Meu nome é Wilson de Almeida Ferreira, nasci no Rio de Janeiro, em 29 de maio de 1958, na favela da Rocinha, mas acabei sendo criado na Baixada Fluminense.
Minha entrada na Petrobras foi uma odisséia porque eu só consegui depois de trabalhar em estaleiros navais. Na minha época, no Rio de Janeiro, a indústria naval era muito forte e era um atrativo muito grande para os rapazes de classe pobre, da minha origem. Até hoje é assim. Eu consegui trabalhar no estaleiro e acabei tendo informações de como ingressar na Marinha Mercante. Saindo da Marinha Mercante, eu consegui entrar na Fronape [Frota Nacional de Petroleiros], em 15 de outubro de 1979. Estou até hoje, graças a Deus.
Naquela época, não se aplicava concurso público ao marítimo. As vagas não eram tantas assim e havia somente uma seleção. Para esta seleção, eu tive que fazer provas lá na Rua Carlos Seidl, 178, no Caju. Através dessa seleção e mais exames físicos é que eu consegui a vaga.
Eu era lotado no Semar, Setor Marítimo. O primeiro navio em que embarquei na Fronape foi o Anápolis, o NT [Navio Tanque] Anápolis, e depois de alguns anos, também trabalhando em navio aliviador, na plataforma, eu consegui a transferência. Recebi a proposta de transferência aqui para o Terminal de São Sebastião há 20 anos e estou aqui hoje.
Estou lotado no Terminal de São Sebastião. Durante alguns anos eu trabalhei nos rebocadores, fazendo as manobras dos navios. Com a terceirização dos rebocadores, passei a prestar serviço como condutor portuário no Centro de Resposta e Emergência aqui do Terminal. Esse Centro de Resposta e Emergência em 1984, quando teve a defesa do litoral, instituída pelo Governo do Estado, criou o Cempol [Centro Modelo de Combate à Poluição por Óleo no Mar], que teve recursos das Nações Unidas; esses recursos nós temos até hoje funcionando. De lá para cá, com as mudanças na empresa, hoje é chamado de Centro de Resposta e Emergência e tem os...
Continuar leituraMeu nome é Wilson de Almeida Ferreira, nasci no Rio de Janeiro, em 29 de maio de 1958, na favela da Rocinha, mas acabei sendo criado na Baixada Fluminense.
Minha entrada na Petrobras foi uma odisséia porque eu só consegui depois de trabalhar em estaleiros navais. Na minha época, no Rio de Janeiro, a indústria naval era muito forte e era um atrativo muito grande para os rapazes de classe pobre, da minha origem. Até hoje é assim. Eu consegui trabalhar no estaleiro e acabei tendo informações de como ingressar na Marinha Mercante. Saindo da Marinha Mercante, eu consegui entrar na Fronape [Frota Nacional de Petroleiros], em 15 de outubro de 1979. Estou até hoje, graças a Deus.
Naquela época, não se aplicava concurso público ao marítimo. As vagas não eram tantas assim e havia somente uma seleção. Para esta seleção, eu tive que fazer provas lá na Rua Carlos Seidl, 178, no Caju. Através dessa seleção e mais exames físicos é que eu consegui a vaga.
Eu era lotado no Semar, Setor Marítimo. O primeiro navio em que embarquei na Fronape foi o Anápolis, o NT [Navio Tanque] Anápolis, e depois de alguns anos, também trabalhando em navio aliviador, na plataforma, eu consegui a transferência. Recebi a proposta de transferência aqui para o Terminal de São Sebastião há 20 anos e estou aqui hoje.
Estou lotado no Terminal de São Sebastião. Durante alguns anos eu trabalhei nos rebocadores, fazendo as manobras dos navios. Com a terceirização dos rebocadores, passei a prestar serviço como condutor portuário no Centro de Resposta e Emergência aqui do Terminal. Esse Centro de Resposta e Emergência em 1984, quando teve a defesa do litoral, instituída pelo Governo do Estado, criou o Cempol [Centro Modelo de Combate à Poluição por Óleo no Mar], que teve recursos das Nações Unidas; esses recursos nós temos até hoje funcionando. De lá para cá, com as mudanças na empresa, hoje é chamado de Centro de Resposta e Emergência e tem os recursos mínimos, de acordo com o plano de emergência individual. Nós trabalhamos esses recursos para que eles estejam ativos para o combate a emergência de vazamento de óleo no mar. Hoje, eu e mais vinte e um marítimos aqui do Terminal de São Sebastião conduzimos embarcações para tratar emergências de vazamento de óleo. A questão de ser marítimo ajuda bastante porque é uma especialidade necessária para a condução desses equipamentos marítimos, para fazer com que eles vão para o local; são embarcações. E no dia a dia, com outros equipamentos portáteis, nós trabalhamos de forma que eles estejam sempre prontos para operar, fazendo a manutenção, fazendo treinamentos mensais e semanais também, junto com o pessoal da manutenção, transformando esse equipamento, deixando-o sempre pronto para operar. Então, nosso dia a dia é fazer [com que] esses equipamentos estejam prontos para a operação. São equipamentos para tirar o óleo do mar, para recolher o óleo derramado no mar, derramado na terra, aí nos dutos que têm nas encostas. São equipamentos que realmente não são muito de conhecimento público, são importados, inclusive, quase que totalmente importados. Então fazemos com que esses aparelhos estejam prontos para a emergência, o que esperamos que não aconteça, até porque isso é um fato: as gestões de melhoria contínua na empresa têm deixado cada vez mais distantes essas ocorrências de vazamento de petróleo. Mas nós temos que estar com aquilo ali sempre em dia. É como se fôssemos os bombeiros, estamos sempre em treinamento e mantendo os equipamentos. Alerta ali, pra uso.
