"Pra mim o movimento está inexpressível, ele não existe."

Projeto Memória Petrobrás

Entrevistado por Inês Gouveia

Depoimento de Roberto de Castro Ribeiro

Rio de Janeiro 18/03/2009

Realização Museu da Pessoa

Depoimento nº PETRO_TM064

Transcrito por Maria Christina de Almeida Macedo

P – Roberto, bom dia.

R – Bom dia.

P – Pra gente começar a nossa conversa eu vou pedir que você diga seu nome completo, o local de seu nascimento e a data do seu nascimento.

R – Ok. Meu nome é Roberto de Castro Ribeiro, nasci no dia 24 de janeiro de 1948. Sou carioca nascido em Vaz Lobo, morei muitos anos também em Madureiro.

P – Roberto, antes de se aposentar qual era a sua atividade dentro da Petrobrás?

R – Eu trabalhei em três órgãos da Petrobrás. Comecei em 1974, quando entrei pra Petrobrás, no serviço financeiro, Serfin. Depois fui transferido para o Sermat, serviço de material. E depois fui pra Fronap, Frota Nacional dos Petroleiros, aonde me aposentei em 1997.

P – O objetivo principal da nossa conversa é contar um pouco da história dos movimentos que representam os trabalhadores. Então nesse sentido Roberto, em que momento você começou a se interessar por movimento de representação dos trabalhadores?

R – Bom, desde de 74, que eu entrei na Petrobrás, eu sempre participei de todos os movimentos: paralisações, greve, a favor dos trabalhadores. Como base, nunca como dirigente sindical. Só entrei na política, vamos dizer assim, como dirigente sindical logo após a minha aposentadoria que foi em 97. E por entender que aí 98, 99, comecei a sentir que os aposentados como eram discriminados. E nessa oportunidade, durante esse um ano e pouco, dois anos, até 99, 2000; nós vimos a necessidade de nos organizarmos. Quer dizer, tanto aposentado, como pensionista. E nessas conversas nossas, que nós tínhamos um encontro mensal, durante esse um ano e meio, dois anos; resolvemos criar uma comissão de base dos aposentados e pensionistas do Rio de Janeiro. Então começamos com a base de cinco a dez pessoas, uma reunião mensal e cada um procurou ligar praqueles seus conhecidos, aposentado e pensionista. E esse número foi aumentando mês a mês em cada reunião nossa. Então em 99 nós já tínhamos um grupo de umas 15 a 20 pessoas. E esse grupo foi aumentando. Chegamos em 2000, nós vimos que já era preciso já tirar uma coordenação desse grupo aí de 15, 20 pessoas. E tiramos cinco pessoas pra serem os coordenadores responsáveis pra dar essa linha política na organização. E dessas cinco pessoas, eu estou incluso, fui eu, um outro companheiro também lá de Niterói que eu moro em Niterói, Roberto Castanheira, o companheiro Alcino Ordi e duas companheiras: a Célia e a Dulce. Então nós tínhamos ali cinco pessoas na coordenação dessa comissão de base do aposentado e pensionista do Rio de Janeiro. E essa comissão tinha um objetivo: o objetivo principal era lutar pelo nosso direito. Fazer com que a Petrobrás e a Petros, cumprisse o nosso contrato. Quer dizer, nós temos o nosso fundo de pensão na Petros onde consta várias clausulas e nós vimos que já, desde 96, essas clausulas não estavam sendo cumpridas. E por isso nós nos organizamos e participamos de todos os atos e congressos pela FUP (Federação Única dos Petroleiros); e agora recente, nos últimos dois anos, pela FNP, né? Que é Frente Nacional dos Petroleiros. E achamos que mesmo assim toda a nossa luta foi boa, foi válida, mas continuamos sendo discriminados nos acordos coletivos em função da política de Governo.

P – Qual era o sindicato a que você fazia parte?

R – É o sindicato do Rio de Janeiro, o Sindipetro-RJ.

P – Nessa ocasião que você deixou de fazer parte do movimento de base, como você chama, e passou mais pra cordenação do movimento; como estava organizado o sindicato?

