Projeto 30 anos Alunorte
Entrevista de Carlos Eduardo Neves
Entrevistado por Ligia Scalise
Belém, 24 de julho de 2025
Transcrita por Selma Paiva
(00:19) P1 - Obrigada pelo seu tempo, por estar aqui. Eu vou pedir pra você começar falando seu nome inteiro, dia, mês e ano e cidade de nascimento.
R1 - Meu nome é Carlos Eduardo Neves, eu nasci na cidade de Caruaru, estado de Pernambuco.
(00:32) P1 - Qual a data?
R1 - 15 de janeiro de 1962.
(00:37) P1 - Os seus pais são de Caruaru?
R1 - Não. Meus pais são do... meu pai é da Paraíba. Nasceu em fazenda, perto do sertão do Cariri. E minha mãe nasceu em Santa Cruz do Capibaribe, que é uma cidade também da Paraíba, bem próximo de Pernambuco.
(00:56) P1 - Como é eles se conheceram?
R1 - Olha, aí eu não sei, porque foram muitos anos atrás, né? Eu sou de uma família de nove irmãos, eu sou o mais novo, né? E já tenho a idade que tenho, então você imagina como é uma família de idosos, né? Então, essa parte eu não me lembro, mas eles se conheceram, casaram e tiveram a maioria dos filhos, nasceram lá na própria fazenda, né? E eu já fui o último, já nasci na cidade, em Caruaru, quando viemos mudar para cidade. Meu pai era sertanejo, agricultor.
(01:30) P1 – Então, quando você chegou na família, já tinha mudado um pouco esse contexto?
R1 - Já tinha mudado um pouco da dinâmica. Ele ainda morava lá, mas ele decidiu que a única forma de mudar de vida era através dos estudos. Então, ele precisava que os meninos fossem estudar. A mais velha já tinha ido estudar na casa de um parente, ficar na casa de um parente e depois ele resolveu mudar todo mundo. Ele ficou só na fazenda e os outros foram para a cidade, pra dar continuidade aos estudos. Muitos dos meus irmãos foram alfabetizados quando meu pai ia na feira comprar uma lata de leite, uma coisa e minha mãe ficava lendo pra eles, repetia, porque não tinha uma cartilha, não tinha uma coisa, então repetia aquilo. Às...
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Entrevista de Carlos Eduardo Neves
Entrevistado por Ligia Scalise
Belém, 24 de julho de 2025
Transcrita por Selma Paiva
(00:19) P1 - Obrigada pelo seu tempo, por estar aqui. Eu vou pedir pra você começar falando seu nome inteiro, dia, mês e ano e cidade de nascimento.
R1 - Meu nome é Carlos Eduardo Neves, eu nasci na cidade de Caruaru, estado de Pernambuco.
(00:32) P1 - Qual a data?
R1 - 15 de janeiro de 1962.
(00:37) P1 - Os seus pais são de Caruaru?
R1 - Não. Meus pais são do... meu pai é da Paraíba. Nasceu em fazenda, perto do sertão do Cariri. E minha mãe nasceu em Santa Cruz do Capibaribe, que é uma cidade também da Paraíba, bem próximo de Pernambuco.
(00:56) P1 - Como é eles se conheceram?
R1 - Olha, aí eu não sei, porque foram muitos anos atrás, né? Eu sou de uma família de nove irmãos, eu sou o mais novo, né? E já tenho a idade que tenho, então você imagina como é uma família de idosos, né? Então, essa parte eu não me lembro, mas eles se conheceram, casaram e tiveram a maioria dos filhos, nasceram lá na própria fazenda, né? E eu já fui o último, já nasci na cidade, em Caruaru, quando viemos mudar para cidade. Meu pai era sertanejo, agricultor.
(01:30) P1 – Então, quando você chegou na família, já tinha mudado um pouco esse contexto?
R1 - Já tinha mudado um pouco da dinâmica. Ele ainda morava lá, mas ele decidiu que a única forma de mudar de vida era através dos estudos. Então, ele precisava que os meninos fossem estudar. A mais velha já tinha ido estudar na casa de um parente, ficar na casa de um parente e depois ele resolveu mudar todo mundo. Ele ficou só na fazenda e os outros foram para a cidade, pra dar continuidade aos estudos. Muitos dos meus irmãos foram alfabetizados quando meu pai ia na feira comprar uma lata de leite, uma coisa e minha mãe ficava lendo pra eles, repetia, porque não tinha uma cartilha, não tinha uma coisa, então repetia aquilo. Às vezes, aquela mesma latinha, ela lia várias vezes pra eles aprenderem a ler, antes de ir pra escola.
(02:19) P1 - Quem são eles? Me fala os nomes deles.
R1 - Olha, o meu pai, José Santiago Neves, já falecido, minha mãe também falecida, Tereza Fernandina Neves, ela faleceu em 2019, ia completar 101 anos. E aí é uma família de irmãos, a Malba, que é a mais velha, depois vem o Eraldo, tem a Conceição, tem a Fátima, o Antônio, o Erivaldo, José Santiago, Ana e eu. O Erivaldo já faleceu, então ficamos em oito.
(02:53) P1 - Qual a diferença entre vocês, é ‘escadinha’?
R1 - Não é muito próximo. Quatro, cinco anos, dois anos, um ano. Nessa época não tinha televisão, né?
(03:05) P1 - Carlos, como foi sua infância?