De 1984, quando o Cempol foi fundado, em novembro de 1985, quando começou o primeiro treinamento dos empregados da Petrobras de forma bem ampla, houve muitos vazamentos. Antes mesmo da criação do Cempol, um centro modelo, porque foi o piloto dos CREs [Centros de Resposta e Emergência] de hoje. Aqui em São Sebastião se fazia o treinamento dos técnicos das unidades, inclusive também de parceiros de outras unidades. Esses vazamentos que aconteceram em 2000, 2004... Sempre trabalhamos nisso: no recolhimento desse material no mar, na praia e durante todo esse tempo vieram aparecendo vários equipamentos mais novos. Mas basicamente o nosso trabalho, a nossa primeira resposta aqui no Centro de Resposta e Emergência, é impedir que, caso aconteça algum vazamento desse no navio, esse vazamento se transforme numa degradação grande do meio ambiente portuário, inclusive nas marinas, pois os pescadores precisam dessa área pra tirar o seu sustento. O SMS [Saúde, Meio Ambiente e Segurança] divulga muito o treinamento, a informação. Eles estão sempre produzindo palestras na cidade, no teatro. Existem Planos de Auxílio Mútuo, o PAM, os chamados Parceiros Ambientais, que são pessoas da comunidade que um dia, se necessário for, serão chamados para trabalhar conosco, pra tirar esse produto do mar, tirar a poluição do mar; pra isso esses parceiros são treinados pelo SMS. Eles, em caso de serem convocados, serão voluntários. Inclusive, eles receberiam tanto apoio técnico de coordenação quanto receberiam uniformes e equipamentos de proteção individual.
Houve grandes mudanças Quando eu cheguei aqui, há vinte anos, havia uma sucessão de acidentes, isso é histórico, tem os registros. Aconteceu uma implementação muito grande, na minha área principalmente, a área cresceu, foi adquirido muito equipamento para lidar com essa situação. Paralelo a isso, houve uma melhoria nas operações. A operação do Terminal, nossa, teve uma melhora fantástica e com isso o nosso trabalho basicamente é de manter a contingência em dia, pronta para que seja usada. Essas mudanças foram bem positivas.
O crítico do Tebar é menos tempo de espera dos navios, ou seja, o fluxo dos produtos que passam aqui e que foi cada vez mais pra frente. A gente sempre ouve falar sobre os volumes, mas eu não consigo guardar; de qualquer forma eu sei que mais de 50% do petróleo do país passa aqui, nessas linhas aqui do Terminal de São Sebastião. Tanto é que nós abastecemos aqui três ou quatro refinarias. Daqui vai bater lá em Campinas, vai lá pra São Paulo, pra Santos e São José dos Campos. Nós alimentamos várias refinarias através da tubulação que nós temos aqui no Terminal de São Sebastião. O fluxo de navios é muito grande, mais de 60 navios por mês. Realmente é uma grande operação. É um Terminal de suma importância, aliás eu acho que ele é de vital importância para a indústria, de forma geral, para o desenvolvimento do Brasil. Tanto é que eu tenho acompanhado aí algumas palestras e já se pensa em construir um segundo terminal. Já está aí no papel pra construir um segundo terminal de forma que essa operacionalidade desse terminal não seja de forma alguma afetada. Ter outro terminal na região, nas proximidades, bem próximo mesmo, é uma forma de manter o padrão de operação deste Terminal.
Vim pra São Sebastião de mala e cuia. (risos) A Petrobras sempre se preocupa com o entorno, então foi significativo: a população em si ganhou empregos. Todas as mudanças que aqui aconteceram sempre foram para melhores, ou seja, tem menos acidente, tem mais emprego; ela auxiliou em preparação técnica das pessoas. Existe algumas vezes aí que as salas de treinamento aqui do Terminal, são até cedidas para que as pessoas venham concluir os seu ensino, o seu curso fundamental, seu curso médio. Eu acredito que agora com a nova base de gás que está tendo na cidade vizinha aqui, as pessoas que são da cidade vão ter muito mais oportunidade de mercado de trabalho, essas mudanças foram positivas também.
