P/1 – Eder, vamos começar a entrevista. Eu queria saber teu nome completo, o local e a data do teu nascimento.
R – Meu nome é Eder Esmael da Silva, eu nasci em Lages, Santa Catarina, na Serra Catarinense, há 28 anos e estamos aí.
P/1 – Como é o nome dos seus pais?
R – Meu pai é Herotides Esmael da Silva e minha mãe é Maria Trindade da Silva.
P/1 – Qual a atividade deles?
R – O meu pai está aposentado e minha mãe é dona-de-casa.
P/1 – O teu pai fazia o que antes de aposentar?
R – Meu pai era operário de indústria papeleira. Ele fazia produção de envelopes.
P/1 – Você tem irmãos, Eder?
R – Tenho uma irmã já falecida, a Daiana Marcele da Silva, e Franciele da Silva.
P/1 – E a origem da tua família? Ela é do Brasil mesmo?
R – É do Brasil mesmo. Os meus ancestrais são uma mistura muito grande porque a nossa região lá é bastante mestiça, então na minha família tem italiano, tem português, eu acho que deve ter algum resquício de espanhol também, é uma grande mistura. Até estou vendo uma parte porque estou fazendo a árvore genealógica da família, então estou descobrindo algumas coisas.
P/1 – E você cresceu em Lages mesmo?
R – Cresci em Lages.
P/1 – Como foi a tua infância em Lages?
R – Minha infância foi bem tranqüila, uma criança normal, brinquei, estudei...
P/1 – Brincadeira preferida quando era garoto?
R – Implicar com a minha irmã Implicava muito com ela, sempre fui assim, ela tinha uns medos eu sempre explorava aqueles medos pra se divertir.
P/1 – Você foi pra escola, qual é a lembrança mais antiga que você tem da escola?
R – Eu acho que talvez de alguns professores que eu tive mesmo. Eu me recordo muito da professora que me alfabetizou, professora Cida, eu acho que é o maior ícone que eu tenho de infância dentro da escola, foi a professora.
P/1 – Você era bom aluno?
R – Era bom aluno sim, eu não gostava muito de estudar, mas eu gostava de ir na...
Continuar leituraP/1 – Eder, vamos começar a entrevista. Eu queria saber teu nome completo, o local e a data do teu nascimento.
R – Meu nome é Eder Esmael da Silva, eu nasci em Lages, Santa Catarina, na Serra Catarinense, há 28 anos e estamos aí.
P/1 – Como é o nome dos seus pais?
R – Meu pai é Herotides Esmael da Silva e minha mãe é Maria Trindade da Silva.
P/1 – Qual a atividade deles?
R – O meu pai está aposentado e minha mãe é dona-de-casa.
P/1 – O teu pai fazia o que antes de aposentar?
R – Meu pai era operário de indústria papeleira. Ele fazia produção de envelopes.
P/1 – Você tem irmãos, Eder?
R – Tenho uma irmã já falecida, a Daiana Marcele da Silva, e Franciele da Silva.
P/1 – E a origem da tua família? Ela é do Brasil mesmo?
R – É do Brasil mesmo. Os meus ancestrais são uma mistura muito grande porque a nossa região lá é bastante mestiça, então na minha família tem italiano, tem português, eu acho que deve ter algum resquício de espanhol também, é uma grande mistura. Até estou vendo uma parte porque estou fazendo a árvore genealógica da família, então estou descobrindo algumas coisas.
P/1 – E você cresceu em Lages mesmo?
R – Cresci em Lages.
P/1 – Como foi a tua infância em Lages?
R – Minha infância foi bem tranqüila, uma criança normal, brinquei, estudei...
P/1 – Brincadeira preferida quando era garoto?
R – Implicar com a minha irmã Implicava muito com ela, sempre fui assim, ela tinha uns medos eu sempre explorava aqueles medos pra se divertir.
P/1 – Você foi pra escola, qual é a lembrança mais antiga que você tem da escola?
