Projeto Memórias de Serra Pelada
Entrevista de Otaviano Barbosa
Entrevistado por Daniel Soares (P/1) e Iara Oliveira (P/2)
Serra Pelada, Pará, 06 de agosto de 2024
Código da entrevista: MSP_HV009
Transcrito por Bruna Piera
Revisado por Nataniel Torres
P/1 - Nós somos do museu da pessoa, e juntamente com a SP produções, gratos por sua hospitalidade, nós queríamos saber qual seu nome completo, data de nascimento e onde o senhor morava?
R - Meu nome é Otaviano Barbosa, eu morava no Maranhão, morava em Santa Luzia do Paruá, e a minha idade, eu sou do dia 29/12/1949.
P/1 - E como era a sua infância?
R - Rapaz, minha infância, sempre a minha infância foi batalhando junto com os meus pais, trabalhando. Meu pai morava no interior, nós trabalhávamos com movimento de cana, né? E aí eu era criança, mais ou menos uns 7 anos, quando nós já trabalhávamos, em um jumentinho montado, carregando cana para trazer para o engenho. Lá em casa o velho não dava mole não, tinha que trabalhar mesmo: “Pequeno não, vá para segurar o jumento lá. “ O outro mexia com a calda da cana, e o outro vem puxando, porque dava muita abelha naquela época nos canaviais, aí os animais não aquietaram, né? Aí a gente ia, os pequenos, mas não podia botar as canas, porque o jumento às vezes era alto, mas ia segurando o cabresto que era para não, o animal não correr.
P/1 - E essas canas o seu?
R - As canas eram para fazer, moer, naquela época, quando eu me entendia, ele tinha um engenho de pau, depois passou, o tempo, as coisas foram melhorando para o lado dele, ele comprou um engenho de ferro, né? A trabalhava, cortava a cana, trazia para perto do engenho, para moer, para botar para estirar para fazer cachaça, trabalhava com movimento de cachaça.
P/1 - Qual o nome do seu pai?
R - O nome? Era Raimundo Nonato Barbosa.
P/1 - E era só o senhor e o seu pai?
R - Não. Nós éramos 7 irmãos,4 homens e 3 mulheres. Quando nós nos entendemos, as...
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Entrevista de Otaviano Barbosa
Entrevistado por Daniel Soares (P/1) e Iara Oliveira (P/2)
Serra Pelada, Pará, 06 de agosto de 2024
Código da entrevista: MSP_HV009
Transcrito por Bruna Piera
Revisado por Nataniel Torres
P/1 - Nós somos do museu da pessoa, e juntamente com a SP produções, gratos por sua hospitalidade, nós queríamos saber qual seu nome completo, data de nascimento e onde o senhor morava?
R - Meu nome é Otaviano Barbosa, eu morava no Maranhão, morava em Santa Luzia do Paruá, e a minha idade, eu sou do dia 29/12/1949.
P/1 - E como era a sua infância?
R - Rapaz, minha infância, sempre a minha infância foi batalhando junto com os meus pais, trabalhando. Meu pai morava no interior, nós trabalhávamos com movimento de cana, né? E aí eu era criança, mais ou menos uns 7 anos, quando nós já trabalhávamos, em um jumentinho montado, carregando cana para trazer para o engenho. Lá em casa o velho não dava mole não, tinha que trabalhar mesmo: “Pequeno não, vá para segurar o jumento lá. “ O outro mexia com a calda da cana, e o outro vem puxando, porque dava muita abelha naquela época nos canaviais, aí os animais não aquietaram, né? Aí a gente ia, os pequenos, mas não podia botar as canas, porque o jumento às vezes era alto, mas ia segurando o cabresto que era para não, o animal não correr.
P/1 - E essas canas o seu?
R - As canas eram para fazer, moer, naquela época, quando eu me entendia, ele tinha um engenho de pau, depois passou, o tempo, as coisas foram melhorando para o lado dele, ele comprou um engenho de ferro, né? A trabalhava, cortava a cana, trazia para perto do engenho, para moer, para botar para estirar para fazer cachaça, trabalhava com movimento de cachaça.
P/1 - Qual o nome do seu pai?
R - O nome? Era Raimundo Nonato Barbosa.
P/1 - E era só o senhor e o seu pai?
R - Não. Nós éramos 7 irmãos,4 homens e 3 mulheres. Quando nós nos entendemos, as mulheres nasceram primeiro, né? E depois foram os homens, mas aí nós já éramos grandinhos, tinha um mais velho do que eu, mas todos tinham que estar trabalhando, não tinha dessa não, aí pagava o trabalhador também, pagava a parte, mas as mulheres tinham que trabalhar nessa época.
P/1 - Então, desde criança o senhor sempre foi trabalhando?
R - É, trabalhando, sempre, trabalhando.
P/1 - E a sua mãe?
R - Também, fica em casa para fazer a comida para os trabalhadores.
P/1 - Juntamente com as suas irmãs?
R - É, com as minhas irmãs.
P/1 - Aí o senhor ficava trabalhando com o seu pai e o seus irmãos o dia todo e fazia a cachaça no final?
R - É, também, o dia todo, é, tudo destilando, para fazer cachaça que era para vender no final vendia. Vendia naqueles interiores do Maranhão tinha muitos lugares, botava as cargas nas ampulhetas, nos animais, e aí a gente montava, eu era pequeno, mas a gente montava no meio do burro, da carga e tocava para entregar, fazer entrega, no interior.
P/1 - Era só de animal que fazia o transporte?
R - Era, era, naquele tempo era animal, não tinha negócio de carro não.
P/1 - E o dinheiro que saía?
R - O dinheiro era aquele para sustentar a casa, né?
P/1 - Para sustentar…
R - Sustentava a casa… Ele comprou muita terra nessa época, nós morávamos —, ele comprou um terreno até grande, e aí foi guardando e comprava as coisas, terreno. Tinha aqueles que queriam vender, ia saindo e ele ia comprando. Onde ele vendeu lá, tinha muita terra porque, naquele tempo ninguém quase ligava para negócio de terra, hoje não, hoje ninguém pode ter uma que os outros grila logo, tomam, né? Nesse tempo não, a gente cercava, e falava: “Não, aqui é de fulano de tal, ninguém mexe.” E ninguém mexia não, né? A gente quando foi trabalhando, comprando arame e cercando tudo.
P/1 - Quando o senhor descreveria o seu pai?
R - Como?
P/1 - Descreveria o seu pai, ele era de olhos escuros, cabelo preto?
R - Era cabelo preto, e olhos escuros.
P/1 - Que roupa ele usava?
R - Ele usava camisa de manga comprida, comprida… Calça comprida, e camisa manga comprida…
P/1 - E a sua mãe?
R - Minha mãe também usava vestido, meio comprido também, né? Naqueles tempos ninguém usava aquelas roupinhas curtas que nem é hoje, usa não, né? Bermuda? Ixi, ave Maria, é, não usava não, era calça comprida.
P/1 - E os costumes da sua família? Vocês faziam alguma festa?
R - Não, não, fazia não. Era só, nossa festa mesmo era trabalhar, e ficar em casa, as vezes curtir um dia de sábado, as vezes ele deixava nós irmos para uma brincadeira, uma festa, mas no dia que a gente saia ele dizia logo: “Eu deixo vocês irem, mas é para chegar aqui, que amanhã cedo nós vamos trabalhar”. Aí nós saímos, né? Nós íamos, quando nós contamos 2 horas, 3 horas da madrugada nós estávamos em casa, para dormir um sono, e aí quando dava 5 horas todo mundo em pé que era para ir para o trabalho.
P/1 - Eram todos os irmãos?
R - Todos os irmãos, todos, nós irmãos 4 irmãos homem. As mulheres foram casando, e a gente foi ficando, os homens, né?
P/1 - Que tipo de festa era essa?
R - Era festa forró, tocar da sanfona, aqui dos interiores, né?
P/1 - O senhor cantava?
R - Não, não, o tocador, o tocador, não tem hoje que é em vídeo e essas coisas? Pois naquele tempo era na sanfona, puxando o trem e nós fazendo festa, o outro batendo no tambor. Hoje vocês não entendem muito porque não tem mais aqui, né? Hoje tudo é diferente, as coisas.
P/1 - E o seu, você sabe a origem da sua família?
R - Rapaz, não tenho a origem dos meus pais, não.
P/1 - Sobre os seus avós?
R - Meus avós também, só dos meus pais mesmo que eu tenho a origem deles, mas dos avós, quando eu me entendi, meu avô, eu lembro que eu vi meu avô uma vez, né? E a mãe da minha mãe, minha avó também. Que era meu pai, meu pai foi criado por outra pessoa, não foi o pai dele original. Foram outros que criaram ele.
P/1 - A sua mãe também?
R - Não, minha mãe não, minha mãe quando casou com meu pai, nós éramos pequenos, nós não temos parcimônia mesmo da origem de que família ela é, né?
P/1 - Eles nunca falaram?
R - Nunca falaram, é que também a gente não andava conversando essas coisas, né? Para menino, é que menino, ninguém dava moral para menino não. O moral que eles davam para nós era esse, se eu tivesse conversando com vocês aqui, ninguém passava ninguém não, esperava vocês saírem, ou então arrodiava lá por trás para passar, não tinha dessas de chegar e passar, ou então ter que pedir licença, mas não passava não, tinha que esperar, a hora certa que era para você poder passar. E aí eles não conversavam quase isso com os filhos, né? O interesse mais era em botar para trabalhar, agora isso aí eu sei lhe contar direitinho, nós trabalhávamos, família honesta, humilde, né?
P/1 - Como era seu trabalho? Era pesado?
