IDENTIFICAÇÃO
Meu nome Hugo Vilardo Aloy, nascido em 2 de maio de 1938, no Rio de Janeiro, no bairro de Santa Teresa.
FAMÍLIA
Eu sou de origem italiana. O meu pai, Salvador Aloy, era italiano, ele chegou ao Brasil em 1908, com 14 anos. Mamãe, Florinda Vilardo Aloy, é filha de italianos. Meu pai era da Calábria, ao sul da Itália, da cidade de Paula, onde nasceu São Francisco de Paula e onde foi sepultado, na Catedral.
Quando papai veio para cá, a comunicação era muito difícil, era por carta, levava dois ou três meses. Meu pai chegou aqui em 1908, e nós dizíamos: “Ora, como é que pode?” Ele foi rever a mãe somente em 1948, quando ela veio da Itália para passar os últimos anos de vida aqui no Brasil. Eu tinha 10 anos quando conheci minha avó e papai a reencontrou 40 anos depois de deixá-la Hoje temos internet, falamos com todo mundo, eu falo com minha filha [que mora nos EUA] todo dia, mas antigamente os relacionamentos existiam em outros termos.
AVÓS
Dos meus avós paternos, eu só conheci a minha avó, com 10 anos de idade e ela faleceu dois anos depois. Mas eu guardo dela essa lembrança, relacionada com meu pai, porque ela só foi rever o filho 40 anos depois de ele ter vindo para o Brasil.
Meus avós maternos – eu sei um pouco da história da família, porque sempre gostei de pesquisar as raízes – eu não conheci minha avó, ela faleceu no mesmo ano que eu nasci, e meu avô faleceu quando eu tinha seis anos de idade. Lembro-me dele. Na minha memória, o que eu guardo é ele quebrando avelãs num degrau da cozinha de minha casa em Santa Teresa; ele me dando aquelas avelãs. É importante dizer que, no que diz respeito à colônia italiana, existia uma relação muito grande com a minha avó e depois com a minha tia, sua filha mais velha. A minha avó era a parteira da colônia italiana no Rio de Janeiro. Às vezes, eu encontro com amigos e eles dizem “Eu nasci pelas mãos da sua avó”, ou então “Eu nasci pelas mãos da sua...
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Meu nome Hugo Vilardo Aloy, nascido em 2 de maio de 1938, no Rio de Janeiro, no bairro de Santa Teresa.
FAMÍLIA
Eu sou de origem italiana. O meu pai, Salvador Aloy, era italiano, ele chegou ao Brasil em 1908, com 14 anos. Mamãe, Florinda Vilardo Aloy, é filha de italianos. Meu pai era da Calábria, ao sul da Itália, da cidade de Paula, onde nasceu São Francisco de Paula e onde foi sepultado, na Catedral.
Quando papai veio para cá, a comunicação era muito difícil, era por carta, levava dois ou três meses. Meu pai chegou aqui em 1908, e nós dizíamos: “Ora, como é que pode?” Ele foi rever a mãe somente em 1948, quando ela veio da Itália para passar os últimos anos de vida aqui no Brasil. Eu tinha 10 anos quando conheci minha avó e papai a reencontrou 40 anos depois de deixá-la Hoje temos internet, falamos com todo mundo, eu falo com minha filha [que mora nos EUA] todo dia, mas antigamente os relacionamentos existiam em outros termos.
AVÓS
Dos meus avós paternos, eu só conheci a minha avó, com 10 anos de idade e ela faleceu dois anos depois. Mas eu guardo dela essa lembrança, relacionada com meu pai, porque ela só foi rever o filho 40 anos depois de ele ter vindo para o Brasil.
Meus avós maternos – eu sei um pouco da história da família, porque sempre gostei de pesquisar as raízes – eu não conheci minha avó, ela faleceu no mesmo ano que eu nasci, e meu avô faleceu quando eu tinha seis anos de idade. Lembro-me dele. Na minha memória, o que eu guardo é ele quebrando avelãs num degrau da cozinha de minha casa em Santa Teresa; ele me dando aquelas avelãs. É importante dizer que, no que diz respeito à colônia italiana, existia uma relação muito grande com a minha avó e depois com a minha tia, sua filha mais velha. A minha avó era a parteira da colônia italiana no Rio de Janeiro. Às vezes, eu encontro com amigos e eles dizem “Eu nasci pelas mãos da sua avó”, ou então “Eu nasci pelas mãos da sua tia”. Elas eram parteiras. Minha avó se chamava Concheta Ceta e a minha tia era Angelina Vilardo Boderone.
PAIS
Esse depoimento é uma maneira de resgatar o sentimento de reconhecimento para com meus pais. Eles eram de origem humilde; o meu pai era imigrante italiano e se fixou no comércio. Precisamente, se diz: italiano quando vinha para cá ou era jornaleiro ou engraxate. Papai era engraxate e mal sabia assinar o seu nome, mas tinha uma visão do que era importante para os filhos; tanto ele quanto a minha mãe, que era costureira modista. Eles não podiam nos dar nada material, mas nos davam todas as possibilidades de educação. Assim eu consegui chegar onde cheguei, graças ao esforço de meus pais. Com a profissão dele, humilde mas honesta, e da minha mãe, conseguimos ter a nossa vida digna. Às vezes, eu acordava de madrugada e via minha mãe costurando, aquele barulho de máquina... Ali eu tive o primeiro contato com o Cassino do Chacrinha, do Abelardo Barbosa, que embalava a madrugada dela. Falar nos meus pais me causa muita saudade e eu falo com muita gratidão.
IRMÃOS
Eu tenho um irmão e tive uma irmã que faleceu. Ela era professora de música. Minha irmã era minha madrinha de batismo, inclusive, ela era mais velha do que eu quase 17 anos. Eu sou o filho do meio, o caçula é o meu irmão Reinaldo.
Minha irmã era professora de acordeom. Ela fazia parte da academia do Mário Mascarenhas, onde dava aulas de acordeom. Ela teve uma passagem muito... Como eu poderia dizer? Não quero dizer triste, mas algo que marcou muito a nossa relação. Além de minha irmã mais velha, ela era a minha madrinha. Eu vi o seu sofrimento nos últimos anos de vida. Ela teve um tumor, foi operada pelo Dr. Paulo Niemeyer e, em momento algum, se queixou de sofrimento. Isso era devido também ao espírito dos meus pais. Ela dizia que queria ver seus filhos formados; formou os três filhos, mas o seu caçula – a nossa diferença de idade é de um ou dois anos, quer dizer, nos tratamos quase como irmãos, apesar de sermos tio e sobrinho. Quando a minha mãe estava esperando o meu irmão, a minha irmã, no final da gestação da mamãe, já estava esperando o meu sobrinho, então o meu irmão nasceu em 1940 e o meu sobrinho em 1941.
Voltando ao assunto, a minha irmã disse que queria ver a formatura do meu sobrinho, médico. Eu guardo também com muito carinho essa lembrança: ela já nos últimos dias de vida, se hospedou no Hotel Glória, onde foi o baile de formatura. Ela já estava com dificuldades até de se locomover. O que vem à minha lembrança é a valsa de formatura. Os amigos do meu sobrinho fizeram uma roda com ela no meio, ela se levantou de uma cadeira de rodas, dançou a valsa com meu sobrinho, dentro das possibilidades dela, e dois dias depois ela faleceu. Eu tenho essa lembrança da minha irmã. O nome dela era Luiza Aloy Iglesias Lopes. Meu sobrinho é médico, seguiu a carreira na Aeronáutica, chegou a ser diretor do hospital da Aeronáutica no Campo dos Afonsos, chefe do gabinete do diretor médico. Hoje ele já está afastado da Aeronáutica, mas está clinicando, estamos sempre juntos. Meu irmão mais novo teve uma trajetória ligada à Petrobras; ele foi diretor da Petrobras. Seu nome é Reinaldo Aloy. No início, ele era conhecido como irmão do Hugo Aloy, mas, com o tempo, eu passei a ser conhecido como irmão do diretor Reinaldo Aloy. Depois que nós nos aposentamos, somos conhecidos como os Aloys.
INFÂNCIA
É muito gostoso recordar o nosso tempo de infância Os meus filhos, que já são adultos, não tiveram a liberdade que eu tive como criança e como adolescente. A minha infância, em Santa Teresa, foi uma infância de rua. Eu chegava da escola, almoçava e ia rápido brincar na rua. Eu morava numa ladeira e jogava bola ali mesmo. Soltar pipa, nunca soltei, não gostava de pipa, mas aquelas brincadeiras todas de infância, que não vemos mais, eram ótimas Eu me lembro que à noite nós nos reuníamos na porta de uma das casas e ficávamos brincando de, como é que se chama? Sentinela Aquela brincadeira que cada um tinha uma patente, então um dizia: “Tô sentindo falta do sargento”, e o outro dizia: “Sargento não falta, quem é que falta?”, “É o cabo.”, aí outro dizia: “O cabo não falta, quem é que falta?”... E quando chegava lá em cima, no general, voava, vamos dizer assim, e voltava a ser soldado outra vez. Brincadeiras de criança, bola de gude.
