Meu nome é Walterli José Castrisana. Nasci em 11 de julho de 1957, em Mogi das Cruzes.
Meu pai copiou o meu nome de um professor lá de Mogi. O pai dele tinha copiado – até onde meu pai me contou – de um atleta alemão. O professor era de origem alemã.
Mudei pra São Sebastião com 3 anos de idade, mas na época que prestei concurso não estava morando aqui, estava fazendo faculdade. Prestei concurso, entrei na Petrobras, vim trabalhar aqui e larguei a faculdade. Fazia faculdade de engenharia em Mogi. Isso foi em 78.
Na realidade o concurso foi – eu acho – em 77 ou 76, eu não lembro. A gente prestou concurso e demoramos muito pra ser admitidos.
O concurso foi para operador de transferência e estocagem. Eu morava vizinho a um operador de transferência e estocagem de utilidades da Petrobras. Tinha uma noção bem próxima do que era o serviço de operador de transferência, estocagem de utilidade e operação da Petrobras, especificamente do terminal de São Sebastião.
Na cidade ser funcionário da Petrobras era alguma coisa diferenciada, era importante. E a motivação [para prestar concurso] foi ser funcionário da Petrobras. Eu trabalhava em banco, já estava cansado de papel; e sempre tive aptidão mecânica. A opção de trabalhar como operador atendia minhas habilidades. O salário era compensador e a gente tinha um destaque na cidade.
Já morava aqui quando o terminal se instalou. Vim na inauguração do terminal. Tinha 12 anos. O ginásio inteiro veio, viemos em formação, desfilando do ginásio até aqui; estavam o governador do estado, o presidente da república, um grupo de autoridades enormes. Um desfile de Opalas e Aero Willys.
Foi programado. O diretor avisou a gente; a mãe lavou o uniforme; toda aquela preparação como se fosse uma comemoração tipo sete de setembro. A gente fazia idéia do que estava acontecendo, sabia muito bem.
Não lembro de uma explicação mais detalhada, mas de uma certa forma ela era desnecessária...
Continuar leituraMeu nome é Walterli José Castrisana. Nasci em 11 de julho de 1957, em Mogi das Cruzes.
Meu pai copiou o meu nome de um professor lá de Mogi. O pai dele tinha copiado – até onde meu pai me contou – de um atleta alemão. O professor era de origem alemã.
Mudei pra São Sebastião com 3 anos de idade, mas na época que prestei concurso não estava morando aqui, estava fazendo faculdade. Prestei concurso, entrei na Petrobras, vim trabalhar aqui e larguei a faculdade. Fazia faculdade de engenharia em Mogi. Isso foi em 78.
Na realidade o concurso foi – eu acho – em 77 ou 76, eu não lembro. A gente prestou concurso e demoramos muito pra ser admitidos.
O concurso foi para operador de transferência e estocagem. Eu morava vizinho a um operador de transferência e estocagem de utilidades da Petrobras. Tinha uma noção bem próxima do que era o serviço de operador de transferência, estocagem de utilidade e operação da Petrobras, especificamente do terminal de São Sebastião.
Na cidade ser funcionário da Petrobras era alguma coisa diferenciada, era importante. E a motivação [para prestar concurso] foi ser funcionário da Petrobras. Eu trabalhava em banco, já estava cansado de papel; e sempre tive aptidão mecânica. A opção de trabalhar como operador atendia minhas habilidades. O salário era compensador e a gente tinha um destaque na cidade.
Já morava aqui quando o terminal se instalou. Vim na inauguração do terminal. Tinha 12 anos. O ginásio inteiro veio, viemos em formação, desfilando do ginásio até aqui; estavam o governador do estado, o presidente da república, um grupo de autoridades enormes. Um desfile de Opalas e Aero Willys.
Foi programado. O diretor avisou a gente; a mãe lavou o uniforme; toda aquela preparação como se fosse uma comemoração tipo sete de setembro. A gente fazia idéia do que estava acontecendo, sabia muito bem.
Não lembro de uma explicação mais detalhada, mas de uma certa forma ela era desnecessária porque tinha um comentário muito grande. A Petrobras sempre foi um assunto interessante na cidade, sempre se comentava muito e era inevitável, a gente sempre conhecia alguém que trabalhava na Petrobras. Sabia o que estava acontecendo aqui, às vezes, até com detalhes.
