P/1 – Boa tarde Lyrinha!
R – Boa tarde!
P/1 – Queria começar com você me dizendo o seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Meu nome completo é Ricardo de Lyra Carvalho Junior, minha data de nascimento é cinco de fevereiro de 1983.
P/1 – Você nasceu onde?
R – Nasci em Maceió, Alagoas.
P/1 – Nome dos seus pais?
R – Ricardo de Lyra Carvalho e Silvia Maria Santos Carvalho.
P/1 – Profissão deles?
R – Minha mãe é do lar, nunca trabalhou, e meu pai hoje ele é corretor de imóveis, hoje ele é gerente de uma loja e ele também é ator.
P/1 – Você nasceu em Maceió como é que você veio para cá?
R – Então, eu nasci em Maceió e vim para cá, porque meu pai foi transferido da Caixa Econômica Federal, onde ele trabalhava lá para cá, passou eu acho que dois anos aqui. Depois eu, minha mãe e minha irmã, que é a irmã do meio a gente veio para cá, eu acho que em 1990. Aí, viemos para cá morar aqui no Rio.
P/1 – Você cresceu lá em Maceió?
R – Não. Eu passei um tempo muito curto lá, mas eu cresci aqui no Rio, pelo menos é o que eu tenho lembranças sempre.
P/1 – Você tem quantos irmãos?
R – Tenho hoje quatro irmãos, comigo cinco ao total, quatro irmãos.
P/1 – Você é o qual?
R – Eu sou o mais velho.
P/1 – Me conta um pouco da sua formação.
R – Eu estudei em Maceió, o ensino lá era muito fraco, mas eu só senti isso quando eu vim para cá e que eu comecei a estudar aqui, e senti uma dificuldade muito grande. Aí, minha formação é basicamente toda daqui, mas tive que correr atrás muito para poder estar no nível dos meus amiguinhos que estudavam aqui, porque o ensino é bem diferente lá, e eu tive que correr muito atrás para isso. Depois eu comecei a cursar uma faculdade de cinema, e estou terminando agora nesse ano, no final do ano.
P/1 – E qual universidade?
R...
Continuar leituraP/1 – Boa tarde Lyrinha!
R – Boa tarde!
P/1 – Queria começar com você me dizendo o seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Meu nome completo é Ricardo de Lyra Carvalho Junior, minha data de nascimento é cinco de fevereiro de 1983.
P/1 – Você nasceu onde?
R – Nasci em Maceió, Alagoas.
P/1 – Nome dos seus pais?
R – Ricardo de Lyra Carvalho e Silvia Maria Santos Carvalho.
P/1 – Profissão deles?
R – Minha mãe é do lar, nunca trabalhou, e meu pai hoje ele é corretor de imóveis, hoje ele é gerente de uma loja e ele também é ator.
P/1 – Você nasceu em Maceió como é que você veio para cá?
R – Então, eu nasci em Maceió e vim para cá, porque meu pai foi transferido da Caixa Econômica Federal, onde ele trabalhava lá para cá, passou eu acho que dois anos aqui. Depois eu, minha mãe e minha irmã, que é a irmã do meio a gente veio para cá, eu acho que em 1990. Aí, viemos para cá morar aqui no Rio.
P/1 – Você cresceu lá em Maceió?
R – Não. Eu passei um tempo muito curto lá, mas eu cresci aqui no Rio, pelo menos é o que eu tenho lembranças sempre.
P/1 – Você tem quantos irmãos?
R – Tenho hoje quatro irmãos, comigo cinco ao total, quatro irmãos.
P/1 – Você é o qual?
R – Eu sou o mais velho.
P/1 – Me conta um pouco da sua formação.
R – Eu estudei em Maceió, o ensino lá era muito fraco, mas eu só senti isso quando eu vim para cá e que eu comecei a estudar aqui, e senti uma dificuldade muito grande. Aí, minha formação é basicamente toda daqui, mas tive que correr atrás muito para poder estar no nível dos meus amiguinhos que estudavam aqui, porque o ensino é bem diferente lá, e eu tive que correr muito atrás para isso. Depois eu comecei a cursar uma faculdade de cinema, e estou terminando agora nesse ano, no final do ano.
