Meu nome é Terezinha Caldeira Lacerda, nasci em Pitangui, Minas Gerais, interior em 10 de junho de 1952.
Eu comecei na Petrobras em 1986. Eu trabalhava em empreiteira, ia me separar e queria voltar para Belo Horizonte, com dois filhos pequenos, pensei: “Pô, voltar para cidade grande com dois filhos, sem emprego, é complicado.” Fiz o concurso da Petrobras, passei e entrei dia dois de maio de 1986. Com um ano em São Mateus, pedi transferência para Belo Horizonte. Já separada.
Quando cheguei aqui, eu trabalhava na AMS, mas pedi para sair. A AMS é Assistência Médica Supletiva. Eu pedi para sair para um outro setor, porque eu trabalhava diretamente com autorização de coisa. Eu achei que aquilo já estava precisando mudar. Eu tenho mania de mudar.
Fui para o setor de orçamento, gostei muito, foi muito bom trabalhar com orçamento. Vinha exatamente em contrapartida daquilo que eu sou. Como sou uma pessoa muito passional, trabalhava com a lógica, com números, dava um equilíbrio. É interessante essas coisas de trabalho, você trabalhar com aquela coisa que te dá um equilíbrio emocional. Você, muito passional, trabalha com números. Fiquei bastante tempo, até 1997, quando surgiu a oportunidade para eu descer, para ser operadora.
Eu fui trabalhar no coque. Fui operadora durante cinco anos. Aí, correram comigo de lá. Eu trabalhei durante um ano e meio na ponte rolante - se vocês tiverem oportunidade de conhecer, é uma ponte em que você trabalha com uma caçamba de seis toneladas, manuseando uma caçamba de seis toneladas - e era um trabalho interessante também, porque eu trabalhava sozinha lá em cima a 30, 40 metros de altura e gostava, porque gosto de trabalhar sozinha. Esse negócio de ficar livre. Depois desci, fui para o processo, fiquei três anos trabalhando no reator e depois correram comigo de lá.
Saí de lá e vim para o C.R.H. Faço, mais ou menos, uma ponte entre o pessoal do processo e o pessoal do administrativo. Eu cuido do...
Continuar leituraMeu nome é Terezinha Caldeira Lacerda, nasci em Pitangui, Minas Gerais, interior em 10 de junho de 1952.
Eu comecei na Petrobras em 1986. Eu trabalhava em empreiteira, ia me separar e queria voltar para Belo Horizonte, com dois filhos pequenos, pensei: “Pô, voltar para cidade grande com dois filhos, sem emprego, é complicado.” Fiz o concurso da Petrobras, passei e entrei dia dois de maio de 1986. Com um ano em São Mateus, pedi transferência para Belo Horizonte. Já separada.
Quando cheguei aqui, eu trabalhava na AMS, mas pedi para sair. A AMS é Assistência Médica Supletiva. Eu pedi para sair para um outro setor, porque eu trabalhava diretamente com autorização de coisa. Eu achei que aquilo já estava precisando mudar. Eu tenho mania de mudar.
Fui para o setor de orçamento, gostei muito, foi muito bom trabalhar com orçamento. Vinha exatamente em contrapartida daquilo que eu sou. Como sou uma pessoa muito passional, trabalhava com a lógica, com números, dava um equilíbrio. É interessante essas coisas de trabalho, você trabalhar com aquela coisa que te dá um equilíbrio emocional. Você, muito passional, trabalha com números. Fiquei bastante tempo, até 1997, quando surgiu a oportunidade para eu descer, para ser operadora.
Eu fui trabalhar no coque. Fui operadora durante cinco anos. Aí, correram comigo de lá. Eu trabalhei durante um ano e meio na ponte rolante - se vocês tiverem oportunidade de conhecer, é uma ponte em que você trabalha com uma caçamba de seis toneladas, manuseando uma caçamba de seis toneladas - e era um trabalho interessante também, porque eu trabalhava sozinha lá em cima a 30, 40 metros de altura e gostava, porque gosto de trabalhar sozinha. Esse negócio de ficar livre. Depois desci, fui para o processo, fiquei três anos trabalhando no reator e depois correram comigo de lá.
