Realização - NUMPE - Núcleo Ubatuba do Museu da Pessoa
Entrevista de José Mário Amaral (Pedrinha)
Entrevistado por Fabíola Lugão C, Viggiano, Telma Homem de Mello, Eliane Simões
Código NUMPE_HV006
Transcrito por Telma Homem de Mello
Revisado por Fabíola Lugão C, Viggiano
Titulo “Quem me salvou foi minha arte”
MiniBio José Mário Amaral (Pedrinha) nasceu em São Paulo, libriano de 14 de outubro de 1978 é filho de Deise Maria de Assis Pereira e Eugênio Brasília Amaral.
Skate foi sua diversão e esporte junto com o seu irmão, até que se machucou. Estudante com muitos amigos, fez faculdade de turismo o que o despertou para Ubatuba e o surf. Toca zabumba, integrou grupos de forro pé de serra e tem discos gravados.
Desenvolveu uma doença rara e passou por uma cirurgia na Espanha.
Vive em intensa conexão com a natureza e como artista plástico através das suas telas e instalações, as cores, alegrias e suas profundidades são vistas.
Sinopse
José Mário Amaral (Pedrinha) é filho de família musical, tocou, compôs e se apresentou com vários grupos de forro pé de serra, ajudou moradores da Casa André Luiz em muitos eventos e expressões. Mas é através dos seus quadros que expõe o seu interior vibrante numa produção intensa, visceral e salvadora. Participa de grupos de artes plásticas de Ubatuba.
Tags João Thomas do Amaral, zabumba, arte, coletivo,Praia Grande, Ubatuba, Casa André Luiz, Barcelona, síndrome de Arnold Chiari e Siringomelia Escoliose, operação, filamento, medula, respiração, artes plásticas, futebol, skate, turismo,futebol, surf, tronco cefálico, ressonância, . ,
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P1 - Bom dia, Pedrinha.
Estamos no NUMPE - Núcleo Ubatuba do Museu da Pessoa e é uma satisfação muito grande poder conversar com você nesse dia 29 de abril de 2024. Bem-vindo.
Estamos aqui com a Telma Homem de Melo, no Impact Hub de Ubatuba.
Queremos conhecer você e para isso eu gostaria que...
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Entrevista de José Mário Amaral (Pedrinha)
Entrevistado por Fabíola Lugão C, Viggiano, Telma Homem de Mello, Eliane Simões
Código NUMPE_HV006
Transcrito por Telma Homem de Mello
Revisado por Fabíola Lugão C, Viggiano
Titulo “Quem me salvou foi minha arte”
MiniBio José Mário Amaral (Pedrinha) nasceu em São Paulo, libriano de 14 de outubro de 1978 é filho de Deise Maria de Assis Pereira e Eugênio Brasília Amaral.
Skate foi sua diversão e esporte junto com o seu irmão, até que se machucou. Estudante com muitos amigos, fez faculdade de turismo o que o despertou para Ubatuba e o surf. Toca zabumba, integrou grupos de forro pé de serra e tem discos gravados.
Desenvolveu uma doença rara e passou por uma cirurgia na Espanha.
Vive em intensa conexão com a natureza e como artista plástico através das suas telas e instalações, as cores, alegrias e suas profundidades são vistas.
Sinopse
José Mário Amaral (Pedrinha) é filho de família musical, tocou, compôs e se apresentou com vários grupos de forro pé de serra, ajudou moradores da Casa André Luiz em muitos eventos e expressões. Mas é através dos seus quadros que expõe o seu interior vibrante numa produção intensa, visceral e salvadora. Participa de grupos de artes plásticas de Ubatuba.
Tags João Thomas do Amaral, zabumba, arte, coletivo,Praia Grande, Ubatuba, Casa André Luiz, Barcelona, síndrome de Arnold Chiari e Siringomelia Escoliose, operação, filamento, medula, respiração, artes plásticas, futebol, skate, turismo,futebol, surf, tronco cefálico, ressonância, . ,
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P1 - Bom dia, Pedrinha.
Estamos no NUMPE - Núcleo Ubatuba do Museu da Pessoa e é uma satisfação muito grande poder conversar com você nesse dia 29 de abril de 2024. Bem-vindo.
Estamos aqui com a Telma Homem de Melo, no Impact Hub de Ubatuba.
Queremos conhecer você e para isso eu gostaria que você falasse seu nome completo, nome dos seus pais, sua data de nascimento e local.
R - Nasci em São Paulo, capital. De criança fui para o Litoral Sul, Praia Grande. Nasci de 14 de outubro de 1978.
P1 - 46 anos?
● 0:57
R - 45 anos. Vou fazer 46 agora. Em outubro. Sou libriano.
P1 - É libriano. O que que você pode nos contar da sua família, sua primeira infância?
Como foi?
R - Então, minha primeira infância, eu fui muito cedo morar na praia. Morei no litoral sul, em um lugar perto de Mongaguá, que é uma cidadezinha chamada Solemar. E eu nasci no meio do skate. Eu sempre andei de skate desde criança, meu irmão é profissional, é comentarista da Globo. E ele sempre via o skate e eu também. E a gente começou isso, toda essa nossa conexão com o skate na praia. Só que eu me machuquei. Eu tive um acidente com o skate, que ele caiu assim, eu caí de perna aberta e quase perdi o bendito.
E isso vai... essa história vai desdobrar lá na frente, porque isso já estava me avisando de um problema que eu tive quando eu fiquei mais velho. Na coluna, inclusive. E só que assim, morei com a minha avó de criança, minha mãe morava em São Paulo,
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e morava com meus tios também. Então, a nossa família era bem reunida, era bem interessante, só que eu e meu irmão sempre um pouco descolados dessa normalidade. A gente sempre andou de skate, já era meio, não rebelde, mas já via a vida de uma outra maneira, de um outro prisma.
P1 - E o skate foi bem precursor, né?
Se considerar esse tempo que vocês estavam com o skate? Bem início dos skates no Brasil.
R - Sim, foi bem início porque eu nasci em 1978, a gente foi morar, sei lá, meu irmão tinha acho que 15 anos quando a gente começou a andar, eu tinha 12, 12 para 13, 12 né, 3 anos de diferença, e a gente foi na década de 80 assim, 1985 assim, já estava andando, já estava revolucionando a rua. Já estava na rua. Aí viemos pra São Paulo de novo e começamos a descobrir as pistas de skate aqui em São Paulo e aí foi indo. Só que aí, com esse acidente, eu saí fora porque vi que não era pra mim, não.
P1 - Foram desbravando nos esportes. Seu irmão mantém?
P1 - Mantém, meu irmão hoje é comentarista da Globo. Hoje ele faz toda a parte de skate da TV Globo.
P1 - Que interessante.
R - É, é uma missão.
P1 - E seus pais?
R - Então, minha mãe é artista, ela em 1970 e alguma coisa, ela era atriz, ela começou a trabalhar na época com o Tony Ramos, com a Fernanda... Como que ela chama? Torres, Montenegro.
Montenegro, isso foi no Montenegro. Só que bem no início, na TV Tupi, só que aí meu avô cortou ela e falou ou você escolhe o teatro ou você sai de casa, se não, vê o que você faz e ela desencanou, e ela casou com meu pai, minha mãe é pianista também, meu pai não deixava ela tocar piano e aí toda essa história maluca assim, não é que não deixava, né? Aquela época, uma época meio conturbada. Isso são as histórias familiares, eu não presenciei isso. Isso foi uma conexão que a gente teve. E aí ela foi, né? E meu pai sempre no trabalho dele, fazendo as coisas dele, eu fui um pouco ausente do meu pai, porque a gente se separou, eu tinha três anos de idade, mas ele sempre estava ali, perto e tal, mas teve uma distância, assim, né? Depois que a gente se aproximou de novo. Mas é aquilo, é aquela... década de 70, de 60, 70, aquela ditadura, aquela coisa amarrada, né? Aquela coisa travada.
