Projeto Mulheres Empreendedoras Chevron
Depoimento de Edna Malta de Carvalho
Entrevistada por Stela Tredice
Rio de Janeiro, 31 de maio de 2012
Realização Instituto Museu da Pessoa
Depoimento MEC_HV047
Transcrito por Carmen Vernucci / MW Transcrições (Mariana Wolff)
Revisado por Bruna Ghirardello
P/1 – Então Edna, começa, seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Então, eu me chamo Edna Malta de Carvalho, eu utilizo só o Edna Malta, sou da cidade de Três Rios, interior do estado do Rio de Janeiro, fica aproximadamente a cento e poucos quilômetros daqui, nascida lá e vim para o Rio de Janeiro há cerca de uns 12 anos atrás. Estudar, vim atrás de formação, buscar outras questões que eu não consegui fazer na minha cidade.
P/1 – E como é que era a sua cidade, como foi a sua infância?
R – Então, é uma cidade do interior, ela tem a parte mais rural, tem a parte mais urbana, eu sou da parte mais urbana, a família da minha mãe toda era da parte mais rural e é uma cidade com poucos, hoje aproximadamente uns cem mil habitantes, é uma cidade pequena. Lá, na época que eu morava, não tinha faculdade, a gente tinha que sair da cidade para fazer faculdade, foi o que impulsionou vir para o Rio. E foi uma infância tranquila, né, um lugar mais sossegado, com menos tensão do que existe nas cidades grandes. Brinquei bastante, farreei bastante, subia em árvore para pegar fruta, foi bem tranquilo.
P/1 – Tá, e seus pais, o que eles fazem?
R – Então, os meus pais são separados, separaram-se na minha infância. A minha mãe era comerciante, hoje ela trabalha só em casa. Era comerciante, trabalhava com alimentação e o meu pai, ele também trabalhava nesse ramo de bar, restaurante basicamente isso, trabalham, são profissionais liberais.
P/1 – Você tem irmãos?
R – Tenho, tenho uma irmã e tenho um irmão. Uma irmã mais velha, um irmão mais novo, estou no meio segurando.
P/1 – O que eles fazem, os seus irmãos?
R – A minha irmã trabalha com administração de empresa, no setor de RH, com contratação de pessoal, numa das maiores empresas que existe lá e o meu irmão, ele trabalha com condução de caminhões, caminhões com carga pesada, com essas cargas mais perigosas.
P/1 – Você estava falando da sua infância, foi muito bacana legal...
R – É, foi tranquila.
P/1 – Que lembranças você tem da sua casa onde você morava na sua infância?
R – Então, é, engraçado. Quando falo: “Sou de Três Rios, interior do estado.” A gente tem a ideia de que tem uma casa grande, nada, era apartamento pequeno, dois quartos, sala, cozinha, banheiro, três filhos, mas a gente tinha um quintal muito grande, o prédio em frente tinha uma área verde muito grande para a gente brincar, para gente correr e as famílias deixavam que as crianças ficassem naquele ambiente, porque era tranquilo e ali, um pouco mais adiante, tinha também uns pés de árvores de frutas a gente subia para catar goiaba, pegar manga, essas coisas gostosas e me lembro disso, dessa liberdade de brincar, sabe, da liberdade de poder transitar neste local sem preocupação.
P/1 – Você tinha bastante amigo?
R – Sim, sim, juntava a turma toda do bairro e a gente se divertia a beça dali a pouco começavam as mães nas janelas chamava uma criança, chamava outra. “Olha, a sua mãe está chamando.” Todo mundo ia correndo para as suas casas. E muitas amigas da minha infância moravam em casas,porque assim, o bairro que eu morava lá em Três Rios, ele tem uma, na verdade é uma espécie de, como eu posso dizer? Uma construção que era da Caixa Econômica, era um condomínio, era como se fosse um condomínio fechado, que tinha os prédios e umas casas, todas em formato iguais para serem vendidas, mas a obra foi abandonada por um determinado período pela empresa, e aí houve uma invasão dessas propriedades e as pessoas que invadiram, elas venderam hoje em dia já está tudo regularizado por usucapião e tal e aí a minha família comprou uma dessas vendas uma dessas casas que foram invadidas. Aí depois a minha optou por um apartamento e aí era todo mundo ali, muito perto, era uma mistura boa, os apartamentos embora sejam pequenos são bem maiores que os comparados com os dos Rio. E era tranquilo, a gente tinha acesso um a casa do outro, é como se fosse a extensão da casa mesmo, o quintal.
P/1 – Escola, como foi?
R – Então, escola, coisa boa. Eu estudei numa escola do meu bairro mesmo, próximo da minha casa, eu ia sozinha, voltava sozinha. Eu e meus irmãos estudamos lá. Tenho uma lembrança muito gostosa da escola. Você falou que podia chorar. Boba. (chorando)
P/1 – Pode chorar a vontade. A gente para um pouquinho.
R – Não, nem deve, é saudade mesmo. E aí outro dia eu fui lá, que eu recebi uma mensagem pela rede social, dizendo que a escola tinha ganhado um prêmio e tal, um prêmio nacional, fiquei mega feliz e era uma situação, fui lá na escola e tal, e cheguei lá, levei um baque! Porque fizeram uma transformação estrutural na escola, de forma que ela virou outro lugar. E aí eu fiquei procurando aqueles tijolinhos que era da minha infância, não achei. Falei: “Caramba!” Mas era uma escola que tinha assim um pátio muito grande, um pátio verde, na lateral tinha também um, uma espécie de um decline né, que a gente ficava brincando muito ali, de escorregar com papelão, fazia-se muito isso. E era tranquilo, tenho uma lembrança muito boa dos professores, sempre fui uma boa aluna, em contraponto a minha irmã que fazia toda bagunça na escola e acho que isso, sempre tive boas notas, fui participativa, era muito tímida, na infância, era muito, muito, muito tímida e acho que ainda sou, às vezes, depende um pouco da situação se a gente se sente mais à vontade, a gente fica relaxado, se é uma situação assim, muito desconhecida, aí volta um pouco daquela timidez. Mas me lembro, me lembro das minhas professoras de educação infantil, eu me lembro muito da professora da 4ª série, que eu acho que foi aí que surgiu uma coisa da profissão professor para mim. Eu gostava muito da forma como ela conduzia o trabalho dela, me sentia, como eu posso dizer, aconchegada pela professora, ela tinha aquela, ela tentava, ela conseguia chegar na gente, ela conseguia ter um discurso que nos aproximava, professor e aluno. E aquilo me instalou de alguma forma, nesse período, era na 4ª série, achava muito bonita também, tão bonitinha, ela era mais nova e aí foi isso. Tenho contato até hoje com alguns professores, inclusive um dos professores mora lá nesse bairro até hoje e a gente se comunica e fala desse tempo da infância também. É gostoso.
