Estávamos nos arrumando para irmos à igreja. Minha mãe tinha acabado de se converter ao cristianismo, meu pai já o frequentava há alguns meses junto com meu irmão que, na época, deveria ter três anos ou por aí. Era um dia frio, estava de jaqueta e parecia mais um travesseiro humano do que um bebê. Morávamos em uma casa grande e, não sei por qual motivo, minha mãe deixava a tábua de passar roupa fora da casa, no quintal.
Íamos saindo com pressa, eu no colo da minha mãe e meu irmão de mãos dadas com meu pai. Minha mãe não se atentou ao que eu fazia e muito menos com o fato de que estava ao lado da tábua de passar roupa com o ferro recém desligado. Era um bebê, um ser sedento por sentir as coisas. Enquanto ela falava alguma coisa para o meu pai — que estava trancando a porta —, eu decidi enfiar a mão no ferro. Doeu.
Acredito que essa seja minha primeira lembrança porque foi a primeira vez que senti uma dor imensa e pude armazená-la na minha memória. Chegamos atrasados na igreja naquele dia e, até hoje, tenho medo de ferros de passar roupa.
P.s.: não tenho cicatrizes \o/