Uma parte da cidade tinha inveja da situação do petroleiro, é claro que sempre tinham comentários maldosos. Agora, a maioria dos comentários que a gente ouvia era de pessoas que trabalhavam aqui e, portanto, seguiam comentário nessa linha de empregado. Naquela época acho que a dependência era muito maior do que hoje. Hoje o empregado tem mais direito a criticar a firma, principalmente o da Petrobras. Naquela época quem trabalhava aqui só elogiava.
Prestei o concurso, fui chamado para fazer o curso, deixei a faculdade e vim para cá. Só que, terminado o curso, ficamos nove meses aguardando a chamada em definitivo. Meu pai tinha comércio na cidade, trabalhava com ele enquanto aguardava a chamada. Quando chamaram fiquei como técnico de operação, onde sempre trabalhei.
O melhor jeito de resumir o que faz o operador é com a palavra: opera. Vou dizer o seguinte: aqui no terminal, nós cuidamos da transferência de petróleo e derivados, usamos equipamentos que a gente disponha. De forma bem simples, nós que medimos; quantificamos; qualificamos o petróleo e o conduzimos dentro do tubo; armazenamos em tanques e acionamos as bombas que acabam empurrando ele para a refinaria.
Quem faz o mesmo serviço há 30 anos acaba adquirindo uma afinidade com o trabalho e acaba entendendo isso como muita facilidade e, às vezes, acaba até esquecendo a responsabilidade e a importância do trabalho. Vamos dizer assim: a gente está sempre naquele piloto automático, a coisa parece muito simples e pouco importante. Mas quando a gente para pra pensar, verifica que a operação é fundamental. Não é só importante não, ela é fundamental no terminal. Tudo que existe no terminal existe ao entorno da operação e a serviço da operação.
Nós conseguimos ser bem mais produtivo do que a refinaria. Apesar da operação de um terminal ser muito mais simples do que na refinaria. Todos os equipamentos que nós operamos são mais simples que os da refinaria. Mas nós conseguimos operar um volume de petróleo que abastece quatro refinarias, e duas delas estão entre as maiores.
A maior refinaria que nós abastecemos é a Replan [Refinaria do Planalto Paulista]; seguida por São José, a Revap [Refinaria Henrique Lage]; a RPBC [Refinaria Presidente Bernardes] que é a de Cubatão e a de Capuava.
As maiores são a Replan e a Revap. A Revap produz QAV [Querosene de Aviação].
Para dar um exemplo, quando entrei aqui, a gente calculava as vazões, as variáveis necessárias de processo com uma maquininha, aquela Facit, que teclava o número, virava num sentido ela somava, no outro ela subtraía. Hoje em dia o computador faz esse acompanhamento pra gente. A gente só lê os resultados. Sem sombra de dúvida a operação ficou mais automatizada.
Eu entendo que é mais fácil calcular com computador do que com a maquininha Facit. O que a gente precisou de preparo foi muito pouco. É quase mais uma ambientação com o computador do que basicamente entender a lógica do computador do que uma preparação muito profunda. Até porque foi basicamente uma substituição da lógica com o cálculo para a lógica sem cálculo. O computador calculava pra gente.
Me parece que é mais simples hoje operar petróleo no terminal. Por exemplo, a gente tinha que ter uma noção muito grande de tempo, tinha que controlar a hora que as coisas iriam acontecer e tinha que ficar ligado para, por exemplo, não esquecer de trocar um tanque numa determinada hora. Tinha técnicas, as pranchetas que tinham serviços para acontecer primeiro, ficavam em cima; as outras, embaixo. E a gente verificava de tempo em tempo. Hoje o computador dá um alarme em meia hora, quinze minutos, cinco minutos, o tempo que a gente determina. Ele controla todas as variáveis pra gente. Fica mais tranquilo.
A altura do tanque era medida e através da altura do tanque a gente fazia o calculo do tempo que ia demorar para o tanque encher. O básico na operação do terminal são as variáveis: altura, vazão, início e final de operação.
Também carregamos os navios. Era bem mais difícil. Nós medíamos a altura do tanque com um instrumento chamado Varec. Era uma bóia presa num cabo de aço e à medida que essa bóia descia, ela desenrolava uma carretilha ou um carretel que tinha um sistema de contagem de altura
A gente ia no Varec, checava se o cabo estava realmente esticado e fazia a leitura do número como se fosse um hodômetro de carro. Lia lá: “Ó, cinco metros; seis metros; seis 350; seis 351.” A partir dessa altura a gente fazia todos os cálculos: calculava o volume que tinha no tanque; a partir desse volume calculava a diferença pelo último volume aferido. Calculava a vazão e com a vazão calculava o tempo que a operação ia terminar.