R - Era, não era muito pesado, porque era… Eu cortava cana no canavial, né? E aí às vezes, quando eu não ia cortar cana eu ia moer cana, lembro que de madrugada eu levantava para encher os alambiques de garapa, ver se estava no ponto para estirar a cachaça, era assim o trabalho, né? Mas também esse trabalho não dá folga para ninguém não, é de todo todo dia, tem que ter todo dia, é domingo, é sábado, é dia de santo, não tem feriado não, quem trabalha nesse movimento.
P/1 - Você tem alguma história relacionada a isso? Seu trabalho com seus irmãos e seu pai?
R - Não, não tenho não. Foi bom que ele me botou para trabalhar, né? Que talvez se ele não me bota para trabalhar, quem sabe ele cria não era o pior vagabundo, bandido. Eu agradeço muito a Deus, primeiramente, segundo ele, que castigava nós no serviço, né?
P/1 - O senhor se lembra da sua casa?
R - Lembro.
P/1 - Como ela era?
R - Era, assim que eu me entendi era uma casa meio assim, coberta de palha, tapada de barro, né? Aí depois ele mudou, construiu uma, pagou um pessoal para fazer tijolo e aí construiu, era construída, tapada de tijolo, coberta de barro, né?
P/1 - Vocês moravam na cidade?
R - Não, no interior.
P/1 - O nome do interior?
R - Centro do Barbosa, chamava Centro do Barbosa. Ficava pertinho do Centro do Batista, Bom Futuro, mas era em um povoado ali, lá, só nós.
P/1 - Então o senhor levava a cachaça, né? Para a cidade?
R - É, as cachaças que a gente fabricava, meu pai levava para a cidade, levava para Bom Futuro, levava para Altamira, levava para outros lugares que eu esqueci o nome agora. O trabalho dele era movimento de cana, trabalhava com isso. Nós não trabalhávamos, não mexiamos muito com roça, era cana, né? Roça eu passei a mexer depois que eu passei também as minhas oportunidades, né? Plantar arroz, plantar milho, mas no tempo nós trabalhamos só com cana. Dia de sábado, às vezes, só fazia aquele, dia de sábado a gente tirava para fazer mel e rapadura, né? Mas a cachacinha tinha que estar ali, todo dia tinha que encher 4 coco de garapa de 15 latas cada um, que era para botar para curtir e no outro dia encher os alambiques que era para tirar a pinga, para vender.
P/1 - O senhor se lembra quando que dava esse?
R - Lembro, tinha tonel em cada alambique cheio que dava 10 litros, 12 litros, até 15 litros, conforme o rendimento, né? Que têm que, quando a cana tem muita água, ele diminui um pouco. Quando a cana está em um rendimento bom, está bem docinha, aí ela aumenta.
P/1 - Você tinha alguma brincadeira com os seus irmãos?
R - Não, não, nós não brincávamos não, éramos sérios. Era sério, todo mundo.
P/1 - E o senhor estudou?
R - Não, ele botou uma professora para nos ensinar, mas ele não tirou assim, para botar para estudar, nós… Estudei mesmo só para aprender a fazer o nome mal, né? Foi o tempo e ela já saiu de casa, nós no trabalho não tínhamos tempo de estudar. Ele ensinou, tirou para estudar um sobrinho nosso, que nós tínhamos, aí ele criava ele, e ele botou para, passou uns dois anos fora estudando. E aí esse menino desapareceu de nós, que eu nunca tive nem notícia dele, que era um filho de um irmão de criação meu. Que meu pai era junto de outra mulher lá, largou minha mãe nós éramos pequenos, né? Aí ficamos com ele, ele não deu nenhum.
P/1 - Ele largou sua mãe, o senhor era criança? E casou de novo?
R - Juntou com outra senhora.
P/1 - Com outra, o senhor sabe o nome dela?
R - Benedita, agora o sobrenome eu não sei, era Dona Benedita. Agora o sobrenome eu não sei.
P/1 - Você gostava dela?
R - Gostava, ela era boa para nós. Defendia nós às vezes quando era moleque, porque tem madrasta que é carrasca, né? Não, ela era boa para nós, isso aí não tenho o que dizer.
P/1 - Você lembra de como ela se vestia?
R - Lembro, era mesmo normal, roupa normal, comprida.
P/1 - Você tem alguma história com ela?
R - Tenho, não.
P/1 - Nenhuma lembrança a respeito dos seus irmãos, da sua mãe, do seu pai?
R - Tenho, não. Só isso mesmo que eu não estou lembrando de nada.
P/1 - O senhor disse que saia sozinho com seus irmãos para as festas, tinha outro lugar que você saia?
R - Tinha aquele lugar ali, festa que nós saímos, dia de sábado, às vezes tinha missa no Bom Futuro, às vezes nós íamos dia de sábado saia para ir para a missa, né?
P/1 - Como era a missa?
R - Naquela época era o Padre Chagas do Maranhão que celebrava a missa, né? Aí dava muita gente, aí a gente ia para assistia, pra igreja…
P/2 - Qual era o tipo de automóvel que vocês utilizavam naquele tempo para poder sair para ira festa?
R - Era de animal.
P/2 - De aminal?
R - Era, montado no animal.
P/1 - Aí toda festa vocês iam de animal?
R - Era, burro, era, nós cruiavamos muito animal, na minha casa criava muito animal, aí montava no animal, burro. Aí tinha um jumentinho que nós gostamos de montar nele, que ele era muito ligeiro também.
P/1 - A sua plantação sempre foi de cana?
R - Foi, foi, lá nós só trabalhamos com cana mesmo, nessa época, que vivia com meu pai, só era cana.
P/1 - E animais?
R - Animais era burro, cavalo e jumento, que eram os animais que a gente mexia, né? Ele tinha um gadinho, mas era pouco, só para beber um leitinho, criava um gadinho também.
P/1 - E vocês se mudaram?
R - Aí depois a gente se mudou lá do Bom Futuro, ele vendeu, nós já estávamos todos quase dono do seu nariz, que nem diz o povo, cada um. Aí ele foi ficando sozinho, aí vendeu lá onde nós morávamos, voltou, que fica perto de Altamira, fica em um instante de Santa Inês, a cidade mais próxima é Santa Inês.
P/1 - Você já era de maior?
R - Era.
P/1 - Você já tinha saído de casa?
R - Já, sai de casa.
P/1 - Você tinha ido para onde?
R - Essa época eu vim para Santa Luzia do Paruá.
P/1 - Em busca de emprego?
R - É, trabalhar para lá, aí comecei a trabalhar por minha conta, trabalhando botando roça, aí lá eu trabalhava de roça, plantando arroz, plantando milho, plantando mandioca. E aí a vida meio pesada, cansada, aí surgiu Serra Pelada, né? “ Serra Pelada está dando muito ouro, tal”. A gente via aqueles garimpeiros chegarem vermelhinhos, parecendo cotia, só de poeira das estradas, nesse tempo era mais no chão, aí a gente enfolia com aquilo. E eu também já separado da família, que eu tinha mulher, depois separei, não deu certo a gente separou
P/1 - Me conta um pouco sobre a sua mulher…
R - Quanto tempo?
P/1 - Me conta um pouco sobre a sua mulher, a história…
R - Ah sim, a minha esposa, nós separamos porque nós vivíamos até bem, né? E depois descontrolou, tal, ela começou com brigalhada em casa e tal, e aquilo foi desgostando a gente, com o negócio de briga. E aí eu falei para ela que nós iríamos separar, ela pensou que era brincadeira. Aí eu digo: “Rapaz, nós vamos separar, você deixa dessas brigas se não vai terminas nós nos deixando, porque eu não estou suportando mais.” E aí foi, foi, foi, aí surgiu Serra Pelada, aí nós já estávamos separados mesmo, aí eu digo: “Rapaz é o seguinte, eu avisei muitas vezes, está aí, nós temos dois filhos, se você quiser me dar os meninos eu crio, se você não quiser você cria eles, eu vou me embora para Serra Pelada”. Aí eu arrumei a malinha velha que eu tinha, botei nas costas e fui para Serra Pelada, pensando que ia arrumar uma condição melhor. Porque lá eu trabalhava muito de roça, lá eu trabalhava de roça, para dar conta da família trabalhava com roça, mas graças a Deus dava conta, ninguém nunca andou pedindo nas casas, pedindo nada para os filhos…
P/2 - Você tem contato com eles?
R - Tenho, com os meus filhos tenho, e a mãe deles morreu agora em um dia desses, as filhas dela mandaram avisar para mim, ligou para mim me avisando que ela tinha morrido.
P/2 - Você conheceu ela como?
R - Lá mesmo em Bom Futuro, no Maranhão, que nós morávamos, nós morávamos. Aí a gente foi, teve conhecimento um do outro, nos juntamos, mas faz muito tempo, mas passamos muitos anos juntos ainda.
P/2 - Chegou a morar lá mesmo?
R - Moramos, moramos lá em Santa Luzia do Paruá. Nós vamos embora, aí meu pai veio atrás de nós, aí nós vamos para lá, morei na minha irmã, da época que eu saí eu fui para duas irmãs, aí eu passei uns tempos lá trabalhando, aí eu voltei, minha irmã veio atrás de mim, aí eu voltei, né? Mas, o meu pai “não, vem para cá e tal” , aí eu voltei, depois Santa Luzia do Paruá, que foi onde nós passamos mais anos, aí eu vim com a mulher, né? Aí nós moramos lá um bocado de .
P/1 - O senhor casou com ela?
R - Não, nós éramos só juntos.
P/1 - O seu… Foi novo, com 18 anos casou com ela, se juntou?
