Viver com HIV: a Realidade de uma Morte Silenciosa Simoni Aparecida Bitencourt.
A História que o Sistema Tentou Silenciar
Minha trajetória começa com violência extrema. Aos 15 anos, após um estupro que me deixou 28 dias em coma, minha vida mudou para sempre. Em meio à dor física e emocional, veio a sentença cruel: HIV.
Uma menina que nunca recebeu amor, que cresceu trabalhando para sobreviver, foi transformada em diagnóstico, em estatística, em sentença de morte.
Essa história não é apenas pessoal — ela representa a realidade de milhares de mulheres brasileiras que enfrentam violência sexual, negligência institucional e abandono social.
A Violência Continua: Estigma, Abandono e Negligência Médica
Não bastando a violência sexual, vivi outras tantas violências:
Estigma institucional: médicos se recusaram a tocar em mim quando perdi meu bebê; permaneci 5 dias com ele morto no ventre.
Erros e experimentações não consentidas: trocaram meu tratamento inicial por drogas de resgate, como T-20, sem explicação, como se fôssemos cobaias.
Ausência de informação: amamentei meu filho por seis meses sem saber do risco — e só depois recebi orientação adequada.
Desumanização: fomos tratados como números, não como vidas.
Essas situações revelam que o HIV não mata apenas pelo vírus. Mata pelo preconceito, pela falta de formação profissional, pela violência institucional e pela negligência das políticas de saúde.
A Descoberta do Movimento Social: Transformando Dor em Militância
Em 2005, conheci o movimento social e compreendi que minha vida não havia acabado. Pela primeira vez, me disseram que eu não tinha culpa de nada, que eu podia viver e ser feliz, que não precisava me esconder.
A partir daí, transformei minha dor em luta. Me tornei militante, busquei conhecimento, fortalecer outras mulheres e construí caminhos para que ninguém mais passasse pelo que eu passei.
Viver com HIV...
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Viver com HIV: a Realidade de uma Morte Silenciosa Simoni Aparecida Bitencourt.
A História que o Sistema Tentou Silenciar
Minha trajetória começa com violência extrema. Aos 15 anos, após um estupro que me deixou 28 dias em coma, minha vida mudou para sempre. Em meio à dor física e emocional, veio a sentença cruel: HIV.
Uma menina que nunca recebeu amor, que cresceu trabalhando para sobreviver, foi transformada em diagnóstico, em estatística, em sentença de morte.
Essa história não é apenas pessoal — ela representa a realidade de milhares de mulheres brasileiras que enfrentam violência sexual, negligência institucional e abandono social.
A Violência Continua: Estigma, Abandono e Negligência Médica
Não bastando a violência sexual, vivi outras tantas violências:
Estigma institucional: médicos se recusaram a tocar em mim quando perdi meu bebê; permaneci 5 dias com ele morto no ventre.
Erros e experimentações não consentidas: trocaram meu tratamento inicial por drogas de resgate, como T-20, sem explicação, como se fôssemos cobaias.
Ausência de informação: amamentei meu filho por seis meses sem saber do risco — e só depois recebi orientação adequada.
Desumanização: fomos tratados como números, não como vidas.
Essas situações revelam que o HIV não mata apenas pelo vírus. Mata pelo preconceito, pela falta de formação profissional, pela violência institucional e pela negligência das políticas de saúde.
A Descoberta do Movimento Social: Transformando Dor em Militância
Em 2005, conheci o movimento social e compreendi que minha vida não havia acabado. Pela primeira vez, me disseram que eu não tinha culpa de nada, que eu podia viver e ser feliz, que não precisava me esconder.
A partir daí, transformei minha dor em luta. Me tornei militante, busquei conhecimento, fortalecer outras mulheres e construí caminhos para que ninguém mais passasse pelo que eu passei.
Viver com HIV Hoje: Uma Morte Silenciosa
Mesmo com avanços, viver com HIV em 2025 não é simples. Somos chamados de “condição crônica”, mas:
sofremos efeitos colaterais severos e acumulativos;
enfrentamos falta de exames regulares;
não temos acompanhamento integral contínuo;
não há investimento real em cura funcional ou crônica degenerativa;
políticas mudam como peças de dominó: uma conquista, duas quedas.
A morte que vivemos hoje não é imediata — é silenciosa.
É a morte causada:
pelo descaso,
pela falta de prioridade,
pela invisibilidade,
pela burocracia,
e pelo preconceito institucional.
Impacto Social: A Realidade Além da Estatística
Ver amigos e colegas morrerem — não pelo vírus, mas pela negligência — é devastador.
Políticas que deveriam nos proteger acabam funcionando como uma engrenagem que exclui, expulsa e desumaniza.
Enquanto criam discursos de assistência, muitas vezes não aplicam na prática.
Enquanto celebram números, esquecem das vidas.
Enquanto falam de prevenção, ignoram quem já vive com HIV.
O Que Exigimos: Dignidade, Vida e Política Real
Nós queremos:
controle clínico contínuo, não apenas anual;
acesso à saúde integral e não discriminatória;
avaliação completa de efeitos colaterais;
investimento em pesquisa sobre cura e novas terapias;
políticas públicas efetivas, não apenas documentos;
direito de existir plenamente, sem ser reduzidos a um vírus;
respeito, escuta e participação social real.
Queremos viver — não sobreviver.
Queremos ser vistas — não apagadas.
Queremos políticas que nos considerem sujeitos — não estatísticas.
Eu Quero Vida Viva
Depois de 35 anos convivendo com HIV, minha luta não é mais apenas contra o vírus.
Minha luta é contra:
o silêncio,
o preconceito,
a negligência,
a desinformação,
a burocracia que mata,
e a ausência de políticas reais e humanizadas.
Eu quero vida.
Vida viva.
Quero controle, cuidado, respeito e dignidade.
Quero o direito de ser EU.
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