P/1 – E aí tinha nesse momento da sua vida, você sonhava em ser alguma coisa, aquela coisa: “Ah quando eu crescer....”
R – Não, que eu senti muito a necessidade, quer dizer, hoje eu acho que já consigo, hoje já consigo verbalizar bem, no período não, você se sente só, você é criança. Eu sentia essa necessidade de fazer outras coisas não tive oportunidade de fazer cursos de inglês, de dança, de natação, de..., aqui nos grandes centros, as crianças tem muitas ocupações, eu não tinha, a minha ocupação era escola, num período parcial, e no outro período, brincar. Brincar, fazer alguma atividade, ver televisão, então eu tinha, eu tive, eu tinha essa necessidade de ter feito outras coisas, tanto que quando eu comecei a ter mais autonomia, eu comecei a buscar isso sozinha mesmo, estou fazendo inglês hoje, aos 35 anos, porque eu não tive oportunidade de fazer. Então, eu acho que nesse período eu me lembro dessa vontade que eu tinha de expandir de fazer outras coisas e ficava um pouco nessa rotina de escola, em casa, e TV, não tinha muitas opções.
P/1 – Daí quando você entrou na adolescência, o que mudou da sua infância para a sua adolescência?
R – Olha, mudou muita coisa. Eu mudei de escola para começar, que era uma escola pequenininha, no meu bairro os professores eram alguns dali, tudo muito pequenininho, todo mundo se conhecia. Fui para uma escola gigantesca, no centro da minha cidade, que era uma escola que se chamava Cenecista, que era uma conjugação de particular com alguma subversão, uma escola mais barata. Um ginásio gigantesco, assim, sei lá, quantos alunos tinha lá, mas era muita gente, era uma média de quatro turmas para cada ano, quatro quinto anos, quatro sexto anos, era muito grande a escola, tinha uma quadra gigante no meio e essa coisa de que você passa de todo mundo te conhecer, todo mundo saber seu nome, para você ir para um mundo que os professores não conseguem nem ainda,porque é uma estrutura muito grande, identificar suas características, sua personalidade no meio daquele mundão. Foi um período de mais timidez, eu acho, porque você fica ali você fica ali, “Aonde eu tô, e agora?” Mas aí acabei me envolvendo um pouco com a parte esportiva da escola, comecei a fazer parte dos times de vôlei, de handball, jogava, era da equipe profissional da escola, da equipe oficial que jogava com as outras escolas e aí me achei um pouco nesse caminho, mas me senti um pouco, como eu posso dizer? Não diria oprimida, oprimida é uma palavra mais pesada, mas intimidada mesmo, intimidada com aquela estrutura e foi um período que, embora eu tivesse a mesma quantidade de tempo do ensino fundamental, me pareceu mais rápido, me pareceu mais, ou menos significativo hoje na minha memória. Para mim hoje é muito mais significativo o primário do que, o primário como a gente dizia primeiro segmento do fundamental, que esse segundo segmento. Mas foi bom, foi, a gente passa pela adolescência adolescência é difícil, a gente começa a questionar muitas coisas e aí essa minha necessidade de fazer outras coisas começou a ficar maior, daí comecei a cobrar para a minha mãe, “Não quero fazer isso, quero fazer isso, quero fazer.” E aí só acabei conseguindo fazer coisas que eram fáceis, que eram mais próximas, digamos assim, tinha inclusive uma unidade no SENAI, se eu não me engano, próximo assim da localidade, de escola, onde era o restaurante da minha mãe e aí eu consegui fazer uns cursos lá de Técnica de Serigrafia, sabe, Técnicas de Secretariado, fiz alguma coisa de desenho, fui fazendo os cursos, fui conhecendo coisas, mas foi um período um pouco mais complicado mesmo. Passei a morar com a minha avó, no final do ensino fundamental para o início do segundo grau, porque tinha umas questões e minha mãe não tinha muito tempo, e eu estava começando a ficar mais madura. Aí a minha avó meio que veio junto para ajudar a minha mãe nessa coisa da educação, passar alguns conceitos, alguns valores.
P/1 – Você tinha bastante amigo por lá?
R –Então, nesse período não, nesse período tinha bem poucos, assim, me sentia mesmo muito tímida, tinha mais umas três, quatro meninas, a relação com os meninos também foi muito difícil. Que eu era uma adolescente muito, muito feia, tinha uma complexo de inferioridade assim, sabe, ficava olhando assim, ah, as outras meninas todo mundo era muito linda, eu era muito feia e era feia mesmo . Era assim, não, demorei a crescer, sabe, não no tamanho, mas tomar corpo de adolescente, era muito magricelinha, muito, era criança. E as outras meninas, todas lindas, então acho que eu senti um pouco essa coisa de ficar num cantinho, que eu me sentia inferior, mesmo, as outras em questão de estética. E também foi um período que eu fiquei questionando um pouco isso.
P/1 – E o que você gostava de fazer nessa época?
R – Então, nesse período era esporte, tinha paixão, handball, jogava sempre, treinava, gostava de desenhar um pouco, desenhava bem, agora eu parei de praticar, mas eu desenhava direitinho e gostava de escrever tinha o diariozinho todo dia lá registrava o dia, escrevia as coisas que eu não conseguia falar com as outras pessoas, registrava ali e tinha vontade de alguma coisa que eu não entendia na época o que era, mas que depois eu descobri que é essa coisa mesmo de expandir, de quebrar a casca do ovo, de ver o mundo. Não entendia o que era, mas sentia bem nesse período assim.
P/1 – E você sai com meninos?
