um produto sujo ou algo assim. Então conseguimos. Então já no ponto de vista industrial a engenharia trabalhou com consultoria externa também, é óbvio. Mas conseguimos uma redução dramática. A outra era, bom, agora vamos fazer um suprimento definitivo para acabar com esse sofrimento. E desde o início da Aracruz, a gente já tinha uma intenção lá de antes da implantação da fábrica de trazer água do Rio Doce. O projeto inicial da Aracruz previa trazer água do Rio Doce. Mas não foi executado porque fizeram-se uma série de barragens coletando pequenos rios, e deu uma quantidade suficiente para aquela época. Então não se foi mais adiante e se abandonou o projeto do Rio Doce. Mas ele estava lá, tinha licença outorga e tudo. Então nós, o Carlos Aguiar, Valter _____________, eu, fomos atrás disso e ver se a gente volta com assunto. Então, quem é que a gente chama? Tinha um engenheiro que era um dos Papas em conhecimento de todos os fios e canos do Espírito Santo. Foi professor da UFS, depois foi secretário de estado chamado Elmo Dalor. E a gente vira e mexe tinha contato com o Elmo, né? Quando dava um problema de água chamava o Elmo. E o Elmo sempre dizia: "vocês não aproveitam, vocês têm direito à usar o Rio Doce, a solução de vocês é o Rio Doce". "Elmo, então venha agora e vamos tocar o projeto do Rio Doce". E o Elmo sentou aí, trouxe mapa antigo, foto antiga. Pegamos o mapa da florestal e tal e fizemos o projeto do canal, né? Já existia o canal. Só que o canal estava fechado um pedaço. Ou por falta de uso, ou por não estar conectado no Rio Doce. Então tinha trechos feitos e abandonados, trechos escoreados e trechos por fazer. Mas ele já estava traçado. Então não foi nenhum invenção maluca. Já haviam traçado há muitos anos atrás. Então chamamos um consultor que tem aqui chamado Valdir, o engenheiro Valdir que tem uma empresa especializada em dragagem. E já conhece toda essa região, ele está sempre falando em dragagem para nós. "Valdir, vamos tocar isso e tem que ser rapidíssimo". Então entre o projeto tocar, contratar maquinas, furar, e obter licença do órgãos. Nisso o governador deu todo o apoio, né? Porque nós fomos lá e mostramos toda a situação e ele disse: "eu vou dar todo o apoio que vocês precisam. Dependendo de todas as licenças eu vou se o porta-voz de você.". Ele muita ajuda o José Inácio. 45 dias então do dia que a gente resolveu tocar, até ter água aqui dentro. Então foi um projeto completamente maluco. Trabalhando 24 horas. Tem gente que provavelmente teve mais detalhes disso mas, no mínimo, tinha umas 25 escavadeiras trabalhando por aí afora no meio do matão aí, fazendas. Muita dificuldade de convencer fazendeiros a deixar a gente entrar. Seria uma vantagem, muitos deles viam uma vantagem para a gente. Primeiro porque iam ter terra para irrigação e segundo porque tinha uma praga. Um bicho que ataca a raiz do pasto que chama bofofô e que esse bofofô morre com água. Então, quando havia seca, o bofofô comia a raiz do capim. Quando chovia no bofofô morria. Então para eles era ótimo ter água aí do lado porque eles iam promover inundações e iam acabar com essa praga, né? Então muitos foram a favor. Mas lógico que muitos criaram dificuldades. Haviam mais colaboradores e menos colaboradores. E fizemos esse canal em 45 dias. Mil peripécias no meio, montagem de estações de bomba intermediárias, enfim. Foi um trabalhão aí danado. E hoje a gente tá na __________________. Outra grande vantagem que esse canal trouxe foi para ter perenidade de água para a vila do riacho. Porque a vila do riacho era alimentada por um rio chamado Comboios. E esse rio teve ligações com o Rio Doce no passado e essa ligação, quando havia seca, era interrompida. então eles ficaram com um filete de água. Hoje, com o sistema nosso de compotas, a gente pode regular a quantidade de água que quiser vindo para a Aracruz e a quantidade de água que quiser mantendo um fluxo constante de água. O Rio Comboios ficou um rio largo, voltou ao que era no século passado, no século retrasado. Enfim, também houve grandes vantagens comunitárias. E para nós, no fundo, o canal do Rio Doce é só para uso emergencial, né? Porque com o fluxo normal da natureza de chuvas, se não houver uma seca brava, a nossa rede aí de pequenos riachos e capitações e barragens, atende perfeitamente. Então nós temos essa opção, né? Se chegar um seca brava de novo, é só abrir a comporta do canal e ele vem para cá. E tem sido mantido um fluxo constante e adequado para que o Rio Comboios seja um rio vivo, né? E não um Rio ________________. Que de vez em quando tem, de vez em quando não tem.
