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Personagem: Luzia Batista
Por: Museu da Pessoa, 21 de setembro de 2024

Sou mulher, sou poeta, repentista. Só não sei se o meu verso tem valor.

Esta história contém:

Sou mulher, sou poeta, repentista. Só não sei se o meu verso tem valor.

Minha vida na roça era o seguinte, eu criança, ele ia pra roça, eu ia mais ele. Eu ia pegar uma enxadinha pequena, eu ia limpar o mato, assim, capinar o mato, né. Mas meu pai dizia: “minha filha, não pode, você tá arrancando a lavoura. Você tá cortando, ao invés de arrancar o mato” eu ia arrancando a lavoura. Ele não deixava. Aí eu chorava com aquele desgosto, mas eu ficava no pé dele. Ficava no pé dele. Então, quando era na palha, na colheita de feijão, feijão verde, ô gente, eu ia mesmo. Eu pegava um balaio, eu ia, mas ele… Eu ia enchendo aquele balaio de vages de feijão e enchendo um saco. E eu enchia mesmo. Um saco de feijão. Dizia, ói pai, aqui eu não vou arrancar os pés não, pai. Vou arrancar só as vagas. do feijão, cato de algodão, que nessa época tinha também. Mas depois minha mãe me deixava em casa, não queria que eu fosse não. Nem meu pai queria, nem minha mãe queria. Eu ficava em casa. Então, quando era tempo de milho verde, tinha feijão verde, a gente quebrava o milho, levava pra casa. Eu ia, daquele milho na palha, eu era quem ia fazer pamonha, fazer canjica, eu era quem fazia. Ralava o milho, despalhava o milho, ralava no ralo. Minha filha, não faça isso que você vai ralar os dedos. Eu digo, eu sei, porque não importa, mas eu faço. E fazia. Minha mãe ia pra roça, mas quando chegava pra mamãe, a mamãe tava cozinhada, a canjica tava feita. Moendo na máquina, milho seco, não sei nem se vocês sabem o que é. Era tipo moinho, mas era a gente rodando assim na mão, né? Então, eu despalhava o milho seco, tirava da espiga, eu desbulhava o milho, deixava o sabor pra lá, e o milho eu ia botar água pra ferver, jogava dentro da panela. Bem por uma hora dessas assim, o milho já tava de molho.

Pra no outro dia de manhã eu desmanchar aquele milho todinho em farinha, xerém, cuscuz. Era o meu trabalho da minha juventude. Era isso Eu já trabalhei. Carregar lata d'água na cabeça, minha visão nunca...

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Entrevista de: Luzia Batista

Entrevistado por: Jonas Samaúma

Gravado por Marcos Curupira Carvalho e Yule Neves.

São José do Egito, Pernambuco, 21 de setembro de 2024.

Projeto Vidas em Cordel, Mestres do Cordel.

Conte sua história.

Entrevista a PCSHV1406.

P1:

Ia pedir pra você começar com uma poesia.

Pode ser com o seu cordel mesmo.

R:

Então, eu lancei um cordel contando a minha história, do que se passou comigo agora há tempo poucos atrás e ainda tô sentindo a dor da perda dos meus, inclusive os meus que eu perdi agora há pouco, de 2022 pra cá, são Meu esposo Antônio Nunes de Oliveira.

São a minha mãe Maria Batista de Oliveira, seis meses de diferença de um para o outro.

Minha irmã Maria também, que a Covid levou.

Tem também o meu filho José Adéval, que foi falecido em 2009 pelo um acidente horrível.

Passou 15 dias no Recife na restauração, mas infelizmente não teve cura.

Deus tomou de conta do meu filho e me deixou sentir na dor, a saudade e o desespero, mas estou atravessando com fé em Deus, que Deus é quem faz de tudo e a gente não pode fazer mais do que Ele.e tô aqui esperando vocês, aguardando quem chegar e quem quiser me visitar, me conhecer.

A minha humilde casinha está aqui e recebo com muita honra e prazer a todos que vierem.

Então, aqui eu posso recitar o meu trabalho. Eu disse assim:

Deus me dê um santo alcance

Com seu divinal poder

Me ajude a escrever

Te peço mais uma chance.

Que meu improviso avance

E me traga mais poesia.

Ô meu Deus, como eu queria

Ver mamãe de novamente

Sorrindo na minha frente

Quem tanto me fez companhia.

Oh, meu Deus, que morte ingrata!

Levou João e Antônio.

Eram meus dois matrimônios.

Hoje a saudade me mata.

Minha tristeza retrata

A minha fotografia.

Minha fisionomia

Já está bem diferente.

Só por perder minha gente

A quem me fez companhia.

ô morte ingrata e cruel

Levou José Adéval

O meu filho original

E o meu pai Manoel.

Com certezas estão no céu

A minha irmã Maria.

Levaram...

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