R – O sindicato na época tinha um companheiro que hoje é gerente, né? O Mosá; ele também era diretor da FUP. E nessa reunião, e nós, como eu falei, mensal, essa reunião passou a ser oficial. Tem até hoje, já são dez anos. Dentro do sindicato nós nos reunimos a primeira terça-feira do mês às 14 horas. Então toda primeira terça-feira do mês às 14 horas tem a reunião dos aposentados e pensionistas dentro do sindicato. Aí nessa comissão nós vimos que era preciso colocar aposentado dentro da direção. Que naquela época só tinha um aposentado. E assim mesmo esse aposentado, que era o companheiro Diná, ele em função de que tinham poucos aposentados também na Petrobrás na época. Então nós resolvemos: “Não, nós temos que ter diretor lá”. E aí as chapas que concorriam em 2000, 2002 nós colocamos uma cláusula que tinha que haver 30 por cento de aposentados na direção. Naquela oportunidade eram 24 diretores, então nós queríamos oito. E não foi bem visto essa imposição. Mas nós colocamos ali que para apoiar qualquer uma das três chapas naquela época, tinha que aceitar oito aposentados na direção. Mas entre nós mesmos também não houve um consenso de que oito pessoas estariam dispostas a fazer parte de uma direção. Só ficamos cinco. E desses cinco duas chapas se uniram, que era a oposição na época a chapa que estava na direção que era o companheiro Mosá, aí ele se uniu a chapa que era encabeçada pelo Abílio Adosim e o Emanuel Cancela. Então essas duas chapas se uniram fazendo oposição à direção atual que era do companheiro Mosá. E nós entramos com cinco aposentados nessa chapa que ficou então uma chapa única de oposição e ficamos cinco diretores. Isso foi de 2002 a 2005. E 2005 também vieram outros aposentados. E agora em 2008 nós entramos com 15. Então aumentou também de 24 para 33. 33? É, 33 diretores. E hoje nós temos no Sindipetro-RJ 15 aposentados.

P – Roberto quais foram, sobretudo nessa década de 90 pra gente pensar agora, quais foram as principais estratégias de luta que o sindicato utilizou diante das problemáticas da década de 90?