R1 - Minha infância foi... eu considero que foi uma infância maravilhosa. Eu já nasci em Caruaru, então, quando dava época de férias de escola eu ia para a fazenda do meu pai, que eu adorava, passava praticamente as férias todas lá, tendo contato com a natureza, ajudando-o, que ele trabalhava muito para manter a gente na cidade, então muito contato com a natureza, com animais, com essa coisa, sempre de uma forma bem modesta, mas ajudando-o na rotina de uma fazenda: tirar leite do gado, cuidar dos caprinos, tirar leite dos caprinos, dar alimentação para eles, essa era a rotina. Acordava de manhã, ia tomar um leite direto do peito da vaca. Isso é o que eu fazia nas minhas férias, né? E acabava as férias, voltava para a cidade, para continuar estudando.
(03:58) P1 - O seu pai era agricultor?
R1 - Era, ele era de uma família também grande, que o pai dele faleceu, tinha uma fazenda, ele dividiu a fazenda em pedaços, cada filho ficou com um pedaço. Ele ficou com esse pedaço, mas a seca, todos nós conhecemos a história da seca do nordeste, então quando vinha aquele período de seca maltratava muito, porque faltava comida para os animais, os animais morriam e ficava, assim, sem nada, a agricultura não existia com a seca grande. Aí esperava, né? Quando vinha a chuva, vinha a fartura, né? Que a região, apesar de ser sertão, ser seca, é muito rica, né? Quando chove tudo floresce, tudo vira festa, né? E vivia nesse... a tecnologia, nessa época, também não existia, né? Então, essa era um pouquinho, assim, da dinâmica, né?
(04:47) P1 - O seu pai viveu até quantos anos?
R1 - Ele viveu até 61 anos.
(04:52) P1 - Foi cedo.
R1 - Foi cedo. Foi no ano que eu ia fazer vestibular, quando ele faleceu.
(04:58) P1 - E sua mãe chegou a trabalhar?
R1 - Não, a mãe sempre trabalhava em casa, era costureira. Por sinal, uma boa costureira. Todo mundo queria fazer vestidos. Ia para aquelas festas de bailes, essa coisa e encomendava vestidos para ela, ela fazia, né? Então, ela contribuía com uma renda, mas dentro de casa.
(05:16) P1 - E aí ela que foi com vocês para Caruaru?
R1 - Para Caruaru. Aí os irmãos mais velhos já começaram a ir trabalhar. Aí a mais velha foi para o Recife, né? E assim foi uma sequência. Depois nós fomos todos para Recife, né? Mas em Caruaru eu tive bons momentos, boas recordações, algumas histórias que aconteceram comigo, aconteceu bem parecida com meu filho, por exemplo, algumas coincidências da vida.
(05:41) P1 - Por exemplo.
R1 - Eu estudava numa escola... antigamente tinha aquelas senhoras que alfabetizavam as crianças. Então, antes de você entrar na primeira série, por exemplo, você passava na alfabetização, depois do Jardim, eu estudei Jardim I e Jardim II nessa escola, depois alfabetização. E não tinha, assim, uma padronização de ensino. Então, essa senhora que alfabetizava a gente, ‘puxava’ muito pela gente. Então, eu, depois fui para a primeira série. Quando eu cheguei na primeira série, teve um dia que eu cheguei para minha mãe e disse: “Eu não vou mais estudar”. Ela disse: “Mas por quê?” “Porque aquela professora é burra”. Olha, eu daquele tamanhozinho falando isso. Porque tudo que eu já tinha aprendido na alfabetização, ela começou no início, na primeira série, que era uma série depois. Então, eu perdi o interesse total pelo estudo. Aí ela teve que me tirar dessa escola e me colocar numa outra escola. Escolas estaduais, escolas municipais. E aí eu fui para essa outra escola, pra primeira série nessa outra escola. E a professora passava os exercícios lá, eu fazia os exercícios e ficava lá, conversando alguma coisa. Ela disse: “Você não está fazendo os exercícios?” Eu disse: “Não, estou...”. Aí ela disse: “Me mostra, você já fez?” Eu disse: “Já”. Aí eu mostrava, ela olhava. Aí depois ela chamou a diretora e disse: “Ele não pode ficar nessa série, ele tem que ir para outra série”. Aí eu não fiz a primeira série, eu fui para a segunda série. E foi muito interessante, que quando eu cheguei na segunda série, teve um dia que eu fui para aula, a professora de matemática passou uma conta para a gente fazer, somar ou diminuir, eu não me lembro detalhes, mas ela escreveu no quadro ‘efetue’. Eu não sabia o que era efetue. Eu comecei a chorar, porque eu sabia fazer a conta, mas eu não sabia o que era efetue. Eu comecei a chorar, na sala. Aí ela chegou: “Por que você está chorando, não sei o que lá e tal? Aí depois ela me explicou e eu fui fazer. Pronto, aí eu fiz a segunda série. Em um ano eu fiz a primeira e a segunda série.
(07:41) P1 - Você tinha já uma habilidade...
R1 - Foi em função da professora que minha alfabetizou, que ela ‘puxava’ mais pela gente. Então, ela terminou não só fazendo alfabetização, mas como ela fez a primeira série inteira dentro da alfabetização. Não foi, assim, um diferencial, mas foi mais em função da professora anterior, que ‘puxou’ todos nós pra essa condição.
(08:03) P1 - E aí você era mais novinho nessa turma?
R1 - Aí eu era mais novo nessa turma, porque tinha essa...
(08:07) P1 - E você falou que essa coincidência aconteceu com teu filho?
R1 - Aconteceu sim, porque depois tem toda uma trajetória, mas já fazendo um pulo...
(08:15) P1 - Vou chegar, vou ‘puxar’ lá.