P/1 – E qual universidade?
R – Estácio de Sá.
P/1 – Como é que foi essa escolha?
R – Olha! Essa escolha o seguinte, eu sempre gostei de fazer teatro. Eu comecei a fazer teatro aqui no Rio, meu pai veio para cá e se apaixonou pelo teatro, trabalhando em banco ele começou a gostar de fazer teatro, e eu fui assistir uma peça que me marcou muito, que ele fazia o morto na peça, então, não falava, claro, e eu achava aquilo muito fantástico eu lembro que foi no Teatro Ziembinski.
P/1 – Qual é o nome da peça?
R – “O legítimo inspetor perdigueiro”, tinha no elenco Iara Jamra, Antônio Calloni e eu ficava fascinado com aquilo tudo, porque um garoto de Maceió, que viu os artistas pela televisão, ver os artistas, que lá a gente tem um costume muito grande de assistir televisão, como era no tempo do rádio, que a gente ficava em volta do rádio para ouvir, lá em Maceió e eu acho que em todos lugares, eu acho que é uma questão do brasileiro, de gostar de se reunir para assistir TV. Então, eu tinha aquela coisa de artista e tal, e eu fui assistir a peça com Antônio Calloni, e meu pai fazia o morto e eu achava aquilo fantástico, para mim ele era o meu herói, a partir dali eu comecei a fazer teatro, eu falei: “Poxa! Isso é legal, quero fazer isso também.”
P/1 – E aí, suas primeiras experiências de teatro foram o quê?
R – Minha primeira experiência no teatro foi num condomínio que eu morava no Flamengo na Rua Marquês de Abrantes, que tinha uma professora de teatro e eu falei: “pai eu quero fazer isso também.” Ele me colocou e a professora falou: “nossa! Ele é muito bom, tem que fazer mais”. Aí, eu fiz uma peça chamada Hermafrodita, na época estava passando a novela da Buba, e aí, a peça abordava um pouco o tema que era tratado lá na novela, eu fui fazer essa peça. Eu era muito pequeno lembro, porque eu tenho foto, e a minha estreia foi no Teatro Rival aqui na Cinelândia, eu lembro que meu pai foi assistir com a minha mãe, e quando eu saí da peça todo mundo veio falar comigo, eu não entendi muito bem aquilo, não entendia, mas as pessoas falavam muito bem, e meu pai e minha mãe estavam muito orgulhosos, assim, mas eu fazia uma pessoa mais velha, autoritária, usava um terno maior do que eu, isso já tem uns 16 anos.
P/1 – Você tinha quantos anos?
R – Nove anos. Eu não sou muito bom em matemática, hoje eu tenho 28, não sei se são 16 ou um mais um pouco ou menos. Mas eu lembro que foi assim, eu tomei um choque, ter uma recepção tão calorosa, assim, de todo mundo. Falaram: “Nossa! Que legal, parabéns.” Eu fiquei meio assustado, a partir disso meu pai começou a investir em mim, começou a me colocar em cursos de interpretação para TV, de teatro, e eu fui exercitando a arte.
P/1 – Nas peças que você trabalhou o que é que te marcou?
R – Que marcou? Mas posso falar amplamente, assim, tudo?
P/1 – Uma peça que você tenha trabalhado e gostado mais? Que tenha te marcado?
R – Olha! Uma peça que me marcou foi “O encontro” de Machado de Assis e Arthur Azevedo, que eu fiz, que foi uma peça muito difícil, porque tinha um linguajar todo trabalhado da época do Machado, e era difícil até de improvisar, porque tinha todo um linguajar específico daquela época, então, me marcou muito. E tem uma outra também que foi muito importante que eu fiz, “Bodas de Sangue”, do Garcia Lorca, eu fiz uma peça toda em espanhol, que, aí, dificultava mais ainda essa questão de improviso, então, tinha que saber muito bem, saber sotaque, eu não falo espanhol, mas tive que estudar, e foi uma experiência muito boa, gostei muito.