R – Bom, primeiro: nós, nessa comissão de base aí dos aposentados, escrevemos a nossa tese. Tem uma tese até hoje que cada ano a gente atualiza, eu acabei de passar a tese aí pros companheiros. Então cada ano a gente vem atualizando em função de quê? Em função dos acordos coletivos, em função da política tanto nacional, internacional, em função das perdas. Aí existe, de 96 pra cá, que foi imposta uma remuneração variável. E naquela época nós entendemos que a política era pela privatização da Petrobrás. E que isso ocorreu, ocorreu lá no Rio Grande do Sul, ocorreu com a própria Interbrás, a própria Fronape (Frota Nacional dos Petroleiros) também ela foi retalhada e hoje é a Transpetro. Então nós já batíamos nessa política, ta? Neoliberal. E esses congressos que haviam da FUP nós colocávamos lá nossa bandeira que éramos contra a privatização da Petrobrás, éramos contra essa política de remuneração variável que ela discriminava o aposentado e pensionista. Como discriminava? Porque nós no acordo coletivo, a Petrobrás vinha com índice de reajuste, esse índice era pra todos. Ou seja, arquiva o aposentado e pensionista, mas ela começava a aplicar a partir de 96 uma remuneração variável. Ela em 96, 97, 98 ela deu um abono como um abono de contingência só para os ativos. Então aí nós começamos a perder. Entramos com ações na justiça, através do sindicato, né? Através do departamento jurídico, mas os juizes entendiam naquela época que nós não tínhamos direito. Mas a Petrobrás mudou a estratégia. Então a partir de 98, 99, até hoje a Petrobrás veio com outra remuneração hoje também. Ela dá níveis para os companheiros da ativa e esses níveis não são estendidos para os aposentados. Só que, ela fez isso 2004, 2005 e 2006; e as ações que nós estamos na justiça, na primeira e segunda estância, está favorecendo os aposentados e pensionista. A Petrobrás então já mudou nesses dois últimos acordos, nesses últimos dois anos. Ela não deu níveis. Porém ela criou uma outra remuneração variável que nós achamos também que é uma fraude salarial não só para com os aposentados e pensionistas, mas também para os companheiros da ativa. Ela fez um novo Pcac, um novo Plano de Cargo e Salário aonde os aposentados ficaram com a sua tabela congelada em dezembro de 2006. E ela colocou ali, 2006 pra cá, uma parcela da remuneração variável que chama Rmnr, que é uma remuneração mínima nacional de reajuste regional. Então entre os companheiros da ativa que está no Rio e quem está lá na Amazônia já são diferentes. Então um tem direito a dois por cento, outro quatro por cento, outro seis por cento. Essa Rmnr ela é diferencial em cada Estado. Então se já é uma fraude salarial dentro da política dos companheiros da ativa. Enquanto um está ganhando 32 por cento, outro está ganhando 34, outro 36. Por que isso? Porque os admitidos novos de 2002, eles não tinham a periculosidade que era 30 por cento. Então a Petrobrás, para aqueles novos que não tinham esses 30 por cento de periculosidade, ela procurou dar através dessa Rmnr. Mas isso, esses quatro, esses dois por cento, não está englobado no salário dele. Então veja só o que vem acontecendo com essa remuneração variável: ele não desconta para o fundo Petros. Já o próprio PLR (Participação nos Lucros e Resultados), que também nós achamos que essa participação de lucros e resultados é uma remuneração variável. Porque ela também não engloba no salário dele como desses companheiros que forem se aposentar o salário dele, o salário vai estar bem pequeno. E aí nós aposentados e pensionistas vamos para os atos, para as assembléias, para os congressos e passamos isso para os companheiros da ativa que quando eles aposentarem eles vão estar pior do que nós que estamos aposentados há dez, 15 anos ou 20 anos. Porque daqui pra frente com essa política fraudulenta, que é uma política de Governo e a política de Governo é aplicada em várias estatais e, principalmente, dentro da Petrobrás. Isso é frauda salarial. E não sou eu quem está falando, não é o Roberto Ribeiro que está falando. Aí quem disse que isso é fraude salarial são os juizes dentro dos processos. E hoje nós estamos desmascarando essa fraude. Então nós estamos já no Superior Tribunal do Trabalho onde já está em Brasília, e nós estamos ganhando. Não recebemos ainda, ninguém recebeu ainda esses níveis e esses percentuais que foram dados, né? Esses abonos. Nós temos já a grande possibilidade de ganhar e opor as nossas perdas. Principalmente esses níveis que foram dados em 2004, 2005 e 2006. Quanto a Rmnr que eu falei, essa parcela nós já estamos entrando também com ações na justiça. E aí mais na frente, de repente, nós poderíamos falar a questão da repactuação. Eu não sei se nós vamos entrar nesse assunto. Mas essa remuneração variável é uma fraude salarial para os aposentados e pensionistas e também para os companheiros da ativa. Porque eles também não descontam para o Inss (Instituto Nacional de Seguridade Social), não descontam para o funda de garantia, não ganham nas férias, quer queira você tem suas férias também, não ganham isso. Enfim, essa remuneração variável só é descontado em imposto de renda. Então num global eles vão perder lá na frente e assim é a PRL, a participação de lucro e resultado. Que são descontados são impostos de renda, não é englobado no salário deles. Então daqui mais uns cinco, dez ou 20 anos, eu não sei, quando forem se aposentar o salário deles vão estar pequeno, reduzido.

P – Roberto, pensando em toda a sua trajetória dentro do sindicato qual foi a conquista que pessoalmente mais te marcou?

R – Bom, eu fui eleito ao diretor do Sindipetro em função dessa comissão, em função desse trabalho em 2002; uma data até 2005. Em 2005 eu não quis, fiquei decepcionado com toda essa política. Não quis vir mais no movimento, como diretor do movimento sindical. Fui eleito para diretor da FUP, federação dos petroleiros. Fui eleito também agora ao conselheiro, como conselheiro, conselho deliberativo da Petros. E dentro desse movimento, né, petroleiro; principalmente, dentro do movimento dos aposentados e pensionistas. Fui eleito no ano passado, em 2008. Então isso não deixa de ser uma conquista pelo trabalho, pelo reconhecimento que aí não é só os aposentados e pensionistas; eu acredito que eu tenho também uma credibilidade com os companheiros da ativa. Porque enquanto diretor e até mesmo agora que eu voltei em 2008, fui eleito nessa direção atual, nova direção do Sindipetro-RJ; enquanto diretor, eu não sou só diretor de aposentado e pensionista. Eu sou coordenador da secretaria dos aposentado e pensionista do Sindipetro, mas eu sou também diretor de toda a categoria. E aí é pensionista, aposentado, são os da ativa antigo e também os companheiros da ativa nova. Então eu não posso dizer que eu sou diretor só dos aposentados. Não. Da categoria num todo. E como conselheiro na Petros, sou suplente do Paulo Brandão, conselheiro deliberativo e é todo os participantes do fundo Petros.

P – E das greves? Qual que foi mais marcante pra você?