● 4:39
E minha mãe acabou cedendo, né? E acabou indo pra outro caminho e desencanou das artes e hoje ela é professora. Quer dizer, professora também é uma arte, né?
P2 - Professora do quê?
R - Geografia e história.
P1 - Mas é a época de muitos perigos, né?
● 4:51
R - Muitos perigos, muitos. Sim, era perigoso, era. E ela como uma mulher, largando, acabando com o casamento, eu com três anos de idade, naquela época ela foi xingada de vagabunda, de puta, de tudo que vocês imaginam, né? Naquela época.
● 4:57
Só que ela aguentou firme, né? E foi uma guerreira e lutou, lutou pelo que ela acreditou, né? Acho que esse é o ponto, né? Apesar de não ter acreditado na arte, né? Ela nunca não acreditou, ela não teve aquela energia pra desenvolver, né?
● 5:30
P1 - E esse Pedrinha moleque, criança, escola, brincadeiras de rua?
R - Então, eu depois que eu saí do skate, eu comecei a ver que eu tinha um talento pro futebol. Eu jogava muito futebol. Era muito bom na escola, eu era muito carinhoso com todo mundo, alegre, feliz, eu aloprava todo mundo, era uma loucura, assim.
● 5:55
Só que eu gastava minha energia nisso, né, nesse social, nessa comunicação com as pessoas. Então, era muito fluídico, eu conhecia todo mundo, amigo de todo mundo, andava com um monte de gente, era aquela coisa maluca. Então, sempre foi legal. Então, vai entender também mais pra frente na minha história, vai entender que várias fichas caíram e eu entendi o quanto eu era ruim na escola, mas não porque eu não queria ser ruim, não era isso. Era parte do meu organismo não deixando eu aprender.
● 6:32
Tinha déficits que eu não sabia o porquê, que foi manifestar mais pra frente depois do meu problema que eu tive. Só que eu sempre estava sempre ali, né? Sempre na missão, fazendo, desenvolvendo, brincando, estudando, respeitando os professores e tal. Sempre fui um cara legal, assim, nesse sentido, né?
● 6:50
Nunca fui um cara terrorista, né? Mas eu sempre fui... tranquilo, assim, na verdade. Minha infância foi ótima, assim, né? Juventude também. Comecei a jogar bola, aí com 16 anos eu fui chamado pra jogar no profissional do Botafogo de Ribeirão Preto.
● 7:06
Só que tem uma história engraçada, porque o meu nome é José Mário Amaral, e meu pai colocou o meu nome de Zé Mário, porque tinha um jogador de futebol no Botafogo de Ribeirão Preto que morreu com 18 anos. Ele morreu muito cedo e meu pai gostava muito desse jogador e colocou meu nome por causa dele. E eu também herdei, acabei herdando essa sensibilidade de futebol.
● 7:29
Hoje eu vejo a minha arte que eu faço hoje, ela é muito futebol que eu jogava. Futebol bem artístico mesmo. E ainda bem que eu não fui profissional, senão eu tinha morrido também, pelo problema que eu tive posterior.
P1 - E o Pedrinha, onde entra na sua vida?
R - O Pedrinha é o seguinte, quando eu era criança, a minha tia Ângela, ela olhou pra mim e falou você tem cara de Pedrinha. Eu com três anos de idade, ela disse "eu vou chamar você de Pedrinha", mas nem ela sabia por que. Eu fui como se fosse um filho pra ela também, porque tudo que ela comprava pro filho dela, ela comprava a mim.
Então eu sempre estava com ela, meio que atrasava os namoros que ela ia namorar com o marido dela, não deixava. Então assim, eu era tipo uma pedrinha pra ela, no bom sentido e também no sentido de uma pedrinha no sapato. E aí eu fico, né, o Pedrinha. Só que ficou só ela me chamando de Pedrinha, mais ninguém.
● 8:27
E eu continuei a vida. E todo mundo me chamou assim, todo mundo me chamou de Zé. Quando eu comecei a entrar nas artes visuais, eu falei, eu vou usar o Pedrinha, porque o Pedrinha me remete à minha infância. A minha arte, ela é muito infantil, ela é muito alegre, ela é muito colorida, e remete às crianças, à essa espontaneidade, a essa coisa. Eu falei, eu vou usar o Pedrinha, que o Pedrinha tem tudo a ver.
● 8:47
E aí o Pedrinha está ai até hoje. Agora o Pedrinha despertou. Eu vou contar mais à frente, sou eu na cirurgia que foi a minha renovação, né? Foi a minha volta lá pra infância. Eu voltei, reinstalei, meu sistema nervoso, essa realidade.
P2 - Você voltou pra São Paulo com que idade?
R - Voltei, acho que eu tinha uns oito, acho, uns sete, oito anos. Porque eu lembro que a minha escola era de frente pro mar, na Praia Grande. E eu era bem pequenininho, assim, era tipo...
● 9:20
Meu irmão ainda imitava o Michael Jackson naquela época. Era uma coisa assim, a gente dançava. Era bem, bem pequenininho mesmo. Acho que eu me lembro, acho que uns oito, oito... De sete a nove anos, não me lembro muito bem.
● 9:34
P1 - Qual que era a área de trabalho do seu pai?
R - Meu pai sempre trabalhou como corretor de câmbio. Ele tinha uma corretora de câmbio.
P1 - Tinha algum costume na sua família? Tinha alguma coisa ritualística?
● 9:54
R - Então, a minha família... não, só minha avó, que era um pouco mais... era mais católica, né? Aí ela quis que eu fizesse crisma, primeira comunhão. Eu fiz tudo isso, só que eu colava, eu, nossa, causava na comunhão. Pra mim, eu sempre acreditei na natureza, né? Pra mim sempre foi na natureza. Então, assim, era mais esse sentido, assim, né? Porque a minha família inteira, a parte da minha mãe era tudo músico, então, acho que a nossa religião mesmo foi na arte, sabe?
Só que ninguém entendeu isso, porque a gente tem uma sequência de gente, de pessoas da nossa família que são músicos. A arte visual, tem acho que minha tia Malu que faz um pouquinho de algumas coisas, ela gravou disco, meus primos tocam muito, eu toco, minha mãe, todos os tios da minha mãe tocaram, que já morreram, eram os irmãos da minha avó, minha avó cantava, meu avô tocava na especialmente, clarinete, no exército. Então, era tudo muito música. Só que minha avó trouxe esse meio do ritual do catolicismo, mas acabou não pegando.
● 11:02
P1 - Então, viveu num ambiente muito artístico.
R - Muito artístico. Porém, um ambiente artístico aonde as pessoas não acreditavam na arte, tinham receio da arte, não sei porquê.
P2 - Ninguém viveu da arte?
R - Por enquanto só o meu irmão do skate, que não deixa de ser, com certeza, ele conseguiu, ele lutou desde criança, ele acreditou, ele foi um exemplo pra mim que ele é muito, muito forte e onde ele está hoje é mérito totalmente dele, só que o restante não.
● 11:36
A minha tia gravou um disco, só que deu problema. Ela chegou a gravar e tal, parece que deu um problema com empresários, aquela história de... não sei o que falar. E ela pegou trauma, desencanou. Também super cantora, tipo da linha da Cássia Eller, muito boa. E minha mãe desencanou, meus primos também desencanaram.
● 11:54
E só meus tios que têm discos gravados, porque eles eram boêmios, né? Eles tinham roda de choro, eles tinham banda de choro, eles eram muito bons assim.
P1 - E você entrou pra música em que momento? É um autodidata, essa eficiência da família?