R – Eu acho que talvez de alguns professores que eu tive mesmo. Eu me recordo muito da professora que me alfabetizou, professora Cida, eu acho que é o maior ícone que eu tenho de infância dentro da escola, foi a professora.
P/1 – Você era bom aluno?
R – Era bom aluno sim, eu não gostava muito de estudar, mas eu gostava de ir na escola. Quando ingressei na faculdade, pelo fato de eu saber que não gosto de estudar, pra mim foi um grande desafio porque eu sou muito de assumir desafios, então sempre quando tem uma coisa que eu sei que não gosto daquilo, eu vou e faço. Eu tenho formação técnica também além da formação acadêmica.
P/1 – Você fez técnico em quê?
R – Mecânica.
P/1 – Aí resolveu ser historiador, é isso?
R – Resolvi ser porque eu sempre tive uma paixão pela História. Isso é até mesmo de um outro professor que eu tive já no segundo grau que me despertou esse interesse, essa vontade de estudar História, mas isso veio depois que eu resolvi. Até mesmo porque lá na nossa região não tinha uma faculdade específica de História e eu não tinha condições de sair pra estudar também. Quando uma universidade lá trouxe o curso de História eu encarei.
P/1 – Você chegou a trabalhar como técnico em mecânica ou não?
R – Cheguei, trabalhei quatro anos na área, como técnico mecânico.
P/1 – Me fala de Lages. Descreve um pouquinho Lages não só de hoje, mas de quando você era garoto, da tua juventude, como você lembra?
R – Bom, Lages, eu costumo dizer que Lages é o que é. Eu acho que todas as regiões, todas as cidades pra você saber o que é a cidade você tem que estar lá e ver. Pra mim, descrever Lages, é uma cidade muito boa de se viver, é uma cidade calma, tranqüila, é uma cidade grande só que os lugares são muito afastados. Dentro do estado ela é a maior cidade em extensão demográfica, não em população, mas em extensão demográfica ela é a maior cidade do estado, só que os locais dela são muito afastados. Lages é muito acidentada, o relevo dela, mas é uma cidade que está crescendo bastante, a gente está em torno de 180 mil, 190 mil habitantes, por aí.
P/1 – Em termos de tradição é uma cidade que valoriza muito a sua própria história?
R – Ela tem uma raiz muito grande porque Lages foi o berço do tropeirismo. Lages era a rota principal dos tropeiros que vinham trazer o gado do Rio Grande do Sul, de Viamão, era rota passar por Lages até Sorocaba, em São Paulo. Tanto que Lages foi fundada por paulistas, modo de dizer porque Antônio Correia Pinto de Macedo, que foi fundador de Lages, nasceu em Portugal, veio pro Brasil, foi capitão-mor da Capitania de São Paulo e ele era tropeiro também. Ele fazia essa rota e a província decidiu montar um vilarejo naquela região ali onde acabou se transformando, com o passar do tempo, na cidade de Lages. O primeiro nome da cidade era Vila de Nossa Senhora das Lages por causa do relevo, e aí foi mudando, passou de vila pra município, aí virou no que é hoje.
P/1 – E essa tradição tropeira permanece até hoje?
R – Permanece até hoje, é uma cultura de raiz mesmo o que a gente traz. O que a gente traz de lembranças do tropeirismo, eu acho que uma grande herança cultural que a gente tem dos tropeiros são as danças, birivas, aí vem a chula, pau de fitas que são originárias até de outros lugares e que foi enraizado na nossa cidade, na nossa região.
P/1 – Como que funciona? É ensinado na escola, as crianças têm contato, como que se espalha essa cultura e como ela permanece?
R – Infelizmente não é ensinado na escola. Pelas pesquisas que eu andei fazendo até devido à minha formação, eu via muito a necessidade de se ter uma disciplina específica em História tratando da história regional. Infelizmente isso não tem no currículo escolar. Até quando a gente fez os estágios a gente procurava abordar essa questão. Também vejo por mim, quando estudei não tinha. Eu fui começar a descobrir mesmo sobre as raízes da minha região quando eu ingressei na faculdade mesmo, quando eu fui mais a fundo pesquisar. Infelizmente esse conhecimento não é passado pras crianças no período escolar.