Saí de lá e vim para o C.R.H. Faço, mais ou menos, uma ponte entre o pessoal do processo e o pessoal do administrativo. Eu cuido do pessoal do processo. Quando comecei a fazer esse trabalho não notei, aliás, quando eu trabalhei no processo vi que os operadores, o pessoal que trabalha em processo é muito abandonado, eles ficam à mercê, porque trabalham de turno, têm pouca convivência com o pessoal administrativo, então eram meio largados. Eu vi uma brecha para cuidar. E como estou fazendo psicologia, foi bom essa de observar, de tentar melhorar a vida deles. A gente tem melhorado a qualidade de vida deles no sentido de alimentação, limpeza, cuidando realmente daquelas coisas que eles precisam. A partir do Sedil (Setor de Destilação) para baixo até o Coque (Unidade de Coque) é todo um processo. O pessoal trabalha de turno, é sacrificante porque eles trabalham três dias de oito horas às quatro horas, três dias de quatro e meia à meia-noite, três dias de meia-noite às sete e meia da manhã. É um trabalho sacrificante.
Eu fico aqui até nove horas da noite, porque quando aconteceu deles me tirarem do processo, lá do Coque, eu entrei na Ouvidoria Geral. Me prejudicou demais, porque eu perdi 65% do meu salário e perdi o horário de turno, porque eu estudava, fazia de manhã psicologia e vinha trabalhar e tinha as trocas etc. Eles “acochambraram” esse horário para mim de meio-dia às nove horas da noite para eu continuar meus estudos. Eu estudo de manhã e meio-dia venho trabalhar, fico até às nove da noite, às vezes até dar nove e 15. Se acontece algum problema ficamos até mais tarde, porque eu cuido da parte do restaurante também de noite. Dá para olhar bem o pessoal, quer dizer, o pessoal fica abandonado de 10 horas até sete e meia da manhã. Geralmente, a gente já esquematiza, vê lanche, vê jantar, deixa as coisas esquematizadas para a noite.
Sessenta pessoas por turno ou mais. Mais ou menos 60 pessoas e é um serviço tenso, um serviço em que o pessoal é pressionado. É o que eu digo, além do sacrifício físico, porque o pessoal sobe torre, fecha válvula e é requisitado a toda hora no rádio, é um serviço tenso porque qualquer erro pode ser fatal. O pessoal trabalha num limite de adrenalina. Não é fácil ser operador. Tem que estar muito bem cuidado. Por isso, eu faço questão que a comida deles seja muito bonitinha, bem arrumada, que você coma primeiro com os olhos e que não falte nada aqui, vai tudo arrumado, sempre limpo, sempre o banheiro deles bem cuidado porque é o mínimo que tem que ter aqui. Já que o trabalho é sacrificante, pelo menos o mínimo de conforto. E eu gosto do trabalho que faço, tem me ajudado muito no meu estudo de Psicologia. Também é uma troca, eu ajudo lá, eles me ajudam cá. É muito bom o meu serviço, eu não reclamo, só reclamo realmente de ter perdido o turno.
Vejo as coisas erradas e não sei ficar de boca fechada. Sou daquelas pessoas que dizem: “Eu não tenho papas na língua”. E é complicado isso dentro de uma empresa, aquela pessoa que “não tem papas na língua”. Se eu via alguma coisa errada, falava, punha no relatório. O que eles diziam era o seguinte: “Que eu exagerava no perigo.” Um T.O. (técnico operacional) chegou perto de mim: “Parece que você quer que aconteça um acidente.” Eu falei: “Não, o que eu não quero é que aconteça o acidente e ninguém saiba a causa do acidente. Se acontecer, já escrevi o que poderia acontecer e aconteceu.” Então, fizeram um relatório. Olha, não chegou a acontecer não. Mas, como dizem os meninos, eu era muito meticulosa na área. Qualquer coisa eu falava: “Olha, não mexo.”
Tinham outras mulheres. No Coque era eu, Rosane (Zorkot), Elda (de Fátima), a Regina saiu, agora chegaram mais mulheres, mas quando a gente começou eram cinco mulheres só, no meio desse universo todo de homem, e era muito bom.
Lógico, biologicamente somos diferentes e temos menos força física, não adianta falar: “Não, porque a mulher é forte.” Não, a gente tem menos força física, às vezes precisamos de ajuda para abrir uma válvula que está muito pesada, que está muito dura e é preciso chamar o colega que tem mais força. Às vezes você tenta fechar ou abrir a válvula e não dá conta: “Ô fulano, dá uma mãozinha aqui bicho, um macho aqui tá fazendo falta.” Mas quanto à segregação, não, eu não senti isso durante o meu trabalho. É de igual para igual e às vezes até uma válvula pesada: “Não, você dá conta de abrir sim”, “Gente, eu não dou, não dou”, “Dá conta sim” Às vezes eles até forçavam para você aprender realmente. Não via má vontade dos colegas, nunca senti exclusão, nada. É muito divertido. Eu gostava muito de trabalhar, aliás, eu gosto muito dessa parte operacional. Quando me tiraram de lá eu pedi: “Olha, não me ponha atrás de uma mesa não, que vocês vão me matar aos poucos. Não demora 15 dias estou em depressão, porque eu vou morrer.” É um serviço totalmente dinâmico, nunca é a mesma coisa, todo dia você chega na área e está tudo diferente, é bem legal mesmo. Eu lamentei muito, dei uma baqueada legal porque me tiraram do processo. Esperei mudarem as coisas dentro da Empresa. A hora que vi que tinha mudado o Governo, dentro da Empresa as coisas tinham mudado, eu entrei com um processo de assédio moral.