Na maioria das vezes deu certo e numa das vezes que isso não deu certo, ocorreu um acidente de proporções enormes aqui.
Houve um vazamento de tanque. Acredito que houve uma pressa em tratar do assunto. No terminal – ou no mínimo eu entendo assim – nós temos três lugares para guardar o petróleo ou para cercar o petróleo: o primeiro é o tanque; o segundo é aquele dique que fica em volta dele e o terceiro é a área da Petrobras. A porta de saída da Petrobras para o petróleo é o separador de água e óleo. Pelo tratamento não ser adequado o petróleo acabou passando por essa porta e caiu num córrego que atravessa a cidade todinha. Um morador da cidade, um cidadão que não conhecia petróleo, colocou fogo no petróleo. A cidade ficou cercada por uma muralha de fogo, com coisa de oito, dez metro de altura. Não houve mortes por sorte. Me lembro bem, estava bem perto da parede de fogo, era um dia onde não ventava; a combustão ficou no limite do oxigênio e o fogo ficou bem em pé; esse córrego é cercado de casas e ele acabou pegando em algumas casas, mas coisa pouca. A cidade não tinha corpo de bombeiros ainda. O corpo de bombeiros da Petrobras teve que dar conta de tudo isso. Houve uma fuga da cidade. As pessoas queriam ficar o mais longe possível dessa muralha de fogo. Essa muralha passa do lado do hospital. Houve casos de retirar mulheres grávidas, gente com soro na veia.
Eu estava de folga nesse dia. Estava na casa do meu pai que morava na segunda casa depois da parede de fogo. Tem a Vala do Ipiranga que é onde pegou fogo, tem uma casa, depois era a casa do meu pai. Meu pai era deficiente físico, já faleceu. Coloquei ele no carro e falei: “O senhor sai andando pra lá porque ali depois da vala, tem um grupo escolar”, as crianças estavam na escola e começou aparecer mães querendo atravessar a parede de fogo. Eu fiquei lá ajudando pra fazer alguma coisa, aparecendo policiais, depois no combate do incêndio das casas, de maneira que a atividade não deixou espaço para preocupação não.
Inclusive, eu me lembro que na época me preocupei muito pouco com o que estava acontecendo aqui dentro, não tive tempo. Lá fora a coisa estava muito mais difícil. Inclusive, a casa dessa vizinha minha chegou a pegar fogo na madeira do telhado. Nós ficamos apagando com mangueira de jardim, com lata d’água. Mas foi por conta dum erro desses.
Não tenho idéia do tempo que levou, mas por estar envolvido na situação pareceu uma eternidade. Me pareceu um ano inteiro, porque no final do dia eu estava extremamente cansado, extremamente tenso, como se eu tivesse feito um exercício muito longo.
Sou sindicalizado, fui diretor do Sindicato dos Petroleiros, São Sebastião, Santos e Cubatão.
A nossa diretoria era colegiada, não tínhamos uma função. Mas nos seis anos cuidei mais da administração do sindicato aqui. Em São Sebastião temos uma subsede. Nosso sindicato é Santos, São Sebastião e Cubatão.
É um sindicato bastante atuante. São Sebastião tem uma posição estratégica importante. O sindicato de Cubatão além de ter uma refinaria importante, também é um sindicato que tem uma importância histórica, tem um papel histórico na revolução de 1964, o sindicato teve atuação. O sindicato está cada vez mais forte. Pena que eu não consegui me reeleger dessa vez porque acho que a gente tem um trabalho muito interessante para fazer pelo sindicato.
Estávamos seis anos na diretoria e agora vamos ficar seis fora. Já ficamos três, vamos ficar mais três de castigo aqui olhando a nossa oposição implementar as políticas sindicais deles. Acho que eu já estou finalizando as minhas atividades tanto profissionais quanto sindicais.
A greve de 95, embora não estivesse na diretoria, acho que da minha participação sindical foi o momento mais importante. Paramos tudo aqui em São Sebastião.