R - É, eu tinha essa idade, com 18 anos
P/1 - O senhor passou quanto tempo com ela?
R - Ah foi antes de eu vir para Serra Pelada, 4 anos, foi em 83. Antes de eu vir para Serra Pelada, 4 anos nós tínhamos se separado, de lá para cá está com quase 40 anos de Serra Pelada, nós estamos já, de junto nós passamos mais ou menos uns 20 anos, a 25 anos juntos, e separados já estava com 40 anos já, separado já.
P/1 - O senhor disse que morava em Bom Futuro, né?
R - É, em Bom Futuro, meus pais moravam lá, e nós morávamos lá tudo junto, lá no centro de Raimundo Barbosa, chamava o centro do Barbosa, né? Um lugarzinho que anda assim. Tinha um caminho que ia para Bom Futuro, ia para lá, ia para o Sandoval, tudo saia lá, passava no centro do Barbosa. Dava um bom movimento, um movimento de cana, de cachaça.
P/1 - E o senhor quando saiu desse movimento de cana indo para outra cidade, o senhor resolveu, quando ficou de maior, tinha algum emprego em mente?
R - Não, não, trabalhava por conta mesmo no serviço braçal. A época que eu estive, sabe, empregado mesmo, que eu vivia ficando empregado, mas não era empregado, era, hoje é, como é que eles chamam? Não é mensalista não, né? É outro nome aí que eles chamam, e naquela época ninguém trabalhava assim, né? Não tinha assim, era mesmo por conta, e aí eu trabalhava por minha conta, depois que saí da casa trabalhava por minha conta, trabalhando de roça.
P/1 - Logo após, como foi a sua chegada aqui em Serra Pelada? O senhor veio como?
R - A, Serra Pelada eu ajeitei as malas e vim para Serra Pelada trabalhar, cheguei e dormi no 16, peguei o carro no Santa Inês, aí eu dormi no 16, quando foi 5 horas nós saímos do 16 para entrar para Serra Pelada, nessa época ninguém entrava assim, né? Tinha que, era por ano, chamava por ano, ninguém podia entrar assim liberto, né? Aí nós viemos por ano, de madrugadinha, 5 horas da manhã, aí chegamos aqui umas 9 horas do dia, pegamos um carro lá no Cerqueira, passou um caminhão por nós, com aquela araras: “Olha os peões, olha os peões”, aí “Vocês vão para onde?” Aí cara lá na frente parou o carro “Nós vamos para Serra Pelada” “Sobe aí, quando chegar lá no aeroporto vocês descem, porque não pode entrar ninguém. Aí nós viemos lá do Cerqueira até aí no aeroporto. Aí nós descemos e rodeamos assim, pela barreira que tinha, aí saímos lá na rua, rua não que naquele tempo era só casinha naquela velha, ali nas 4 bocas, era assim, uns 4 barracos só, um lá na frente de onde é a igreja dos crentes, tinha outro barraco também cheio de peão, os barracos eram assim, um só tinha 20 30,40, 100 homens dentro do barracão. Aí eu fiquei por aí, peguei umas porcentagem, aí fui trabalhar, nas porcentagem, tinha um sobrinho meu, encontrei com um sobrinho meu que estava para cá também, já tinha uns 3 anos que ele tinha vindo para Serra Pelada, mas também nunca tinha pegado nada, aí eu peguei uma porcentagem no mesmo barranco que ele tinha porcentagem, inclusive esse barranco que nós tínhamos a porcentagem, era no barranco do Marlone, não sei se você ouviu falar do Malon, que pegou muito ouro, e nós não pegamos, porque, com a gente foi isso, o que acontecia é que o barranco desceu, e aí nosso barranco ficou para Marlon, e o nosso, do Marlone ficou para nós, acima do dele, que era onde era, mas com o negócio que a barreira descia, aí dizia que o barranco descia, mas não descia não, era no meio do rolo, de um trambique qualquer, o barranco fica no mesmo lugar, ficava no mesmo lugarzinho, descia a barreira, isso ela descia mesmo, que o barro desmoronava e descia aquelas larvonas, aí ficava lá embaixo, né? Aí dizia que o barranco descia, mas não descia não, ficava no mesmo lugarzinho, mas aí como é a federal que media e tal “Não, o barranco subiu tantos metros, tal” Aí o nosso subiu, ficou em cima do barranco dele.
P/2 - Era base de quantas pessoas que ficavam em cada barranco?
R - Cada barranco? Tinha vezes que tinha até de 15 trabalhadores carregando saco, 15, 12, 15, era isso, 20, conforme fosse a condição do tocador, do fornecedor do barranco, né? Era o que chamava fornecedor, né? Que pagava todo dia.
P/1 - O senhor disse que tinha filhos, qual era o nome deles?
R - O nome dos meus filhos é Antonio Eduardo Gomes Barbosa, e o nome da menina é Adrionela Gomes Barbosa.
P/1 - E o nome da sua ex-mulher?
R - Almerinda Gomes.
P/1 - O senhor trouxe os seus filhos para cá?
R - Não, nã, não, na época não trouxe, ele andou aqui umas duas vezes comigo, o menino, o homem, a menina mulher não andou vez nenhuma aqui.
P/1 - E o que te levou a vir para cá?
R - Foi o problema financeiro em casa, porque estava muito sofrido, e eu vim para ver se pegava um ouro, para melhorar de condição, mas não levei sorte, não peguei. O maior ouro que eu peguei em Serra Pelada para vender de uma vez, peguei muito ourinho assim, pingado, o maior ouro, se eu falar para você, você vai até dizer que eu estou mentindo, 66 gramas de ouro para vender de uma vez, 66 gramas. Agora um ourinho de 10 gramas, 5 gramas, a gente pegou muito, né? Para ir comprando o alimento, para ir vivendo.
P/1 - Qual era sua ocupação aqui?
R - Era no garimpo, só.
P/1 - O senhor era saqueiro?
R - Eu era saqueiro
P/1 - O senhor cresceu nesse período? Virou outra coisa além de saqueiro?
R - Saqueiro mesmo, e saqueiro voltou para trás, porque o garimpo parou.
P/1 - O senhor entrou aqui em que ano?
R - 1983.
P/1 - O senhor sabe aproximadamente quantas pessoas tinham aqui?
R - Não sei não, mas tinha muita gente, para mais de 40.000 garimpeiros nessa época, de 30 a 40 para lá, olha lá. Eu sei que tinha ali um tal de Troca Tapa, era troca troca, sempre foi movimentado, comprava nas lojas e vinha vender, um pro outro peão, vendendo para o outro, né? Era gente que se você não prestasse atenção, você não acertava o caminho de volta para o seu barraco não. Sei que era muita gente, tinha a loja do bamburrado, cidadão a loja do bamburrado dava gente demais.
P/3 - E seu Otaviano, o senhor estava, o senhor se lembra qual foi a primeira vez que o senhor entrou na cava? O que foi que o senhor pensou? Sentiu alguma coisa, como foi?
R - Rapaz, aquilo me deixou assim, meio emocionado, porque era tanto que nós trabalhávamos, e aquele trem parou, quase na hora parou, encheu de água, sabe? Quando parava enchia de água de repente, né? E aí foi indo, com o tempo foi indo, enchendo, enchendo, aí não teve mais jeito, aí parou, não to lembrado a época mais não, só sei que o negócio não é fácil, de Serra Pelada.
P/3 - Vocês dormiam onde? Como, chegava um ponto e dormia? Como é que fazia?
R - Não, a gente vinha para os barracos, trabalhava lá, muitas vezes tinha gente que trabalhava dia e noite, eu passei uma época trabalhando dia e noite, não vinha para casa… Almoçava naquela época, ninguém, fazia comida não, almoçava dentro do garimpo, jantava, sobrava comida, que traziam para os outros, os fornecedores davam para os peões, os peões comiam lá mesmo, e passava de dois dias, três dias sem ir em casa, no barraco. Nessa época eu morava lá no Morumbi, o tempo que ainda funcionava aqui, morava ali, depois mudou para o Morumbi, tinha um barraco e morava lá.
P/3 - Seu Otaviano, me conta uma coisa, vocês comiam o que? Comiam como? Onde vocês faziam suas necessidades de vocês aí?
R - Rapaz era, mas era no meio do tempo mesmo, era, nessa época, no começo tinham as casas dos tocadores de barranco que tinha privada, né? Mas no meu tempo era na montoeira mesmo dentro do mato, né?
P/1 - Vocês comiam o que?Como é que fazia?
R - A comida era mesmo carne, era carne, carne e era só carne especial, não dava só ossada para peão não, aquelas ossadas de costela, lambari, jogava tudo para dentro dos tambores, era só carne de primeira. E a federal ainda falava ainda, “se não pode tocar barranco, sustentar o garimpeiro, o trabalhador não solta o barranco”. Tem de certo comer é carne, e nós comíamos só era carne, e era só carne de primeira.
P/3 - Seu Otaviano, só para quem não conhece Serra Pelada, quem que fazia a comida, quem que cozinhava essa época?
R - Nessa época tinha os cozinheiros, os fornecedores de barranco, tinha os cozinheiros para cozinhar, pagava para cozinhar para a peãozada. E as comidas vinham nos caminhões, chegavam carros e carros dos mercados, das lojas, dos fazendeiros.
P/3 - E última pergunta que eu faço antes de voltar para eles, o que o senhor tinha que levar para descer lá no buraco já que ficava dias e dias lá, vestia o que, levava o que?
R - Só um saquinho para carregar terra, nada mais. Um saco, um saco desses de fibra, nylon, que era para trabalhar, carregar pedra, trabalhar o dia inteiro, ficar na mão do ouro, o resto, só, comida não se batia, porque tinha um monte lá da peãozada que dava para os outros, aí chamava a gente para comer, a gente comia junto com eles, né?