Fisicamente, até geograficamente, o Terminal não pode se expandir tanto assim. Mas em tecnologia, nossa Sei de tanta coisa; talvez eu não saiba exprimir, mas em tecnologia, para operação, em automação, comunicação – principalmente em comunicação –, em treinamentos de mão de obra... Hoje têm pessoas aqui no Terminal que estão muito avançadas na parte de treinamentos. Eu acredito que isso está sempre melhorando. Essa semana mesmo eu estive no Rio de Janeiro, participando de um treinamento, foi antes de ontem. Quer dizer, é muito importante, é o sistema de informação pra atendimento de emergência, para que tudo o que eu tenho aqui, tudo que está funcionando aqui comigo, seja disponibilizado, assim, on-line para todas as unidades. Esse tipo de coisa é fantástica. A gente consegue falar em qualquer lugar da empresa instantaneamente e saber de tudo. Hoje, por exemplo, se Santos – ou, como recentemente aconteceu no Rio Grande do Sul – tem uma coisa assim de manutenção, de operação, isso aí é instantâneo, consegue-se dar esse apoio instantâneo; o crescimento foi fantástico na comunicação aqui. Agora, pra ter um crescimento geográfico, aí a empresa está tratando isso com os órgãos competentes, com licenças ambientais para que se possa realmente expandir geograficamente. Mas no que existe aqui, no que pode ser feito nesse espaço, estamos bem adiantados. O nosso trabalho antigamente era muito mais artesanal, de manutenção, por exemplo. Esses materiais que o CRE, Centro de Resposta e Emergência, tem, dependem de uma manutenção constante e são produtos importados. O que acontece com essa mudança, o que houve? A gente consegue trabalhar isso mais rápido e com melhor resultado.
Eu sempre ouço falar muitas coisas, mas eu acabo não prestando muito atenção nas coisas que não são voltadas mesmo para o meu trabalho em si. Mas esse lugar aqui ele é muito rico em histórias inusitadas, até porque é uma região... É diferente de uma refinaria, por exemplo, se você vê uma refinaria: as coisas são muitos voltadas pra aquilo ali, aquele espaço de caldeiras, de tubos. Aqui não, você percebe que a gente convive lado a lado com a sociedade. Quando eu abro os portões do Centro de Resposta e Emergência eu já dou de cara com uma comunidade de pescadores. Essa comunidade convive bem do nosso lado, são paredes quase que geminadas. É claro que tem as proteções, tem o muro alto, tem as câmaras, mas a gente houve muita história; eu não sei reproduzir a história desse pessoal não. A gente, como trabalha voltado para o meio ambiente, por exemplo, teve uma ocasião em que o gerente foi solicitado pelo órgão estadual de meio-ambiente, aí eu fui resgatar uma tartaruga de couro, dessas que migram lá da África e vem pra cá. Aí fui eu lá. Ela já estava boiando há vários dias, já estava num estágio avançado; nossa, eu fiquei em pânico, mas tive que trazer aquela criatura para que o órgão ambiental viesse, medisse e pesasse. Depois eu tive que fazer o enterro dela; eu lembrei disso por acaso, porque foi lá do lado desse rancho de pescadores. Tive todo o cuidado de enterrá-la de forma que não houvesse testemunhas, por causa da carapaça, que o pessoal gosta muito de guardar aquilo, fazer trabalho artesanal com aquilo. Eu tive que esperar as pessoas irem embora pra poder fazer o enterro com a pá, sozinho. Abriu o portão, passou um pouquinho da hora, esperei todo mundo sair da praia pra poder enterrar e passar a localização para o órgão de meio-ambiente. Aqui é um lugar muito rico dessas histórias.
Houve uma época em que foi uma convivência um pouco conturbada, por causa do espaço. Por exemplo: eu lido com equipamento de emergência e eu lido com saída de emergência, você não pode parar a sua viatura na saída da ambulância de um pronto-socorro. Eu e meus colegas tivemos que convencer a comunidade de pescadores que aquela saída ali é pra emergência e que nós precisamos daquela área desocupada, para que eles fiquem um pouquinho mais além, ou um pouquinho mais ao lado. Isso aí foi um trabalho bem diplomático. De qualquer forma, uma coisa ajudou bastante: a maioria das pessoas que se aposentou aqui no Terminal é associada dessa comunidade, então no final das contas, o contato foi bem tranqüilo. Nós conseguimos limitar uma saída pra gente, abrimos um vazio na comunidade deles pra que nós pudéssemos sair em segurança e sair rápido. Quando acontece de um óleo cair no mar, o tempo de resposta é primordial para o nosso trabalho, que é feito com embarcações que não ficam no mar direto, ficam docadas, ficam em seco, prontas para fazer o trabalho delas, que é segurar as barreiras de contenção, que são as bóias, para o óleo não se expandir.