P/1 – Você tem um grupo de música, não é isso?
R – Tenho um grupo de música.
P/1 – Como chama esse grupo?
R – O grupo chama Entrevero Serrano. O porque desse nome é uma história interessante porque a palavra entrevero pode trazer vários significados, um grande exemplo que a gente usa é de mistura, então se misturam várias coisas aí a gente forma o entrevero, a gente diz assim: “Está entreverado”. Se tem um local muito cheio de gente, diz: “O lugar lá está entreverado”, está entupido. Então as brigas também que aconteciam ou que acontecem e envolvem muita gente: “Deu entrevero lá”. O entrevero também é um prato típico da nossa região onde os ingredientes são pinhão – tem gente que diz que é um fruto, mas na verdade é a semente do pinheiro, do pinheiro brasileiro, a araucária – e se mistura o pinhão a vários ingredientes: carne de gado, carne de porco, ligüicinha, salame, pimentão, cebola, tomate, é feita uma mistura realmente.
P/1 – Mas como? Pega o pinhão inteiro, corta, como faz esse prato?
R – Cozinha o pinhão, ele dá numa pinha, na pinha é onde ele...
P/1 – Todo grudadinho.
R – Todo grudado ali. Aí a pinha você debulha ela, tira os grãos, o pinhão, cozinha – pra fazer o entrevero. – cozinha ele, descasca, corta no meio ou picadinho, também dá pra fazer, e mistura. O pinhão nada mais é do que um amido, então ele dá certo com qualquer receita porque ele não tem um gosto específico do pinhão.
P/1 – Você disse que mistura com carne, carne de porco...
R – É, faz ali uma mistura de carne de gado, carne de porco, lingüicinha, tomate, pimentão, cebola, é uma receita que na verdade não é uma receita pronta, dizer: “Essa é a receita do entrevero”. Tu pode colocar o que tu quiser, por isso que chama entrevero.
P/1 – Isso é bem típico de Lages?
R – Típico de Lages.
P/1 – E o nosso grupo ganhou esse nome na verdade porque a gente participou de um festival que é muito forte durante a Festa do Pinhão, que é uma festa que a gente tem lá em Lages, que é uma das maiores festas da região Sul e dentro dessa festa acontece a Sapecada da Canção Nativa. É um festival de cunho nativista, tradicionalista e onde vêm músicas de todo o Brasil, do Cone Sul mesmo: Argentina, Paraguai, Uruguai e mandam músicas pra esse festival e é feita toda uma triagem antes pra ver quais as músicas que vão participar do festival, aí acontece o festival durante a Festa do Pinhão. A gente participou alguns anos da Sapecada, três anos antes da gente conseguir ser reconhecido, digamos, ter o nosso trabalho realmente reconhecido dentro do festival. A gente participou dois anos antes e no terceiro a gente participou com uma música chamada “Campeã do Alçado”. Ela relata uma historinha do que acontecia na região, que era a caçada de porco. Os fazendeiros às vezes soltava os porcos no campo, na época do pinhão mesmo, e os porcos cresciam selvagens, soltos no mato. Daí eles engordavam com pinhão e quando eles resolviam caçar era uma festa Chamava parente, vizinho de tudo que é canto pra sair atrás dos porcos. Acontecia, porque um porco, quando é criado alçado, ele cria as presas dele, presa grande, e como ele ficava selvagem, ficava brabo. O pessoal levava cachorro, os porcos pegavam os cachorros e abriam no meio... Na letra da nossa música conta que tinha o guapeca e virou do avesso na presa do alçado, o porco pegou o cachorro e virou, abriu a barriga do cachorro.
P/1 – Alçado é porque ele está solto, é isso?