A paralisação não foi de operação. Existe um grupo de contingência, por conta da gerência, que de alguma forma acaba operando alguma coisa no terminal. E alguma coisa foi operada. Seria muita força para o sindicato se ele conseguisse parar um terminal como São Sebastião. Seria tanto poder que é bom que tenha alguém trabalhando contra o sindicato porque acho que ninguém merece tanto poder. Não consigo imaginar o que seria do país se a gente não enviasse petróleo ou só enviasse petróleo se quisesse para as refinarias que o terminal abastece. Em um período muito curto ia provocar um desabastecimento e provavelmente um caos. Se a gente conseguisse esse poder, nossa
Teve muita adesão sim, sem dúvida. Todos os nossos movimentos tiveram efeito, a empresa sentiu de alguma forma. Mesmo essa greve de 95 que foi a maior delas, o Fernando Henrique teve que chamar o exército e aquela coisa toda.
Sempre aderimos aos movimentos nacionais. Começa assim: o terminal é uma subsede, dificilmente existe a possibilidade de ter um movimento aqui que não envolva Cubatão, Santos.
De alguma forma todos os nossos movimentos foram feitos em conjunto com alguma outra área ou até com outro sindicato. Agora nós temos o unificado paulista, o sindicato da Revap.
Na Petrobras nós temos uma idéia diferente e que é uma idéia muito importante para o tratamento de água. O que mais me marcou foi conseguir colocar essa idéia de uma forma que as pessoas passaram prestar atenção, gostaram da idéia, compraram a idéia e estamos desenvolvendo.
É uma idéia que tem um lado ambiental muito forte, e necessário, importante para a empresa. É sobre o tratamento de água. Na atual produção da Petrobras – na atual não, sempre foi assim – se a Petrobras não conseguir separar a água do óleo, não vai conseguir produzir petróleo; e se não conseguir tratar essa água de forma que possibilite o descarte, não adianta nada separar. Uma coisa vem colada com a outra. Nós inviabilizaríamos a produção de petróleo. Agora o que me chama atenção é que estudei pouco, não sou uma pessoa formada, e consegui colocar isso de uma forma que foi aceita. A Petrobras tem muita gente com uma capacidade muito superior a minha, uma formação muito melhor que a minha e, no entanto, consegui fazer alguma coisa diferenciada que, sem sombra de dúvida, e sem querer me colocar como uma pessoa arrogante, eu acho que no terminal não teve igual.
Trabalhei com pessoas aqui inteligentíssimas e capacitadíssimas, muito bem informadas. Podia até citar o nome de algumas aqui, mas não vou fazer porque com certeza esqueceria de alguém. E, no entanto, coube a mim e um colega, o Maurício, colocarmos o que melhor surgiu em termos de idéias aqui no terminal e talvez um dia a gente possa até fazer parte da história da Petrobras, uma vez que a Petrobras está tentando requerer uma patente no nosso nome.
Eu acredito muito no potencial da idéia e talvez, no momento, ela não seja implantada. Mas a Petrobras, a Transpetro, tem noção que é possível que essa idéia seja necessária no futuro e a Petrobras ter o conhecimento disso, vai ser importante.
Trabalhar na Petrobras? Eu não acredito no trabalho como alguma fonte de renda, como meio de sobrevivência. Acho que o trabalho faz parte da vida da pessoa. Grande parte do que sou hoje aprendi trabalhando. E até fisicamente. Algumas doenças que tenho, alguns problemas que tenho de saúde adquiri aqui no trabalho. Sem sombra de dúvida. O trabalho faz parte da vida da pessoa, ele forma a pessoa em todos os sentidos. Ser petroleiro é vir trabalhar com a certeza de que se está numa empresa que tem uma preocupação, não só econômica, mas social, que é uma empresa que te dá tranquilidade suficiente para você realizar o seu trabalho; que proporciona oportunidades para você crescer na vida, para aprender as coisas; até vou arriscar um palpite aqui: como nenhuma firma no Brasil faz, no mínimo, nenhuma firma que eu conheça. Ser petroleiro pra mim é viver com a tranquilidade de saber que você pode desejar para o seu filho a mesma coisa. Você e seu filho vão conseguir dormir tranquilos e criar sua família num ambiente de paz de harmonia. Não existe aquela tensão de dormir em casa achando que vou ser mandado embora no dia seguinte.
Não conhecia essa idéia. Acho que é importante. Não posso comentar a respeito da técnica de contar história através das pessoas, até porque eu nem sei se tem outra técnica. Contar historia através dos fatos poderia ser, mas de alguma forma as pessoas são donas dos fatos. Todos os fatos tão ligados à alguma pessoa. Acredito que consigo enxergar que o fundamental é que você tem que contar história.
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