00:00:03 (NC)
Ok, a gravação começou.
00:00:06 (NC)
Essa aqui é uma entrevista, uma entrevista a teste para a atividade do Museu da Pessoa.
00:00:12 (NC)
A gente está aqui entrevistando Diane Wegbrayt.
00:00:19 (NC)
Acertei.(Risos)
00:00:22 (NC)
Hoje é dia 15 de novembro de 2022.
00:00:25 (NC)
Ela é a nona entrevistada do Projeto de Brasileiros em Israel, projeto de extensão da professora Adriana Russi pela Universidade Federal Fluminense.
00:00:39 (NC)
Eu sou entrevistador do Nathan Guimarães, estou acompanhado da entrevistadora Maria Luiza Reed.
00:00:50 (NC)
A gente vai começar, então, agora acho que eu já posso parar até de apresentar aqui, porque eu acho que era uma claquete inicialzinha.
00:01:05 (NC)
Posso voltar aqui para a minha tela inicial direitinho para começar as perguntas.
00:01:14 (NC)
Bom, como eu falei, as perguntas iniciais são bem básicas, é mais uma questão de introdução para você ir se apresentando de novo para a gente, né, nessa entrevista.
00:01:28 (NC)
Queria saber o seu nome, o nome completo.
00:01:33 (NC)
Conta aí pra gente.
00:01:35 (DW)
Então, meu nome completo é Diane Weizmann Weybrayt
00:01:42 (DW)
O Weizmann veio da Rússia e é um sobrenome muito comum, é tipo Silvia em português.
00:01:50 (DW)
Então, existem milhões de Weizmanns.
00:01:55 (DW)
Outro sobrenome bem comum que não tem o meu é o Nigre
00:01:59 (DW)
Você sempre vai conhecer um judeu com o sobrenome Nigre.
00:02:03 (DW)
Então esses são os dois maiores famílias que eu acho que tem mais
00:02:08 (DW)
separações e divisões familiares.
00:02:16 (DW)
Enfim, o outro meu sobrenome é o Zagbrecht. que é bem exclusivo.
00:02:24 (DW)
Estava contando aqui com meus sobrinhos.
00:02:26 (DW)
Tenho três sobrinhos.
00:02:28 (DW)
Estava vindo o quarto.
00:02:31 (DW)
Então, tem 14 Zagbrecht. no mundo escritas da mesma forma.
00:02:40 (DW)
Só que eu já encontrei mais com o J.
00:02:43 (DW)
Com i a mais sem o i.
00:02:45...
Continuar leitura00:00:03 (NC)
Ok, a gravação começou.
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Essa aqui é uma entrevista, uma entrevista a teste para a atividade do Museu da Pessoa.
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A gente está aqui entrevistando Diane Wegbrayt.
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Acertei.(Risos)
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Hoje é dia 15 de novembro de 2022.
00:00:25 (NC)
Ela é a nona entrevistada do Projeto de Brasileiros em Israel, projeto de extensão da professora Adriana Russi pela Universidade Federal Fluminense.
00:00:39 (NC)
Eu sou entrevistador do Nathan Guimarães, estou acompanhado da entrevistadora Maria Luiza Reed.
00:00:50 (NC)
A gente vai começar, então, agora acho que eu já posso parar até de apresentar aqui, porque eu acho que era uma claquete inicialzinha.
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Posso voltar aqui para a minha tela inicial direitinho para começar as perguntas.
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Bom, como eu falei, as perguntas iniciais são bem básicas, é mais uma questão de introdução para você ir se apresentando de novo para a gente, né, nessa entrevista.
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Queria saber o seu nome, o nome completo.
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Conta aí pra gente.
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Então, meu nome completo é Diane Weizmann Weybrayt
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O Weizmann veio da Rússia e é um sobrenome muito comum, é tipo Silvia em português.
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Então, existem milhões de Weizmanns.
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Outro sobrenome bem comum que não tem o meu é o Nigre
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Você sempre vai conhecer um judeu com o sobrenome Nigre.
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Então esses são os dois maiores famílias que eu acho que tem mais
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separações e divisões familiares.
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Enfim, o outro meu sobrenome é o Zagbrecht. que é bem exclusivo.
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Estava contando aqui com meus sobrinhos.
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Tenho três sobrinhos.
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Estava vindo o quarto.
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Então, tem 14 Zagbrecht. no mundo escritas da mesma forma.
00:02:40 (DW)
Só que eu já encontrei mais com o J.
00:02:43 (DW)
Com i a mais sem o i.
00:02:45 (DW)
Então, é bem legal isso.
00:02:51 (DW)
E lá, em questão de famílias, mesmo quem não é religioso, eu sou ortodoxa, e mesmo quem não é, a média dos filhos é de 4 a 5 filhos.
00:03:04 (DW)
Porque lá, a escola é de graça, o plano de saúde você paga um preço popular por mês, porque a gente trabalha testes, exames, consultas.
00:03:19 (DW)
Esse tempo é horrível.
00:03:23 (DW)
Desculpa.
00:03:24 (DW).
Mas a média de filhos é muito grande.
00:03:30 (DW)
Como eu falei, tem muitos benefícios.
00:03:33 (DW)
Tem muitos parques.
00:03:36 (DW)
Eu tô numa cidade chamada Harij, que quando eu fiz Aliá, que é o movimento judeu para Israel, que é a subida, 60% da população de Harij é de crianças de menos de 10 anos, então tem muito parque, tem muito parque mesmo lá.
00:04:07 (DW)
Crianças podem andar sozinhas lá em Israel a partir de 9 anos, então lá é muito estimulada a independência, porque os pais têm muitos filhos, então..
00:04:19 (DW)
Por exemplo, eu conheci uma criança com 6, 7 anos que já faz o próprio sanduíche, que faz o sanduíche do irmão mais novo, que ajuda o irmão mais novo a tomar banho, a ir ao banheiro.
00:04:33 (DW)
Então, lá tem uma gama de independência muito grande Eu já vi crianças de 10 anos com mochilas de rodinha pegando ônibus. Eu falei, “o que é isso?”
00:04:44 (DW)
Tá melhor que eu (risos), então… Eu já me perdi várias vezes em Israel Então, é isso… lá em Israel.
00:05:00 (DW)
Com essa grande dependência, muitos judeus ganham disciplina quando vão para o exército, porque o exército é obrigatório.
00:05:09 (DW)
E diferente de outros países, deficientes também podem participar do exército lá.