R1 - ... eu já morava em São Luís, eu morei muitos anos em São Luís e tivemos dois filhos, o Rodrigo e a Natália e as férias a gente ia para Recife. A irmã da minha esposa era professora de crianças também. Ela falava assim: “Mas o Rodrigo está muito adiantado para a série dele. Ele está muito adiantado para a série dele. Fala lá na escola”. A minha esposa foi falar na escola, ela disse: “Não, não, mas ele pode não ter maturidade, não sei o que e tal. Não, mas vamos observar”. Aí o observou por algum tempo. Aí disse: “Sim, a gente pode fazer um teste com ele no nível, já no outro nível, não precisava esperar o ano inteiro para ele mudar de nível. Vamos ver se ele vai acompanhar. Se ele acompanhar, a gente mantém. Se ele não acompanhar... mas a responsabilidade é sua. Você assina aqui?” A gente assinou. No final do ano ele foi orador da turma, então ele teve essa questão de fazer dois anos e um só, ele teve essa coincidência.
(09:19) P1 - Puxou pro pai.
R1 - Sem nada planejado, foi natural.
(09:23) P1 - Então, vamos voltar pra infância. Como que você era, enquanto criança?
R1 - Eu uma criança que gostava de brincar, adorava jogar bola no meio da rua. Nessa época, no interior, se jogava bola no meio da rua, com os meninos, aquelas brincadeiras. Sempre adorei o São João, tradicionalmente como o São João, dançar quadrilha na época do São João. E foram tempos muito bons, de muitas brincadeiras, muitas recordações, né? A época do final do ano, a festa do comércio, que a gente ia, tudo mais. E eu me lembro que teve uma época que... eu vou entrar um pouco já numa trajetória de estudos que combina com outras coisas, que eu fui mudar de nível, terminei o primário e ia entrar no ginásio e o governo do estado não tinha vaga suficiente nas escolas. Então, ele chamou uma escola particular para fazer um convênio e uma das minhas irmãs ensinava nessa escola. E aí o governo financiava grande parte do estudo e a gente dava uma pequena contribuição. E aí essa minha irmã, como era professora de lá, também tinha alguns direitos. Então, eu terminei saindo de uma escola pública para uma escola particular, ainda com o subsídio do governo, porque ele não tinha vaga em todas as escolas, então ele fez esse convênio, para absorver mais. Então, eu passei a estudar numa escola particular, Colégio Sete de Setembro, de Caruaru. Tem alguns colégios bons lá, os três melhores e ele estava entre os três. E como eu sempre gostei muito de esporte, essa coisa toda, eu comecei a... um colega meu começou a treinar basquete, olha eu, desse tamanho, vamos treinar basquete. E era interessante, porque eu não tinha dinheiro para pagar a mensalidade do basquete. Mas ele disse: “Não, vamos lá, que o treinador é bacana e ele dá um jeito para a gente”. Tinha os menininhos ricos que pagavam, ele cobrava todo mês, mas ele sempre ‘abria mão’ para alguns outros. Aí ele falou com ele: “Vou trazer um colega meu para treinar”. Aí eu comecei a treinar e comecei também a treinar vôlei, nos intervalos na escola.
(11:28) P1 – Devia ter uns dez, 12 anos? Quantos anos?
R1 - Era uns dez, 12 anos, por aí. E aí comecei a treinar o vôlei, mas só no recreio. E aí ia ter os jogos estudantis, que era muito famoso no interior e lá no basquete ele pediu para fazer umas manobras lá, porque ele estava em dúvida. Ele levava 12 pessoas pro time, ele já tinha 11 e tinha uma vaga, que era a última vaga e estava eu e um outro menino, os dois pequenininhos, mas ele disse que era para o desenvolvimento, não ainda para jogar. Aí ele pediu para a gente fazer umas manobras e nessas manobras eu não passei, fiquei de fora. Aí o pessoal: “Olha, o time de vôlei da escola está precisando de gente”. Aí eu vou lá para o vôlei. Aí jogo vôlei, disputo o campeonato estudantil pelo vôlei. Essa trajetória do vôlei faz parte da minha vida até hoje. E aí fui jogar vôlei nos jogos estudantis, jogamos o vôlei, ganhamos algumas partidas, perdemos outras, mas foi assim, um momento muito bacana. Tem uma camisa com o número, com o meu nome nas costas, o ginásio (12:36) vendo a gente jogar, então isso foi muito bacana. Passou os jogos estudantis, o meu colega: “Vamos voltar para o basquete?” Aí eu disse: “Mas rapaz, ele não vai me querer, porque eu estava no vôlei”. Ele disse: “Vamos assim mesmo”. A gente foi, aí chegou lá: “E aí o vôlei, você não gostou do vôlei?” “Não, o vôlei não está com nada não” “Está bom, então volta aqui, pro basquete”. Aí eu voltei a treinar o basquete. Mas, assim, nunca joguei o basquete, depois saí. E aí foi nesse jogo de vôlei na escola, que eu mudei para o Recife. Aí já foi quando eu mudei, nessa época era o científico, que era os três últimos anos antes do vestibular.
(13:17) P1 - Mas você se mudou por conta da escola ou por conta do vôlei?