P/1 - E qual era o horário de se comer?
R - Era 11 horas, 12 horas, era assim, uma hora, depende da hora do trabalho, porque às vezes o cara estava achando bom trabalhar, para ganhar mais um trocado, e as vezes passava mais um pouco, demorava mais para almoçar, mas comida lá, a merenda de manhã era milharina, que eles faziam, chegava, era para todo mundo, quem quisesse comer podia comer, naquela época ninguém fazia conta em lugar nenhum não, em Serra Pelada. Se a gente falar, chambaril, costelada, com carne, com tudo, ele jogavam no mato, não davam, era só carne de primeira, era. E hoje, hoje aqui eu queria só um chambaril.
P/2 - E como vocês faziam para se divertir em Serra Pelada?
R - Só o filme que tinha mesmo, praça pública lá na Currutela, um filme para quem quisesse assistir, O divertimento da gente era assistir filme, para assistir.
P/1 - Você se lembra desse filme?
R - Lembro não senhor, eu sei que eu ia assistir umas vezes também por lá.
P/1 - O senhor falou sobre o Troca Tapa, o que era o Troca Tapa?
R - O Troca Tapa era um trem que tinha perto de um cabaré, vou falar logo o nome completo do cabaré, aí não puderam botar aqui, que era no meio da rua e tal, aí botaram para lá, que era um local para lá, e mandaram todo mundo para lá, as primas viam tudo para lá. Aí as peãozadas iam para lá um bocado, tomar cerveja, abusar e caçar tapa para lá.
P/1 - E como era, era todo dia que tinha essas coisas?
R - Não, lá cabaré é todo dia… Se mudasse o nome era cabaré o “Troca Tapa”, porque não chamavam cabaré naquela época, aí botaram o nome de Troca Tapa, os cabara viam, trocava tapa um com o outro, brigavam, acontecia, né? Aí botava o nome de Troca Tapa.
P/1 - E o que mais te marcou nessa época?
R - Rapaz, só tem uma coisa que mais me machucou, que foi os problemas mesmo que eu não arrumei condição em Serra Pelada, né? Cheguei aqui um cara novo, com 36 anos, aí no garimpo já tava com 50 e poucos, 40 e poucos anos, aí eu fiquei meio chocado, de sentido de trabalhar o tanto que eu trabalhava e eu nunca peguei ouro para construir uma vida melhor. Curtição, eu nunca tive curtição na minha vida, porque no tempo que eu vivia com meu pai, nós trabalhávamos, aí tomei a minha responsabilidade, arrumei família, era trabalhar para sustentar família, aí fiquei sozinho na Serra Pelada, aí foi que piorou o trabalho, nunca sei o que foi curtição na minha vida, não vou mentir para vocês não.
P/1 - O senhor trabalhava, chegava você tinha algum tempo para sair, se divertir um pouco?
R - Não, eu nunca gostei andar saindo não, chegava no meu serviço, tomava banho e me deitava, eu nunca fui assim de gostar de andar muito pela rua não nem no tempo de eu novo, você acredita? Nem no tempo de eu novo.
P/1 - O senhor fez família aqui?
R - Não, nunca consegui família aqui não.
P/1 - E quais os locais de Serra que mais te marcaram?
R - Rapaz, tem várias coisas, vários lugares, né?
P/1 - O senhor sente algum arrependimento de vir para Serra ?
R - Não, não sinto não, só me sinto infeliz, porque nunca arrumei nada, né? Trabalhei muito e nunca tive a sorte de pegar ouro, mas nunca me arrependi não. Todo tempo tranquilo, graças a Deus
P/1 - Bom, você poderia me contar sobre a entrada do 16?
R - A entrada do 16 nessa época tinha uma guarita, nessa mureta a polícia federal, polícia federal, aí quando chegava lá tinha que descer todo mundo, e lá pegava outro carro para Serra Pelada, a federal revistava todo mundo, aqueles que estavam com documento em dia, tinham a carteirinha para não estar furando, passavam, liberaravam, e aqueles que não tinham a certeira, que eram furão, botava para o outro lado, dali voltava, aí os que quisessem entrar, rodeavam e iam lá perto do 30, e entrava pelo meio do mato, ou então voltava para onde era do 100, aí caia no mato, e caia na estrada na frente no meio do mato, era assim.
P/1 - O 30 seria o que?
R - Era, o 30 era perto demais, era,
P/1 - E na cidade?
R - É, esses lados do 30, nessa época era povoadinho, mas era no sentido do 30 mesmo, nessa época, na Serra Pelada,
P/1 - Para quem não era de maior passava por essa estrada?
R - É, o de menor tinha que rodear, não passava não, a federal…
P/1 - E o senhor?
R - Não, passei, nessa época, a primeira vez eu entrei furando, né? Que nem diz, como furão. Eu entrei furando, escondido, rodiei, fui para Pedra Bonita e rodiei, e aí saí pela frente, peguei o carro, estava com o motorista, né? E aí larguei e desci aqui na Serra Pelada.
P/1 - Como era essa vistoria? Era agressiva?
R - Não, não, não, não, só se o cara, se eles encontrassem alguma coisa, mas eles castigavam o cara, prendiam, deixavam pelado, levava ele para o outro lado, mas depois liberava, não era muito agressivo não.
P/1 - E como era o transporte?
R - O transporte era um carro pau-de-arara com as cadeiras, os bancos de pau cheio, não tinha onde sentar não, em duas filas.
P/1 - Então a única guarita que tinha era…
R - Era no 16, nessa época, mas depois com vários tempos já, aí botaram uma bem no Pernambuco, de onde eu era, na fazenda do Maurício, né? Aí aqui tinha uma guarita também.
P/1 - E como eram esses furões que passavam pela mata? Como era o trajeto, você se lembra?
R - Não, era para o garimpo, vindo para trabalhar também, aí aqueles que não tinham documentos, muitas vezes eles entravam pelos barracos casando, né? Aqueles que não tinham documento, muitos se escondiam, e os que não se escondiam eles pegavam, botaram no carro e no outro dia de manhã aí liberavam no 16, eles botavam para lá de volta, uns pulavam no meio dos carros na descida na ladeira, ou na subida, pulava no chão e corria, e cai no mato, aí eles não mexiam não, né? Era assim, antigamente era desse jeito.
P/1 - A mata era fechada?
R - Era fechada, essa mata aí era crua.
P/1 - Você se lembra como era?
R - Lembro, ficava mata encarraçada, cipó, espinho, essa mata era ruim, era fechada demais.
P/1 - O senhor passava quantos dias na mata?
R - Não, na primeira que eles vinham já tinha a estrada já, a estrada feita. Era as peãozadas que faziam isso, né? Eu mesmo vim direto, graças a Deus, nunca fui obrigado a vir furando, furar pela rodieira bonita uma vez, né? Mas na frente eu pegava o carro
P/2 - Vocês viam a pé?
R - Era a pé, era a pé, vinha um bocado de a pé.
P/1 - E sobre o Curió?
R - O Curió não tenho nada o que dizer do Curió, mal assim, falar mal dele, ele, agradeço primeiramente a Deus, e segundo ele, né? Porque na época que a gente entrou para cá, colocou uma queixa, lá em Brasília para lá, porque disse que os garimpeiros estavam tomando as áreas que eram da Vale, tal, aí mandaram o Curió vir para tirar o povo, né? E aí quando ele chegou, ele achou por bem não tirar o povo. Formou uma cooperativa, e pro povo ficar trabalhando. Aí, assim ele fez, né? Voltou, chegou lá e falou para o Figueiredo, que nessa época era o Figueiredo, que era o presidente. Aí conversou com o Figueiredo, diz que o Figueiredo era o condado dele. Agora não sei se era o Curió que era casado com a irmã do Figueiredo, ou o Figueiredo que era casado com a irmã dele, só sei que era cunhado, né? E aí ele voltou para lá e chegou lá e falou: “Figueiredo é o seguinte, eu levei a ordem de limpar a área, mas resolvi foi…” Aí contou para ele que tinha formado uma cooperativa, ia fazer, uma cooperativa junto da mina de Serra Pelada que era para os garimpeiros terem os direitos, né? E assim ele fez, deixou todo mundo de boa, e aí voltou, pois um guia, não estou lembrando a data , voltou aqui, aí formou a cooperativa dos garimpeiros, para o povo se associar, né? Para ter o direito na mina, morar e ter o direito de ser garimpeiro, se algum dia ela for mecanizada a gente ter o direito, né? E aí a gente ficou, eu me associei na cooperativa. Nessa época tinha a cooperativa, eu me associei, paguei o sindicato, paguei a cooperativa, e aí fiquei trabalhando, trabalhando, hoje amanhã, e aí até hoje está parado, nunca funciona essa cooperativa, por causa da briga, uns querem, e outros não querem, uns querem, outros não querem, elas estão lá da sociedade, mas essa aqui é dos garimpeiros, essa área aqui, que era do Genésio essa área. O Curió, ele recebeu essa área do Genésio, porque ele estava vendendo o ouro todo fora, recebendo o ouro que passava para ele, aí ele falou que não era certo, tinha que vender dentro do estado o ouro, né? E ele estava tirando fora, aí ele foi, e propôs a conversa pro Genésio, se ele queria outra fazenda no lugar dessa fazenda aqui. Aí ele aceitou enfim, aí o Curió comprou outra fazenda lá perto de Parauapebas, e deu essa fazenda aqui para os garimpeiros, junto com o plano Figueiredo, foi doado essa aqui, ele comprou essa fazenda, era do Genésio, o Genésio pegou outra fazenda em troca dessa, para essa aqui ficar para os garimpeiros, que era da cooperativa hoje.
