QUANDO A TERRA FALA, EU ESCUTO. Nailson Guimarães Tem gente que escuta a Terra com os pés. Outros, com o coração. Eu escuto com os ouvidos atentos e a alma aberta, quando caminho por trilhas cercadas de verde e o mar me acompanha ao fundo, como um velho amigo que nunca se cansa de contar histórias. É nesses caminhos que a Terra sussurra e também grita. Pela manhã, ela me acorda com o canto dos pássaros, o farfalhar das folhas, o vai e vem das ondas. À noite, ela muda o tom: os grilos assumem o palco, o vento ganha corpo, a chuva batendo no telhado e até o silêncio parece ter som. Cada ruído é uma memória viva, uma lembrança ancestral que insiste em não ser esquecida. Escutar a Terra é mais do que ouvir sons! É perceber que há uma conversa acontecendo o tempo todo, entre o céu e as raízes, entre o sal do mar e o cheiro da mata. E quando me permito estar presente, sem pressa, sem distração, sou parte dessa conversa. Sou Terra também... Talvez seja isso que chamam de pertencimento. Não aquele que vem de documentos ou mapas, mas o que nasce quando a gente se reconhece no mundo natural. Quando o som de uma onda parece bater dentro da gente. Quando o canto de um pássaro parece dizer: - Você está aqui. Você é daqui. Você faz parte daqui. Escutar a Terra é um ato de defendê-la também, é ato de resistir. Num tempo em que tudo é ruído, parar para ouvir o que é essencial é quase revolucionário. E eu, sempre que posso, volto aos meus caminhos de natureza e mar. Porque é lá que a Terra fala. E é lá que eu a escuto.