R – Não, não. Demorou a acontecer, acho que só quando eu entrei no segundo grau mesmo que eu comecei a sair com horário para voltar, eu sou a filha do meio, mas eu sou a menina mais velha, meu irmão é o mais velho e aí a minha mãe não sabia muito como fazer isso, como lidar com isso, até porque ela teve uma educação nesse sentido muito, não posso dizer, insuficiente, se é que serve para esse contexto. Morava numa zona rural, a minha avó, os meus avós eram caseiros e aí tiveram aquela renca de filhos, a minha avó teve 13 filhos e aí foi aquela coisa meio que natural, sabe, tem outro filho, o filho vai crescendo e aí vem outro, então ela disse para mim, eu me lembro que ela falava: “Ah não sei como faço, ninguém me ensinou a criar uma filha, eu não sei como faz.” Acho que por isso que a minha avó entrou, para dar esse suporte e julgou que tivesse muita teoria na coisa tinha uma prática que a minha avó dava mais conta que ela. Então saía, que ela não deixava muito, comecei a sair mesmo, acho que com uns 17, 18 anos, nas vésperas de começar a trabalhar. E essa coisa me de achar muito feia, isso também me dava um bloqueio para me aproximar de meninos, eu ficava muito no meu canto, demorei a fazer essas coisas.
P/1 – E você falou de trabalho, quando você começou a trabalhar?
R –Então, eu comecei a trabalhar quando a minha mãe e o meu padrasto, meus pais eram separados, minha mãe se casou novamente e aí quando eles tiveram um pequeno desentendimento se separaram momentaneamente, aí eu já tinha, estava com 17 para 18 e a minha mãe chegou para a gente, para mim e para os meus irmãos e falou: “Ó, vocês vão ter que ajudar, a gente não tem condições, todo mundo vai ter que ver alguma coisa para fazer contribuir, trabalhar. Aí nesse momento eu fui num balcão de empregos lá de Três Rios, com o Sebrae e fiz uma fichinha e deixei lá, e que aí tinha os cursos todos que eu fazia no Senac, Técnicas de Secretariado, essas coisas todas que acabaram ajudando e aí o pessoal do teatro da cidade, aí que chegou o teatro, me chamou para ser secretária do teatro, esperaram mais um mês para eu completar 18 anos, para assinar a minha carteira, e aí comecei a trabalhar como secretária do teatro. Estudava de manhã, porque com 18 anos ainda estava terminando o segundo grau, 17 para 18, e aí eu estudava de manhã no Instituto de Educação que era formação de normalistas, que dentro do magistério a minha formação é lá no segundo grau, antigo magistério que aí estudava de manhã e trabalhava a tarde e noite, o teatro fechava às dez, eu trabalhava até a tarde, até o período da noite. Foi quando eu comecei a ter o contato com a arte, até então não conhecia teatro, nunca tinha ido, nunca tinha feito foi um outro momento da vida.
P/1 – E como que foi? Qual foi a sua impressão?
R – Ah foi curioso, primeiro que a questão de começar a trabalhar, eu sempre busquei tentar fazer as coisas da melhor forma que eu pudesse, tentar atingir os objetivos da forma que eu pudesse, então assim que eu entrei comecei a trabalhar, não tive dificuldade com as funções que foram designadas, mas ficou uma curiosidade em relação a cena. Que embaixo, um teatro grande que tem em Três Rios, teatro que não é municipal essas cidades pequenas todas tem teatros municipais, lá não é, o teatro foi construído por socialites, o povo da cidade juntou e tinha um grupo de teatro lá muito forte, mais antigo que a cidade inclusive, a cidade é de 1939, eu acho, não tenho muita certeza, e o grupo de teatro de 1937. E aí eles mesmos fundaram o grupo de teatro, foram trabalhando, trabalhando, trabalhando, na década de 1960 e sistematizaram uma forma de conseguir dinheiro para construir mesmo um teatro com uma área de um quarteirão inteiro.E era muito legal, então eu ficava, a parte de baixo toda era a parte administrativa, secretaria, algumas salas de ensaio, salão de dança, o hall do teatro, e a parte de cima, o palco ainda tem um terceiro andar que acabou não sendo construído, que era para guardar roupas, equipamento de cenografia. E aí, um pouco sem, não tinha muita vontade de fazer nada não, só queria conhecer, então foi um momento assim que eu passei a conhecer outras pessoas, pessoas mais velhas que trabalhavam no teatro, faziam teatro, trabalhavam na administração e a cena em si, que eu não tinha conhecimento, passei a entender o que era, o que era teatro, a conhecer, conhecer as estruturas foi nesse momento e aí sim comecei a namorar, comecei a me permitir, foi uma troca assim bem marcada, sabe, de você sair de um lugar que era pequeno, de uma estrutura que era pequena, de um pensamento que era pequeno para um pensamento muito maior, para uma questão toda muito maior, o pensamento artístico que é muito aberto, que é muito liberal, aí foi um grande marco para mim, essa entrada como secretária do teatro.
P/1 – E o que você fazia com o dinheiro na época, que você ganhava?
R – Então, uma parte eu ajudava em casa e a outra parte eu usava para comprar coisas para mim, uma roupa, uma bijuteria que eu gostasse para, sei lá, no salão, que eu usava esses cabelos aqui, que hoje são lindos, leves e soltos, eu usava escovados, aí toda semana eu ia lá e uma parte ia para casa e uma parte ficava para mim.
P/1 – E em que momento você resolveu vir para o Rio?
R – Então, aí eu trabalhei no teatro durante dois anos, depois de dois anos eu saí do teatro e aí o meu irmão sofreu um acidente bem grave, bem sério, ficou em coma e era, ele estava servindo o exército em Juiz de Fora, e aí teve que ter um acompanhante num hospital militar, e aí eu larguei acho que eu já tinha saído do teatro nesse momento, estava dando o próximo passo, mas aí eu acabei indo para o hospital, fiquei com ele de acompanhante uns três, quatro meses no hospital, assim, e aí minha família ia de final de semana, levar coisas, fazer troca, às vezes, eu saia, dava uma volta, mas eu fiquei bem uns três meses no hospital.
P/1 – Ficou esse tempo todo?
