Núcleo Ubatuba Museu da Pessoa
Entrevista de Marilena Cabral
Entrevistado por Fabíola Lugão C. Viggiano e Telma Homem de Mello
Local: Ubatuba São Paulo
Data: 31/10/2023
Código: NUMPE_HV002
Transcrito por Telma Homem de Mello
Revisado por Fabíola Lugão C. Viggiano
Título: Semeadora de Sonhos
P1 - Bom dia, estamos hoje com Marilena Cabral, no dia 31 de outubro de 2023, e vamos iniciar a nossa conversa.
Marilena, muito obrigada por estar aqui na nossa primeira entrevista do Núcleo Museu da Pessoa de Ubatuba.
R - Eu que agradeço de todo o coração. Nunca imaginei uma coisa dessas. Vamos lá.
P1 - Queria começar perguntando seu nome, seu local de nascimento e a data.
R - 'Então, meu nome é Marilena Cabral. Não nasci Marilena Cabral, eu nasci Marilena da Silva. O Cabral veio com um casamento. Nasci em 5 de março de 1948, mas fui registrada em 6 de março. Então eu tenho dois aniversários. Nasci em São Paulo, no bairro da Moca, mas só nasci lá. De lá eu vim correndo pra região da Vila Clementino e Ibirapuera. E aí fiquei até me casar.
P1 - O nome dos seus pais?
R - Rubens e Wanda.
P1 - E qual que era a atividade deles?
R - Papai era motorista, foi motorista de caminhão, foi motorista de táxi, foi motorista particular. Mamãe era do lar. Depois ela começou a trabalhar como secretária em consultório médico.
P1 - Ok. Quais eram os principais costumes da sua família?
R - Era uma família bem diversificada. Nós morávamos junto com minha avó e meu avô. E um tio solteiro, na época era solteiro. Aliás, ele demorou pra burro pra, se casar. Os outros já tinham se casado. Então, nós tínhamos, por exemplo, a vovó tinha o hábito de ouvir novelas no rádio. A televisão entrou em casa, eu já era... Tinha meus 14, 15 anos, mais ou menos. Eu já preferia ouvir música. Mas um hábito em comum a todos da família, com exceção do meu avô. Era a leitura, o hábito da leitura. Isso ligava a família toda.
Cada um tinha...
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Entrevista de Marilena Cabral
Entrevistado por Fabíola Lugão C. Viggiano e Telma Homem de Mello
Local: Ubatuba São Paulo
Data: 31/10/2023
Código: NUMPE_HV002
Transcrito por Telma Homem de Mello
Revisado por Fabíola Lugão C. Viggiano
Título: Semeadora de Sonhos
P1 - Bom dia, estamos hoje com Marilena Cabral, no dia 31 de outubro de 2023, e vamos iniciar a nossa conversa.
Marilena, muito obrigada por estar aqui na nossa primeira entrevista do Núcleo Museu da Pessoa de Ubatuba.
R - Eu que agradeço de todo o coração. Nunca imaginei uma coisa dessas. Vamos lá.
P1 - Queria começar perguntando seu nome, seu local de nascimento e a data.
R - 'Então, meu nome é Marilena Cabral. Não nasci Marilena Cabral, eu nasci Marilena da Silva. O Cabral veio com um casamento. Nasci em 5 de março de 1948, mas fui registrada em 6 de março. Então eu tenho dois aniversários. Nasci em São Paulo, no bairro da Moca, mas só nasci lá. De lá eu vim correndo pra região da Vila Clementino e Ibirapuera. E aí fiquei até me casar.
P1 - O nome dos seus pais?
R - Rubens e Wanda.
P1 - E qual que era a atividade deles?
R - Papai era motorista, foi motorista de caminhão, foi motorista de táxi, foi motorista particular. Mamãe era do lar. Depois ela começou a trabalhar como secretária em consultório médico.
P1 - Ok. Quais eram os principais costumes da sua família?
R - Era uma família bem diversificada. Nós morávamos junto com minha avó e meu avô. E um tio solteiro, na época era solteiro. Aliás, ele demorou pra burro pra, se casar. Os outros já tinham se casado. Então, nós tínhamos, por exemplo, a vovó tinha o hábito de ouvir novelas no rádio. A televisão entrou em casa, eu já era... Tinha meus 14, 15 anos, mais ou menos. Eu já preferia ouvir música. Mas um hábito em comum a todos da família, com exceção do meu avô. Era a leitura, o hábito da leitura. Isso ligava a família toda.
Cada um tinha uma preferência. Vovó, por exemplo, gostava de ler os jornais e revistas em quadrinho. A mamãe já gostava, imagina, era a época das revistas com fotonovela. Fotonovela. Então, ela gostava muito. Tinha uma que era a predileta dela, que era o Grande Hotel. Mas ela lia muitos livros, o forte dela sempre foram os romances. O meu tio. era bem diversificado. Ele lia de tudo, até o fim da vida, que foi há pouco tempo.
Papai gostava muito de poesia. Era um homem muito poético. Ele não fazia poesia, mas acho que vem daí o meu gosto pela poesia, pela arte de uma maneira geral, vem do papai. E eu sempre também, mal aprendi a ler. A primeira coisa que eu li na minha vida foi Monteiro Lobato, me acompanha até hoje e leio de tudo até hoje. A leitura sempre uniu a família toda.
P1 - Irmãos?
R - Não, nenhum.
P1 - Filha única?
R - Nenhum hoje, né? Eu tive, eu tive uma irmã. Ela viveu durante 11 anos, ela tinha paralisia cerebral total irreversível. Ela viveu 11 anos em uma cama, sem falar, sem andar, nem sequer sentar. Ela tinha uma vida totalmente vegetativa. Entendia alguma coisa quando você falava com ela, ela sempre te procurava, ela mexia, olhava. Tinha o olhar mais doce do mundo. Era muito linda. Me ensinou muito.
Eu sou o que sou hoje por ter tido essa irmã na minha vida.
P1 - Marilena, da sua infância, o que você lembra como brincadeira, como era o bairro, a cidade?
R - Da minha casa, da varanda dos fundos da minha casa, eu via o Ibirapuera, mais especificamente o pavilhão da Bienal. Eu vi a Bienal ficar pronta. Assisti aquilo ali, passava o bonde, eu via o bonde passando. Com relação a brincadeiras, era a famosa casinha, né? Então, eu brincava de casinha, no quintal de casa, fazia comidinha. Eu tinha poucas amigas, mas tinha uma em particular que eu gostava muito, que era a Tuca. A gente brincava de casinha junto.
À medida que eu fui crescendo mais um pouco, aí já começou a ter uma brincadeira mais de rua. Aí, sim, aumentou a turma, né? Eu jogava bola ou simplesmente ficava conversando na calçada. Imagine, naquela época, a rua onde eu morava ainda era de terra. Na divisa do bairro Vila Clementino com Ibirapuera você ainda tinha a rua de terra. O asfalto veio depois. Quando eu saí de lá já tinha o asfalto. Mas na minha infância era a rua de terra.
P1 - A origem da sua família?