00:05:15 (DW)
Tem um escalão que se chama...
00:05:19 (DW)
É só para deficientes, então.
00:05:21 (DW)
Mas, assim, eles não vão para o campo, mas eles ajudam a limpar os dormitórios, ajudam na cozinha, ajudam a lavar a louça.
00:05:31 (DW)
Enfim, eles participam, são incluídos na sociedade.
00:05:37 (DW)
Lá, o exército é obrigatório.
00:05:39 (DW)
O deficiente não é obrigatório, mas ele pode participar se ele quiser.
00:05:43 (DW)
Eu até pensei em participar, só que para a média de excelência (inaudível) eu já estou muito velha, que eu já tenho 26 anos. Eu falei “Aaah!” (Som de choro). Mas faz parte. Então mais oq que vocês quiserem me perguntar daí… Já falei muito sozinha.
00:05:58 (NG)
Não, é, eu gostei. Você falou bastante também sobre família, né?
00:06:05 (NG)
Aí eu queria que você contasse também um pouquinho sobre sua família, seus pais, seus avós Você nasceu já na cidade do Rio?
00:06:16 (NG)
Onde é que você nasceu?
00:06:18 (DW)
Então, eu sou carioca e nasci e cresci no mesmo apartamento.
00:06:22 (DW)
Quando eu me mudei de país, eu me mudei pela primeira vez, então foi um choque de realidade.
00:06:32 (DW)
Uma semana antes de eu fazer o Aliá, meu pai foi atropelado, acabou falecendo.
00:06:40 (DW)
E eu fui super bem recebida, muito bem recebida lá.
00:06:47 (DW)
Minha mãe ganhou ajuda financeira da viúva, ganhou ajuda de assistência social.
00:06:56 (DW)
Como eu falei, tem muita ajuda lá em Israel, por exemplo.
00:07:03 (DW)
Ajuda de depressão, o governo paga uma bolsa temporária financeira, porque ele sabe que a pessoa com depressão não trabalha porque não quer, trabalha porque não consegue.
00:07:17 (DW)
Então tem todo um esquema de acolhimento, porque todo judeu vem de algum lugar.
00:07:27 (DW)
Ou da Alemanha, ou da Rússia, ou de Portugal, do Brasil, dos Estados Unidos, do México.
00:07:31(DW)
Então, eles estão acostumados a acolher o resto do mundo.
00:07:36 (DW)
Por exemplo, eu sei inglês.
00:07:38 (DW)
E eu falo inglês.
00:07:40 (DW)
Mas se eu apresento e falo...
00:07:43 (DW)
E eu quero falar em hebraico, as pessoas sorrirem pra mim.
00:07:47 (DW)
E começam a fazer mímica.
00:07:49 (DW)
Já ganhei desconto em produtos.
00:07:53 (DW)
Então...
00:07:54 (DW)
Porque quando você fala, eu quero participar desse país, eu quero ajudar esse país a crescer, o país também te ajuda a crescer, te ajuda.
00:08:05 (DW)
Então, é uma troca.
00:08:09 (DW)
Então, lá eu tenho um irmão que já fez Aaliyah há 5 anos, 5 anos, não, é 6 anos atrás, já tinha uma filha carioca também. Ele já tem dois filhos e a minha cunhada está no quarto.
00:08:31 (DW)
Lá tem uma grande ajuda familiar.
00:08:35 (DW)
Então você não…E eu me mudei para a cidade que meu irmão está.
00:08:41 (DW)
Meu irmão já tinha passado muito tempo.
00:08:44 (DW)
Eu já não o via muito, com muita frequência.
00:08:46 (DW)
Meu irmão.
00:08:47 (DW)
E lá eu vejo a Letícia e até a Brinca.
00:08:50 (DW)
Caraca, vocês de novo aqui?
00:08:52 (DW)
Que a gente se encontra na rua.
00:08:54 (DW)
Enfim, é um clima muito amigável.
00:08:59 (DW)
Lá em Israel, eu me sinto muito mais acolhedor.
00:09:03 (DW)
Lá, acolhedor.
00:09:06 (DW)
Não, acolhedor é quem acolhe.
00:09:08 (DW)
Acolhida.
00:09:10 (DW)
Desculpa, confundi os termos.
00:09:12 (DW)
É isso, quando você chega em Israel você, eu já pergunto, “do you speak english?”, e aí já começo a falar em hebráico, não sei nem inglês, nem hebraico, nem português, vou misturando tudo.
00:09:26 (DW)
Eu descobri que isso é muito comum, todo mundo passa por isso.
00:09:31 (DW)
Então, Israel tem uma garra, porque é um país novo.
00:09:37(DW)
Então, para um país novo crescer tão rápido quanto cresceu agora, precisa de muita garra.
00:09:45 (DW)
Uma das mais bagunças que tem em Israel é porque não tem domingo.
00:09:50 (DW)
Domingo é dia útil.
00:09:51 (DW)
Todas as lojas abrem, todos os trabalhos abrem.
00:09:54 (DW)
Então, já estava vendo isso no parlamento, Olha, a gente já cresceu bastante. A gente pode ter o domingo, não precisa… E lá o trabalho é nove horas diárias;
00:10:11 (DW)
E Não tem hora de almoço.
00:10:12 (DW)
Você almoça e volta.
00:10:14 (DW)
Ninguém controla o seu horário.
00:10:17 (DW)
Se você demora 10 minutos pra comer, você tira 10 minutos.
00:10:21 (DW)
Se você tira 20 minutos, 40 minutos, não importa.
00:10:25 (DW)
É você.
00:10:26 (DW)
E você só vai ganhar por aquele tempo que você trabalhou.
00:10:31 (DW)
Então, o faxineiro também ganha por hora.
00:10:35 (DW)
Se ela chegou 10 minutos antes, ela cobra esses 10 minutos antes.
00:10:41 (DW)
Se ela saiu com a hora quebrada 3:43, ela cobra a hora certinho.
00:10:48 (DW)
Então cada minuto conta.
00:10:52 (DW)
Tem uma conhecida nossa que falou “eu vou para a praia com o carro da minha faxineira, um BMW.”
00:10:59 (DW)
“Ela ganha bem mais que eu.” (risos)
00:11:02 (DW)
Lá não tem muita distinção de classe, porque o vizinho é manicure, ou o vizinho é um faz-tudo, o outro vizinho é engenheiro, então não tem…
00:11:17 (DW)
Todo mundo tem o mesmo estilo, nível de classe, só se for um cara muito rico, mas, geralmente, a planta do prédio não muda muito, porque, apesar de ter uma diferença, o padrão é 3 quartos, porque a média de filhos é 4 a 5 filhos.