R – Ficou, ficou no CTI uns 20 dias e depois ele ficou no quarto um bando de tempo. Foi grave. Ele ficou em coma nesses 20 dias, aí depois ele foi para o quarto, mas ele era submetido à cirurgias dia sim, dia não, dia sim, dia não, porque ele teve uma infecção hospitalar, foi subindo, foi um corte no peito do pé que ele levou, estava andando de moto, caiu, cortou, e aí demorou a fazer a sutura, tudo, e acabou pegando uma infecção que chegou aqui e aí foi bem difícil, porque ele entrava dia sim, dia não para poder retirar essa infecção, e abriram tudo, foi, foi trash. E aí depois, e fiquei lá com ele, três meses, meio que abdiquei da minha vida, porque era um período que eu estava fazendo vestibular, tentando descobrir o que eu queria, ainda não sabia, apesar de já estar com, não me lembro bem o ano que foi isso, acho que eu tinha, fiquei dois anos, 20 anos, ainda não tinha feito, tinha feito vestibular, passei na faculdade Federal de Juiz de Fora que era mais próximo, para Geografia, mas acabei não cursando, eu ainda estava em duvida nessa questão do magistério, se eu queria ser professora mesmo, se eu não queria. E aí, eu estava a fim de fazer vestibular para outras áreas e acabou rolando essa coisa do hospital e aí meio que foi, como eu posso dizer? Um período de hibernação, sabe, que você entra num processo de auto análise? Que eu ficava lá, ele ficava praticamente todo o tempo com remédio na veia, dormindo quase como um coma induzido, cirurgia dia sim, dia não, e aí foi um período que foi importante para eu reavaliar, pensar o que eu queria da vida. Então, e aí depois desses três meses que a gente saiu do hospital é que eu falei: “E agora ? Vamos ver o que vai ser.” Aí entrei no cursinho pré-vestibular, mais forte, porque o magistério não tem uma formação para você prestar o vestibular com matérias especificas, coisas mais específicas e esse conteúdo de vestibular você não vê nesse curso. Aí me matriculei no cursinho pré-vestibular e aí o pessoal, e fui para o teatro, cheguei lá no teatro e falei assim: “Olha só, quero fazer curso de teatro.” Aí foi engraçado, porque eu tinha já bastante clareza disso, eu falei: “Eu não quero fazer teatro. Eu quero fazer curso, eu quero conhecer pessoas, quero fazer outros vínculos de amizade.” E aí me matriculei num curso de teatro, com esse discurso, de que eu não queria fazer teatro, que eu queria conhecer as pessoas, queria e deu tudo errado. . Deu tudo errado, porque assim, o curso estava previsto tem uma apresentação no final do curso e aí o rapaz que estava dando o curso, virou para mim e falou assim: “Tem certeza que você não quer fazer?” Eu falei: “Não, tenho, estou só conhecendo. “Não cara, porque você é muito boa. E eu estou aqui com um personagem na mão, é o personagem principal e eu quero dar para você.” Eu falei: “Caramba.” Fiquei um pouco surpresa, mas aí eu topei o desafio, a gente fez o espetáculo, foi fantástico e daí foi um espetáculo atrás do outro, um atrás do outro, passei a fazer parte do grupo muito rápido, passei a dar aulas de teatro muito rápido também. No ano seguinte, eu fiz esse curso, acho que foi no final de 1997, no início assim, lá por meados de março de 1998 eu já estava dando aula para as crianças, porque eu tinha uma formação na área educacional e aí o teatro veio muito forte, e aí já comecei dando aulas no próprio teatro, numa escola particular da cidade que tinha, foi um processo, uma profusão de coisas marcante.
P/1 – E aí então nesse momento que você pensou...
R – É, nesse momento que aí o diretor, que dava o curso lá dava o curso e que era diretor do espetáculo também, é, propôs para mim e para mais dois amigos, que ele destacou, que ele achou ser as pessoas com possibilidades na área artística, propôs para a gente fazer faculdade de Artes Cênicas e aí eu recusei, falei: “Não, não, de jeito nenhum. Área artística muito complicado, muito difícil, tem outros critérios além da qualidade profissional, além do talento quero não.” Resisti, resisti, resisti, resisti, até não conseguir mais e vim para o Rio fazer vestibular para a UNIRIO, passei e decidi vir para cá foi outro momento bem louco assim, uma coisa que eu reneguei bastante e quando eu cedi, eu falei: “ Ah é para ser, então vamos lá!” Deixei as minhas coisas e vim. E aí foi um período louco, porque no meio desse processo todo que eu estava fazendo teatro, estava fazendo espetáculo, eu estava fazendo várias coisas, meu padrasto faleceu e aí foi um baque para a família, porque a minha mãe ficou muito mal, e a gente ficou meio que sem saber o que fazer, ele que dava conta do financeiro, minha mãe trabalhava junto com ele nas empresas, ele tinha duas empresas de alimentação, prestava serviço na área de alimentação, e aí estava tudo no nome deles, contratos, perdeu-se tudo, foi, foi uma queda, foi um baque. E aí foi exatamente neste momento que eu passei para o vestibular, para a UNIRIO, e a minha mãe disse: “Não, não tem condições, você não vai.” Eu falei: “Não, vou sim.”“Não, você não vai.” Eu falei: “Vou sim, vou por minha conta e risco.” Me juntei com esses três amigos que também passaram, fizeram vestibular junto comigo, e vim. A gente alugou um apartamento, desse tamanho, para quatro pessoas estudante, em Copa, era quarto e sala e vim. Trabalhava no teatro, dando aula de teatro, trabalhando numa escola particular, dando aula de teatro também e eu juntava a grana desses dois lugares e vim para cá. Fazia faculdade aqui de segunda a quinta, e voltava para Três Rios, sexta, sábado e domingo, trabalhava lá dando aula.
P/1 – E como é que foi chegar aqui no Rio, morar no Rio?
R –Então, todo mundo, conheço muitas pessoas que vem de fora, para poder fazer faculdade e é sempre muito difícil, assim, tem um impacto muito grande assim, é sempre essa coisa de você ir, o que eu acabei de falar agora há pouco, do mundinho lá, do primeiro segmento, depois passei para uma escola maior e depois essa coisa de teatro, eu cheguei no Rio e falei: “Uau!!!” Mas não tive medo nenhum minuto, não tive medo em nenhum minuto, não sei se é porque eu ainda tinha um vínculo muito forte com Três Rios, todo final de semana eu voltava, namorava lá, tinha a minha família lá. Teve essa questão do meu padrasto, foi um baque, mas assim, eu, eu, eu consegui superar isso de forma tranquila, que não me causasse nenhum trauma, nenhum problema grave e eu gostei do Rio, achei o Rio uma cidade maravilhosa, embora num apartamento muito pequeno, muito apertado, quatro pessoas morando, morar em Copa, aí eu olhei a praia praia, interior não tinha praia. Eu fui a praia aos 16 anos pela primeira vez então quando eu cheguei no Rio, eu falei: “Caramba, vou morar aqui, olha ali.” Fiquei, como dizem, amarradão. Caminhava na praia, corria, eu ia para a UNIRIO que era só atravessar o túnel que tem, que é entre Copacabana e Botafogo a gente vai direto. Andei muito de bicicleta, corri muito na orla, então achei o Rio fantástico assim, pisei e gostei.