R - Então, somos todos de São Paulo, mas tenho assim... o vovô nasceu no interior, no interior, do meu avô materno, nasceu em Jaú, se não me engano. Filho de italianos, ele é a primeira geração, né, pai e mãe italianos, que vieram, migraram na época da imigração italiana pra substituir a mão escrava, né? Sim. Eles foram pra fazendas de café. O vovô, bem jovem, veio pra São Paulo e nunca mais voltou pro interior. Já do lado de minha avó, a vovô era filha de italiano, calabrês, com uma brasileira, certo? Mestiça de índio. Não sabemos... a mãe dela era índia, mas não sabemos o pai.
Ela morreu muito jovem, a vovó praticamente não sabia nada sobre ela. Mas sabemos que ela era da região... que era do sul, provavelmente Santa Catarina, porque ela dizia que era da barriga filha de Índia com um europeu agora, se era italiano, espanhol ou português, não sabemos. Provavelmente espanhol ou português, se é que é da região de Santa Catarina, ela deve ter nascido antes dessa primeira grande migração italiana, né, antes da liberdade dos escravos, então ainda teve uma influência muito grande de espanhóis em Santa Catarina, então fica aí uma grande incógnita. Isso foi parte materna, por parte paterna eu também sei menos ainda. O papai ficou órfão de mãe com seis meses de idade, então ele não sabia nada a respeito da mãe. Meu avô de descendência portuguesa, mas também pouco sabia a respeito, já era neto de portugueses. Não sabemos a miscigenação, qual foi por parte do papai. A parte da mamãe é uma salada de italianos, uma incógnita europeia e índio. Então, é aquela coisa típica brasileira, né?
P1 - Miscigenação. Marilena, vamos lembrar da sua infância, escola, brincadeiras, o que existia de criatividade dentro de casa e com relação ao seu primeiro período de escola?
R - Eu fui para a escola, tive o privilégio de ir para o jardim da infância. Naquela época era difícil, uma criança antes de seis anos de idade ir para a escola. Até com seis anos, geralmente ia direto com 7 anos para o primeiro ano.
Mas eu tive esse privilégio de fazer um jardim da infância, de fazer um pré-primário. Na época, né? Jardim da infância e pré-primário. Numa escolinha que não existe mais, uma escolinha de Freiras, da rua Borges Lagoa. Escolinha, a gente chamava de escolinha porque era bem pequena, a Escola São Francisco de Assis. Ali eu tive as minhas primeiras experiências no teatro. As primeiras apresentações, aquelas coisas de festinha de escola, de decorar a poesia e declamar a poesia, de pequenininhas peças teatrais. A parte foi crescendo ali até o quarto ano primário. A escola tinha só até o quarto ano. Dali, quando eu fui para o ginásio, eu fui para outra escola de freiras, aí um pouquinho mais distante de casa, que era a Cristo Rei. Terminei lá, fui até o segundo grau e incompleto. Não completei o segundo grau.
Brincadeiras. Muita brincadeira de roda. Na escolinha, eu tinha um certo privilégio. A escolinha na frente, nos fundos era a casa das freiras, né? O claustro e tudo mais. Tinha uma capelinha. E como eu era extremamente bem comportada, eu tinha acesso à capela, à gruta, até ao refeitório das freiras. Eu tinha assim uma... Cheguei até num momento da minha vida, pensar em ser freira, imagina, né? E tinha um pequeno pomar nos fundos e eu também tinha acesso a esse pomar. Então, de vez em quando eu ia pro pôr mar e na época de amora tinha um verdadeiro caramanchão de amoras e era uma delícia e eu tinha livre acesso então eu pegava mora para distribuir depois para os outros que não tinham acesso então era uma coisa bem gostosa e mas a brincadeira que eu mais gostava realmente era brincadeira de roda. Brincávamos muito de roda. Isso na escola, né? Mas aprendi, por exemplo, jogar pião. Eu jogava pião bem, eu pegava inclusive o pião na mão, e era considerado uma brincadeira de moleque, né? Gostava de empinar pipa, do mesmo jeito que eu gostava de brincar de boneca e de casinha, eu tinha também esse lado moleque de rodar um pião, de empinar um papagaio, uma pipa. Gente, eu atirava com estilingue, com uma mona. Mamona. Mamona saia dos fundos da minha casa, fora, né? Não dentro da minha casa, mas no terreno, fora de casa, tinha um pé de mamona e a gente pegava a mamona pra brincar com estilingue. Então, eu fui meio moleca. Eu tinha brincadeiras de menino também.
Não havia tanta preocupação, pelo menos comigo, ou qualquer coisa de brincadeira de menina ou de brincadeira de menino. Eu tive esse privilégio. Consegui ter esse lado moleque também.
P1 - Quando você fala das interpretações que você participou na escola, o que você lembra disso? Sua sensação de estar representando ali naquele início de...
R - Eu achava uma coisa mágica, sabe? Eu gostava daquilo. Eu gostava muito, primeiro, daquilo que eu falei, o gosto, sempre gostei muito de poesia. Então começou exatamente com isso, né? Em decorar pequenos poemas, porque no jardim da infância a freira ficava comigo pra eu decorar, porque eu ainda não sabia ler. Então eram pequenos poeminhas, números musicais, pequenos números musicais das Freiras. Essas Freiras eram extremamente festeiras. Então a gente sempre tinha festa de São João, festa de São Pedro, as festas de final de ano, né? Então todas as classes se apresentavam. Então, desde o meu ver, eu achava aquilo fascinante, eu decorar alguma coisa e depois falar pra todo mundo ouvir. E todo mundo gostava de me ouvir. E eu gostava de falar pras pessoas, eu sempre gostei disso. Essa coisa da comunicação com o outro ser humano. Em algumas coisas, em determinadas situações, eu posso dizer que eu até tenho uma certa timidez, certo? Mas, na hora de me comunicar, na hora de passar uma ideia para alguém, sei lá, acho que eu visto uma personagem e essa timidez desaparece.
Então, existe uma ambiguidade aí dentro de mim e isso desde criança, né? Eu, quando decorava uma poesia e falava pra todo mundo me ouvir, eu era uma outra pessoa, não era eu. Desde pequena eu sentia isso. E na... Quando eu era pequena eu já não fazia a menor ideia do que era teatro. Era uma coisa mesmo intuitiva. O meu primeiro contato com arte dramática não foi assistindo a um teatro, foi cinema. Certo? Desde pequeno, sempre fui muito ao cinema. Minha avó gostava muito de ir ao cinema, então era sempre eu que ia com ela.
A mamãe me levava pra assistir os filmes do Disney, de Disney, né? Então, Branca de Neve, aquela coisa toda. A vovó já gostava muito, por exemplo, do Mazzaropi. Então, eu assisti os filmes do Mazzaropi com a vovó. Então, a minha referência de arte, de arte dramática, era cinema. Eu... O contato que eu tinha com o teatro veio exatamente do que eu aprendi com as freiras. Porque começou com a história das poesias, aí depois vieram pequenos textos, com outros personagens, eu fazendo realmente outros personagens, depois umas peças maiores, sempre aquelas peças com conteúdo religioso, na maioria das vezes, mas sempre com uma moral, né? Freiras e na prática, que eu tive o gosto do palco. Depois sim, aí a gente veio, vim me apaixonando cada vez mais. Comecei a ler na adolescência, já comecei a ler textos, a gente formou... Quando eu saí dessa escolinha e fui pro Cristo Rei, eu era muito apegada às freiras, era muito amiga delas. Então, eu tinha 11 para 12 anos quando eu fui para outra escola, mas continuei muito amiga delas e a gente chegou a formar um grupo de teatro de ex-alunos, de pais e de ex-alunos da escola. Então, eu continuei com uma ligação muito grande com elas, até... enquanto a escola existiu, eu continuei com essa ligação com elas e fazendo teatro. De uma maneira bem intuitiva.