Na época, teve uma audiência com a Ouvidoria Geral e eu ganhei três níveis para compensar parte do salário que eu tinha perdido no turno – se bem que perdi 65% e ganhei 12 – e ganhei esse horário de meio-dia às nove horas pra continuar a estudar. Não me satisfez, mas foi o que eu consegui, a princípio. Mas não reclamo. Eu achei que fui uma das primeiras, aliás, fui a primeira pessoa aqui na Regap a entrar contra uma chefia na Ouvidoria Geral, quer dizer, ter o topete de fazer isso. Depois de mim foi uma carrada, mas fui a primeira.
É tão bom ser mulher Eu acho que a gente é assim, tão mais desbravadora, mais peituda, põe a cara na frente, mesmo aqui, no universo masculino – porque refinaria é um universo masculino. É muito gratificante você parar e pensar: “Eu sou mulher.” É muito bom.
Eu estou aqui e dou conta de ser mulher no universo masculino. Porque ser mulher é uma coisa, agora, dar conta de ser mulher é outra muito diferente. Você dar conta da sua potencialidade, dar conta do seu feminismo, dar conta do machismo e levar aquilo numa boa, sem se sentir ameaçada nem nada. Eles sempre se sentindo ameaçados. Mas eu acho que a mulher tem um potencial que, o dia que ela realmente descobrir tudo, ela vai arrebentar a boca do balão. Eu tenho um professor que fala que o dia que as mulheres dominarem, aí o mundo muda.
Eu acho isso aqui uma diversão. Eu falo com os meninos direto: “Olha, eu ganho pouco, mas eu me divirto muito.” Quando eu trabalhava no (Unidade de) Coque, tinha um casal de cachorros lá: o Forasteiro e a Tetéia. O Forasteiro era quase um labrador e a Tetéia quase uma dálmata, apareceram aqui dentro. E eu comecei a cuidar desses cachorros. Tinha uma gata também, que era a Shaninha. A Tetéia ficou grávida. Teve cinco cachorrinhos lindos, a cara do Forasteiro, todos cor de palha, uma gracinha. E eu tive, inclusive, que pôr um aviso lá, onde ela estava: “Não carreguem os cachorrinhos, porque eles estão mamando ainda.” A hora que acabou o desmame eles carregaram os cachorros todos e a Tetéia. E os chefes implicando comigo por causa dos cachorros: “Esses gatos vão entrar dentro de uma gaveta de PT (ponto de transmissão por onde passam os circuitos elétricos), vai estourar tudo, que não sei mais o quê...” E eu dando comida, eu vacinava, trazia remédio, trazia biscoito, a cachorra me adorava. A hora que eu chegava ela ficava lá na esquina esperando o meu carro. Era impressionante. Ela sabia o horário que eu vinha trabalhar. A Shaninha também teve um monte de gatinhos e eu cuidei dos gatos. O meu chefe um dia falou: “Olha Terezinha, nós vamos mandar recolher.” Eu falei: “Olha, Leandro, o seguinte: enquanto eles estiverem aqui, eu vou cuidar deles. Se você quiser mandar matar, o que você quiser mandar fazer, você pode fazer. É um direito seu. Enquanto eles estiverem aqui, eu vou cuidar. Agora, depois, quem vai acertar com o Francisco de Assis lá em cima é você.” “Eu vou dar esses gatos.” Mas, com o tempo, veio outro chefe e recolheram o Forasteiro. Eu chorei uma semana. Um dia, eu cheguei e o Forasteiro não estava. “Oh, meu pai, cadê o Forasteiro?” Só estava a Tetéia. E ela estava com a ninhada. Por sinal, ela pôs chifre no Forasteiro, porque os cachorros nasceram assim, tudo rottweiler, tudo marrom. Eu falei assim: “Gente do céu, que é isso?” Eles esperaram eu entrar de férias e quando eu voltei a cachorra tinha sumido com a ninhada, eles tinham dado um fim nela. Eu chorei um bocado de tempo. E agora tem só uma gatinha branquinha lá embaixo. Eu saí do Coque, não estou mais lá. Na hora que eu chego com o carro ela já vem “miau, miau”. Tem os passarinhos lá no C.R.H. (Coordenação de Recursos Humanos) que eu cuido, tem uns micos, uns oito micos que aparecem, tem os peixes, a gente vai cuidando, vai adotando tudo. Eu acho animal formidável. Porque no animal você não tem deslealdade, ele é leal. Você pode chegar aqui triste, chateada, amolada, você fala: “Psi, psi, vem.” Eu cheguei ali no cisne, chamei e ele veio nadando, nadando, numa boa. Eu só não chego muito perto ainda, mas ele já está... Você vai adulando, vai cativando e eles vão se aproximando.