R - Foi muito engraçado porque o problema que eu tive é um problema que pega muitos nordestinos. E quando eu morava na praia, na Praia Grande, eu conheci um certo grupo de amigos, de gente boa e tal, nisso aqui, e quando a gente ficou mais velho,
● 12:30
a gente se reencontrou de novo e se reencontrou na época que o forró Pé de Serra, esse forró do Luiz Gonzaga, veio pra São Paulo, que era ali na USP, ali naquela região ali, e tinha um amigo meu que morava aqui, tinha casa na Praia Grande, ele falou, meu, você tem que ir no forró pra você conhecer e tal, vamos lá, nisso aqui, falei, vamos, vamos ver qual que é, aí fui. Quando eu cheguei lá, me apaixonei pela zabumba. Gostei muito da zabumba. Falei, nossa, quero aprender a tocar esse instrumento. E aí, nesse turbilhão todo, eu falei assim, ah, vou aprender.
● 12:58
Só que eu não tinha nem noção, né? Não sabia... Porque até então eu era só jogava futebol. Não tinha noção, não sabia se eu era músico, se eu era o que eu era, né? Sim. Não tinha noção de nada.
P1 - Idade nessa época.
● 13:08
R - Ah, isso é época que eu estava com uns 19 anos.
P1 - Vou dar um... dar um stop aqui.
VÍDEO 2
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P1 - Agora, seguindo, vamos lá?
R - Então, e aí eu me encantei com a zabumba, né? Falando do forró. E aí eu comecei a aprender, comecei a me conectar e eu já estava vindo pra Ubatuba já. E a banda Praieira, que é aqui de Ubatuba, que na época era o Forrogoró,
o irmão do sanfoneiro deles era o sanfoneiro da minha banda, que era a banda Guaiamum. E aí eu comecei a me envolver com o forró em São Paulo, aqui em Ubatuba e tal. E comecei a ver que eu tinha uma proximidade dos nordestinos muito forte, me dá muito bem com essa cultura, que é que influenciou a minha pintura, com essas cores, essa coisa toda, essa coisa alegre, que lá em cima eles são assim, bem alegres, bem pra frente, enfim, eu comecei a ver que eu tinha tudo a ver com eles.
· 0:45
E eu comecei a ir nos bares mesmo de forró, aprender com eles mesmo, a tocar, a zabumba e tal. E aí eu montei minha banda, a gente teve um caminho bem legal com a banda, a gente tocou em vários lugares importantes e tal. Lá em São Paulo, no Canto da Ema, foi o último show que a gente fez no Canto da Ema com o Trio Virgulino, foi bem interessante. Só que dali, da época da banda, do decorrer da banda, aconteceram muitos problemas com vocalistas. E aí quando chegou no último vocalista e deu esse problema também, eu falei assim
bom, então eu vou aprender a tocar violão. E eu fui ser o vocalista. E aí eu larguei a zabumba e comecei a aprender a tocar violão. Quando eu comecei a aprender a tocar violão, eu vi que a minha linha não era o forró, porque eu comecei a compor músicas minhas, do meu jeito, do meu jeito intuitivo, e eu comecei a criar outros tipos de música e sair fora do forró. Porque o meu desejo era ter aprendido a tocar zabumba, não cantar no forró.
· 1:49
Então, eu fiz minha missão, acabou a missão do forró e comecei a tocar violão. E aí foi aí que entra toda essa parte da minha família, musical e tal, e eu nem sabia que eu tinha. E acabei aprendendo a tocar violão e hoje eu componho minhas músicas, hoje na verdade eu pinto as minhas músicas e as minhas pinturas eu faço em música. Então, sei lá, rolou tudo e acaba conectando com coisas que você nem imagina. Então as notas musicais pra mim no fundo são cores, entendeu?
· Então eu monto a minha música do jeito que eu monto o meu desenho.
P1 - Você busca isso, a música te faz, te leva, as cores te levam, a pintura.
R - Sim, sim, os dois. Uma coisa complementa a outra. É uma coisa só. Inclusive, dá vontade até de comer.
Quando eu tô pintando, dá vontade de comer tinta, essas coisas. Tenho vontade, sinto sabor, sei lá. E a nota também. A nota também mexe comigo lá dentro, parece que mexe nas minhas células e me deixa colorido por dentro, é uma coisa maluca, não tem como explicar.
P1 - Interação?
R - É muito intuitivo, muito visceral, é muito eu.
O que eu faço é muito eu, é muito aberto, não é uma coisa separada, não tem uma estratégia, vou ter que fazer isso pra agradar, não, eu faço porque eu tenho que fazer, não dá pra explicar.
P1 - Tem alguma inspiração extra, alguém que você...
R - Então, quando eu comecei a tocar violão, eu reencontrei um amigo meu chamado Jean, que ele já pintava. E ele chegou pra mim e falou assim, pô, tô vendo as suas músicas, tá bem legal e tal,
· por que que você não pinta? Aí eu falei, pintar? Falei, não, cê é doido, mano, nunca nem... Isso eu tinha 30 anos já. Falei, cê é doido, não sei nem por onde começar. Ele falou, não, toma a caixa de giz e compra um papel e pinta.
Eu falei, tá bom. E foi assim. Ele falou, faz o que você achar que tem que fazer. Eu falei, tá bom. Acho que a fala dele desbloqueou todo o meu sistema. Se ele falasse, faz isso, segue isso, eu não ia conseguir.
· 3:59
O desbloqueio dele foi, falou, faz o que você achar que tem que fazer e acredita em você e ponto, acabou. E eu fiz. Aí depois eu fui, quando eu comecei a pintar, eu fui descobrindo essa conexão com a música e hoje se tornou uma coisa só. Hoje conectou.
· 4:14
P1 - A partir do momento que você ganhou essa caixa, você não parou mais?
R - Não parei mais. Só fui descobrindo novos materiais e tô aí pintando acho que uns 12 anos. Eu sou bem novo, né, na verdade. Eu comecei com 30 anos. Não, comecei com mais.
· Com 30 fiz o primeiro. É, tô aí agora com 44, faz uns 13 anos que eu tô pintando, vai. Vamos colocar assim. É pouquíssimo, tem gente que nasce pintando, né. E a música também veio tarde.
· 4:46
A música comecei com 20, com 18, com 20, por aí, assim. Tudo começou tarde, assim, pra mim. Eu comecei a me emergir em outra coisa.
P2 - E com a música, você ainda toca?
R - Não, não, não.
P2 - É uma coisa que é sua.
· 4:58
R - Uma coisa só minha. Eu tenho um monte de disco gravado, só que é tudo relacionado à minha história, ao que eu sou. Da onde eu saí. Eu tenho o meu primeiro disco que eu conto a história do fundo do poço, que eu tô no fundo do poço e eu gravei esse disco contando a minha escalada do fundo do poço até conseguir sair, que a arte conseguiu fazer eu sair do poço.
· 5:23
E aí tem esse meu disco que eu conto essa história. E aí, desse primeiro disco, eu conto a história saindo do fundo do poço e descobrindo a vida, essa nova vida através da arte.
P1 - Essa escalada, dessa ascensão, foi feita através da arte?
R - Através da arte. Se não fosse a arte, eu estava lá até agora. O meu disco, eu gravei o meu disco, ele conta a história desse escalar
· 5:48
e eu me vejo saindo do poço. Foi uma coisa, na verdade, o que eu fiz artisticamente me tirou materialmente, sabe? O astral me puxou e falou, sai. E aí quando eu saí do poço, eu estava no meio do oceano, né? Aí ele falou, ou você pula no oceano, aprende a nadar, ou você volta pro fundo do poço. E aí eu pulei no oceano da vida e comecei a nadar.
· E tô nadando até agora. Agora eu cheguei na terra. Agora eu tô começando a aprender a lidar com as coisas. Que não é fácil, né? É difícil, é difícil.
· Mas tá aí, né? Então vamos embora.
P1 - Vamos seguir, então. Então, depois do forró, passou para suas composições autorais e a parte profissional, é isso que te mantinha?
R - Então, aí o que acontece? Eu comecei, foi quando nesses períodos eu comecei a entrar na informática, comecei a trabalhar com a empresa do meu tio um pouco antes, acabou não dando certo. Aí fui pra HP, que eu te falei, trabalhei na HP, também não deu certo. Fui pra Havaia, que é uma empresa de telecomunicação, também não deu certo.