P/1 – E você então trabalhava nessa época?
R – Então, trabalhava lá em Três Rios, estudava de segunda a quinta aqui.
P/1 – Aqui você só estudava?
R – Só estudava e ia para lá quinta à noite, trabalhava sexta na escola,e sábado no teatro e domingo às vezes a gente ensaiava e tal, fiquei fazendo isso por dois anos. Aí depois de dois anos começou a ficar apertado, o dinheiro de lá não dava conta das contas daqui e essa coisa da instabilidade, porque era prestação de serviço, então o período que eu dava aula, eu tinha dinheiro, quando não dava aula não tinha dinheiro. Então passava aí por um período difícil, dezembro, janeiro, fevereiro, março começava a receber alguma coisa em abril e aí, e aí veio o concurso da prefeitura para dar aula, que era uma coisa que não estava nos meus planos, na verdade, foi quase uma aposta com um ex-namorado que questionava muito a questão, que questionava muito o teatro na minha vida “Ah é uma coisa que você não queria, que você não pensava profissionalmente, você está tão envolvida, você não sabe fazer outras coisas.” Falei: “Como assim eu não sei fazer outras coisas, eu sei fazer outras coisas sim. Eu posso fazer o que eu quiser. Isso não é uma opção, é uma escolha. Quer ver como eu posso fazer o que eu quiser?” Fui lá, fiz o concurso e falei: “Passei. Eu posso fazer o que eu quiser, é uma questão de opção e não de escolha.” Aí a prefeitura me chamou, fez a primeira convocação, eu não atendi a primeira convocação, fez a segunda convocação, eu não atendi e na terceira convocação eu fui com o intuito de ficar e sair. Falei: “Não, eu vou, eu acerto a minha questão financeira, quando eu estiver estabilizada, eu saio. Porque eu quero realmente me dedicar a área artística e tal.” E aí entrei e não consegui mais sair, estou lá há dez anos na prefeitura, uma experiência muito louca, única, de você se ver de frente com o social em várias esferas, de você estar diante de um desafio todos os dias, cansativo, mas muito gratificante em muitos momentos. E aí a ideia de entrar e sair, meio que desapareceu até porque você entra numa estrutura super formalizada, com tudo direitinho, a segurança do funcionalismo público, você né, concorda que é bacana, que funciona, que é legal, fiz teatro ainda, fiquei indo a Três Rios no momento em que eu entrei na prefeitura, nos dois primeiros anos, continuei indo a Três Rios nos finais de semana, depois começou a ficar bem complicado,mas continuei fazendo lá e ai depois não deu mais, aí eu parei de fazer e fiquei com a prefeitura e comecei a desenvolver trabalhos aqui. Foi meio um momento em que eu consegui me desligar emocionalmente, financeiramente de Três Rios, para poder, para poder residir aqui, para poder fixar moradia, fixar a vida, tudo aqui.
P/1 – Você falou que é uma profissão, que sente que é um desafio, é cansativo, mas que é gratificante. Como é o seu dia a dia como professora?
R – Então, eu trabalho no período da manhã, tenho uma matrícula na prefeitura, eu trabalho no período da manhã e dobro, que a gente chama de dobra, de hora extra, na parte da tarde. De manhã eu trabalho com crianças bem pequenas, são crianças de quatro a cinco anos, educação infantil, e a tarde eu trabalho com os maiores, que é o quinto ano, o último ano do primeiro segmento. São realidades completamente diferentes, são dois polos desse primeiro segmento e demandam coisas completamente diferentes. É a primeira vez que eu estou trabalhando com o quinto ano, eu sempre trabalho com crianças menores, e aí tem sido uma experiência bem diferente, assim, esses alunos que eu trabalho na parte da tarde já foram meus alunos num outro momento, no segundo e no terceiro ano, acho, eles ficaram muito felizes de me reencontrar no quinto ano, eu também porque de alguma forma eu já conhecia, é uma turma bacana e está sendo desafiador, assim, tentar entender a cabeça, as necessidades, as vontades de pessoas de 11, 12 anos, tem alguns atrasados, tem alunos de até 14 anos nesse quinto ano e as necessidades, vontades de crianças de quatro, cinco anos. São, são, são direções completamente diferentes, são expectativas completamente diferentes e é um desafio, porque você tem que estar ali o tempo todo, tentando alcançar aquelas crianças, tentando entender a necessidade delas, tentando entender a estrutura que gira em volta dela também. Que a gente tem problema com criança na escola, e eles falam: “Mas o que está acontecendo.” Porque está ali, está tranquilo, está fazendo atividade, está envolvido. O que tem naquela estrutura que está comandando, que esta fazendo aquela criança ficar agitada e aí você parte para a questão de conhecer o outro lado. Como é na casa dela, como é a estrutura familiar dela, quais são os problemas que ela passa, como é que é essa vida. E aí a gente sempre acaba sabendo, no quinto ano, por exemplo, a gente tem uma comunicação muito bacana, eles sentam, bate papo, às vezes eu até falo: “Ó eu sou professora, pelo amor de Deus, não me fala isso não.” Porque a gente, eu procuro estar próximo deles, procuro que eles me entendam como uma pessoa que está ali para ajudar, para colaborar, para contribuir com eles, mais do que uma figura emblemática tradicionalista de professora, que só eu falo, vocês ouçam e ninguém fala nada. A gente faz muitas atividades em roda, a gente senta em roda, fala, eu falo: “E aí? E aí, o que você tem para dizer?” Ou então no conteúdo mesmo, a gente vai discutir esse conteúdo, ler, o que você entendeu, o que você não entendeu, então essa coisa circular meio que a mesa redonda propõe um nivelamento, todo mundo igual, vamos falar o que você acha, eu falo o que eu acho, isso aproxima muito a gente e me dá condições de entender outras coisas da vida deles, a dificuldade deles, ou de aprendizado, o social no relacionamento com os outros. Diferente do período da manhã que é um, esses pequenos a escola é diversão, a escola é alegria, escola é o momento de estar com os amigos, a escola é o momento de aprender coisas novas por um outro método ainda que a educação pratica muito também essa questão circular dos jogos, da brincadeira, da educação através do lúdico a gente, a educação infantil tem uma liberdade muito grande para agir dessa forma. Então é um outro clima um outro lugar.