P/1 – Gosta quando é difícil?
R – É bom, o desafio é legal.
P/1 – Aí, o cinema veio nessa mesma?
R – Pois é, eu estava pensando, assim, eu já exercitava o teatro, desde eu acho os 15 anos eu já comecei a ganhar dinheiro com teatro, não ganhar dinheiro, comecei a ganhar um cachezinho, porque não se dá para ganhar dinheiro para sobreviver com teatro aqui no Brasil, mas eu estava pensando assim: “será que faço Unirio, que é uma escola super famosa, que tem um respeito muito grande quando fala de teatro, de arte cênicas?”, aí eu falei: “não sei se vou fazer isso, porque o mercado não diferencia o profissional que é formado para o profissional que não é formado, mas que trabalhou e exercitou a arte de interpretar”. Então, eu falei o seguinte: “eu quero fazer algo que me dê uma possibilidade de ganhar dinheiro de outra forma, mas que seja na arte”. Aí, eu lembro que eu fiz, eu não sei o nome daquilo agora, um teste vocacional, e deu cinema, eu falei: cinema? Eu nunca pensei nisso, porque as pessoas que fazem cinema, cinema é muito caro de se fazer, então, as pessoas que fazem cinema ou tem histórico de assistir filme, de gostar de cinema ou ter algum parente que tenha trabalhado com cinema, ou que trabalhe com cinema, eu não, eu não assistia muitos filmes, enfim, isso calhou assim e eu fiquei assim: ué, mas estranho, porque deu cinema? Isso ficou na minha cabeça, mas eu via o cinema como uma possibilidade de trabalhar com a arte de outra forma, de ampliar o meu leque de trabalho. Foi assim que fiz o curso de iluminação cênica, e aí, sim comecei a ganhar dinheiro um pouco com isso, porque paga melhor, o teatro paga melhor ao técnico do que Ao artista, do que Ao ator, não que o técnico não seja um artista, ele é também, ele pinta, ele desenha, mas é engraçado. Mas, aí, eu comecei a ganhar dinheiro com isso, montar luz, criar luz, comecei a ter uma demanda de trabalho muito maior do que de ator, de atuar, então, as pessoas me chamavam para trabalhar com luz e não para atuar. Mas, enfim, aí, deu cinema eu falei: “ótimo, uma grande oportunidade”, tentei duas vezes para a UFF não consegui, na primeira eu passei na primeira fase e na segunda não passei, e na segunda vez eu não passei nem na primeira fase. Aí, tentei Unirio, não passei, aí, eu falei vou tentar de novo. Eu resolvi tentar numa particular, eu dei uma sondada e vi que a Estácio estava nas minhas condições, graças a Deus consegui fazer. O cinema está crescendo muito, eu fico muito feliz de ver o rumo que o cinema nacional está tomando, assim, eu acho que a qualidade técnica, a qualidade artística dos filmes me motiva muito, então, eu quero experimentar estar por trás das câmeras, criando imagens, criando situações, enfim, isso me motiva muito. E eu sou um apaixonado pelas pessoas, eu gosto de olhar as pessoas, eu gosto de perceber as pessoas, eu gosto de estar com as pessoas, eu amo estar com as pessoas, então, eu gosto de observar muito, eu gosto de olhar, eu gosto de ficar analisando, enfim, eu amo as pessoas, eu quero ver, eu fico analisando e eu acho que esse é um olhar interessante, eu não me julgo ator apenas, eu me julgo artista, eu gosto da arte, a arte me motiva, me alimenta, me sinto feliz assim, da mesma forma que eu assisto um filme que motiva, eu assisto também uma peça que me motiva, ou ouço uma música que me toca, isso é o gostoso.
P/1 – Um olhar também de diretor?
R – É.
P/1 – Como é que você chegou aqui na Brazil Foundation?