P1 - Guéron, eu vou voltar alguns poucos anos para você falar do projeto de modernização da empresa, dos desafios, se mudou mesmo com esse projeto, digamos assim o paradigma da empresa?
R - É. Eu acho que mudou. Nós, em 1995, começamos a chegar à conclusão de que a empresa precisava de um salto de modernização. Já estava consolidada a fábrica B a partir de 1991. A fábrica A, já tinha partido em 1978 e já tinha vários locais de obsolescência. A informática já estava completamente em uso, e todas as indústrias e em alguns pontos nós ainda deixávamos a desejar do ponto de vista de automação. Ainda nosso processo dependia muito de parâmetro humanos, né? Para regular processo e tal. O desempenho ambiental tinha muitos pontos a corrigir, né? Emissões muito altas em chaminés, alguns parâmetros de emissões líquidas às vezes saiam um pouco fora dos nossos padrões. Então era chegada a hora de fazer um projeto abrangente e que modernizasse a fábrica inteira. E esse projeto nós fizemos o levantamento de todas as necessidades, com participação de todos os operadores, os engenheiros, os gerentes de áreas. Cada um deu um monte de opiniões. Contratamos consultores de fora, e também deram um monte de opiniões e embaixo disso saiu uma proposta do tamanho de um catálogo telefônico e tem que fazer uma depuração disso tudo. Chegar ao que realmente é necessário sob ponto de vista de obrigatoriedade de mercado de aprender clientes, de obrigatoriedade ambiental que era para atender nossas performances de licença de operação. E que traga retorno em dinheiro, lucro para a empresa. Não adianta fazer um projeto que não vai trazer retorno. A não ser que seja por obrigação de mercado ou ambiental. E fizemos uma depuração de tudo isso, até que a gente chegou ao que seria então, o projeto de modernização que passava por comprar uma nova caldeira, que era um equipamento imenso. Passava por fazer modificações nos branqueamentos, passava por implantar sistema automatizado de controle automatizado de toda a fábrica A, porque não tinha. Era tudo ainda elétrico. Melhorias em toda a área de desempenho ambiental. Precipitadores de eletrostáticos novos nas caldeiras para sair menos emissões aéreas poluentes. E aí que então, nós resolvemos partir para uma nova metodologia de fazer projetos que nós já havíamos visto nos Estados Unidos, e que era comum nos Estados Unidos. É comum em algumas indústrias, tipicamente a siderúrgica. E nada comum no setor de papel e celulose, e nada comum na Europa, né? Isso consiste em você comprar um equipamento onde o fornecedor faz tudo. Desde a concepção básica desse equipamento, até a engenharia de toda aquela área, até a fabricação do equipamento dele. Contratação da montagem, ele que supervisiona a montagem, ele que supervisiona a construção civil, é ele quem dá o treinamento, ele que faz todas as atividade pré-partida, que se chamam condicionamento. E, finalmente, põe essa unidade para operar dentro do parâmetro de garantia que nós contratamos. Nosso papel é participativamente na concepção do que a gente quer. E seguir detalhadamente os nossos passos, para ter certeza de que tudo o que nós contratamos ele está fazendo. Resolver todos os problemas que sempre ocorrem e que a gente pode facilitar. Juntar todos os fornecedores de maneira harmônica para que eles todos persigam o mesmo objetivo. Isso é os sistema chamado EPC, e foi aplicado pela primeira vez em um projeto de modernização. Não no total do projeto. Nós compramos em regime de EPC três de grandes áreas, né? Área de recuperação, área de evaporação e área da calcificação. E as demais, como tinha muito o que mexer dentro de unidades existente, um tipo de uma alfaiataria de projetos, então foi difícil a gente fazer sob esse regime que nós mesmos administrarmos essas obras. Mas o Michael nos deu base para chegar à conclusão que esse novo método, novo no papel e celulose, realmente tinha futuro e para nós buscou ser muito mais eficiente, muito menos arriscado e com muito mais compromisso com o fornecedor. E aí que nós resolvemos que nos próximos projetos, essa seria a modalidade. Aliás, no Brasil, foi um queda de paradigma e o nosso investimento foi abaixo do esperado. Ao contrário do que todos diziam: "Ah, os caras vão cobrar muito mais, e tal". Foi o contrário. A fábrica partiu na hora certa, os resultados foram muito bons. Então isso serviu como um grande incentivo porque, quando a gente fez a fábrica ser, já partisse firme com essa ideia de que a fábrica C então teria que ser feita sob essa modalidade.
