P/1 – Então, para começar, você poderia me dizer seu nome completo, o local e adata de nascimento.R – Meu nome é Vera Lúcia Mota Gebrin. Eu nasci em São Paulo, vinte e seis demaio de 1957.P/1 – E qual é a sua formação?R – Eu sou socióloga.P/1 – Se formou em qual universidade?R – Universidade de São Paulo, entrei em 1977.P/1 – E qual foi seu primeiro emprego, trabalho?R – Meu primeiro trabalho. Eu dei aula de História do Brasil num cursinho, na zonaleste de São Paulo, mas foi por um semestre. Depois eu trabalhei em uma butique,por seis meses também [risos]. Tinha entrado na faculdade, queria trabalhar, aí eutrabalhei durante um tempo. Aliás, foi paralelo, a butique e o cursinho que eu davaaula, até levei os dois por um tempo. Aí eu vim para o DIEESE [Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos] logo em seguida.P/2 – Nessa época você estava na faculdade?R – Quando eu vim para o DIEESE?P/2 – Quando você fez seus primeiros trabalhos.R – Estava, tinha acabado de entrar. Entrei em 1977, aí fiz esse trabalho, dei um poucode aula no cursinho, daí fui para essa butique, levei os dois, já estava na faculdade,tinha acabado de entrar.P/1 – Você tinha uma noção do que era o DIEESE, do que o DIEESE fazia antes deentrar aqui?R – Não. Sinceramente não tinha não. Não conhecia. Eu entrei na faculdade. Aí euconheci uma menina, a gente ficou amiga, chamava Rita de Cássia Braga. É umapessoa fantástica! E ela trabalhava no DIEESE. E aí apareceu um estágio, era umtrabalho temporário, por um mês: era levantamento de preços no município de SãoBernardo. E o DIEESE estava fazendo e precisava de duas pessoas para fazer atabulação das informações. E essa menina me falou: “Você não quer ver?” E tal e aíquando ela me falou o que era o DIEESE, eu me empolguei muito, achei super-legal.Eu estava fazendo ciências...
Continuar leituraP/1 – Então, para começar, você poderia me dizer seu nome completo, o local e adata de nascimento.R – Meu nome é Vera Lúcia Mota Gebrin. Eu nasci em São Paulo, vinte e seis demaio de 1957.P/1 – E qual é a sua formação?R – Eu sou socióloga.P/1 – Se formou em qual universidade?R – Universidade de São Paulo, entrei em 1977.P/1 – E qual foi seu primeiro emprego, trabalho?R – Meu primeiro trabalho. Eu dei aula de História do Brasil num cursinho, na zonaleste de São Paulo, mas foi por um semestre. Depois eu trabalhei em uma butique,por seis meses também [risos]. Tinha entrado na faculdade, queria trabalhar, aí eutrabalhei durante um tempo. Aliás, foi paralelo, a butique e o cursinho que eu davaaula, até levei os dois por um tempo. Aí eu vim para o DIEESE [Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos] logo em seguida.P/2 – Nessa época você estava na faculdade?R – Quando eu vim para o DIEESE?P/2 – Quando você fez seus primeiros trabalhos.R – Estava, tinha acabado de entrar. Entrei em 1977, aí fiz esse trabalho, dei um poucode aula no cursinho, daí fui para essa butique, levei os dois, já estava na faculdade,tinha acabado de entrar.P/1 – Você tinha uma noção do que era o DIEESE, do que o DIEESE fazia antes deentrar aqui?R – Não. Sinceramente não tinha não. Não conhecia. Eu entrei na faculdade. Aí euconheci uma menina, a gente ficou amiga, chamava Rita de Cássia Braga. É umapessoa fantástica! E ela trabalhava no DIEESE. E aí apareceu um estágio, era umtrabalho temporário, por um mês: era levantamento de preços no município de SãoBernardo. E o DIEESE estava fazendo e precisava de duas pessoas para fazer atabulação das informações. E essa menina me falou: “Você não quer ver?” E tal e aíquando ela me falou o que era o DIEESE, eu me empolguei muito, achei super-legal.Eu estava fazendo ciências sociais, achei isso fantástico e falei “Ai, quero.” Fui parafazer um mês de trabalho e estou lá até hoje [risos].P/1 – Você começou então como estagiária fazendo esta tabulação. E depois, como é que a coisa se ___________?R – Fizemos esse trabalho, então uma pessoa que era pesquisadora de preços saiu do DIEESE. Esse meu estágio foi em dezembro de 1977, durante esse primeiro mês que eu ia ficar. Essa pessoa saiu do DIEESE e vagou um trabalho na coleta de preços do índice de custo de vida na parte de vestuário. Então, Barelli falou, “Olha, ao invés da gente ______________.” Tinha por norma que as pesquisadoras de preço do DIEESE, o perfil, eles gostavam que fosse dona de casa, porque tinha toda a experiência de fazer compras de produtos de alimentação e conheciam bem como procurar, que produtos usar, aí então tinha mais ou menos isso: que era bom ser uma dona de casa para fazer esse trabalho, a pessoa que saiu era uma dona de casa, mas aí o Barelli teve a ideia de contratar alguém que fosse universitário para fazer a pesquisa de vestuário: era vestuário, utensílios domésticos, papelaria, algumas coisas assim… De contratar uma universitária, eram cinco centros comerciais que a gente fazia essa pesquisa. A pessoa faria a pesquisa de preços nesses cinco centros e nos outros dias ela trabalharia internamente, dando apoio ao trabalho dos técnicos, uma auxiliar técnica. E aí ele falou “Vamos aproveitar alguém que já esteja aqui.” E gostou do meu trabalho, aí eu fiquei fazendo o trabalho de pesquisa e de auxiliar técnica. Aí eu fiquei um ano na pesquisa e daí passei para auxiliar técnica em tempo integral. Como auxiliar técnica, estudante de ciências sociais. Isso foi em 1978. Eu levei algum tempo para me formar – eu me formei em 1984 – , então, até lá, eu fiquei como auxiliar técnica. E aí, quando eu me formei, levou mais um ano e aí eu passei a técnica.P/1 – Como foi a sua entrada, você teve alguma dificuldade, algum problema em relação às pessoas?R – Muito tranquilo. Quando eu cheguei no DIEESE, eu me senti assim: “É isso queeu quero para o resto da minha vida.” Tanto no conteúdo do trabalho, nos objetivosdo trabalho, quanto na convivência com pessoas que, muito diferentes uma dasoutras, mas que tinham mais ou menos a mesma forma de pensar a sociedade, asmesmas preocupações. E o DIEESE está voltado para a assessoria técnica aomovimento sindical o que me encantou muito. Como a gente sempre tevemuita clareza disso, que a gente tinha toda uma preocupação em acumular umconhecimento, em pensar questões ligadas às maiores necessidades da sociedade,mas colocar esse conhecimento que a gente adquiria na universidade a serviço daclasse trabalhadora. Quando eu entrei, isso para mim foi um encanto. E, como umapessoa que tinha uma preocupação em transformar a sociedade, em atuar de umaforma a procurar a igualdade, a justiça, entrar fazendo um trabalho de apoio, umtrabalho que fosse servir de instrumento para a ação da classe trabalhadora, era umsonho: até meus colegas de faculdade falavam “Nossa, você é paga para militar!”Que coisa. Não existe um lugar mais adequado para pessoas como nóstrabalharmos. E assim, o pessoal do DIEESE sempre foi um pessoal muito legal,desde essa época, continua sendo hoje. Então foi muito fácil a entrada, a integração,a recepção que as pessoas têm com quem entra. Aí eu passei a ser a pessoa querecebia