R – Eu creio que há cinco anos, meu pai tem um orgulho grande de mim, porque eu sempre fui muito batalhador, eu sempre corri atrás do que eu sonhava, o que eu sonho eu corro atrás, eu sei que ele tem esse orgulho e me deixa muito feliz. Ele estava fazendo uma peça com a Clarissa Worcman aqui e sempre, ela falou isso para mim depois, ele falava muito bem: “meu filho corre atrás”, e a Clarissa ficou com aquilo na cabeça, e aí, surgiu a oportunidade de trabalhar aqui na Brazil Foundation e eu não tive muito contato com a Clarissa Worcman eu só fui assistir uma peça no Teatro América, desculpa, Tijuca Tênis Clube, que eu confundo os dois, mas no Tijuca, e eu a via de relance e não conversamos, mas quando teve essa oportunidade ela me chamou e chamou a Márcia, que é uma outra atriz, uma atriz que fazia peça com ela, então, fiquei super, não entendi, mas eu fiquei muito feliz, e aí, foi a partir daí que eu conheci a Clarissa nós fizemos um ou duas apresentações, de uma peça que a Clarissa escreveu, chamada Morro Azul, e a partir daí nós continuamos a fazer o trabalho no ano seguinte, já fizemos acho que seis, ou mais apresentações, e assim que eu conheci a Brazil Foundation.
P/1 – O que você veio fazer? Qual era o combinado? Vir fazer o quê?
R – Apenas apresentações do teatro. Então, a gente se reunia, ensaiava, discutia o tema que era proposto e apresentávamos.
P/1 – Me explica um pouco melhor Lyrinha, eu nunca vi as peças, estou me inteirando desse processo de vocês, é um processo utilizado para capacitação? Explica direitinho como é que vocês pensam os temas? Como é que vocês desenvolvem? Como é que isso funciona?
R – O teatro é utilizado aqui dentro como uma ferramenta de comunicar, porque o teatro comunica também. Então, o que é que acontece? Toda a capacitação tem um tema que vai nortear todo o processo de capacitação, todo o processo da oficina, então, o teatro vem para ilustrar, para abrir cada capacitação abordando o tema que vai ser tratado, então a gente dá um pontapé para começar a discutir e abrir as mentes para discutir esse sobre o que é que a gente vai ver daqui a pouco.
P/1 – Me dá um exemplo do tema para se trabalhar?
R – Então, o Morro Azul, que foi a nossa primeira peça, nossa primeira esquete, o Morro Azul ele trata de questões basais de uma instituição, ele trata, por exemplo, da organização de uma instituição, aborda, por exemplo, como ela vai conseguir, ela vai ter que se institucionalizar, conseguindo nota fiscal, precisa abrir uma cooperativa, então a gente trata dessas questões, é uma comunidade do interior de algum lugar, que a gente não quis determinar onde fosse, que está começando a distribuir, faz um trabalho muito básico, que é de construção de cestas, e aí, vai vender na cidade, só que o dono da lojinha fala: “Olha! Para você vender aqui vai ter que virar associação ou uma cooperativa”. Então, a gente trata dessas questões, que aí entra no programa de capacitação de gestão e comunicação o tema, e aí, a gente dá esse pontapé inicial.
P/1 – De lá até aqui mais ou menos quantas peças vocês já montaram? Cada hora vocês pensam um tema? Como funciona?
R – Cada programa de capacitação tem um tema, tem um tema específico.
P/1 – Quem elege esse tema?
R – Sempre é a gerente de programas, antes foi a Sheila, então, o que ela ia abordar ela comunicava a Clarissa, a Clarissa sempre ficou imbuída de escrever o roteiro, porque ela está aqui dentro da Brazil Foundation, fica muito mais fácil e ela tem experiência com a questão de monitoramento, então, ela fica com essa função de escrever o roteiro, e ela conversava entre si e tal, aí, definia o tema que ia ser tratado, e a gente ia lá e trabalhava os temas.