R1 - Não, não, porque a família mudou pra Recife. A família toda mudou, de Caruaru, pra Recife. E aí eu fui estudar numa escola estadual pública em Recife, próximo da minha casa, para fazer os três últimos anos antes do vestibular. Aí eu chego nessa escola, tem lá um professor de Educação Física, que também era um treinador de vôlei. E aí ele começa a chamar o pessoal da educação física: “Quem quer treinar vôlei, quem quer treinar vôlei? Porque eu tenho um time de vôlei. Quem for treinar vôlei eu dispenso da Educação Física, porque já faz educação física no vôlei”. Aí eu começo a treinar o vôlei nessa escola estadual. E vou treinando, me aperfeiçoando, aí ele disse: “Vou inscrever o time no campeonato pernambucano. Não é um time bom...”, mas aí a gente começou a disputar campeonato pernambucano com o Sport, com o Náutico, com os colégios tradicionais de Recife, Santa Maria e outros, Agnes, São Luís, que eram os colégios particulares que tinham times bons, né? Mas a gente metido lá, pelo JEPs, pelo América, ele inscrevia a gente e a gente começou a disputar o campeonato pernambucano. E ele tinha um levantador que era muito bom e já tinha saído da escola. De vez em quando ele ia lá nos treinos, ajudá-lo. E aí eu comecei treinando, treinando o vôlei e então eu cheguei num estágio que aí esse menino que tinha sido um bom levantador dele falava assim: “Pronto, agora teus problemas acabaram com o levantador, agora tu encontrou um”. E foi bom que aí, nessa trajetória, depois ele foi fazer um curso nos Estados Unidos, eu já tinha feito o primeiro e o segundo ano. Aí ele escolheu a mim e um outro colega, que ele também era treinador de um dos melhores cursinhos preparatórios de vestibular, que era cursinho integrado, terceiro ano integrado com preparatório vestibular. Aí ele falou: “Você vai jogar pelo União e eu vou te dar uma bolsa integral”. Aí eu fui estudar no União, um dos cursinhos, na época tinha uns quatro ou cinco bons, mas ele estava entre esses, financiado por essa bolsa... financiado pelo vôlei. E aí continuei jogando, ainda por esses times do campeonato pernambucano e disputamos os jogos estudantis pelo Colégio União, eu e esse colega, junto com os outros que já estavam fazendo parte do time e aí eu ganhei essa bolsa. E o cursinho tinha aulas finais de semana, sábado, domingo, que era preparatório para o vestibular. Então, isso aí me ajudou a passar no vestibular pela primeira vez, porque eu tive oportunidade de estudar já numa escola diferenciada.
(16:00) P1 - Você tinha algum desejo do que você queria ser quando crescesse, quando menino, adolescente?
R1 – Quando pequeno eu queria ser professor da Educação Física. Mas depois eu mudei minha trajetória e escolhi a engenharia química.
(16:12) P1 - Jogador profissional não era convidativo?
R1 - Não, nunca foi. E aí fiz a faculdade, aí vai para uma faculdade...
(16:23) P1 - Você passou no vestibular de primeira?
R1 - De primeira. Uma faculdade privada, Universidade Católica de Pernambuco, que tinha mensalidade. Eu não passei na Federal, na primeira, passei na segunda, no segundo ano passei na Federal.
(16:36) P1 - Na primeira você passou em engenheiro químico também, Engenharia Química?
R1 – É. Aí vamos estudar. E a mensalidade, como é que vai pagar? E aí vem um dilema. Aí meus irmãos: “Olha, primeiro passou, depois a gente resolve os problemas da mensalidade, vamos fazer a matrícula”. Fiz a matrícula os primeiros seis meses, aí eu me inscrevi lá num programa de bolsa, que aprovaram, que a universidade tinha, que ela dava uma bolsa de 50% e eu fui elegível a essa bolsa. Então, já diminuiu o preço da mensalidade. E depois o governo abriu o programa de crédito educativo. E aí eu também me inscrevi no programa de crédito educativo, fui elegível, abandonei a bolsa da escola, porque o crédito pagava integral. E ainda tinha um crédito de manutenção. Ele iniciou com um salário-mínimo, depois congelou o salário-mínimo, tinha muita inflação, na época, o salário-mínimo foi indo, ele era metade do valor. Mas, além de receber a mensalidade, eu recebia uma manutenção, que dava para eu comprar o passe estudantil, para pegar o ônibus e fazer um lanche. Era suficiente para isso, mas para quem iria pagar eu passei a receber. E abrindo um parêntese dessa história do crédito estudantil, que era, na época, o governo dizia assim: “Nós vamos financiar, depois de dois anos de formado você tem que pagar tudo de volta para o governo, só que não tem juros, nem correção monetária. Como, na época, a inflação era exorbitante, acho que você talvez não lembre dessa época, mas se você pesquisar, o Brasil tinha a época de inflação anual que destruiu todo... então, quando eu fui pagar isso aí, como não tinha juros, nem correção monetária, os valores eram irrisórios. Eu cheguei várias vezes no banco e o banco se recusou a receber, porque eram centavos o que eu pagava. Depois que eu fui pagar, devolver para o governo o que ele tinha financiado era centavos, o caixa dizia: “Não faz sentido”. Era um carnê desse tamanho e eu pedia para a minha esposa pagar. Chegou um dia, ela se irritou e disse: “Eu me nego a ir no banco”. Foi lá e quitou o carnê inteiro em uma única vez, porque os valores, nem o caixa... porque a inflação comeu um pouco dessa história. E eu atribuo um pouco disso também a minha trajetória ao vôlei, que abriu esses caminhos e, por coincidência, agora, nos trinta anos da Alunorte, a gente teve uma palestra e veio o treinador da seleção feminina de vôlei. E eu falando pra ele, numa conversa com ele, eu dizendo o quanto o vôlei me ajudou a estar onde eu estava, não só pela parte do estudo, mas os ensinamentos que eu tive do vôlei. Eu estava falando pra ele assim: “No vôlei a gente aprendeu que não tem bola perdida. Você vê, o jogador quase vai lá na arquibancada, tentar pegar uma bola. É porque aquilo está embutido na cabeça: não tem bola perdida, você tem que ir até o máximo. Isso eu levei para a minha trajetória também: não tem jogo perdido, a gente tem que achar uma solução para resolver esse problema. Não podemos os problemas vencerem a gente, a gente pode não achar de primeira, mas vai achar uma forma. Tudo isso ajudou também na trajetória profissional, entre várias outras...