P1 - E com o final desse grupo, você partiu para outros grupos?
R - Não.
P1 - Aí já ia para adolescendo...
R - Minha vida tomou outra direção, totalmente diferente. Fui trabalhar, né, por força de necessidade. Quando eu tinha onze para 12 anos meus pais se separaram, eu comecei a trabalhar muito cedo, embora continuasse lá ligada com as freiras, mas quando a escolinha acabou, que elas não tinham mais condições de continuar, chegou uma proposta muito boa de venda do terreno, que era um terreno muito grande ali na região, e elas venderam, acabou a escola, a minha ligação com elas, então acabou. Mas aí eu já tava numa altura dessas namorando, né, fiquei noiva, me casei muito cedo.
P1 - Com quantos anos?
R - Casei com 19 anos, 19 pra 20, casei em dezembro e em março completei 20 anos. E aí eu me afastei dessa coisa da representação, mas continuei lendo muito sobre teatro. Foi quando eu comecei...
Cabral era também muito apaixonado por teatro. Ele chegou a fazer curso com o Eugênio Kuzner. E ele quem me deu o primeiro livro do Stanislavski. Então, aí eu comecei realmente a ter um conhecimento da parte mais teórica e foi me apaixonando cada vez mais. Embora eu não participasse mais de nenhum grupo, eu continuei lendo muito. Li muito Shakespeare. Quem é apaixonado por teatro não lê Shakespeare, né? Então foi assim, mas tinha que trabalhar, porque teve uma época, eu tinha 17 anos de idade, eu trabalhava em um consultório médico, com o doutor Augusto Lefevre. Ele era pediatra. E um dos filhos dele era muito amigo do Flávio Império. E uma vez o Rodrigo, Rodrigo era o nome dele, foi até o consultório do pai, falou pro pai, com o Flávio Império. E ele sabia da minha paixão pelo teatro, né? E ele comentou com o Flávio, né? Olha, ela gosta muito de teatro, faz teatrinho na escola e tal. E aí ele perguntou se eu tinha interesse em fazer uma oficina de teatro, em fazer um curso de teatro. Nossa, meu Deus do céu, né? Cheguei em casa entusiasmadíssima, eu já me namorava com o Cabral. O Cabral achou bárbaro. Mas imagina, se a família permitir teatro, é bonitinho fazer lá com as freiras. Profissional não, é coisa de puta. Eu ainda era menor de idade. Tudo certo. Então, aí depois nunca mais tive contato com o Flávio e me frustrei. Claro, não fui fazer nenhuma oficina de teatro com ninguém. Isso veio bem depois da minha vida. Então, cheguei a ter essa oportunidade, mas ainda não era o momento. E depois fui trabalhar... Não tinha 17 anos ainda, não. Tinha 16, eu estava no comecinho de namoro com o Cabral. Porque depois disso, eu fui trabalhar numa joalheria famosa essa, ali no Conjunto Nacional. Alfonso e Jolie. Aí eu trabalhei até me casar. Dos 17, aí sim, eu tinha 17. Até os 20.
Foi uma experiência bem interessante, também, sem sombra de dúvida. Aí quando eu casei, parei de trabalhar durante um tempo, aí não imagino eu ficar de casa sem fazer nada. Tratei de trabalhar de novo, num consultório médico, voltei para um consultório médico.
Eu já tinha trabalhado anteriormente, lembro do doutor Lefévre, como falei. Aí eu trabalhei como neurologista, doutor Cemus Ferreira Jordi. Fiz um curso técnico de eletroencefalografia. Ele era neurologista, então eu trabalhei bastante tempo com ele como técnica em eletroencéfalo. Mas não tinha nada a ver com teatro. E fui secretária dele, recepcionista do consultório. Foi uma experiência também bem bacana, uma pessoa que foi muito querida na minha vida, me ajudou bastante, foi um cara muito importante na minha vida. Dr Cemus, eu sempre guardo ele com carinho.
P1 - E filhos?
R - Os filhos começaram a vir quando eu tinha 25 anos de idade. Eu demorei um tempo, né? Eu falei, loucura sim, vou casar cedo, mas primeiro vamos ver como é é essa história de casamento. Cabral concordava plenamente, né? Aí chegou um momento que eu falei, bora, tá na hora, vamos! Então eu tive Patrícia com 25 anos de idade, depois aos 27 eu tive Rodrigo, e aos 33, dois dias depois do meu aniversário, veio o Rafael o meu pequeno, que hoje tem 1 metro e noventa de altura e que já me deu dois netos até, a Tainá e agora o Caetano. Rodrigo me deu uma neta, a Alice. E Patrícia me deu Dante e o Tales.
P1 - E esse período... Todos os filhos nasceram em São Paulo?
R - Todos nasceram em São Paulo. Todos eles nasceram em São Paulo. Patrícia e Rafael na Maternidade Matarazzo, o Rodrigo no Santa Paula.
P1 - Certo.. E o seu deslocamento é...
R - nessa época quando eles nasceram, embora eles tenham nascido em São Paulo, eu não morava em São Paulo. Eu morava em São Bernardo do Campo. Então teve um período da vida que, em São Bernardo praticamente ainda até hoje quase que um bairro, não sabe mais quando você está em São Paulo, quando você está em São Caetano quando está em São Bernardo. E já era assim naquela época. Então nós morávamos em São Bernardo, mas... meu médico era em São Paulo. Toda a vida da gente praticamente era em São Paulo.
P1 - Em que momento você voltou para as artes?
R - Pois é, na escola das criança. na hora de começar a fazer... Eu, coloquei a Patrícia numa escola chamada Sininho. Uma era só educação infantil, depois e escola cresceu. Era uma escola pequena também, Patrícia foi a primeira a ir. Logo você forma aquela amizade entre mães, começa a trocar ideia, aí veio a primeira semana da criança. E aí o que a gente vai fazer ou o não vai fazer? E foi quando souberam que eu gostava de teatro. Então vamos fazer uma pecinha, e tal. E eu comecei a fazer com as professoras da escola, a fazer teatrinho para as crianças. Aí gostaram, da ideia e voltei. Eu me lembro, depois, no ano seguinte, o Rodrigo também já estava e eu fiz um número com uma das professoras de palhaço.
Foi a primeira vez que eu encabei um palhaço. E aí ele escrevia também os textos e eu me inventava junto com essa professora. Então, eu era uma palhaça, ela era outra. A Lelé e a Da Cuca.