P/1 - Então o Curió, ele fez essa…
R - Fez, fez, muito bom, agradeço primeiramente a Deus, segundo ele, se não fosse ele nem aqui eu não estava não, porque ele veio com a ordem de tirar todo mundo, ele veio com a ordem lá do Figueiredo para tirar todo mundo, não fica ninguém, né? Tirar de um jeito ou de outro, porque naquele tempo, aquele pessoal, sabe como é que é. Saia ou então ia para debaixo de 7 palmos, ele achou por bem formar uma cooperativa, e associar ao povo, e trabalhar a empresa, botar uma empresa para organizar a área, mas aí eu não sei porque que nunca funcionou, até hoje está a briga, onde entra um que quer, caminhar as coisas certas, aí tem outro por traz que atrapalha e não vai para a frente.
P/1 - O senhor se lembra o ano que ele veio?
R - Foi em 83…
P/1 - Vocês lembra da chegada dele?
R - Não, não lembro não, não estava aqui não. Mas aqui, no tempo tinha muita gente, a chegada dele foi bem recebida, bem recebido.
P/1 - Ele fazia eventos aqui?
R - Fazia, trabalhava direitinho com o povo, nunca ninguém reclamava mal dele, graças a Deus.
P/1 - E sobre a Colossus?
R - A Colossus foi botada por um povo aí que não foi bem, quer dizer, a satisfação deu, ter apoio meu, não dou apoio, porque foi Élcio Lobão que começou a Colossus, e com outros formaram uns grupos aí, e aí botaram a Colossus aqui dentro para mexer com a mina de Serra Pelada, né? Embromando os garimpeiros, que ia dar uma porcentagem para os garimpeiros, 49% garimpeiros, 51% para a empresa, para a Colossus, mas no final era só um cambalacho a teoria, ia ficar o garimpeiro com 25%, ainda era cativo, ainda era cativo esses 25%, eles assinaram uma coisa, um contrato, uma coisa, 49% para a cooperativa, e no final eles tiraram, deixaram 25%. Na época todo mundo pensava que tinha uma coisa errada. E aí ficaram brigando aí todo tempo, comeram o tanto que quiserem, e aí o garimpeiro estava vendo que não ia ter nada para nenhum, aí se revoltaram contra eles e fizeram ela sair, com ajuda de Deus primeiramente, e segunda da empresa que deixou ela ir, ela não amanheceu. Agora eu não sei o que que foi, se pegaram alguma coisa, eles dizem que não pegaram ouro, mas ouro eles pegaram e não foi pouco, eu tenho certeza. Porque nós trabalhando manual naquele buraco, pegamos não sei quantas mil toneladas, é que eu não lembro mais, tinha lá marcado tudinho, arrancamos bastante na picareta, nós pegamos ouro, quanto mais os caras mecanizando no chão, só pega o friso de ouro? Eles dizem que não pegaram, o povo que trabalhava para a Colossus, eles falam que a Colossus nunca pegou um décimo de ouro, mas pegou, pegou e não foi pouco.
P/2 - Você chegou a ver?
R - Não, não, ver mesmo aqui eu não vi, mas nessa época eu trabalhava na fazenda do Mauricio, teve época de eu estar na beira da estrada e o carro passar com os seguranças, o carro de um lado passar com a segurança da escolta, uns adiantes, demorava 2 minutos, 3, aí passava aquele carro, aí mais atrás vinha outro, e o povo daqui mesmo falava que era só carregando ouro, quando eles colocavam friso de ouro, eles afastaram todo mundo de dentro “não, deu um probleminha aí, vocês saem todo mundo”. Aí o carro entrava que era para ir lá e tirar para fora, era assim que eles fizeram, eles fizeram conosco, pois é, e era desse jeito assim que eles fizeram. Não deu nada para garimpeiro, garimpeiro não pegou um centavo, pegava aqueles que trabalhavam para ganhar 900, que era para poder assinar para eles que eles colocaram, muitos assinaram, ganhando 900, outros ganhando, 2000, outros ganhando 3000, só para assinar alguma coisa para eles, à favor deles. Eu mesmo discuti uma vez com o meu patrão lá na fazenda, porque ele queria que eu trabalhasse para a Colossus e eu disse que eu não trabalhava para a Colossus, se eu quisesse trabalhar para a Colossus, eu falei desse jeito para ele: “Se eu quisesse trabalhar para a Colossus…” Dpois eu vou te contar o significado desse trabalho… “Se eu quisesse trabalhar para a Colossus eu trabalhava em Serra Pelada ganhando 2000, 3000 na mão deles, se eu vim para cá ganhar 500 reais, ou 400 reais por mês é que eu não quero trabalhar para ela”. Ele pegou um serviço para fazer aquela estrada ali, que tem por traz, que sai no —, né? — No porto ali, e aí sai lá na casa de Paulo, e nós discutimos por causa disso, né? Aí eu falei para ele que se eu quisesse ganhar esse trocado eu estava ganhando aqui, não tinha saído não, para trabalhar para ele. E aí até hoje eu sou injuriado com a Colossus porque… E Colossus eu vou te falar, a Colossus é ali no Vale, eles botaram o nome de Colossus para disfarçar, mas é a mesma Vale, por trás é a Vale, tem gente que ia lá conversar lá na fazenda com o Maurício, e aí contava, falava uma história toda… A primeira vez que eu estava assim no pasto, sentado, eu ficava só escutando, e eu ouvi ele falar, a Colossus é a mesma Vale, a Colossus estava só implantado, na hora que terminasse de implantar ia entregar para Vale do Rio Doce.
P/1 - Seu Otaviano, o senhor trabalhava nessa fazenda de que?
R - Trabalhava de serviço braçal mesmo.
P/1 - Braçal.
R - É, jogando veneno, roçando juquira, era assim, isso aí, né?
P/1 - O senhor não quis trabalhar para a Colossus?
R - Não, eu não
P/3 - Por que não quis trabalhar para a Colossus?
R - É porque a Colossus para mim, já estava sabendo, é a mesma Vale, eu não ia trabalhar para a Vale, então nesse caso eu estava dentro dos meus direitos, uma coisa que eu poderia estar tranquilo, ia acabar empregado para a maior empresa do mundo, do Brasil, não ia trabalhar para ela por causa disso. Tanto que comigo, nem a farda dessa aqui eu não visto, porque foi o mesmo de eu estar trabalhando para ela, vestir uma farda daquelas, eu não uso. Lá na fazenda me ofereciam, porque eles ganhavam muita farda, né? Me ofereciam, não tinha serviço, aqui mesmo me oferecer eu digo: “Rapaz eu não quero não, você me desculpe, eu não uso essa roupa”. Porque para mim é o mesmo de eu estar enfincado na empresa, nunca trabalhei aí, e nem quero trabalhar, logo estou na idade que eu estou, eles não ficam mais comigo, mas eu não quero trabalhar ainda não, porque o recurso que nós temos em Serra Pelada, não era para a gente estar em uma condição dessa não, você vir visitar minha casa na reportagem e eu estar em um barraquinho velho desse não. Tinha que ter uma casa boa, aqui ou em outro lugar, do que tem aí para nós, sócio de Serra Pelada, porque eu socio tenho direito naquela mina, disso eu tenho certeza, o sócio de uma cooperativa, nós temos o direito daquela mina, aí está parado do jeito que está, cheio debaixo da água, seu Élcio Lobão pegou muito dinheiro, seu fulano de tal, que era da cooperativa pegou muito dinheiro, aí é assim, agora os sócios mesmos, não pegaram nada.
P/1 - O senhor se lembra o ano que o garimpo fechou?
R - Não lembro não, eu sou esquecido que só…
P/1 - E a entrada das mulheres?
R - As mulheres foi em 87
P/1 - Como é que foi a chegada delas aqui?
R - Foram bem recebidas, o trabalho das mulheres foi bom, que nessa época não entrava mulher, não entrava não, entrava, mas o serviço tirava para fora, aí foi devagarinho, com jeito, liberaram as mulheres, 86, 87, foi muita mulher, aí ficaram aqui morando, outros que traziam a mulher para morar, quando não estavam aqui.
P/1 - E com o fechamento do garimpo, o que o senhor sentiu?
R - Rapaz, eu não achei muito bom não, mas fazer o que? Não posso fazer nada, tinha que me confortar também e concordar, porque parou, parou, “não pode trabalhar porque está cheio de água porque morreu gente”, “tudo bem”, mas era para empresa trabalhar mecanizado, mas não deixam, a cooperativa que é dona dessa mina, era para ela funcionar, mas a piscina é grande, e segundo por trás não é outra não, eu falo, não tenho medo e falo a verdade, é a Vale do Rio Doce que paga seu Ciclano, seu Ciclano para meter gosto ruim para não funcionar a sociedade, é, não é outro não. Que ela quem quer tomar essa área aqui, mas essa área não é dela, essa área aqui é do garimpeiro, o presidente já doou para o garimpeiro, como era, o Curió comprou outra fazenda, em torno dessa, e ele foi e doou para o garimpeiro, os sócios da cooperativa.
P/1 - Então, mesmo se a Vale ela legalizasse, ela comprasse, né?
