Dia quente em Manaus. A frente fria que recobre o país parece esquivar-se deste lugar que o escritor Alberto Rangel chamou de "O inferno verde". Dia pandêmico não muito distante da rotina estabelecida: trabalho remoto, reunião online, afazeres domésticos. Hoje, a Margô, uma poodle que adotamos, foi ao banho e tosa. Sempre que ela vai fica um vazio. Olhando hoje para dois de seus brinquedos favoritos - uma boneca e uma galinha - percebi o quanto aqueles objetos remetem à presença dela. Veio à cabeça que um dia ela não estará mais aqui e que esses brinquedos trarão à mente o tanto que a vida dela se conecta com a nossa. Senti o medo de perdê-la e pensei no quanto esse medo, por associação, me faz temer a perda dos meus filhos, de minha companheira, de minha mãe e até mesmo, para lembrar de José Saramago, o quanto sinto pena de saber que um dia também eu não mais estarei aqui. A pandemia me faz muito pensar na morte.