E aí eu não contei para as crianças, eu não contei para a Paty e para o Rodrigo que eu ia fazer palhaço, né? Mas a Paty me viu, me pintando, aí eu falei, não conta para o teu irmão. e ela sempre foi muito cúmplice desde pequenininha.
e na hora da apresentação, que eu comecei a falar eu ouço a voz do Rodrigo "é a minha mãe", ele reconheceu a voz, "Paty é a mãe, é a mãe" ele falava. Aquilo foi maravilhoso, foi muito gostoso, foi muito bom, e aí também comecei a dirigir inclusive as próprias crianças, né? Nos numerozinhos de apresentação de final de ano e tal. E aí voltou, né? Toda aquela vontade de fazer teatro novamente.
P1 - A semente brotando...
R - Exatamente. Aí viemos para Ubatuba e daí foi mais forte ainda a coisa.
P1 - Em Ubatuba, tá aqui há quanto tempo, mais ou menos?
R - eu vim em janeiro de 86. Então já vai pra 38 anos que estamos aqui. Já tenho mais tempo de quase... Olha que coisa interessante, eu vim e eu tinha 38 anos de idade. Vou completar 38 anos de Ubatuba agora, então vai tá meio a meio, foi muito tempo de vida.
P1 - Enxergou muitas cidades aqui, né? Enxergou muitas Ubatubas, não?
R - Muitas, muitas.
P1 - O que é relevante pra você da época que você veio pra cá? Que lembranças você tem mais... ...em mente?
R - É... Naquela época... Quando eu vim pra cá, eu vim passar férias. Eu vim pra cá pra ficar 10, 15 dias no máximo. Eu tinha um primo que já estava morando aqui há 2 anos. Eu vim passar férias na casa dele, ali no Itaguá. E... E aí voltei pra São Paulo para pegar a mudança. Foi assim assim, paixão! É a única cidade do litoral paulista que eu não conhecia. Era o Ubatuba. De Caraguá até Peruíbe, eu já tinha estado em todas elas. E sempre tive vontade de conhecer o Ubatuba.
Tudo isso por causa de Monteiro Lobato. Quando eu li o Hans Staden, do Monteiro Lobato. A versão dele do Hans Staden, eu fui até conhecer esse lugar. Tanto é que o dia que a gente chegou, a gente veio de ônibus, eu vim com as crianças, maravilhada, com a paisagem, desde a Tamoios e eu tava com o Rafa na janelinha, eu do lado dele, Patrícia e Rodrigo do outro lado, e bem na hora que eu espichei a cabeça pra olhar pra um momento que não tinha praia, eu vi a placa, divisa Ubatuba Caraguá.
Foi uma coisa muito interessante, uma emoção. Você já sentiu aquela emoção assim, que parece um soco no estômago. E uma sensação aqui na nuca. E o que me veio à cabeça, eu cheguei em casa.
P1 - Ninho.
R - Sabe aquela coisa, ó. Eu lembro, me arrepio. Era uma placa que já estava até meio enferrujada, ai eu falei "nossa, cheguei em casa.". É uma sensação estranha, em casa, nunca tive aqui, né? Sei lá, eu acho que de alguma maneira realmente é a minha casa.
Outras vidas... ? É provável. Eu sou... é... em parte, o seguinte princípio, nunca ninguém me provou que existe, nem provou que não existe. É possível? É. Por que não? Tudo é possível. Então realmente é que eu me senti em casa, me senti acolhida. É... uma das primeiras pessoas que eu conheci aqui em Ubatuba, eu tinha acho que uns dois, três dias de Ubatuba, eu estava passeando na orla.
Eu conheci o Sr. Davi, lá do Itaguá. Tinha escuna, fazia barco. Ele foi de um acolhimento impressionante. Foi o primeiro caiçara que eu conheci. E que depois ensinou muito pro meu filho Rodrigo. Meu filho Rodrigo aprendeu muito de navegação, de barco, de mar, com o Seu Davi. Teve uma época inclusive que muita gente achava que o Rodrigo era neto, o Seu Davi. E ele ficava todo orgulhoso. Então mantivemos uma amizade durante muitos anos. Esse acolhimento do povo do Itaguá, porque depois o Seu Davi vieram os outros, né? Foi uma coisa que me comoveu muito.
Isso, inclusive, fez aquele sentimento de estar em casa se tornar mais forte. Eu me senti em casa. Desde o começo eu me senti caiçara. Talvez até mais caiçara que muito caiçara.
E foi... eu escolhi ficar aqui. E no dia seguinte que eu tinha chegado, eu estava passeando com as crianças, o Rafa pequeno, ele tinha 4 anos e completou 5 anos aqui, segurando na minha mão aqui, Paty e o Rodrigo a vontade, correndo. E Rafa vira pra mim, mamãe, não quero mais voltar para São Bernardo.
A gente acabou ficando. Cabral veio depois de duas semanas que estávamos aqui. Ele conseguiu umas folgas, veio passar uma semana com a gente. E eu já fiz a proposta pra ele direto. A gente realmente queria sair de São Paulo há muito tempo. Da grande São Paulo, né? Aí eu fiz a proposta pra ele. "Vamos vir pra cá, vamos aventurar". Ele, tão doido quanto eu, topou. Ainda demoramos um tempo, foi difícil conseguir alugar uma casa, porque era uma época que era...
Todo mundo que tinha casa era até dezembro, né? De dezembro até o carnaval você tem que sair porque a gente aluga pra temporada. Demorou pra gente conseguir alugar uma casa em definitivo, né? Não tem que sair porque falava, pô, tá, eu saio e vou pra onde? Eu tô debaixo da ponte, nem ponte tem! Debaixo da ponte? Mas aí a gente conseguiu. A gente alugou a casa do Sr. Marcolino ali no Itaguá. Marcolino Gourget. Moramos ali um ano e meio.
E depois foi aquela coisa, né? De ir pra um lugar e ir pra outro. A gente morou em ene lugares, aqui em Ubatuba. Até a gente... Depois ficou mais fácil essa coisa de alugar. Aluguel definitivo, né? Então teve vários lugares que a gente conseguiu ficar bastante tempo. Até adquirir a casa onde eu tô até hoje, isso já vai pra 17 anos que eu tô aí.
P1 - Marilena, me conta um pouco da sua trajetória com relação à cultura da cidade, suas atuações. Eu sei que tem uma riqueza grande ali.
R - Então, logo que eu cheguei aqui, Paty e Rodrigo foram para o Altmira. O Rafa ainda em casa, depois ele foi para a EMEI ali do Itaguá. Aí eu já me envolvi com a APM, né, do Altmira. Já comecei a ajudar a organizar festas. Naquela época, o Altmira tinha a barraca, inclusive, da festa de São Pedro. Uma das barracas da festa de São Pedro era da escola Altmira.
Era super animada naquela época. Era bem gostoso, era bem diferente do que é hoje a festa de São Pedro. Depois no ano seguinte, só que eu coloquei o Rafael na INEI, foi quando também, aí junto com a Patrícia, eu fiz a parceria com a Patrícia pra fazer na semana da criança uma festinha onde aí eu e ela éramos palhaços, eu revivi a Lelé e a da Cuca, né. E parte também logo, a Fundart estava começando também, então já comecei a me aproximar da Fundart. Conheci Renato Nunes, conheci... Antes de conhecer Renato, que foi o segundo presidente, o primeiro foi Flávio Girão, durante um período curto. Mas antes de conhecer o Renato, eu conheci o Gil, o Gil e o Conrado. E o Gil e o Conrado tinham envolvimento com o meio ambiente. Quando a Fundart foi formada, havia o Grupo de Ecologia, não era nem meio ambiente ainda. E eu também sempre fui muito preocupada com esse assunto, então eu comecei na Fundart participando do grupo de ecologia, junto com o Gil e o Conrado.
