P/1 – Arthur, bom dia.
R – Bom dia.
P/1 – Queria começar pedindo que você me diga seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Meu nome é Arthur Bispo Ferreira Coutinho, nasci no Rio de Janeiro.
P/1 – Data?
R – Quatorze do seis de 1994.
P/1 – Arthur, o nome dos seus pais?
R – Carlos Henrique Moura Coutinho e Marivalda Bispo Ferreira.
P/1 – O que eles fazem?
R – Meu pai é editor de cinema e minha mãe é manicure.
P/1 – Fala um pouquinho deles. Como você os vê?
R – Eu vejo os meus pais como os meus ídolos. Eu os admiro muito e tudo que eu sou hoje é por causa deles. O meu convívio com eles me tornou quem eu sou hoje.
P/1 – E você tem irmãos? Quantos irmãos você tem?
R – Tenho três irmãos.
P/1 – Você é o mais novo?
R – Eu sou o mais velho.
P/1 – Você é o mais velho. Diga-me o nome deles.
R – Isabele, João Victor e Giovana.
P/1 – As idades.
R – Doze, sete e três.
P/1 – Conte-me um pouquinho da sua casa assim, como é?
R – Na minha casa moramos, eu, minha mãe e minha irmã Isabele, que são filhos do primeiro casamento do meu pai com a minha mãe. O João Victor e a Giovana são filhos do segundo casamento do meu pai. E na minha casa a gente tem uma vida boa, normal, moramos na comunidade do Vidigal.
P/1 – Você cresceu lá?
R – Cresci lá.
P/1 – Nasceu lá já e cresceu lá?
R – Nascido e crescido lá.
P/1 – E seus irmãos, você vê os seus meio irmãos também com frequência? Moram aqui perto?
R – Vejo com frequência. Eles moram na Barra da Tijuca. Mas eu os vejo sempre com frequência, porque eu vou muito lá. Eu os vejo sempre.
P/1 – Tá. E me conta assim, tem alguém na sua casa que gosta de contar história? Sua mãe, seus avós?
R – Minha avó. Eu estudo muita história da minha avó, muitos ditados, que eu não entendo muito, mas ela fala que tudo a ver, então tem tudo a ver, eu vou contrariá-la?
P/1 – Diga-me o nome da sua avó?
R – Maria Isabel Bispo.
P/1 – Ela mora perto? É mãe de qual?
R – É a mãe da minha mãe.
P/1 – Mãe da sua mãe?
R – Ela mora perto sim. Só que elas não são do Rio, elas não nasceram no Rio.
P/1 – Ela é da onde?
R – Minha mãe e minha avó são da Bahia. E meu pai sim é carioca.
P/1 – Você sabe se a sua mãe veio pra cá quando?
R – Minha mãe veio pra cá com a mesma idade que eu, 18 anos.
P/1 – É? Com a sua avó?
R – Não. A minha avó veio primeiro pra trabalhar pra dar uma vida melhor pra minha mãe, que morava lá com os meus tios, na verdade os avós dela, os meus bisavós. E minha avó veio pra cá pra tentar dar uma vida melhor pra minha mãe.
P/1 – Veio sozinha?
R – Veio sozinha pra cá.
P/1 – Corajosa.
R – Não conhecia ninguém. Veio na cara e na coragem. Aí veio pra cá, arrumou um emprego, começou a ter uma vida estável, depois em seguida veio minha mãe trabalhar na casa da família da filha da patroa da minha avó. Aí elas começaram, minha mãe conheceu meu pai, eles namoraram, depois de um tempo eu nasci.
P/1 – Ela conheceu o seu pai aonde?
R – Ela conheceu o meu pai porque a família do meu pai é da Cruzada, que fica no Leblon, e a minha família do meu pai é toda dali. Primeiro ela conheceu a minha tia.
P/1 – Mas ela já tava morando no Vidigal ou ela tava…?
R – Não. Ela tava morando na casa da família.
P/1 – Ah, ela morou com a família logo.
R – Onde ela trabalhava. Depois ela conheceu umas pessoas, conheceu meu pai, aí ela conheceu meu pai, conheceu minhas tias. Aí ela até acabou morando na casa de uma das irmãs do meu pai.
P/1 – Mas já tava namorando-o?
R – Não. Ainda não. Foi um tempo antes. Nisso eles começaram a namorar depois, aí eles construíram a primeira casa onde minha família morou, que no caso éramos eu, meu pai e minha mãe. Meu pai e minha mãe construíram, minha mãe tava grávida de mim ainda, e eles queriam um lugar pra morar melhor, e acabaram construindo essa casa.
P/1 – Lá no Vidigal?
R – Lá no Vidigal já. Lá no Vidigal.
P/1 – Um pouquinho antes de você nascer.
R – Um pouquinho antes de eu nascer.
P/1 – E me conta um pouquinho então dessa sua avó que contava as histórias. Conta-me uma coisa que ela assim, te conta, que te marcou, que você guarda.
R – A minha avó, na verdade, me conta muitas coisas sobre a Bahia e sobre que aqui as coisas são diferentes. E ela que na época dela se eu fizesse essas coisas que eu faço agora, na época dela, com certeza a mãe dela já tinha me batido, tinha feito um montão de coisa, porque ela acha que...
P/1 – Como o quê, por exemplo? O que você pra ela...
R – Eu gosto muito de sair. E ela falava que na época dela que tu podia ter 20 anos, se tua mãe falasse que tu não ia sair, tu não ia sair. Hoje em dia não, hoje em dia minha mãe deixa, porque eu já tenho 18 anos, mas minha avó acha que não é certo. Minha avó acha que eu tenho que continuar em casa até eu fazer 21 anos e morar sozinho. Ela não acha que maioridade é com 18 anos ainda. Ela acha que é com 21 anos a maioridade e aí eu posso começar a ter minha vida.
P/1 – Ela é das antigas e segue à risca.
R – Segue à risca. Mas hoje, conversando com ela, eu venho quebrando isso, eu vou explicando que hoje em dia é diferente e ela acaba entendendo muito bem isso.
P/1 – Mas você gosta de ouvir essas histórias.
R – Gosto. Gosto. Gosto sim. Eu vou muito à Bahia visitar meus tios, irmãos dela, sobrinhos dela, vou muito lá.
P/1 – É uma família grande?
R – Família grande.
P/1 – Em que cidade da Bahia?
R – Santo Amaro da Purificação.
P/1 – Olha, a cidade do Caetano.
R – Cidade do Caetano Veloso.
P/1 – Lá no Recôncavo.
R – Lá mesmo.
P/1 – Conta-me um pouquinho de lá. Qual foi a primeira vez que você foi pra lá?
R – Primeira vez que eu fui pra lá eu tinha dois anos de idade. Eu não lembro muito bem, mas vendo fotos, eu começo a imaginar o que pode ter acontecido, como foi. Eu não lembro nada, dois anos de idade, mas fotos a gente começa a imaginar mais coisas.
P/1 – O que você imagina? Conta um pouquinho pra gente.
R – Ah, meu tio tem um quintal imenso, aí minha avó e ele me contam que com dois anos eu já gostava de bichos, de animais, já gostava de ficar o dia todo no quintal.
P/1 – Subir em árvore.
R – Subir em árvore. Mas com dois anos eu só tentava. Eu só tentava. Mas eu sempre gostei da natureza, de estar em ambientes puros, sempre gostei disso.
P/1 – E a família do teu pai é do Rio ou também veio...
R – A família do meu pai, uma grande parte é do Rio, mas tem uma metadinha que é de Minas.
P/1 – De que cidade?
R – Eu não sei, porque eu não... Eu sei que é de Minas, mas eu não perguntei sobre a cidade, nem nada.
P/1 – Mas ainda tem família lá também?
R – Na verdade, quem tem família lá agora é o tio do meu pai, que ele tem uma família lá sim.
P/1 – Mas lá você não conheceu.
R – Não. Não conheci ainda.
P/1 – Ficou mais próximo da família da tua mãe.
R – Do Rio e Bahia eu fiquei mais próximo, dessa região.
P/1 – Conte-me um pouco como foi crescer lá no Vidigal, como também é ser o filho mais velho.
R – A minha vida não foi das mais fáceis, não foi das melhores. Minha família não tinha muita condição, mas a gente tinha o que dava pra ter e a gente era muito feliz com isso. Sempre tive muitos amigos onde eu moro, conheço bastante gente lá.
P/1 – Suas brincadeiras, o que você gostava de brincar quando era pequeno? Você falou que gostava muito da natureza, de bicho, o que mais?
R – A minha rua é uma ladeira, eu moro numa ladeira, e jogar futebol na ladeira era o mais impressionante, porque tipo assim, não tem como você jogar futebol numa ladeira, porque...
P/1 – A bola vai rolar.
R – A bola sempre vai rolar pra parte de baixo. Mas mesmo assim a gente jogava bola na ladeira e era aquele futebol que valia tudo, a bola caiu na pista, não importava, a gente continuava o futebol na pista. Então a nossa grande quadra era a comunidade, que onde a bola tava, a gente jogava futebol, não importava aonde a bola foi parar, a gente jogava futebol.
P/1 – Mas quem tinha o gol mais embaixo que...
R – Não, quem tinha o gol em cima tinha vantagem sobre o que tava embaixo.
P/1 – Pois é.
R – Mas tudo que tinha dois espaços, um entre outro, já era gol pra gente. Se você tivesse duas garrafas e tivesse um espaço entre as garrafas, era o nosso gol. E pique esconde. Pique esconde a gente brincava a comunidade inteira. Lá é uma comunidade interessante, é uma comunidade muito cultural. E todas as brincadeiras da gente era a comunidade inteira.
P/1 – Muito unida.
R – Muito unida a comunidade. Muito unida.
P/1 – Você com seus irmãos também você brincava? Com era?