Posso dizer que eu fui “surfista de asfalto”, porque as brincadeiras eram improvisadas, nós não tínhamos tanto recurso quanto hoje para brincar, então se criavam as brincadeiras. Eu falei “surfista de asfalto”, mas não era nem asfalto, eram aquelas pedras. Nós pegávamos uma prancha daquelas de construção e ensaboávamos a parte de baixo com sebo ou graxa e lá em cima, no alto da ladeira, nós sentávamos e ficávamos com a mão no meio-fio impulsionando aquela prancha até chegar um paralelepípedo maior; a prancha batia e todo mundo saía por cima... Era uma brincadeira criada por nós, garotos dali. Outra brincadeira era um tipo de autorama – porque hoje tem o autorama e outras coisas mais – desenhado numa calçada. Nós ficávamos com uma chapinha e uma casca de banana por cima para dar peso, dando petelecos, e aquilo ia alcançando pontos.
Da infância, me lembro muito das festas juninas, que não existem mais na rua. Em Santa Teresa, nós íamos buscar bambú lá para cima, no caminho do Hospital Silvestre, no final da linha do bonde; dali do Silvestre, chega-se no Corcovado. Nós caminhávamos até em cima e era uma glória trazer aquele bambú, porque cortávamos o bambú e vinhamos pela rua puxando...
Eu posso dizer que tive uma infância, em Santa Teresa, tão boa, que nós continuamos a nos ver, muito pela minha índole de tentar agregar aquelas amizades. Até hoje eu tenho meu grupo de infância. Na medida em que nós fomos crescendo, o futebol era o agregador de todo esse pessoal. Seja em Santa Teresa, ou fora, nós jogamos nossas peladas ainda aos sábados, desde a infância.
EDUCAÇÃO
Eu estudava perto de casa, numa escola de padres. Eu morava em Santa Teresa e, próximo ao Convento das Carmelitas, no Largo da Lapa, junto à igreja, existia – não existe mais – um colégio chamado Escola Carmelitana Santo Alberto, onde eu me alfabetizei. A minha mãe dizia que como eu era muito levado, ela conversou com o frei João Moreira – eu me lembro o nome – e conseguiu me colocar com cinco anos na escola. Eu tenho muitas boas lembranças também do colégio, eu sempre gostei muito e pratiquei muito esporte, joguei muito futebol. Na minha cabeça de criança, eu não me convencia que eu era obrigado ir a uma missa aos domingos, deixando de jogar futebol. Então eu faltava às missas, e quando chegava na segunda-feira, como punição, eu só podia ir para o recreio depois de escrever 200 vezes, numa folha de papel: “Não devo faltar à missa aos domingos, não devo faltar à missa aos domingos...”. Entrei com a minha criatividade: por que escrever 200 vezes se eu posso escrever 100? Então eu aprendi a escrever com dois lápis. Escrevia 100 vezes com dois lápis e somava 200 vezes. Assim, tudo bem, eu saía mais rápido para o recreio.
EDUCAÇÃO ITALIANA
A minha criação foi dentro daquele espírito do italiano: a matriarca educava e o patriarca trabalhava para botar a comida dentro de casa. Então, na minha educação, quem estava em cima de mim e do meu irmão o tempo todo era a mamãe. Ela era a autoridade máxima da casa e eu guardo até hoje uma cicatriz devido ao seguinte: eu e meu irmão brigávamos, normal de criança, e a mamãe, certa vez dizia:“pára, pára”. Tinha uma escadaria que dava para a cozinha, e nós não parávamos, então ela pegou o bule que estava na sua mão, jogou lá de cima e acertou minha cabeça. Quando ela viu o sangramento, quem apanhou foi o meu irmão. Ela chorava muito por ter me machucado. A minha educação era assim, se não fizesse as coisas direito eu apanhava. Eu me lembro que minha mãe tinha um chicote, um cabo de bambu envernizado, com dois cintos, e aquilo machucava. Até que um dia, eu e meu irmão resolvemos acabar com esse sacrifício de apanhar. Passava um caminhão de lixo – naquele tempo, o caminhão de lixo abria pelos lados – então, quando ele parou na porta de casa, nós dois, pegamos aquele chicote e jogamos fora. Pelo menos de chicote nós deixamos de apanhar.
Eu posso lhe dizer com toda certeza que, para época, foi uma educação muito rígida, mas com liberdade também. Cada vez mais, eu me lembro de certas coisas e reconheço a importância dos meus pais na nossa formação. Apesar da educação rígida, nós tínhamos liberdade, porque eles acreditavam nos filhos. Eu e meu irmão éramos escoteiros do mar e saíamos com 10 anos para fazer acampamentos. Na época, não tinha celular, nem telefone, e não tinha como se comunicar. Mas nós estávamos lá e meus pais tinham certeza que estavam fazendo o melhor para nós. E fizeram o melhor. Nesses eventos de escotismo, íamos os dois, na hora de jogar o futebol também jogávamos juntos, mas depois chegou um ponto que começou a época de namoro de um, de outro, então as turmas se separaram. Apesar de nós termos diferença de apenas dois anos, mas, por exemplo, eu tinha 17 anos, a minha turma já era diferente da turma do meu irmão de 15 anos. Ele era garoto, eu o olhava como garoto.
JUVENTUDE
A juventude foi bem solta, mas eu não fumo, não bebo... Ninguém me disse para não fumar, mas com 15 anos, eu já sabia que se eu queria praticar esporte eu não podia fumar; eu ouvia assim: “O esportista não fuma, o esportista não bebe.” Na minha vida, tudo que eu fiz tinha um paralelo na área esportiva. Até hoje eu tenho o esporte me acompanhando. Muitas lembranças e muitas referências que eu tenho vêm nos dois segmentos. A infância lembramos muito facilmente; na juventude temos que estabelecer a faixa etária, porque tem a época da juventude que somos chamados à responsabilidade, ou seja, o serviço militar obrigatório está chamando.
SERVIÇO MILITAR
Tanto eu quanto o meu irmão seguimos o mesmo caminho. Nós fizemos prova para o CPOR, cursamos o CPOR, fizemos o mesmo curso de artilharia, eu fiz um estágio regular obrigatório e depois um estágio de serviço, que era de um ano. Saí como primeiro-tenente da reserva de artilharia, também tenho muitas lembranças. Até ontem, eu tive um jantar que fazemos na segunda quinta-feira de cada mês. Graças a minha perseverança, eu consegui reunir de 118 aspirantes a oficial da turma de artilharia do CPOR, do Rio de Janeiro, 80 pessoas, em 1984, para comemorarmos os 25 anos da nossa turma. Daqui a dois anos, vamos comemorar os 50 anos. Nós criamos uma confraria, a partir do aniversário de 25 anos da turma. Hoje em dia, as esposas vão também e participam dos nossos encontros uma vez por mês. Isso é uma forma de lembrarmos o nosso passado, resgatar, nos revermos... Nesse momento, eu estou coordenando o encontro que será no final do ano, dos 50 anos da minha turma de científico do Colégio Anglo-Americano.
NAMORO E CASAMENTO
O que marcou na minha juventude, entrando já nos meus 18 ou 19 anos: terminando o curso científico no Colégio Anglo-Americano, entrando numa faculdade, fazendo o CPOR e começando a namorar a minha esposa, com quem estou até hoje. Aproveitando essa deixa, eu sempre gosto de fazer uma analogia da minha vida familiar com a Petrobras, porque a empresa faz parte também da minha família. Quando eu entrei na Petrobras, eu namorava a minha mulher. Quando saí da empresa eu já tinha feito 25 anos de casado, já tinha quatro filhos e três netos. Para mostrar a importância da companhia com relação à formação da nossa vida familiar.
Eu era lambretista. Estou falando do início do rock and roll, do Elvis Presley e James Dean. No Bill Haley e seus cometas, o filme, eu levantei da poltrona, dancei, fiz tudo que a turma da minha época fez. Meus pais me deram uma lambreta, porque eu gostava e achava bonito, então eu fui lambretista. Eu tenho foto em casa da minha lambreta, apesar de não parecer comigo porque eu penteava o meu cabelo, dava aquela puxada para ficar com um topetão. Com a minha jaqueta de couro estilo James Dean, morando em Santa Teresa e andando com a minha lambreta, eu conheci a minha mulher na porta da casa dela. Ela olhou, eu fui até lá na frente, voltei, demos outra olhada e eu consegui chegar a ela.
Foi interessante porque eu era muito inibido e um dia estávamos conversando – porque eu já batia papo e não me manifestava – e eu perguntei: “Você quer namorar ou quer flertar?” Ela me respondeu e nós, até hoje, lembramos o que ela me disse: “ Eu não sou menina de flertar.” Isso foi no dia dois de abril de 1958. Então nós vamos fazer 50 anos de namoro em 2008. Noivado e casamento demorou mais pelo seguinte. Eu estava entrando na faculdade, no meu primeiro ano, e ela esperou eu terminar. Eu terminei a faculdade em 1962 e fiz um ano de pós-graduação no Conselho Nacional de Economia. Em 1963, eu entrei na Petrobras, e só casei em 1964, depois de um ano de empresa, porque na época, quando se assinava o contrato na Petrobras dizia-se: um estágio probatório durante 12 meses. Somente após os 12 meses nós ficamos noivos; ficamos noivos em abril e casamos em junho. Casamos no dia 13 de junho de 1964, dia de Santo Antonio, santo casamenteiro. “Tem que ser nesse dia.” “Tá bom”.
OPÇÃO PROFISSIONAL
A escolha da faculdade foi algo interessante. Eu digo sempre, nada na vida acontece por acaso, existe sempre uma razão de ser. Eu fiz o científico no Colégio Anglo-Americano e no ano de 1957, eu fiquei para uma segunda época. Como disse, eu sempre desenvolvi atividades esportivas e aquele foi um ano que começou a dar certo para mim, na questão do futebol. Jogara no infanto-juvenil do Flamengo, depois no juvenil do Fluminense. Em 1957, com idade para ser da categoria juvenil, eles me puxaram para um time de aspirantes e eu disputei, inclusive, um torneio de profissionais iniciantes no Maracanã, com 18 para 19 anos. Então eu estava muito ligado à parte do esporte e o estudo, não que estivesse relegado ao segundo plano, mas 1957 era exatamente o ano de prestação de vestibular. Eu teria que fazer uma prova para entrar numa faculdade, e na época era um negócio muito difícil, existia um gargalo enorme.