O Gil e o Conrado, inclusive, tinham um programinha na rádio. Ah, e depois o Gil também participava do grupo de teatro, né? E através do Gil fui também para o grupo de teatro, depois fui para o grupo de história também, eu participei de diversos grupos, cheguei a ser coordenadora do grupo de história e tal, mas a minha paixão realmente estava no teatro. A Paty, já também pré-adolescente, já se envolveu com o grupo que o Gil fazia parte, era Gil, Bado, Belê, e começou a fazer teatro com eles, independente de Fundart. Eu aí comecei a trabalhar também no ano seguinte, então já não tinha mais muito tempo, mas então eu me dedicava mais a parte do grupo de história e de ecologia.
Cheguei a ir com Gil e com o Conrado até São Sebastião para ver como funcionava a coleta seletiva de São Sebastião. E foi na época que eles começaram. Então tem uma história aí longa, de trinta e tantos anos de luta pelo meio ambiente. Eu tenho já isso daí. Conrado deve lembrar bem disso daí. Conrado, Gil, Gil nem sei onde é que anda. Conrado tá aí pertinho. Que é uma pessoa também bem interessante. Mas aí depois eu comecei a... Na gestão do Renato, que foi logo no ano seguinte, começou a oficina de teatro. O Moacir teve uma grande influência. Ele pediu, ele era lá o gerente do grupo de teatro. Aí ele apresentou lá um rapaz que veio fazer oficina de movimento, de corpo. Foi a primeira oficina da Fundart. E aí eu fui fazer. Eu, Paty... Mas foi uma coisa que não foi muito pra frente.
O garoto não era tudo aquilo que ele falava que era. Aí o Moacir trouxe no ano seguinte, ainda na gestão do Renato, o Leon. Leon Bernstein. Ele mora lá em Caraguá. Faz tempo que eu não tenho notícias dele, não sei se ele ainda está lá. E aí começaram realmente as oficinas de teatro pra valer. E aí eu comecei a fazer com ele. Meu grande mestre foi Leon, Leon Bernstein, na gestão do Renato. Depois teve uma continuidade com o Conrado e depois acabou. Quando mudou a gestão, nem me lembro mais quem foi que substituiu o Conrado, o Conrado ainda ficou duas gestões seguidas. Aí o Leon não veio mais fazer oficina, eu numa altura dessas também estava trabalhando o dia inteiro, então não tinha mais muito tempo pro teatro, dei uma afastada, mas começou aí, já logo no iniciozinho das primeiras oficinas de teatro.
P1 - O Cultura na Praça?
R - Participei muito pouco. O Cultura na Praça, a Paty participou mais do que eu. Ela foi bem mais ativa no Cultura da Praça. Até mesmo que foi na época em que ela era funcionária da Fundart também, né? Paty foi funcionária da Fundart em dois períodos, em dois momentos. E cultura na praça é dessa época, ela foi bem mais ativa no Cultura da Praça do que eu. Cultura da Praça não tive muita participação, não. Foi Patrícia..
P1 - Na sequência dessas oficinas, você voltou...
R - Então, aí eu fiz as oficinas, foram dois anos com o Leon. Dois, três anos, eu acho. Dois anos com o Leon. Aí, com essa história de eu trabalhar tempo integral, fui trabalhar na hotelaria. Então, eu já não tinha mais tempo disponível pra isso. Porque aí eu comecei a fazer o turno noturno também no hotel. Enquanto eu fazia o turno só do dia, dava, eu continuei fazendo. Quando eu fui fazer turno da noite no hotel, aí já não tinha mais como fazer teatro, então eu parei. E com isso, praticamente, o grupo que havia se formado acabou, dissolveu. Aí, quando eu saí da hotelaria, que aí eu estava outra vez com disponibilidade horário, havia uma moça, que eu não vou lembrar o nome dela, talvez você lembre, ela estava dando uma oficina e o marido dela regia o coral.
P1 - Eu lembro do casal.
R - Aí eu fui fazer o curso com ela. Nessa época eu já estava trabalhando na prefeitura. Não, eu também já, enfim, coincidiu o período. Aí eu saí da prefeitura, ela terminou o... Era uma oficina bem fraquinha dela. Quando eu percebi, eu estava dando oficina no lugar dela. Você sabe, eu falei, opa, tem alguma coisa errada aí. Aí ainda era a gestão do Zizinho, no ano seguinte ela não apresentou oficina, não apresentou projeto, nem ela, nem o marido. Acho que foram embora da cidade. O Leon me incentivou muito a apresentar um projeto. Eu havia saído da prefeitura, era a Lili, a presidente da Fundart. Eu era inclusive coordenadora do grupo de história na época. E aí, por incentivo do Leon, ele falou, não, eu te ajudo a fazer o projeto, eu te dou tudo, você tem toda a condição de você ministrar a oficina, vai fazer que vai dar certo. E foi então quando eu apresentei o projeto, foi aprovado, inicialmente pouca turma, depois cresceu. O projeto foi aprovado, até mesmo porque não tinha nenhum outro projeto, e foi um experimento, vamos experimentar, vamos ver se dá certo. E deu. Tanto é que depois se ampliou, tinha turma da tarde, turma da noite. No ano seguinte, consegui ampliar, conseguir formar um grupo, uma oficina lá no Rio Escuro. Fui trabalhar lá pra turminha do Rio Escuro.
P1 - Vamos conversar sobre essa participação sua no Rio Escuro.
R - Olha, foi um ano bem interessante. Foi um ano só, não teve continuidade. Eu trabalhava com crianças e adolescentes ali e realmente foi muito prazeroso trabalhar com aquela criançada e com aqueles adolescentes. Foi um período muito bom. Daquele grupo, teve um que se destacou, que foi o Jeremias. Depois, alguns anos depois, quando eu voltei... o Jeremias, o Jerê, veio pra fazer a oficina aqui no centro da cidade, foi espetacular. Hoje o Jerê tá na Europa, mora em Portugal. E está fazendo as artes dele por lá. Eu perdi o contato com ele, mas saiu do Rio Escuro para a Europa.
P1 - Marilena, qual é o seu sentimento visualizando a participação das pessoas nos projetos que você atuou?
R - Extremamente prazeroso. Eu trabalhei com adulto também, né? Eu tinha a turma da noite, que já era aquele grupo que tava saindo da adolescência, né? Veja já era o jovem e o adulto. Meu Deus do céu, eu tive o privilégio de trabalhar com a tia Elô. A tia Elô vir fazer a minha oficina, um ícone, né, da educação, do teatro.
P1 - Sim.