R – A minha irmã nasceu seis anos, mais ou menos, depois de mim. Na verdade quando minha irmã segunda mais velha nasceu, foi uma mudança na minha vida, porque eu deixei de ser o centro das atenções. E no começo você se sente excluído, porque você sempre... O pouco que você tinha, mas era tudo pra você. Aí entra outra irmã, aí você fica naquela: “Pô, agora eu vou ter que dividir aquilo, agora eu vou ter que dividir isso”. Mas ao passar do tempo eu fui crescendo e fui entendendo.
P/1 – Mas você sentiu ciúme?
R – No começo sim.
P/1 – Você se lembra de sentir ciúme?
R – No começo sim. No começo eu sentia muito ciúme dela. E aí eu começava a querer chamar atenção de qualquer maneira, mas aí eu fui crescendo e fui entendendo que era uma nova vida, que era uma nova responsabilidade pra mim. Mesmo sendo tão novo, era minha irmã. Além de ser uma responsabilidade para o meu pai e pra minha mãe, era uma responsabilidade pra mim. Aí eu fui começando a entender essa nova vida que tava entrando na nossa família.
P/1 – Eles falaram isso pra você também, que você ia ser responsável por ela também ou você…?
R – Não. Isso veio natural. Isso veio natural. Tipo assim, é mais uma pessoa dentro de casa, é uma pessoa mais nova que eu. E aí foi onde começou a vir essa responsabilidade. Foi onde eu comecei a entender que eu teria que dividir mesmo e era isso.
P/1 – E você ajudava a cuidar dela um pouco.
R – Ajudava. Ajudava. Eu não ajudava tanto porque eu também era novo, mas o que eu podia fazer, eu fazia.
P/1 – E aí seus pais trabalhavam o dia todo? Como era?
R – A madrinha da irmã, minha irmã tem duas madrinhas, uma que é irmã do meu pai, que se chama Luciana da Costa Félix, e a outra é a tia Ana. A tia Ana sempre cuidou de mim e da minha irmã, que meu pai e minha mãe precisavam trabalhar, e ela sempre cuidou da gente.
P/1 – E tia Ana é tia mesmo ou é uma tia emprestada?
R – É uma tia emprestada, que acabou virando madrinha da minha irmã também. Ela tem uma filha chamada Naiane, que tem a mesma idade que a minha, que foi onde eu comecei a ficar naquela casa. Quando eu tinha três anos foi quando eu comecei a ficar naquela casa e cresci junto com a filha dela, e com outro filho dela. Depois minha irmã passou a conviver nessa casa, porque meus pais tinham que trabalhar. Aí ela também tem outra filha, que tem a mesma idade da minha irmã, que é a Taiane. E aí fomos crescendo nisso. E cada vez entravam mais pessoas dentro da casa da tia Ana pra poder morar lá. Morar não...
P/1 – Ela fazia como uma creche?
R – É. Como uma creche, ela tomava conta das crianças. E todo mundo era vizinho.
P/1 – Então era bom também.
R – Era bom. Era bom. Foi uma experiência muito boa na minha vida.
P/1 – E da escola? Onde você estudou?
R – Estudava na Santos Anjos, que é uma escola ali na Cruzada, que na verdade é uma escola e uma igreja. É escola municipal, mas tem uma igreja. Na minha escola eu tive muitas professoras, muitas foram... Na verdade, todas são marcantes na minha vida, mas tem umas que...
P/1 – Marcam mais.
R – Marcam mais.
P/1 – Diga-me o nome de uma que te marcou mais e por quê?
R – Cláudia. Professora Cláudia. Porque além de ela ter me feito repetir o CA duas vezes, três vezes, ela era uma professora muito querida, que ela me tinha como filho dela. E ela não me deixava passar de ano por eu ser muito pequeno. Porque eu sempre fui pequeno, eu era sempre o menor da turma. E ela tinha esse medo do que podia acontecer no futuro pra mim. Então ela sempre conversava com meu pai: “Não, deixe-o ficar mais um ano. Deixe-o ficar mais um ano”. E meu pai sempre, pra não contrariar, deixava, mas aí isso acabou atrasando a minha vida escolar também. Só que eu não a culpo de nada, ela só queria me proteger como uma mãe.
P/1 – Mas você gostava da escola também?
R – Ah, gostava. Gostava.
P/1 – Tinham colegas que moravam também perto de você? Como você ia pra lá? Seus pais te deixavam? Como era?
R – Meus pais me levaram à escola até os seis anos. Quando eu fiz sete anos, aí eu tive que começar aprender a ir pra escola sozinho. Saía do Vidigal e ia para o Leblon sozinho.
P/1 – Pegava o ônibus?
R – Pegava o ônibus, tudo sozinho. Porque eles também tinham que trabalhar, eles também não podiam ficar sempre... Eles faziam o que eles podiam por mim, mas teve uma hora que eu comecei a ter que criar certa responsabilidade. Aí comecei a ir pra escola sozinho. E eu ia sempre sozinho, mas aí a parte da tarde. Eu ia sozinho, porque era de manhã, então tinha muita gente indo pra escola, então era uma preocupação a menos. Eu sempre descia com uma vizinha. Mas na hora de voltar não, na hora de voltar eu ficava das minhas tias, que fica na Cruzada, que é do lado. E à noite, quando meu pai ou a minha mãe saíam do trabalho, eles me buscavam pra casa.
P/1 – Eles escolheram também essa escola que era perto das suas tias.
R – É. Eles acabaram escolhendo a escola porque era perto ali da minha família, das minhas tias, dos meus primos.
P/1 – E a tua avó também ficava com vocês? Como era?
R – A minha avó...
P/1 – Ou ela trabalhava?
R – Minha avó trabalhava, mas só que minha avó é uma mãe pra mim no sentido de... Tipo assim, quando minha mãe era pequena, ela teve que trabalhar muito pra manter a minha mãe e os pais dela, e os meus tios, pra ajudar em casa. Então quando eu nasci ela começou a fazer por mim tudo que ela não pôde fazer pela minha mãe. Ela fazia tudo por mim. Se você falar assim: “Ô Isabel, você tem que atravessar o oceano para o Arthur poder viver”. Ela atravessaria. Então a minha avó é uma figura muito, muito importante na minha vida.
P/1 – E me conta, você tinha me falado antes das dificuldades. Até agora eu só vi que você tem essa família que é toda unida e é toda... Tem uma rede também de pessoas que colaboram com teus pais, que ajudam também, a tua avó, que também... O que era uma dificuldade pra você?
R – Eu não posso dizer que minhas dificuldades eram muito grandes, mas era, tipo assim, aquela necessidade às vezes de você precisar mais do seu pai e da sua mãe perto de você, eles terem que trabalhar. Às vezes você querer conversar e não poder, porque tá todo mundo meio que ocupado. Então eu sempre ficava... Abaixo dos oito anos eu começava a voltar pra casa sozinho, da escola, então eu ficava a maioria do tempo em casa sozinho, sozinho em casa. Meus pais chegavam tarde, na hora que eles chegavam já estava quase na hora de eu dormir, porque no dia seguinte tinha que ir pra escola cedo. Foi isso. Hoje em dia até eu não consigo conversar muito com meus pais em relação a isso, porque eu sempre fui sozinho. Eu não os culpo, eles tiveram que trabalhar pra manter a minha vida e da minha irmã. Mas até hoje eu não consigo conversar muito com meus pais sobre isso, porque na minha infância eu não tinha muito link pra conversar com eles, aí eu sempre fui muito sozinho no sentido de conversa.
P/2 – Mas você tinha algum amigo próximo ou mais alguém pra dividir as coisas, as bagunças?
R – Eu tinha. Eu tinha. Porque na minha rua parece que todas as mães agora fazem os filhos juntas. Porque a diferença de idade são dois anos, um ano. Eu tenho 18, o menino mais velho que conviveu comigo hoje tem 23 anos. Então se você perceber, não é muita diferença. O resto tem 19 anos, 18 anos, 17.
P/1 – Então era um grupo de amigos.
R – Então era um grupo de amigos muito próximo. Uma pessoa que também foi muito importante na minha vida foi o meu primo Wallace. Ele é filho da irmã do meu pai e ele nasceu em Realengo, foi criado com o pai dele. E quando ele fez oito anos de idade, ele foi morar no Vidigal. E aí era o meu cúmplice. Tudo de certo e errado que a gente fazia, a gente fazia junto. E era sempre naquela, um acobertando o erro do outro, nunca ninguém contava o que realmente tinha feito. E isso foi muito bom, porque ali sim eu comecei a ter uma figura mais próxima de mim. Tem a mesma idade que eu, ele vai completar 18 anos agora no sábado, ele também é elenco da minissérie. Ele vai completar 18 anos agora dia oito de setembro. Então foi uma pessoa que sempre foi muito próxima a mim. E a gente sempre teve os mesmos sonhos: ser músico, que hoje em dia a gente começou essa carreira de músico, a gente tem uma banda, um grupo de rapper, que a gente...
P/1 – Vocês começaram isso quando?
R – A gente começou isso há quatro anos com nossa professora Jackeline, que foi uma grande inspiração pra gente em questão musical. Porque quando a gente era pequeno, ela já tinha esse laço materno. Quando a gente entrou no Nós do Morro, eu entrei no Nós do Morro com sete anos de idade, e quando a gente entrou lá, ela já veio já como uma figura materna pra gente.
P/1 – Conte-me, como você chegou ao Nós do Morro? Seus pais quiseram, você se interessou, de onde veio isso?
R – Um interesse meu, vindo de mim. Porque eu tinha uns amigos que já faziam antes de mim já e comentavam. Eu não fazia nada o dia inteiro e aí eu comecei a perceber que eu precisava de uma ocupação pra minha vida. Aí eu comecei a encher o saco do meu pai: “Ah, pai, eu quero fazer teatro, eu quero fazer teatro”. Encher o saco da minha mãe. E certo dia eu fui me inscrever no teatro, aí fiz um teste pra entrar no teatro, e na primeira vez que eu fiz o teste eu passei. Aí foi um mundo mágico pra mim, novas coisas, novas pessoas, e foi tudo muito bom. E aí eu conheci a Jackeline.