R – Quer dizer que ele é solto.
P/1 – Essa outra coisa que você falou, guapeca, o que é isso?
R – Guapeca é a maneira a gente chama o cachorro: guapeca, cusco, que é originário acho que da Argentina. Quando a gente fala em cusco a gente sabe que é cachorro; guapeca...
P/1 – Mas isso também em Lages?
P/2 – Jaguara?
R – Jaguara também. O jaguara a gente costuma chamar cachorro que anda na rua solto, vira-lata mesmo.
P/1 – Voltando à música, o porco pegou o cachorro e...
R – Pegou o cachorro, virou o cachorro do avesso e as nossas letras, a gente faz muito baseado em pesquisa mesmo, pesquisa de costumes antigos da região, a caçada de porco era um costume antigo da região, hoje não tem mais porque tem muito reflorestamento, então é difícil encontrar. Mas nos tempos idos era bastante comum. A gente emplacou com essa música, a Sapecada da Canção Nativa é um festival separado, acontece o festival numa fase regional e o festival na fase nacional. Regional abrange só o estado de Santa Catarina e nacional abrange o Brasil todo e alguns países da América Latina. Conforme o regulamento, quando é realizada a Sapecada regional, saem o primeiro, segundo, terceiro lugar e a canção mais popular participa da Sapecada nacional. A gente teve a felicidade de conseguir a premiação de mais popular da fase regional e a gente passou pra nacional. Quando a gente passou pra nacional teve a eliminatória, a gente conseguiu passar da eliminatória pra final, chegamos na final e conseguimos ser mais populares também na fase nacional. A música estourou realmente porque além de contar um fato que acontecia, costume antigo, a letra era satirizada, contando realmente o que acontecia durante essas caçadas. Muita gente, desde os mais idosos até as criancinhas, escutavam a música, cantavam, dançavam.
P/1 – Mas não é muito triste essa história?
R - Ela é um pouco triste... Na música também conta que tem um gaiteiro que também e ele acabou perdendo o dedo na presa do porco. Coisas que aconteciam que até eram tristes, mas pelo enredo da música e também pelo ritmo da música ficou bastante alegre.
P/1 – Dá pra depois tocar um pedacinho?
R – Dá, dá. Depois a gente traz um violãozinho, gaitinha, aí a gente faz.
P/1 – Eu queria voltar porque você estava falando que as músicas de vocês são todas baseadas em pesquisa. Isso é porque você tem esse lado historiador, como é isso?
R – Também, não só por isso, mas tem um outro colega nosso que é, digamos assim, o letrista, e ele também explora bastante isso, faz pesquisa até empírica. É feita pesquisa oral mesmo, a gente pega um tema, vai escolher sobre um tema e a gente vai atrás de pessoas que vivenciaram aquilo. A gente vai colhendo relatos e em cima dos relatos a gente bola a letra e a gente traz sempre esse estilo alegre de interpretar essas letras.
P/1 – Quantas músicas vocês já têm?
R – Nós já temos assim um acervo de mais ou menos umas 50, 60 músicas.
P/1 – Todas baseadas em memória oral?
R – É, praticamente. Tem algumas outras letras que cai mais no popular, mas isso é uma outra área que o grupo trabalha. A gente procura explorar bastante essa questão da cultura mesmo, cultura regional.
P/1 – E vocês se apresentam basicamente em Santa Catarina ou se apresentam também...
R – A gente tem já quatro anos de formação e a gente está caminhando ainda, a gente está procurando um patrocínio pra gravação do nosso CD – a gente já tem alguns; a gente precisa de mais – infelizmente a gente não tem a verba necessária pra se gravar. É um custo um pouquinho elevado e pra gente bancar sozinho não tem como, então a gente tem alguns parceiros que vão ajudar a gente, só que a gente precisa arrumar mais alguns pra poder trabalhar isso.
P/1 – Tem espaço ainda pra essa música bem tradicional no Brasil?