depois, também.P/1 – Você falou que o ambiente sempre foi muito bom, você se lembra do seuprimeiro dia no DIEESE?R – Primeiro dia eu lembro. Lembro da minha amiga me contando como é que faziapara chegar até lá. Como é que chegava lá no centro da cidade. Lembro na horaque eu entrei, lembro a sala que a gente sentou, ela me explicando o trabalho. Aíchegou o Barelli, meu Deus, o Barelli, aí eu vi o Barelli. É carismático demais, é umapessoa que você _______ e tratando a gente muito bem, como que ____________ super bem - umas menininhas. Ele já era uma figura. Eu me lembro de mim e dela e de uma outra colega nossa na sala, trabalhando. E lembro o primeiro dia que eu fui contratada realmente. Esse eu me lembro muito bem, porque foi dia 02 de janeiro de 1978 que eu fui contratada pelo DIEESE como auxiliar técnica. Aí, eu me lembro o Barelli falando que íamos começar o ano bem: “Estamos contratando a Vera”, tal, aí [aplausos], aquela felicidade toda. Eu lembro assim disso, dessas coisas.P/1 – Você falou que o seu amigo disse que você era paga para militar.R – Os meus amigos da faculdade, de uma forma geral, falavam.P/2 – E as pessoas falam assim, muito dessa forma mesmo, como um trabalho, umamilitância, apesar de ser um trabalho mesmo qualquer, essa relação.R – Porque na verdade é o seguinte: o DIEESE é um projeto da classetrabalhadora, na verdade é um projeto do movimento sindical brasileiro. É umainstituição que foi pensada para assumir um lado, evidentemente do conflito que agente vive na sociedade pelos próprios trabalhadores, para ser um instrumento deação. Então, na verdade, as convicções que a gente tem enquanto cidadãos, agente consegue realizar enquanto profissional no DIEESE, nós sabemos que otrabalho que nós estamos fazendo é um trabalho que está sendo utilizado para umamaior igualdade dentro da sociedade. E isso é, a gente geralmente tem umtrabalho para ganhar a vida e aí, pessoas como nós, temos uma militância políticanum partido, em alguma instituição e no DIEESE você faz esse trabalho, essetrabalho de intervenção na sociedade como seu trabalho profissional. Tanto pessoalcomo profissionalmente, você está voltado para aquilo. E, eu acho que a grandeimportância do DIEESE na história toda que nós temos, é ser um espaço em quevocê não tem a disputa política. O mesmo tipo de trabalho, o trabalho que nósfazemos é absolutamente técnico e ele é colocado a serviço dos dirigentes sindicais,do movimento sindical e dos dirigentes sindicais que foram eleitos pelas suascategorias profissionais para se contrapor na disputa de classes dentro dasociedade. Então, nosso trabalho é técnico, nós não temos mandato, nós não fomoseleitos, nós somos pessoas que fomos contratadas para fazer umdeterminado trabalho, de uma determinada perspectiva da classe trabalhadora ecolocá-las a serviço e colocar esse trabalho a serviço dos representantes da classetrabalhadora. Então, você tem uma satisfação pessoal e profissional ao mesmotempo trabalhando no DIEESE.P/1 – E como é o setor de pesquisa que você coordena?R – Então, é o trabalho de pesquisa, a gente chama de pesquisa sindical. Naverdade são três sistemas de acompanhamento de indicadores sindicais, por issochama pesquisa sindical. A gente trabalha com informações sobre greves, sobreacordos e sobre salários. Que são essas informações? Elas são resultado da açãosindical, os três indicadores que nós trabalhamos nesses bancos de dados sãoresultados da ação sindical. Então, nós temos o sistema de acompanhamento decontratações coletivas, que é um sistema que armazena as informações queconstam dos acordos e convenções coletivas. O que são acordos e convençõescoletivas? São contratos firmados por patrões e empregados através da negociação.Então tem todo um processo de negociação coletiva que se estabelece e as partes,patrões e empregados, chegam a um contrato que vai determinar as regras defuncionamento do trabalho, dos salários, das condições de realização do trabalho dedeterminada categoria profissional. Então, a gente analisa esses acordos econvenções coletivas que são resultados da ação sindical, os trabalhadores atravésdas suas representações, negociando as suas condições de trabalho. Dessascondições de trabalhos negociadas, uma delas, uma das questões mais importantesdestas relações de trabalho, é a questão da remuneração, né? Então, outro banco dedados que a gente tem, dentro dessa pesquisa sindical, é o sistema deacompanhamentos de salários, que é também o acompanhamento dos resultadosdestas negociações de trabalho no que se refere à remuneração dos trabalhadores,ou seja, os reajustes salariais que são negociados nesse processo e os pisossalariais, que são as remunerações mínimas para cada categoria profissional. E umterceiro banco de dados, que aí é a própria ação sindical, que é o banco de dados,sistema de acompanhamento de greves, que é um sistema de acompanhamentoque a gente coleta, sistematiza, organiza as informações sobre as greves realizadaspelos trabalhadores em todo o território nacional. Então, essa pesquisa sindical écomposta por esses três bancos de dados, esses três sistemas deacompanhamento. Bom, é um trabalho que o DIEESE fez no decorrer da suahistória, desde os primórdios, de acompanhar os resultados das negociaçõescoletivas, acompanhar as greves que estão sendo realizadas desde sempre. E é umtrabalho que é retomado com vigor, evidentemente, quando o movimento sindical, nofinal dos anos de 1970, retoma a sua ação. Depois de um período de ditadura, omovimento sindical retoma a sua ação efetivamente, aparece como um atorimportantíssimo no cenário nacional com as greves, realizando as greves, começa aretomada. Na realidade, a retomada se concretiza nesse momento – o movimentosindical estava vivo -, estava ali, estava ativo, apesar de toda repressão política etc,você tinha as entidades sindicais, você tinha um trabalho. E aí, em 12 de maio de1978, com a greve da Scania, a gente tem a retomada do movimento grevista: aprimeira greve pós os anos mais difíceis. Está aí o DIEESE. E esta greve resulta emum processo de negociação coletiva, resulta na composição de acordos coletivos detrabalho e a partir daí, você tem toda a retomada da ação sindical se voltando paraconsolidar um espaço de negociação coletiva que visa regulamentar as condiçõesde trabalho, avançar em relação à legislação, especialmente. E aí o DIEESEcomeça a fazer este acompanhamento sistemático, né? Levantamento de todas asgreves, o levantamento dos acordos que resultam e trabalhar uma metodologia paraclassificar estas informações e analisar, especialmente analisar estas informações.P/2 – Esta história é muito interessante mesmo, tem a ver também com a fundaçãodo Partido dos Trabalhadores, ele meio que surge ________R – É, veio no processo de abertura política, no processo de toda essa mobilizaçãosindical, que resulta de fato ______P/2 – ___________________________R – É, vários quadros sindicais. Na verdade você tem no final dos anos de 1970, assim é,meio que, para a sociedade geral, é meio inesperado, mas