P/1 – Que era lá do Nós do Morro?
R – Que já era do Nós do Morro já. E, tipo, ela veio como uma mãe também pra mim lá dentro, porque tudo que eu aprendi... Eu não sei muito sobre música, to começando a aprender agora, mas tudo que eu aprendi foi ela que me ensinou, sobre a música.
P/1 – Quais foram as primeiras coisas que você aprendeu sobre música?
R – Sobre música? Eu aprendi ritmos, tocar. Hoje eu sei tocar, eu toco percussão em geral hoje. Sei tocar surdo, tamborim, repique, agogô, pandeiro, atabaque, timbau. Percussão, hoje, é uma área que eu posso dizer pra você que eu domino, eu sei tocar... Eu domino. E foi meu primeiro contato com a música, os toques.
P/1 – E aí a música foi maior do que o teatro? Ou ficou igual? Como foi?
R – No começo o teatro... Ele sempre foi grande na minha vida. Mas depois que eu comecei a compor minhas próprias letras, a música veio tomando uma força maior e começou a se igualar com o teatro, começou a se igualar mesmo. E hoje, pra mim, eu acho que um é o complemento do outro. É um complemento do outro na minha vida, hoje em dia.
P/2 – Como você entrou no teatro? Explica isso pra gente. Como foi seu primeiro contato com o teatro? Você assistiu a uma peça, você foi...
R – Na verdade foi. Uns amigos da minha rua já faziam teatro, aí: “Ah, vamos lá assistir minha peça, tal dia, tal dia”. E eu fui. E nessa peça foi o momento mágico, foi onde eu acho que realmente eu abri a porta da minha vida.
P/1 – Você lembra qual era a peça?
R – “É proibido brincar”, direção do Guti Fraga. E foi um momento mágico na minha vida, foi onde eu descobri que eu poderia viver outras vidas. Então eu me identifiquei muito com o teatro. Aí eu fiquei com essa vontade imensa também de fazer parte daquilo, de entrar naquele universo e poder compartilhar o pouco que eu sabia com todo mundo.
P/1 – E aí lá também foi o que, primeiros ensaios, eles deram uma noção do teatro, como era?
R – Aí tinha uma grade de aulas. Toda quarta-feira eu tinha aula de teatro com a professora Rosana Bastos, aí eu ia sempre, eu ia sempre. O sistema é o seguinte, a gente tem aulas o ano inteiro, aí chega ao final do ano cada turma mostra o que trabalhou o ano inteiro e mostra uma peça de teatro. Aí minha primeira peça foi “O país do Gênio magro”. Eu fazia o Gênio. E, tipo assim, foi a realização de um sonho, de um mundo que eu tava criando dentro da minha mente, eu cheguei ao topo do mundo que eu criei dentro da minha mente. Isso foi muito bom pra mim, muito importante.
P/1 – Mas essa peça, quem escreveu?
R – O autor, desculpa, mas eu não lembro o autor, porque realmente tem muito tempo, mas foi dirigida pela Rosana Bastos, que era uma multiplicadora do Nós do Morro.
P/2 – Quantos anos você tinha?
R – Oito anos. Oito anos de idade.
P/1 – E aí seus pais foram assistir?
R – Nesse dia a minha família toda se mobilizou pra ir assistir à minha peça de teatro. Então pra mim foi melhorar ainda, de eu estar lá e ver a minha família me assistindo, ser o centro por alguns minutos, ser o centro das atenções de quem estava ali me assistindo.
P/1 – E a plateia toda também, o que você sentiu naquela hora?
R – Ah, eu senti que eles gostaram, porque... A não ser nesse momento que eu estou falando, eu sou uma pessoa muito palhaça. Só que quando eu vejo a câmera, eu meio que fico meio tímido. Mas com meus amigos eu sou superbrincalhão, supertudo. Entre meus amigos, eu gosto de aparecer, eu gosto de sempre estar ali chamando a atenção, mas sempre, claro, sem passar do limite, porque tudo tem um limite na vida. Mas eu gosto sim, eu gosto de aparecer. E muitas pessoas falam pra mim assim: “Arthur, teu lugar é o circo, não é o teatro, não”. Porque falaram que se eu fizesse teste pra palhaço eu ia passar brincando. E aí foi. Esse momento do teatro foi muito bom na minha vida.
P/1 – E aí você continua então no Nós do Morro?
R – Continuou no Nós do Morro. Como eu expliquei, apareceu a música e um tempo depois começou a aparecer a dança.
P/1 – E a dança apareceu aonde?
R – A dança apareceu quando a gente já tinha a nossa banda de rap já.
P/1 – A banda você fez com seus amigos?
R – Com meus amigos e com a nossa professora, que era a Jakeline. Que na verdade a banda é formada por mim, meu primo Wallace, Ramon Francisco e Jonathan Augusto.
P/1 – Qual é o nome?
R – Os Panteras Negras. A gente vem nessa linha dos primeiros panteras negras que existiram no mundo, que eles vieram com a missão de revolucionar. E esse nome foi escolhido exatamente por isso, porque a gente vem com a ideia de revolucionar nessa área. Porque a gente vem cantando sobre a nossa vida, sobre o que a gente passa, sobre as nossas brincadeiras de criança, sobre o que acontece no nosso dia-a-dia dentro da nossa comunidade. Depois da banda formada, a gente conheceu uma pessoa chamada Djaneth, que aí foi outra figura... Que na verdade nós quatro sempre fomos cercados de figuras femininas na nossa vida. Na verdade os quatro foram mais criados pelas mães, então a gente sempre foi cercado de figuras femininas na nossa vida.
P/1 – E a Djaneth apareceu como?
R – Ela chegou pra completar.
P/1 – Mas era pra fazer parte também.
R – É. Ela chegou pra fazer parte. Tipo assim, ela chegou primeiro como espectadora, aí ela foi desenvolvendo um trabalho corporal de dança com a gente.
P/1 – Mas ela é mais é velha, é da idade de vocês, ou...
R – Ela é mais velha. Ela tem 27 anos, se eu não me engano.
P/1 – Mas gostou do trabalho de vocês?
R – Ela gostou do trabalho da gente e aí ela começou trabalhar com esse tipo de trabalho de dança com a gente. Começou a trabalhar isso então com a gente. E aí foi mais uma pessoa que chegou pra alimentar e complementar esses quatro meninos com sonhos na cabeça. Foi mais uma porta para o nosso sonho crescer ainda mais.
P/1 – E aí você também se interessou pela dança?
R – Foi nesse momento... Na verdade eu me interessei mais por... Eu já dançava antes, mas o que eu dançava era curtição, era funk com os amigos, ia para o baile dançar funk. E aí quando ela chegou, eu comecei a me interessar por dança de salão.
P/1 – Que bacana.
R – Minha família toda é do samba e eu já desfilei em escola de samba já. E depois disso eu comecei a me interessar por dança de salão: samba de gafieira, bolero, soltinho, salsa, valsa.
P/1 – Que bacana.
R – E hoje em dia eu danço um pouco de tudo. Eu posso dizer pra você que eu danço um pouco de tudo.
P/2 – Pé de valsa.
R – Pé de valsa.
P/1 – Ah, que bacana. E aí você então aprendeu um pouquinho de cada ritmo desses das danças.
R – Primeiro eu a vi dançar. Depois que eu a vi dançar, aí eu falei para o meu pai que eu queria dançar, eu assim meio para o meu pai que eu queria dançar, aí meu pai: “Você já faz teatro e você já é músico, agora você também quer dançar?” “Quero dançar também, pai”. Foi onde eu comecei a... Porque todo mundo fala que o geminiano quer pegar o mundo com as mãos, ele quer fazer tudo ao mesmo tempo. E eu sou muito assim, eu quero fazer tudo ao mesmo tempo, só que pra mim é bom isso, porque eu sempre quero estar me ocupando com alguma coisa, nunca consigo ficar sem fazer nada. Então eu sempre gostei de fazer tudo.
P/1 – E aí vocês incorporaram a dança também na banda? Como foi?
R – Incorporamos sim. Antigamente a gente só... A gente tem um DJ, que é o Alan, aí a gente só cantava, só cantava, só cantava. Quando ela chegou, a gente começou a introduzir o hip hop, o street...
P/1 – Dance.
R – Dentro das músicas da gente.
P/1 – Bacana. E aí vocês se apresentavam também com a banda de vocês? Onde vocês se apresentavam?
R – Lá no Vidigal tem um programa chamado Campinho Show, que é da comunidade, que é feito pelo próprio Nós do Morro, que a gente faz um entretenimento lá pra comunidade, a gente faz show de dança, música, tudo, tudo, tudo dentro desse espaço. Aí as nossas primeiras apresentações foram lá. Depois a gente começou a apresentar em outros lugares. E a nossa carreira foi começando a andar. Só que aí a gente alguns problemas, que a gente era menor ainda de idade, então não era em todo lugar que a gente podia se apresentar. Então a gente sempre ficava naquela: “Vamos ensaiar, vamos ensaiar que vai aparecer alguma coisa”. A gente sempre ensaiava, escrevia as nossas próprias músicas.
P/1 – Vocês todos escreviam? Quem escrevia mais?
R – Quando começou, quem escrevia éramos eu e o Ramón, a gente escrevia. Mas a gente sempre foi assim, a gente escrevia metade da letra, chegava no dia do ensaio: “Ah, eu não consegui terminar a letra”. Aí todo mundo dava opinião: “Acho que você tem que colocar isso, acho que tem que colocar isso”. E aí criava a música.
P/1 – Hum. Bom também.