P1 - Guéron, agora eu quero que você fale dos seus principais desafios como projeto Veracel.
R - Principais desafios? Primeiro é o local, né? Então, um local completamente em torno no início, era um pátio enorme. E dificuldades muito grandes de implantar toda a infra-estrutura que a gente precisa. Tanto para apoiar o projeto em si, quanto como para apoiar a estrutura de quem vai fazer a montagem de uma fábrica daquele tamanho. Então, não tinha estrada, as estradas eram horrorosas, não tinha energia elétrica, a água estava há seis quilômetros, a água provisória para a obra estava há três quilômetros. Esse foi primeiro grande. Mas isso a gente já sabia que havia. Quer dizer, não foi susto nenhum, né? Um projeto chamado Green Feel, que é um projeto que parte do zero, a gente já sabe que no Brasil vai encontrar coisas desse tipo. E aí vimos a Aracruz, o que é que era a Aracruz e então nenhum grande susto. Mas era um desafio. E outro desafio importante e interessante, era que pela primeira vez a gente trabalhou com sócios. A Aracruz sempre foi autônoma, a melhor e isso até é um aspecto positivo, mas tem alguns aspectos, às vezes, meio arrogantes. E a gente sempre fazia tudo sozinho, sempre precisava fazer e não precisava de ninguém. De repente me pinta aqui um camarada de uma empresa, né? O ______________ que é o maior produtor de papel. E que tem um peso aí no mundo, né? Um peso no setor e um peso no mercado. E a gente anteviu que, possivelmente, íamos ter dificuldades de chegar em acordos técnicos de como fazer esse projeto. Então esse foi um outro desafio. Eu hoje digo que foi plenamente superando, bem resolvido e o produto que a gente está colocando lá é produto de um aporte de tecnologia das duas empresas e vai ser a melhor fábrica de celulose do mundo sem dúvida. Então foi muito bom. Foi um desafio muito bem superado e muito bem levado adiante por ambos. Nosso grupo e o grupo deles se portou, vem se portando muito harmoniosamente. Lógico que não se concorda com tudo. E até seria uma burrice. Existem discussões, têm maneiras de se resolver discussões. E as discussões são frutíferas, né? Daí saem novas ideias. Mas eu acho que esse foi um desafio interessante e eu diria que o maior não é como desenvolver os conflitos. O maior é com manter a harmonia, né? Porque isso é fundamental para a continuidade do negócio. E eu já participei de um empreendimento naquelas minhas época de trabalhar com americanos, onde a gente fez uma associação com uma empresa mineira no Brasil, uma fábrica de papel. E foi um desastre. O afeto sociedades foi horroroso, né? Porque os sócios viviam brincando, né? E isso acabou com a empresa, né? Então, como eu trouxe essa bagagem eu falei: "aqui não é possível. Vamos ter eu fazer esse negócio ser harmônico". E realmente foi muito bom. O outro desafio que tem agora é cumprir o cronograma. Existem algumas dificuldades políticas na região. É uma região que não está acostumada com um empreendimento desse tamanho. Então, toda a atmosfera política local é primária. Acha que a ________________ vai resolver os problemas de todo mundo, que vai favorecer à todos os políticos. Mas isso eles vão aprendendo como é que é. Nós não somos uma empresa de favores o tempo todo, né? Não dá para ser. Mas tem várias pressões. Eu vejo em algumas cidades lá, sem querer desperdiçar, eu acho que é até interessante como uma repetição daquela novela do Sucupira, né? Muito típico daquela região. Então é mais ou menos um novo aprendizado, né? Então não tenho assim tantos contatos com políticos, mas a gente não pode deixar de ter. Então é um desafio interessante, né? Como é que é harmonizar uma empresa assim de alta tecnologia, bolsa de Nova York, bolsa de Estocolmo, bolsa da Finlândia, né? Só gente com esse tipo de cabeça aterrissar em um ambiente rural bem simples, né?
P1 - Um Brasil profundo, né?
R - Um Brasil profundo. Se bem que lá, já não é tão assim primário em algumas áreas porque tem Porto Seguro que é uma cidade internacional hoje. Tem mais estrangeiro do que brasileiro lá. Então já tem todos os contatos. Mas é uma diferença grande, né? É um choque cultural. Principalmente no ramo de negócios empresarial. Isso é outro feito interessante. E o grande vai ser fazer a fábrica funcionar no dia certo. E a gente está fazendo todo o esforço e eu acho que vai.