(19:58) P1 - Eu fico aqui imaginando jogar em time, a disciplina do treino, tudo isso.
R1 - No lado, por exemplo, na faculdade, também foi interessante, porque quando eu estava na faculdade, eu comecei também a dar aulas. Desde a escola, quando eu já estava num estágio mais elevado, as crianças da primeira série, alguns tinham dificuldades nas tarefas e aí um colega chegou e disse: “Olha, tem um monte de crianças com dificuldades. Você não quer ajudar? Eu dou aula para algumas, mas eu não tenho tempo”. Aí eu comecei a dar aulas, principalmente matemática e recebia lá um trocadinho, para ajudar as crianças a estudarem e passarem de ano. Então, aí depois eu fui dar aula, quando eu estava na faculdade, em cursinho também, para ir complementando a renda e aí chegou uma época, uma crise muito grande, não tem empregos, essas coisas todas e os colegas meus da faculdade, quase todos, já tinham conseguido um estágio. E eu me aproximando dos últimos anos do curso e sem estagiar. Eu disse: “Mas como é que eu vou entrar no mercado de trabalho sem nenhum estágio?”
(21:18) P1 - E nessa época você tinha me dito que seu pai já tinha falecido também?
R1 - Isso, ele faleceu quando eu entrei na faculdade, né? Antes de eu entrar na faculdade, no ano que eu estava fazendo o vestibular. Então, aí os colegas tudo conseguiam um estágio aqui, numa usina, numa fábrica de tecido e eu não tinha conseguido nenhum estágio. Aí me inscrevi no Instituto Euvaldo Lodi, que é um instituto que requisita estagiários e coloca na indústria, a indústria vai até o instituto. E aí, já próximo dos dois últimos anos, o Euvaldo Lodi conseguiu um estágio numa indústria de leite e eu fui estagiar nessa indústria de leite.
(22:00) P1 - No finalzinho?
R1 - Não, já faltava dois anos pra formar. E aí eu fui estagiar nessa indústria de leite, porque eu disse: “Eu quero qualquer coisa, pra ganhar uma experiência”, né? E eles pagavam uma bolsa, que era pequena, mas pagava o transporte e um lanche. Dava, com essa bolsa. Aí você tem a oportunidade. E eu fui pra essa indústria de leite, teve um outro colega também que passou também no estágio, fomos nós dois. A primeira coisa que o ‘cara’ falou: “Senta lá na caldeira, o ‘cara’ vai ficar aqui, ligando e desligando a caldeira, você vai ficar aqui com ele”. Eu ficava lá olhando o ‘cara’ ligar e desligar a caldeira, esse era o meu estágio. Até que um dia chegou um vendedor de produtos químicos, né? “Graças a Deus vocês são estudantes de engenharia, porque eu posso conversar com vocês”, porque ele conversava lá com o ‘cara’ que chamava foguista, né? Ele acendia um maçarico e ligava a caldeira. Aí, quando atingia a pressão, ela desligava. Aí, quando chegava numa pressão mais baixa, ia lá ligava de novo e a gente passava o dia todo olhando-o fazer isso. Depois de uns dias, a gente já saturado daquilo, ele disse: “Não, agora sobe pra produção de industrialização do leite”. E isso também foi uma história muito... que me marca: a gente começou a estagiar, entender como é que era o processo de pasteurização, de envasamento do leite, o leite saía nuns saquinhos plásticos, nessa época, era vendido para a população. E o interessante que era, historicamente, a bacteriologia desse leite era positiva, ou seja, saía alguma contaminação. Fazia as análises bacteriológicas, saía mais de cinquenta mil colônias, é considerado contaminado. E, por coincidência, minha noiva trabalhava no Ministério da Agricultura e era o Ministério da Agricultura quem fiscalizava, só que ela trabalhava na sede e lá tinham algumas pessoas do Ministério, mas que era nesse posto, que era a indústria de leite de Pernambuco. E a gente começou a pegar os livros e a estudar os livros, entender como era que fazia a higienização dos equipamentos. Olhando os livros, a gente disse: “Não, mas espera aí, a gente põe essa concentração na solução de limpeza, que é quatro vezes menor do que a gente pode chegar, pela legislação. Vamos aumentar as concentrações?” Aí nós chamamos o nosso chefe e propomos para ele: “Olha, nós temos uma solução para tentar melhorar a bacteriologia”. Aí ele disse: “Qual é?” A gente: “Aumentar a concentração da solução assim, a gente tem todo o controle”, controlava a preparação das soluções e dava para pessoal fazer a higienização final. E nós começamos a praticar isso. E o leite começou a dar bacteriologia negativa. Aí começou. Aí o ‘cara’ do Ministério, que ficava lá dentro, era uma fiscalização: “Mas deve estar errado, deve ter algum erro. Nunca deu negativa”. Aí começou uma frequência maior negativa, negativa, negativa. Aí ele veio: “O que é vocês estão fazendo?” A gente falou: “Olha, nós estamos fazendo isso” e aí ele monitorou por um bom tempo e chegou um dia que ele disse: “Vou chamar o Ministério da Agricultura, para coletar aqui”. Aí tudo bem, né? O Ministério da Agricultura vai lá e coleta, tudo positivo. Aí os ‘caras’ foram lá, pra sala, os inspetores: “O que aconteceu? A gente foi chamando, fazendo a maior propaganda que está tudo bem e deu