P/1 – Você ajuda a ela a trabalhar, montar?
R – Eu e a Márcia sempre nos nossos ensaios a gente sempre sugere situações, enfim, a gente vai contribuindo da maneira que a gente pode para a peça tomar um corpo, e um público que também de certa forma direciona a gente para outros lugares.
P/1 – Lyrinha, deixa eu entender, o grupo é você a Clarissa e a Márcia? Vocês estão desde o início com esse grupo?
R – Desde o início com esse grupo.
P/1 – Me diga como é que é a recepção?
R – A recepção sempre foi muito calorosa, sempre foi muito calorosa e o que eu acho legal nesse grupo é que a gente se dá muito bem, hoje a gente já faz o trabalho e a gente se conhece muito, com o olhar a gente já sabe e isso ajuda muito. E tem uma coisa diferente que não tem problema com ego, porque sempre quando a gente fala de arte, do ator, principalmente, e a gente sempre tem alguns problemas, mas aqui nós nunca tivemos isso, então, uma alegria muito grande de poder contar com pessoas que a gente gosta, trabalhar fazendo um trabalho legal, um trabalho bacana.
P/1 – Vocês fazem as capacitações para os projetos da Brazil Foundation e para esse outros também?
R – Sim, para o Instituto HSBC também e para a Brazil Foundation, mas o tema é o mesmo, porque os dois trabalham com o mesmo tema, então, a gente utiliza peça lá do instituto apresenta aqui para a capacitação da Brazil Foundation.
P/1 – Tem temas que se repetem? Que vocês reutilizam atualmente ou eles se renovam?
R – A gente sempre está modificando, porque o teatro ele não está morto, ele está vivo, então, a gente tem que acompanhar as questões que estão acontecendo agora, a gente não pode abrir mão disso, a gente não pode passar os olhos sobre isso e não fazer nada, então, a gente precisa sim, a gente se atualiza algumas questões, por exemplo, o Morro Azul que a gente faz hoje já não é o mesmo que nós começamos, a gente vai pegando uma questão aqui e outra ali, sempre tem uma pessoa que dá uma dica, então, a gente vai se atualizando.
P/1 – Vocês tem esses temas, como desenvolveram, registrados?
R – Menos do que gostaríamos, uma pena, eu particularmente gostaria de ter registrado cada momento, porque eu acho que é importante, mas infelizmente por várias questões a gente não tem esse registro.
P/1 – Lyrinha qual é a periodicidade disso? Como vocês apresentam?
R – Olha! É muito relativo, depende muito do cronograma fechado pela Nádia lá das apresentações para o instituto, então, tem umas questões que não tem uma periodicidade certa dois ou três meses, varia muito.
P/1 – Dá para conciliar com outros trabalhos seus?
R – Dá para conciliar, eu tenho outros trabalhos também, eu vou deixando também o espaço para fazer esse trabalho aqui. Vale comentar também que eu trabalhei num movimento social chamado Mohan, que é um movimento social das pessoas que foram atingidas pela hanseníase, eu trabalhei lá por cinco anos e também fiz esse trabalho de teatro, esse trabalho de conscientização através do teatro.
P/1 – Era um trabalho voluntário?
R – Um trabalho voluntário que eu fazia, que eu conscientizava pessoas através do teatro sobre as questões da hanseníase, que são questões sérias, que poucas pessoas sabem que aqui no Brasil nós temos, nós somos o primeiro país em números absolutos de casos de hanseníase, uma coisa super absurda que eu não sabia, para mim foi um trabalho que me marcou muito, que foi o meu primeiro contato com o terceiro setor.
P/1 – Eu queria que você contasse uma história.
R – Uma história? Ligada a Brazil Foundation?
P/1 – Ligada a Brazil Foundation, as capacitações, alguma coisa engraçada.