00:11:40 (DW)
Então, já tem uma proposta, por exemplo, e tudo é muito pensado.
00:11:45 (DW)
Por exemplo, não tem play nos prédios, mas pra quê eu vou ter play se eu tenho tanto parque lá, tanta pracinha?
00:11:53 (DW)
Então, lá tem outro estilo de vida.
00:11:58 (DW)
Quando eu fui pra lá, eu tenho um choque de realidade.
00:12:04 (DW)
Muita gente, quando vai pra lá, acaba tendo ou uma crise de ansiedade ou uma crise de depressão porque você é muito diferente, a cultura é diferente. Então você, se você não estiver bem, se preparado psicologicamente, você vai ter uma expectativa muito grande. Porque, como eu disse, a segurança funciona, a escola funciona, a educação funciona, a saúde funciona. Então você acha que vai ser perfeito, mas não vai ser.
00:12:37 (DW)
Porque Israel, apesar de ser um grande país, tem seus problemas.
00:12:40 (DW)
Cada país tem seu problema.
00:12:44 (DW)
Então eu falo “gente, não vá com uma expectativa muito grande.”
00:12:49 (DW)
Um país é um país.
00:12:51 (DW)
Não é porque funciona que vai ser um mar de rosa.
00:12:56 (DW)
Apesar de funcionar, tem seus problemas.
00:13:00 (DW)
Por exemplo, uma coisa legal é que o sindicato mais forte de Israel é a dos professores.
00:13:10 (DW)
E isso já deu muito problema, porque os professores acabam ganhando bem mais benefícios do que qualquer coisa.
00:13:21 (DW)
Por exemplo, como lá não tem domingo, as crianças ficam sem muito tempo para ficar à toa.
00:13:30 (DW)
Então, muitos pais dizem, “não, vamos abrir na sexta, porque aí, em vez de domingo, vamos abrir na sexta, porque aí a criança pode brincar na sexta e sábado”
00:13:42 (DW)
Porque sexta e sábado, sexta-noite, é o shabat, que é o dia de descanso religioso.
00:13:48 (DW)
Então, loja não abre, só o hospital funciona.
00:13:55 (DW)
Então, os ônibus não funcionam.
00:13:58 (DW)
Só que aí, como eu falei, só 20% da população é religiosa.
00:14:04 (DW)
Só que, apesar de ter muitos protestos.
00:14:10 (DW)
Muitos falam: “ah, eu tenho uma loja e vou abrir no sábado.”
00:14:14 (DW)
Só que, já que o país faz a cultura, falam, “Ah eu não vou abrir.”
00:14:18 (DW)
“É um dia de descanso, eu vou descansar com meus filhos, vou descansar com a minha família.”
00:14:23 (DW)
Então, não tem muito...
00:14:29 (DW)
As pessoas reclamam, mas também aceitam, porque sabem que depois vai funcionar.
00:14:39 (NG)
E sobre esses prós e contras que você me falou agora de estarem em Israel e tudo mais, aí me surgiu uma curiosidade, né?
00:14:47 (NG)
Você falou do Aliá, que é a saída para Israel.
00:14:50 (NG)
Você sabe me contar mais ou menos de onde surgiu essa vontade, talvez de você ou da sua família, de fazer o Aliá?
00:14:59 (NG)
Como é que vocês estavam no Rio de Janeiro?
00:15:02 (NG)
E por que vocês decidiram entrar lá?
00:15:05 (DW)
Então, quem começou a ativar o processo de retorno, foram os judeus.
00:15:12 (DW)
Como é que pode ficar religioso, a gente fala que é o retorno, porque antigamente não tinha judeu secular e judeu religioso.
00:15:21 (DW)
Você é judeu e cumpriu o shabat, você comia cachê, né?
00:15:24 (DW)
Tipo, era mais explícito, não tinha esse...
00:15:28 (DW)
“Ah, isso é ortodoxo, não sei o quê”, então...
00:15:34 (DW)
Quando o meu irmão fez, aí se deu curiosidade da minha família, então...
00:15:41 (DW)
A minha família quis...
00:15:44 (DW)
Porque era só uma vez por ano, às vezes nenhum, que eu via meu irmão com meus sobrinhos.
00:15:50 (DW)
Então, a gente queria se mudar.
00:15:52 (DW)
Só que eu já tinha...
00:15:54 (DW)
Meus pais tinham trabalho, eu tinha trabalho, eu estava na faculdade.
00:15:58 (DW)
Então, a gente queria, mas a gente estava tendo obstáculos.
00:16:07 (DW)
Um conselho que eu digo para as pessoas que querem fazer Aaliyah.
00:16:10 (DW)
Não façam obra nenhuma na sua casa, não comprem móvel, porque aí você vai querer ir embora mais rápido. “Aí minha casa já está quebrando, já está desfazendo, vamos logo.” Porque quando vocês colocam dinheiro na sua casa, você fica mais...
00:16:28 (DW)
Coloca mais uma raiz onde você está. Então, eu sempre quis. E uma curiosidade é que o pessoal fala que essa, a legislação do país é nova, que ganhou um aumento na política em 1800 e pouco.
00:16:51 (DW)
Eu não lembro a idade certa, mas...
00:16:54 (DW)
Eu leio meus livros de reza, que foram escritos bem mais cedo que Meu Santo foi escrito, os livros de reza foram escritos em 300 anos, e já falam de Israel.
00:17:21 (DW)
Só que não era um movimento político, era um movimento religioso.
00:17:27
Então, quando veio o movimento político, quando ganhou forma, teve cinco propostas para criar um país judeu depois da Segunda Guerra Mundial.
00:17:43 (DW)
E uma delas é o Mato Grosso do Sul, que não tinha uma grande proporção.
00:17:47 (DW)
Falava: “vamos colocar os judeus lá.”
00:17:50 (DW)
E o Inaudível falou: “não, já que estão me dando algum lugar, vamos para Israel, pô.”
00:17:56 (DW)
“Aqui é o nosso lugar, vamos viajar para a fonte.”
00:17:59 (DW)
“Por que a gente vai ficar passeando, pô?”
00:18:02 (DW)
Então, é isso.