tudo positivo”. Eu olhei pro meu colega, a gente não entendeu o que estava acontecendo. E a sala que a gente ficava era uma sala toda de vidro e aqui ficava a pasteurização. Antes de entrar na sala de pasteurização tinha um pedilúvio, que você ‘bota’ as botas dentro dele, que ele é esterilizado, para você não levar nenhum contaminante externo. A porta tinha aqueles puxadores e dessa antessala, era um corredor, do lado de fora a rua. Eu comecei a olhar para área de produção: “Mas eu não estou fazendo nada de diferente”. Aí eu me virei, que ficava de costa para esse corredor e tudo era de vidro. Aí eu falei: “Conserta a mola da porta e conserta aquele vidro quebrado, que vai melhorar”. A gente higienizava tudo e na rua passava muitos ônibus. Quebrou um pedacinho do vidro, que dava para o externo e o puxador da porta estava enganchado, ele ficava com a porta aberta. Então, quando passavam os carros na rua, toda fumaça passava no vidro, canalizava na porta e era exatamente o tanque que estava escoando a água antes de fechar, para receber o leite. Então, a gente higienizava o tanque todinho, depois essa poluição entrava, quando ele fechava estava a poluição lá dentro, quando ele ‘botava’ o leite, que é um dos meios de cultura melhores que existe: a água, carne e leite são os melhores meios de cultura, desenvolvem bactérias com muita facilidade. Quando ele fechava aqui ali, coletava, tudo positivo. O ‘cara’ do Ministério falou: “Edilson” – que era o nosso chefe – “manda consertar”. Aí ele chamou, mandou consertar o vidro, consertou a porta, voltou a dar tudo negativo. Até então aí tudo bem. Aí um determinado dia o governo do estado disse: “Olha, nós estamos com contenção de despesas e todos os estagiários não vão ter mais direito à bolsa”. Aí o diretor da usina... aí a notícia chegou pra nós, depois de dez meses de estágio. Aí eu falei: “Não dá pra pagar pra estagiário...”, a gente também não tinha mais muito o que aprender lá. Aí eu disse: “Não” - porque eu tinha que pagar dois ônibus pra ir pra lá e tal – “eu não vou ficar sem a remuneração”. Aí ele falou: “Se vocês quiserem ficar, mas não vai ter mais bolsa”. Aí o diretor da usina mandou nos chamar. Aí a gente sentou lá na sala do diretor, aí ele perguntou: “Vocês querem ficar? Infelizmente a bolsa é do governo do estado, o governo cortou essa verba, a gente não tem como ficar. Vocês querem ficar? São bem-vindos”. Aí eu falei: “Não vou ficar, sem a remuneração eu não fico”. Aí ele falou assim: “Olha, eu vou falar uma coisa pra vocês: para os bons profissionais não existe crise. Sempre as empresas vão procurar bons profissionais. Guardem isso com vocês”. Eu agradeci, fui embora procurar outro estágio agora, se aproximando do último ano, né? Aí fui para o... estava tendo um festival de inverno na Católica, à noite e, conversando com uns amigos, eles falaram: “Olha, a Rhodia abriu estágio. Tu não vai? Ah, não, mas você está na indústria de leite”. Aí eu falei: “Não, não, eu saí da indústria de leite”. Aí eles falaram: “E por que você não vai? A universidade indicou um monte de gente”. Então, o coordenador do curso selecionou os melhores alunos e indicou para concorrer no estágio da Rhodia. Tinha uma vaga, duzentas pessoas. Universidade Federal e Universidade Católica indicaram estudantes para concorrer a essa vaga. Meu nome não estava nessa lista. Aí ele falou: “Mas está tudo sendo feito pelo Instituto Euvaldo Lodi”. Aí segunda-feira eu corri no Euvaldo Lodi, aí disse: “Por que vocês não me chamaram, se está tendo um...”. Aí ele falou: “Não, porque você está estagiando na CILPE, eu estou chamando quem não tem estágio”. Eu disse: “Então está aqui minha carteira, pode dar baixa, eu não estou mais estagiando”. Aí dei baixa na minha carteira profissional, aí ele me indicou para o processo da Rhodia, fábrica de filme de poliéster. O que tinha no Brasil? Ela tinha outras coisas, porém filme de poliéster era a única no Brasil. E era lá em Pernambuco, no Cabo, é uma região industrial. Aí mandou e eu fui. Aí bateria de teste psicológico e vai cada vez um processo e dos duzentos eliminou cinquenta. Aí foi eliminando, foi eliminando, foi eliminando, foi para as entrevistas. Acho que tinham quatro nas entrevistas e eu fiquei nessa vaga. Aí, assim, foi uma vitória enorme. E foi até interessante, porque depois chegou o resultado para as universidades e uma pessoa da Católica foi selecionada. E aí o coordenador procurava na lista e não encontrava essa pessoa, porque não estava na lista que ele tinha indicado. E depois foi ele descobriu que era eu. E aí eu fui estagiar na Rhodia. Isso eu saí da CILPE, não fiquei acho que um mês ou um mês e pouco fazendo testes, acho que foram dois meses o período de testes, praticamente toda semana tinha testes e entrevistas e aí, na sequência eu entrei na Rhodia, comecei a estagiar na Rhodia e aí meu estágio foi renovado, eu fiquei dois anos, aí terminei o curso, foi quando eu saí da Rhodia. Chegaram outros estagiários, saíram e eu continuei na Rhodia.