R - É, mas ela não quer comprar, ela quer tomar, diz que é dela, mas não é dela, essa área aqui não é dela, o ferro, tudo bem, né? Tem uma parte do ferro, e tem uma parte do ferro que está pegando a área da cooperativa. Agora o problema é funcionar, que eu não deixo, a —, é grande. Começa o governo de Belém, que ele não quer, e segundo o nosso amigo que é deputado que é outro também, junto com o pai dele, que quer porque quer ser o dono daqui, eu vou mentir para que? Eu sei do – e eu falo a verdade, falo, meu problema só é esse, aí não deixam, se deixassem a cooperativa funcionar, ninguém viveria aqui do jeito que vive não, um lugar tão rico e o lugar que mais tem pobreza é Serra Pelada, e não é só eu não, tem muitos e às vezes pior do que eu ainda, tem, quem mesmo tem uma condiçãozinha, almoça bem, janta bem, tem um dinheiro para ir curtir, tomar uma cerveja, mas tem outros que não tem um centavo para nada, tem.
P/1 - E o que está faltando para a cooperativa funcionar?
R - É se unir, e botar um presidente que tenha vergonha na cara e não se venda, é, é só o que está faltando é isso, isso e vender… Botar um presidente que não se venda para a Vale nem pro —, ela funciona, se a cooperativa funcionar tem dinheiro para todo mundo, da renda dentro do Brasil todo, dava da cooperativa, mas eu não sei o porque que não veio. A própria justiça era para decidir na sociedade, está todo mundo morrendo a míngua de pobre, mas não decide, agora estão lá. O nosso amigo é uma justiça, que é um deputado, mas ele é o primeiro a querer tomar para ele, mas eu vou fazer o que? Eu sou sozinho, não posso resolver nada, aí tenho que ficar aqui humilhado, que nem cachorro quando está amarrado, é assim.
P/1 - O senhor construiu essa casa sozinho?
R - Foi, sozinho, eu fiz um empréstimo. Eu tava aposentado, aí fiz um empréstimo, aí fiz ela, eu morava em um barraquinho velho, que dava uns 6 metros aí só, coberto de palha, acordei muitas noites todo molhado, na chuva bem dizer, um bocado dos meus documentos, não tinham um cartório que já acabou, que eu fui com o meu, molhado, de tanto molhar, já acabou, cheio de papel, aí se acabou, molhou. Acordei muitas noite, erguer a mala assim, aí depois tirava, botava todo lugar assim da porta — , daí eu amarrava ela assim, parecia um coquinho, aí eu sentava nela, às vezes, tinha dia que eu amanhecia seco, que eu não dormia, sentado ali, cochilava, mas dormir não, esperando a chuva parar que era para mim atar a rede no mesmo lugar que era para mim poder dormir.
P/1 - O senhor sempre morou sozinho?
R - Sempre morei só, desde a chegada no garimpo, foi sempre só, separei da família, vim para Serra Pelada, não consegui uma companheira, ainda hoje estou só, esperança de uma vida melhor para caçar uma companheira, e cada dia que passa estou mais pior, porque eu estou velho, cheguei aqui eu era um cara novo, tinha 36 anos, e essa figura aqui é do tempo que eu cheguei no garimpo, eu tinha 36 anos nessa época, e hoje eu estou com 70.
P/1 - Por que o senhor não ficou com ninguém após chegar aqui, como é que foi?
R - Problemas financeiros. Eu não tinha condições, aí eu sozinho estava passando baixo e arrumar família era pior, aí estar sozinho até hoje é isso, problemas financeiros. Se eu tivesse uma condiçãozinha eu tinha caçado uma companheira para ficar comigo, morar comigo no barraco velho, mas a gente não tem, tem que ficar fica só, porque o que se eu me junto hoje, quando der amanhã, o cara que já está sufocado, por aqui, aí quando chegar em casa a mulher: “Fulano está faltando isso”. E aí como é que o cara vai fazer? Sem ter, onde é que vai comprar? O cara não fica aperreado, não fica sufocado? Então sozinho é melhor, porque não tem quem me diga nada, no dia que eu comer eu como, no dia que não tiver eu não como, mas não tem quem me cobre nada, né? E tendo a mulher o cara tem que batalhar para dar conta.
P/ - O senhor gosta de ser livre, é?
R - É, gosto de ser sempre livre, eu não gosto de incomodar muito os outros, eu gosto de estar sempre assim mesmo sozinho, porque não estou sendo incomodado e nem incomodando os outros, e o mais não é ser incomodado, é incomodar os outros o meu problema, não gosto de incomodar ninguém, comigo medo nenhum, não gosto, não. Porque aquele povo mais velho, assim, uns anos atrás, pensava assim: “Esse velho besta de quer ser opinioso”
P/ - O senhor, quais são os amigos que o senhor fez aqui em Serra Pelada?
R - Tem vários amigos, vários amigos.
P/1 - Quem que é?
R - Primeiramente tem um amigo que se chama Luiz Barbudo, um grande amigo, e tem outros que já morreram, que eu me esqueci até do nome dos amigos que já morreram. Tem o Ednaldo, o Ednaldo é um amigão da gente demais, me conhece do tempo do garimpo, e eu conheço ele, é muito meu amigo, e aí tem muitos por aí. Tem o Chico Rosa também, meu amigo também, é comerciante, é rico, mas é meu amigo da gente, e vários deles, não tenho malquerença com ninguém, graças a Deus até hoje.
P/1 - O senhor conheceu o Luiz Barbudo como?
R - Atráves aqui do garimpo mesmo, já tinha parado o garimpo na época, e ele trabalhava lá pro Caracol. Aí eu tomei conhecimento com ele, né? Ele trabalhando para lá, a gente se entrosando em palestra na época, né? Aí teve conhecimento um do outro.
P/3 - O senhor admira o que no Luiz Barbudo pra ser amigo dele?
R - Eu acho ele um cara bacana, um cara direito, um cara tranquilo. Ele só fica ali, porque ele toma a pinguinha dele, mas isso aí, ninguém vai atrás disso não, não tem jeito não, eu encontro ele quando ele está bêbado: “Menino toma vergonha, larga essa cachaça de mão”. Que eu não bebo, graças a Deus. Eu bebi, tomava umas aqui, mas era difícil, eu vivia uma época, em 94, por assim, eu fui para Marabá e lá eu me embriaguei, eu vi quando eu embarquei em um ônibus na rodoviária, né? Quando eu vim dar conta de mim, bem na entrada da Cotia, aí eu cheguei aqui no barraco ruim, ruim, eu digo: “Eu tenho fé em Deus que desse dia em diante eu nunca mais vou botar um copo de cachaça na minha boca nem que nem cerveja.” De lá para cá nunca bebi não, graças a Deus
P/3 - O senhor conheceu o Luiz Barbudo já tinha acabado?
R - Já, já estava começando o trabalho dele, parecendo um papelão.
P/1 - Você lembra do dia em que falaram que ia fechar o garimpo?
R - Não, não tenho assim, recordado a lembrança do dia que foi falado não, não estou lembrado não. Eu sei que quando falaram de parar pararam mesmo, pararam, chegaram dali, a gente trabalhava, com poucos minutos a água tomava de conta, né? Por causa da chupadeira estávamos trabalhando direto, e aí parou a chupadeira, já veio logo e encheu, era ligeiro demais.
P/1 - O senhor gosta de morar em Serra Pelada?
R - Gosto, gosto.
P/1 - Por que?
R - Porque é um lugar bonzinho, tenho muitos amigos, um lugar calmo, tranquilo. É por causa disso que eu gosto, sadio, é ruim que eu moro sozinho, o pessoal briga, meu filho: “Rapaz, vem para cá, pai. Morar aqui mas nós”. “Não, eu só vou no final de Serra Pelada”. De sim ou de não, chegar lá contando… Eu estou com 40 anos de Serra Pelada, chegar lá contando história de onça para vocês, por isso eu não vou, um dia dá certo eu ir passear onde vocês”. A minha conversa com eles é essa.
P/1 - E seu Otaviano, o seu cabelo?
R - O meu cabelo foi como eu falei lá, que eu trabalhava aqui era muito perigoso, aí eu fiz um voto com Deus, eu digo: “Que Deus e Nossa Senhora, meu São — que eu nunca hei de ser acidentado aqui dentro, eu só corto o cabelo quando eu chegar lá no Maranhão com minha família”. Aí até hoje eu estou com o cabelo grande, nunca deu certo, e nunca resolveu nada também, aí até hoje eu estou com o cabelo grande assim.
P/1 - Então o senhor nunca foi ver a sua família?
R - Não, fui não. Depois de 83 eu andei lá em 85, meu título era de lá e eu fui votar. Aí falei: “Dezembro eu venho passar o natal com vocês aqui” E até hoje, nunca mais deu certo, aí estou sozinho.
P/1 - O senhor sente saudade da sua terra natal?
R - Sim, sinto. E eu sonho andando lá, naqueles lugares que eu sempre gostava de andar.
P/1 - Quais eram os lugares que você gostava?
R - Era assim, naqueles interiores, naqueles centros que tinha aquelas coisas animadas que a gente passava, ainda hoje eu sonho, de vez em quando eu sonho eu andando aquele mesmo jeitinho, do mesmo jeito.
P/1 - O Senhor moraria para lá?
R - Não, não queria mais morar lá não, se algum, se Deus abençoasse e eu pegasse alguma coisa aqui, melhorar a minha condição um pouco, eu ia caçar outro lugar, mas para lá para o Maranhão, eu não queria mais morar lá não.
P/1 - E a sua família?
R - Minha família mora lá, minha filha mora lá, meus irmãos. Eu tenho um pessoal meu que mora bem em Parauapebas, a Marineide, filha de uma irmã minha, ela já morreu também.
P/1 - E o que o senhor faz hoje?