00:18:05 (DW)
É a mesma pessoa e a história mais genérica.
00:18:09 (NC)
Ah, legal.
00:18:11 (NC)
Então, aí uma vez vocês indo para Israel, vocês já estão lá há quanto tempo?
00:18:19 (DW)
E eu fiz Aaliyah em novembro.
00:18:22 (DW)
Então eu voltei depois de um ano, novamente , porque eu quero limpar a minha casa.
00:18:27 (DW)
Estou fazendo uma super faxina aqui.
00:18:31 (DW)
Estou separando para doar, para jogar fora, para levar.
00:18:35 (NC)
Ah, legal.
00:18:37 (NC)
E aí agora eu queria ir para um lugar mais voltado até para uma questão do nosso projeto, que é a questão da saudade.
00:18:47 (NC)
Quando você estava lá, eu queria que você me dissesse o que você mais sentiu falta do Brasil, estando lá naquele momento?
00:18:56 (DW)
Eu senti falta da minha casa, não do país, mas da minha casa.
00:19:00 (DW)
Eu queria minha casa lá, porque como eu falei, foi minha primeira mudança, eu nasci e cresci aqui, então quando eu penso em casa, automaticamente eu lembro desse meu apartamento, onde tipo, a cama que eu durmo agora, com 26 anos aqui, foi quarto, que era o meu berço.
00:19:22 (DW)
Então, o meu quarto sempre foi meu quarto.
00:19:26 (DW)
Então, eu criei meu apartamento lá.
00:19:31 (DW)
Uma coisa que eu também sinto muita falta é requeijão.
00:19:33 (DW)
Porque lá não tem requeijão.
00:19:35 (DW)
Tem vários queijos, mas não tem requeijão.
00:19:37 (DW)
É um absurdo. (Risos)
00:19:42 (NC)
Era isso que eu ia mencionar, se tinha alguma comida que você sempre...
00:19:45 (NC)
Que você tava lá, passando um ano...
00:19:48 (DW)
Por exemplo...
00:19:48 (DW)
Os queijos, por exemplo, lá são mais azedos.
00:19:53 (DW)
São um pouquinho mais azedinhos.
00:19:54 (DW)
Não são tão salgados quanto aqui.
00:19:57 (DW)
Eles até reclamam que os brasileiros não sabiam temperar nada.
00:20:01 (DW)
Tudo muito salgado, a comida.
00:20:04 (DW)
“Sal não é tempero, não sei o que.”
00:20:08 (DW)
Os doces são extremamente doces.
00:20:12 (DW)
Então, eles colocam muito açúcar, e uns dois anos atrás começou a aparecer índice de obesidade nas crianças, então, Israel começou a colocar símbolos de muita gordura, muito açúcar e muito sal para as pessoas ficarem de olho: “Estou comprando, mas isso aqui tem…”
00:20:33 (DW)
E tem produto lá que tem os três símbolos. Eu falava assim “ que delícia, valeu muito” (risos) Então...
00:20:42 (DW)
Vou ficar de olho, por exemplo, a minha cunhada quando vai comprar um produto para os meus sobrinhos, vai lá, por exemplo, escolher um ketchup, ela procura um ketchup que não tenha símbolo nenhum, que aí é mais saudável.
00:20:56 (DW)
Então, tem muita coisa lá que é diferente.
00:21:02 (DW)
Por exemplo, aqui o tempero mais comum é cebola e alho.
00:21:07 (DW)
Você vai comer tudo com cebola e alho.
00:21:10 (DW)
Lá não, tem chum, tem...
00:21:13 (DW)
Não sei como dizer, mas...
00:21:18 (DW)
É um pouquinho ácido, é tipo uma pimentinha, mas não é tão apimentada. Tem também...
00:21:27 (DW)
Não tem sete ervas, mas tem...
00:21:32 (DW)
Você faz sete ervas, porque sete ervas é um tempero do Brasil. Não existe essa combinação lá, mas você pode fazer em casa, mistura.
00:21:44 (DW)
Tem vários tipos de pimenta.
00:21:46 (DW)
Eu falo: “Gente, eu não sabia que existia tanta pimenta assim.”
00:21:52 (DW)
E lá, Israel faz parte do mundo árabe, Oriente Médio.
00:21:59 (DW)
Então, tem muito tempero lá.
00:22:06 (DW)
Por exemplo, tem pratos que eu como.
00:22:09 (DW)
Por exemplo, tem as linhas mais genéricas de ortodoxo.
00:22:18 (DW)
Tem várias linhas mais gerais, assim.
00:22:25 (DW)
Tem a Eskenazi e tem a Sefaradita.
00:22:28 (DW)
Não sei se vocês já viram falar sobre isso.
00:22:30 (DW)
Hoje, o estilo da Eskenazi vieram da Europa.
00:22:34 (DW)
E o sefaradita vinha do doente médio, que veio do Irã, do Catar, do Iraque.
00:22:43 (DW)
Então, muita comida sefaradita vem do mundo Árabe, o kibe…
00:22:56 (DW)
Então, tem uma gama, por exemplo, o esquinazi.
00:22:58 (DW)
Você vai comer a comida esquinazi é batata com cebola com mais batata.
00:23:03 (DW)
Isso é um resumo da comida esquinazi.
00:23:05 (DW)
Tudo tem batata com cebola.
00:23:07 (DW)
Então, tem várias histórias.
00:23:13 (DW)
Tem várias linhas, tem rabas, também tem os egípcios (inaudível) que vieram da África.
00:23:22 (DW)
E cada linha tem uma cultura diferente.
00:23:27 (DW)
Sigam no instagram uma menina que eu descobri agora, que ela tem uma sinagoga, Silp, e ela fala um monte de curiosidade.
00:23:38 (DW)
Eu falo “gente, eu nem sabia.”
00:23:41 (DW)
E muita coisa que ela fala, eu falo ‘olha, conheci, eu também participei disso.’
00:23:45 (DW)
Então, tem uma coisa em comum, tem uma coisa que nos interliga.
00:23:50 (DW)
Tanto que, se não fosse isso, Israel não existiria.
00:23:54 (DW)
Todo mundo tem…
00:23:56 (DW)
Todos os judeus interligam alguma coisa.
00:23:59 (DW)
E depois eu posso mandar, eu esqueci o nome do cara, que ele falou que Israel não pode existir sem uma língua.
00:24:10 (DW)
Porque se não tiver uma língua, como os estrangeiros vão se comunicar?