· 7:03
Nesse miolo, eu trabalhava e fazia. Aí chegou um momento que eu falei, eu tenho que lutar pelo que eu sei fazer, pelo que eu gosto de fazer. Porque ficar me matando não adianta, né? Vou ter um limite na vida, mas sei lá, daqui a pouco pode ser que mude. E aí eu fiquei nessa oscilação, mas hoje eu já estou na minha direção mesmo, estou me desenvolvendo através da minha arte mesmo.
· 7:30
Só que antes, acho que é legal contar, que também tem a ver com a minha história, com a minha patologia, nesse período que eu comecei a aprender a tocar violão, tem uma história interessante. Fico voltando um pouquinho o vídeo. Na minha escola, eu era amoroso com todo mundo, bagunceiro, no bom sentido, eu jogava futebol, era alegre, aquela coisa toda, namorador, aquela coisa,
· 7:55
e o meu diretor chamava João Thomas do Amaral, que é meu sobrenome. E aí, quando eu saí da escola, aquela coisa, saudade e tal, e nunca mais vi eles. Sumiu. E beleza, continuei a vida. E quando eu comecei a tocar violão, eu comecei a compor as minhas músicas, eu tinha um amigo, tem um amigo meu chamado Ribamar, que ele trabalhava na casa do André Luiz, dos Espíritas lá de São Paulo, onde tem uns deficientes físicos e tal, tem toda aquela energia forte, uma coisa muito sensível.
· 8:29
E aí ele era da ala dos artistas, porque existe alas lá dentro da Casa André Luís, de pessoa, e lá existe a ala dos artistas. Então, todo mundo estava naquela ala fazia alguma coisa artística, dentro da limitação deles. E tem o Wilson, o Wilson Lombac, que ele é compositor de poesias. E como que ele escreve? Ele abre um caderno gigante e ele é tudo assim, então ele só aponta para as figuras e a psicóloga interpreta o que ele está querendo dizer, ele vai montando as coisas dessa maneira.
· 9:03
E é esse meu amigo...
P1 - Ele aponta para a imagem e ela vai em cima do que ele aponta?
R - Isso, um exemplo. Ele apontou para o coração e apontou para a árvore. A árvore tem amor? Não.
· 9:20
Você tem amor pela árvore? Sim. Sim e não, porque ele não fala, né? E assim ele vai montando toda a estrutura da poesia dele. E aí esse meu amigo chegou e falou assim, cara, o seguinte, o Wilson, o sonho dele
· 9:35
é alguém colocar melodia nas poesias dele. Aí eu falei, puta, deve ser legal, né? Ele falou, você não quer tentar? Eu falei, puta, eu tô aprendendo a tocar violão ainda, eu não sei nem tocar, né? Aí ele falou assim, vamos tentar. Eu falei, tá bom, vamos tentar então. Aí ele pegou, trouxe cinco poesias e eu comecei, fiz as melodias, tal, do meu jeito, intuitivo e tal, mandei pra ele. Chegou lá na mão do Wilson, ele ouviu, ele começou a chorar e quis me conhecer. E aí eu falei, tá bom, vamos lá, só que aí já começou a mudar a história, porque a gente, eu não sei o porquê nós temos esse, pelo menos eu, né, não sei, não entendo como todo mundo, mas por mim,
· 10:15
eu não tinha um receio de ir lá e nenhum medo, mas era uma coisa de entrar lá e olhar pra eles sem dó, não olhar com dó, porque eles não querem que você olhe com dó pra eles, porque eles estão lá se desenvolvendo também. Você tem que olhar pra eles como se estivesse olhando pra uma pessoa que você se diz normal, né? Fisicamente e tal. E aí eu falei, puta, isso vai ser um desafio pra mim, né? Bom, beleza. Fui, cheguei lá, tratei super natural, ele te ensina a você a interpretar o que ele tá fazendo, porque você vai conversar com ele, você tem que abrir o caderno e você conversar com ele e você interpretar. E aí, tá bom, fui, comecei, e ele falou assim: "o seguinte, minha família vai vir me visitar
· 10:53
no Natal e tem a festa aqui, você vai ter que tocar essas músicas na festa." Falei, pô... E como assim, cara, eu nunca, eu não sei tocar direito, o cara falou, "não, faz do seu jeito", falei, tá bom. Estava na missão já, mas até eu não tinha entendido nada. Aí beleza, fui, foi a festa, toquei na festa, aquele, né, tremendo que nem vara, foi beleza, fiz...
· 11:17
P1 - E a sua emoção?
R - Não, então, depois, daqui a pouco vou chegar onde eu fui. Quando eu fui entender tudo, o processo de lá, eu vi que não era a minha emoção. Ele tinha me retirado do meu corpo e eu estava emprestando o meu corpo para ele tocar o que ele escrevia para o público dele. Porque ele só falava de amor, pra acalmar, pra ter paciência, que o momento era esse, que ele estava passando por isso, que era assim, que a natureza é bonita, que é isso.
· 11:50
Depois eu compartilho as letras dele com vocês, é muito interessante. E aí, eu comecei a fazer show direto pra eles. Então, o meu público, eu tenho gravado isso, o meu público era eles. Quer dizer, o meu não, né? Porque ele ficava do meu lado de cadeira de roda e na verdade eu estava emprestando meu corpo para ele. Então assim, chegou um momento que eu já eu chegava lá, eu já nem sabia onde eu estava. Eu já deixava ele tomar conta e ele fazia o que tinha que fazer.
· 12:13
E o meu público era isso, era a gente tomando soro, sentado lá naquele estado, né, delicado. Tem os que andam, que são maiores, que ficam lá meio que te protegendo. É uma profundidade assim que não sei nem explicar. É só pra quem tem que ir lá mesmo e... Eles esperam visitas de pessoas, as pessoas não vão, porque aquilo que eu falei, parece que chega lá e tem aquele tipo de dó. E não é dó, é o processo. É o processo de todo mundo, né? A gente tem o nosso processo também. E aí foi também, essa história é interessante porque quando eu estava no teatro quem apareceu? O meu diretor da escola. Ele
· 12:52
era diretor da rádio espírita da Casa André Luiz que eu estava indo direto na rádio com ele pra fazer ao vivo com ele, tocar as músicas pra ele passar a mensagem dele pro público. E aí o João me olhou e falou assim, o que você tá fazendo aqui? Eu falei, eu não sei. Eu falei, eu tô aqui porque, sei lá, é uma missão. Porque ele me conhecia de uma outra maneira, super descolado, aquela coisa, e ele falou, agora que você está fazendo trabalho aqui com eles, como assim você conseguiu vir aqui?
· 13:19
Acho que eu consegui ir por essa minha facilidade de compreensão, de não ter problema com as pessoas. E aí eu fui e fiz amizade com todo mundo lá, só que aí acabou distanciando porque a missão acabou. Ela tem um tempo, né? E aí foi uma pena, mas eu ainda quero voltar lá pra conversar com ele, mas é uma história bem interessante.
P1 - Você foi um instrumento.
R - Sim, fui instrumento, assim, declarado, assim. Foi uma coisa, assim, impressionante. Eu e o Riba, né? O meu amigo Milton, né? Que ele era baterista. Só tinha baterista e violão, era eu e ele só. Como
· 13:57
ele cuidava, ele era o enfermeiro de todos eles. Então, foi, parece que, não sei, parece que estava no céu, era um negócio assim, meio nesse nível assim, que é muito fora da realidade que a gente vive aqui, desses desesperos que a gente tá nessa sociedade aqui, né? A galera é preocupada com, sei lá, dois reais, e lá a galera é preocupada em, sei lá, com o quê, né? Em outro nível, não sei, não dá pra explicar, não quero julgar também as pessoas aqui fora, mas é assim, né?
P1 - É a sua percepção.
R - É a percepção, exatamente.