R - Hoje? Eu estou por aqui batalhando, eu sou aposentado, mas o dinheiro do aposento é bem pouco, não dá para mim, aí eu trabalho roçando juquira, lá na fazenda do Mauricio. Eu gosto, gosto de trabalhar, é só o que eu sei fazer. Não tenho caneta, para tomar a posição de um trabalho bom, aí o que eu enfrento é essa juquira mesmo, espalhar marimbondo, formiga, mas eu acho é bom. Eu acho ruim quando eu estou sem trabalhar, sem fazer nada. O cidadão que tava, era para ele ter vindo ontem aqui, ou hoje, até essa hora, eu acho que, não sei que dia ele vem para nós irmos lá outra vez pra nós encarar ela.
P/1 - Você trabalha muito, mas você gosta de fazer o que para se divertir, ouvir música?
R - Gosto, de música eu gosto muito, gosto de andar pela praça ali, ver o movimento, né? Não é muito também, é poucas horas, eu vou lá, fico lá até umas 9h00 horas, 10h00 horas, e venho me embora para o meu barraco me deitar.
P/ 3 - O senhor fica pensando muito sozinho?
R - Não, não. Eu penso mais o que eu penso aqui é na vida financeira, trabalho muito e nunca consegui nada. Pois é, um cara direito, que o povo diz que eu sou direto. E aí não sei que diabo é que tem nessa honestidade minha que não vai para frente as coisas, nunca peguei nada. E a minha família, não é porque eles não viram não, todos são direitos na minha família, são pobres, uma família pobre e direita.
P/3 - Vamos aproveitar e falar da família do senhor então…
R - Bora…
P/3 - O senhor nunca voltou, voltou já para o Maranhão?
R - Não, não. Cheguei aqui no dia 18 de junho de 1983, e aí fiquei até hoje. Fui lá em 85, que meu título era de lá, falei ainda agorinha. Meu título era de lá e eu fui votar, e aí pensando que aqui ia dar certo, pegar alguma coisa, e aí fui ficando aqui do jeito que tá, nunca peguei nada e até hoje estou aqui encutido, é, mas sempre na esperança que, a esperança, o povo diz que a esperança é o último que morre, né? Quem sabe se amanhã Deus não libera isso aqui, essa mina, e nós tem dinheiro, para mim, ir pelo menos gastar, curtir de boa com a minha família, os meus irmãos, com um amigo, ajudar um amigo. Porque o que tem aqui não é só para mim não, eu quero ajudar minha família, e ajudar qualquer amigo assim, que me interessar de ajudar. O recurso aqui que nós estamos segurando 40 anos não era para mim não, dava para fazer isso tudo aqui que eu estou pensando aqui para mim e para vocês, dava para eu ajudar minha família todinha, irmão, filho, e alguns sobrinhos que eu quisesse ajudar, e ajudar um estranho que eu visse necessidade de eu ajudar, o recurso que nós moramos em cima há 40 anos segurando, isso aqui é coisa para, não é só para mim não, é para muitos, é para muitos, mas aí fazer o que? É igual eu te falei agora a pouco, tem uma meia dúzia em cima, que bota o pé em cima e segura e não deixa ir para frente as coisas.
P/1 - O senhor sente vergonha por não ter ido para ver sua família?
R - Não, se tivesse dado certo era bom, mas não deu, fazer o que? Tem que ficar quietinho, sempre, de vez em quando eles procuram: “Pai, quando é que você vem aqui” O meu sobrinho às vezes procura “Tio, quando é que você vem aqui?”. Eu digo: “Rapaz, tenha calma, a hora que der certo eu vou passear onde vocês.”
P/3 - Seu Otaviano, o senhor tem um apelido na comunidade? Qual é esse apelido?
R - Tenho, Djavan que chamam, Djavan, por causa do cabelo, eu cheguei aqui, o cabelo era bem pequeno, mas no garimpo: “Olha o Djavan, olha o Djavan”. Aí botaram esse nome Djavan e eu atendo, ninguém me conhece pelo nome aqui, poucas pessoas conhecem meu nome, que sabem. A minha irmã andou por uma época aqui procurando: “Onde é que mora Otaviano?". Muita sorte, a Dona Bendita, é que ela morreu um tempo desse, uma senhora que morava para lá, informou, que ela já me conhecia, que ela vinha aqui na casa da Alzira, morava aqui, ela sempre andava por aqui, aí ela ouvia falar do meu nome. “Rapaz, sabe o Djavan, é um cabeludo, assim, assim”. Aí a minha irmã: “É, deve ser, mas o nome dele é Otaviano” “Não, aqui conhecido por Djavan, é um cabeludo.” Ela informou a casa, ela veio bater aqui, mas meu nome ela não ia achar nunca, mas aí falaram Otaviano, a velhinha sabia que me conheciam por esse nome, né? E aí informou para ela.
P/1 - E o senhor pode mostrar o cabelo do senhor? Esse cabelo grande aí.
R - Posso sim, eu gosto de dar um nó nele, porque fica muito grande, grandão demais, aí eu pego e dou um nó no meio, está aqui o pelo do rapaz. Isso aqui é Serra Pelada que faz isso, é.
P/1 - Faz o que?
R - Ficar tudo grande, porque nunca pude ir para casa para cortar, de seguir isso aqui, já tinha ido para minha cidade, tinha mandado meter a tesoura nisso aqui, ficar tudo bem cortadinho, tirado essa barbinha de bode, e andava que nem gente, bem ajeitado, mas às vezes o cara não pode, então a gente fica quieto. É porque o que nós temos em cima, que é que nem eu falei, nós estamos morando em cima e segurando não é só para mim, para mim, para a minha família, é para qualquer um amigo que interessasse de ajudar. E aí o cara fica pensando é só isso, vir para o lugar mais rico do mundo, e aí ser obrigado a voltar para lá sem condição nenhuma. Pior, porque quando eu vim eu era um cara novo, podia trabalhar, hoje estou velho, não posso mais trabalhar, trabalho assim, porque a vida de quem consegue trabalhar não pára não, não adianta o cara dizer assim “não, eu sou acostumado a trabalhar”, que ele não pára não, não para não, no dia que ele não vai ele está doente, ele adoece e tem que fazer qualquer coisa, tem que trabalhar.
P/1 - Mas o seu cabelo o senhor não gosta dele?
R - Gosto sim, tem que gostar, não tem jeito, tem que gostar que é meu. Agora é ruim porque é muita gente: “Esse velho com esse cabelo velho dele, não tem…” Mas é porque eu tenho ele como voto. Agora se um dia eu desistir do que eu propus para Deus, a minha promessa, o meu voto, eu mando cortar ele, mas eu só quero cortar lá na minha cidade. Corto ele, para quando eu vir para cá eu vir diferente
P/3 - Seu Otaviano, desculpa, conta mais dessa promessa, que o dia o senhor fez essa promessa aí?
R - Foi na época que a gente chegou no garimpo para trabalhar, que ali era perigoso demais, a gente trabalhava dentro, porque tinha que trabalhar, mas era perigoso. Aí eu me peguei com Deus, eu digo: “Meu Deus, se o senhor me ajudar, e abençoar, que eu nunca há de ser acidentado aqui em Serra Pelada, só vou tirar meu cabelo quando eu chegar na minha cidade”, e aí até hoje. Tem gente assim: “Não, é que ele vai cortar só quando pegar o dinheiro”. Não foi não, foi do jeito que eu estou te falando aqui, independente de acidente. Eu vi muitos amigos meus morreram ali, eu mesmo, uma vez, já vou contar para vocês, viu? Eu vinha saindo, era umas 12 horas, 12:30 dentro do garimpo, passei e fui lá para um tal de, eu me esqueci o nome da área, que era uns barrancos lá. Moço, quando eu cheguei lá eu só vi com a mulher dizer assim: “Olha a barreira”, aí teve uma pessoa, não sei quem foi, eu estava bem no meio do barranco assim, tinha uma grama assim, e um buraco assim, né? Aí disseram assim: “Olha a barreira”. Aí um me empurrou, mas me empurrou assim de leve. Um passinho lá do outro lado da barreira, aí as pedronas vieram e mataram três que estavam lá embaixo dentro do barranco, eu tinha ficado lá, agora eu não sei quem me empurrou, eu sei que a pessoa me empurrou, botou a mãe bem aqui na minha pá, e me empurrou assim. E eu pulei lá do outro lado da barreira, e as pedras batendo no barranco, matou 3, e eu fiquei lá preocupado, cansado, pensando: “Rapaz, eu não ia quase era morrendo?” Pois é, andei beirando não foi só essa vez não, foram várias vezes.
P/3 - Já tinha feito a sua promessa?
R - Já, já tinha feito a minha promessa, foi logo assim que eu cheguei. Uma pessoa, é que não tinha ninguém atrás de eu, sei que me empurram, que eu senti que a mão da pessoa bateu nas minhas costas e me empurrou assim.
P/1 - O senhor disse que já teve outras vezes, o senhor poderia contar?
R - Não, já, outras vezes, assim, a noite, trabalhando a noite, pedra tombando, e a gente se defendia, todas elas, graças a Deus. Uma noite que morreu, parece que 6, em uma barreira que era para nós ir trabalhar nesse barranco, e aí não sei porque, eu e o sobrinho meu não fomos, se nós tivéssemos ido, talvez tivesse acontecido, porque lá nesse dia morreu meio mundo de gente, aí me defendeu, e até hoje ainda estou aqui, fiz meu voto, com meu cabelo grande assim. E até hoje eu estou com ele grande, eu quero tirar, mas no dia que eu for em casa, uma hora dá certo com fé em Jesus.
P/3 - Seu Otaviano, o senhor se adoeceu, o pessoal adoecia muito aqui?