também é o resultado detoda uma resistência e a luta de dos trabalhadores mesmo, para conseguir semanter, conquistar espaço para poder intervir na realidade.P/1 – Você entrou em 1977?.R – Entrei em 1977, dentro deste rolo aí...P/1 – É, justamente isso. Como foi observar toda esta movimentação daqui dedentro?R – Nossa Senhora! Eu tinha entrado na faculdade em 1977, foi quando o movimentoestudantil retomou, as primeiras passeatas etc. Aí,1978, era uma coisa de você tera sensação de que estava vivendo um período importantíssimo da história e noslocais mais vibrantes. Então, era uma coisa, para uma menina, né? Tô velhinha hoje,mas eu tinha 20 anos, 21 anos na época. Imagina ver aquilo tudo de dentro mesmo.Era uma coisa! Eu tinha a sensação de estar assistindo um filme, sabe? Algumacoisa de muito importante está acontecendo. Não era, não tinha essa consciênciatoda também, era muito menina mesmo, mas de ver a reação do Barelli, a reação daAnnez Andraus Troyano que estava no DIEESE nessa época, que já era uma grandeprofissional, uma socióloga super conceituada. Então, mais observava e me sentiaassim: espectadora de um momento muito importante da história, do que qualquercoisa. E hoje, perceber que era mesmo um momento fundamental na História doBrasil.P/2 – Você chegou a participar do movimento estudantil?R – Cheguei, claro, não militando. Já tava no DIEESE, como o DIEESE tem estarestrição – e eu acho que tem que ter mesmo – à uma atuação mais política porparte dos técnicos, porque a gente atende a todos os tipos de entidades sindicaisque se associam ao DIEESE, então você tem as mais diversas correntes domovimento sindical. Estão presentes dentro DIEESE através das entidades sindicais. Por isso, você tem uma série de todas as matrizes que você puder imaginar, políticas,a gente tem como sócios do DIEESE. Então, eu participava do movimento estudantil,claro, fiz as passeatas, participava das assembleias e tal, mas eu nunca me liguei auma determinada corrente, porque justamente, porque eu não me sentia à vontadepara fazer o trabalho que eu tinha, embora auxiliar técnica, embora não tivesseuma definição nos rumos do DIEESE, mas eu temia que a minha participação, se eutivesse alguma participação e fosse reconhecida por alguma corrente sindical comotendo uma intervenção mais política, queimasse o DIEESE, a imagem do DIEESE.Então, nós tínhamos e temos, por hábito ou por princípio mesmo, não ter umenvolvimento mais partidário, mais político, político no sentido de atuaçãopartidária, de partido político, evidentemente, nós temos, não tenho a menordúvida. Evidentemente, se você toma uma determinada posição, que tem algum tipode divergência, algum tipo de polêmica dentro do movimento sindical, fica muitomais difícil a tua neutralidade técnica de se colocar para os dirigentes. Então, agente sempre evitou, eu participei de todas as passeatas de todas asmovimentações, de tudo, mas sem uma ligação mais efetiva com alguma corrente.Isso não teve não.P/1 – Como o DIEESE enxerga as questões de gênero e de violência contra amulher no universo do trabalho? Eu sei que você teve uma atividade específicanisso. Você poderia falar?R – Claro. Na verdade a minha participação mais efetiva nisso é através da análisedos resultados das negociações coletivas, como eu te disse. O objeto maior do meutrabalho, o objeto, o foco do meu trabalho é o resultado das negociações coletivasatravés dos acordos e convenções. Uma das questões que foi, que apareceu comouma, acho que vocês vão ter uma entrevista até com a Solange que vai falar maisaprofundadamente sobre a questão de gênero, eu posso falar um pouco, mas aminha atuação foi fazendo o levantamento das questões relativas ao trabalho damulher e as questões de gênero nas negociações coletivas de trabalho, o quêsignifica isso? Levantando, dentro dos acordos e convenções coletivas, as cláusulasque se referiam ao trabalho da mulher. Bom, eu me lembro o seguinte: a primeiravez que a gente fez um trabalho sobre gênero, foi exatamente sobre as cláusulasque constavam dos acordos e convenções coletivas em 1987, a gente fez o primeirotrabalho sobre isso, considerando os acordos de 1985 e 1986. Na época, a Nair Goulartque é uma dirigente sindical – hoje ela está na Força Sindical -, ela é de origem dosMetalúrgicos de São Paulo. E a Nair Goulart chegou via Metalúrgicos de SãoPaulo, pedindo para a gente fazer esse levantamento dessas cláusulas, que elatinha tido um contato com o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher. Essaquestão começava a aflorar nesse momento, nos meados dos anos de 1980. E nósfizemos. Era um trabalho monstruoso porque na época não tínhamos sistemasinformatizados, então, a gente ia aos arquivos físicos - um acordo coletivo detrabalho é um documento que tem 80 cláusulas -, a gente ia ao arquivo físico,procurava onde tinha cláusula de mulher, deixava marcado na página, tirava xerox,recortava, colava [risos] e aí via, fazia levantamento do que tinha, quantascláusulas, o que diziam etc. etc. Esse foi o primeiro levantamento que nós fizemos,foi assim, um super sucesso. Adoraram, as feministas da época adoraram. Usarammuito esse trabalho. E aí, posteriormente, a gente na questão de gênero, Solangevai falar mais detalhadamente sobre isso, mas a gente ____ Até está ali nafrente, olha, o mapa das questões de gênero: nós fizemos alguns outros trabalhos.Nós fizemos mais dois levantamentos, aí já com sistema informatizado denegociação coletiva sobre cláusula de gênero. É, um por solicitação do Fundo deEquidade de Gênero Canadense, outro por solicitação da Organização Internacionaldo Trabalho, OIT [Organização Internacional do Trabalho], vai ter agora também. Sempre trabalhando junto com assindicalistas, a construção que a gente faz. Fizemos esse trabalho: o mapa dasconstruções de gênero. Foi um levantamento também com as sindicalistas,levantando quais são as questões relativas ao trabalho da mulher que devem sertrabalhadas enquanto estratégia em cima da questão. Então, o nosso trabalho é oseguinte: a gente sempre trabalha por solicitação das entidades sindicais sócias doDIEESE. E a gente procura levantar informações sobre as questões que são deinteresse e transformar essas informações que a gente tem num instrumento parasubsidiar o trabalho dos dirigentes. No caso da questão de gênero, o nossoprocedimento é exatamente esse: a gente levanta as informações, mostra o quetem, como é que a coisa aparece e aí cada dirigente utiliza de acordo com a suaestratégia. A questão de gênero dentro do movimento sindical, é uma das questõesque cria uma unidade entre as centrais. Então, nós trabalhamos, todos esses últimostrabalhos que eu falei para você, a gente trabalhou com as cinco centrais sindicaisprincipais juntas, fazendo seminários para levantamento de quais as questões quea gente ia abordar, no caso por exemplo, das negociações de gênero até ametodologia de classificação das cláusulas de gênero, a gente discutiu com assindicalistas que estavam nos seminários, até como nós vamos tratar isso?Que blocos