00:24:15 (DW)
Um fala inglês, outro fala francês, outro fala português.
00:24:19 (DW)
Eu lembrei que é moderna.
00:24:21 (DW)
Então, por exemplo, banana.
00:24:23 (DW)
Você vai ler banana, você se lê com banana.
00:24:26 (DW)
Não tem muito do inglês.
00:24:29 (DW)
E é muito legal estudar Israel.
00:24:37 (DW)
Porque o Hebraico sempre existiu.
00:24:41 (DW)
Mas, por exemplo, o cara fala “Como é que eu vou jogar poker, blefar com a língua que eu falo com Deus?”
00:24:50 (DW)
É muito estranho.
00:24:51 (DW)
Como assim eu vou...
00:24:53 (DW)
Então, por exemplo, os Esquenazi tem o iídiche.
00:24:56 (DW)
Não sei se você já ouviu falar do iídiche que hoje em dia eles falam...
00:25:02 (DW)
Criar uma mistura do hembraico com o latim.
00:25:04 (DW)
Que é o iídiche.
00:25:08 (DW)
Isso aí é (inaudível).
00:25:09 (DW)
Tem, por exemplo, pessoas de terceira idade que falam em iídiche fluentemente.
00:25:15 (DW)
Eu não sei nada.
00:25:17 (DW)
E a maioria das coisas em iídiche são palavrões, são xingamentos, porque eu não tinha em hebráico, porque é a língua de Deus.
00:25:25 (DW)
Então bastante gente xinga em iídiche.
00:25:30 (DW)
E lá em Israel, muita gente, inclusive agora, nas empresas, no dia a dia, xinga em inglês.
00:25:44 (NC)
Então, e aí, agora uma coisa, já estando vocês fazendo o… indo para aí, como é que é a questão dos outros imigrantes da América Latina, até do Brasil?
00:26:01 (NC)
Existe algum tipo de…alguma grande comunidade de brasileiros aí?
00:26:04 (NC)
Você tem algum outro amigo aí que também veio do Brasil?
00:26:09 (NC)
Como é que se dá o seu círculo?
00:26:13 (DW)
Então, antigamente, muitos judeus iam para Hanano, mas era mais latino.
00:26:20 (DW)
Em Harish tem uma sinagoga brasileira com um rabino que é de Teresópolis.
00:26:26 (DW)
Ele fez Aaliyah também.
00:26:29 (DW)
E abriu uma sinagoga lá e é cheio.
00:26:36 (DW)
O prefeito disse “Me dá angústia quando eu abro espaço para uma sinagoga e eu vejo quase vazia.”
00:26:45 (DW)
A sinagoga do brasileiro tá sempre média pra cheia.
00:26:49 (DW)
Tipo, as pessoas querem participar da quantidade, querem…
00:26:54 (DW)
E é muito, é um descanso mental porque eu vou falar em português.
00:26:59 (DW)
Eu posso...
00:27:01 (DW)
Muita gente se sente assim, então...
00:27:06 (DW)
Tem um grupo, tem grupo no Whatsapp, tem...
00:27:11 (DW)
É, tem grupo...
00:27:13 (DW)
Tem vários grupos, tem grupo com pessoas só de Harish, tem grupos com brasileiros, Israel todo.
00:27:22 (DW)
no Facebook também, aí se fala:
00:27:25 (DW)
“Ah, você sabe onde comprar não sei o que mais barato?”
00:27:29 (DW)
“Gente, eu tô morrendo de saudade de comer pão de queijo.”
00:27:31 (DW)
“Onde eu compro pão de queijo aqui?”
00:27:34 (DW)
Então, tem uma...
00:27:37 (DW)
judeu, antes de ser religioso, é um povo.
00:27:42 (DW)
O povo judeu recebeu a oração das criptas, tanto que na Torá, os livros dos judeus nunca fala individualizado, sempre quando vai falar uma lei, fala o povo judeu, o judeus.
00:27:58 (DW)
Então, você sabe que você não é ninguém sozinho, você participa de uma comunidade.
00:28:05 (DW)
Por exemplo, quando meu pai faleceu, eu soube que teve gente no (inaudível) salmos pro meu pai.
00:28:13 (DW)
Eu já li pra gente do México, que eu nunca vi na vida, e eu nunca vou saber, mas a gente participa. Quando tem um atentado em Israel e alguém vai para o hospital, o hospital lota de gente lendo salmos e perguntando se querem doação para a família, se querem comida, se querem roupa.
00:28:35 (DW)
E quando você vai doar comida para a família, você pergunta qual é o nível de caché, porque tem vários níveis.
00:28:44 (DW)
Se quiser, depois eu falo mais adentro.
00:28:48 (DW)
Então, tipo...
00:28:50 (DW)
Tem uma ajuda comunitária.
00:28:53 (DW)
O Israel só funcionou porque os judeus quiseram que o país funcionasse.
00:29:02 (DW)
O judeu é muito patriota com o Israel.
00:29:10 (NC)
Eu vi que você falou muito dessa questão da comunidade, até na questão do Facebook e tudo mais.
00:29:16 (NC)
E aí eu acabei fazendo uma conexão aqui na minha cabeça sobre essa questão.
00:29:21 (NC)
“Ah, alguém sabe algum lugar onde vende pão de queijo e tudo mais?”
00:29:24 (NC)
Tem essa questão da memória cultiva do Brasil muito ligada às vezes até à comida e tudo mais.
00:29:29 (NC)
Você sabe se existe algum, tipo, algum ou algum, não sei se é famoso, em Israel, porque eu sei que, sei lá, em alguns lugares como nos Estados Unidos, em Miami, tem uma comunidade brasileira e tudo mais, sempre tem um restaurante, um ou outro, de comida brasileira, que até acaba fazendo sucesso.
00:29:48 (NC)
Tem alguma coisa parecida por aí?
00:29:51 (DW)
Então, tem algumas restaurantes em Tel Aviv, mas que não é kosher.
00:29:57 (DW)
Então, judeus e ortodoxos não vão pra lá.
00:30:00 (DW)
E tem muita receita com pão de queijo lá.
00:30:03 (DW)
Por exemplo, lá não tem polvilho azedo, mas muita gente faz pão de queijo com farinha de tapioca.
00:30:10 (DW)
Então, tem essa variação.
00:30:12 (DW)
Tem o “Brasil Eu Quero”, que é um site que você pode encomendar comida, pode...