R – A mais marcante pra mim foi a de 95. Foram 32 dias de greve, onde nós tivemos algumas conquistas. Essas conquistas ainda têm companheiros que foram mandados embora, né? Que não foram anistiados, isso é um outro problema. Nós tivemos uma conquista assim aí, não podemos dizer que no Governo Lula nós não tivemos alguma conquista. Tivemos. E aí muitos companheiros que foram demitidos da greve de 94, da greve de 95 e foram também quando o Collor extinguiu a Interbrás; esses companheiros foram anistiados. Mas ainda tem um número grande. Então é uma luta que nós estamos fazendo para que esses companheiros voltem ao local de trabalho, que voltem a Petrobrás. Então marcou 95.

P – Você pode contar um pouco pra gente, um pouco melhor sobre essa greve, as motivações dela?

R – Bom, a motivação foi uma greve nacional, né? Uma greve que repercutiu na mídia; repercutiu porque nós tivemos paralisações de refinarias, de plataformas, então foi um movimento unificado. E aí a participação do Sindipetro, de todo o Sindipetro, dos 17 sindicatos petroleiros que nós temos no sistema Petrobrás, foi importante. Tivemos a participação da CUT (Central Única dos Trabalhadores), a CUT teve uma atuação ali importante, né? Aí o movimento político partidário, os partidos tiveram um movimento ativo. Então muito importante pra essa greve. E essa greve ficou marcada no sistema Petrobrás. E aí levando pro lado político, hoje infelizmente nós lutamos, conseguimos eleger o companheiro Lula, o Partido dos Trabalhadores e houve uma divisão. Porque o que acontece hoje no sistema Petrobrás? Alguns companheiros militantes, com a eleição do Lula, hoje estão na gerencia da Petrobrás. Aí nós temos mais de 230 companheiros que estão na gerencia. Eu não vou dizer se está certo ou está errado, mas o movimento com isso, de oposição ao Governo, caiu muito. Então hoje nós não temos o movimento de rua. Principalmente puxado pela CUT, e pelo PT (Partido dos Trabalhadores) porque hoje estão no Governo. E esses companheiros outrora que eram companheiros combatíveis, hoje estão na gerencia da Petrobrás. Então eu vejo aí, sou eu falando particularmente, que eles hoje representam o Governo, representa a direção da Petrobrás, não representam mais os trabalhadores. Estão lá em cabo, ganhando bem e aí estão fazendo o outro lado da função deles: é defendendo o Governo, é defendendo a empresa. E aí? Pra mim eles estão contra os trabalhadores porque eles estão aceitando o que está acontecendo. Então nós não temos hoje oposição de rua, de movimento porque o PT se aliou a quase todos ou todos os partidos e todos hoje são Governo. Então isso é uma parte também da política que o movimento sindical está hoje mais ainda todo aliado com isso. Então é uma pena, eu vejo como uma pena e vejo isso até como uma tristeza. Que o movimento político ele hoje está totalmente voltado para o seu interesse e interesse capital. E aí todos nós estamos perdendo com isso.

P – Diante desse quadro que você está nos descrevendo do Governo Lula, quais são as novas estratégias que o sindicato precisa utilizar pras suas lutas?