R - Tá lá, brilhando no céu. Mas o meu grande prazer realmente eram os adolescentes. Eu sempre gostei muito de trabalhar com adolescentes. Ah, o adolescente dá trabalho? Manda pra mim, é esse mesmo que eu quero. É esse que tem o talento, é esse que tem a criatividade e é só você saber. E era uma coisa muito intuitiva, realmente, porque eu nunca tive uma formação acadêmica. Certo? Eu não tenho pedagogia, eu não tenho psicologia, nem sequer a formação em artes cênicas, né, num curso superior.
É a coisa mesmo da intuição, é a coisa do sentir na pele, né, aquela coisa da comunhão de... de alma.
P1 - As influências que você teve também.
R - Exatamente. Muita influência, muito boa, muito positiva desde a minha infância e mesmo aqui em Ubatuba. Tem muita gente que tem pé atrás com o caiçara. O caiçara realmente é meio difícil de lidar. Mas se você também é um caiçara, se você mostra pra ele que você é um caiçara, você não tem problema nenhum de receptividade. O caiçara é desconfiado. Ele tem um pezinho atrás. Mas existe essa coisa do acolhimento que é só o caiçara que tem.
Agora, se você não cair nas graças dele, você não vai ter esse acolhimento. A partir do momento que você tem esse acolhimento, você aprende muito com ele. Existem caiçara na minha vida, assim, de uma importância muito grande, como foi o seu Davi, como é o Zizinho. O Zizinho é um caiçara que eu aprendi muito com ele. Ainda aprendo, né? Ele tem muito o que ensinar pra gente. A turma lá do Puruba, Caçandoca, meu Deus, Camburi, seu Genésio do Camburi. Quanto que eu aprendi com o analfabeto que só conhecia a letra O, porque sabia que era uma rodinha. Mas quanta sabedoria naquele homem. Quanto que eu aprendi com ele. O prazer que foi pra mim uma vez que a gente levou o grupo de teatro para o Camburi e se apresentou no Camburi. A primeira vez na vida que eles tiveram, né, viram o que era um teatro. Foi muito prazeroso. Nem me lembro mais que ano foi isso, mas a gente foi.
P1 - Se apresentou no Camburi com o seu grupo de teatro.
R Exatamente, com a turminha da Fundart,
P1 - Outros mestres da cultura que você participou aqui, os professores...
R - Bigode. Gente, quanta sabedoria. Bigode também é outro analfabeto, né?
P1 - Sim.
R - E, no entanto, um artista plástico maravilhoso. Não era um simples artesão. Um artista plástico completo. As esculturas em madeira do Bigode, tem escultura dele espalhado pelo mundo inteiro, tem até no Vaticano. E o homem conhecedor de todas as ervas da mata, era um mateiro, não era só um escultor. Ele tinha a sabedoria da mata. Bigode também, aprendi muito com ele. O Jacó, outro grande escrit., outro grande escultor. Então, tem, nossa, tantos, tantos, tantos. E aqueles caiçara de coração, de adoção, como eu, como foi Ney...
P1 - Ney Martins.
R - Ney Martins, um dos maiores folcloristas que eu conheci, um dos maiores preservadores da cultura caiçara, é Ney Martins. Que falta faz o Ney Martins, né?
P1 - E os não caiçara que por aqui passaram?
R - Que também marcaram?
P1 - Sim.
R - Renato Nunes, Conrado Becker. Renato Nunes foi de uma importância para o Ubatuba dentro da área das artes, fantástico Flávio Girão. O pai da Fundart é Flávio Girão. Foi ele, ideia dele, a criação de uma fundação de arte e cultura.
Então, Eliane Inglêse, Lili, certo? É de uma importância para a cultura e nem era da área da cultura. E, no entanto, o que ela fez na Fundart foi algo fantástico, maravilhoso. Ela soube se cercar das assessoras maravilhosas, cada uma dentro realmente da sua área. Eu me lembro que uma vez a Lili falou "gente, eu não sou da área da cultura, eu sou bióloga". Mas ela era uma administradora fantástica. E ela soube administrar, ela reergueu a Fundart. Ela é de uma importância muito grande dentro da cultura, dentro das artes em Ubatuba.
P1 - Inclusive trazendo pessoas de fora.
R -- Exatamente.
P1 - Agregando
R - Renato foi o primeiro. Ele realmente... ele começou a estruturar. Foi um ano só. Ele e o Conrado. Conrado deu uma continuidade ao trabalho do Renato nos dois primeiros anos da gestão. Quando ele foi reconduzido para mais dois anos, aí começaram as dificuldades, porque aí mudou a administração, mudou a prefeitura. Aí a coisa começou a ficar presa, certo? Então, Conrado meio que se viu de mãos atadas. Não conseguiu dar a continuidade que na verdade ele queria.
Talvez ele não fale isso, mas eu falo, eu posso falar. Ele realmente foi podado em muitas coisas pelo prefeito da época. Aí saiu o Conrado, aí vieram outras direções e degringolou tudo novamente, aí veio o Lili, que botou ordem na casa. Aquele departamento que era inchado pra caramba, porque tudo que era... Ah, precisa agradar... Ah, o vereador? Manda pra Fundart. Precisa agradar não sei o que? Manda pra Fundart. Fundart tinha... O que tinha de funcionário fantasma era uma coisa impressionante. Não sei se é o momento de falar isso. Mas enfim, ele conseguiu botar ordem na casa e reergueu a Fundart. A Fundart voltou realmente a ser o que deveria ser.
P1 - Foi quando teve o processo seletivo.
R - Exatamente. Quando a gente mexeu nos estatutos, refizemos tudo e parece que está, não sei, tudo perdido novamente, né?
P1 - Lopreto!
R - Aí Lopreto, outro que faz falta, então. Lopreto, pro teatro, em Ubatuba, pras artes cênicas e não só teatro, mas pras artes plásticas também, certo? Porque Lopreto era um artista multidisciplinar, certo? Ele era do teatro, ele era do cinema, ele era das artes plásticas.
Então, a primeira vez que ele veio, me lembro que ele veio pra dar uma oficina de História da Arte. Foi uma oficina maravilhosa, onde ele abrangeu tudo, tudo. A História da Arte de uma maneira geral. Pintura, escultura, teatro, cinema, música. Foi um curso maravilhoso. Ele fez várias oficinas aqui. Depois veio fazer a oficina específica de teatro, onde eu também aprendi muito, muito, muito, muito demais.
P1 - E as representações?
R - Nossa! As finalizações da oficina de teatro do Lopreto foi, assim, um acontecimento da cidade que muita gente lembra até hoje. Foi uma coisa maravilhosa. O que a gente conseguiu, de juntar gente na rua, na praça, ali em frente à Matriz, e acompanhando a gente ao longo da orla toda.
P1 - Lembra da Rapunzel?
R - Da Rapunzel, não. Era a Julieta, Romeu e a Julieta. A cena de Romeu e a Julieta da sacada, certo? Nós fizemos...
P1 - Relata esse período, Marilena, isso é muito...