R – Eu e o Ramón sempre fomos criando as músicas, depois o meu primo também começou a se interessar por criar músicas, o Wallace. Ele também começou a escrever as músicas dele, depois o Jonathan começou também a escrever. Na verdade não é Jonathan, é Donathan. Também começou a escrever as músicas dele e todo mundo começou a escrever as suas músicas.
P/1 – É Donathan, mas vocês o chamam Jonathan?
R – Não, a gente o chama de Doninha.
P/1 – Doninha?
P/2 – Você tem uma música aí na memória pra dar pra gente?
P/1 – Cantar um pedacinho?
P/1 – Pra mostrar pra gente um pouco?
R – Tenho. Tenho.
P/1 – Canta um pedacinho de uma que você gosta.
R – Eu vou cantar a primeira música que eu escrevi, que era na minha infância. É assim... Caramba, fiquei nervoso agora. Posso cantar o refrão?
P/1 – Pode. Canta o que você quiser.
R – É assim: “Desde pequenininho, sempre gostosinho. Desde pequenininho, sempre malandrinho. Desde pequenininho, sempre absoluto. Desde pequenininho sou respeitador, que pega as novinhas com muito amor”.
P/1 – Muito bom.
R – É bem criança.
P/1 – Você criou essa com quantos anos?
R – Eu criei essa música eu tinha 12 anos de idade.
P/1 – Eu imagino.
P/1 – E aí fez um sucesso?
R – E aí onde a gente mora virou um sucesso, virou um sucesso. Essas músicas todas viraram sucesso onde a gente mora.
P/1 – E você continuou com o teatro também, com o Nós do Morro?
R – Continuei com o teatro, sempre com teatro, até hoje eu faço parte do Nós do Morro. Sempre continuei com o teatro.
P/1 – Ah, que bom.
R – Sempre continuei com o teatro. Só que dessa vez eu comecei o teatro, aí eram a música e a dança, todos ali, lado a lado. Porque hoje em dia pra você ser um artista, você tem que ser um artista completo. Você tem que saber dançar, cantar, interpretar. Tem que ser um artista completo hoje em dia.
P/1 – Nisso você tem razão. E como você também conciliava com o colégio? Continuou fazendo seu colégio?
R – Continuei estudando. Continuei estudando. Eu tinha um acordo na verdade com o meu pai, com o Guti Fraga, que era que eu podia fazer o que eu quisesse, contanto que eu continuasse estudando.
P/1 – A partir do momento que você começou a fazer teatro e a escrever suas músicas, isso te ajudou na escola?
R – Ajudou. Porque aí eu comecei a abrir mais a minha mente e ver que não era só aqui, que não era só o eu. Comecei a ver que existiam mais pessoas em volta, comecei a me desenvolver melhor a escola. Foi muito importante. Teatro e escola, música e escola, foram muito importantes na minha vida.
P/2 – Vocês se apresentavam na escola?
R – Não, porque... Ah, sei lá, mas o meu primeiro filme que eu fiz na minha vida, eu levei pra minha escola.
P/2 – Qual foi o filme?
R – “Show de Bola”. Na verdade não foi o primeiro.
P/1 – Como foi esse filme?
R – Esse filme é de direção alemã, que tem como elenco eu, o Thiago Martins, Luis Otávio, Lui Mendes, entre outras pessoas. Aí foi um filme que foi marcante, foi o meu primeiro longa metragem que eu tinha um papel importante.
P/1 – Mas me explica melhor aí. Direção alemã?
R – Direção alemã.
P/1 – Foi o quê? Uma equipe alemã que chegou?
R – Era uma equipe alemã que chegou ao Rio querendo fazer um filme sobre futebol. Aí começaram a fazer esse filme sobre futebol aqui no Rio, na Favela Tavares Bastos, na Comunidade Tavares Bastos, no Rio de Janeiro. O filme falava sobre um menino que tinha um sonho de ser jogador de futebol, só que ele tinha várias dificuldades, que ele morava em morro, a mãe dele era doente, e da família dele só tinha ele e o irmão dele. Tinha envolvimento com o tráfico de drogas, tinha que ter tráfico de drogas, então ele teve que se esquivar disso tudo pra chegar ao objetivo dele de ser jogador de futebol. E ele se apaixonava pela irmã do dono da comunidade. Foi uma história de idas e vindas, mas no final ele meio que consegue o objetivo dele de jogar no Fluminense, que era o time do coração dele.
P/1 – Mas aí era lá Tavares Bastos, mas como vocês foram chamados? Quem te chamou?
R – Então, essa produção foi ao Nós do Morro à procura de novos atores. Aí teve um teste, muitas pessoas fizeram o teste. Na verdade, do Nós do Morro éramos eu, o Thiago e o Luís Otávio, e mais Patuke, e mais uns outros. Aí nós fizemos o teste, os diretores gostaram muito da gente, aí escolheu a gente pra fazer esse filme.
P/1 – Ai, que bacana. A seleção passa por uma... Quantos anos você tinha?
R – Eu tinha entre 13 e 14 anos.
P/1 – Olha só. E aí já também aquilo mudou? Como você viu também essa parte? O que era diferente do teatro para o cinema? Você gostou do resultado depois?
R – Eu gostei do resultado, gostei bastante do resultado, mas na verdade é muito diferente do teatro e da televisão, porque no teatro você... No caso eu, imagino que é uma caixa preta. Eu imagino que é uma caixa preta e só a frente que é o público. Ou senão, quando é semiarena, a frente e os lados, e a arena, o circulo todo. A câmera não, a câmera você tá fazendo a coisa ali pra câmera. No teatro não, no teatro você abre, mesmo que seja uma caixa preta, vê abre para os lados. Na câmera não, na câmera é ali, à sua frente. E o teatro é uma parada muito maneira, muito boa.
P/1 – Arthur, retomando, você tava contando do seu primeiro filme que você fez, do documentário alemão. Então me conta, foi essa primeira experiência, tiveram outras?
R – Tiveram mais experiências antes, mas, como eu posso dizer, foi meu primeiro grande papel no cinema, foi nesse filme, meu primeiro longa metragem foi esse filme.
P/1 – Mas você falou de outras experiências antes no cinema?
R – Não. Não. Eu falei só dessa. Essa foi a primeira que eu falei, no caso.
P/1 – E aí então também foi pra você também um aprendizado?
R – Foi um aprendizado. Foi muito importante pra minha carreira, porque eu aprendi bastantes coisas com o personagem, aprendi muita coisa com o personagem, coisas pra vida, coisas que não importa a dificuldade, se você quer uma coisa, você consegue. Aprendi isso, na verdade, com a história do filme, que não importa o tamanho da dificuldade, se você realmente quer alguma coisa, você vai conseguir, basta você lutar pra isso acontecer.
P/1 – E você aprendeu também essa diferença entre atuar no cinema e no teatro.
R – No teatro. Cinema e teatro eu aprendi.
P/1 – E isso pra você foi importante?
R – Foi.
P/1 – Em termos práticos da atuação, o que muda?
R – Muda que no teatro acho que é tudo mais verdadeiro. No teatro se você chora, você chora, se você sorri, você sorri. No teatro, o público consegue ver a sua emoção claramente. No cinema já tem vários falsetes, tipo, que você não precisa necessariamente estar chorando pra mostrar que você tá triste. No teatro tem mais essa coisa mais rígida de se mostrar. No cinema não é tão assim.
P/1 – Então você tinha 13 anos?
R – De 13 pra 14 anos nesse filme.
P/1 – E como foi? Quando você viu o filme pronto?
R – Na verdade, no meio do filme teve um problema de verba, mas todo mundo que fez o filme a gente ganhou um piloto do filme e a primeira experiência foi ver em casa, foi ver com a minha família em casa, eu gostei, mas aí em 2005... Não lembro se foi... Não. Acho que foi 2008 ou 2007, o filme veio para o Brasil no cinema, aí eu me vi no cinema pela primeira vez.
P/1 – Qual foi o resultado que te passou?
R – Ah, sei lá, foi muito diferente, eu nunca imaginei que eu ia me ver no cinema.
P/2 – Qual o nome do filme?
R – “Show de Bola”. Depois veio o filme “Cidade dos Homens”. Primeiro vieram as minisséries da Globo, que eu fiz algumas delas, “Cidades dos Homens”. Depois veio o filme.
P/1 – Mas teve minissérie antes do “Cidade dos Homens”?
R – Eu fiz a minissérie antes do filme. Depois veio o filme “Cidade dos Homens” no cinema, que eu também...
P/1 – A minissérie “Cidade dos Homens”?
R – Eu fiz a minissérie e o filme. Quando veio o filme também eu já tava mais tranquilo, essa relação de me ver no cinema. Depois veio “O Maior Amor do Mundo” de Cacá Diegues, que também foi uma experiência muito maneira. Depois da primeira vez você fica tranquilo. Depois da primeira vez que você se vê no cinema, fica tranquilo, eu fiquei tranquilo.
P/2 – E você levou o filme também pra escola, não levou?
R – Ah, levei.
P/2 – Como foi isso?
R – Meus amigos de escola ficaram assustados. Sei lá, porque ninguém esperava. Ah, uma pessoa que tá todo dia com a gente tá no filme. Tem gente que não espera isso, ainda mais quando você vem de um lugar humilde, de um lugar onde todo mundo tem a mesma vida, um emprego e mantém a vida, aí ninguém espera, tipo assim, caraca a pessoa que cresceu comigo tá no cinema.
P/1 – E com a minissérie também da Globo?
R – O “Cidade dos Homens”?
P/1 – É. Que também tem um poder de todo mundo ver?
R – Ah, mas aí meus amigos já estavam mais tranquilos. Eu já tinha feito alguns filmes antes, já estavam mais tranquilos. Alguns não, alguns ainda ficavam tipo assim: “Como isso tá acontecendo?”. Mas outros já ficavam mais tranquilos, porque já estavam acompanhando a minha trajetória de antes, aí ficavam mais tranquilos.