Eu fiquei para uma segunda época no colégio e perdi alguns vestibulares. Até que num dia de janeiro – eu já tinha feito a prova de segunda época, tinha passado e tudo, mas não tinha tido a oportunidade de prestar o exame para a faculdade – eu estava no ponto final do bonde lá em Santa Teresa. Esse ponto final não existe mais, era no Lago da Carioca, onde existe um prédio da Seda Moderna – o bonde passava por dentro e nós, rapazes, ficávamos do lado de fora, sempre ali paquerando as meninas que vinham do colégio, trocando olhares... Encontrei um amigo e conversando, ele perguntou: “Você fez algum exame para alguma faculdade?”, “ Não, não fiz...” E expliquei meus motivos. Ele disse que na faculdade onde ele estava cursando contabilidade, porque não tinham conseguido preencher todas as vagas, ia ter um outro exame de vestibular para a área de economia. Fui fazer no dia seguinte esse exame vestibular e passei. Este rapaz que falou comigo, o Rubenina, eu fui reencontrá-lo dentro da Petrobras, ele era contador na Reduc.
Nada acontece por acaso, quer dizer, o fato dele dizer: “Olha, na faculdade está existindo um segundo vestibular”, eu poderia não ter encontrado com ele e não sei qual teria sido o caminho da minha vida. Hoje existe um leque enorme de áreas de estudo e de especialização, mas naquela época engenharia, direito e medicina estavam sempre na cabeça. A economia estava começando e eu fiz economia pela oportunidade do vestibular. Eu acabei gostando e me aprofundando na área. Não foi uma escolha premeditada para entrar na carreira, aconteceu por um acaso. Eu cursei a Faculdade de Economia do Rio de Janeiro, hoje é a Universidade Cândido Mendes. A faculdade era à noite e, como eu fiz o CPOR, eu pude fazer um estágio remunerado por um ano e três meses. Eu nunca ganhei tanto dinheiro quanto ganhava como segundo-tenente. Durante o dia, eu tinha as minhas obrigações do estágio e à noite, a faculdade. O meu primeiro emprego foi na Petrobras.
ESTÁGIO NO EXÉRCITO E PÓS GRADUAÇÃO
Durante a faculdade tinha o Exército, por um ano e três meses, inclusive no final. O meu estágio terminou em dezembro de 1961 e foi quando eu terminei a faculdade. De dia eu servia no Forte São João, na Urca. Para mim, não havia nada melhor do que o Forte São João porque ali é a escola de Educação Física do Exército, então, como eu gosto de esporte, eu dizia sempre: “Eu estou aqui de férias.” No ano seguinte, 1962, eu fiz pós graduação no Conselho Nacional de Economia; durou um ano e tinha como professores Mario Henrique Simonsen, João Paulo Veloso... Não sei ao que era ligado o Conselho Nacional de Economia, mas eu diria que hoje poderia ser um IPEA, era um instituto de aprofundamento, na formação de um economista. Para cursar tinha que passar numa prova. Era um curso de análise matemática dentro do Conselho Nacional de Economia. Essa análise matemática nada mais era do que todo um estudo de economia, de aprofundamento de economia, com pesquisa operacional, planejamento, enfim, existia um leque de cadeiras, com professores de renome na época.
INGRESSO NA PETROBRAS
Enquanto eu estava fazendo a pós-graduação, tive outra vez a ajuda do meu pai, porque ele tinha as cadeiras de engraxate atrás do Clube Naval, ali na Avenida Rio Branco, e os fregueses dele eram vereadores, eram gente graduada da Marinha que ele conhecia desde quando eram estudantes na Escola Naval. Essas pessoas ficaram conhecidas dele, num relacionamento de muitos anos. Uma vez, conversando com um comandante que tinha um escritório próximo ao trabalho de papai, ele falou que eu poderia procurá-lo pra fazer um estágio de economia. Fui para esse escritório de consultoria onde eu passei a conhecer um pouco mais a área de pesquisa e estudos de mercado e foi onde eu comecei a minha área de especialização. Eles faziam projetos para obtenção de financiamentos dentro da antiga Cacex, no Banco do Brasil, Superintendência de Moeda e Crédito – que hoje é o Banco Central. O projeto tinha que passar por essas áreas e na Cacex tinha um diretor que era amigo do comandante; como eu fazia o acompanhamento desses processos, eu o conheci. Um dia conversando com o secretário desse doutor – Dr. Wilk Moreira Barbosa, que depois foi presidente da Acesita – ele me perguntou: “Vem cá, você está satisfeito no escritório do comandante e tal?” Eu disse: “Estou fazendo um trabalho, mas não é nada assim de futuro.” E ele me disse: “Você teria interesse em trabalhar na Petrobras?” Eu disse:“teria, por que não?” Ele me deu um cartão para eu procurar um amigo dele na diretoria da Petrobras.
Era 1962 e o assistente da diretoria me encaminhou para o departamento de pessoal para eu fazer uma prova. Naquela época, se fazia uma prova e entrava como datilógrafo, auxiliar de escritório ou ajudante administrativo. Para entrar como assistente administrativo não se fazia prova, era exame de currículo. Eu pensei: “Vou fazer a prova porque confio na minha capacidade.” Eu fiz a prova e eu me lembro muito bem que estavam fazendo pós-graduação comigo dois amigos que vieram a trabalhar na Petrobras, Silvio Massa de Campos e Gilbert Prates. Silvio Massa de Campos chegou a ser presidente do que hoje é a BR - na época foi superintendente da antiga Sudist, Superintendência de Distribuição, que deu origem a BR - e o Gilbert Prates chegou a ser gerente financeiro do departamento comercial da Petrobras. Quando eu conversei com eles: “Você vai fazer prova, prepara um currículo, nós estamos preparando para nós entrarmos como assistente administrativo, é acima do que você quer...” Resultado: eu fiz a prova em agosto de 1962 e em 18 de fevereiro de 1963, eu fui admitido na empresa, como ajudante administrativo. Eles ainda não tinham sido admitidos, só foram admitidos um ano depois.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Em dezembro de 1965, a Petrobras – e aí fomos trabalhar os três juntos, quando eles entraram, nós nos reencontramos na antiga tesouraria geral da Petrobras – abriu o primeiro concurso interno/externo para técnico de importação e câmbio. Uma das exigências era que o empregado interno tinha que ter pelo menos 18 meses de casa. Eles não puderam fazer a prova porque entraram como assistente administrativo muito depois. Eu entrei através da prova em 1962, como ajudante, num nível inferior, mas pude fazer o concurso interno em 1965. Passei em primeiro lugar nesse concurso e fui reclassificado para técnico de importação e câmbio. Depois teve a reclassificação para economista, anos a frente.
Esse cargo era ligado à Tesouraria Geral. Quando entrei, eu fui lotado no chamado “grupo da Lei 4.131”, a lei de remessa de lucros. Eu tenho participação em uma porção de coisa de unidades aqui da Petrobras, porque todos os contratos que a Petrobras fazia naquele tempo com geólogos, com técnicos, qualquer tipo de contratação que gerasse pagamento em moeda estrangeira, tinha que ter um certificado do registro dentro da antiga Superintendência de Moeda e Crédito, a Sumoc. Eu entrei dentro desse grupo que trabalhava em cima da certificação dos contratos com esses técnicos e empresas estrangeiras. Era extremamente difícil, muito trabalhosa e demorada a obtenção dos certificados.
COTIDIANO DE TRABALHO
Por força do meu esporte, dentro da Superintendência de Moeda e Crédito, eu tinha o futebol de salão do Fluminense que congregava meu técnico, Ivan Fialho, o diretor da Petrobras, Carlos Marengo, chefe da divisão de fiscalização dos contratos e, num outro estágio, um amigo do Conselho Nacional de Economia, Henrique. Eu tirava todos os certificados, levava em mãos o que teria que circular por protocolo e quando se tratava de assunto de Petrobras eu carregava. Até chegar a um ponto de termos um volume de trabalho tão grande para emitir os certificados, que eu levei um datilógrafo da Petrobras para ajudar nessa certificação. Eram contratos para a construção do oleoduto Rio-Belo Horizonte, o Orbel, o contrato com a Marubeni, no Japão, etc. Nós conseguimos o contrato de financiamento para a construção das refinarias Regap e Refap, e eu carregava aquilo. Eu me lembro muito bem que era uma época em que toda hora faltava energia – hoje falamos em apagão, mas na ocasião era corte de energia – e eu voltava às vezes lá da Sumoc, com os certificados na mão e aquilo me dava tanta satisfação, como se fosse uma vitória alcançada, mas estava sem elevador devido à falta de energia. Nós trabalhávamos no oitavo andar e eu subia aquelas escadas até o oitavo andar para entregar os certificados, depois de seis horas da tarde e dizer assim: “Ô, olha o que eu consegui hoje.” Ainda não era no Edise, era na Presidente Vargas, 534, Edifício Barcelos.