R - Então, essa oficina do Lopreto, que foi feita meio na marra, porque ela tinha sido aprovada na gestão anterior. Ah, trocou e quase que não acontece. "Não, foi aprovada pelo conselho tem que acontecer." Então, aconteceu. E nós encerramos com três apresentações. Uma delas, três não, quatro. Quatro apresentações. Três na rua e uma dentro da Fundart. A cena Romeu e Julieta, que começou no Casarão e terminou lá naquele shoppinzinho último lá do Itaguá, a mesma cena representada 21 vezes das maneiras mais inusitadas.
Então nós tivemos assim, a cena clássica, Julieta tradicional, Romeu tradicional. Isso lá no Fundart. Eu não me lembro quem foi que fez a Julieta, na Sacada. Eu não me lembro quem foi que fez a Julieta, mas o Romeu quem fez foi o menino que faz teatro hoje em São Paulo, o Hérnica, Rafael Hérnica.
P1 - Rafael
R - Aí dali nós fizemos na praça, no coreto, várias cenas ali. Fizemos uma com o Luizinho e a menina, não me lembro o nome, eram meus alunos. Os dois, aquela cor jambo, caracterizados como uma pintura de... Pô, meu Deus do céu, o que foi pro Haiti, o Havaí, o Haiti. Nossa, como é que eu esqueço o nome do artista, meu Deus. Contemporâneo de Van Gogh, amigo de Van Gogh, que retratou as mulheres com... Daqui a pouco eu lembro o nome melhor, a idade chegando aí.
Os dois fizeram uma cena maravilhosa, isso ainda foi durante o dia. Depois uma cena no coreto também, mais tradicional. E a terceira cena, já à noite, o Igor Martins de Julieta, 1 metro e 90, de homem, né? E Tilô de Romeu. Como Tilô, daquela época, já estava na fase que estou hoje, que não consegue mais memorizar, ela precisava de um ponto, de alguém para ficar soprando. Então, criou-se um terceiro personagem, uma moita. No caso, a própria. Eu me vesti de moita e eu acompanhava o Romeu pra onde ia com a testa na mão falando pra ele. Então eu acabava interagindo eu, porque eu também queria ser o Romeu, certo? A ponto, assim, também teve um momento que o Igor lá do... "Ô moita, o que é mesmo que eu tenho que falar que eu esqueci?" Então, foi assim... Marcou muito, marcou muito mesmo. E dali continuou, né? Fizemos na... na antiga... o antigo prédio da Câmara. Hoje é Secretário de Turismo ali, né? Sim. Alguma coisa assim. Tinha uma Julieta em cada janela. E um Romeu só do lado de fora, interagindo com as Julietas todas.Teve outra ocasião que eram dois Romeus pra uma Julieta. Então foi assim, né? Desde aqui nesse shopping, perto do aquário, ali foi feito uma cena também. O Romeu, inclusive, quem fez foi o Vitor. Não me lembro quem foi que fez a Julieta. Os dois de caipira. Os dois. Foi a coisa mais linda. E nesse mesmo local também tivemos duas Julietas. Era Julieta e Julieta. Como também tivemos dois Romeus. Foi assim. O Lopreto viajou total na criação. E a última Julieta, que foi lá naquele shoppeinzinho do Itaguá, eu fiz a Julieta. E o meu Romeu era um garoto de 19 anos. Então foi onde a gente também mexeu com a questão do etarismo.
Foi uma cena maravilhosa. Foi lindo. Foi muito bonito. Então foram 21 cenas. Então teve essa. Teve uma outra que foi uma intervenção na praia grande, que é o "Vamos Invadir Sua Praia". Então, cada um criou um personagem e foi pra praia. Imagine, na noite anterior tinha tido o Jogo do Brasil. A gente achou que a praia ia estar deserta, não tava. Tinha um monte de gente na praia, a gente interagiu com os turistas na praia. E teve tudo quanto foi tipo de personagem, teve aquele que encarnou um personagem de repórter, então saiu entrevistando todo mundo, teve o outro que deu uma de criancinha, teve o outro farofeiro, teve o que foi saudar Iemanjá, teve tudo, teve tudo lá, teve a madame Guarujá de salto alto, chapelão, sabe, teve tudo, né? Foi muito interessante. E outro que marcou demais foi a invasão dos macacos.
Aquela performance foi maravilhosa, que foi ali no coreto também. Tia Elô, naquela época, tinha mais ou menos a idade que eu tô hoje, 70 e poucos anos. Tia Elô subia naquele...
P1 - Mastros
R - de macaco. Sabe? Foi assim uma coisa maravilhosa, porque de repente, do nada, um monte de gente se comportando como macaco, isoladamente, em grupo. Um grupo dentro do coreto, batendo tambor, uma percussão assim bem afro, bem selva, de repente vem, começa a vir gente de tudo quanto é lado. A praça cheia, porque foi super, eu não sei se depois da música ia ter isso. Vum! Vem todo mundo ali.
E num determinado toque do tambor, vum! Todo mundo desaparece. Aquilo foi de um impacto, porque, primeiro, ninguém entendeu de onde que tinha vindo todo aquele bando de macaco. E de repente todo mundo some. Foram 15 minutos de macaquice ali, de som de tambor, né? Então foi assim uma coisa muito impactante. E aí o encerramento foi dentro do pequeno auditório da Fundart, né? Que era minúsculo aquele auditório, onde foram montadas diversas cenas de tudo que se fez. Tudo dos Romeu e Julieta, como dos personagens da invasão da praia, como dos macacos, né, e coisa criada ali.
Então, saía personagem da plateia, vinha personagem de fora, vinha personagem do fundo, e a gente fez ali uma salada dentro do auditório. Foi muito bonita a experiência, marcou muito a cidade toda. Até hoje se lembra disso. Tem muita gente que deve ter entendido que até hoje ele fala, oh, moita!
P1 - Marilena, essa trajetória sua, participando de tantos grupos, como que você sente isso com relação à cidade.
R - Olha, é muito gratificante saber que frutificou, sabe, de uma maneira ou outra, principalmente com relação à arte, né, com relação a qualquer ato especificamente. Frutificou de uma forma maravilhosa. Eu tenho... Eu não gosto de falar em ex-aluno porque eu não sou professora. Eu não tenho essa formação acadêmica. Eu apenas procurei e indiretamente até hoje eu procuro ainda isso passar pro outro, seja criança, seja jovem, seja adulto, uma experiência minha. Não, um aprendizado meu. Eu aprendi alguma coisa que eu quero passar pra você. E eu vejo que isso frutificou. Eu tenho, por exemplo, um ex-aluno que hoje dá aula em curso superior aqui na região do Vale, que é o João Roberto. Eu tenho Muri, a Muriel, está na França com o grupo de teatro dela, onde ela faz a oficina, que é a minha oficina.
Tem o Pedro, que tá na Inglaterra, fazendo doutorado em artes cênicas e dando oficina de teatro. Eu, frutificou, sei lá, tem o Gerê que está lá em Portugal, perdi o contato com ele, mas eu sei que ele andou também fazendo arte lá por Portugal que saiu lá do Rio Escuro. Tem Matisse que também tá na França, que também está fazendo teatro. Ele tinha parado durante algum tempo e voltou a fazer teatro lá na França.
Ele tem lá o trabalho dele e tal, mas faz teatro também. Né? A primeira... A primeira limpeza da pedra fui eu que fiz. Chegou tudo pedra bruta na minha mão. E eu limpei a pedra. Joguei pro ourives. O universo.