P/1 – E as professoras da escola também?
R – As professoras gostavam muito, só que elas sempre falavam, não é porque você é ator que eu vou te tratar diferente. Eu falei pra elas: “Claro que não”. Eu sou como todo mundo, eu sou como todos os meus amigos. E é supertranquilo.
P/1 – E atrapalhou teu rendimento na escola, você atuar?
R – Quando eu comecei a fazer filmes, de certa forma atrapalhou.
P/1 – Por quê?
R – Antigamente eu dividia meu tempo entre dois: teatro e a escola, no caso teve também a música. Aí eu tive que começar a dividir meu tempo entre mais coisas, porque qualquer lugar que parasse eu tinha... Eu gravava texto na escola, gravava texto no ônibus voltando pra casa. Então, tipo assim, o texto era uma responsabilidade que pesava muito, então eu não ia muito à escola por causa de gravações, gravava de manhã, chegava à noite, no dia seguinte eu tinha que gravar de manhã e de noite de novo. E aí eu não tinha esse tempo todo. Entendeu? Atrapalhou um pouco, mas depois a gente foi retomando esse tempo.
P/1 – E aí você continuou então mantendo Nós do Morro, manteve a sua banda?
R – Mantive. Mantive. Fui mantendo tudo. Fui mantendo tudo.
P/1 – Mas dava pra administrar seu tempo mesmo com tanta coisa?
R – Essa minha temporada de começar fazer filme e a minissérie, pá, eu deixei um pouco de ser criança, porque na hora que eu chegava das gravações, meu amigos já estavam em casa, praticamente indo dormir. Então eu comecei ter um pouco mais responsabilidade de vida de adulto.
P/2 – E dava tempo pra namorar?
R – Não. Não. Na verdade...
P/1 – Quando você se sente mais vida de adulto? Quantos anos você tinha que você acha que começou a sentir isso?
R – Quando eu fiz 13 anos. Que aí a minha vida no teatro começou a mudar, era ensaio pra musical, queria fazer musical fora do Nós do... Porque, tipo assim, o Nós do Morro a gente fazia só peça de final de ano, então tudo que a gente fazia a mais era pra fora. Claro, lá também tem a parte de cinema, que agora de uns anos pra cá o cinema Nós do Morro cresceu muito, tem diretores de lá agora que estão concorrendo muitos concursos fora, já ganhei até um prêmio num festival de Pernambuco de melhor ator, de um filme feito no Nós do Morro.
P/1 – Que bacana.
R - Mas fora isso, a vida de cinema era toda fora do Nós do Morro. Então era bem mais difícil, foi aí que eu comecei as minhas responsabilidades. Que eu sabia que além de eu ir pra escola e ter minha vida, eu tinha que, de certa forma, trabalhar. Aí foi quando eu comecei a ajudar minha família também, que eu comecei a pensar assim: “Pô, meu pai e minha mãe fizeram tanto por mim, por que agora que eu tenho um dinheiro eu não posso ajudar também na minha casa?”.
P/1 – Qual foi o primeiro dinheiro que você ganhou com o trabalho mesmo, que você acha que foi o teu primeiro trabalho mais assim, recebendo, qual foi?
R – Clipe do Rappa.
P/1 – Qual?
R – Clipe do Rappa.
P/1 – Clipe do Rappa?
R – “Reza Vela”.
P/1 – E aí você já recebeu?
R – Foi onde eu recebi meu primeiro cachê de um trabalho que eu tinha feito.
P/1 – Esse você tinha quantos anos? Foi antes do...
R – Foi antes. Foi meu primeiro trabalho na vida com câmera.
P/1 – O que você fez com esse primeiro dinheiro que você ganhou?
R- Com meu primeiro dinheiro eu comprei meu vídeo game. Tá, ajudei minha mãe e meu pai em casa, mas eu comprei meu vídeo game, meu primeiro vídeo game.
P/1 – E ajudou teus pais?
R – E ajudei meus pais.
P/1 – E qual foi a sensação de ganhar o teu dinheiro, teu próprio dinheiro?
R – Na verdade, como eu era muito novo, pra mim era só mais um dinheiro. Mas depois que eu fui crescendo, eu descobri que com seu primeiro dinheiro também vem as suas responsabilidades, de você saber dividir. O que você vai comprar pra você, de você saber que tem seu futuro ainda e de saber que tem a sua família que te ajudou a vida toda, que não custa nada também você ajudá-la. Então era meu dinheiro que eu tinha que dividir em três coisas: eu no momento, eu no futuro e a minha família.
P/1 – E você então com esse seu pensamento para o futuro você guarda um dinheiro?
R – Guardei. Guardei.
P/1 – Tem guardado. Isso é bacana.
R – Todo trabalho que eu faço, eu guardo um pouco, porque na verdade a gente não sabe o que vai acontecer amanhã, tem muito isso na vida, a gente não sabe o dia de amanhã, então a gente sempre tem que estar com os pés no presente, mas pensando no futuro.
P/1 – Muito bom. Um você é muito responsável. Muito moço pra tanta responsabilidade. Agora me conta dessa parte assim, que você já se sentiu adulto, a Júlia te perguntou do teu namoro, qual foi o teu primeiro namoro?
R – Meu primeiro namoro ou meu primeiro namoro, namoro... Não, tem uns tipos de namoro, calma.
P/1 – Não, teu primeiro relacionamento.
R – Tem aquele namoro quando a gente tem na infância, que a gente fala que é namorado, mas que a gente não é namorado.
P/2 – Quando você a gostar de alguém?
R – A primeira pessoa que eu gostei de verdade não tem muito tempo, tem três anos que eu comecei a gostar de uma pessoa de verdade, que foi minha primeira namorada séria.
P/1 – Aí era namorada, namorada?
R – Era namorada séria. Aí a gente teve uma história de... Que é a minha ex-namorada, que eu contei.
P/1 – Da música?
R – É.
P/1 – Depois você me conta.
R – Foi… começou há três anos, depois disso a gente ficou namorando quase dois anos e foi muito bom pra mim esse namoro.
P/1 – Você pode falar o nome dela?
R – Posso. Mariana.
P/1 – Mariana? Aí então duraram três anos?
R – Não. Nossa história tem três anos, mas o nosso namoro teve quase dois de duração. Nossa história de começar a ficar tem três anos, mas dentro desses três anos nosso namoro ia fazer um ano e nove meses.
P/1 – Mas terminou há pouco tempo?
R – Terminou esse ano, no começo do ano.
P/1 – Teve antes dela, outra do outro.
R – Tiveram antes dela também outras namoradas, tiveram antes dela.
P/1 – Mais namoradinha.
R – Não, teve uma antes dela que também foi sério, que por incrível que pareça também se chama Mariana. Por incrível que pareça as duas eram Marianas.
P/1 – Mariana um e Mariana dois.
R – Eu não sei explicar assim, porque era Mari e Nana. A Mari foi a primeira Mariana e a Nana foi a segunda Mariana.
P/1 – E aí vocês saíam?
R – Meus pais sabiam, tudo certo, tudo nos conformes, tudo como deve ser.
P/1 – Apresentando e tudo pra pai e mãe?
R – Ahã. A mãe da primeira Mariana não gostava de mim, não, mas...
R – Por quê? Ela dizia?
R – Não.
P/1 – Por que você era ator?
R – Não, não era por isso não, é porque ela falava que eu tinha cara de ser galinha.
P/1 – .
R – Aí ela não gostava muito de mim, não.
P/1 – Mas ela tinha razão?
R – Naquela época eu diria que ela tinha razão sim. Naquela época ela tinha razão. Mas com perdas na nossa vida a gente vai começando a aprender mais coisas. E com as minhas grandes perdas, que foram essas duas Marianas, que foram as minhas grandes perdas, eu aprendi muita coisa. E eu tenho certeza que eu não cometeria mais os mesmos erros.
P/1 – Diga-me um erro que você acha que cometeu.
R – Traição. Foi o maior erro.
P/1 – E foi descoberto?
R – O quê?
P/1 – E foi descoberto?
R – Não fui descoberto, porque eu sou um menino muito cara de pau, eu sempre falei pra ela assim: “Se você vocês me perguntarem, eu vou dizer a verdade pra vocês. Enquanto vocês não me perguntarem eu não vou falar nada, vou me queimar, mas qualquer dia que me perguntar eu vou dizer”. Além da traição, foi isso também que me prejudicou, porque um dia uma delas me perguntou e eu falei a verdade, aí foi onde me prejudicou bastante. Só que depois disso eu aprendi que não vale a pena você trocar o que você tá construindo numa vida por uma coisa que pode ser só uma noite, não vale a pena, não é válido.
P/1 – E seus amigos também, conseguia ter tempo pra... Tem os seus amigos da banda.
R – É.
P/1 – E tinha outros amigos, vocês saíam juntos, como vocês se divertiam?
R – Na verdade, os meus amigos da banda, o Doninha não, que o Doninha foi o que chegou por último na nossa vida, mas eu, o meu primo e o Ramón, a gente se conheceu no teatro, a gente cresceu junto dentro do teatro. Então já era uma parada de amizade. Depois chegou o Doninha.
P/1 – Esses são seus amigos mesmo então, não é só da banda?
R – Eles são meus amigos sim, porque de certa forma a gente se conheceu aos oito anos. Tirando o Jonathan, que antes de conhecer o Jonathan a gente já tinha 14 anos, foi onde a gente conheceu o Jonathan, a idade que a gente conheceu o Jonathan, 14 anos.
P/1 – E são com eles que você sai pra passar, pra se divertir? Como vocês se divertem também quando não estão...
R – Quando a gente não tá trabalhando.
P/1 – Não estão trabalhando?