P/1 – Em qual turma você usa os vídeos do “Discovery Channel”?
R – É na Escola Municipal Francisco Alves, à tarde.
P/1 – Esses mais...
R – É, os mais velhos, mas também utilizo na parte da manhã, os menores. A gente estava falando agora, engraçadíssimo, a pouco tempo de identidade e tal, e a gente entrou um pouco porque, lá tem estrutura de criança de quatro anos e cinco anos, os de cinco anos, a gente entrou um pouco nos órgãos, a funcionalidade de órgãos, para que serve o cérebro, qual a função do coração, qual a função do pulmão, e aí passei vídeos tinha um vídeo bem interessante do funcionamento dos pulmões e aí utilizo também com eles, mas o projeto do Discovery é na escola da tarde, com esses alunos do quinto ano.
P/1 – Como é que você conheceu esse projeto?
R – Então, conheci na escola Francisco Alves, trabalho lá há três anos, é o terceiro ano que eu estou lá, já trabalhava com vídeos antes, mas não sistematizado da forma que o Discovery utiliza, então fiz a oficina deles, a forma de, as técnicas que eles passam, a forma que eles inserem o vídeo na educação e comecei a praticar, porque era uma coisa que eu já fazia, fazia de outra forma, mas já utilizava, eu gosto de utilizar muitos recursos, eu acho que o quadro é insuficiente, que a vida não é isso, você sai no mundo, você tem a televisão, você tem a internet, você tem o celular que faz tudo, você tem várias outras formas de aprender e eu acho que é muito unilateral, escreve lá no quadro, copia e você dá definições e acabou, não é igual, não é como a vida é. A vida você vai fazendo associações a todo momento com várias coisas tudo ao mesmo tempo, tudo junto, então eu sempre utilizei outras formas, é, utilizo também um pouco emprestado do teatro, muitas vezes já falaram: “Por que você não faz uma peça de teatro com os alunos?” Não faço uma peça porque não dá, porque ainda não sou professora de Artes Cênicas com eles e acho que o teatro tem umas questões bacanas para oferecer para a educação, mas não formalizado como se fosse uma aula de Arte Cênicas, então eu utilizo muitos jogos, jogos de improvisação e jogos de estrutura para texto, para você conhecer personagem, para você se ambientalizar ao local da história, para você pensar, questões relacionadas a dramaturgia. Em algumas turmas já utilizei jogos de socialização também e, e aí é isso, então, a parte que eu faço uso do vídeo com eles eu acho que é bacana, eles gostam, não faço só uso de vídeo, como eu disse, utilizo muito jogos, jogos de material concreto, jogos físicos também, de vez enquanto me intrometo um pouquinho na área, na artística quando tem eventos na escola eu vou lá faço coreografia, que eu também atuo um pouquinho na área da dança, eu vou lá faço a coreografia, faço um tipo de leitura dramatizada para poder ser, para poder ser mais interessante esse aprendizado.
P/1 – E você falou que fez um curso de formação, como utilizar o vídeo, não é isso?
R – É, uma capacitação, na verdade, do Discovery que eles passam o material para a gente, a gente tem o catalogo de todo material que eles fornecem e aí umas técnicas de utilização do vídeo de parar, de pausar, de utilizar o vídeo sem som, de utilizar o vídeo sem imagem, só o áudio, de fazer anotações durante o vídeo, de assistir o vídeo todo depois fazer discussão, várias técnicas de utilização e formas de pensar em cima do conteúdo do vídeo, que eu antes não pensava, não pensava.
P/1 – Qual foi essa forma, acho que você meio que descreveu, mas teve alguma que foi muito interessante, que você começou a usar em sala de aula, você sentiu um feedback imediato?
R – Então, a questão do vídeo é muito legal por causa, acho que é um mundo visual a gente é muito visual, então, com a questão do visual eu percebo que chama muita atenção você está, sei lá, está dando uma aula sobre sistema solar, você está lá falando, tem um planeta e tal, o sol, porque e aí, a criança, às vezes, não consegue atingir isso, é um universo muito grande e uma dificuldade mesmo de capacidade, sei lá, imagética, para atingir isso e o vídeo vem, a imagem vem como um suporte fantástico, porque ele consegue entender aquela estrutura toda, o movimento dos astros, aquela questão toda de dimensão dos planetas, a comparação entre eles, então assim, esse recurso de atingir principalmente imagens que a gente não atinge, “Ah, vou falar de um animal, um sapo, sei lá, uma lagartixa.” Eu consigo ter essa imagem no cotidiano, mas ter a imagem sensorial eu jamais vou ter, então eu acho que favorecer esse tipo de suporte é fantástico, assim, se tem aquela informação, aquele conhecimento e a imagem fica ali, ela fica registrada na sua memória, ela vai lá para o seu disquinho, você pode acessar aquilo a qualquer momento, e aí o conhecimento fica relacionado com aquilo, toda vez que você falar: “Ah, o sistema solar.” Ele vai, pum, lá naquela imagem, então, o áudio também é interessante quando é um assunto que eles já têm mais domínio, você tira a imagem e deixa só o áudio, aí fica, eles fazem esse movimento na cadeira, tentando descobrir perceber só através da audição, o que é, mas eu percebo com eles que a imagem é muito impactante.
P/1 – Teve alguma atividade que você propôs em vídeo, esses vídeos da Discovery que tenha sido impactante, uma história que você gosta de lembrar, ou interessante, ou engraçado, enfim.