R – Eu acho um pouco difícil. Porque como eu falei, a maioria dos partidos hoje está aliada ao PT, ao Governo. Aí você vai dizer assim: “Mas não tem oposição?” Sim. Está surgindo o Psol (Partido Socialismo e Liberdade) que vem do PT, o Pstu (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados) com lutas. Mas nós não podemos dizer que o PCB (Partido Comunista Brasileiro), o PC do B (Partido Comunista do Brasil), o próprio PT são partidos hoje de oposição, não são, né? Então a visão nossa, hoje enquanto partido político para fazer o movimento sindical ele está reduzido. Porque o Pstu, o Psol não tem uma força ainda como partido de oposição e que possa dizer que os nossos partidos hoje estão organizando os trabalhadores. Então ainda não tem essa força. Então eu acho que o movimento sindical ele ficou muito enfraquecido com isso, ta? Vamos tentar. Não quer dizer que a gente vai cruzar o braço. Amanhã, dia 20, a partir das dez horas, nós aposentados estaremos fazendo o movimento lá na Candelária, um movimento nacional dos aposentados. Então veja bem, de qualquer maneira temos certeza que vão aparecer políticos, vão aparecer vários partidos. Mas é um movimento puxado pelo movimento dos trabalhadores aposentados e pensionistas. Tem muitos ligados a partido político? Tem. Eu nunca fui filiado a partido político, eu sou totalmente independente. Agora, sempre procurei votar com o movimento dos trabalhadores e aí na época era o PT, ou como o PC do B ou o PC. Mas hoje de fato eu não vejo nenhum dos três que pode dizer: “Não, esse representa de fato a classe trabalhadora e eles são oposição ao Governo”. Não são. Nós estamos aí com os leilões do petróleo e gás, onde o presidente da Agência Nacional de Petróleo é do PC do B. E ele dizia, né, que ele era um comunista. E hoje ele é o presidente, está lá na agencia, está fazendo o leilão de petróleo. Mas é só ele? Não. Pra mim o principal se chama Luiz Inácio Lula da Silva. Porque como o Fernando Henrique mudou a lei do petróleo em 2007, se o Lula quisesse ele mudaria agora também. Mas quando ele entrou em 2002 que nós fomos procurar pelo Lula e a Dilma, estava no quarto leilão de petróleo. E eles falaram: “Não, esse quarto não tem como cancelar, não podemos fazer nada. A partir do ano que vem, em 2003, 2004 nós poderemos ver o que a gente pode fazer. De repente, podemos cancelar”. Mas foi infelizmente o inverso. Já tivemos o quinto, o sexto, o sétimo, o oitavo, o nono e o décimo agora em dezembro no Governo Lula. E levamos pau, apanhamos. Tivemos diretor do Sindipetro com oito pontos na cabeça; o Emanuel, braço quebrado; o Braier, dedo quebrado; vários outros companheiros que levaram borrachada entre homens e mulheres, apanharam; vários foram pro hospital; outros foram presos. Então nós estamos no Governo trabalhador do PT. E aí? É problemático. Então amanhã nós estaremos lá os aposentados e pensionistas em frente a Leopoldina. Fazendo o quê? Reivindicando as perdas nossa que já desde 91, 1991 até agora, estão em 105 por cento. Nós estamos reivindicando que mesmo o índice de reajuste que é dado para o salário mínimo, que também venha para os pensionistas, para o nosso benefício. Nós estamos reivindicando pela recuperação das nossas perdas. Então nós estamos apoiando o projeto do Paulo Paim, que é do PT, mas nós estamos apoiando um dos projetos dele, são três projetos dele. Que já passou no Senado, que agora vai pra Câmara, deputados federais. Então nós esperamos que pelo menos esses deputados que votaram contra em maio, que agora aprovem esse projeto do Paulo Paim, que entendem que os aposentados e pensionistas estão brigando pelo que é de seu direito. E que amanhã muita dessas pessoas, dos companheiros vão estar aposentados. Apesar de que o salário deles, eles se aposentam e ficam vitalícios, não vão precisar da previdência. Mas nós, mesmo petroleiros, precisamos da previdência. Que nós temos a complementação da Petros, mas essa complementação nós temos também a parte da previdência. Então nós precisamos olhar pra previdência, nós não podemos nos preocupar só com nosso fundo de pensão Petros, nós temos a parte da previdência.

P – Roberto, pessoalmente, qual o momento de luta dentro do sindicato que você acha que foi mais difícil?

R – Olha, eu acho que está sendo agora. Por incrível que pareça está sendo agora de 2002 pra cá. Porque como eu falei, é o Governo trabalhador, é o partido do trabalhador. Então não tem movimento de rua, não tem movimento de oposição. Eu acabei de falar isso, não tem. Então eu acho que o movimento sindical, mesmo que na época da ditadura que nós íamos pra lá tomar pau da policia. Estamos tomando agora também, estamos tomando. Mas havia um movimento de rua; os partidos, quase a sua maioria, iam pra rua; a classe trabalhadora se unia, iam pra rua. De 2002 pra cá você não vê isso. Tu vês uma grevezinha ali: “Ah, o bancário, o metalúrgico, o petroleiro vão fazer greve”. Vão nada. Me diz qual foi a greve que nós tivemos em 2002 pra cá dentro da Petrobrás? O Correio fez aí alguns dias de greve, ta? Bancário aí fez alguns dias de greve. Mas cadê a CUT? Cadê o movimento unificado dos trabalhadores? Não. Foi um setor ou outro, um dia ou dois. Não passa de três dias e não há apoio. Então a maior central, que é a Central dos Trabalhadores, ela hoje se omite. Então eu vejo que a maior dificuldade no movimento sindical está sendo agora nesse Governo, no nosso Governo que nós colocamos lá o Partido dos Trabalhadores. Pra mim o movimento está inexpressível, ele não existe. Então a gente pra fazer o movimento teria que criticar o Lula, tem que criticar o partido do Trabalhador. E aí a maioria não quer fazer isso. Porque como eu falei, têm muitos hoje que estão na boquinha. Então é problemático. Então eu vejo que o movimento hoje torna-se difícil em função de que a maioria dos companheiros, ex companheiros estão hoje no Governo.