R – Por incrível que pareça, a gente tem os gostos muito parecidos, então a gente sempre vai para o mesmo lugar. Sabe o que a gente gosta de fazer, realmente? A gente gosta de ir para o shopping comprar roupa. É o que a gente gosta, a gente gosta de comprar roupa. A gente sempre procura manter o estilo, a gente sempre procurar estar na moda, manter a moda.
P/1 – Diga-me o que é um estilo teu. Como é teu estilo? Como você define teu estilo?
R – Eu não sei, porque eu sou muito bipolar.
P/1 – Como assim?
R – Agora eu to rindo, to brincando, tá.
P/1 – O que mudou e tá sendo o teu estilo? Mudou alguma coisa no teu estilo nesses últimos anos?
R – Ah, mudou.
P/1 – Como? Conte-me como era o Arthur antes e o Arthur hoje.
R – O Arthur antes era um estilo descalço, só de camisa, só de bermuda, que ficava andando no morro o dia inteiro, jogando bola, saía de casa sete e meia da manhã pra ir pra escola, chegava a casa, colocava a mochila, voltava pra casa às dez.
P/1 – Jogando bola lá.
R – Jogando bola, brincando. Esse era o Arthur. Depois de um tempo pra cá eu comecei: “Ah, não, calma, eu também tenho que me cuidar também”. Aí eu começava a... Eu nunca liguei pra essa coisa de marca. Se eu visse uma coisa, eu gostasse, não importava, eu queria, queria, aí eu trabalhava, ajudava alguém, arrumava um dinheirinho, ia lá, comprava, minha mãe me dava, meu pai me dava. De um tempo pra cá não, eu comecei a pensar: “Poxa, eu comecei a trabalhar, criar uma vida social meio que independente, então por que agora que eu to com dinheiro eu não posso querer comprar o melhor também?”. Mas nunca liguei pra questão de... O que eu ganhar, pra mim tá bom, mas seu eu tenho o meu dinheiro, eu quero o melhor. E aí isso influencia muito no estilo. Eu gosto de tênis cano longo, gosto de usar blusa maior que eu, apesar de até hoje eu vestir número de criança. Mas só que eu gosto de comprar coisas maiores, roupas maiores.
P/2 – Arthur, você teve alguma formação religiosa?
R – Eu posso dizer que eu acredito em Deus. Eu vou pra missa, quando minha avó me chama pra ir pra missa eu vou pra missa com a minha avó. E como minha escola era uma escola católica, então tinha aula de religião, tinha tudo. Mas eu posso dizer que eu não sou fixo na igreja, eu gosto de acreditar que minha fé é maior. Então eu acredito muito em Deus.
P/1 – Assim também, eu queria te perguntar, o que os seus pais disseram e como eles receberam essa tua primeira ajuda quando você chegou também com...
R – Mãe tem mais aquela parte assim: “Ah, não, é seu dinheiro, não sei que lá”. Meu pai não, meu pai é bem sério: “Tu tá comendo, tá com dinheiro, tem que ajudar”. Minha mãe não, minha mãe: “Ah, não, guarda, guarda, não sei que lá”. Mas aí eles aceitaram bem.
P/1 – Mas ficaram emocionados?
R – Ficaram. Ficaram. Por exemplo, essa semana a minha avó ficou superemocionada, porque eu falei pra ela... Porque minha avó tá construindo uma casa nova, ela tem a casa dela própria, só que mesmo que seja na mesma comunidade, não é tão próxima da casa minha e da minha mãe. Então ela tá construindo uma casa nova vizinha minha e da minha mãe. Aí eu falei: “Vó, a primeira coisa que eu vou fazer quando eu receber, eu vou dar o dinheiro pra terminar a casa da senhora”. E ela ficou superemocionada, porque eu acho que não custa nada, minha avó que fez tanto por mim, eu não fazer nada por ela. Eu acho que na vida tudo... Não que a gente tenha que dar pensando em receber, mas tudo é uma via de mão dupla na vida. Minha avó que fez tanto por mim, por que será que eu não posso fazer o mesmo por ela? Então eu resolvi fazer isso pela minha avó.
P/1 – Então assim, vamos também voltar também aos teus trabalhos. Qual foi um que te marcou mais? Você falou da “Cidade dos Homens”, falou desse filme em Pernambuco, pode repetir o nome?
R – Do filme que eu ganhei o prêmio?
P/1 – É.
R – “Picolé, Pintinho e Pipa”.
P/1 – “Picolé...”
R – “Pintinho e Pipa”
P/1 – “Pintinho e Pipa”?
R – É. Esse foi o filme mais marcante da minha vida, porque era a minha infância, era eu. Que também foi feito com meu primo Wallace e com o Ramon, são duas figuras que cresceram comigo.
P/1 – Mas quem dirigiu? O Wallace?
R – Não. O Gustavo Melo. O Wallace tem a mesma idade que eu, ele vai fazer 18 anos agora esse sábado. E o Gustavo é do Nós do Morro também, ele e o Luciano Vidigal foram os diretores do filme. Porque no Vidigal, antigamente, na infância do meu pai, deles, tinha um carro que subia o morro, que você trocava bateria, garrafa pet, garrafa de vinho, ferro, metal, por picolé, pintinho ou uma pipa. Então quando o caminhão subia o morro era o dia que todas as crianças do morro resolviam pegar as garrafas dos vizinhos, pegar a bacia da mãe, pegar a bateria da geladeira velha e ir nesse caminhão. Então é uma história que é um grupo de amigos fazendo isso durante o dia. Aí tem uma história que...
P/1 – Isso você fazia mesmo?
R – Isso se fazia mesmo.
P/1 – O que você gostava de trocar? Trocava por quê?
R – Ah, pipa. Pipa sempre foi meu vício e até hoje é meu vício, pipa, eu sempre trocava por pipa. Eu passava o dia todo correndo pra trocar por pipa.
P/1 – Mas aí tinha uma coleção também de pipa?
R – Tinha. Tinha. Tinha. Mas quando eu era pequeno eu não sabia muito, porque eu botava a pipa no alto, os outros vinham e me cortavam. Só que aí a gente vai aprendendo, como tudo na vida é um aprendizado, a gente foi aprendendo, aí eu sempre tive muita pipa em casa.
P/1 – E você é um bom “soltador” de pipa hoje?
R – Pode-se dizer que razoavelmente sim.
P/1 – Tem campeonato lá em Vidigal?
R – Tem campeonato na Praia de São Conrado, que é uma praia vizinha ao Vidigal. Todo mundo vai pra praia à noite, um dia na semana, para o festival de pipas.
P/1 – Ah, que bacana. Nem sabia disso. Mas de noite também é legal?
R – É porque na Praia de São Conrado tem muita iluminação, então dá pra ver tudo.
P/1 – Então vamos voltar. Então pra esse foi o filme mais marcante?
R – Foi. Porque foi um filme contando sobre a minha infância.
P/1 – E aí você assim, também dos outros trabalhos, do “Cidade dos Homens”, conta um pouquinho também como era o teu personagem.
R – Na minissérie?
P/1 – Na minissérie.
R – Teve um episódio que eu fiz o Acerola quando ele era mais novo, aí foi onde eu o conheci também, ele o Darlan. E foi supermaneiro, que foi a direção da Regina Casé, nesse dia foi direção dela. E foi uma experiência nova, foi muito legal, foi muito legal.
P/1 – E lá no filme “Cidade dos Homens”, qual era o seu personagem?
R – Eu fiz um vapor, que é o menino que fica entregando recado para os bandidos no morro. Mas tipo assim, porque meu personagem era engraçado, ele gostava de dançar. E tem até uma cena no filme que eu danço numa laje, que é muito maneiro.
P/1 – E você tinha quantos anos na “Cidade dos Homens”?
R – Eu tinha 14, 14 anos.
P/1 – Então você tem se mantido também como ator desde...
R – Desde 12 anos. Onze, 12 anos. Foram minhas primeiras experiências. Eu já fiz um musical, já viajei algumas vezes.
P/1 – Pra onde? Conte-me.
R – São Paulo e Minas.
P/1 – Também atuando.
R – Atuando. São Paulo eu fui pra fazer um musical, “Criança Esperança”, e em Minas eu fui fazer um musical.
P/1 – Diga-me o nome do musical.
R – “Superbacana”.
P/1 – “Superbacana”? Quem dirigiu? Lá do Nós do Morro também ou não?
R – Não. Não. Era um musical fora. Era um musical que falava sobre músicas populares brasileiras, Carnaval carioca, falava sobre isso.
P/1 – E você cantava, tocava?
R – Não, eu só atuava.
P/1 – E da banda de vocês, o que você acha que mudou desde que vocês começaram?
R – Quando a gente era pequeno a gente falava muito sobre: “Ah, eu sou bonitinho, eu sou safadinho”. A gente falava sobre isso. E quando a gente foi crescendo, a gente foi começando a falar como a gente enxergava o mundo, como a gente enxergava a política no Brasil também, como a gente enxergava o cotidiano. A gente foi começando a explicar que no morro não é todo mundo que é bandido, que no morro também tem cultura, tem arte, que no morro também tem pessoas de bem. Conforme a gente foi crescendo, a gente foi começando a explicar isso tudo.
P/1 – Arthur, me conta também, você falou de política, que vocês também falam de política nas letras. Como você vê a política no Brasil?
R – Cara, eu vejo que na política no Brasil é o seguinte, que tem poucas pessoas querendo realmente o bem do nosso Brasil, tem poucas. Mas como a gente vê que tem tantas pessoas que estão nessa parada do mensalão, essas coisas do mensalão, e essas pessoas que querem realmente o bem acabam também ficando meio embaçadas, a gente não sabe quem realmente quer o bem do nosso Brasil. Isso fica muito embaçado na nossa frente. E aí nisso que a gente realmente acaba votando o voto errado, porque a gente não sabe quem realmente quer o bem.
P/1 – Que acaba ficando todo mundo meio parecido.
R – Que acaba ficando todo mundo meio igual.