que a gente acha importante serem tratados: a saúde da mulher; ascondições de trabalho da mulher; a maternidade? Até o agrupamento das questõesque iam ser trabalhadas, a gente trabalhou junto com elas. E são referências muitofortes nas negociações coletivas de uma forma geral. Então, as mulheres, asquestões de gênero que são discutidas nas negociações coletivas, elas têm uminstrumento que é um caderninho, que é como se fosse um roteiro de reivindicaçõesque podem ser feitas dentro das campanhas para negociação.P/2 – E que tipo de negociação, quais as questões principais?R – Na questão de gênero especificamente, é isso que você está perguntando?P/2 – É.R – Na questão de gênero, têm alguns temas que são os temas principais, os temasprincipais não, os que agrupam todas questões que estão envolvidas nesse tema:tem a questão da maternidade; da mulher enquanto mãe; da gestação etc. Tem asquestões das condições de trabalho da mulher, especificamente, da saúde da mulherespecificamente, tem as questões de equidade de gênero que é a questão contraassédio sexual, assédio moral, discriminação da mulher no seu trabalho. É umasérie de questões que dizem respeito aos diversos aspectos do trabalho da mulher,desde seu papel de mãe até as especificidades enquanto trabalhadora.P/2 – Você acha que estas questões, dentro do trabalho do DIEESE, estão bemfeitas, que são questões bem definidas?R – Eu acho que é um dos temas que a gente trabalhou muito bem, é um dos temasque a gente teve uma participação bastante importante na definição das estratégiasa serem traçadas.P/2 – Mas o cotidiano no trabalho no DIEESE é tranquilo para a mulher?R – Ah! Nós mulheres? Absolutamente. [risos] Um Problema que nós nuncativemos, nunca tivemos. Pelo fato de ser mulher, pelo contrário, quando você mepergunta até demoro a entender, porque isso nunca foi colocado como umproblema, acho que nós temos uma, vocês devem ter visto na quantidade demulheres em cargo de supervisão no DIEESE. A gente é bravinha lá [risos].P/1 – Tem que saber com quem tá mexendo...R – Nunca teve nenhum tipo de problema, muito pelo contrário, acho que aquestão...P/2 – Não chega a ser uma questão.R – Não chega a ser uma questão [risos] Exatamente. Eu diria isso.P/1 – Ainda nessa questão da negociação coletiva, da equidade de gêneros. Eu vique esse material foi publicado e teve uma experiência de dialogar com outrospesquisadores de outros países aqui da América Latina. Saiu no boletim trimestralda rede de defesa dos direitos das mulheres argentinas.R – Tá bem informado, heim?P/1 – Deu trabalho.R – Então, deixa eu te contar como é que foi isso. Bom, a gente fez o primeirolevantamento sobre a questão de mulher lá em 1987, pegamos acordos na mão etc. Aínós montamos esse SACC [Sistema de Acompanhamento de ContrataçõesColetivas]. A gente, dentro do SACC, a gente procurou montar um painel com asprincipais negociações coletivas realizadas no Brasil. Então, o quê a gente fez? Agente pegou as negociações paradigmáticas para o conjunto das negociações emnível nacional, em nível regional e em nível setorial, resultou: hoje nós estamoscom 225 negociações acompanhadas, na época nós tínhamos 94, tá? unidades denegociação que a gente acompanhava. Então, o quê a gente faz? A gente cadastratodos os documentos que a gente tem, cadastra, tanto as características danegociação. Então, negociação do quê? Metalúrgicos, Químicos, Alimentação,Processamento de dados, Bancários, Jornalistas, “nananan”, em quê lugar? SãoPaulo, “papapapapa”. Que data base tem? Tá? Então, as características de como éque são esses documentos, a quem abrange esses documentos, quais são ostrabalhadores que são contempladas por ele, e os conteúdos desses documentos, então, esse cadastramento dessas cláusulas que estão nesse acordo, eles tepermitem fazer qualquer tipo de corte nos conteúdos das negociações. Então, umdeles é gênero. Já teve questões sobre saúde que a gente fez trabalho sobresaúde, sobre jornada de trabalho, sobre terceirização, sobre remuneração, sobre oque você quiser, você tira de lá. No caso de gênero, nós fizemos esse primeirolevantamento. Então, ah! Vou falar um pouquinho mais do [SACC] esse sistema deacompanhamento. Então, a gente tem uma metodologia que a gente desenvolveuno decorrer da história do DIEESE. Eu tô lá desde 1978, eu acabei caindo nessahistória dos acordos em 1980 e a gente já vinha desenvolvendo umametodologia de classificação dos temas tratados num acordo, a gente vem até hojeaprimorando isso, lógico, então a gente tem um sistema de classificação dos temastratados e, esse tipo de cadastramento te permite abordar qualquer tema ereclassificar inclusive, reagrupar de acordo com o interesse do tema que você estátrabalhando ou analisando naquele momento. No caso das questões de gênero,quando o Fundo de Gênero Canadense pediu, solicitou que a gente fizesse em 1997eu acho, de novo, é, 1997 que a gente fizesse um levantamento das cláusulas degênero, nós fizemos todo um agrupamento, fizemos esse seminário que eu falei paravocês, com as sindicalistas, fizemos o agrupamento das, o desenho do que a gentequeria procurar, o que a gente considerava como gênero, por exemplo, a definiçãode gênero foi dada pelas sindicalistas ali. Então, é o trabalho da mulher, são asquestões de equidade, é. As próprias sindicalistas em conjunto com a gente, a gentefez o esboço do tipo de classificação das cláusulas que ia fazer, fizemos umlevantamento do que existia, em que categoria, como tinham evoluído no período de1993 a 1996, esses direitos, ou tinham involuído, se tinha um retrocesso. E aabordagem, o que essas cláusulas abordavam? Como é que elas vinham sendotratadas etc. etc. etc. Bom, aí o que aconteceu? Nessa época, a Laís Abramo, quehoje é diretora do OIT do Brasil, estava na OIT Chile, viu esse trabalho, elatrabalhava gênero e ficou encantada e falou: “É isso que eu quero. Queroreproduzir isso que vocês fizeram em outros países da América Latina.” E aí nósfizemos exatamente a mesma metodologia que nós utilizamos para fazer o nossotrabalho aqui no Brasil. Nós tivemos um seminário, acho que foi em Lima, acho quefoi. Enfim, nós tivemos um seminário com outras entidades de pesquisa daArgentina, Venezuela, México, Uruguai, Chile e Paraguai e replicamos esse tipo declassificação que a gente tinha feito. Na verdade, fizemos um seminário para queelas conhecessem como é que era o nosso sistema de classificação e esse trabalhofoi reproduzido em outros países. Foi daí que você achou e aí a gente tem umaanálise hoje do período 1985 a 1986; de 1993 a 1996, depois de 1996 a 2000.P/2 – Só mata uma curiosidade sobre isso: como que as mulheres respondem aesse tipo de trabalho?R – Muito empolgadas, muito empolgadas. É porque é um drama cotidiano o queas mulheres vivem nos seus trabalhos, nos seus locais de trabalho. Então, quandoeu te digo, por exemplo, eu me sinto até mal, até meio culpada de falar, poxa, noDIEESE essa questão não se coloca porque é um problema dramático mesmo, nodia a dia das trabalhadoras. Então, elas ficam muito