No navio aliviador era assim: a plataforma estava produzindo e ela tinha que escoar em alguma coisa, então o navio tanque ficava próximo da plataforma, apanhando, recebendo a produção da plataforma, pra depois passar para outros navios, [que trariam] aqui para o Terminal, por exemplo, de São Sebastião. Então o navio ficava aliviando a plataforma ali, ficava de cisterna; navio-cisterna, na verdade, ele tem esses dois nomes. Eu trabalhei num navio chamado Taquipe, é muito antigo, já não existe mais, tem mais de 25 anos. Ele ficava ali parado do lado da plataforma. Nós íamos pra lá de helicóptero, pousávamos na plataforma e depois uma embarcação, rebocador offshore, nos levava até o navio e ficava 15 dias de revezamento, 15 por 15. Ele ficava aliviando a produção da plataforma para depois passar para outro navio que ficava fazendo o trânsito. Utilizava a cisterna dele como fuga para o óleo da produção.
Eu não sou associado, mas eu sou sindicalizado junto ao Sindicato Nacional dos Condutores de Maquinas da Marinha Mercante. Aqui é outro sindicato, porque a Petrobras tem o trabalhador de terra e o trabalhador marítimo. São [sindicatos] diferentes, porque quando se criou o Conselho Nacional de Petróleo, quando se criou a Frota Nacional de Petroleiros, ela precisou adequar isso, ela precisou ter navios, ter tripulantes e, pra isso, ela foi em busca da mão de obra, [a qual] não tinha bastante. Tanto é que naquela época, há 25 anos, até a própria empresa ia ao nordeste, facilitava o curso através dos órgãos da marinha. A pessoa terminava o curso e a empresa já dava passagem de avião pra ir para o Caju, para essas pessoas fazerem lá a seleção; e nessa seleção ela pegava as pessoas selecionadas para ir para o navio. Ela facilitava muito isso. Um amigo meu, comandante, era responsável nisso. Ele fazia muito isso. A empresa ajudou muito a essas pessoas. Como eu estava no Rio de Janeiro, foi mais fácil. [São sindicatos diferentes], são reivindicações diferentes, são acordos coletivos diferentes, são datas-base diferentes. Tradicionalmente o Sindicato Marítimo consegue negociar com mais facilidade do que em terra. Em terra eu acho que a coisa é mais abrangente.
A satisfação é muito grande porque foi uma mudança de vida muito grande para melhor. Quando eu entrei na empresa não tinha nem o ensino médio completo. Mesmo viajando nos navios eu consegui concluir o ensino médio. Não fiz o ensino superior por questão de comodidade mesmo, não quis ter esse gasto. Preferi deixar esse gasto para os meus filhos. Então eu fiz essa opção. Hoje para ser um petroleiro a coisa é mais complicada, é muito mais difícil. Vejo as pessoas que trabalham contratadas conosco, o quanto elas pessoas lutam pra tentar conseguir essa vaga, pra tentar conseguir essa colocação. Não é como no passado. Quando eu entrei ainda era a época do governo militar. Acho que era bem mais simples; hoje é uma concorrência muito grande. Eu não cheguei a ir para o ensino superior porque eu estou tentando dar mais condição para os meus filhos, então eu direcionei os recursos pra eles. Mas ser petroleiro é uma realização profissional indescritível, até por causa das condições de trabalho. As condições de salário são muito boas, as condições de treinamento, as facilidades. Eu não sei se outra empresa dá as mesmas facilidades, até tenho as minhas dúvidas.
Eu não estava tão preparado para essas perguntas todas, mas eu gostaria de acrescentar que fico muito honrado de ter sido solicitado para estar aqui falando. Eu peço desculpa por não estar tão preparado assim. Eu já estou próximo da aposentadoria, mas eu tenho ainda que vencer algum tempo e eu acredito no trabalho que faço aqui. Eu e meus colegas acreditamos em nosso trabalho. Acreditamos que essa mudança que houve, de estar lá no rebocador pra cá, foi muito positiva. Todo mundo está com 50 anos pra cima, mas nós acreditamos que, enquanto esperamos nossa aposentadoria, podemos atender à primeira resposta de emergência da empresa, ou seja, cumprir o nosso trabalho. Então eu agradeço a oportunidade de estar aqui e fico contente de ter sido chamado. Muito obrigado pelo trabalho de vocês. Aliás, eu fiquei até surpreso com esse trabalho também. É uma surpresa gratificante saber que a empresa está criando um espaço para lembrar dos colaboradores que estão esse tempo todo. Muito obrigado mesmo.
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