P/1 – Mas aí vocês falam disso nas letras também?
R – Ahã. Tem uma música que a gente fala sobre a história do “174”.
P/1 – Do ônibus.
R – Do ônibus.
P/2 – As apresentações da banda são aonde?
R – No Vidigal. A gente já fez apresentações no Osvaldo Cruz. A gente vai fazer uma na Lapa. Quando a acabarem as gravações, a gente vai fazer uma apresentação na Lapa.
P/1 – E vocês fazem contato com outros músicos também? Trocam experiências de vocês?
R – Sim. Sim. Sim. Sim. Trocamos.
P/1 – Com músicos do Vidigal ou de outros lugares?
R – Do Vidigal e de outras localidades.
P/1 – É? Assim, com garotos da sua idade de outras... com quem vocês têm mais afinidade que você já encontrou.
R – Musicalmente? Tem um grupo lá no Vidigal formado também por atores do Nós do Morro chamado “Melanina Carioca”, que eles cantam samba, rap e MPB. E tem uma banda, que na verdade quem começou o contato com essa banda até fui eu, porque a minha mãe trabalha com uma moça há muito tempo no salão, aí o filho dela também tem uma banda. E, tipo assim, a gente se conheceu e agora a gente veio saber que os dois têm banda, pá, a gente começou, eu ele começamos a escrever uma letra juntos, daí veio o contato entre outras bandas.
P/1 – Bacana. Conte-me também agora daqui da minissérie, da “Suburbia”. Como você foi chamado? Como acontece? Conta pra quem não sabe como é esse processo de seleção.
R – Foi assim, o Luiz Fernando foi ao Nós do Morro pra ver uma peça que era nova no Nós do Morro, uma peça nova do grupo, e aí nisso foi um dia em que eu e minha banda tava em ensaio, aí o Guti falou assim: “Ah, não, passa aqui pra você ouvi-los cantando”. Aí ele parou. A princípio ele ia ouvir uma música só e foi um momento que ele falou assim: “Não, canta mais uma. Canta mais uma”. E a gente cantou umas quatro músicas pra ele. Aí tudo bem, o Guti explicou que ele era um diretor, que ele tava fazendo uma minissérie, e até então a gente falou assim: “Ah, só cantar a música para o cara e foi mais um que veio aqui, ouviu a gente cantando e é isso”. Aí foi lá, o Guti avisou: “Ah, amanhã vai ter um teste, o Luiz Fernando quer que vocês quatro estejam”. Nós quatro fomos, decoramos o texto, aí a gente fez pra câmera, tá, fizemos o teste. Até então continuamos nessa, não vai dar em nada, não vai dar em nada, não vai dar em nada. Aí chamaram a mim e o Ramón: “Vocês têm que vir no Polo Cine tal dia pra vocês fazerem um teste pra vocês verem quem vai ficar com o personagem, com certo personagem”. Aí fomos lá eu e o Ramón. Fizemos o teste, aí uma semana depois ele falou assim: “Arthur, você que vai ficar com o personagem do Lorival e o Ramon vai fazer outro personagem”. Aí a gente nem acreditou na hora e acabou que os quatro estão fazendo a minissérie.
P/1 – Então o Wallace, o Ramón.
R – O Doninha.
P/1 – O Doninha.
R – E eu. Os quatro estão fazendo a minissérie. E na minissérie nós somos amigos também.
P/1 – Que ótimo.
R – Nós somos amigos. Supermaneiro.
P/1 – É quase natural.
R – É quase natural. E o personagem tem muito a ver com a gente.
P/1 – Conte-me do seu personagem. Como é?
R – Meu personagem é o segundo filho mais novo de uma família e ele é um tremendo cara de pau, ele fala primeiro e depois ele vai ver as consequências. Superengraçado.
P/1 – Por que eu sou muito sincero.
R – Porque eu sou muito sincero. Ele é supersincero, o meu personagem fala tudo que ele acha, não muito diferente de mim. Ele fala o que ele pensa e não tá nem aí para o que vão achar dele. Ele é superengraçado, ele gosta de baile funk, também gosta de samba. A irmã dele mais velha, Vera, é da igreja, então ela tem a função de cuidar dele, ela pegou essa função pra ela: “Eu vou cuidar dele”. Então ela sempre o repreende, mas ele não liga muito, ele começa imitá-la, implica com ela, ele faz de tudo pra ela brigar com ele, mas quando um precisa do outro, os dois estão ali unidos. Então é aquela relação meio que amor e ódio. Eles brigam, brigam, brigam, brigam, mas sempre quando um precisa do outro estão unidos.
P/1 – Ele sabe que ela faz pra cuidar dele também?
R – Não, ele sabe, ele sabe que ela faz pra cuidar dele, mas só que ele quer implicar com ela, depois ele vai ver as consequências e nem liga muito pra isso.
P/1 – E você tá gostando de fazer?
R – Ah, to adorando, to adorando.
P/1 – A equipe toda é boa?
R – Superbacana a equipe, todo mundo fala bom dia, então todo mundo é carismático.
P/1 – Vocês tiveram uma atividade de fazer um desenho antes de começar a gravação.
R – Antes de começar as gravações.
P/1 – E depois, e já agora? Como foi?
R – Não, a gente fez só antes.
P/1 – Conte-me como foi essa atividade.
R – Foi como cada um via o seu personagem. Aí eu perguntei: “É pra desenhar como a gente vê imagem ou abstratamente?”. Aí foi dito: “Ah, abstratamente, tanto faz”. E aí eu desenhei.
P/1 – Conte-me aqui. Eu estou aqui com seus desenhos, fale-me um pouco como você os vê e tenta contar pra gente o que você quis passar.
R – Esse aqui foi o primeiro, esse aqui. Esse aqui foi o primeiro. Eu desenhei um menino alegre, sorridente, que gosta de...
P/1 – Ali tá o nome do seu personagem?
R – É. O Lorival. Lorival. E aqui eu desenhei um menino alegre, sorridente, que é comunicativo, gosta de soltar pipa e aqui são os amigos. E esse daqui eles queriam até me bater nesse dia, porque eu os desenhei de boneco de palitinho, porque eu falei pra eles: “Cara, eu não vou desenhar vocês tão grande, não. Vou dar só uma participação pra vocês no meu desenho”. Aí eu os desenhei aqui de boneco de palitinho. O Chico é o Ramón.
P/1 – Tem um mais gordinho.
R – É o Chico, é o Ramón. Porque quando ele era pequeno a gente o chamava de quibe do Projac, que ele era gordo pra caramba e só sabia comer. O Geraldinho é o Doninha. O Assis é um menino que realmente é mais novo, ele é do Vidigal também. E nós quatro o vimos crescer, e hoje ele também tá fazendo minissérie com a gente. E o Carlinhos é meu primo, que é o Wallace. E esse é meu primeiro desenho, um dia feliz.
P/1 – E o segundo?
R – O segundo desenho eu fiz um... Parece medonho. Porque eu queria representar que ele...
P/1 – O que tá escrito aí?
R – Lorival. E aqui tá escrito abobrinha.
P/1 – Abobrinha.
R – Porque só fala besteira, porque só fala besteira e tá escrito abobrinha.
P/1 – Mas é o Lorival mesmo, o próprio personagem?
R – Aqui?
P/1 – É.
R – Não, aqui é um abstrato.
P/1 – Ah, aí é um abstrato.
R – Isso aqui é mais ou menos o personagem. Esse aqui é um abstrato, que é um palhaço que sabe o que tá fazendo, mas mesmo assim ele faz.
P/1 – E você gostou de fazer essa atividade?
R – Eu gostei, mas depois eu percebi que eu podia ter feito melhor.
P/1 – Mas eu achei interessante você fazer um abstrato e um mais concreto. Esse seu palhaço ficou muito bom, que é o espírito dele.
R – É o espírito dele, espírito de palhaço. Só que depois todo mundo ficou falando que esse palhaço parece até um palhaço diabólico, um palhaço do mal. Depois eu tive que concordar com eles, porque realmente tá parecendo até um palhaço do mal.
P/1 – Conte-me um pouco, como você vê essa a história mesmo do “Suburbia” como um todo?
R – Eu acho que é uma das primeiras vezes que o subúrbio vem como elenco principal de uma minissérie, como o subúrbio vem com certa força. Eu acho que isso é muito bacana, isso é uma inovação na televisão brasileira e acho que isso vai dar supercerto, então espero que dê supercerto essa minissérie. E acho que ela vai gerar uma grande polêmica.
P/1 – Por quê?
R – Porque o elenco negro é a maioria. Se você parar pra perceber, o elenco negro é a maioria, e acho que isso é uma das primeiras vezes que isso tá acontecendo.
P/1 – Até então a TV não tem dado muita chance para o elenco negro?
R – Não, até que tem. Tem elenco negro, sempre tem. Mas eu acho que é a primeira vez que a gente vez com uma força.
P/1 – Com um protagonismo.
R – Com protagonismo.
P/2 – Embora você não more no subúrbio, você vê alguma relação com a casa do subúrbio, a vida no subúrbio?
P/1 – É parecida com a vida no Vidigal?
R – Eu não moro no subúrbio, mas eu tenho tios que moram Paty do Alferes, em Japeri, então eu fui muito lá e lá é subúrbio também. Mas a vida no subúrbio é bem diferente nas comunidades hoje em dia. Porque na comunidade, no Vidigal, principalmente, lá todo mundo é humilde, mas todo mundo é assim, eu tenho esse pouquinho de dinheiro, então eu vou melhorar minha casa, minha vida. Se você parar tirar uma foto do Vidigal, você vai ver que muitas casas são coloridas. Lá ninguém vive nessa parada de tijolo e cimento, tijolo e cimento. Quem pode, pinta a casa de uma cor. Entendeu? E todo mundo lá, mesmo com pouco, gosta de ter o que pode ter. Lá é uma comunidade bem moderna, como eu posso dizer, bem moderna.