Eu falo sempre com o pessoal, porque o pessoal às vezes reclama: a Empresa não é ruim, a Empresa é sensacional, o problema é quem dirige. Mas uma coisa que eu sempre admirei na Petrobras – que é o mais importante nessa coisa toda, fora a questão da independência, da questão do petróleo etc – é que o dinheiro que ela lucra, ela investe aqui dentro do País, nada é mandado para fora. Tudo é investido aqui dentro. Isso é o que se chama de cidadania, você pode falar que aqui é uma empresa brasileira, não igual a essas empresas em que o lucro é mandado para fora. Não, o dinheiro da Empresa é revertido totalmente dentro do País. Isso é que eu acho fantástico na Empresa. Sempre foi assim, qualquer grana é investida aqui dentro. Isso é que faz o meu coração bater mais forte. E outra questão também fantástica somos nós, profissionais dentro da Empresa, os petroleiros. Eu acho o petroleiro de uma consciência profissional. A coisa pode estar pegando fogo lá embaixo, a coisa pode estar ruim, eles são de um profissionalismo impressionante. Pode estar ganhando mal, teve uma fase que a gente ganhou muito mal, que a gente estava muito ruim, sempre produzindo, sempre dando conta do recado. Eu acho que essa formação do profissional dentro da Empresa também é uma coisa que se deve a ela, afinal de contas a Empresa é que forma o profissional. E o profissional que trabalha aqui dentro sempre correspondeu às expectativas da Empresa. A Empresa é que nunca correspondeu às nossas expectativas. Mas a gente está sempre correspondendo àquilo que se espera de nós, que é trabalhar bem. Eu sempre falo para o meu chefe que a Empresa me paga para trabalhar bem. Ela me paga. “Oh, se você não trabalhar mal você vai ganhar tanto, se você não trabalhar bem, você ganha tanto.” Quando eu assinei o contrato, ela falou: “Você tem que trabalhar bem, você tem que ser excelente.” É o que eu faço. Agora, questão de ganhar pouco ou muito, isso aí é outra coisa para ser resolvida. Mas a questão do profissionalismo, eu acho que isso todos nós, petroleiros, temos. Basta ver quando afundou a (plataforma) P-36, aquele petroleiro chorando. Era a imagem do petroleiro. Assim, a impotência dele diante daquilo que estava acontecendo. A única coisa que ele pôde fazer foi chorar. Quando acontecem acidentes aqui dentro – nós já tivemos acidentes com morte –, você precisa ver como é que a gente fica. A gente não chora, não fica assim, é pela impotência da gente diante do fato. Você não poder fazer nada. Aí, o que resta é chorar, realmente.
Eu cheguei aqui em 1987, então sou filiada desde 1987. Em 1989, nós formamos uma chapa, concorremos às eleições aqui, ganhamos. Foi uma eleição interessantíssima, na época, o pessoal que estava aí era mais da Força Sindical do que C.U.T.- Central Única dos Trabalhadores -, então era o pessoal da situação. A gente entrou como de esquerda e foi uma época belíssima, porque foi uma época de muita luta aqui dentro, de você ter que batalhar muito. Foram greves de 93, 94 que a gente ficou aí fora quase 30 dias. Foram épocas que eu considero de crescimento muito grande, principalmente político. Foi muito bom. Mas eu saí do Sindicato, deixei a diretoria.
Não tinha cargo, a gente era uma diretoria colegiada. Na época, eu abracei mais a causa, estava sendo implantada aqui na Empresa o (Programa) Qualidade Total e abracei mais essa causa. Eu fiquei estudando a respeito do Qualidade Total, vendo o que o Qualidade Total ia trazer, as conseqüências dele, fiquei mais nessa área. Eu fazia parte de um grupo de estudo na C.U.T. também, de Qualidade Total, fazíamos palestras, fazíamos seminários, convidava os petroleiros para mostrar para eles o que, na realidade, era Qualidade Total. E depois eu comecei a mexer na área de saúde, junto com a médica do Sindicato, a respeito de alcoolismo também. Foi uma época muito boa.