R – Tudo bem. Eu fui apresentar uma peça, não foi o Morro Azul, e na hora que eu fui falar um texto, que era um texto narrado, uma narração me deu um branco na hora na frente das pessoas, eu não sabia o que falar e eu fiquei super tenso, eu estava muito preocupado com essa parte do texto que para o ator é muito difícil, porque quando é diálogo é muito gostoso, mas uma narração sempre é muito difícil e você tinha que falar, e tinha uns termos que são usados, que não fazia parte da minha vida, então, isso foi muito complicado de decorar e entender, porque o ator não pode apenas decorar, tem que entender porque ele está falando aquilo, e me deu um branco na hora e eu não sabia o que falar, eu falei: então, comecei o texto e falei: então, é isso. E as pessoas riam a Clarissa ficou nervosa do meu lado e eu fiquei tenso e eu suava, então, foi um momento, assim, não engraçado, mas tenso, eu fiquei muito preocupado.
P/1 – Acontece.
R – Tem outra história, nós fizemos uma peça para os gerentes do Instituto HSBC, porque eles são padrinhos de alguns projetos, então, nós criamos uma peça, o instituto pediu para o programa de capacitação para esses padrinhos uma peça e nós criamos: o buraco, que conta a história de uma família onde tem um gerente de banco, que por estar tão atarefado com seus afazeres lá no trabalho e tal, não dá atenção a sua família e a sua esposa, e tem um problema grave que está incomodando essa esposa que é uma árvore que tem na frente da casa deles do prédio deles e ela está lutando para que aquela árvore não seja cortada, e ele está pouco se lixando, ele acha que aquele trabalho não é trabalho dele, ele não tem que se preocupar com isso, então, a história se desenrola aí. E certo dia, eu acho que foi em Curitiba que um gerente desse eu percebi isso em cena que eles estava se contorcendo, se contorcendo e eu não entendi muito bem aquilo, mas no final da apresentação sempre rola um coquetel, e esse é o momento que a gente tem para ouvir as pessoas, para conversar, para ter esse respaldo da peça, ele veio falar que ele estava muito comovido, que ele ia ligar para a esposa dele e ia impedir que a árvore fosse arrancada, uma coisa assim, então, ele ficou alucinado ele falou: “nossa! Eu vi a minha mulher” para Clarissa e a Clarissa ficou super feliz, ele ficou muito mexido com a peça, e ele resolveu o problema, assim, ele falou: “nossa! Eu tenho que dar mais atenção a minha mulher” e ele falava com a gente como se fôssemos casados mesmos, então, ele meio que misturou, assim, a ficção e a realidade e ele falou: “nossa! Igual, eu vi a minha mulher brigando comigo eu achei aquilo um absurdo”. Essa é a função do teatro, o teatro toca, num lugar onde a gente não é acostumado a ser tocado assim, então, foi um momento que eu fiquei muito feliz com o resultado.
P/1 – O teatro ele abre a capacitação? É mais ou menos essa norma?
R – É. Ele abre a capacitação até para dar boas vindas e para já introduzir o tema que vai ser trabalhado.
P/1 – A apresentação vocês tem um tempo? Ou é livre?
R – Em média 30 minutos ou 20, fica por aí, 30 minutos no máximo, também não pode se estender muito, porque o conteúdo é extenso, então, a gente não pode também tomar muito tempo, então, a gente abre, eu acho que até é um tempo muito bom, 30 minutos, 20, 25 eu acho que é um tempo muito bom.
P/1 – E essa função que você falou também é educar, esse lado pedagógico do teatro vocês percebem que foram refinando? Como é que é? Isso é especificamente pedagógico, tem um lado lúdico, para se divertir, mas vocês foram refinando esse lado pedagógico? Como é que foi?
R – A gente foi refinando, eu vou falar um pouco de mim, acho que o processo vai ensinando muito, claro que a gente não tinha isso lá no começo, a gente foi refinando, eu acho que a gente pode melhorar muito mais, mas eu acho que foi uma construção conjunta, à medida que nós fomos apresentando a gente foi refinando e mesclando essa questão do lúdico com essas palavras que precisam ser inseridas, com um conteúdo que precisa ser passado, então, é muito delicado, é um trabalho muito delicado, porque ao mesmo tempo a gente não pode ferir o que o instituto quer que passe, a gente, por exemplo, no buraco falar mal dos bancários, a gente precisa ter um cuidado muito grande, porque fazer peça para empresa precisa ter um cuidado especial, até na forma de falar, na forma de se vestir antes, precisa sempre ter um cuidado muito específico, que no teatro é bem mais livre.