R - Não, aqui adoecer era pouco. Agora morrer, morreu muita gente aí, de pedra, barreira.
P/1 - O senhor já teve algum amigo que morreu?
R - Tem, tenho muito amigo que morreu de barreira. Eu não me lembro os nomes deles que era gente de dentro do garimpo; Todo mundo era amigo demais um do outro, nunca teve confusão assim com os trabalhadores, os garimpeiros, graças a Deus, todo mundo era amigo um do outro.
P/1 - E seu Otaviano, e essa foto na sua camisa?
R - Essa foto foi tirada no tempo que a gente trabalhava carregando montoeira, do barranco para a montoeira, o barro. Cachama montoeira, né? Aí, um cidadão que morava no Morumbi, o Zé Arantes, andando em Brasília viu a foto e reconheceu, né? Viu a fotografia por lá, e disse que lá tem foto demais dos garimpeiros. Ele conheceu, e foi e fotografou, eu, né?
P/1 - É o senhor?
R - É, esse aqui sou eu.
P/1 - Pode se levantar para…
R - Posso, sou eu, olha… Foi assim que nós chegamos no garimpo em Serra Pelada.
P/3 - Quem tirou essa foto do senhor?
R - Foi um menino, eu não lembro quem foi não, nessa daqui, muita gente batia foto, né? Dos garimpeiros, a gente trabalhando, e eles batiam as fotos, e aí dessas fotos iam levar para Brasília, para lá, e lá o menino viu e me conheceu. Aí: “Rapaz é o Djavan, moço, eu vou…” Aí pediu licença e aí deixaram ele tirar, “não, pode fotografar”. Aí ele foi, fotografou a foto, aí chegou, me falou, e foi em comprou essa camisa e fez esse trabalho e me deu o presente.
P/1 - O senhor se lembra o ano?
R - Não, não lembro não, não lembro não. Essa foto eu acho que foi em 84, 85, por aí assim.
P/3 - O senhor lembra a cara do homem que tirou essa foto aí?
R - Não, não lembro não, não lembro não, eram muitos, nesse tempo, que filmavam a gente trabalhando.
P/1 - O senhor estava fazendo o que nessa foto aí?
R - Eu estou com um saco aqui carregando terra, montoeira, chama montoeira. Tem um saco aqui no meu ombro, pode olhar que é um saco que tem aqui, enrolando aqui e botaram no ombro, né?
P/1 - Com quantos anos que o senhor está nessa foto?
R - 36.
P/1 - Seu cabelo já estava grande?
R - Estava bem grandinho, me chamavam de Djavan por causa do cabelo. Aí o menino andando lá em Brasília, e aí fotografou, comprou essa camisa e mandou a mulher dele fazer e me deu de presente, o Zé Arantes.
P/1 - O senhor mudaria alguma coisa no seu passado?
R - Não. Mudaria só assim, porque eu, o que eu fazia quando era mais novo, eu não faço mais porque já estou velho. Só, somente, só isso. Gostava de ir em um forró, para dançar, hoje não vou mais, porque eu vou viver em festa? Só para passar olhando para as paredes? Segurando a parede? Não vou.
P/1 - E o que o senhor deseja para o futuro de Serra Pelada?
R - Rapaz, é essa mina funcionar. O que eu desejo é essa mina funcionar, porque se ela funcionar da renda no país todo, da para mim, dá para você, dá para o país todo, não é só para os sócios e nem para o garimpeiro de Serra Pelada não, para todo mundo. Agora ela parada só aqui não tem jeito.
P/1 - E quais são as coisas mais importantes para você hoje?
R - Primeiramente saúde, estando com saúde, abaixo de Deus, estou com tudo, e segundo se tivesse um dinheirinho para sobreviver, né? Para poder curtir, mas em primeiro lugar era saúde, a gente estando com saúde está com tudo, abaixo de Deus, né? Primeiramente Deus, segundo é saúde, e terceiro o real, se tivesse real, eu estou na idade que estou, mas ia curtir a minha velhice mesmo mais um, dois dias, mas sem dinheiro como é que é que eu vou curtir o que, o que? Tenho que trabalhar, não tenho, tenho que trabalhar, tem aquela palavra que Deus diz : “Trabalhará dia e noite para não ser pesar do seu irmão”. Pois é, e aí eu gosto de trabalhar para não estar preocupando os outros, ocupando os outros né?
P/1 - Seu Otaviano, o senhor tem algum sonho?
R - Não, o meu sonho mesmo é assim, se eu pegasse dinheiro aqui eu ia ajudar a minha família, em primeiro lugar ajudar minha família, meus filhos que eu não criei nenhum. Porque na época que eu me separei da mulher, separei, ela não quis me dar. Disse que não me dava nenhum, e aí eu falei para ela: “Pois então, você vai criar que eu vou para Serra Pelada”. Porque aí meu sonho hoje era pegar, para em primeiro lugar ajudar eles, já que nunca ajudei. Até hoje eu falo isso, desde o começo que eu falo isso, se um dia Deus abençoasse e resolvesse esse problema nosso aqui, primeiramente quem eu ia ajudar era eles, ajudar eles, comprar uma casa na cidade, comprar um terreninho para mim, porque eu ia gostar é aqui no mato mesmo, e aí ficar do meu terreninho para a cidade, para a minha casinha, né? Um carrinho ou uma moto, é isso aí.
P/3 - O senhor acha que talvez mesmo sem dinheiro sua família não recebe o senhor lá não?
R - Recebe, recebe, recebe, mas agora é problema meu de eu não querer ir para lá agora assim, mas receber eles recebem, de vez em quando eles me aperreiam para eu ir embora para lá, a minha filha, o meu filho.
P/3 - O senhor sente saudade deles?
R - Tenho, tenho, a gente lembra, né? Vai fazer o que? Tem que se conformar. Um dia mesmo, uns dias atrás aí, eu tive aqui sozinho, chorei, de meditar a minha vida, né? E chorei, não vou mentir, de estar lembrando do passado, e do presente. Do lugar tão rico e não ter nada, não poder ajudar a minha família. Chorei, não vou mentir para você, chorei.
P/1 - Eles não tentaram convencer o senhor a voltar?
R - Não, eles chamam demais, vixe, chamam. Mas eu que estou incutido mesmo, não queria sair sem uma decisão final. Eu espero que um dia Deus abençoe que resolva o nosso problema, porque se resolver o problema dessa cooperativa muita gente vai se dar bem. Não é só eu não, são muitos, o Brasil todo, porque o recurso que nós moramos em cima aqui, não é coisa só para um nem dois, nem 100 pessoas não, é para bilhões de gente.
P/1 - Então se der certo na cooperativa o senhor iria para a sua terra natal?
R - Iria, iria, passear, mesmo que não fosse para morar, mas passear onde a minha família, eu ia passear, passar um dia, dois ou um mês na casa de um, ia na casa de outro, ia passear na casa de todos eles, os meus parentes
P/1 - E voltar de novo?
R - E volto para Serra Pelada, cabelo tirado, barba tirada, aí talvez vocês, eu acho que conhecia, mas vocês não conheceriam, se me vissem assim, né? Dizendo: “Não, esse aí é o cabeludo do Djavan.”
P/1 - O senhor gostaria de acrescentar algo mais? Contar mais alguma história que a gente não pode contar?
R - Não, acho que já está bom, não está não? O que eu tinha para falar já está…
P/2 - Como era feita troca de dinheiro? Como vocês faziam pagamento?
R - Não, pagamento, aqui tinha banco, tinha caixa, tinha tudo, na época do ouro aqui tinha Caixa Econômica. O Curió deixou tudo aqui dentro, para o garimpeiro, Caixa Econômica, aquele supermercado que eu me esqueci o nome agora, como é que é o nome do trem? Que tinha tudo enquanto você precisasse tinha, da época aqui.
P/1 - Quando você chegou já tinha?
R - Já, já, já tinha, já tinha Caixa, foi logo assim que liberaram para — eu vim para cá —-, porque estava tirando ouro para fora, e aí tinha essa Caixa aqui dentro, que comprava aqui mesmo. Aí seria melhor para o garimpeiro.
P/3 - Seu Otaviano, começar as perguntas finais agora, o senhor gostaria de aproveitar essa oportunidade para mandar alguma mensagem para a família do senhor, para alguém que o senhor gostaria de mandar uma mensagem?
R - Mando sim. É bom, eu vou falar para os meus familiares que eu estou com eles aqui ainda, mas eu tenho fé em Deus primeiramente que vai chegar a hora da gente visitar eles, meus filhos, meus irmãos, que ainda tem uns que estão vivos, outros já morreram, mas tem uns que ainda estão vivos, meus sobrinhos, eu gostaria que um dia Deus vai dar permissão de eu ir visitar eles, com fé em Jesus. Eles não devem se preocupar comigo não que eu estou por aqui, estou com saúde, graças a Deus, e com ajuda de Deus, uma hora se resolver a gente vai passear aonde eles.
P/1 - E como foi contar a sua história?
R - Como?
P/1 - Como foi contar a sua história agora na entrevista?
R - Como foi?
P/1 - Como você se sentiu?
R - Não, senti bem, porque vai saber o mundo todo, o país todo, o conhecimento, né? Como é o problema nosso de Serra Pelada, do garimpeiro de Serra Pelada, é bom, bonzinho. Eu achei foi bom, graças a Deus. Eu estou aqui, se precisar outra vez, eu estou presente para retornar.
P/1 - E é isso..
R - Fico muito satisfeito dos amigos estarem aqui me entrevistando.
P/1 - Só tenho a agradecer
R - Adeus, Adeus…
P/3 - Obrigada viu, seu Otaviano.
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