empolgadas quando elas veemo resultado desta pesquisa. Já apresentei em vários lugares. Serve como umareferência para elas fazerem as reivindicações nas categorias que elas estão, servecomo um incentivo para trabalhar, para participar de uma mesa de negociação elutar pelos direitos das mulheres. Tem uma série de, e assim, tem coisas que você,até se emociona, porque eu me lembro uma vez que nós fomos para um semináriocom uma moça do Rio Grande do Norte, quando eu apresentei o trabalho ela falou:“Eu já conhecia esse trabalho de vocês e nós conseguimos colocar no nossoacordo uma cláusula que a gente nem sabia que existia, porque a gente viu notrabalho de vocês.” Então, é um negócio que você começa a perceber, adisseminação de direitos que muitas vezes estão localizados nas maiorescategorias, nos maiores centros urbanos e tal, para outras, se espalhandoenquanto direitos, isso é super-legal. Mas assim, geralmente as mulheres ficammuito, muito empolgadas com esse trabalho e é um trabalho bonito mesmo.Quando a gente vai olhar assim, poxa, você tem um roteiro ali do que você podetrabalhar para melhorar as condições de um determinado segmento da classetrabalhadora. Muito legal.P/1 – A sua formação é sociologia. Como é pertencer a uma instituição que éformada de técnicos, sociólogos, economistas e sindicalistas do outro lado?R – Ah, é muito legal. É bom. Quer dizer, eu acho que, dentro do DIEESE, você temuma multidisciplinaridade, assim, sociólogo, economista, tem um geógrafo,tecnólogo, já tivemos engenheiro de produção, hoje em dia acho que não tem maisnenhum com diversas formações também, né? mais voltados para a macroeconomia, para a microeconomia, para não sei que lá. Ah, estatístico, tem. Eu achoque é muito legal a troca de focos que a gente tem. A gente se complementa nasdiscussões que a gente tem de fazer, de análise, tal...Trabalhar com sindicalistas,você perguntou. É, a gente trabalha na assessoria aos sindicalistas, também éclaro, a gente coloca ao dispor deles, que são, na verdade, os nossos patrões entreaspas, mas que são os nossos patrões, os sindicalistas que dirigem o DIEESE. Nogeral é um diálogo muito bom, muito tranquilo. Se é que eu entendi.P/1 – Não. Porque o DIEESE é formado desses dois pesos da balança: ossindicalistas e os técnicos. Daí, para você que está aqui há tanto tempo, como vocêvê essa relação deles?R – Sim, eu acho que a gente conseguiu chegar num ponto legal de trazer a teoria,colocar a teoria como um instrumental de ação para os sindicalistas. Acho que nósconseguimos. Os sindicalistas sabem usar o DIEESE de uma forma bastanteproveitosa e a gente se acostumou, se afinou, para antenar o que eles estãoprecisando, o que o movimento sindical está precisando para a sua ação. Acho queo DIEESE também funciona como… a gente tem uma gama muito grande, umadiversidade muito grande de correntes políticas dentro do movimento sindical, oDIEESE funciona, por tratar das questões tecnicamente, não partidariamente dasquestões. O DIEESE funciona como um ponto de encontro de diversas correntesque trabalham no movimento sindical, funciona de uma forma positiva,como um ponto de encontro e de vibração entre os sindicalistas. Deixa eu só falarum negócio para vocês, vocês têm uma pergunta mais específica sobre a pesquisasindical?P/1 – Não, eu já me dei por satisfeito com o que você tinha falado,mas você querfalar de alguma coisa?R – Não, é porque eu falei só do SACC? Porque a gente foi para a questão degênero. Eu acho que era bom falar um pouquinho dos outros também, de como éque se colocou a, quer dizer, como é que esses, assim, pegando mesmo essapergunta que você fez, os sindicalistas, como é que o DIEESE trabalhou? Eu achoque esse é um bom exemplo: você tem a pesquisa sindical que é o resultado daação sindical. Como é que o DIEESE pega, sistematiza essas informações e colocaessas informações para os dirigentes sindicais, que é o resultado do trabalho dosdirigentes sindicais para que os dirigentes sindicais possam avaliar a sua ação e usaresse tipo de informação para dar continuidade a sua ação, como subsídio a suaação. Então, por exemplo, as negociações coletivas de trabalho, quando a genteanalisa os resultados das negociações salariais, de reajustes salariais, de pisossalariais – ontem mesmo a gente fez uma divulgação sobre pisos salariais – , o quê agente está dizendo? “Olha, o movimento sindical organizado conseguiu que asnegociações se dessem dessa forma, a maioria das categorias conseguem repor oINPC [Índice Nacional de Preços ao Consumidor], os pisos salariais se mantêm em um determinado patamar e os dirigentessindicais, o próprio resultado da ação dos dirigentes vira um instrumento paracontinuidade da ação. Quanto que é importante esse trabalho que a gente faz. Achoque esse é um bom exemplo da integração entre técnicos e sindicalistas quevocê perguntou. Por exemplo, o resultado das greves: a gente subsidia o cara paraele dizer: “Olha, nós temos aqui um _______________” A maioria das greves no decorrer da história foi por atraso de salário, foi por descumprimento de lei. Como é que nós vamosdiscutir uma lei de greve que obrigue a determinadas, ao cumprimento de umdeterminado ritual, quando a própria legislação está sendo descumprida. Os patrõesestão atrasando o pagamento de salário, estão descumprindo lei e nós vamosquerer discutir como é que nós vamos fazer para ter uma greve dentro de uma sériede procedimentos, quando aqui é caso de polícia, nós não precisamos nem de muitomais do que dizer que não cumpriram o que tinham que cumprir. Então, é uma sériede questões que a gente consegue captar, que____________ a ação se transformandonovamente em ação. A ação subsidiando a própria ação.P/2 – E vocês estão transformando isso em outros trabalhos.R – Nós estamos então, nós temos esses bancos, temos ______________.Agora nós estamos com um, bom, foram muitos anos de trabalho em cima disso, isso tudo já foi em papel, como eu falei para vocês. Então, o primeiro banco de dados de acordos, o primeirosistema de acompanhamentos de acordos era um banco de dados que foi feitoespecificamente para os acordos coletivas das empresas estatais, hoje o SACC, eleveio disso, ele começou como um banco de dados de acordos das empresasestatais. Foi um pool de entidades sindicais, representativas de trabalhadores deempresas estatais que solicitou do DIEESE uma metodologia para cadastrar oresultado das negociações deles que se traduziam em acordos coletivos detrabalho. E aí, o DIEESE montou um sistema, começou acompanhar o resultado dosacordos coletivos estatais, depois nós fizemos uma ampliação disso para o setorprivado também. Em 1992, nós começamos a expansão desse sistema, esse sistemaque eu falei para vocês, que é o SACC, que resultou nesse trabalho de gênero eque é um dos trabalhos que ele resultou foi na questão de gênero e muitas outras.E que possibilita o quê? Captar as características das negociações coletivas detrabalho, a sua evolução no decorrer do tempo, as especificidades de setores, dascondições de trabalho de