R – Então, o ano passado eu trabalhava numa turma de segundo ano e aí o trabalho que eu fiz com essa turma, foi um trabalho associado com a família, foi bem interessante. E aí eu utilizava os vídeos no centro de aprendizagem, com, nas reuniões de pais, e aí algumas eu fazia as reuniões junto os pais e os filhos, outras eu fazia com os pais, passava o vídeo, a gente fazia o trabalho, depois passava o mesmo vídeo, imediatamente depois para as crianças.E eu achei que todo esse processo todos vídeos que foram passados, eu me lembro deles A Criação de Filhotes, bacana que falava do mundo animal como cada animal cuidava criavam os seus filhotes, e aí foi bacana que a gente fez um comparativo das estruturas familiares que existe hoje, como que eu conduzo a educação do meu filho. A gente viu também um vídeo que eu gostei bastante, que foi, acho que é o título é Formigas, Formigas esse vídeo, que vai falar do trabalho em equipe que tem imagens bem bacanas do formigueiro, da estrutura que as formigas exercem ali, quem, cada um tem a sua responsabilidade, mas cada um tem a sua tarefa e que o trabalho só funciona, porque cada um faz a sua parte, então acho que esse vídeo é fantástico, acho que ele faz uma tradução bem bacana do que a gente precisa fazer na escola, que é essa conjugação da família, da escola, aluno, professor, e todo mundo participar, e não ser um bloco isolado, a escola, a família. “Ah esse problema é dos professores, resolve lá. Esse problema é da sua mãe, resolve lá.” Então a gente conseguiu o ano passado fazer isso e foi legal porque eu consegui trazer as famílias para a escola, a gente assistia os vídeos, parava para discutir, cada um dava a sua opinião, cada um colocava uma situação, eu senti uma dinâmica depois, eu acredito muito que a dinâmica faz a gente pensar. E aí sempre propunha as dinâmicas depois, e além de tudo era um momento de descontração, de uma família conseguia se aproximar da outra e foram esses vídeos, eu utilizei um vídeo também falando da participação das avós, na verdade eu fiz um link fui linkando uma coisa com a outra, é, da participação das avós nas famílias, as mães hoje saem para trabalhar, quem tem sorte de ter avó, fica lá nos cuidados da avó.Uma sequência de vídeos que eu fiz foi bem legal, essa experiência de aproximar a família através do vídeo.
P/1 – E você sente então que é uma ferramenta que tem ajudado você a incrementar as suas aulas.
R – Sim, sim, sim, com certeza, com certeza. Esse suporte é muito bom, eu acho que ele traz, ele abre um outro mundo para a criança, traz uma outra experiência, traz uma outra memória que ele vai registrar e vai carregar com ele daquela informação e acho que deveria ter sido, ser usado da melhor forma por todas as pessoas que conseguissem. Não só o vídeo, como a própria internet que hoje tem condição de falar de internet com criança, ela chega em casa, ela larga e vai titititititi, e aí no dia seguinte ela chega contando: “Ah conversei com não sei quem no MSN, não sei quantas horas.” Essas crianças todas do quinto ano já fazem isso, então eles chegam contando no dia seguinte, não dá para a gente falar: “Não tem internet na escola, não existe isso, isso não faz parte do seu mundo, pega o seu caderno, seu livro e vamos lá.” Não tem como fazer isso, você está fazendo o desligamento da vida, do cotidiano, do natural. Então eu acho que esse suporte do vídeo, esse suporte da imagem, o suporte da multimídia da tecnologia, não tem como você falar: “ Não utilizar mais em sala de aula.” Você ignorar o mundo, você ignorar a sua realidade, você não andar junto com o desenvolvimento, com o a tecnologia.
P/1 – E você sente que eles têm essa percepção que esses vídeos, que esse projeto que você usa, eles não são simplesmente aquela coisa, põe o vídeo lá para...
R – Sim, sim.
P/1 – Como é?
R – A gente até conversa sobre isso, outro dia eles me pediram, “Professora, vamos assistir um filme? Um filme grande.” Eu falei: “Hã?” “Vamos assistir um filme grande para a gente ver assim.” Eu falei: “Vamos.” A gente pode assistir esse tipo de vídeo também, porque os vídeos que são utilizados são de discurso, são vídeos ali, já, super específicos que você vai colocar e eles percebem que tem um objetivo e que não é entretenimento somente, que não é cinema, pega a pipoca e vamos lá ver o filme. Eles tem essa noção, essa consciência mesmo de que são vídeos para aprendizagem, movimento, para levantar questões.
P/1 – E você sente que eles gostam?
R – Gostam, gostam, eu trabalho com, com vídeo uma vez por semana, geralmente na quarta-feira eu trabalho com vídeo e aí eles já ficam esperando, “Ah, hoje é dia de vídeo.” Eles tem calendário, tudo certinho, calendário da semana, aí já sabe, “Ah hoje é dia de vídeo, o que a gente vai ver hoje? O que a gente vai falar?” Eles já ficam esperando isso.
P/1 – Bacana, bom, então hoje você trabalha como professora e como atriz?
R – Trabalho como professora, trabalho como atriz. Estou esperando a resposta de um projeto que está numa área de incentivo, trabalho com dança também, fazendo curso de formação de dança e um pouquinho com música também. Acho que um pouquinho de cada coisa. Conhecer tudo eu acho que é importante, tudo, conhecer as coisas que você tem interesse, que você tem vontade de fazer, o estudo, atuar naquela área, eu aprendi um pouquinho de música, mas eu não atuo na área de música, já sei ler um pouquinho de uma partitura, já sei o que é um acorde, assim, e dança a mesma coisa. Não pretendo ser profissional de dança, mas pretendo utilizar isso dentro da área teatral, na área educacional também, a gente utiliza bastante. E escolher, fazer as suas escolhas trabalhar com educação, trabalhar com teatro.
P/1 – E o que a sua família acha de você ter virado professora?