P1 - Sua generosidade.
R - Não sei se é generosidade, mas é o que eu gosto de fazer, eu me sinto bem fazendo isso. Eu gosto de dirigir, eu gosto muito de atuar, até porque estou com saudade de atuar. Eu até já pedi para o Vitório Colaccio (não entendi o sobrenome), que durante um bom período foi meu grande sócio, meu grande parceiro no teatro.
A gente deu oficina juntos bastante tempo e a gente continua com uma ligação muito forte até hoje. E eu já pedi para o Vitório, o Vitório escreve muito, escreve também além de. dirigir. Eu pedi para ele, "Vitório, faz um texto para mim, faz uma comédia, eu quero voltar a atuar. Faz assim, né? Abordando os problemas da terceira idade, esquecimento, alguma coisa que se de repente eu esquecer o texto, eu falo Péra aí, esqueci, pode pegar,."
P1 - Voltar a ser moita
R - Realmente ele escreveu um texto maravilhoso, onde eu não preciso ter a preocupação de decorar por que eu sou uma narradora da história. Uma Tragédia Grega
Mas é um texto simplesmente maravilhoso. Tá lá, é um projeto que a gente tem.
A gente conseguiu fazer uma leitura dramática. Num dos festivais aqui. Eu não sei nem por que que não teve esse ano...
P1 - FEPET (Festival...)?
R - É. Por que eu não teve Fepet esse ano?
P1 - Aprovações.
R - Enfim, em um dos Fepets a gente conseguiu fazer uma leitura dramatizada.
Paty junto comigo, e o Rodrigo Caldeira. Éramos os três, foi maravilhoso. O texto é lindo. O texto é fantástico.
Tá aí, tá guardado aí no projeto, um dia sai. Mas eu ainda quero uma comédia.
P1 - Sonhos? Voltar a atuar.
R - São inúmeros os sonhos, né? Voltar atuar é um deles. É... dirigir Eu não parei. É bem menos, né? Mas eu tenho praticamente um trabalho novo com Jonas Ribeiro, que é escritor, que é contador de história e eu faço a direção teatral dele, né? Ele escolhe o define que ele vai apresentar aquele ano e eu faço a direção. Eu não parei de dirigir. Fiz umas direções em conjunto com o Vitório, mas oficina mesmo faz anos que eu parei, dificilmente eu voltarei a dar. Mas a direção eu gosto, eu gosto de dirigir também. Mas estou sentindo falta de atuar. Confesso que sinto falta. Então gostaria de voltar a atuar. Gostaria de voltar a dirigir mais coisas, não ficar só nessa pouca coisa, eu tô outra vez com essa vontade, mas a oficina mesmo, sei lá, de repente até em parceria com alguém mais jovem prá cuidar da parte física da parte de corpo. Quem sabe de repente, mas não chega a ser um sonho, voltar a atuar, sim
P1 - Concertada?
R - Esse também eu continuo, de vez em quando eu tenho minhas participações com a Concertada, por sinal que agora dia 4 vai ter, eu brinco com eles lá, fazendo minhas brincadeiras, interagindo prá não ficar só na cantoria, né? Eles acharam essa fórmula e não é sempre que eu vou, eu não sou, assim, digamos, uma presença fixa no Concertada. Mas quando eu posso, eu vou. Gosto. É uma forma de manter... De ir pra palco, porque é saudade do palco. Porque eu gosto do palco.
Então, gosto muito de participar do Concertada. E eles são ótimos, né? Um grupo maravilhoso. Que canta pelo prazer de cantar, né? Eles não têm um compromisso profissional. Como eu também nunca tive esse compromisso, nunca me profissionalizei. Eu não tenho DRT. (Delegacia Regional do Trabalho) eu não sou uma profissional do teatro. Não sou uma profissional da arte. Eu nunca dependi financeiramente do teatro, da arte. Eu sempre tive trabalhar ,a coisa da arte, a arte não dá dinheiro. E realmente é sofrido pra caramba. Não dá dinheiro mesmo, a não ser que vire um ator global, coisa que nunca foi
Meu sonho, minha meta. Aliás era uma coisa que, vou fazer um parênteses aqui, que eu sempre, no início das oficinas, eu perguntava, “por que vocês estão aqui? É pra fazer teatro ou é pra virar astro de TV? Porque se for pra virar astro de TV, vocês estão no lugar errado. Vai procurar as oficinas dos bambambãs de TV, o meu não é isso, a minha área não é essa. É ser ator, atriz de teatro. E o teatro é isso aqui, ó.”.
TV é arte dramática? é também... É cinema, mas é outra, é outra linguagem. E principalmente, se é que quer ser astro, ser estrela, ser a personalidade, não é comigo, vai procurar outro. Porque tinha gente que ia achando, ia dizer, você acha que vai chegar aqui, vai decorar o texto e amanhã, a Gloobo vai te contratar, procura outro. Não é assim.
P1 - Marilena, estamos chegando ao nosso final do nosso bate papo, queria saber se tem alguma coisa que você gostaria de falar, que não foi perguntada.
R - A única coisa que eu gostaria de falar é que Ubatuba é a minha casa.
Talvez eu seja mais caiçara do que muito caiçara. O amor que eu tenho por esse lugar... Talvez seja maior do que muita gente que nasceu aqui. Então a minha gratidão pelo acolhimento que o Ubatuba me deu.
P1 - Como foi pra você contar a sua história?
R - Foi interessante. Tem muita coisa ainda prá contar.
P1 - Acredito
R - Tem, por exemplo, eu não atuei só na área do teatro, né? tive, não como artista plástica, mas ajudei e fui curadora, inclusive, de muitas exposições. Eu organizei muitas exposições, atuei nessa área também, de coordenar, principalmente fora da Fundart, Eu levava os artistas plásticos para expor em outros lugares. O envolvimento lá com a aldeia, né, minha amizade com o seu Altino, com o Marcos Tupã, né, eu tenho todo, um envolvimento bem maior do o teatro.
P1 - Você acha que a cidade te reconhece?
R- A não tô preocupada com isso não. Não tô. Talvez, mas não acredito muito nisso, não. Tem muita gente nova que não faz a menor ideia do que eu fiz, do que eu faço aqui, certo? Aliás, o Ubatuba tá cheio de gente nova. Cresceu muito o Ubatuba. Os mais antigos, os caiçaras mais antigos, talvez ainda lembram alguma coisa minha. Agora, se tem reconhecimento, se eu fiz alguma coisa pra ter esse reconhecimento? Não estou preocupada com isso.
P1 - Os frutos tão aí, né?
R - Tão aí. Tem... Isso pra mim já é gratificante. Se me reconhecem... Se reconhecem algum valor ou não no que eu possa ter feito, tô preocupada não, o que me importa é que eu estou satisfeita com o que eu fiz então
P1 - é o mais importante
R - É o mais importante
P1 - tá certo bom, então vamos encerrando agradecendo muito, muito
R - obrigado, eu que agradeço.
P1 - E NUMPE do Museu da Pessoa de Ubatuba, que está iniciando com a sua presença bacana da nossa cidade agradece
R - Obrigado, agradeço.
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