determinados setores, das regiões geográficas etc.Paralelamente, nós montamos o sistema de greves que também era tudo à mão, erarecorte de jornal, a gente, poxa, no início datilografava, era coisa assim [risos], efazia o acompanhamento através das principais características das greves. A gentetem informações desde 1983 das greves, sistematizado e informatizado. Este de salários, foi desde 1996, este de reajuste de pisos, de salários, que eu faleipara vocês.P/2 – São três grandes grandes bancos de dadosR – São três grandes bancos de dados, é. São três grandes sistemas deacompanhamento que são um resultado de décadas de trabalho do DIEESE.P/2 – Vocês estão atualizando __________________R – Estamos atualizando. Nós temos uma equipe montada para isso, para atualizar. E a gente a gente tem divulgações, na verdade semestrais, dos três bancos. Umavez por semestre, a gente diz: as greves no primeiro semestre; as greves no ano; osreajustes no semestre; os reajustes no ano; os pisos no semestre; os pisos no ano;cláusulas sobre terceirização; sobre gênero; sobre qualificação da mão de obra.Então, uma série de trabalhos que saem desses bancos.P/2 – De onde vêm esses dados? Tem gente que vai lá, como que é essa coleta?R – É, a coleta foi evoluindo também de acordo também com a evoluçãotecnológica, que é um negócio que a gente há de considerar. Então, as fontes dos SACCssão acordos e convenções coletivas mesmo, a gente trabalha comdocumentos. A fonte do de salários além dos acordos e convenções coletivas sãonotícias de jornal, e a fonte das greves é notícias de jornal, tanto imprensa sindical,quanto imprensa comum, quanto imprensa – sempre escrita. Bom, agora com oavanço da tecnologia a gente consegue, por exemplo, pegar os acordos nos sites.Muito mais fácil. Antigamente você tinha que ligar para Manaus e, quando conseguiacontato, para pedir os acordos, para mandar para o DIEESE, agora a gente tem sitesque a gente procura. As greves, a gente sempre contratou serviços de clipping, quemandam informações e a gente sistematiza, mas agora também, com a Internet,praticamente os meninos, diariamente entram em sites e acham notícias, fora osclippings, continua a ser a nossa fonte principal os clippings, . A mesma coisa ossalários também. Agora, a gente só trabalha com informação registrada, . Mesmoque seja informação da imprensa – é do jornal do dia tal, a gente tem toda essapreocupação em ter a fonte coletada específica ali.P/2 – Deve dar um trabalhão!R – Infernal. Hoje em dia ainda é muito mais tranqüilo do que já foi. Você não temideia do que era pegar coisinha por coisinha, datilografar, corrigia datilografia, simporque a datilógrafa datilografava, mas a datilógrafa só datilografava, aí você temque ver se ela transcreveu certinho, se não falta um pedaço, se a palavra está.P/1 – Um número...R - Era uma coisa impossível! Impossível! Os acordos então, nossa! [risos] Eulembro das planilhas que faziam, de comparação, eu tenho até hoje guardado,umas planilhas lá. Então, vamos comparar os acordos. Então, o quê eu fazia? Eupegava o acordo e dizia – lembro de um trabalho que a gente fez para Manaus,Metalúrgicos de Manaus -, então, eu peguei a pauta dos Metalúrgicos de Manaus, oacordo dos Metalúrgicos de São Paulo, os acordos dos Metalúrgicos de SãoBernardo e o acordo anterior dos Metalúrgicos de Manaus. Então, era uma planilhadesse tamanho, eu colei com durex, uma planilha quadriculada com régua. Aí vem,a pauta, o acordo de Manaus, “parapapa”, cláusula por cláusula com lápis, tá escritoaquilo. Então, é o acordo tal, dizia, a cláusula um diz isso, isso e isso. Nesse acordodiz isso, isso e isso, nesse acordo diz isso, isso e isso. E hoje os meninos reclamamporque o computador é lerdo. [risos].P/1 – Por que tem que fazer no Excel?R – É, o cara entra lá, ele pega, copia, corta, copia, “papapa”, e tá pronta a tabela. Eulevei um mês fazendo aquilo, lendo um por um, copiando, corrigindo depois.[risos] E eles reclamam. Acham muito lerdo.P/2 – Trabalho muito minucioso.R – Muito, muito. Muito detalhe tem que ser muito criterioso, tem que ter muitapaciência acima de tudo. Tanto que o perfil da equipe é ser detalhista, a nossaequipe é toda detalhista. A gente vai e corrige e confirma, aí não sei o que, aconsistência “tarárá” e tem que ser, inclusive porque a gente também tem umaformação que o DIEESE não podia, o DIEESE tinha que ser uma fonte com amaior credibilidade. Nós já tínhamos problemas demais por ser um departamento deassessoria ao movimento sindical no meio de uma ditadura, então o critério, ocuidado com a qualidade das informações, com a fidedignidade do que você estáafirmando, tinha que ser redobrado, triplicado, então todos são muito paranóicoscom esta coisa de “Não, tem que sair, tem certeza absoluta, o dado é esse mesmo,vamos ver de novo, vamos processar de novo, ver se é isso mesmo”. Porque temque sair o mais refinado e, ainda mais, em cima de um dado como esse, né? Secresceu o número de greves, se diminuiu o número de greves, se melhoraram asnegociações ou se pioraram. Você tem que ter muito cuidado nas afirmações.Então, é uma equipe daquelas chatas, mesmo [risos] Tem que ter tudo direitinho,tanto que nós já tivemos questionamento: “Mas eu não tive na minha empresa, nãosei que”, “ah, você não teve, espera só um pouquinho.” Vai lá o recorte, tá lá,entendeu? “Olha, está aqui, jornal tal, dia tal, dizendo isso, aquilo, aquilo, você querque eu mande por correio uma cópia da matéria?”. Já cheguei nisso, mandar porcorreio. “Tá, não, é sim, é verdade, teve greve na minha empresa?” “Tem, vocêsabia disso”, só queria ver se a gente tinha prova, entendeu? Então é isso, nóssempre tivemos muito cuidado na montagem desses sistemas e depois na análisedessas informações. Também muita informação, muito detalhada.P/1 – Você já falou um pouco disso, mas eu queria retomar ainda que, desde que agente começou o projeto de memória, a gente viu que tiveram muitas mulheres comum papel muito importante na história do DIEESE. Na entrevista de ontem, daCláudia Fragoso, ela ainda citou que do corpo de pessoas que trabalham com oDIEESE, a maioria é mulher hoje em dia. E para você, sendo mulher, como étrabalhar no DIEESE?R – É ótimo até falei para a Carolina, até me sinto meio culpada em relação à médiadas trabalhadoras brasileiras, porque isso nunca se colocou como um problema, aocontrário, eu acho que, não é nem ao contrário, eu poderia dizer, acho que é umdado, a gente no DIEESE... É uma relação muito de iguais. Nós não temosdificuldade em lidar com esta questão. É uma relação de iguais.P/1 – O DIEESE então, ele vivencia a prática que ele pesquisa? Ele é coerente?R – Com certeza. Totalmente coerente. Os meninos e as meninas se dão superbem, e reconhecendo as diferenças mesmo, de abordagens. Tem certas questõesque nós mulheres temos mais facilidade de lidar, na minha opinião, tá, aí não temnada a ver com trabalho de gênero, em nada. Tem certas pessoas que nós temosmais facilidade de lidar, no geral os homens têm mais dificuldade de lidar comproblemas mais