00:30:18 (DW)
Que traz mate, traz remédio, traz...
00:30:23 (DW)
Se você paga...
00:30:24 (DW)
E eu acho que isso é 70 dólares, você não paga frete.
00:30:30 (DW)
Você pode comprar bananada, você pode comprar farinha, farinha de polvilho azedo, farinha de tapioca.
00:30:39 (DW)
Não, eu quero a tapioca do Brasil.
00:30:45 (DW)
Então, tem muita...
00:30:50 (DW)
Mas muita gente tentou abrir negócio de Brasil e não fez tanto sucesso.
00:30:57 (DW)
Porque o pão de queijo é do Brasil, é do paladar do Brasil.
00:31:01 (DW)
O pão de batata é do paladar do Brasil.
00:31:04 (DW)
Então, não adianta você levar para lá e se inaudível,nem se comer.
00:31:08 (DW)
Aí, até pode comer de curiosidade, mas isso não vai despertar vontade.
00:31:14 (DW)
“Hm, vou adorar pão de batata.”
00:31:16 (DW)
“Hm, vou adorar pão de queijo.”
00:31:19 (DW)
Eu fui numa padaria francesa, e eu fui escolher, fui comer um croissant.
00:31:25 (DW)
Aí minha mãe perguntou: “tem queijo nesse croissant?”
00:31:30 (DW)
Tipo, tem recheio?
00:31:31 (DW)
Ele olhou a gente com um olhar horrorizado. (risos)
00:31:33 (DW)
Eu, como assim?
00:31:34 (DW)
Recheio?
00:31:37 (DW)
Recheio no croissant?
00:31:39 (DW)
Aí depois que ele se libertou lá, eu perguntou: fica bom?
00:31:44 (DW)
Tipo, nada a ver com o paladar deles.
00:31:48 (DW)
no máximo eles dão uma manteiguinha pra você passar no croissant, mas isso é o máximo.
00:31:55 (DW)
Então, tipo, você tá aqui pra Israel, tem três regras para você ser feliz em Israel.
00:32:07 (DW)
Não comparar Israel com o Brasil.
00:32:11 (DW)
Amar Israel porque Israel vai te amar.
00:32:19 (DW)
Sem desejos, vai com fé, vai de cabeça, entendeu?
00:32:25 (DW)
Porque se você for de cabeça, tudo sem expectativas, você vai ser feliz.
00:32:33 (DW)
O grande problema da decepção é a expectativa.
00:32:38 (DW)
Quando você não tem expectativa, tudo é luxo.
00:32:44 (NC)
E aí você passou um ano lá, e aí veio aqui pro Brasil de volta pra arrumar casa e tudo mais.
00:32:50 (NC)
Aí eu queria saber, assim, quando você tava, sei lá, no avião, chegando no Brasil, o que que você tava pensando?
00:32:56 (NC)
Assim, pô, quando eu chegar no Brasil, a primeira coisa que eu vou fazer vai ser isso?
00:32:58 (DW)
Mate.
00:33:00 (DW)
Tomar mate. (risos)
00:33:04 (DW)
Eu tinha uma foto no aeroporto com uma garrafa de mate.
00:33:11 (NC)
Mas aí qual o seu mate favorito?
00:33:13 (NC)
Aí é uma pergunta de carioca pra carioca então.
00:33:15 (NC)
É o mate de...
00:33:16 (DW)
Natural.
00:33:17 (NC)
Mate natural ou aquele matezinho tipo da praia?
00:33:21 (DW)
Não, mate natural.
00:33:22 (DW)
Mate leão.
00:33:23 (NC)
Mate leão.
00:33:26 (DW)
Esse é o meu carioca de verdade.
00:33:28 (DW)
Um monte de caioca aí vai me matar. (risos)
00:33:31 (NC)
Não, não, foi no mate, já tá certinho.
00:33:35 (NC)
E aí você pensou no mate e alguma coisa pra comer?
00:33:38 (NC)
Eu lembro que você falou do requeijão, do pão de queijo, você pediu logo...
00:33:42 (DW)
Eu não escutei você, Marina.
00:33:47 (LR)
Não, é que você falou do pão de queijo e do requeijão.
00:33:51 (LR)
Pão de queijo com requeijão.
00:33:54 (DW)
Miojo com requeijão também.
00:33:57 (NC)
Miojo com requeijão. Essa é uma coisa brasileira eu acho que se você levar essa receita para lá o pessoal vai realmente olhar esquisito.
00:34:11 (DW)
Pior que lá…O requeijão… como eu falei o queijo lá é mais azedo então o requeijão vai ficar meio estranho para eles. E olha, eu já escutei que tem mais receitas caseiras de como fazer requeijão.
00:34:27 (DW)
Eu nunca tentei, mas tem gente que fala que não fica bom.
00:34:32 (DW)
Porque a graça é comprar pronto.
00:34:35 (DW)
Por exemplo, se você fazer uma receita em casa, ou começar uma receita no restaurante, você vai gostar muito mais do restaurante do que de casa.
00:34:47 (DW)
Porque quando você come em casa, você vê aquilo cru, você vê aquilo sendo feito, o esforço que você fez.
00:34:56 (DW)
Não quando você come pronto, está lindo na sua frente, está limpo, não tem nenhuma imagem de ovo cru cortando.
00:35:08 (DW)
Eu, no aeroporto, eu não comia, porque não é kosher, mas onde deu inaudível deve aparecer no aeroporto, eu quero pão de queijo.
00:35:22 (NC)
E aí quando você tiver voltando para Israel tem alguma coisa que você já tá tipo separando ali na sua mala para falar, não sei, que eu vou já vou garantir, já vou levar alguns aqui de volta, alguma coisa?
00:35:36 (DW)
Então, eu procurei aqui mas eu não achei bala de alga porque lá não tem, aqui tem bala de alga, é muito bom. Por exemplo, como eu tô limpando a casa, eu já tô levando muita coisa.
00:35:50 (DW)
Então, se eu comprar, vai pesar mais ainda.
00:35:55 (DW)
Por exemplo, eu tenho Kindle, mas eu gosto também de ler livro.
00:35:59 (DW)
Então, eu tô levando alguns livros comigo.
00:36:01 (DW)
Isso já pesa a mala.
00:36:04 (DW)
Porque, antigamente, você podia ir com uma mala de 32.
00:36:08 (DW)
Agora, você só pode ir com uma mala de 23.
00:36:11 (DW)
Então, já tem uma grande diferença, já perdia.