· 14:27
Você vai abrindo as portas, você vai vendo que o processo é outro. É outra história.. Como sendo numa casa de idoso. É a mesma coisa. Você vê lá o estado deles, o psicológico, a sensibilidade, é tudo.
· 14:44
Crianças, você vai na periferia, é isso. As pessoas largam, parece que deixa essas coisas invisíveis, pelo contrário, essas coisas que vão salvar a humanidade. No fundo, é o contrário. E ninguém se liga.
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P1 depois dessa experiência intensa, aonde o Pedrinha foi?
R - Então, aí passou tudo isso, eu vim morar em Ubatuba. Aí foi a minha transição, a minha transição de falar assim, bom, agora você fez algumas missões, agora tá no momento da sua missão corporal, física e mental, sua.
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Você já passou por certas coisas e agora você vai entender o seu processo. Aí qual foi o meu processo? Em 2005 eu tive um diagnóstico, eu não senti essa parte do braço, nem um pedaço aqui dessa parte do peito, e eu achava que era de tanto tocar zabumba, porque eu toquei durante 10 anos, a zabumba pesa meio pesada e tal, aqui né, você fica tocando assim, e eu falei, será que tem alguma coisa na minha cervical e tal? Fui fazer a ressonância, saiu na ressonância síndrome de Arnold Chiari e Siringomelia Escoliose.
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Tá bom, o que é isso? Isso é o seguinte, na época ninguém sabia, ninguém conhecia isso direito. É o cerebelo, o tronco cefálico tá aqui, o cérebro tá aqui e o cerebelo tá aqui, certo? Quando há uma má formação síndrome de Arnold Chiari, o cerebelo ele empurra o tronco cefálico para frente e ele invade o canal da medula travando o líquido cefálico que lubrifica o corpo, a medula e o cérebro e trava esse líquido. Esse líquido começa a ficar interrompido, então a lubrificação e a circulação sanguínea
começa a falhar e, consequentemente, os neurônios começam a parar de se comunicar. E aí, na época o médico falou assim, você só sente isso, então continua a vida e desencana. Eu falei, tá bom. Em 2005, isso. Continuei jogando bola, surfando, andando de skate, fazendo tudo. Só que eu sentia muitos, muitos sintomas.
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Só que, pela minha alegria e pelo meu humor, eu não ligava, não falava nada pra ninguém, segurava minha onda e ia embora, sem problema nenhum. E fui indo. Aí vim morar em Ubatuba, quando eu vim morar em Ubatuba, eu comecei a surfar mais, e o surf exige muito, né? É muito mais, acho que é um dos esportes que exige muito tudo, assim, é uma conexão muito completa. E eu comecei a surfar todo
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dia, tal, aquela história, tal, e aí começou a agravar meus sintomas, começou a vir coisas mais pesadas.
P2 - Que sintomas você tinha?
R - Meu coração começou a disparar, visão alterada, audição, tá tudo, começou a falhar tudo, porque aqui é o centro de tudo, né, pressão arterial, digestão, começou a falhar tudo. Então ele dava picos, eu não sei explicar, não tem como explicar, porque é só sentindo,
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não adianta eu falar, eu sentia o meu estômago mexer aqui e pular, sabe, então eu falo assim, mas tudo bem, e aí? Então assim, não tem como explicar. E aí eu surfando e tal, começando a ouvir vários sintomas, meu coração disparava do nada, estava aqui assim, aí eu achava que ia desmaiar e voltava. E aí eu falava, nossa, que coisa de louco, né? E segurava a minha onda. Só que nisso, eu pintando, que aí eu comecei, quando eu vim pra Ubatuba, eu comecei a pintar demais. Eu dei uma largada na música, deixei a música um pouquinho de lado, comecei a pintar, aí eu comecei a vomitar sem colocar o dedo na garganta. Começou a vir muita
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coisa, muito assim, eu pintando um quadro atrás do outro e sentindo essas coisas e surfando. E aí eu pensava, será que isso é alguma coisa espiritual que eu estou sentindo, essas sensações, né? Estou despertando, sei lá, né? A galera fala que você sente as coisas no corpo e tal. Aí eu não sei, mas bom, tá bom, continua, não tá te atrapalhando, continua. Eu continuei, fui indo, fui indo, fui indo, fui indo, fui indo. Chegou um momento que eu estava surfando na Praia Grande e pegou minhas costas assim,
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de um jeito, uma dor infernal, nossa, estava assim. E aí eu fui na Santa Casa, o médico olhou e falou assim, toma isso aqui que é hérnia de disco. Eu falei, ah, tá bom. E comecei a tomar remédio, só que não começou a passar, não passava, não passava, não passava, e aí começou a vir os sintomas. Aí teve
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um dia que eu acordei, fui comer uma mexerica e não sabia comer. Eu não sabia, não sabia engolir, eu não entendi. A hora que eu coloquei na boca, meu coração começou a disparar e começou a dar tilte geral. Falei, tô ficando louco. Aí beleza, aí nisso fiquei quieto, escondido da minha mãe, não falei nada pra ela, pra não se preocupar. Fiquei, fiquei, minha respiração começou a pegar, aí eu não conseguia respirar, não sabia respirar, comecei a ficar desesperado, falei, nossa, o que tá acontecendo? Aí nesse dia, foi um dia terrível, no dia seguinte que eu dormi um pouquinho, tipo três horas eu tive um sonho, um cara me ressuscitando lá na minha casa, nesse
· meu mezanino, me ressuscitando. Aí no outro dia, quando eu acordei, veio a intuição, falou, você não foi no médico em 2005? E o médico falou que isso podia se manifestar entre 37 a 40 anos, porque isso aí... falei, pô, será que aquilo que eu tive, que eu esqueci que eu tinha? É eu tinha esquecido que eu tinha.
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E aí eu falei assim, por que eu tinha esquecido? Porque o cérebro vai te doutrinando a você não perceber o problema, pra você continuar vivendo. Ele vai no limite. Quando chega no limite, ele fala, não tem mais como, agora já foi. Aí beleza.
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Chegou a minha hora, né? Liguei pra minha cunhada, ela mandou as ressonâncias dos meus exames. Quando eu comecei a ler, eu falei, nossa, será que é isso? Comecei a procurar na internet. Vi lá os sintomas, falei, puta, chegou a minha hora. Eu já estava no meu desenvolvimento espiritual, já estava aceitando um monte de coisa.
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Falei, bom, chegou a minha hora, então eu morri? É isso? Tá bom, então se eu morri, então tá, me leva, mas me leva direito. Então, já me leva, não fica me fazendo sofrer. Aí fiquei naquela cena toda, naquela maluquice e tal, comecei a pesquisar que nem louco, achei. Sem querer, na internet, Instituto Arnold Chiari, Siringomelia Escoliose, Espanha, Barcelona. Aí eu falei, nossa, o que é isso? Entrei no site dos caras para ver. A hora que
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eu entrei no site, eu falei, mano do céu. Aí o cara descobriu uma cura que curava isso e tal. Eu achei estranho, comecei a ler os comentários, vários brasileiros indo pra lá se curando, porque isso é uma coisa que antigamente era raro e hoje é comum. Muita, mas muita gente tem e nem sabe que isso é uma malformação comum. Antes de continuar, eu vou falar o que é essa malformação. Quando a gente afeta, a gente tem um fio chamado filamento, fio terminale, que ele liga na lombar, aqui no cóccix, ele guia a medula, quando a gente afeta, ele guia a medula para dentro da coluna, forma a capa e ele liga no cerebelo e no tronco cefálico.