PETROBRAS / ANOS 60
Era uma Petrobras com os órgãos muito separados, porque tinha concentração às vezes de dois ou três órgãos num prédio, outro lá na Rua Buenos Aires, na Candelária. Os processos circulavam com o pessoal do protocolo, que carregava fisicamente, levando para o outro órgão. Quer dizer, esses facilitadores todos que temos hoje, como a intranet, naquele tempo não havia e se carregava debaixo do braço. Era uma época de muita dificuldade, até de ordem administrativa, porque os recursos que nós tínhamos eram muito primitivos, se comparados ao que existe hoje. Máquina de calcular era Facit, que puxava uma alavanca para sair registrado numa ficha; a máquina de datilografia ainda não era elétrica, então se fazia um expediente com várias cópias, e quando se errava – coitadas das datilógrafas – tinha que corrigir com borracha, depois colocar tudo certinho no mesmo lugar, olha, pioneirismo em todos os sentidos. Era uma Petrobras menorzinha, eu entrei em 1963, minha matrícula é 1825.
Foi uma década das refinarias, mas eu não tinha muita ligação com essa parte operacional. A Reduc e a Relam já existiam naquela altura, mas o que eu posso dizer daquilo que eu participei foi o caso do Orbel, o oleoduto Rio-Belo Horizonte. Quando chegou o primeiro navio da Marubeni, vindo do Japão, com os tubos, eu fui convidado para ir lá na Praça Mauá e foi promovido um cocktail no navio. Foi o recebimento dos primeiros tubos para o oleoduto Rio-Belo Horizonte. Eu fui convidado porque eu tinha participado da certificação. A Marubeni era uma empresa japonesa que fornecia os tubos para o Orbel. Fui lá nesse cocktail que eles deram dentro de um navio e depois num outro evento no Copacabana Palace. Foi quando pela primeira vez eu tive o contato com o sushi. Muito cedo, porque aquilo não tinha por aqui, e ficou na minha boca circulando um tempo até eu me ver livre quando passei por uma lixeirazinha.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL / GABINETE DA PRESIDÊNCIA
Com a minha formação economista, da Tesouraria-Geral, eu fui ser assistente do chefe de gabinete da presidência da Petrobras, por força do meu pai também, porque o chefe do gabinete era seu freguês. Um dia, papai estava falando que tinha um filho trabalhando na Petrobras, e ele mandou que eu o procurasse. Fui procurá-lo e depois, quando ele assumiu a chefia do gabinete do presidente – na época Marechal Ademar de Queiroz –, então saí da Tesouraria Geral para o Gabinete da Presidência, onde eu fui assistente. Foi criado o cargo de assistente do chefe de gabinete e eu fui o primeiro ocupante dessa função. Depois permaneci ali ainda com o presidente Irnack Carvalho do Amaral.
LLOYD BRASILEIRO
Quando o General Candal da Fonseca veio a ser presidente, eu fui requisitado pelo Lloyd Brasileiro para ser o chefe do gabinete do seu diretor financeiro, que era da Petrobras, o Julio Jofre da Silva Costa. Ele foi para o Lloyd e me convidou para ser seu chefe de gabinete. Fiquei no Lloyd seis ou sete meses e quando houve a mudança do diretor financeiro eu fiz uma carta pedindo demissão do cargo, até por sinal, algo que não era normal dentro de uma empresa estatal. No Lloyd, eu recebi alguns telefonemas desaforados por causa do pedido de demissão. Porque isso não era a norma lá dentro, então quem chegasse é que decidiria se eu continuava ou não. Eu achei que como eu fui para lá a convite do diretor, o meu relacionamento era com ele. Na medida em que ele saiu, eu me senti no dever de acompanhá-lo, mesmo ele dizendo “Não, Hugo, você permaneça.” Eu disse “Não, eu vim para cá a seu convite, então eu vou pedir demissão também.” E assim eu fiz, recebi uma carta de agradecimento, para ser portador de uma carta de agradecimento para o presidente da Petrobras e entreguei a carta. Como eu tinha ainda um período de férias, fui para casa tirar um mês e quando estava descansando, recebi um telefonema da presidência, porque eu tinha trabalhado lá no gabinete da presidência por mais de um ano e estavam me convocando para uma entrevista com o chefe de gabinete, que era um coronel ou general; era o ano 1967 para 1968.
COMUNICAÇÃO
Existiu um assistente do presidente que era responsável, dentre as suas atribuições, pela área de relações públicas da Petrobras, Serpub. A mudança de Arpub (Assessoria de Relações Públicas) para Serpub (Serviço de Relações Públicas) nada mais foi do que a criação de uma divisão dentro do organograma da antiga Arpub, que era uma divisão de pesquisa e planejamento. Eu vou tentar até me lembrar das palavras, mas entre outras coisas, disseram: “Ô, temos ótimas referências a seu respeito, que não sei o que, pa-pa... e gostaríamos que você assumisse essa área.” Esse “gostaria” não era um pedido porque naquela época, “gostaria” era quase uma ordem. Assim eu fui para o Serviço de Relações Públicas, o Serpub, para assumir a área de pesquisa. Eu pensei: “bom pesquisa, planejamentos ... planejamento de relações públicas, eu não tenho nenhuma familiaridade com RP, mas pesquisa de opinião, pesquisa de mercado, isso está dentro da área de economia e tal.” Eu disse:“Tudo bem, eu aceito, eu vou para a área de pesquisa.” Porque na minha cabeça eu estava indo para uma missão temporária, tanto é que eu pedi para o assistente do presidente que mantivesse a minha lotação no Serviço Financeiro. Então eu fui emprestado para o Serviço de Relações Públicas e minha lotação permanecia no Serviço Financeiro. Foi aí que eu comecei a “respirar” a comunicação.
A Arpub – Assessoria de Relações Públicas – cresceu com a inclusão de uma divisão, tornando-se Serviço de Relações Públicas – Serpub. Em 1980, eu até fui representante do Serpub junto ao Serplan para a reorganização do serviço. Nessa reorganização, o nome foi dado por mim, eu sou padrinho do Sercom. Quando eles perguntaram qual seria o nome, a sigla que nós daríamos para esse serviço, eu disse: “Sercom – Serviço de Comunicação Social.” perguntaram: “Por quê?” Porque existia na presidência da República um Secom – Secretaria de Comunicação. Comunicação Social por quê? Porque ali dentro não era só relações públicas, mas havia os três ramos da comunicação: relações públicas, publicidade e propaganda e assessoria de imprensa. Já era uma área de comunicação, e não mais relações públicas. Depois que eu saí passou a ser Serinsti – Serviços de Relações Institucionais –, depois voltou a ser Sercom outra vez. Hoje é Comunicação Institucional. Essa é a linha das siglas.
PESQUISAS DE MERCADO
Para falar de pesquisa, nós teríamos que ter mais algumas fitas, mas vou tentar... O que acontece é o seguinte, eu acabei me especializando na área de marketing e pesquisa. Eu sou professor titular da cadeira de marketing e pesquisa em diversas universidades, sou sócio-fundador da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, palestrante em seminários onde se tem a pesquisa como ferramenta de apoio às decisões de marketing, então eu tenho quase 40 anos de pesquisa. Quando iniciei, era uma área que estava começando no Brasil.
Eu fui o primeiro chefe, eu estruturei, quer dizer, quando cheguei não tinha ninguém; eu chefiava a mim mesmo. Então, montei esse setor com quatro assistentes administrativos já de outras áreas, pegando currículo de um, vendo quem tinha familiaridade com essa parte de economia, que eu pudesse inclusive dar um treinamento, porque eu também me treinava... Nesse particular, eu quero colocar também outra coisa: quando eu disse: “eu entrei na Petrobras solteiro e saí com a mesma mulher, com quatro filhos...”. Eu também usava algumas analogias para os mais novos, e eu sempre dizia para o pessoal: “Olha, na Petrobras você entra numa alfabetização e você pode sair num doutorado, se souber aproveitar todas as oportunidades que essa empresa dá, as condições para você se desenvolver.” Assim foi, eu posso dizer que eu saí doutor em pesquisa de mercado, pesquisa de opinião. Criei um setor, estudei, corri atrás. Tinha necessidade de uma bibliografia, porque aqui não existia, e nos primeiros livros que eu consegui aqui traduzidos, descobri bibliografias interessantes, entrei em contato com o escritório da Petrobras em Nova York, para que eles pedissem ao Instituto Americano de Opinião Pública uma bibliografia a respeito desse assunto. Eles me mandaram, eu selecionei, disse o que queria, eles me mandaram os livros, passei a receber publicações do Instituto Americano de Opinião Pública - pesquisas, novas metodologias de trabalho – então eu fui me aprimorando em termos de formação. A minha formação foi através de literaturas a respeito do assunto e de aplicações práticas. A Petrobras nos dava inclusive recursos para que fizéssemos estudos, trabalhos de treinamento.
TÉCNICAS DE PESQUISA
Em 1968, nós começamos a fazer pesquisas com estudantes, e começamos a fazer um trabalho dentro dos colégios, distribuindo questionários. Então eu fui dando treinamento, me treinando e treinando também o meu pessoal nessa atividade. Eu lembro que em 1968, nós fizemos um primeiro estudo de opinião pública sobre a imagem da Petrobras em Manaus, utilizando inclusive a Codeama – Comissão de Desenvolvimento da Amazônia –, que nos deu apoio, através de mapas da cidade, para que nós pudéssemos aplicar uma amostra e fazer a distribuição da amostra por uma técnica que se chama “Quarteirões” (clusters). Nós fizemos uma segmentação da população através da divisão nos bairros, quer dizer, então já começamos a dar os primeiros passos naquela altura, de um instituto de pesquisa independente, como os institutos que se tem hoje, os Ibopes da vida. Nós tínhamos o Sepeq dentro da Petrobras, que depois virou Sepem. Quando eu me aposentei, tinha um acervo de mais de 300 estudos realizados, com muitas técnicas pioneiras dentro do Brasil. Eu fiz parte de um grupo de trabalho chamado Projeto Atlântico; fui o indicado pela Petrobras para fazer parte desse grupo junto ao IBGE, que naquela época era IBE.