00:36:16 (DW)
Já perdia 12 quilos.
00:36:20 (NC)
E tinha alguma coisa que estava na sua casa?
00:36:23 (NC)
No caso, aqui no Brasil.
00:36:25 (NC)
Quando você estava lá em Israel, você já estava pensando muito nessa coisa da sua casa?
00:36:30 (NC)
Você queria muito voltar para pegar?
00:36:33 (DW)
Então, muita coisa.
00:36:36 (DW)
E também porque aqui eu nasci e cresci aqui.
00:36:41 (DW)
Então, aqui tinha um trilhão de coisas minhas.
00:36:45 (DW)
Lá eu fui com o móvel vazio.
00:36:48 (DW)
Então, eu não tinha panela, não tinha copo, não tinha nada.
00:36:53 (DW)
Então, eu ficava com saudade do Brasil.
00:36:56 (DW)
Tinha aquela garrafa, tinha aquele copo, tinha aquele cobertor que eu gostava.
00:37:04 (DW)
Por exemplo, tem um cobertor que eu quero levar, aí um monte de gente me falou, cobertor é pesado, é melhor comprar aqui, é muito mais em conta comprar um cobertor daqui do que trazer um cobertor normal, mesmo de usar casaco. Eu falei, não, meu cobertor é meu cobertor. Eu quero levar meu cobertor, Então...
00:37:27 (NC)
Tem uma memória afetiva, né?
00:37:30 (NC)
Esse específico, ele é o quê?
00:37:33 (NC)
Seria um seu de infância, alguma coisa assim?
00:37:34 (DW)
Não, é porque eu adoro a cor magenta.
00:37:37 (DW)
Aí eu não consegui encontrar nenhum, nem cobertor com essa cor.
00:37:41 (DW)
Aí eu encontrei esse.
00:37:42 (DW)
Inclusive, eu comprei em Israel, trouxe pra casa e levou de volta pra… (risos)
00:37:46 (NC)
Ai, tá. (risos)
00:37:50 (DW)
Eu achei esse cobertor magenta.
00:37:53 (DW)
Esse cobertor não largo.
00:37:56 (DW)
Inclusive, eu já tive cabelo com essa cor magenta.
00:38:00 (DW)
Eu já pintei todo o meu cabelo.
00:38:02 (DW)
Fiquei dois anos com o cabelo com a cor magenta.
00:38:07 (DW)
E foi no início da minha inaudível ,quando eu fiquei religiosa.
00:38:10 (DW)
Aí um monte de gente falou, “você tá ficando religiosa?”
00:38:13 (DW)
“Não pode pintar o cabelo.”
00:38:15 (DW)
Eu falei: “aonde tá escrito que não pode pintar o cabelo?”
00:38:18 (DW)
Não tá escrito em lugar nenhum.
00:38:19 (DW)
Se eu quiser usar um cabelo Black Power, eu posso usar um Black Power.
00:38:25 (DW)
As pessoas têm a ideia de ser religioso, ser uma pessoa quadrada.
00:38:32 (DW)
Só tem esse pensamento quem é ignorante, não estuda a Torá.
00:38:40 (DW)
A Torá tem 613 mandamentos.
00:38:44 (DW)
Para você entender esses 613 mandamentos, você precisa estudar.
00:38:52 (DW)
Tem casa de estudo para inaudível para a menina e inaudível para a menino.
00:39:00 (DW)
Tem gente que eu conheço que está lá cinco anos estudando.
00:39:04 (DW)
Tem o Rabino que eu gosto, que é o Ericone, que ele falou...
00:39:08 (DW)
Que quando ele foi para Israel, ele não era religioso..
00:39:11 (DW)
Ele foi como sionista, mas não era religioso.
00:39:14 (DW)
Aí falaram, fica seis meses no Mastibá para você conhecer a cultura israelense.
00:39:21 (DW)
E depois você vai e sai.
00:39:23 (DW)
Ele saiu de lá depois de dez anos e saiu como um rabino.
00:39:26 (DW)
Tipo, ele não era nada religioso.
00:39:29 (DW)
E conforme foi estudando, ele se tornou...
00:39:31 (DW)
Ele dava aula, ele gostava.
00:39:33 (DW)
Então, tipo...
00:39:36 (DW)
É...
00:39:38 (DW)
Quando você estuda o Torá, você percebe o quão ignorante você é, porque tem muita coisa lá.
00:39:46 (DW)
As pessoas falam, ah, você vai estudar sobre Isaac, você vai estudar sobre a Sarah, sobre Moisés.
00:39:53 (DW)
Eu falo, gente, esse é só um dos cinco livros.
00:39:57 (DW)
A Toré é composta de 23 livros.
00:40:00 (DW)
Tem muitas mais coisas para você estudar.
00:40:03 (DW)
Tem o velho testamento, que são os cinco livros, são os primeiros.
00:40:09 (DW)
Então, eu tenho o Zorra, que é o livro da Kabbalah comentada.
00:40:18 (DW)
Eu tenho os 25 volumes.
00:40:22 (DW)
E são de capa dura.
00:40:24 (DW)
São desse tamanho. (mostrando com as mãos.)
00:40:26 (NC)
Cada um?
00:40:28 (DW)
Cada um!
00:40:29 (DW)
E você fala “ah, eu estudei o velho testamento.”
00:40:33 (DW)
Você não estudou nada!
00:40:34 (DW)
Nada!
00:40:37 (DW)
E tá escrito na Kabbalah que você só pode estudar Kabbalah ou Yudofa depois de 40 anos de estudo.
00:40:44 (DW)
Porque se você ler o Kabbalah primeiro sem entender as Adalahot, que são as regras do judaísmo, sem ler o Velho Testamento, você não vai entender nada da Kabbalah.
00:40:56 (DW)
A Kabbalah é a cereja do bolo.
00:40:58 (DW)
Então...
00:41:00 (DW)
E fala que quem estuda Kabbalah sem estudar o básico da Torá acaba enlouquecendo.
00:41:07 (DW)
Fala que nada faz sentido.
00:41:09 (DW)
Claro que não faz sentido.
00:41:10 (DW)
Tá escrito no inaudível, que é o livro dos comentários do Velho Testamento, que...
00:41:21 (DW)
Ai, eu queria falar
00:41:23 (DW)
Cara, eu sempre esqueço…
00:41:26 (DW)
Ah!
00:41:27 (DW)
Que a Torá tem 70 facetas, tem 70 interpretações.