emocionais, as mães resolvem melhor estas questões do que ospais, não é verdade? Então, muitas vezes é até valorizada esta habilidade que agente tem por parte dos meninos, eles reconhecem as suas dificuldades e, numasquestões até, “Você não quer ir lá resolver?” [risos] “Acho que é mais para vocês,sabe?” Nós não temos esse… E é assim, enquanto profissional não me lembro de... aminha equipe por exemplo, é só de homem, é só de homem. Uma menina foicontratada faz dois meses, temos dois técnicos, um e dois, tínhamos dois auxiliares,um agora foi para técnico e saiu do setor e mais quatro meninos em estágio – trêsmeninos em estágio – , entrou uma menina agora. Eu sempre fui a mais velha, aúnica mulher e nunca tivemos nenhum problema, nem assim, quando a gente tá emposição de coordenação, nem quando a gente está em posição de subordinação aum homem, nós nunca tivemos problemas, em nenhuma das posições da hierarquia.Nunca tivemos problemas enquanto mulheres. Se alguma te contar, você pede paraela contar para mim, qual é o problema? [risos] A gente vai ter que investigar oque aconteceu.P/2 – Por enquanto ninguém reclamou.R – Não é, pelo contrário, .P/1 – Qual a maior contribuição do DIEESE para o movimento sindical?R – Ah, meu Deus. A maior?P/1 – Na sua opinião.R – Na minha opinião, deixa eu pensar, porque a maior contribuição do DIEESEpara o movimento sindical. Ah, eu acho que é assim. Bom, primeiro ser esse espaçode convivência entre as diversas correntes e a possibilidade de um projeto único, ouum projeto, quer dizer nem único porque poderia, mas um espaço de discussão dequestões importantes para o movimento sindical sem a contaminação da questão,das divergências naturais que existem entre as correntes que muitas vezesimpedem o diálogo e que dentro do DIEESE isso não existe. Ah depois eu acho queé essa produção que a gente faz, essa produção técnica do DIEESE, que é uminstrumento que acho que, que a gente sabe, acho que muita gente já deve ter ditoisso para vocês, que a gente sabe é a única instituição do mundo que conseguiu, é.Acho que vocês já ouviram isso várias vezes, né? A gente já ouviu muito noestrangeiro: “Mas que coisa fantástica que é isso!” É, uma contribuição aí, e eu achoque é para a sociedade em geral, é para o movimento sindical, para a sociedade emgeral. É uma instituição como o DIEESE ter sobrevivido a tudo e a todos, numahistória tão difícil quanto a História do Brasil nesses 50 anos, ter sobrevivido e tersobrevivido com a qualidade e com a dignidade que tem sobrevivido. Essa garrade… É, eu acho que eu citaria isso como contribuições do DIEESE.P/2 – Deixa eu fazer uma pergunta, até um pouco fora do roteiro mesmo. Já foifalado anteriormente que o DIEESE é a única experiência no mundo. E assim, forado Brasil, tem algum reconhecimento?R – Muito. Tem, tem muito. A Suzana já falou com vocês? Que ela é das relaçõesinstitucionais, ela podia aprofundar um pouco mais isso. Mas tem, o DIEESE éfrequentemente, recorrentemente chamado para várias discussões com organismosinternacionais, institutos de pesquisa internacionais, com entidades sindicaisinternacionais. O DIEESE é frequentemente chamado, visitado. Eu me lembro domundo inteiro, até OLP {Organização para a Libertação da Palestina] já esteve no DIEESE conversando com a gente sobre essaexperiência que nós somos. Mas a gente tem o reconhecimento tanto deentidades sindicais, institutos de pesquisa, governo de diversos países, tem sempreessa... O DIEESE é chamado para participar de eventos, fazer discussões, temasquestões.P/1 – Agora, saindo do movimento sindical. Você falou agora pouco detransformação social. O DIEESE é importante para a sociedade?R – Muito. Só faltava eu falar que não, .P/1 – É uma pergunta redundante.R – Muito importante. Muito importante no sentido de colocar, instrumentalizar aclasse trabalhadora com informações para disputar a renda nesse país, que é acoisa mais importante para a sociedade em geral, uma melhoria na renda, no níveleducacional, na saúde da população, eu acho que é o que todo mundo quer. É, oDIEESE tem um papel bastante importante nesta disputa e instrumentalizando aclasse trabalhadora como um todo através das suas representações, mais deinformações para entrar nessa briga aí, disputar as grandes questões nacionais, é osalário mínimo, a previdência, a questão da saúde, são todas as grandes questõesque se colocam, para que o Brasil entre em um outro patamar. [risos].P/2 – Dentro disso, você acha que há perspectivas para o DIEESE no futuro?R – Ah, sim, com certeza, a produção de conhecimento, a produção. É a análise dasociedade brasileira pela perspectiva da classe trabalhadora. Isso, acho que nuncavai deixar de ter importância: é a classe que produz, a maioria da população, aclasse mais lesada, ou seja, a produção de conhecimento visando, procurandocaptar a realidade pela perspectiva da classe trabalhadora é o passado, o presentee é o futuro, eu não vejo como não ter uma importância decisiva um trabalho doDIEESE dentro dessa sociedade.P/1 – Vinte e oito 28 anos aqui dentro. Qual a maior lição que você tirou da sua vivênciadentro do DIEESE?R – Ter envelhecido [risos] Ter virado gente. Porque na verdade é difícil, 28 anos é a vida inteira! Eu entrei com 21, tô com quase 50, então, qual a maior lição? É a convivência mesmo, viu, com todas as diversidades e a aceitação dessas diversidades. Acho que… Você sabe aquela? Tem uma música que eu gosto, acho maravilhosa, todo mundo acha boba, mas eu acho ela maravilhosa. Ela diz que vai… como é que é? Que vai ter festa no gueto? Misturando o mundo inteiro vamos ver no que dá? Eu acho que o DIEESE é um pouco isso, você sabe? Tem gente de toda cor, tem raça de toda fé, guitarra de rock’n’roll, batuque de candomblé. Tem de tudo e a gente consegue transformar isso numa coisa muito produtiva. Eu lembro de um dirigente sindical, o Pereira, de Guarulhos, é eu acho que ele era dirigente de Guarulhos. Ele foi presidente do DIEESE quando o DIEESE fez 40 anos e ele falou “Olha, o DIEESE me impressiona muito.” Eu acho que tinha até que resgatar essa fala deste cara, outro dia eu tava lembrando disso não sei por que, mas, ele tá gravadonos 40 anos do DIEESE, mas essa fala tinha que resgatar. Ele dizia assim: “Que oDIEESE é uma coisa muito especial, você entra aqui você vê de tudo. Você vê todotipo de gente, de tudo quanto é jeito, de tudo quanto é tipo, ninguém implica comninguém e todo mundo trabalha muito.” [risos] Que é essa coisa que eu acho que agente tem de legal é a coisa de valorizar muito o trabalho. Valorizar de verdade,tanto o trabalho no sentido mais conceitual, quanto o trabalho cotidianoda gente e o trabalho enquanto tempo que a gente trabalha, que é o nosso tema, éo trabalho. Então, essa valorização do trabalho de uma forma que a gente procura omáximo possível, acho que isso é um perfil da equipe, você já deve ter conversadocom muita gente, vocês devem ter percebido isso. É um perfil da equipe, de tornaras coisas mais agradáveis, mais leves e que cabe tudo, as pessoas cabem