Eu conheci os meus avós maternos, que eu morei junto. Minha mãe saía pra trabalhar e eu ficava com eles. Meu avô foi meu pai por um bom período. A vida deles foi muito sofrida, que eles vieram de lavoura, dos canaviais, e depois migraram pra São Paulo e aqui constituíram os bens que tinham. Moravam na rua Barra Funda, e diziam que quando chegaram a casa era um galpão onde tinha rato embaixo.
Na minha casa de infância havia um pé de figo, um quintal onde eu fazia a festa. Eu fui filho único até os nove anos, até que minha mãe conheceu um outro companheiro e eu tive uma irmã. Então minha primeira infância era de diversão na rua, de muita liberdade, e eu ainda não tinha irmãos.
Na época a gente criava muito dos nossos brinquedos com as coisas da rua, com materiais como madeira, rodinhas, linha, essas coisas. Era mesmo um bairro bastante residencial, com casas de muro baixo, sem medo de ladrão, essas coisas. Perto de casa tinha um barranco em que hoje tem terrenos invadidos, casas, prédios, está tudo bem diferente.
A minha avó era uma grande cozinheira; me lembra a minha infância o gosto da polenta, da mandioca, da feijoada, as coisas que ela fazia. Meu avô era a referência da casa. Lembro também muito de um dia de chegar em casa e ver minha avó chorando e eu não entender. Foi um vizinho que contou que o avô tinha morrido. Aquilo nos marcou porque perdemos a referência; tivemos que mudar de casa, ir pra um lugar mais periférico. Tudo mudou.
E tem uma história louca da minha vida. Eu tinha a história da minha mãe que meu pai tinha ido embora quando eu tinha dois anos. Aí no ano passado, num momento que eu estava me separando da minha mulher, eu fui tentar entender melhor esse buraco. Aí num dia eu estava na casa da minha mãe quando chegou meu pai. Eu fui bem seco com ele, dei a mão, apresentei meus filhos. E aí havia um clima estranho na sala até que fui descobrir que a minha mãe tinha tido um caso na época que meu...
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Eu conheci os meus avós maternos, que eu morei junto. Minha mãe saía pra trabalhar e eu ficava com eles. Meu avô foi meu pai por um bom período. A vida deles foi muito sofrida, que eles vieram de lavoura, dos canaviais, e depois migraram pra São Paulo e aqui constituíram os bens que tinham. Moravam na rua Barra Funda, e diziam que quando chegaram a casa era um galpão onde tinha rato embaixo.
Na minha casa de infância havia um pé de figo, um quintal onde eu fazia a festa. Eu fui filho único até os nove anos, até que minha mãe conheceu um outro companheiro e eu tive uma irmã. Então minha primeira infância era de diversão na rua, de muita liberdade, e eu ainda não tinha irmãos.
Na época a gente criava muito dos nossos brinquedos com as coisas da rua, com materiais como madeira, rodinhas, linha, essas coisas. Era mesmo um bairro bastante residencial, com casas de muro baixo, sem medo de ladrão, essas coisas. Perto de casa tinha um barranco em que hoje tem terrenos invadidos, casas, prédios, está tudo bem diferente.
A minha avó era uma grande cozinheira; me lembra a minha infância o gosto da polenta, da mandioca, da feijoada, as coisas que ela fazia. Meu avô era a referência da casa. Lembro também muito de um dia de chegar em casa e ver minha avó chorando e eu não entender. Foi um vizinho que contou que o avô tinha morrido. Aquilo nos marcou porque perdemos a referência; tivemos que mudar de casa, ir pra um lugar mais periférico. Tudo mudou.
E tem uma história louca da minha vida. Eu tinha a história da minha mãe que meu pai tinha ido embora quando eu tinha dois anos. Aí no ano passado, num momento que eu estava me separando da minha mulher, eu fui tentar entender melhor esse buraco. Aí num dia eu estava na casa da minha mãe quando chegou meu pai. Eu fui bem seco com ele, dei a mão, apresentei meus filhos. E aí havia um clima estranho na sala até que fui descobrir que a minha mãe tinha tido um caso na época que meu pai foi embora.
Hoje eu me sinto privilegiado: conheci uma nova família, descobri que ele não era uma pessoa ruim. Ele é do bem uma pessoa bacana. A minha mãe não entendeu a minha primeira revolta, mas chegou num período que eu pensei: eu ganhei um pai, não vou perder a mãe.
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