Marisqueiras do Delta do Parnaíba: histórias e resistência

As marisqueiras do litoral do Piauí são mulheres que se dedicam ao extrativismo de mariscos — como sururu, caranguejo, ostras e outros frutos-do-mar — nos manguezais da região. Elas garantem o sustento de suas famílias com esse trabalho, muitas vezes realizado em condições desafiadoras. Além disso, preservam saberes ancestrais transmitidos por gerações e mantêm viva uma tradição centenária profundamente ligada à vida costeira.

Em parceria com o Museu da Pessoa, o Núcleo BioSaber registra e divulga as histórias dessas marisqueiras. Elas vivem na Área de Proteção Ambiental (APA) Delta do Parnaíba. 

Marisqueiras e mudanças climáticas: quando a ciência encontra a memória

O projeto já lançou três episódios do podcast “Papo Quente – Pelas vozes femininas: às mudanças climáticas”. Cada episódio mergulha na trajetória de uma marisqueira e, em seguida, conecta suas falas a dados científicos. Dessa forma, percebemos como o clima em transformação afeta saúde, trabalho e segurança alimentar.

Além dos podcasts, ocorrem mostras itinerantes, uma série de “Conversa ao Pé do Ouvido” no YouTube e boletins comunitários. Por isso, a escuta ativa se expande por todo o litoral piauiense com o apoio da AMEAS (Articulação de Mulheres Empoderadas em Atividades Sustentáveis). Com isso, mais comunidades vêm se envolvendo no fortalecimento da memória e da luta dessas mulheres.

Em uma parede branca, há cartazes e banners da exposição 
"Mariscando Histórias e Mulheres", sobre marisqueiras. Uma mulher está apontando a mão para um dos cartazes, em frente a estudantes.
Mostra Itinerante “Mariscando Histórias e Mulheres”

Mariscando histórias de mulheres: o relato de Kátia Cilene

O Núcleo Museu da Pessoa BioSaber, também produziu uma série de vídeos “Mariscando Histórias de Mulheres”, que conta com um total de oito episódios. Uma das histórias é Kátia Cilene Paula, marisqueira de 46 anos, mãe de seis filhos e moradora de Ilha Grande (PI).

Em seu depoimento, Kátia compartilha uma infância marcada por mudanças constantes de moradia, dificuldades econômicas e desigualdade de gênero. Ela lembra das lutas de sua mãe para não deixar faltar comida em casa e revive também as brincadeiras de criança em meio aos desafios.

Com coragem e franqueza, fala sobre temas ainda urgentes em nossa sociedade, como violência doméstica, fome, desigualdade, os desafios da maternidade e o orgulho de ser marisqueira. Sua história ecoa tantas outras vozes femininas das águas e reforça a importância de dar visibilidade a essas trajetórias de resistência.

Por que preservar a memória das marisqueiras importa?

Preservar a memória das marisqueiras valoriza seus direitos, territórios e modos de vida. O registro funciona como prova documental. Além disso, fortalece a luta por políticas públicas que garantam dignidade e reconhecimento a essas trabalhadoras tradicionais.

Ao trazer suas vozes à tona, criamos pontes entre memória, justiça ambiental e transformação social. Logo, quem escuta essas histórias, entende que cuidar dos manguezais é cuidar do futuro de todos. Portanto, apoiar essas iniciativas é também um ato de responsabilidade coletiva. Ainda mais em tempos de emergência climática, ouvir quem está na linha de frente é fundamental.

Em uma parede branca, há cartazes e banners da exposição 
"Mariscando Histórias e Mulheres", sobre marisqueiras. Uma mulher está apontando a mão para um dos cartazes, em frente a estudantes.
Mostra Itinerante “Mariscando Histórias e Mulheres”

Formação de Núcleos Museu da Pessoa

O Museu da Pessoa oferece uma formação prática para quem deseja transformar histórias reais em produtos culturais. Após o curso, cada participante pode criar um Núcleo Museu da Pessoa e agir de forma autônoma na própria comunidade.

Com isso, os Núcleos já geraram exposições, livros, documentários e podcasts de grande relevância. Além disso, promovem a valorização da memória como ferramenta de transformação social. Dessa maneira, diferentes vozes ganham visibilidade e impacto. Para saber mais, acesse o

📌 Relatório da Rede de Núcleos 2024

Quer criar seu Núcleo? Últimos dias para se inscrever!

As inscrições ficam abertas até 20 de julho. A formação é totalmente online. Portanto, qualquer pessoa pode participar de onde estiver. O curso ensina técnicas de entrevista, produção cultural e uso da memória como ferramenta social. Além disso, incentiva a criação de novos projetos de impacto local. Assim, você também pode contar histórias que transformam realidades.

Núcleos em Ação: marisqueiras em destaque

A série Núcleos em Ação destaca, todo mês, um projeto criado pelos Núcleos da rede. Neste ciclo, o foco são as marisqueiras do Delta do Parnaíba. Suas histórias inspiram resistência, cuidado com o território e justiça climática. Ao mesmo tempo, reforçam o papel das mulheres na construção de soluções ambientais de base comunitária.

No mês anterior, o destaque foi o Núcleo Democracia da Memória, que leva uma cabine itinerante de gravação a museus, universidades e espaços públicos. Dessa forma, diferentes públicos podem conhecer histórias que, muitas vezes, permanecem invisibilizadas.