(31:14) P1 – Contratado?
R1 – Não, como estagiário. Quando eu terminei meu estágio, aí a Rhodia me chamou, eu falei - eu tinha que comunicar que estava encerrando o meu curso, né? Porque eu também não podia segurar. Ainda segurei alguns meses o curso, deixei umas disciplinas para fazer, mas aí eu tinha que concluir o curso - “Olha, eu vou estar concluindo o meu curso”. Aí ela falou o seguinte: “A gente tem a vaga de estagiário, a gente já renovou com você dois anos, era um estágio de um ano, a gente fez dois, mas eu mantenho um engenheiro extra no quadro, em treinamento, na França. Quando ele vem, vai outro, quando ele vem... não dá para eu ter dois em treinamento, porque eu já tenho uma vaga que não existe e um profissional, não dá para ter dois. Aí eu: “Tudo bem”. Então, arrumar minhas coisas e cair no mercado. Mas já tinha dez meses de estágio na CILPE e quase dois anos de estágio numa multinacional, que era a Rhodia, na fábrica de filme. Então, já dá para você se apresentar no mercado. E aí você procura emprego onde existe. Aí, coincidentemente, um dos colegas de faculdade, que trabalhava numa fábrica de cimento no interior da Bahia, que o pai dele tinha trabalhado com esse dono, era dono de uma indústria de refrigerante, de uma fábrica de cimento e tinha usinas também e esse pai dele trabalhou com ele muito tempo, ele gostava muito e aí o filho dele, o pai dele fala: “Esse é o filho dele”, ele disse: “Não, vem trabalhar conosco também” e ele foi trabalhar nessa fábrica de cimento. E aí um dia ele liga pra mim: “Olha, eu tô aqui sozinho, tô procurando alguém pra vir trabalhar comigo. Tu tens alguém pra me indicar? Porque tu estás aí, na Rhodia”. Aí eu falo: “Não, eu tô saindo sexta-feira da Rhodia”. Aí ele falou: “Tu quer vir trabalhar comigo?” Aí eu: “Topo”. Ele falou: “Então, no outro final de semana eu tô indo pra aí, eu vou te chamar pra tu fazer uma entrevista com a diretoria”. Aí eu: “Está bom”. Aí ele veio, uma semana depois, me chamou para ir lá, eu viajei num avião da diretoria, fiz as entrevistas e fui lá. Ele disse: “Eu estou há dois anos aqui, sem férias, porque não tem ninguém para ficar no meu lugar e eu não posso viajar com menino pequeno”. Aí eu entro nessa fábrica de cimento.
(33:31) P1 - Ficava onde?
R1 - No interior da Bahia.
(33:34) P1 - Ou seja: saiu da sua vida, da sua cidade. Até então você estava morando com a sua mãe ainda, com seus irmãos?
R1 – Saí. Com a minha mãe, isso. Aí eu fui para Bahia. Quando eu cheguei lá era uma fábrica de cimento de um empresário regional. Você vinha de uma cultura, de uma multinacional preocupada com segurança, EPI, falando em qualidade, em Deming, em Juran, com os conceitos de qualidade. E eu cheguei lá, o ‘cara’ estava trabalhando num galpão, pegava uma flanela, botava aqui na boca e entrava no galpão cheio de poeira, tudo. Aí eu disse: “Meu Deus, o que é eu vim fazer aqui? Tudo que eu queria era voltar pra uma multinacional”. E aí fiquei também dez meses nessa fábrica e resolvi sair. Aprendi muito lá, mas eu disse: “Não, eu tenho que procurar alguma coisa diferente”. Eu comecei procurar emprego. E aí é também uma história longa, essa minha ida para a indústria do alumínio, porque comecei a procurar emprego, pedi demissão. Aí consegui algumas entrevistas em Salvador, mas antes disso eu vi um anúncio assim: “Maranhense, volte pra casa”. Aí minha esposa atual, que era minha noiva na época, ficava procurando anúncios nos jornais, pra mandar meu currículo. “’Maranhense, volte pra casa’, manda meu currículo”, aí ela mandou. Aí eles me ligam: “Olha, eu estava procurando uma pessoa pra compor o nosso quadro, que a gente perdeu dois engenheiros, mas a gente queria uma pessoa mais experiente, mas você já tem um pouquinho de experiência, mas vamos conversar na próxima semana, assim, assado, mas tem uma vaga aqui, pra você”. Aí foi quando o governo lançou aqueles planos de congelamento: Cruzado I, Cruzado II, aí congelaram tudo que é contratação. Eu fiquei um mês esperando e ninguém dá notícia. Aí disse: “Esse aqui sumiu, acabou, vou pra Salvador”. Aí eu pego o transporte e vou para Salvador, para começar as entrevistas. Aí vou para Salvador, aí me ligam de Recife: “Olha, estão te chamando aqui, para umas entrevistas, umas dinâmicas de grupo aqui, que ela abriu vaga para engenheiro recém-formado, mas pediu para te incluírem nesse processo”. Ou seja: ela mudou a vaga para uma vaga de recém... pessoas que estavam terminando a faculdade. Mas como eu tinha dez meses de formado, ela me incluiu nesse grupo, pediu para me incluir. Eu disse: “Mas eu tô aqui, vim fazer as entrevistas” “Não, mas vem pra cá, porque as entrevistas começam amanhã, tal”. Aí eu largo o Salvador, não faço as entrevistas, vou embora pra Recife. Quando chego em Recife, eu espero uma semana, espero duas semanas, nada de ninguém me contatar. Aí eu disse: “Não é possível. Quer saber de uma coisa? Vou ver se o povo do Salvador ainda me quer”. Aí consegui um contato, aí o ‘cara’ disse: “Não, vem aqui, pra