P – Diante desse quadro, quais são as perspectivas do Sindipetro então?

R – O Sindipetro-RJ, nós temos lá companheiro na direção que fazem parte do PT. Mas ele continua ainda tentando dizer, pelo menos dizer e colocar no seu jornal, que é o Jornal Sui Generis, que de certa parte o governo está errado. Ta? O Governo está errado, nós vamos pra rua. Como eu falei, fomos lá em dezembro, apanhamos. Fizemos um acampamento dentro do _________ no dia 17 de dezembro. Fomos pra rua no da 18 de dezembro contra o décimo leilão de petróleo. Já tivemos todos os outros na rua, fazendo o nosso movimento, continuamos falando que a política está errada. Mas a ferida está lá em Brasília. Tivemos em Brasília sim, mas um ato pequeno. Porque não adianta só um sindicato, ou dois ou três. De 2006 nós fundamos a Frente Nacional do Petroleiro, que é a FNP, lá no congresso da FUP em São Paulo. Porque em 2006 já achávamos que não poderia aceitar a imposição, o sindicato tinha que ficar independente do Governo. E aí os companheiros da federação dos petroleiros quiseram impor isso: repactuação, lá no congresso, da FUP. E aí cinco sindicatos não aceitaram isso, nós tentamos fazer o acordo: “Não vamos colocar isso”. Então cada sindicato se achar que deva fazer um trabalho de repactuação, que faça. Caso contrário, nós vamos ter que... Vai ter um racha. E eu fazia parte da direção da FUP em 2006. A maioria da direção majoritária achou que não, que tinha que ser votado ali no congresso. Aí houve a divisão. Então cinco sindicatos saíram, fizemos plebiscito, nos desvencilhamos da FUP em 2006, fundamos a Frente Nacional dos Petroleiros e ficaram 11 na FUP. Ano passado o Sindipetro do Rio Grande do Sul fez seu plebiscito, também se desvencilhou da FUP e hoje está na FNP, na Frente Nacional dos Petroleiros. Então nós temos hoje seis Sindipetro na FNP e 11 ainda filiado a FUP. Veja bem que já houve até um racha dentro do movimento petroleiro. E nós estamos agora discutindo como fazer uma greve unificada, mas ao mesmo tempo você pega o boletim da FUP, que é o Primeira Mão, ele bate nos seis Sindipetro. Você vai pegar o boletim de um desses seis Sindipetros ou da Frente Nacional dos Petroleiros, a gente critica o Primeira Mão, critica os 11 sindicatos, principalmente a FUP, a atual direção da FUP. Então está complicado. Está complicado a gente se unificar pra poder fortalecer uma briga do movimento sindical. E isso quem perde? Quem perde somos todos nós. São os trabalhadores tanto da ativa, tanto aposentados e pensionistas. Em função de quê? De novo, problema político partidário no movimento sindical.

P – Roberto, se você tivesse que contar a história do sindicato, o Sindipetro do Rio de Janeiro, como que você contaria essa história?

R – Olha, o Sindipetro ele teve uma participação marcante. E agora, na segunda-feira dia 23, ele estará fazendo 50 anos. Sexta-feira, amanhã dia 20, nós temos até um coquetel. Estamos chamando o primeiro presidente do Sindipetro ele está morando, se não me engano, em Santa Catarina; ele era da refinaria de Mangui. Porque o Sindipetro, o sindicato de petroleiros do Rio de Janeiro, começou na refinaria de Mangui. Primeiro presidente foi da refinaria de Mangui. Então o Autran, ele ainda é vivo. E sempre, como nós fazemos aniversário, chama o Autran que é uma homenagem; principalmente agora, 50 anos. E não só o primeiro presidente como o primeiro associado também é vivo; e nós vamos trazer esse primeiro associado. Pelo menos na segunda-feira que nós vamos fazer a homenagem, essa festa na associação de empregado e comércio na Avenida ___________, a partir das 18 horas. E vamos ter vários políticos presente. Então o Sindipetro-RJ, ele teve uma participação muito importante nessas lutas durante esses 50 anos. Foi nas diretas já, conta, eu falei, os mais recentes, o leilão de petróleo, contra, enfim, as mudanças da previdência. Tem uma participação muito histórica em todas as greves; o Sindipetro-RJ esteve presente, encabeçando. Até porque nós estamos aqui no centro do Rio de Janeiro e aí a sede da Petrobrás é aqui. E nós tivemos a sede, a capital da Republica foi aqui. Então o Sindipetro-RJ participou de tudo e participa. Mesmo alguns companheiros atrelados ao Governo ainda, mas tem o movimento. O infelizmente, é o que eu disse, o movimento ele não cresce porque ele hoje ele está muito misturado com o movimento político partidário. Mas tem uma marca, o Sindipero-RJ tem uma marca no movimento, dentro do movimento petroleiro. Isso está registrado. Você chegar no sindicato, você vai ver os nossos jornais, as nossas fotografias e todo o movimento desde a Direta Já até agora contra os leilões de petróleo.