00:41:35 (DW)
Então, tipo, os evangélicos têm uma interpretação, mas porque não estudam tudo.
00:41:42 (DW)
Os evangélicos só ficam no Velho Testamento.
00:41:47 (DW)
Os judeus messiânicos são judeus que acreditam em Jesus, que eu não lê tudo, porque se lerem tudo, não iam acreditar em...
00:42:02 (DW)
Tipo, não bate.
00:42:04 (DW)
Tem os caraítos que só tem a Torá escrita, mas tem a Torá oral.
00:42:10 (DW)
Tipo, a Torá escrita são os cinco livros do Velho Testamento e os profetas.
00:42:19 (DW)
Mas ali é mais literal.
00:42:22 (DW)
Tem a Torá oral que explica o que está escrito na Torá escrita.
00:42:27 (DW)
E os caraítas falam: “não, não precisa.”
00:42:31 (DW)
E os caraítas estão acabando, porque não faz sentido.
00:42:34 (DW)
Não fazem sentido o que tá escrito.
00:42:38 (DW)
Então, tem muito estudo.
00:42:42 (DW)
Então, a pessoa fala: “ah, você vai estudar região?”
00:42:46 (DW)
Gente, estuda, olha de mil lugares.
00:42:50 (DW)
Lê um pouco, você vai falar, não entendo nada.
00:42:56 (NC)
É, então, você já aqui já mostrou pra gente que você é uma pessoa religiosa, como você se autodeclarou né, uma judia ortodoxa.
00:43:06 (NC)
E eu estava aqui pensando, provavelmente a gente já imagina qual seria a resposta, mas eu queria que a gente desse uma olhada em tudo isso que a gente conversou, em toda essa sua jornada de um ano atrás ou até antes.
00:43:18 (NC)
Aí, sobre essa questão de sair do Brasil e algumas saudades que você sentia daqui, tanto do quarto, em algumas coisas afetivas. O que isso, em geral, acho que significa para você?
00:43:35 (NC)
O que você acha?
00:43:36 (NC)
Tem alguma coisa durante essa época que você faria, talvez, diferente?
00:43:41 (NC)
Ou, tipo…Eu queria fazer essa retrospectiva, em geral, uma conclusão do que você acha que tá sendo esse um ano seu já com o Allyiah e tudo mais.
00:43:56 (DW)
Quando eu voltei pra cá, essa foi a minha casa, eu nasci, cresci e tal, mas faz parece que foi outra vida.
00:44:04 (DW)
Parece que eu criei outra, tipo, parece uma pessoa completamente diferente da pessoa que saiu daqui.
00:44:10 (DW)
Tipo, eu tenho outra vivência, eu tenho outra cultura na minha cabeça, então…
00:44:17 (DW)
Por exemplo, eu levei até minha cachorra.
00:44:21 (DW)
Minha cachorra fez Alliyah comigo.
00:44:22 (DW)
Aí um monte de gente falando: “Doa ela.”
00:44:26 (DW)
Eu falei: “não vou doar nada.”
00:44:27 (DW)
Está há cinco anos comigo.
00:44:29 (DW)
Vou levar comigo.
00:44:30 (DW)
Então, as pessoas...
00:44:32 (DW)
Quando eu falo...
00:44:33 (DW)
Pessoas diferentes lá falam que minha cachorra veio comigo, as pessoas arregalam os olhos.
00:44:38 (DW)
“sério!? Ela veio do Brasil?”
00:44:41 (DW)
Então, tipo...
00:44:45 (DW)
Eu tenho muito carinho para o Brasil.
00:44:48 (DW)
Mas eu aqui, mas eu sinto que eu tô mais feliz em Israel.
00:44:53 (DW)
Eu consigo sair com o celular na mão, com o headphone na cabeça, e tipo, eu sei que ninguém vai pegar na minha cabeça, ninguém vai...
00:45:02 (DW)
Então, eu me sinto muito mais tranquila.
00:45:06 (DW)
Eu saio com a minha Kat no Brasil, ela faz necessidades em casa.
00:45:10 (DW)
Lá em Israel, ela não tá fazendo, tá fazendo só na rua.
00:45:14 (DW)
Então, eu tô saindo mais vezes na rua com ela.
00:45:16 (DW)
Às vezes eu desço com a minha cachorra 2h da manhã e eu não tenho problema nenhum. Então eu me sinto muito mais acolhida, muito mais segura lá, então aqui tem um valor sentimental, mas isso você criou no ar também porque. É, aqui é minha casa, foi meu lar, mas eu posso criar outros lares também. O lar é onde eu me sinto bem, e se eu me sinto bem lá, lá é meu lar.
00:45:54 (NC)
Muito bom, eu acho que essa talvez tenha sido uma conclusão perfeita para a entrevista, o que você acha?
00:46:01 (NC)
Ó, essa entrevista durou quase uma hora aqui de papo.
00:46:07 (NC)
Eu acho que rendeu muito.
00:46:09 (NC)
Eu adorei conversar com você, Diane.
00:46:14 (NC)
Eu queria saber agora, só pra encerrar, o que você achou dessa entrevista?
00:46:18 (NC)
Como é que você tá?
00:46:19 (NC)
O que você achou desse papo?
00:46:23 (DW)
Eu peço desculpa se entediei alguém, porque eu falei pra caramba, não calei a boca aqui. (risos)
00:46:28 (NC)
Não, mas o objetivo é esse, a gente tá aqui só pra te ouvir, pra ouvir as suas memórias, é isso aí.
00:46:35 (DW)
É, mas...foi bom, porque conforme eu fui falando, eu fui percebendo a verdade.
00:46:44 (DW)
Não falei nada idealizado aqui, foi tudo sincero, foi tudo...
00:46:50 (DW)
Então foi, foi uma terapia pra mim também. (risos)
00:46:53 (NC)
Ai, que bom, que bom.
00:46:56 (NC)
Bom, acho que esse aqui seria mais ou menos o fim da nossa entrevista.
00:46:59 (NC)
Eu já vou, então, interromper a gravação.
00:47:02 (NC)
Eu, só já queria pra deixar aqui gravado, agradecer você por ter se disponibilizado pra estar aqui com a gente.
00:47:10 (NC)
Mil obrigados aqui pra você.
00:47:14 (NC)
Muito boa essa entrevista, eu adorei bater esse papo com você.
00:47:19 (NC)
Então, é isso.
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