P/1 – Para os gestores daqui uma coisa que tenha te tocado? Você me contou do bancário, mas tem alguma de outro gestor de um dos projetos apoiados? Tenha se aproximado para conversar com vocês?
R – Muitos vêm até nós para falar que a peça tocou, mas um que eu fiquei, assim, muito feliz, o Morro Azul a Clarissa fez baseado num projeto aqui apoiado da Dona Eurli e ela se baseou nesse projeto, no qual ela gosta muito, mas ver a Dona Eurli assistindo a peça e depois falando que a peça tocou, falou muito com ela, falou para a Clarissa: “Clarissa precisamos levar essa peça lá para minha cidade, apresentar lá que vai ser um barato” isso é muito feliz.
P/1 – Qual é a cidade dela?
R – Não sei agora, não sei. Seabra na Bahia.
P/1 – Vocês pensam em levar?
R – Estamos pensando seriamente, porque projeto um novo projeto que a gente está pensando de abrir as peças para as instituições. Então, a gente quer apresentar as peças dentro das instituições, porque a gente recebeu, muitas pessoas vieram falar: “olha! A peça é muito boa, mas eu tenho que levar lá para minha comunidade, acho que a gente vai conseguir atingir, eu queria que essa mesma sensação que eu tive que as pessoas de lá tivessem”. Então, isso foi abrindo os nossos olhos a gente está já pensando em elaborar um projeto que a gente possa levar o teatro para eles.
P/1 – Foi um caso só ou às vezes você se inspiram nos projetos?
R – Sempre a Clarissa aqui dentro sempre leva para a gente a experiência dela, e leva a experiência desses projetos, porque é o público alvo nosso, então, a gente precisa ter conhecimento de como acontece, quais são as palavras, quais são as dificuldades, os desafios que eles enfrentam, para a gente poder comunicar, trazer o público para a gente. Então, quem faz esse papel, esse link é a Clarissa aqui na Brazil Foundation, então, ela sempre está buscando coisa nova, livros, enfim, informações, ela sempre vem com uma história para contar, e aí, que a gente vai capturando.
P/1 – Você participou do encontro de Itatiaia?
R – Sim, participei.
P/1 – Conta um pouquinho para mim?
R – Eu participei não com o teatro, infelizmente, porque acho que seria uma oportunidade muito grande de fazer o teatro nesse momento do Brazil Foundation comemorando dez anos, falando sobre memória, sobre sistematização, então, eu acho que o teatro se encaixaria muito bem naquele momento, mas não foi possível, eu fiz o trabalho de gravação de depoimentos, eu, a Lívia e a Márcia, nós fomos para lá e fomos com essa função de pegar depoimentos. Foi muito interessante, o trabalho foi muito desgastante, porque a gente acordava sete horas e começava a trabalhar oito e meia ia até às nove da noite sem parar, parando só para almoço, então, foi muito desgastante, mas foi uma grande experiência de vida, até porque o que a gente ouviu ali foi muito forte, e que toca muito as pessoas contando as suas vidas, as pessoas contando o processo delas até chegar onde elas estão, então, isso tudo mexe muito, para mim no final eu fiquei muito cansado fisicamente sim, mas psicologicamente eu fiquei muito cansado, porque é muita informação eu acabo puxando muito isso, não sei como é que é, mas eu fico muito mexido com algumas questões, que são até questões que a gente que tem na nossa peça, então, isso acaba mexendo com a gente.
P/1 – Você se lembra de algum?