P – Roberto, a militância, a sua atividade de militante sindical interferiu na sua vida?

R – Sim. Me aposentei em 97, são 12 anos, e aí eu achava que eu poderia curtir, né? A minha vida como aposentado. Pra não ficar parado, uma parte da minha indenização comprei um pequeno estabelecimento comercial, um barzinho lá na praia de Itaipu que eu sou de Niterói. Sou freqüentados assíduo e amo Itaipu. Comprei um comerciozinho pra saber que pelo menos no verão eu tinha uma atividade pra fazer, no inverno curtir a minha vida de aposentado. E comecei a trabalhar no verão no meu comércio; mas como eu falei, em 97, aí 98 aí comecei nessa comissão, 99. Aí 2000 eu já tive que largar o comércio e estou direto, todos os dias no dia a dia no sindicato, no movimento. Então eu não consegui ainda durante 12 anos curtir como aposentado. Viajar, pegar minha família, minha esposa, meu filho. Não consegui. Estou direto no movimento sindical brigando pelo meu direito onde eu fazia, pelo menos foram 24 anos na Petrobrás, mas me aposentei com 32 anos de trabalho. Então era pra eu estar descansando e essa luta era pros companheiros da ativa, não mais pros aposentados e pensionistas. Portanto eu tive que voltar e estou aqui. Estou aqui, daqui a pouco tenho uma reunião da FNP com a FUP tentando unificar uma greve em função da PRL que nós não temos direito, veja bem. Nós aposentados ajudamos a construir esse patrimônio hoje que é a Petrobrás, que com a descoberta do ____, ser a segunda do mundo em termos de petróleo. E nós não temos direito a participação de lucro e resultado. Onde muitos trabalharam 20, 30, 40, sei lá, anos; ajudamos a construir esse patrimônio e somos discriminados até nisso. E não é só nessa parte financeira; como eu falei, direito que eles estão tirando da gente nos reajustes, no nosso fundo de pensão. Enfim, eu tenho que estar no movimento gritando que sou contra a repactuação, sou contra abrir direitos que a gente perde dentro do artigo 41, artigo 48. Enfim, são várias coisas que nós estamos abrindo mão. E aí a empresa dá três salários, deu três salários ou 15 mil pra quem é repactuado. Onde é que já se viu alguém oferecer um salário, 15 mil no mínimo, e dizer: “Que é bom, isso aqui é bom, você vai repactuar, vão fazer um novo contrato”. E está pagando por aquilo? Se fosse tão bom como eles dizem nós é que teríamos que pagar lá os 15 mil. Então é mentira. E aí dizem que 73 por cento repactuaram. Talvez. só que eles não mostram esse numero pra gente. E aí se eu for falar sobre a repactuação, eu não quero entrar que essa não é a sua pergunta, mas o que eu quero dizer é o seguinte: estou no movimento sindical para defender nosso direito, direito do aposentado e pensionista, do trabalhador da ativa. Mas tive que abrir mão, estou abrindo mão da minha aposentadoria, do meu lazer. Então com esses 12 anos de aposentado ainda não consegui curtir. Estou mais ainda ativamente nessa briga para manter, já que nós estamos perdendo o nosso direito.

P – Bom, infelizmente a gente vai encaminhando pro fim. Mas eu quero saber se tem algo que você queira deixar registrado e que eu não tenha te perguntado.