R – Depende muito porque o Brasil é muito grande e depende muito de mídia também, então, por exemplo, quando se explora a cultura, dependendo do estado ou da região, às vezes não é encarado como uma coisa que surta muito efeito porque não é a cultura daquela região. A música, principalmente a música tradicionalista que é o estilo que a gente faz, é mais regionalista aqui do Sul; lá pra cima até, digamos assim, no Mato Grosso, Goiás, Tocantins até já tem um pouco mais de aceitação porque as culturas são parecidas. Já pro restante, a gente não sabe em termos da gente porque não explorou esse mercado ainda, mas se Deus quiser a gente...
P/1 – Mas você acha que essa coisa mesmo da memória oral é muito ligada ao pessoal do Sul pela visão que você tem até como historiador?
R – Não, eu acho que não. Eu acho que cada estado, cada região tem a sua riqueza, tem o seu valor e a única coisa que eu penso como historiador, vendo as coisas, o pessoal não se liga muito na questão cultural. Eu digo na questão cultural no sentido de raiz, no sentido de estudar a raiz da tua região, o que é a cultura da tua região? Porque a gente tem muitas culturas alienígenas, vamos dizer assim entre aspas, que são culturas que vêm de fora – tá certo que pra você construir um local, eu acho que o Brasil inteiro foi construído dessa forma: vários povos se reuniram ali e montaram uma região, então ali aconteceu muita mistura. E Lages, por ser essa rota do tropeirismo, ela se enraizou bastante nessa questão de cultura de raiz mesmo.
P/1 – Teve muita troca também. Porque o tropeiro também levava a sua própria cultura.
R – Sim, sim, sim, exatamente. As regiões, principalmente aqui no Sul o tropeirismo foi bastante importante pra construção cultural. Até por questão de memória cultural. Ainda só voltando ali, comecei a falar do grupo e me empolguei. A história do nome do grupo surgiu porque a gente era de outros grupos, então pra defender essa música que ficou conhecida como “Pega o porco”, a gente se reuniu pra defender essa música na Sapecada, e o público gostou tanto que o público mesmo deu esse nome de Entrevero porque era um de cada lugar. Como éramos de grupos diferentes, de outros grupos, a gente se reuniu pra defender essa música e a mídia caiu em cima da música porque achava que a música realmente – não querer usar de modéstia – mas a música teve a sua alma mesmo porque caiu no gosto do público, então quando cai no gosto do público é uma coisa totalmente diferente de quando se elitiza uma coisa. Quando cai no popular mesmo o pessoal cai em cima então quando fizeram entrevista pra gente: “Como é o nome do grupo?”, a gente se olhou: “Na verdade isso tá virado um entrevero porque veio gente de um grupo, veio gente do outro, veio um lá...” e ficou assim, aí ficou, caiu entrevero. E por ser um grupo em que todos estavam localizados na Serra Catarinense virou Entrevero Serrano.
P/1 – Legal. Conta um pouco da Festa do Pinhão, o que tem lá?
R – Tem muita coisa.
P/1 – Além da Sapecada.
R – Tem comidas típicas a base de pinhão...
P/1 – Dá pra comer um entrevero então?
R – Dá pra comer um entrevero, só que o entrevero prato, tá? Danças tradicionalistas, a gente tem bastante CTGs em Lages, os Centros de Tradição Gaúcha, apresentações artísticas, shows nacionais, shows regionais, bailes, porque a festa acontece em dez dias, então a programação é bastante proveitosa e vem gente de todo o estado, vem gente de fora, até de outras regiões do país, do Uruguai, da Argentina, Paraguai, então a festa realmente é uma festa grande. Ela movimenta a cidade bastante, principalmente o comércio, o comércio trabalha bastante.
P/1 – Eder, você estava falando de lendas, conta aí algumas lendas.