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E aí a pulsação do corpo, ele segura, ele apoia essa pulsação. E aí quando esse fio fica menor, porque cada corpo tem uma medida perfeita, é como se um cara vai fazer uma casa, se tiver uma medida fora, a porta não fecha. Então, no meu caso, esse fio ficou menor que um palmo. Tem que ter um palmo, geralmente, da mão da pessoa. No meu caso, ficou menos de um palmo e ficou grosso. Então, conforme ia crescendo, ele ia me travando. Então, eu não ia, ele me puxava. Aí o que aconteceu? A medula tem que ficar
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solta aqui no tubo. Ela gruda na parede atrás, não deixando o líquido lubrificar ela inteira e a circulação também não tem. Quando chega lá em cima, o cerebelo caiu para dentro do canal medular e esse líquido não vai. Então o líquido começa a invadir a medula e começa todo o sistema a entrar em tilte. E aí o que acontece?
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A circulação não começa a ficar, não é boa, os neurônios, cérebro e medula começam a falhar, começam a parar de funcionar, porque não tem alimento e assim vai. Então começou o meu corpo a falhar inteiro porque começou a parar essa comunicação. Eu estava morrendo, já estava sendo enforcado sem saber. E aí esse cara da Espanha descobriu a cirurgia do Brasil e do mundo inteiro fora da Espanha, uma cirurgia que ele abre a cabeça aqui atrás e tira um pedaço do osso e tal, antigamente era assim. Eles liberam, eles tiram essa hérnia cerebelar, que é uma hérnia que cria no cerebelo, eles tiram essa hérnia para o
líquido começar a passar. E esse cara da Espanha já falou que não, que o problema não é aqui, que o problema é embaixo, mas eles têm uma discussão entre eles no lance da medicina que eu acho que cada paciente vai de acordo com o que acredita. E quando eu vi, eu achei na internet e vi isso, eu falei, nossa, achei minha solução, então mandei mensagem pra eles.
P2 - Mas aqui no Brasil você não estava encontrando a solução?
· 24:10
R - Não, a solução que tinha aqui no Brasil era abrir a cabeça, só que você tem muitas sequelas se você abre a cabeça e você faz a cirurgia, essa cirurgia delicada do cerebelo. Só que lá na Espanha, ele descobriu que o problema não está no cerebelo, não está aqui, o problema está aqui e foi puxado. Então, só que aí a formação do corpo, o corpo vai se adaptar ao que é. Então, no meu caso, ele se adaptou ao que eu tinha e foi no limite dele. Tem corpo que tem um pouquinho, só um pouquinho puxado e não tem problema. Tem corpo que já foi muito puxado e também não tem
problema. Então, cada corpo vai reagir de uma maneira a sua estrutura. Na minha estrutura, e eu fiz esse tilte. Aí beleza, mandei mensagem pra eles, eles falaram assim, manda a ressonância nova. Aí eu fui no meu médico em 2005, meu médico em 2005 falou a mesma coisa, eu perguntei pra ele, eu falei, você não conhece essa técnica? Ele falou, não, não conheço e também não posso falar nada. Eu falei, então tá bom, então eu tô indo pra Espanha. Ai ele me deu o receituário para fazer novas ressonâncias, eu fiz e mandei pros caras da Espanha. Três dias depois eles me responderam, pode vir.
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Aí eu falei, tá bom, então eu vou. Aí eu falei, como? Aí, qual que é o valor e tal? 21.500 euros eu tinha que arrecadar. Eu tinha que ir o mais rápido possível porque eu já estava quase parando de andar, porque meu joelho já não estava dobrando direito, porque estava começando a pegar a minha parte
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motora. Quando pega a parte motora, ele não se regenera. No meu caso, a sensibilidade que pegou no meu corpo inteiro, ele começou a se regenerar, ele tá se regenerando agora, isso eu sinto todo dia, é muito louco. E aí beleza, aí consegui arrecadar dinheiro, quer dizer, arrecadei não né, parece que veio do céu o negócio, em sete dias eu tinha 21.500 euros na minha conta, na minha conta não, foi na conta do meu primo que ele fala espanhol, ele foi comigo pra lá. Foi assim, da noite pro dia, tem uma história da minha amiga,
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que ela faleceu uns tempos antes, uma amiga minha de 40 anos, e o pai dela foi a primeira pessoa que me ajudou. E assim, toda a minha família inteira começou a ajudar, já arecadei, como eu tinha essa raiz no skate, meus amigos moram na Espanha, em Barcelona, todo mundo estava lá. Eles alugaram um apartamento pra mim, o meu tio trabalhava na diretoria do Bradesco, ele conseguiu passar o dinheiro tranquilo pra Espanha. Enfim, foi tudo perfeito e eu fui pra Espanha. Cheguei na Espanha, cheguei no instituto lá sem acreditar, porque parecia que eu tinha entrado num portal, né?
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E assim, coisa maluca. Aí eu fui na Espanha, fui lá, conversei com o pessoal e tal, fizeram meus exames, ele falou, tá pronto? Falei, tô pronto. Qual que é a cirurgia? Eles abrem seu cóccix e corta o fio e solta. Só que quando ele solta, o seu corpo já tá naquela trava, então ele começa a destravar. Então, faz sete anos que eu fiz a cirurgia, então eu tô nesse destravamento. E aí entra aquela história que eu falei que eu volto lá pra infância. Eu começo a ver todos os déficits que eu tinha, era tudo coisa disso e eu não
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sabia. E quando eu cheguei lá ele falou, você toma remédios pesados? Eu falei não. Ele falou porque todo mundo chega aqui e toma. Eu falei, quem me salvou foi a arte. Ele falou, como assim, você é artista? Eu falei, sou. Aí o médico me perguntou, só que a enfermeira já sabia que eu era. E ela tinha pedido três quadros meus pra fazer uma exposição em Roma, através do Instituto, porque existem vários artistas que têm isso.
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E aí eu fiz uma exposição com quadros meus lá em Roma, através do Instituto. Então assim, foi uma bola que formou, de um jeito que eu não consegui entender, que tem tudo a ver com essa má formação corporal das pessoas da Casa André Luiz, que foi lá na Casa André Luiz que me desbloqueou para me encontrar a minha cura, porque eu fui lá fazer a missão com eles e eles têm esse problema, só que o problema deles é muito mais grave, é muito mais profundo, é outra coisa, mas eu também tinha a mesma coisa que eles tinham, por isso eu
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estava lá, porque eu era um deles. Então, assim, é uma coisa muito louca mesmo.
P2 - E aí, com a cirurgia, rapidamente você foi perdendo sintomas?
R - Sim, aí a cirurgia, tipo, de um dia pro outro. Eu fiz a cirurgia num dia, dormi no hospital, já saí no outro dia e começou o meu corpo já a voltar tudo. Várias coisas. Hoje eu sinto coisas que eu nem imaginava que eu tinha.
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P1 - Vamos fazer uma interrupção.
VÍDEO 3
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R - Aí dentro do caldeirão vieram pessoas que me serviram dentro do caldeirão, foram me guiando. E aí, eu lembro até hoje que um amigo meu me falou assim, vai chegar um momento que você vai ter que largar o seu anjo. Aí eu falei, mas quem que é isso, né? Vai chegar um momento que você não vai mais precisar do astral, você vai ter que ser o astral.
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E aí o bicho pega. Aí o bicho pega. Porque a sua responsa é você com você. E acabou. E não tem ideia.
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Você tem um período pra aquilo te ajudar. Depois, é que nem o professor na escola. É igual. Não tem nada de diferente aqui e lá. Por que que falam que o ... fala que lá em cima é que nem aqui e aqui é que nem lá? Chega um momento que você vai estudar na faculdade, depois dali é você que vai se
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virar no ambiente de trabalho. É isso.