R – Lembro, lembro de um rapaz, que eu não me lembro nome, que mora numa cidade do interior, e ele falou que levava uma vida muito simples e que hoje ele conseguiu superar obstáculos e desafios da vida dele e hoje ele conseguiu se tornar um político lá na cidade dele, não um político, mas uma pessoa influente na cidade dele, acho que político ficou da minha parte, porque ele falava muito bem e eu falei: “nossa! Você tem que ser vereador, deputado”. Mas ele hoje é uma pessoa, fala bem, então, eu achei que essa superação acho que é muito interessante, porque tem haver comigo também, porque eu saí de uma cidade, saí de uma vida simples, fui sonhar com outras coisas, eu acho que tem haver, e aí, você acaba ficando mexido. Aí, depois tem um outro que vem falar sobre cinema um Argentino que foi para uma comunidade indígena, começou a fazer filmes com eles, mas claro voltado para um olhar mais social, eu achei aquilo super interessante eu falei: “nossa! Que barato”. Então, tudo isso vai mexendo.
P/1 – Você já tinha trabalhado assim? Gravando depoimentos para a fundação? Ou foi a primeira vez?
R – Na verdade, eu comecei a fazer esse trabalho no Mohan, Movimento social de Hanseníase, que eu acho isso fantástico, sempre, mesmo eu não tendo muita experiência nesse trabalho de vídeo, eles sempre confiaram muito no meu trabalho e eles me chamaram para fazer um vídeo institucional para eles, eu fiquei muito honrado: Nossa! Foi minha primeira experiência nesse processo de faculdade que eu pude exercitar o que eu estava aprendendo lá, eu fiquei muito feliz eu gosto muito dessa questão do risco, será que vai dar certo, não vai, mas vamos fazer, mas se não der vai ser um desastre, mas Deus quis que desse tudo certo e deu tudo certo. Enfim, eu coloquei em prática e tudo foi legal, que eu fiz um vídeo institucional do Mohan explicando o que é o Mohan, para ser exibido antes do show do Ney Matogrosso que ele fez aqui no Teatro Municipal do Rio, show beneficente para o Mohan, que o Eike Batista doou três milhões e meio, enfim, foi uma grana super alta, para o Mohan e o meu vídeo foi exibido antes do show do Ney Matogrosso no Teatro Municipal do Rio, eu falei: “nossa! Que isso?” E eu fiquei muito feliz, foi um sucesso o vídeo, as pessoas ficaram muito felizes, o resultado ficou muito bom, que bom. E aí, a Brazil Foundation me chamou para fazer os depoimentos junto com a Lívia lá no Instituto HSBC, com esses gestores e com os gerentes também quando a gente capacitava, aí, eu comecei também a trabalhar aqui dentro com isso, porque antes só trabalhava com teatro.
P/1 – Vídeo institucional.
R – É.
P/1 – Quero saber se você está casado? Está namorando? Qual é o seu status atual?
R – Eu estou noivo.
P/1 – Me diga o nome da noiva?
R – Raquel Pomerim, atriz também.
P/1 – E vocês têm planos para breve?
R – Sim, próximo ano casamento.
P/1 – Ficou alguma coisa que você gostaria de deixar registrado que a gente não conversou?
R – Não, eu acho que está bem.
P/1 – Gostou de participar da entrevista?
R – Gostei muito. Muito diferente, porque eu estava gravando ali, então, participar atrás é muito diferente, está aqui na frente falando provoca uma ebulição, assim, dentro da gente, enfim, lida com questões, que eu, por exemplo, não falo comumente, não saio por aí falando, mas são questões importantes a serem mostradas, eu acho que provoca coisa boa, eu sempre tive vontade, depois que eu conheci através do site, através da Brazil Foundation o Museu da Pessoa eu falei: “Nossa! Que ideia maravilhosa. Um dia eu quero dar entrevista para vocês, falar um pouquinho, deixar essa memória, acho importante o filho do meu filho vai ver falando, isso é muito legal”.
P/1 – Muitíssimo obrigada pela sua colaboração.
R – Obrigado.
Recolher