O senso é feito de 10 em 10 anos e hoje tem o que se chama PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar – para não ter que se esperar 10 anos. Algumas informações a respeito de indicadores de população, de formação de renda, outras coisas mais, são feitas em cima de pesquisas trimestrais. O PNAD nasceu com o Projeto Atlântico e nós, Petrobras, fomos os primeiros nesse país a usar os setores de amostragem do IBGE. Nós tínhamos cópias dos setores que eles usavam do PNAD, por força de um convênio que nós provocamos com o IBGE e recebemos todo esse material. Então eu tinha todo material do IBGE para desenvolver os meus estudos de opinião pública e mercado, utilizando, por exemplo, já de forma também pioneira, um questionário só, mas eu ia para o campo com um porta-punch. Porta-punch é um perfurador manual, aquele cartão para perfuração com 80 colunas. O porta-punch tinha o mesmo tamanho, mas com 40 colunas, porque tinha que ser perfurado. Então, nós montávamos um gabarito em cima daquele porta- punch e as perguntas eram feitas, colocadas no cartão e o entrevistador no campo já ia perfurando.
Havia velocidade, recebia-se o material, já existia um programa de apuração eletrônica para isso, através da Divisão de Processamento de Dados da Petrobras, então nós tínhamos resultados rápidos com essa técnica que inauguramos. Mais um pioneirismo da Petrobras: foi a primeira empresa, nesse Brasil que tinha uma estrutura formal de relações públicas, o Serpub, com a divisão inclusive de pesquisa e planejamento; nenhuma outra empresa tinha, mas apenas a Petrobras. Outro pioneirismo, já dentro da pesquisa, a metodologia técnica de entrevista utiliza questionário; para levantamento quantitativo usa-se o questionário para informações de natureza quantitativa e se usa discussões de grupo ou entrevista de profundidade, que é exatamente o que hoje estou fazendo aqui internamente. Discussão de grupo (group discussion), tem um pessoal em volta de uma mesa com moderador; isso hoje é uma metodologia muito utilizada, mas em 1974, há mais de 30 anos, não existia essa técnica sendo utilizada no Brasil e nós fomos um dos primeiros. Eu não posso dizer que fomos os primeiros, mas eu diria que nós fomos um dos primeiros no país, quer dizer, a Petrobras foi uma das primeiras no país a utilizar a técnica da discussão de grupo para uma pesquisa com motoristas de caminhão. Eu fui o moderador.
A discussão de grupo tem um roteiro colocado para o grupo debater. Há um debate em torno de um determindo assunto. A discussão de grupo hoje acontece numa sala de espelho; aqui do lado eu estou assistindo, mas o grupo não me vê. Há um moderador que tem o roteiro e essa reunião é gravada, tem um vídeo para se acompanhar depois a discussão, eleger pontos, etc. Muitas vezes se coloca também dentro da sala uma pessoa para ir registrando as informações mais significativas, mais interessantes em relação ao que está sendo debatido. Depois existe, uma análise da discussão e se pega o consenso do grupo – o que o grupo está pensando a respeito de um determinado assunto. Se usa muito isso nas pesquisas eleitorais, você faz o pré-teste das campanhas eleitorais utilizando a discussão de grupo, onde você joga o filmete e o grupo vai discutindo. Ou acompanhar um programa eleitoral com um grupo, vai discutindo com o grupo o que gostou, o que não gostou, o que ficou, o que não ficou, etc, de modo que a área de criação na agência possa até mudar alguma coisa, dar um outro enfoque. Então, se direciona inclusive a própria comunicação com o eleitorado em função do que foi apontado através da discussão de grupo.
PESQUISA DE IMAGEM EM 1968
Foi sobre a imagem da Petrobras, o nível de conhecimento em Manaus. Nós passamos a ter um programa... Por que Manaus? Por causa da Reman-Refinaria de Manaus. A pesquisa queria saber o nível de conhecimento que as pessoas tinham a respeito da empresa, a imagem da Petrobras em função de toda uma expectativa também que foi criada quando foi descoberto o petróleo em Nova Olinda. Imaginava-se ali um “Eldorado” e não foi exatamente o que aconteceu. Então, como isso de uma certa forma repercutiu na própria imagem da Petrobras, como é que viam a Petrobras, no que dizia respeito a sua capacidade em descobrir e produzir. Não posso precisar sobre os resultados, eu teria que recorrer ao próprio relatório, porque eu ainda tenho esse relatório. Mas eu me lembro perfeitamente que em cima dos resultados foi feita uma campanha de divulgação da Petrobras em Manaus, uma campanha junto aos estudantes, nas escolas com projeção de filmes, palestras, enfim, foi feita uma campanha, eu diria, bem forte da Petrobras no sentido de levantar sua imagem junto à opinião pública de Manaus. Então tinha toda essa preocupação com a questão da imagem já na década de 70. Nós tínhamos, uma série histórica sobre a imagem da Petrobras em cima de pesquisa. A primeira que nós fizemos de opinião pública foi em Manaus, mas como treinamento. A partir daí passamos a ter uma metodologia que utilizamos em 1969, no Rio de Janeiro. Foi feita uma pesquisa de opinião pública no Rio de Janeiro, em 1969, eu tenho também esse relatório, mostrando qual era o nível de conhecimento que tinham a respeito da Petrobras, a favorabilidade em relação ao monopólio estatal, quer dizer, nós tínhamos perguntas, indicadores, que passaram a ser acompanhados ao longo dos anos através de pesquisas sistemáticas, através dessa nossa área. Até 1980 eu tinha uma estrutura formal de pesquisa. A partir de 1980, nós passamos a ter esse acompanhamento através de contratação de pesquisa, junto ao instituto de pesquisa. Mas tendo aqueles mesmos balizadores que nós tínhamos anteriormente. Então, nós temos uma série histórica a respeito da imagem da Petrobras.
Quando se fazia, por exemplo, uma segmentação por estados havia uma reação muito maior em São Paulo contra a Petrobras do que no Rio de Janeiro e localizada no segmento de classe A, vamos dizer assim, uma classe A e uma classe B alta. Isso eu me lembro com muita clareza. Como eu disse, falar em pesquisa, falar em estudos que nós desenvolvemos, “n” estudos, a mudança da marca...
MUDANÇA DA MARCA EM 1972
Fizemos em 1972 a pesquisa sobre a mudança da marca, do losango para o hexágono. Foi uma pesquisa interna e externa, nós criamos pranchas onde colocávamos o losango junto a 200 ou 300 marcas que havia dentro daquela prancha. Pedia-se para a pessoa identificar onde ela percebia o losango da Petrobras e aquilo era cronometrado para avaliarmos o tempo de visualização. Foi feito internamente e externamente também. Depois colocamos o hexágono junto daquelas mesmas marcas para ver qual era o tempo de percepção da nova marca, em relação à antiga. Logicamente, a percepção passou a ser muito maior com relação ao hexágono.
Nós fizemos um estudo de opinião pública, para ver como percebiam essa mudança de marca e medindo também o nível de aceitação da mudança, junto ao público interno. Se restringiu apenas à cidade do Rio de Janeiro. Havia um interesse em se ter uma resposta muito rápida, fizemos na administração central, com o público interno da administração central e com público externo, na cidade do Rio de Janeiro.
MARCA BR
O que nós fizemos depois com relação a marca BR, foram estudos para determinar a questão da notoriedade da marca. Até para que o Cenpes pudesse obter o registro da marca, essa marca precisava ser notada, precisava ter o que eles chamam de “notoriedade”. O que é notoriedade? É ser identificada junto à opinião pública num percentual de 60 a 70% . “Eu conheço essa marca”, “eu sei o que é”... Esse estudo é o da “notoriedade” e foi inclusive acompanhado por mim, foi desenvolvido pelo Ibope, em termos nacionais, mas com o nosso acompanhamento, a coordenação do estudo foi minha, nessa pesquisa nacional sobre a notoriedade da marca.
Nós usávamos o slide, para mostrar o organograma e eu me lembro que eu tinha, estou procurando e devo encontrar na minha casa em algum lugar guardados, os slides dessas pranchas. Tenho com certeza os do Lubrax, foi uma pesquisa que nós fizemos também para determinação do nome, existiam seis nomes para serem testados e o Lubrax foi o nome escolhido. Tenho fotos inclusive de postos com latas que aparecem com os nome diversos; uma área com um determinado tipo de nome, os nomes que eu me lembro que estavam sendo testados: ultra, plus, brut, multi e mais um outro que eu não me lembro; eram seis nomes e mais o Lubrax. Esse eu tenho, com certeza, fotos do Lubrax e dos outros nomes que foram testados.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
O setor de pesquisa, eu chefiei de 1968 a 1980, foram 12 anos porque era Sepeq depois passou a Sepem. Em 1980, houve aquela reorganização que mudou de Serpub para Sercom, e essa mudança implicou na reorganização, que por sua vez, resultou em mudanças de algumas atividades, formalizou outras que estavam sendo desenvolvidas. A atividade de pesquisa deixou de ter a estrutura de um instituto e eu passei a ser o assistente de pesquisa. Então, de 1980 até 1985, eu fui o assistente de pesquisa. De 1985 a 1990, eu chefiei o setor de programação e controle, que seria um planejamento e controle orçamentário com a atividade de pesquisa também. Tudo dentro da área de comunicação. De 1990 até 1993, quando eu me aposentei, eu fui chefe da assessoria de relações internacionais, com a área de pesquisa comigo. Quer dizer, então, a pesquisa me acompanhou de 1968 até eu me aposentar em 1993.