P/1 – Bem mais antenada que o pessoal do subúrbio, é isso?
R – Acho que sim.
P/2 – E como é na casa dos seus tios?
R – Tudo muito humilde. Tudo muito humilde. É aquela televisão antiga, algumas casas ainda se faz comida no fogão à lenha. Claro que tem fogão elétrico, mas tem gente que como passou a vida inteira fazendo comida no fogão à lenha, então acha que a comida sai com um gosto diferente. E até eu concordo, comida de fogão à lenha é mais gostosa.
P/1 – Bem mais gostosa.
R – É bem mais gostosa do que comida... E aí eles mantêm esse cotidiano ainda. Não compra fruta, porque pega fruta no pé. Então quando eu to afim de respirar um ar diferente, passar um tempo diferente, eu vou pra casa dos meus tios.
P/1 – Lá em Paty.
R – Lá em Paty do Alferes.
P/1 – E são tios da tua mãe?
R – Não. Família do meu pai.
P/1 – Família do teu pai. Conte-me um pouquinho ainda mais então da minissérie. Você acha que vai ter essa repercussão por causa do elenco, mas como você vê também a história também assim...
R – Eu acho que vai ter essa repercussão por causa da história. A história é uma história muito brasileira. É uma história de uma família que é unida, aí os irmãos acabam casando, aí constroem a casa ali no quintal mesmo da família, uma família muito unida, que tem suas brigas, como toda família, mas na hora do aperto tá todo mundo ali, um ajudando o outro. E acho que isso é retrato da família brasileira, mesmo com nas dificuldades, nas brigas, quando um precisa do outro, deixamos as diferenças de lado e ajudamos a família.
P/1 - Mas isso no Vidigal também é parecido?
R – Acho que em toda família tem um pouco disso. Mesmo com as brigas de família, quando um precisa do outro, estamos prontos pra ajudar a nossa família e quem chegar de fora também.
P/1 – Isso é bonitinho.
P/2 – E como tá sendo atuar junto com pessoas que não são atores de formação, mas que estão entrando agora?
R – Na verdade a maioria do elenco são atores, porque vem do teatro. São poucos que são... Não tem uma visibilidade na televisão, mas no teatro, muitos são conhecidos no teatro. Então acho que é uma experiência nova, porque muitos que vieram do teatro pra televisão agora estão vindo já com uma posição importante, que além de estar defendendo nossa cultura, nossa vida, é o que a gente tá defendendo, então todo mundo tem certa responsabilidade com isso, a gente tá defendendo o que a gente construiu.
P/1 – Tem música também?
R – Na minissérie?
P/1 – É.
R – Ah, a minissérie é muito musical.
P/1 – E qual é a música? Que tipo de música.
R – Samba e o funk na década de 90. A minissérie é toda musical, toda musical. Aí tem o pai, que é o Aloysio, que gosta de Mozart. Então é uma mistura de músicas.
P/2 – Você dança?
R – Na minissérie? Danço. Danço cenas no baile, danço no quintal da família quando tem festa.
P/1 – Na tua vida mesmo você gosta de ir ao baile?
R – Gosto.
P/1 – É lá no Vidigal mesmo? Aonde você vai?
R – Vou ao Vidigal, vou à Rocinha, vou ao baile na Barra, Bar Music, vou a vários bailes.
P/1 – É funk? É o quê?
R – Funk, samba, também vou pra roda de samba, samba de raiz, vou pra pagofunk, vou pra lá pra curtir hip hop.
P/1 – Você acha que a garotada da tua idade ainda gosta de samba? Ou você acha que você gosta por causa dos teus pais?
R – Alguns sim, mas eu acho que a minha principal formação no samba é por causa da minha família, da minha família da parte do meu pai.
P/1 – E que tem sambas maravilhosos. Lindíssimos. Eu acho que é uma riqueza também tão nossa.
R – Como diz Nelson Sargento: “O samba agoniza, mas não morre”.
P/1 – É muito boa essa. Eu queria também te perguntar, a gente falou de política, o papel do próprio Nós do Morro, do Guti lá, isso tem um lado político também. Esse trabalho que ele faz lá no Vidigal há tantos anos. Queria que você me falasse um pouquinho como você vê todo esse trabalho… oportunidade sem ser... É uma política sem ser aquela política ligada a partido, mas é um lado bastante político também.
P/2 – Um projeto político.
R – É sim. Acho que quando ele teve essa ideia de criar o Nós do Morro, acho que foi uma explosão na comunidade, porque o Vidigal já passou por uma fase de ser uma comunidade desconhecida, apesar de muitos famosos já terem morado lá, músicos, atores. Só que o Vidigal já tava numa fase que tinham uns atores morando lá, mas só que era uma fase que não tava tão visível. E quando o grupo Nós do Morro entrou no Vidigal foi um alívio pra comunidade, aí foi uma esperança de uma coisa grande pra comunidade. Veio como uma política, mas eu acho que veio como uma política certa, porque ajudou muita gente, formou muita gente influente hoje já passaram por Nós do Morro.
P/1 – Sem esperar ajuda do governo.
R – Sem esperar ajuda do governo. E é um projeto independente, então meio que nós não precisamos da ajuda do governo. É um projeto superindependente.
P/1 – Você acha que ajuda também essa ideia que cada um pode fazer sozinho a sua parte também?
R – Como diz, “de grão em grão, a galinha enche o papo”. Se cada um fizer a sua parte, a gente começa a caminhar para um mundo melhor.
P/1 – Que bacana. E assim também dos teus amigos, vocês cresceram juntos, estão trabalhando juntos, como é ter essa ligação também tão já contínua também assim, tão longa?
R – É mais tranquila, porque sabe já, você não invade o espaço do outro, que com o tempo a gente vai sabendo o que outro gosta e o que o outro não gosta. Então é bom que a gente não invade o espaço, a gente não invade o espaço do outro, a gente sempre se mantém ali. Brincar na hora que tem que brincar, a gente qual tipo de brincadeira a gente pode brincar, a gente sabe o que não se pode brincar. E isso é que veio de uma amizade e se transformou em um trabalho, acho que isso é importante.
P/1 – E você já acabou a escola, que pé que você tá?
R – To no primeiro ano, exatamente por esses motivos todos de cinema, tive que parar. Mas agora eu quero terminar logo de vez meus estudos e é isso.
P/1 – Você tá pensando em fazer faculdade?
R – Penso.
P/1 – O que você tá querendo fazer?
R – Penso em fazer Música. Primeiro eu quero fazer Música, aí Artes Cênicas, é isso que eu quero fazer.
P/1 – Muito bacana.
P/2 – E tem outros planos? Outros sonhos?
R – O meu sonho é fazer uma turnê.
P/1 – Por onde?
R – Pelo mundo inteiro se eu puder. Se eu puder, eu faço uma turnê pelo mundo inteiro.
P/1 – Trabalhar na televisão e ser reconhecido, muda alguma coisa na tua vida?
R – Acho que não. Pelo menos a meu ver não vai mudar, porque eu vou continuar sendo a mesma pessoa que eu sempre fui na minha vida. Vou continuar sendo o mesmo.
P/1 – Então tá. Então seu sonho é a turnê. E tem algum outro mais assim?
R – Cara, meu sonho de vida é fazer uma turnê, fazer bastante sucesso, mas meu sonho mundial é que a gente comece a dar mais valor para o que a gente tem, porque um dia isso aqui tudo vai se perder, aí acho que cada um tem que fazer a sua parte pra gente manter uma vida melhor.
P/1 – Tá. A gente já vai terminando, eu queria te perguntar se você pode... Você tava cantando ainda agora, me conta a história da música que você tava cantando e canta um pouquinho dela.
R – Essa música eu fiz mês passado. Ah, sei lá, eu tava em casa, tava me lembrando de algumas coisas do passado, aí fui começando a escrever a música e, tipo assim, no final saiu uma música, uma rap MPB. E eu gostei muito de ter feito essa música. As minhas professoras gostaram, a Jack e a Djaneth. Elas gostaram da música, os meninos também gostaram da música, bastante da música. E a gente vai começar a cantá-la agora, a gente vai gravá-la.
P/1 – Vocês já gravaram algum disco?
R – A gente gravou... A gente um clipe no YouTube.
P/1 – Ah, é? Depois eu vou procurar então.
R – É Os Panteras Negras, a música é “Cabana”.
P/1 – Então me canta essa última que você fez. Então é a tua última música.
R – É a última música que eu escrevi agora. É assim: “Ei mina do mundo colorido, ao teu lado eu to tranquilo e até o infinito eu te levo de navio. Viajo no teu sorriso e no teu jeito de andar, te levo para o paraíso pra depois ir te buscar”.
P/1 – Bonitinha. Eu queria terminar perguntando o que você achou de contar a sua história aqui.
R – Achei que foi bom, porque às vezes a gente precisa relembrar o que já foi feito na sua vida e esse foi um momento muito bom pra relembrar isso.
P/1 – Então tá. Ah, a última pergunta, o seu nome Arthur Bispo, por acaso tem alguma ligação com o próprio Arthur Bispo do Rosário?
R – Com o Arthur Bispo do Rosário. Todo mundo pergunta.
P/1 – E tem ou não?
R – Não. Não. Na verdade eu não sei, porque o nome da minha avó é Maria Isabel Bispo. E aí meu pai escolheu o meu nome Arthur, aí já foi Arthur Bispo.
P/1 – Ah, era sobrenome mesmo.
R – É sobrenome mesmo.
P/1 – Ah, então tá. Mas você conhece o Bispo.
R – Conheço já. Conheço.
P/1 – Então tá. Que é um trabalho lindo que ele tem. Então queria agradecer você ter vindo aqui contar a sua história. Muito obrigada, Arthur.
R – De nada.
P/1 – E boa sorte na sua carreira.
R – Muito obrigado.
Recolher