VÍDEO 4
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R - E eles não sabem nem essa importância, nem minha mãe na verdade, porque minha mãe acreditava com o pé atrás, sabe? Porque as pessoas não acreditam, né? Meu pai nem sabia que eu tinha, ele nem sabia. Então, eu vejo a importância disso dentro de um núcleo familiar, de um desbloqueio desse, assim. E logo em seguida minha mãe teve câncer no seio. Teve que arrancar um seio e tal. Então, assim, foi um período de um balanço que eu falei,
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meu Deus do céu, se eu não tivesse essa arte na minha vida, eu tinha me afogado. Certeza, certeza. Porque aí tem uma outra coisa interessante, que eu pintei a cura da minha mãe, né? Quando ela foi diagnosticada com o câncer no seio, eu fiz uma tela grandona, saindo uma cobra do seio dela, renovando as células e tal, e a pintura é da cura dela. E antes da minha cirurgia, eu já vinha pintando o meu corpo. Eu tenho vários quadros meus pintando minha medula, pintando meu cérebro, pintando todo
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meu corpo. E quando eu fui pra Espanha, eu deixei um quadro em cima da mesa. E quando eu voltei, eu não tinha acabado esse quadro, porque eu passei mal até pintando esse quadro. Quando eu voltei, eu tinha acabado de pintar minha cirurgia. E eu não sabia.
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Eu fui entender isso depois que eu voltei da Espanha. Aí começou a cair as fichas, né? Aí começou a cair as fichas da infância, da juventude, de tudo, de toda essa loucura que aconteceu. Sei lá, né? Eu vejo que existe uma importância ancestral aí muito forte, uma libertação. Mas tem uma história mais louca ainda, se vocês querem que eu conte, eu posso dar uma aprofundada. O que aconteceu? A minha arte, quando eu pinto, é meio que, não sei, meio mediúnica, não sei, é meio psicografada, parece.
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E aí teve um problema com um indígena aqui na aldeia Promirim, que ele morreu, né, ele faleceu, que caiu, estourou um fio, ele pisou e ele se foi. E aí teve uma cerimônia pra ele e a gente foi lá e tal, foi todo mundo que subiu. E eu pintei, eu quis pintar essa cerimônia porque a gente estava fazendo uma exposição chamada Ubatuba em Nós. E aí a gente estava visitando certos lugares e a gente ia fazer pintura desses lugares
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que a gente visitava. E a gente foi na aldeia esse dia, bem no dia da cerimônia, para ele. E aí eu pintei a cerimônia. Eu falei, vou pintar a cerimônia então, que eu estou aqui. E pintei e tal, fiz um quadro lindo. Saiu um indígena de braço aberto, assim, abraçando a aldeia com duas estrelas douradas,
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ele super feliz, celebrando aquela coisa. Triste, mas feliz. Aí beleza, aí esse quadro foi exposto aqui no teatro e beleza, colocou aí o quadro e tal e eu fui trabalhar, a gente estava cada um indo um pouquinho, ficar na exposição pra direcionar o pessoal. Aí eu fui com o pessoal e fui no meu dia, entrou um casal, começou a ver a exposição
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e tal e aí pararam nesse quadro e começaram a olhar, eu falei, agora eu vou lá conversar com eles, explicar como funciona e tal, aí eu explicando pra eles e tal, nisso que... Aí o Cristiano, que é um desses, desse, do marido dessa moça que estava com ela, olhou pro meu 11 no pescoço, e ele falou, o que que esse 11 é? Eu falei, ah, o 11 é, tem um número de destino que eu conectei lá atrás, que eu acho que
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o 11 é um número igual e forma um, enfim, e o ser humano é isso, é tudo igual e sempre está formando um e tal. Essa história, eu falei, eu canalizo uma entidade chamada Crayon, não sei se é a entidade que fala, mas deve ser mais ou menos isso, que é do sistema galáctico e tal. Falei, que legal. Falei, pô, vai lá em casa, eu conhecer meu ateliê e tal. Ele falou, beleza.
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Aí ele foi. Aí eu fiz uma exposição lá no Tamar, eles foram no Tamar, viram o meu trabalho lá e depois foram lá em casa. Aí, conversando lá, eu dei uma ideia pra ele. Falei, pô, quando você receber a entidade, me chama, deixa eu fazer parte desse movimento, que aí eu vou pintar o que tiver naquela sintonia ali. Ele falou, tá bom.
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Aí, eles fizeram o ritual dele, me chamaram. Aí, sentei na mesa, a gente montou a mesa, tal, certinho ai esse Crayon chegou, baixou nele lá, ele fez o processo dele, ficou uma hora falando e nessa uma hora eu fiquei pintando, risquei um quadro inteiro. Aí beleza, pintei esse quadro, aí levei pra casa pra colorir, colori, liguei pra ele e falei, Cris, tá pronto?
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Ele foi lá, aí chegou lá e falou assim, porra, seguinte, preciso te falar uma coisa, foi o que? Ele falou, queria te pedir perdão. Falei, por quê? Ele falou, porque acho que fui eu que fiz isso nas suas costas, lá em outras vidas e tal, não sei o quê, porque a gente tinha um grupo alquimista e você estava fazendo umas coisas erradas e eu tive que te travar e não sei o quê. Falei, nossa. E aí, calhou. Quando eu fui para a Espanha, tem um amigo
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meu chamado Cristiano que ele anda skate né ele é skatista e ele faz uns trabalhos em Goiás com os cristais e tal e coincidentemente ele estava em frente ao apartamento que eu estava. Ele falou o que que tá acontecendo? Eu expliquei pra ele e falou se foi algo de magia negra no passado. Eu falei nossa, isso lá na Espanha. Isso na Espanha. Eu falei nossa como assim mano? E aí depois esse Cristiano veio falar isso aí eu liguei uma coisa com ele e falei nossa que é uma coisa de
se pensar, né? Não tô falando que é ou se não é, mas é uma coisa de se pensar que é uma coisa profunda, eu não sei, né? Uma coisa... Eu falei, não, tá tudo certo, cara. A gente nem precisa pensar em perder ou nada, ninguém tá aqui pra perdoar ninguém.
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Cada um tem que fazer o melhor que pode e vambora, né? E aí conecta com toda essa história que aí entra nesse universo do Wilson, lá da Casa André Luiz, com esse universo do forró, porque o forró é nordestino e muito nordestino tem esse problema do pescoço curto, por isso que ele tem o pescoço curto, pra encurtar, pra não ter o problema aqui. Então isso os médicos falaram, que isso vem da linha da Holanda, que a Holanda tá muito diferente ali pro Nordeste e tal.
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Então... É, e a Polônia, que o meu avô, o meu bisavô é polonês, vem da Polônia também. Então, assim, dizem que é um cruzamento entre famílias que dá esses problemas. Eu não sei de onde isso veio pra mim, eu tive que segurar a onda. E segura aí, tô aí, tô no meu desenvolvimento.
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Até onde eu vou, não sei. Hein? Que loucura.
P1 - Que circular, hein?
R - Que circular, total. E aí, agora eu tô aí, né?
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Agora fazendo meus trabalhos, desenvolvendo, fazendo e querendo passar... Assim, o meu trabalho, ele não... Eu não sei como dizer, mas não é uma coisa à toa, sabe? É uma coisa que existe um negócio ali que eu não sei explicar. Acho que pelo meu histórico de vida, você vê que é uma coisa que tá tudo muito enraizado no que eu faço, no que eu pinto, no que eu falo ali.
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É tudo muito... Víscera mesmo, aquela coisa, muito de dentro, não dá pra explicar. Eu tenho vontade de vomitar toda hora, sabe?
P1 - Quando você fala sair do fundo do poço e expor, é todo esse processo?
R - É todo esse processo. É ter coragem de se jogar no mar mesmo, no seu mar.
Sabe? No seu mar, você se jogar dentro dele mesmo e você aprender a nadar dentro do seu mar. Acho que isso é a coisa mais profunda que um ser humano pode chegar, assim, porque é infinito. Eu sinto esse infinito e isso não me dá medo, isso só me dá cada vez mais força, , uma coisa louca. Instiga.
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P3 - A gente tem que falar um pouco, talvez, das motivações dos seus quadros agora, né? Conectando com isso que você acabou de dizer, né? Como é que funciona? A produção atual.