ASSESSORIA DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Era uma atividade nova em termos práticos, mas não era uma atividade que eu desconhecia, porque ali se desenvolvia o marketing internacional. A Petrobras participava de eventos, congressos, seminários, feiras, exposições com a presença de um stand, então eram ferramentas de marketing internacional; a imagem corporativa da Petrobras mostrada no mundo. Isso não era uma novidade para mim. Novidade era participar diretamente, coordenando nos eventos onde existia a presença da Petrobras no exterior. Naqueles que podia ir eu ia para fazer o trabalho de ponta de lança, recebendo visitantes dentro do stand com um corpo de gerentes de áreas específicas da Petrobras – exploração, produção, refino etc –, em contato com fornecedores estrangeiros, fazendo um “meio de campo”. Participamos de eventos muito significativos para a Petrobras, um deles foi em maio de 1992, na OTC – Offshore e Technology Conference –, em Houston, nos Estados Unidos, quando a Petrobras, pela primeira vez foi agraciada com prêmio, da excelência da sua tecnologia em águas profundas. Foi o primeiro prêmio que a Petrobras recebeu.
Eu estava presente e fui o portador, trouxe esse prêmio comigo na minha bagagem. Recebi das mãos do gerente, superintendente do Cenpes, que estava presente, o doutor Guilherme Estrela, que hoje é diretor. Outro dia, inclusive, eu vi esse prêmio afixado na sala de espera da presidência da Petrobras. Eu olhei e disse: “Eu carreguei, minha digital está ali.” Estive na área internacional, coordenando um congresso mundial de petróleo, em Buenos Aires, a Petrobras é que fez as honras e um jantar oferecido às grandes empresas de Buenos Aires, eu estava presente e também em vários outros.
HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS
Eu diria que, entre outros, a presença da Petrobras em Teerã, no Irã, eu consegui, ainda na chefia da assessoria. Eu recebi a incumbência de coordenar junto com o Otacílio, que era o superintendente do serviço de material da Petrobras, a visita de uma missão iraniana, aqui no Brasil, que estava vindo com o objetivo fazer compras. Eles tinham uma carteira de não sei quantos milhões de dólares para gastar. Eu me lembro que levei esse grupo para São Paulo e de lá uma parte foi à Usiminas em jato fretado e a outra parte ficou na cidade. Mas o importante é o seguinte: eu coloquei um assistente meu acompanhando esse grupo que foi à Usiminas, e ao retornar, esse grupo parou em Guarulhos para fazer uma visita a uma empresa, se não me falha a memória, a Cofap. O meu assistente me ligou de Guarulhos, tipo quatro horas da tarde, dizendo o seguinte: “Hugo, tem uma missão impossível para você.”, “Qual é?”, “Eles souberam que vai ter um jogo de futebol hoje e querem assistir ao jogo.” Esse jogo era a final de uma melhor de três, São Paulo e Corinthians, e a lotação estava esgotada.
É aquele negócio, “mensagem a Garcia”. Entrei em contato com o Espau, o escritório da Petrobras em São Paulo, falei com o gerente de comunicação, Mário Divo – que depois veio a ser superintendente também na área de comunicação do Sercom. Falei qual era o problema e Mário Divo, conseguiu, junto à Federação, os ingressos para essa comitiva, consegui colocá-los no Morumbi, no camarote especial junto à presidência da Federação. Foi então que me deu um estalo, eu pensei: “Pô, esse pessoal gosta de futebol, gosta de esportes.” Eu sou amigo do Zico, que naquela altura era secretário de esportes, em Brasília. Eu pensei: “Vou fazer uma surpresa para esse pessoal.” Eles iam embora na terça-feira seguinte. Na segunda-feira, nós íamos dar um jantar de despedida para eles no Rio Palace. Esse caso é importante pelo que aconteceu lá na frente. Eu liguei para o Zico e expliquei a ele que ia ter um jantar com uma missão iraniana, e perguntei se ele poderia estar presente. Ele disse: “Não posso estar presente no jantar, mas eu passo no Rio Palace, porque tenho um compromisso aí no Rio, eu passo por lá e tal...” Eu fiquei balizando o horário da chegada dele, mas ao mesmo tempo, mandei comprar camisa 10 da seleção brasileira, fita do Zico, e arrumamos um fotógrafo. Na hora da sobremesa, eu disse para eles que tinha uma surpresa, e fui com Zico para o jantar. Ali deixaram de ser ministro da Indústria e Comércio, ministro da Previdência, diretores de empresas petroquímicas iranianas, enfim, só gente de altíssimo nível gerencial, eles deixaram de ter esses cargos, passando a ser chefes de família: “O nome do meu filho é esse assim, assim, assim, assina um autógrafo para ele e tal, não sei o quê...” Fomos fazendo isso, tirando foto e Zico autografando. No dia seguinte, no aeroporto do Galeão, o ministro reuniu todo o pessoal na hora da despedida e me disse o seguinte: “Eu quero lhe agradecer em nome de todo grupo aqui presente pelo dia mais feliz que você nos proporcionou no Brasil.” ;“Tudo bem, muito obrigado e tal...” E viajaram.
Alguns meses depois, eu estou em Teerã participando de uma feira, quando recebo um telefonema numa quinta-feira – lá são sete horas a mais do que aqui – quase no final da tarde de lá, do Antonio Fragomeni, chefe do escritório da Petrobras em Londres. Ele me dizia o seguinte: “Hugo, o [Luiz Octavio da] Motta Veiga, presidente da Petrobras, pediu para eu entrar em contato, para você para agendar para ele uma reunião com o ministro de Petróleo do Irã, Redayar Sader, em qualquer dia, em qualquer lugar do mundo. Ele precisa ter um contato urgente com esse ministro iraniano.” A Petrobras importava 200 mil barris de petróleo do Irã. Eu pensei: “Vou ligar para quem para tentar agendar esse contato?” Liguei para o ministro da Indústria e Comércio, que tinha estado aqui comigo, e liguei para o filho o presidente do Irã, que também tinha estado aqui, ele se chamava Moshe Rafsanjani. O presidente do Irã chamava-se Akbar Hashemi Rafsanjani. Eu expliquei qual era a situação e eles me disseram que iam ver o que poderiam fazer. No dia seguinte, eu recebo um telefonema do palácio do Governo dizendo o seguinte: “Diga ao seu presidente que na próxima segunda-feira o ministro do Petróleo vai para Londres, e vai estar às nove horas da manhã recebendo o seu presidente lá na NIOC – National Iranian Oil Company. Então, eu fui também para Londres e lá, na segunda-feira nos reunimos com o ministro iraniano. Através de um relacionamento que não era profissional, mas que se estabeleceu na afetividade, porque eles acharam aquilo que nós fizemos, uma deferência para eles. Nós deixamos um pouco o lado profissional e fomos para o lado família, o lado da pessoa. Na hora que eu os procurei, na cabeça deles: “Bom, vamos dar um retorno.” E conseguiram agendar em dois dias a ida de um ministro para Londres para uma reunião com o presidente da Petrobras. Posso estar errado em alguma coisa, mas o que eu posso dizer é o seguinte: a Petrobras pagava a importação dia e passou a pagar a cada 30 dias. Então houve um ganho financeiro para a Petrobras muito grande em função da mudança da forma de pagamento; em função da presença do presidente com o ministro do petróleo e articulada por mim – modéstia à parte. Esse é um caso para mostrar a importância de quando se exerce uma função deve-se estar atento sempre, na perspectiva de que em algum momento poderá precisar de algo que no presente ainda não se sabe, por isso, tem que olhar também para o futuro. Quando nós estávamos ali fazendo aquele trabalho de relações públicas com o pessoal dessa missão iraniana, nós estávamos visando o futuro. Nós éramos a figura da empresa nesse relacionamento e isso redundou num facilitador lá na frente para o agendamento dessa reunião em Londres.