R – Bom, eu falei dos leilões de petróleo que eu acho que é uma questão soberania nacional, não é só uma questão do petroleiro; isso é uma questão de todo brasileiro. Que infelizmente a gente convoca para os atos e não comparecem; são poucos que comparecem. E aí pior ainda é ver que os companheiros petroleiros são mais de 50 mil, não estão preocupados com isso. Isso é triste. Eu acho que tinham que estar todo o movimento contra o leilão de petróleo. E mais triste também é ver que um presidente que nós colocamos lá, um operário, trabalhador, continua com a mesma linha neoliberal fazendo, privatizando a Petrobrás, continua com esse leilão de petróleo. Isso é triste. E mais triste é a Petrobrás discriminar os aposentados e não reconhecer que nós tivemos uma participação grande onde ela está. Então são coisas que eu lamento e teria talvez mais alguma coisa, mas no momento a memória começa, né? A gente começa também a já ficar, eu já com 61 anos, começa a gente a perder. Mas são as três coisas principais. E convocar, se for possível, né? Que os companheiros que estão lá na ativa entendam que essa briga do aposentado não é só do aposentado, é também deles. É que é pro futuro deles também, o amanhã. Então tudo que nós aposentados estamos falando, estamos perdendo, se os companheiros entenderem que tem que estar do nosso lado, eles estão garantindo o futuro. Principalmente na remuneração variável e, principalmente, essa participação de lucro e resultado que tinha que ser no salário. Tinha que duodecimar, incorporar no salário que é para garantir aposentadoria deles que eles ganhariam mais. E nós, aí aposentados e pensionistas, também teríamos direito a isso. Porque eu entendo que pra mim é uma questão de congresso, é uma questão da categoria. Congresso quando eu falo é da categoria petroleiro. Dizer que o aposentado não tem direito a participação de lucro e resultado não está em lugar nenhum. E a lei 10101 que rege a participação de lucro e resultado, ela não diz; ela fala trabalhador. E eu sou trabalhador aposentado, eu tenho vinculo com os companheiros da ativa lá no meu fundo de pensão, lá está escrito que eu tenho vinculo por isso eu ganho o mesmo reajuste deles. Por isso eu sou contra abrir direito, sou contra repactuação. Eu quero estar vinculado aos companheiros da ativa. Por isso não abro mão do meu contrato que eu tenho com a Petrobrás e que tenho com a Petros. E aí quero o recado aqui pros companheiros da ativa: fazer greve pela participação de lucro e resultado é um direito. Mas teríamos também que fazer pelo ganho real de salário e na hora do acordo coletivo, o que vem acontecendo nos últimos 12 anos? A maioria dos companheiros da ativa vão lá e aprovam aquela proposta de acordo coletivo porque a empresa chega assim: “Olha, o mês que vem, daqui a dois meses nós vamos discutir PRL. Vamos fechar logo esse acordo coletivo”. E aí nós aposentados e pensionistas estamos sendo prejudicados por isso. Então os companheiros da ativa têm que entender que nós temos que brigar, fazer greve, pro ganho real de salário. Que aí todos sairão ganhando e eles também quando se aposentarem. Então esse é um recado aqui que eu deixo e eu agradeço aí a entrevista. Agradeço.

P – Pra concluir então Roberto, eu quero que você nos diga o que achou de participar do Memória Petrobrás.

R – Eu acho muito bacana, interessante recordar essas lutas, essas vitórias, essas brigas. Eu tive também uma participação muito grande na parte esportiva da Petrobrás. Que eu sou professor de Educação Física então participei muito de todos os campeonatos que hoje infelizmente a Petrobrás não faz mais. Que eram os jogos internos, né? No Edise. E aí todas as unidades participavam, tinha olimpíadas. Fizemos olimpíadas, abrindo olimpíadas lá no _____ de Barro com várias pessoas participando essa unidade, essa integração. Que o esporte fazia essa integração. Infelizmente hoje só temos alguns clubes que é o clube aqui do ___. Então faz ali lá longe na Barra. Então não é mais centralizado aqui no centro. Então o esporte traz isso. E aí vocês estão de parabéns em ficar pegando essas matérias com essas pessoas tanto na parte sindical, na parte social, na parte esportiva. E fica aqui meu agradecimento. E eu acho que o caminho é esse e tem que recordar mesmo porque a Petrobrás já tem mais de 50 anos. E o Sindipetro está fazendo 50 anos, também faz uma parte dessa história. E nós aposentados, com certeza, fazemos parte dessa história. Então estamos todos nós de parabéns. Eu agradeço imensamente. Roberto de Castro Ribeiro às suas ordem. Obrigado.

P – Obrigada.

R – A minha matrícula, só para encerrar, 0074615. Entrei em março de 1974.

P – Obrigada.