R - Então, a produção atual,
Eu tô começando a ver, quer dizer, já faz um tempo que eu vejo, né? Eu tô cada vez mais dentro de todo mundo. Eu tô dentro de todas as pessoas. Eu não consigo me ver fora de ninguém. E isso me faz cada vez mais pintar
Esse desenvolvimento que tá acontecendo na humanidade mesmo, de tá lá dentro de cada pessoa, de tá sentindo e tentar trazer essa alegria, porque tá precisando disso. E a minha arte é muito isso, é trazer essa espontaneidade, essa coisa pulsante, que eu acho que hoje não tá... Eu não sei explicar, não dá pra... Eu tô dentro.
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Eu tô dentro da coisa e vomitando sem parar, eu não tenho mais filtro, sabe? Eu não tenho mais... Por exemplo, eu tô fazendo uma arte agora que vai dentro de um aquário, que eu falo das emoções e tal. Eu tô num processo agora com o meu feminino, com a minha mulher que eu tenho dentro de mim, muito forte, que são as mulheres que estão na minha volta, sabe?
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Eu tô tentando captar essa essência feminina, essa sutileza e conectar dentro do meu trabalho cada vez mais. E pegar esse machismo também e tentar transmutar ele de uma maneira. E eu tô cada vez mais soltando isso por causa da alegria, do bom humor. Às vezes eu fico com a cabeça confusa, porque também tem o meu processo também, que nem eu falei com
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o Danilo, o Danilo me falou uma coisa interessante, falou, mudou alguma coisa no seu processo de criação, já bem de conta com a sua pergunta, porque começou a mudar, todos os neurônios, né? A conexão começou a mudar, é outra conexão. Será que tudo isso não mexeu e não tá mexendo com a sua criação momentânea, total. E isso eu não tenho como falar, explicar pra ninguém. Porque eu estava num processo e agora eu tô em um processo que eu tô rejuvenescendo, envelhecendo. É uma coisa assim, é uma contradição que eu tô vivendo dentro de mim, assim, de tá envelhecendo e ao mesmo tempo rejuvenescendo, que reflete tudo na minha arte, com esse bom humor de estar dentro das pessoas, de estar sentindo tudo muito aguçado, sabe? Eu não uso nada, eu não uso nada de nada, assim, sabe?
P3 - Eu lembro que as obras deles são coisas que se conectam, né? Uma informação se conecta com a outra de uma maneira muito orgânica, né? De um bicho sai o outro bicho, sai um humano, sai emoção, sai outra cor, outra cor,
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então é aquela coisa de tudo é muito cíclico, integrado. E ao mesmo tempo, algumas, pelo menos, se não todas as que estão aqui, têm essa coisa de serem um manifesto também. Elas têm um protesto, uma indignação, um manifesto, elas contam uma história, elas têm palavras no meio, tem personagens que narram uma história, além de muita cor.
R - Então, e aí entra nesse ponto, é esse ponto que eu estou dentro de todo mundo.
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Porque eu sempre vejo meus desenhos, eles nunca acabam. Não é um desenho fechado. Meu desenho sempre continua. Se eu for pegar todos os meus desenhos e colocar em um lugar gigante, eu tenho certeza que um vai entrar dentro do outro e vai formar um desenho só gigante. Um holográfico, não sei se é o nome.
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Holografia gigante, como tem de repente num, sei lá, quando uma pessoa toma um chá de ayahuasca e abre aquela luz, aquela coisa toda e tal, nunca abriu pra mim isso, porque experimentei uma vez só, mas eu acho que abre um sistema que uma coisa conecta na outra, que aí entra em si uma coisa só. É um movimento, né? Um movimento que não para.
Que acho que são meus neurônios, né? Não sei. Meus neurônios estão assim, tá? Essa loucura maluca, se não for.
P1 - Pedrinha, tem mais alguma coisa que você quer nos relatar, quer colocar?
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R - Acho que é isso... foi isso assim, até o momento atual. Foi essa minha conexão com a natureza, assim, de a natureza me ensinar quando eu vim morar em Ubatuba mesmo, foi quando eu vi onde eu realmente estava mesmo, sabe? Acho que pra finalizar mesmo é... é esse respeito pelo empírico que não deixa de ser a natureza, né? Essa natureza.
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P2 - Quanto tempo faz que você tá aqui em Ubatuba e como que você veio parar aqui?
R - Então, eu comprei casa aqui em 2001 e aí fiquei aqui sem morar, né? Só passeando. Eu fiquei uns 12 anos. Aí em 2011, desde 2011 até 2012 eu vim morar.
· 13:46
Tô morando aqui já há 12, 13 anos, mais ou menos. Mas eu vim parar porque eu comecei a fazer faculdade de turismo e tal e comecei a conhecer o litoral norte, né? E aí a gente, como eu sempre estava lá no litoral sul, falei, ó, vamos lá ver como que é o Ubatuba, tá? A gente conseguiu achar uma casinha legal
· 14:02
na época, demos uma sorte e aí vim pra cá. Só que já era uma coisa intuitiva, de vir se conectar com a natureza um pouco mais profunda, porque aqui é um pouco mais profunda a natureza, não sei explicar. E aí eu acabei caindo na Toninhas, que tem uma história do OVNI que caiu lá na Toninhas, e acabei caindo num lugar que é super interessante, a Toninhas é um polo, não sei, também é uma coisa energética muito legal, até pelo OVNI que caiu lá, né?
· 14:28
Essa história de 1957, quem não sabe, procura saber, que é bem interessante. E não cai à toa lá na Toninhas não, mas é isso aí.
P1 - Teve chamado.
R - É, uma coisa sutil, uma coisa sutil aí. Acho que é isso, acho que... É...
· 14:46
Eu sei que existe a racionalidade, tá aí, pra todo mundo, que todo mundo tem que usar ela, entende? Acho que é isso aí, mas eu acho que a gente não pode deixar de ouvir a nossa intuição, essa parte empírica da vida, entender que a natureza não é matéria, a natureza é empírica. É isso que a gente precisa entender. Na hora que entender isso, vamos parar de maltratar a natureza. Entendeu?
·
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P1 - Mais alguma pergunta?
P3 - Eu acho que... Está bem explorado.
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R - Eu só não falei o nome do meu pai e da minha mãe no começo do vídeo. Minha mãe chama de Deise Maria de Assis Pereira, meu pai é Eugênio Brasília Amaral.
P1 - E a sua interação com os artistas da cidade?
R - Ah, super! Eu não tenho inimizade com ninguém.
· 15:57
Eu tenho uma Ubatuba aqui de 24 anos, não tem isso aqui pra falar, porque é aquilo que eu falei, eu não vejo problema em estar com as pessoas. Eu acho que é isso, eu tento fazer o máximo possível. Sei muito bem o que falam da minha arte, o que falam do meu jeito, eu sei tudo isso, se alguém for ver isso, não me preocupo, podem falar o que vocês quiserem, eu tô bem resolvido, satisfeito com o que eu faço, assim, 100%, eu diria. Então, só não percam o tempo de vocês gastando energia falando o que vocês não sabem, eu acho que vocês têm que estar conectados com vocês e aceitar mais as pessoas,
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porque vai fazer bem pra vocês. Quanto menos você aceitar as pessoas, pior é pra você. Então, eu acho que eu, aqui com os artistas da cidade, não tenho problema nenhum. Zero. Não sei se tem comigo, tá tudo certo. Gosto de todos, não tenho problema com nenhum. Já chamei vários pra fazer coisas juntas e tal.
· 17:02
Fiz com alguns.
P1 - Parece um grupo bem harmonioso mesmo.
R - É, eu acho que é isso, assim. Acho que a gente tem que tentar ser solidário, né? Acho que a solidariedade, tem que ser a soma.
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Parar com essa nóia de... eu tenho que ganhar do outro, ganhar do outro, ganhar de ciclano. Tirar essa nóia, né? Para. Então, é isso aí, artista.
P1 - Muito obrigada. O NUMPE Núcleo Museu da Pessoa agradece.
· 17:40
FIM DA ENTREVISTA
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