ACERVO DE PESQUISA
Eu procurei um superintendente e disse: “Olha, estou me aposentando, eu queria que você destacasse uma pessoa que pudesse receber não só o acervo físico dessa área de pesquisa, mas também um ensinamento, uma formação. Eu me proponho a colocar uma pessoa do meu lado e ir passando conhecimento, para que isso não morra.” Aí: “Não tem ninguém interessado, não sei o que, papapapapa...” Porque falar de pesquisa com um homem de relações públicas, de publicidade e propaganda... Quer dizer, eles querem a pesquisa como uma ferramenta, não como atividade em si, com coordenador ou executor. Então, a pesquisa deixou de existir, até que um belo dia eu recebi um telefonema do chefe do setor administrativo, que já tinha trabalhado em pesquisa comigo lá na minha antiga área, e ele me disse: “Hugo, eu tenho uma notícia para você, não sei se você gostar.” Eu digo: “O que é?” Ele disse: “Mandaram jogar fora todo o acervo de pesquisa que estava arquivado aqui, todo o acervo.” Eu disse: “Não faça isso Eu vou aí e vou pegar esse material.” Então fui lá, foram colocadas em duas ou três caixas, os relatórios de pesquisa e eu levei para a minha casa. Quando a minha mulher me viu chegando com aquilo... De repente eu apareço com duas caixas enormes, com material de Petrobras. Eu pensei o seguinte: “Em algum dia vão precisar desse material.” Um ano depois, eu fui chamado pelo superintendente da Petrobras, que eu não me recordo se foi o Luiz Antonio Vargas, ou o Mário Divo... Tenho a impressão que deve ter sido o Luiz Antonio Vargas, porque tinha sido criado um setor novo, o Setor de Planejamento e Pesquisa, e gostariam que eu desse um treinamento de pesquisa para esse grupo. Assim eu fiz. Preparei os módulos desse treinamento, transformando o que eu dava em dois anos na faculdade em um ano de curso, dentro da Petrobras. Durante um ano, eu preparei esse pessoal em termos de pesquisa. Quando terminou o treinamento, nós fizemos uma pesquisa interna para que eles pudessem perceber como é que funcionava; fiz eles tabularem os resultados, analisaram. Depois que terminou esse curso, eu pensei: “Bom, agora eu já posso devolver.” Conversei com o chefe do setor, que era o Luiz Eduardo Bastos: “Luiz Eduardo, eu vou devolver o material que está comigo.” Fiz uma correspondência, um dos documentos que eu trouxe, relacionando todos os relatórios que eu estava devolvendo à Petrobras. Alguns duplicados, eu mantenho comigo. Então, eu devolvi para a Petrobras esses relatórios que iam jogar fora.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Eu me aposentei no dia 31 de março de 1993, e eu brinco que o dia primeiro de abril seguinte foi o meu dia da verdade, e não o dia da mentira. Mas eu não parei, eu continuei dando meus cursos, dando aulas. Eu fui chamado por um amigo para assessorá-lo e fui convidado para ser vice-presidente da Associação Brasileira de Relações Públicas. Queriam incrementar outra vez a atividade. Então, nós começamos a tocar isso juntos, ele tinha um escritório de comunicação, eu fui, ele disse: “Tem uma mesa lá para você e tal.” Fui ocupando aquela mesa, fazendo os meus contatos de trabalho. Eu me lembro que nos meus primeiros trabalhos de pesquisa já como profissional autônomo, eu usava a assessoria do órgão regional de relações públicas, onde era o vice-presidente. Eu usava a instituição para desenvolver os nossos trabalhos e, inclusive, com resultado, porque cobrávamos pela pesquisa, tinha as notas e eu colocava um “xis” dentro da Associação Brasileira de Relações Públicas, na ABRP, Rio de Janeiro, um percentual dos resultados financeiros da pesquisa, para financiar os cursos internos, enfim, até para pagar aluguel. Era uma renda que a associação tinha através dos nossos trabalhos.
Depois o trabalho foi crescendo, tivemos mudanças na presidência da associação e eu resolvi criar o meu próprio instituto. Primeiramente com nome de Aloy Consultoria e Pesquisa, depois com nome de Sensor Pesquisas. Temos uma gama enorme de trabalhos durante esse tempo todo, já de aposentado, com essa atividade de um instituto privado de pesquisa. Continuo prestando serviço para a Petrobras, mas não tem nada a ver com o Instituto. Aquilo que eu estava comentando, pela minha familiaridade com a cultura, com a organização da empresa, com os serviços que existem nela, as unidades de serviços da Petrobras, alguns estudos dentro da empresa, estudos muito voltados para o público interno, de avaliação de imagem de um órgão; quer dizer, a imagem da Petrobras para o público externo, imagem da contabilidade para os seus clientes internos. É o que acontece, porque tem o plano estratégico, tem que desenvolver o plano, melhorando a sua performance dentro da empresa e, para isso, precisa-se conhecer como é que é percebido pelos seus clientes internos.
Então, o meu trabalho tem sido muito em cima da imagem do órgão, avaliação da qualidade dos serviços e do atendimento dos órgãos junto ao seu público interno, junto aos seus clientes internos. Temos feito isso com uma certa freqüência, na área de Comunicação Institucional. Temos uma série até muito interessante de expectativa, porque nós criamos o que chamamos “índice sensor de avaliação da qualidade do atendimento”, com estabelecimento de atributos, com a fixação de atributos de atendimento medidos através de notas. Qual é a sua nota em termos de expectativa? Como é que espera ser atendido e qual é a sua avaliação pelo que é feito. Medimos expectativa e avaliação. Hoje, se tem inclusive um desdobramento, porque temos condições de pontuar e também dar o grau de significância que cada atributo desse tem em relação ao todo. Numa escala de um a três, qual é a importância dada? Então, temos condições, inclusive, de dar um equilíbrio com relação a esses atributos de avaliação.
FILHOS E NETOS
Tenho quatro filhos; segui a linha do meu pai, ou seja, educação acima de tudo, procurando o melhor em termos de formação para cada um. Hoje, dizem assim, na Petrobras tem bons salários, mas eu vivi, como todos na minha época, muito aperto de salário. Quando eu entrei nós tínhamos um aumento em março e outro em setembro, depois passamos a ter só um aumento em setembro. Chegamos em alguns momentos a não ter nenhum aumento, tudo crescendo, o custo de vida aumentando e o nosso salário apertado. Apertado mesmo Eu fui para o magistério naquela altura e coloquei na minha cabeça o seguinte: o que eu ganhasse dando aulas, eu iria utilizar para dar educação para os meus filhos.
MAGISTÉRIO
À noite eu dava aula. Eu saía da Petrobras às 18:00 horas e às 19:00 horas eu estava dentro de uma sala de aula. No primeiro momento, eu dava aula de segunda à sexta, eu sou titular da cadeira de marketing e pesquisa em algumas universidades. Hoje não dou mais aula, eu estou mais naquela de palestras, porque a aula é muito sacrificada, você tem que se preparar, não pode faltar, e a minha vida, por exemplo, em termos de Petrobras nos últimos anos era uma vida quase que de viagens contínuas. Ali eu já tinha dado uma freada no magistério, em nível de universidade. Eu dava aula de segunda à sexta, sou titular da Universidade Gama Filho de marketing e pesquisa, sou titular da cadeira de marketing e pesquisa da Unisuam, e titular da cadeira de análise de mercado na universidade de Belfod Roxo. Eu dava aula de segunda a sexta, então tinha dias que eu dava aula em Belford Roxo, eu saía da Petrobras às 18:00 horas com o meu carro, levava uma hora e meia na Avenida Brasil – não existia a Linha Vermelha – depois Dutra, até Belford Roxo. A minha aula começava às 19:30 e às 19:30 horas eu estava lá; terminava onze horas da noite, eu pegava o meu carro de volta, meia-noite e pouco eu estava em casa e às seis horas da manhã já estava levantando para deixar meus filhos no colégio.
FILHOS E NETOS
Eles estudaram no Colégio Sion, da alfabetização até o terceiro ano; todos os quatro. Somos conhecidos como família Aloy. Meus quatro filhos são: Mônica, Adriana, Hugo Junior e Taísa. Mônica tem formação em administração, mas ela começou como hobby, e acabou se desenvolvendo na parte de fotografias também, fotografa eventos. A fotografia dela é relacionada ao meio-ambiente, então ela faz o que gosta. Além disso, eu disse para ela que a melhor profissão que ela tinha era ser empresária da minha mais velha. Agora com 18 anos nem precisa tanto, mas quando mais jovem, ela trabalhava na Globo, na Malhação, em novela. O nome dela é Flavia Aloy. Ela tem o seu book, o seu vídeo-book, essas coisas todas. Ela trabalhava na TV Globo e fez seu pé-de-meia, ganhou seu salário, tem dinheiro aplicado na sua poupançazinha. Hoje, ela está gostando de esporte, ela fazia ginástica olímpica no Fluminense e gosta de jogar e joga futebol; é da seleção de futebol de praia. Além disso, está fazendo faculdade de comunicação e disse que vai fazer a área de teatro e cinema, que é o que ela sempre gostou de trabalhar, ela já está na faculdade. A Renatinha vai fazer 15 anos agora, a neta caçula.
A minha segunda filha, Adriana, é engenheira de segurança do trabalho. Ela tem a pós-graduação em gestão de meio-ambiente, está trabalhando, mas está procurando algo melhor e espera que o pai arrume também. A gente tem sempre preocupação com o filho mesmo já crescido. Ela trabalha numa empresa de assistência médico-hospitalar para condomínios e faz os laudos de segurança nesses condomínios. Meu neto, Tiago, filho dela, termina esse ano a escola, ele estuda no Colégio Pedro II, é excelente aluno, com redação já premiada dentro do Colégio, ele disse também – não sei se é por causa do avô – que quer fazer faculdade de comunicação em publicidade e propaganda.