R – Então, a minha mãe, na verdade, foi por… meio que uma impulsão dela, eu não pretendia fazer magistério, teve um momento que ela falou assim: “Olha…”, eu estudava naquela escola cenecista que a gente pagava, era um valor menor do que uma escola particular, mas a gente pagava e ela me disse: “Olha, não vou poder mais pagar, você vai ter que escolher uma escola técnica, pública, para você estudar.” E ai eu falei, ela falou: “Quero que você faça o magistério.” Eu disse: “Mas mãe, ser professora, professora ganha tão pouco, é tão difícil.” Ela: “Não.” Acho que na realidade era uma vontade dela de trabalhar como professora, que ela não conseguiu realizar, a minha mãe tem, ela não cumpriu nem o ensino fundamental, nem meu pai, nem minha mãe. E essa coisa, eu gosto muito de estudar, acho que é um movimento próprio, um movimento que eu fui buscar, porque não tive muito incentivo, “Ah, estuda, vai fazer isso, vai fazer faculdade, vai fazer....” Não, foi um movimento meu, eu falei: “Eu quero estudar, eu quero conhecer, eu quero pesquisar. Conhecer outras coisas.” E aí, é, eu entrei nessa escola técnica praticamente quando a minha mãe falou: “Ó, é isso, você vê.” Um pouco influenciada por uma prima minha, nesse período a gente fazia-se prova de, como que era o nome? Não sei, lá você fazia a prova para você conseguir uma vaga, nessas escolas técnicas, você não entrava em aula matriculada como as do SENAI, você fazia um micro vestibular. E eu me lembro que uma prima que passou lá, “Tia, tia fala com a Edna, para a gente fazer junto.” A minha prima acabou não entrando e eu entrei, então foi um movimento, meio que, solicitado entre aspas pela minha mãe e que eu recusei durante algum tempo que depois aos poucos eu encontrei um lugar, encontrei uma forma de fazer isso que não fosse de alguns modelos que a gente tem e que não são tão interessantes.
P/1 – E hoje para você quais são as coisas mais importantes?
R – O mais importante, dar aula e conseguir realizar meus projetos particulares, projetos na área teatral.
P/1 – Quais são os seus objetivos?
R – Então, é, quero também continuar a minha formação, quero, já tenho um projeto um pouquinho desenvolvido para o mestrado, conjugando essas duas coisas, teatro e educação, então é o objetivo que eu quero, então é um objetivo que eu quero batalhar para conseguir em breve. Dentro da área teatral conseguir realizar os projetos que eu tenho em mente, são projetos sobre cultura popular, sobre, é, sobre cultura popular, sobre figuras características da cultura popular brasileira.E na área educacional eu quero ser melhor a cada dia, assim, eu quero ser aquela professora que falam assim: “Eu quero estar com ela,a aula dela é muito legal, a aula dela é muito maneira.”
P/1 – Teve alguma coisa do projeto Discovery que você acha importante dizer, que eu não tenha te perguntado, ou uma outra coisa que você ache legal, uma experiência que você viveu ser utilizada, que você ache bacana dizer?
R – Bom, o que eu acho assim, em relação que a gente não disse, era aquilo , não sei se é, se a Discovery consegue fazer isso, mas acho que a conscientização dos professores enquanto classe, dessas técnicas, dessas outras formas de entender o conhecimento, dessas outras formas de construir esse conhecimento, porque a gente ainda vê um professor super tradicionalista, bem enraizado, em questões que não funcionam mais. Então eu acho que conhecer o Discovery para mim foi super importante, acho que quanto mais pessoas conhecessem esse projeto, esse tipo de projeto mais a educação ganharia, mais os alunos ganhariam, mais os professores ganhariam, porque é um aprendizado para o aluno, e é um aprendizado para a gente que tem que sentar, que tem que pensar, tem que estruturar aquilo, tem que organizar a forma como vai fazer e a forma que vai conseguir atingir, que vai estabelecer os objetivos daquilo. Para que eu vou passar um vídeo? Só, “Não, porque é interessante passar vídeo. Vamos passar” Não. Por que que eu quero passar esse vídeo? Por que ele é importante? O que ele vai auxiliar no processo que eu quero desenvolver com esses alunos? Eu acho que se de alguma forma os professores, de uma forma geral, se a classe tivesse consciência desses outros recursos, a gente teria uma educação caminhando em outra direção.
P/1 – Quer dizer, um suporte que permite você trabalhar de uma forma transversal...
R – Exatamente.
P/1 – Como que você então, tem algum exemplo?
R – É e é engraçado, ontem mesmo eu estava passando um vídeo sobre a questão da água, e aí estava falando da questão da água,né, da necessidade da água, da quantidade de água salgada que existe, da água doce, das reservas e tal, e aí surgiu um assunto das camadas subterrâneas de água, e aí quando eu vi já estava caminhando para outro lugar, eu falei: “Não, espera aí, espera aí, tem que voltar. E aí alguém, apareceu uma imagem no vídeo de um cara nadando, e ele começava a falar logo na questão da natação, dos esportes, então quer dizer, você às vezes até tem que falar: “Espera aí, eu preciso dar conta disso aqui, daqui a pouco a gente vai e volta,e vai e volta.” Então é impossível, porque você não coloca, você não constrói, não produz um vídeo isoladamente. “Quero falar só da unha. Foca aqui.” Não, a unha ela faz parte da mão, faz parte do corpo, faz parte de uma pessoa, faz parte de uma sociedade, você não consegue quebrar. A gente está no mundo de forma integral, então o conhecimento tem que ser integral também, não dá para você partir, ó, “Vou falar só desse pedacinho da unha que ela é importante para mim.” É impossível, então você vai linkando todos esses conteúdos, e vai fazendo com que eles se mesclem. É numa aula só, às vezes você tem que dar uma podadinha, uma podadinha para não virar também uma loucura, e você não conseguir dar conta daquilo, mas é impossível você passar um conhecimento isoladamente.
P/1 – E é um suporte que você pretende sempre usar?
R – Sim, sim. Eu faço uso sempre e antes do Discovery de uma forma e agora de uma outra forma, porque eu acho que é importante, que é indispensável.
P/1 – Nem perguntei se você tem namorado....
R – Atualmente não.
P/1 – Tá.
R – Atualmente não.
P/1 – Tá bom Edna. Como é que foi aqui para você, contar um pouquinho da sua história?
R – Foi bacana, legal fazer esse histórico, lembrar de coisas que, é um movimento que a gente não faz sempre a gente sempre vai dando referências quando você vai conversando, é uma situação, você mescla, mas fazer essa progressão é bem legal, fiquei emocionada.
P/1 – É?
R – É.
P/1 – Que bom, obrigada, foi um prazer conversar com você.
R – O prazer é todo meu.
P/1 – Muito bom, você é muito comunicativa.
R – Falo muito.
P/1 – Não! E você é tão bonita menina, nossa! Como você acha que você era feia?
R – Era feia.
P/1 – Olha que delícia, morro de vontade de ter um cabelo assim.
[Fim da Entrevista]
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