R – A gente tem uma lenda bastante tradicional em Lages que é a lenda da serpente do tanque. Quando a cidade foi fundada, foi construído um açude bem no Centro da cidade hoje, na época uma região bastante vasta, escolheram um lugar e construíram um açude pras mulheres lavar roupa. Aí aconteceu de uma menina, ela foi violentada e ela engravidou e escondeu a gravidez dos pais com medo de represália. Quando a criança nasceu, era um menino, a alternativa que ela encontrou foi pegar essa criança e jogar dentro desse açude. Reza a lenda que essa criança se tornou uma serpente e quando foi construída a Igreja Matriz, catedral de Lages, foi colocada a imagem de Nossa Senhora dos Prazeres, que é padroeira de Lages e os pés da santa ficaram sobre a cabeça da serpente. Conta a lenda que se a santa for retirada e a serpente ficar com a cabeça livre, Lages vai se findar em uma grande inundação. Essa é a lenda, então todo mundo traz assim porque é bem cultura popular mesmo e muita gente acredita que realmente vai acontecer. Aconteceu um fato o ano passado que um homem entrou dentro da igreja e quebrou a santa. Quando quebrou a santa choveu durante uma semana ou duas e nós temos um rio que corta a cidade e esse rio transbordou e deu a coincidência de quando o cara foi lá, quebrou a santa, choveu e deu uma enchente.
P/1 – Então reforçou a lenda?
R – Reforçou a lenda. E hoje o tanque, como é conhecido, é um lugar bonito, bem no Centro da cidade, atração turística até e com bastante história ali.
P/1 – Tem outra que você lembre sem ser da serpente?
R – Tem a do ladrão de cincerro. Lages também é conhecida também por ser a terra do ladrão de cincerro. Cincerro é um sininho que eles colocavam no pescoço das vacas, do gado, pra descobrir onde ia, vai balançando. Era colocada uma forquilha no pescoço da vaca com o cincerro batendo. Por exemplo, às vezes a vaca entrava ou ia passar alguma cerca então elas ficavam presas ali até que o proprietário dessas vacas podia encontrar as vacas. Conta que lageano é ladrão de cincerro porque lageano chegava lá, roubava o cincerro pra depois roubar a vaca. Daí o dono não sabia onde estava a vaca, não tinha cincerro pra bater, então também conta que lageano é ladrão de cincerro. Tem outra história, o pessoal chama lageano de boi de botas. Pra alguns soa como ofensa porque eles não conhecem a história. Quando aconteceu a Revolução Farroupilha, quando as tropas passaram por Lages, do exército farroupilha, numa carroça de boi era carregado um canhão junto e eles foram fazer uma travessia e o carro atolou na lama, os bois não conseguiam puxar. Tinha algumas tropas do exército da região de Lages mesmo e eles foram ajudar o General Canabarro, Davi Canabarro a desatolar esse canhão. Aí o Canabarro falou pro Coronel – que agora me fugiu o nome do coronel, historiador. – ele falou pro Coronel assim: “Seus homens são verdadeiros bois de botas”, como sinal de que fosse uma coisa de orgulho porque eles ajudaram a desatolar e os bois que puxavam a carroça não conseguiam desatolar. Tem outras histórias que agora a gente não lembra de cabeça porque são coisas que acontecem e ao longo que a gente vai pesquisando, a gente vai descobrindo outras coisas.
P/1 – Você é casado Eder?
R – Não, sou solteiro.
P/1 – Solteiro?
R – Mas tô no caminho.
P/1 – Ia te perguntar se você tiver uma molecada, uns filhos, se você vai se preocupar em passar pra eles essa tradição, esse teu amor que você tem pelas lendas?
R – Sim, eu tenho uma sobrinha de quatro anos, inclusive é filha dessa minha irmã que já faleceu – vai fazer dois anos amanhã que essa minha irmã faleceu, ela deixou a menina com dois anos – mora com a gente e tenho essa preocupação com a educação dela nesse sentido de cultura porque ela nasceu na cidade onde eu nasci e eu gosto muito de lá.
P/1 – Legal.
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