Meu filho Hugo tem um capítulo especial, não só por ser o filho homem, mas porque foi aquele em quem nós investimos mais. Não porque tivesse que ter um tratamento diferenciado, foi porque ele teve a sorte de na época estarmos numa melhor condição de vida e de poder participar mais. O investimento começou quando ele já estava na faculdade de análise matemática, ele tem o título de professor de matemática, tem vários títulos. O meu irmão foi ser o gerente financeiro do escritório da Petrobras em Londres, em 1989. O meu irmão perguntou: “Você quer que o Hugo passe uma temporada conosco fazendo cursos?” Eu não ia pedir, mas como foi oferecido, eu disse: “Ele vai” O meu filho passou um ano morando com meu irmão em Londres, fazendo todos os cursos possíveis na área de informática, que estava se desenvolvendo bem como um bom negócio. Quando ele veio de Londres, eu consegui junto a um amigo meu do CPOR - dessa confraria que falei – que era o diretor de marketing da IBM, o estágio do meu filho. Queria que ele fosse estagiar e fosse contratado como trainee na IBM, depois de um ano de empresa. O meu filho chegou em 1992 ou 1993, eu sei que depois que ele veio de Londres terminou a faculdade de matemática – ele tinha trancado a matrícula para ir para a Inglaterra – conseguiu ser admitido como trainee na IBM. Um ano depois, ele disse para minha mulher: “A IBM está querendo me efetivar, mas eu recebi um convite de um amigo e vou aceitar.”; “E qual é o convite, meu filho?” ; “Ele quer que eu vá para Bali para ser o responsável pela produção das cangas.” Aqueles produtos de Bali estavam começando a chegar aqui e esse amigo foi um dos primeiros a trazer esses produtos. Ele produzia lá e precisava de alguém para administrar a produção de camisas, roupas de Bali, etc. Eu falei para ele: “Meu filho, a gente investiu tanto em você para estar dentro de uma IBM....” “Pai, se eu quiser ganhar dinheiro eu tenho que ganhar dinheiro no comércio, eu não vou ganhar dinheiro como funcionário de uma IBM.” Eu digo: “Bom, tudo bem, você tem casa, comida, é solteiro, então a hora de tentar é agora. Então, você vai tentar e depois você vê.” Ele foi para Bali e aconteceu uma coisa interessante mais para frente em função disso. Ele foi para Bali, aprendeu o indonésio, fala fluentemente o indonésio, além do inglês. Ele conheceu todas aquelas feiras existentes em Pequim, em Tókio. Ele circulava pelas feiras daqueles países todos e ele fez o seu capital. Trouxe da China para o Brasil um primeiro painel eletrônico de alta-resolução e esse painel foi instalado na Barra da Tijuca, depois trouxe para perto do Pinel, em Botafogo, o painel, igual a um outdoor só que eletrônico. Até que chegou o momento que o Conde baixou uma lei acabando com os painéis de rua e ele teve que encaixotar aquele painel.
Então ele resolveu bancar a sua pós-graduação, fez uma prova para a faculdade de comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, cujo diretor era aquele amigo meu que abriu as portas para quando eu me aposentei, já estava como professor e diretor da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Meu filho fez a prova e em um ano ele completou as matérias que precisava para ter a titulação em publicidade e propaganda. Mais do que isso, ele foi fazer o Coppead em marketing. Na Coppead, ele conheceu o diretor comercial da Light que o convidou para ser o gerente comercial da companhia. Depois ele recebe um convite para mandar um currículo para a TV Globo, que estava procurando um profissional para a área internacional e havia uma seleção de 200 candidatos. Foram fazendo uma triagem até que no final ficaram dez e ele estava nesse grupo; ele foi para uma entrevista, dessa entrevista iam tirar cinco para uma fase final. Só que depois da entrevista, a diretora internacional da Globo disse: “Pára o processo, porque o homem que eu estou procurando é ele pois ele conhece o mercado.” Eles estavam procurando um profissional para ser o gerente de negócios da Globo na Ásia e Oceania e o Hugo tinha completa familiaridade com aquela área toda, falava o indonésio e entendia o indo-mandarim, porque ele já tinha quase cinco anos de curso de mandarim. Então hoje, esse meu filho é o gerente de vendas da Rede Globo, mora em São Paulo porque a Globo internacional passou para lá, mas quando possível ele vem. Ele já foi o responsável pela venda de Escrava Isaura para a China, Pecado Capital, ele que colocou os produtos da Globo no mercado da China, da Indonésia, Singapura.
A Taísa tem formação em publicidade, propaganda e jornalismo pela PUC. Ela trabalhou sete anos na área de produção da Globo, responsável pela parte de produção dos programas, como Linha Direta. Ela é que estava atrás das câmeras agilizando todos esses processos de produção. Depois pediu demissão da Globo para – é uma questão do coração – se casar com um americano, que ela conheceu um ano antes. Ela havia pedido uma licença para fazer um estágio em Indianápolis, numa empresa que trata de imagem das pessoas, e essa empresa inclusive era responsável pela imagem, por exemplo, de Marilyn Monroe, Sophia Loren. Se alguém quiser botar a imagem da Marilyn Monroe em algum produto tem que pagar um royalty. Os direitos de imagem estão lá e ela passou seis meses fazendo um estágio nessa empresa para ver como funcionava uma área que ela gostava também, mas acabou conhecendo o meu genro, morador de Indianápolis. Quando voltou, ficou mais um ano na Globo e meu genro, durante esse período veio para pedir a mão dela em casamento. Depois ela foi para Indianápolis, onde está morando casada. O meu genro é técnico do maior laboratório que existe em Indianápolis, ele é biólogo e chefia uma área de biologia desse laboratório, mas nem por isso ela fica em casa, até porque ela tinha uma vida muito ativa quando era da Globo, chegando às vezes às duas horas da manhã, porque gravação é assim: “Pára, vamos repetir, não sei o que...” Chegava às vezes duas horas e seis ou sete horas já estava outra vez o carro da Globo a apanhando em casa. Nos EUA, ela não ficou parada – brasileiro é safo, a verdade é essa, a expressão se explica. Ela entrou na área de eventos e produção de material para filmes de publicidade, filme de propaganda. Por lá, ela fez supervisão de eventos e montou um negócio: iniciou com uma amiga, as duas fizeram uma sociedade para lançamento de um chá do Sri Lanka. O pai dessa moça era o maior importador de chá dos Estados Unidos, ele morava na Califórnia. Então elas começaram e montaram embalagem, uma coisa lindíssima e começaram a vender chá e fazer dinheiro. Depois, independente disso, ela começou a dar aula de português. Ela continua lá, está com projetos de trabalho, recebeu convites até de uma empresa fora do estado, mas ela não se interessou, porque teria que se deslocar sem o marido. Agora está como free-lance.
PARA-PAN
Eu gostaria de falar uma coisa sobre o Para-pan, porque tem muita gente que não imagina as coisas que a Petrobras já patrocinou e participou. Eu tenho um amigo que jogava comigo no Fluminense, ele sofreu um acidente e ficou paraplégico e ele era o presidente da Sadefi – Sociedade dos Amigos do Deficiente Físico – aqui no Rio. Eu e Zico ajudávamos muito nos eventos do final de ano para arrecadar recursos para essa instituição. Esse amigo me procurou uma vez na Petrobras pedindo para ver se eu poderia conseguir um patrocínio para a delegação brasileira de deficientes físicos em cadeira de roda. Hoje eles usam até um outro termo: cadeirante. A Petrobras patrocinou a ida dessa delegação brasileira aos jogos de Mandeville, na Inglaterra. Ganharam muitas medalhas, etc, isso os animou e eles me procuraram outra vez e, por meu intermédio, nós encaminhamos um pedido de patrocínio para a delegação brasileira participar da Para-Olimpíada de Seul. Hoje, vemos um Para-pan cheio de patrocinadores, mas eu queria ressaltar que a primeira empresa a acreditar e a dar um apoio ao deficiente físico foi a Petrobras. A Petrobras patrocinou a ida da seleção brasileira, a seleção pára-olímpica brasileira na Pára-Olimpíada de Seul, em 1988 e na Olimpíada de Barcelona, em 1992. Eu queria deixar isso registrado em se tratando de memória Petrobras, porque hoje o Para-pan tem muitos padrinhos, mas a primeira empresa a acreditar nesse segmento de público e dar o seu apoio foi a nossa empresa, a Petrobras.
MEMÓRIA PETROBRAS
Eu adorei Eu sempre fico no lugar do entrevistador, pela minha atividade, mas no íntimo sempre com a minha cabeça assim: “Quando é que vão perguntar sobre a minha vida, quando vão me perguntar sobre aquilo que eu tenho de conhecimento guardado sobre uma empresa que fez parte da minha vida e ainda faz parte da minha vida, não quero que isso se perca.”
Eu queria para encerrar a minha participação, quando eu falei anteriormente: “Me lembra do coração”... Em maio de 1991, eu estava a caminho da OTC e sofri um enfarto, em Miami. Talvez em dez segundos eu tenha visto o filme da minha vida inteira, quando me levaram para o hospital enfartado. Eu me senti dentro de um túnel, só não vi a luz que falam, só não ouvi ninguém me chamando, mas, quando eu estava na UTI tive outro enfarto, me fizeram uma angioplastia, a Petrobras me atendeu em todos os sentidos, não me deixou faltar nada. Eu estava em Miami, dentro de Jackson Memorial Hospital, considerado o melhor hospital público dos Estados Unidos, para onde me levaram e lá, numa UTI, eu escrevi algo para não esquecer, que volta e meia eu consulto: pensar na vida, ou repensar a vida. Naquela fração de segundo, eu vi o filme da minha vida, eu me vi criança... Tudo isso que nós conversamos aqui eu vi naquela fração de segundo, eu não vi nada material, eu só vi pessoas. No final, eu pensei o seguinte: eu tenho que deixar aquela rigidez: “eu não vou chorar, não vou me abrir, não vou dizer muito obrigado, você é importante para mim” Na minha vida, eu não usei muito nenhuma expressão para manifestar os sentimentos que tive. Eu posso até manifestar, mas não da forma como deveria ser manifestado. E eu mudei a minha cabeça a partir dali, ao ponto da minha mulher ter dito: “você realmente mudou.”
Porque quando me perguntam “Você gostou?”; eu digo: “Gostei, adorei estar aqui”. Quantas vezes for possível participar de uma situação como essa, conte com a minha colaboração, com a minha participação e que eu estou de coração aberto para tudo o que for positivo na vida.
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