P1 - Guéron, agora eu vou fazer as perguntas finais. Na sua trajetória, dentro da Aracruz, eu queria que você destacasse assim um momento marcante para você.
R - É, eu acho que a principal atividade minha aqui na Aracruz não foi mencionada e foi a fábrica C. E essa foi a consolidação de tudo que a gente fez, aprendeu, experimentou, aplicou. E para mim a fábrica C, modéstia à parte, eu acho que é melhor empreendimento que eu já vi quem qualquer outro lugar do mundo no ramo de papel. Eu espero que essa vai ser melhor. Tenho certeza de que vai ser. Então eu acho que o mais marcante para mim foi a inauguração da fábrica C, né? Esse foi o momento da minha carreira profissional que mais marcou, né? Todo o projeto em si, foi uma atividade muito marcante, a nossa maneira de trabalhar, a coesão do nosso grupo, a interação do nosso grupo de projetos com um grupo operacional, né? Para mim, foi uma grande vantagem ter sido gerente da fábrica por dois anos, né? Também me abriu a cabeça para entender necessidade dos clientes que vão à fábrica. E foi isso.
P1 - E agora, do ponto de vista pessoal, qual era o seu maior sonho?
R - O meu maior sonho. Eu tenho vários sonhos.
P1 - Então diga todos.
R - Bom, eu acho que ainda fazer algumas coisas na Aracruz, né? Durante alguns anos, não muitos. Porque já deve estar todo mundo de saco cheio do Guéron. E, mas saindo um pouco assim da rotina do dia-a-dia, mais do ponto de vista de atividades mais de longo prazo, mais de planejamento estratégico onde eu possa aportar algum conhecimento acumulado. Então, esse seria no ramo profissional. Outras possibilidades que eu acho que ainda está muito cedo é que eu pare de trabalhar. Mas eu acho que ainda está cedo.
P1 - Claro que está cedo.
R - E então eu iria me dedicar às atividades mais de lazer, né?
P1 - Por exemplo?
R - Eu comecei a jogar golfe há alguns anos. Não consigo me aprimorar. Primeiro porque eu sou velho mesmo e começar a jogar velho é ruim. Mas não tenho oportunidade de praticar, né? E é um esporte que eu gosto muito e seria uma das minhas atividades e eu gosto de outras coisas. Música. Quero ouvir mais música. eu toco piano e parei há séculos. Então eu quero me dedicar para voltar para isso, né? Ficar mais tempo. Eu tenho filhos espalhados por aí. Tenho netos. E ao mesmo tempo tempo tenho uma filha de 14, que eu quero me dedicar mais. E ficar visitando neto e filho por aí, né? Um mora em Petrópolis, outro mora em Belo Horizonte. Um não, uma mora em Petrópolis outra mora em Belo Horizonte. O terceiro mora aqui em Vila Velha e a minha filha pequena mora conosco.
P1 - Guéron, o que é que você acha desse projeto memória Aracruz?
R - Eu acho ótimo, né? Toda empresa passa por um certo momento em que as pessoas passam pelas empresas e as histórias, e os fatos e os fatos importantes, os marcos, e as conquistas e as partes humanas e até engraçadas se perdem se não houver um trabalho desse tipo. E se a Aracruz resolveu fazer isso, realmente é muito bom. Porque tem muita gente com muita história para contar e que se não houvesse um projeto desse estaria perdido esse trabalho. E, com certeza, isso ainda vai servir para muita inspiração para o futuro né? Para os que vêm por aí. A Aracruz é um empresa que eu acho que tem um futuro aí brilhante. É uma empresa que sempre se destacou. Isso é outra coisa interessante, né? Um empreendimento que inicialmente reputado como doido, hoje está entre as 10 mais conhecidas empresas do Brasil. E eu acho que é importante quando a gente vê que participou para fazer com que a Aracruz chegue em uma das 10 mais importantes empresas do Brasil, né?
P1 - Guéron, eu quero agradecer muito a sua colaboração no nosso projeto Memória Aracruz, e agradecer pela excelente entrevista.
R - Eu é que agradeço à vocês essa oportunidade. Eu espero que eu tinha trazido alguns fatos interessante. Existem outros, né? Eu estou botando ele no papel, vem coisas mais por aí que eu estou escrevendo. E minha proposta é enriquecer com manifestos escritos mais coisas, né?
P1 - Obrigada.
[Fim da Entrevista]
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