Eu ando meio decepcionada com o Sindicato, sabe, ando meio descrente. Eu acho que hoje o Sindicato está amorfo, eu não sei te explicar. Acho que ele está meio sem direção, sem saber como é que ele fica, ele está sem saber porque virou o braço do Governo e aí complica porque, jamais, em tempo algum – eu não conheço em tempo algum na história - o dia que capital e trabalho se juntaram e deram certo. Não existe na história. Capital é uma coisa, força de trabalho é outra.
Eu não concordo muito com a relação que está havendo. Essa relação de união, de conchavo, eu não concordo. A relação mudou. A partir do momento que a esquerda entrou para o poder e que mudaram as coisas dentro da Empresa, o Sindicato se calou. Eu, inclusive, fico chateando o Leopoldino, eu falo com ele que ele é assessor do RH aqui. Mas ele não é assessor do RH. Eu não concordo com várias posições também da esquerda, do Sindipetro, do pessoal que é da esquerda do Sindipetro, que é do P.S.T.U.; tem algumas coisas que eu bato contra. Por isso que eu não entro mais, porque a partir do momento que você está lá dentro, você tem que “pôr uma canga”, e eu gosto de ficar de fora, porque aí eu posso criticar. Eu gosto de realmente fazer as minhas críticas, de bater contra, eu não tenho receio de chegar perto do Leopoldino ou do Getúlio ou do Márcio ou de qualquer um deles e falar o que eu penso. E acho também que a própria diretoria do Sindicato sumiu, você só vê o Leopoldino aí na área. É muito complicado, eu não vejo muito futuro também, não vejo perspectivas no movimento sindical por enquanto.
As histórias são muitas aqui dentro, isso aqui é uma vida. Se pensar, são nove horas que você passa aqui dentro. Eu falo que você convive mais com os colegas de trabalho do que em casa. Porque tem coisas engraçadíssimas, algumas que você até tem uma censurazinha de falar, porque tem muita coisa. Eu gosto de trabalhar, às vezes eu falo assim: “Bom, faltam quatro anos para me aposentar mais ou menos, inclusive, eu estou estudando para hora que eu aposentar, já ter algum outro vislumbre.” Mas tem hora que eu penso: “Pô, aposentar, largar isso aqui, largar os meninos?” Como é que eu vou largar meus meninos, gente, não pode não. Mas aí eu penso: “Não, mas tem vida lá fora.” Fica muito complicado. Tenho tempo para pensar nisso ainda, trabalhar, fazer uma terapia para acostumar com a idéia da aposentadoria, porque é uma vida, 18 anos, é uma vida.
Eu acho extremamente importante porque nós temos fama de um País sem memória. Se você for pensar bem, a gente esquece muito fácil, você esquece as coisas muito fácil, é preciso que alguém te lembre do que aconteceu, do que foi. A coisa mais fantástica que eu acho que nós temos como história nesse País são os museus. Todo lugar que eu vou, que eu visito, a primeira coisa que eu procuro é o museu, quero saber da história, quero saber como foi. Se você não souber do passado não tem como você entender o presente. Eu acho que é uma iniciativa excelente, fantástica, quem teve a idéia está de parabéns. Porque é preciso que daqui alguns anos alguém lembre como começou. Outro dia, eu estive em Barbacena, fui visitar o Museu da Loucura. Eu estou em depressão até hoje: como era tratada a loucura aqui em Minas Gerais, em Barbacena. Era uma coisa de campo de concentração. Mas está mudando, estão acabando com os manicômios. Mas para entender do jeito que está, se não tivesse esse Museu da Loucura, você jamais saberia como foi e o que mudou, como mudou e por que mudou.
A gente estava vendo aquelas fotos ali atrás, de como a Refinaria começou, fazendo as esferas, hoje você olha as esferas lá: “Puxa, mas foi assim que foi feita?” Quanta gente trabalhou na época aqui que ajudou a construir. A história é que me mostra como é que as coisas estão refletidas hoje, porque é do jeito que é e o que pode mudar também: “Era assim? Pô, então, dá para mudar?” Dá para mudar. Então, vamos mudar. Aí eu deixo para os que estão chegando. Estou querendo mais calma agora, mais light, mais sossegada.
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