dentrodas suas diferenças. Quando você tem um projeto maior mesmo e que é um projetoque tá baseado na solidariedade, na justiça, na igualdade, na integridade. Aí, quandoas coisas estão assentadas nessas bases, estão sendo trabalhadas de uma formacoletiva, aliás eu acho que na verdade eu ressaltaria isso como a coisa maisimportante que eu aprendi: é o coletivo mesmo. Coletivo de verdade, de vocêpriorizar, mesmo que seja em detrimento, em detrimento de vaidades, de posiçõespessoais, mas de você priorizar a participação das pessoas na construção de umobjetivo maior, de uma sociedade mais justa.P/1 – Você tem um sonho?R – [risos] Tantos, vários, muitos.P/2 – Algum mais específico?R – Um sonho mais específico? Ah, o sonho de as pessoas poderem ser felizesneste mundo, de uma forma geral, seja qual for a felicidade delas desde queninguém saia prejudicado com a felicidade de alguém [risos], mas que as pessoaspossam realizar os seus sonhos e eu sou uma delas, entendeu? Os meus sonhospodem ser grandes ou pequenos, mas eu gostaria que todo mundo tivesse a chancede realizar os seus sonhos. É o meu.P/2 – As pessoas com quem a gente conversa um envolvimento muito pessoalmesmo com o DIEESE. Isso como que é para você? A sua vida pessoal e otrabalho?R - É confuso, é tudo muito confuso. Para você ter uma ideia, meu filho quando erapequenininho, cantava: “Papai foi pra roça, mamãe foi pro DIEESE.”Coitadinho, ele jánasceu assim. Como o trabalho do DIEESE, a gente sempre teve muito poucosrecursos para poder fazer o nosso trabalho, os recursos financeiros sempre forammuito limitados, a gente teve que dar tudo da gente para poder levar esse projeto,em algum momento, de uma forma muito difícil mesmo, que não tinha jeito, nãoexistia outra forma a não ser você se matar de trabalhar. Então, as coisas vão semisturando. Como eu te disse mesmo, é um trabalho profissional e é uma militânciapessoal, também, então, não é só sacrifício não, o nível de envolvimento que a gente acaba tendo é um envolvimento que você tem com seu trabalho. Que você fala: “Eu não vou terminar, enquanto eu não terminar isso aqui eu não vou, eu não vou embora, vou ficar, vou levar junto, vou levar para casa, vou fazer.” As coisas acabam mesmo se fundindo muito, a tua vida profissional, a tua vida pessoal. Imagina, uma pessoa que passou mais do que a metade da vida aqui, o que eu posso te dizer, um super envolvimento e é um envolvimentovoluntário, não há nenhuma imposição, eu não me julgo lesada, vítima,nada disso, pelo contrário, é uma opção, eu não teria optado por sair daqui nunca,é o trabalho que eu escolhi para mim e eu falei, quando eu entrei aqui eu pensei,“Poxa vida, eu acho que achei minha turma, era isso mesmo que eu queria.” Faztanto tempo e estou aqui até hoje, então é inevitável que seja um envolvimentomuito grande mesmo.P/1 – E como você vê o DIEESE num futuro próximo?R – Ah, eu vejo ele crescendo. Vejo crescendo. Eu acho que a gente, eu tenho esseviés que eu sou apaixonada por essas pesquisas, então é difícil de, eu vejo essaspesquisas como uma ponte, um laço muito forte com o movimento sindical, comoalguma coisa que cola mesmo no movimento sindical, então eu vejo grandesperspectivas para estas pesquisas crescendo e se espalhando por aí, um monte defilhotinhos dela se espalhados pelo Brasil inteiro. Eu vejo o DIEESE, a gentepassou os últimos tempos muitos difíceis, vocês já devem ter ouvido os relatos,passamos momentos de crise nestes últimos tempos, mas eu sinto que agente está conseguindo sair e se consolidar e colar no movimento sindical, tergrandes projetos de ação: agora nós estamos investindo na área da educação. Alguém já falou para vocês da faculdade DIEESE? Que tem como projeto, eu achoque é uma das possibilidades que o DIEESE tem de avançar; acho queaprofundamento nas pesquisas. Vejo especialmente em metodologia depesquisa. Acho que a gente conseguiu consolidar uma base de dados bastante rica,bastante interessante. Agora a gente tem que se aprofundar na análise destas basesde dados e acho que a gente está preparada para isso, já estamos razoavelmentepreparadinhos, mas precisamos investir em metodologia mesmo. Eu vejo boasperspectivas. E vejo assim, uma grande aproximação com o movimento sindicalnesses últimos tempos, acho que, porque na verdade é o seguinte, oque nos credencia, o que credencia o trabalho do DIEESE é o movimento sindical. Eo que nos dá a credibilidade é a qualidade da nossa produção. Então, eu acho que agente consolidou isso, eu acho que a tendência é de crescimento mesmo, de agente aprofundar o que a gente veio fazendo até agora.P/1 – E desafios, para o DIEESE? Você deu as suas perspectivas, mas e osdesafios?R – Os desafios, acho que é conseguir mesmo, os desafios são o que a gente tem deperspectiva, é conseguir avançar. É conseguir avançar, é conseguir, a partir dessaconsolidação que eu acho que a gente está tendo do nosso trabalho, conseguir secolocar, na verdade eu acho que é conseguir continuar se colocando com aqualidade e com a credibilidade. Eu acho que esse nem é um desafio, acho é umdesafio do DIEESE em si. Por todas as características que ele tem. Por ser domovimento sindical, por analisar pela perspectiva da classe trabalhadora, por ter queo tempo inteiro, estar sendo muito reto e muito firme na sua conduta. Então o desafioé esse, é continuar no passo que a gente vem vindo há 50 anos.P/2 – O DIEESE tem bastante trabalho em coletas de dados, trabalhos sistemáticos.O que você acha de agora o DIEESE estar este projeto de memória queaparentemente não tem nada a ver com o quê o DIEESE faz?R – Ah, não, eu acho que tem sim. Eu acho que esse projeto de memória faz partedessa consolidação da nossa história, sabe? Pra gente que tem essa noção tão fortedo que história, do que é a construção, produção de conhecimento, análise deinformação, coleta, sistematização da informação. Ah, Nossa Senhora! Um projetode memória que consolide a nossa história é fundamental. É fundamental. Éimportantíssimo! Que essa experiência, experiência única é tão específica e aomesmo tempo tão fecunda. Como é que nós não íamos fazer um projeto deste.Ninguém mais do que a gente tem que fazer. Pelo amor de Deus!P/1 – O que você achou de participar do projeto de memória do DIEESE?R – Ah, super-legal, super-legal. Embora eu tenha me sentido um pouco uma peçade museu assim [risos] Isso é legal, isso significa que você, então, agora vocême perguntou que me veio na cabeça: eu sentia que eu tava olhando para umahistória assim, como se fosse um filme, mas que era super importante, né? Quandoeu entrei aqui. Agora, poxa, eu tô nessa história. Fazendo parte, tendo construídoessa história, muito difícil você pensar essa sensação, é muito difícil. “Será que teveimportância mesmo alguma coisa do quê eu fiz, e tal e tal?”. Mas poxa, estouparticipando da memória, teve alguma importância e é super legal. Valeu terparticipado desse monte de décadas da história e da memória também. Valeu.P/2 – Obrigada.P/1 - Obrigado.
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