gente conversar”. Aí está bom, aí comprei minha passagem e fui pra rodoviária. Nessa época não tinha celular, não tinha nada. Aí fui pra rodoviária. Morava em Olinda, fui pra rodoviária em Recife. Aí, estou na rodoviária, daqui a pouco chega minha cunhada, desesperada, atrás da gente: “Olha, olha, ligaram pra você começar o processo amanhã”. Aí eu falei: “Não acredito. Não acredito. Eu não vou voltar. Já é a segunda vez, eu tô com a passagem comprada, gastei, não posso estar jogando dinheiro fora” “Não, mas a menina ligou, disse que é amanhã pra você ir lá e tal”. Aí eu pensei assim: eu ia viajar oito horas da noite e foi assim, era sete e quinze, aí eu disse assim: “Olha, eu só vou desistir se eu conseguir vender minha passagem”. Aí eu voltei lá no guichê da Itapemirim, aí perguntei à menina, aí ela falou: “Olha, se fosse três, quatro horas antes, a gente admitia. Mas faltando quarenta minutos pro ônibus sair, não vai aparecer mais ninguém aqui. Eu não posso pegar essa passagem de volta”. Eu disse: “Está bom”. Aí dei as costas do guichê. Quando eu dou as costas do guichê, entra uma pessoa desesperada, procurando uma passagem para Salvador. Aí eu falei: “Olha, eu tenho uma passagem aqui”. Aí eu vendi para ele, não sei se foi pelo valor, por uma... eu sei que eu entreguei minha passagem para ele e ele me deu algum dinheiro lá e eu volto. Aí começa um processo de teste psicotécnico, dinâmica de grupo novamente. Aí eu participo desses processos e fomos chamados para entrevista, lá no Maranhão. Aquele “Maranhense, volte para casa”, voltou com um novo programa e foram duas pessoas do Pará, daqui, uma pessoa de Recife e uma pessoa de... aliás, desculpe, foram mais pessoas. Foram uns três de Recife, acho que uns quatro, foram uns três ou quatro de cada região: Fortaleza, Recife e Belém. Aí foram para as entrevistas, fizemos entrevista na Redução da refinaria e terminou ficando quatro pessoas. Duas foram para a redução e duas foram para a refinaria. E eu fiquei nessas duas vagas da refinaria. 16 de junho de 1986 foi quando eu entrei na refinaria. Aí voltei para uma multinacional.
(39:05) P1 - Qual que era?
R1 - Alcoa.
(39:08) P1 - E até então sua noiva ficou?
R1 - Ficou em Recife.
(39:11) P1 - Vocês tinham combinado que era: “Vou lá, trabalhar, ganhar dinheiro e depois a gente...”...
R1 - É, vamos pro mercado. Passa uns dois anos lá, né, depois... e nessa brincadeira fiquei 29 anos lá.
(39:26) P1 - Morando em São Luís?
R1 - Morando em São Luís. E aí passei seis meses, passei o período de estágio, eu quero ficar ou a empresa me quer, ou não. Fiquei, aí decidimos casar, aí tivemos dois filhos, que é o Rodrigo e Natália.
(39:44) P1 - Ela se mudou pra lá?
R1 - Aí ela se mudou pra lá, né, a gente casou e ela mudou pra lá. Aí fizemos lá muitas amizades, amizades que se tornaram famílias. Costumo dizer que meus filhos tinham três vós: as duas naturais e uma que eles chamavam, até hoje a chamam de vó, que era vó que estava próxima, ali, da gente. E fizemos uma amizade com alguns grupos de pessoas, algumas da região e outras também de fora, que ficaram assim, se tornaram quase uma família, né? Porque a gente só ia uma vez por ano, né? Então, a comunicação, nessa época, era precária, né? E a gente ficou, aí eu fui construindo minha trajetória profissional.
(40:24) P1 - Eu fiquei curiosa por que engenharia química e o que que te interessou na refinaria?
R1 – O porquê da engenharia química, eu comecei a ler sobre as profissões. Falei: “Elétrica não é ‘minha praia’, mecânica também não muito”. Meu irmão começou a fazer engenharia química, então já despertou entender um pouco melhor a engenharia química. Quando eu vi o ‘leque’ da engenharia química, eu falei: “Tem muitas coisas que se identificam comigo”. Aí eu fui para esse lado da engenharia química. Aí passei na indústria alimentícia, que a engenharia química está presente; passei pela indústria de sementes, que a engenharia química está presente; a indústria do alumínio, que a engenharia química está presente. Hoje a engenharia química abriu um ‘leque’ e várias outras engenharias ramificaram dela, mas antigamente era elétrica, mecânica, química, não muito mais que isso, né? E a química tinha esse leque todinho, então a minha ida foi mais...
(41:19) P1 - E você teve um destaque por onde você ia passando, né? Você ia encontrando...
R1 - É, eu ia encontrando identificação com aquilo que eu fazia. Aí fiz, nesses 29 anos, de tudo dentro da refinaria. Fui da operação, fui de processo, fui de projetos. E a história do projeto também é muito ímpar. Tem vários momentos, vários episódios, porque eu comecei fazendo controle de processo, depois de muitos anos de rodar na refinaria inteira, eu fui para a área de projeto, fazer o primeiro estudo de duplicação da fábrica, que foi em 1990, quatro anos depois que eu tinha entrado em planta, fui com um australiano, que era um mestre, aí o projeto não foi para frente, a gente passou seis meses estudando o projeto, aí volta para São Luís, aí depois eu entrei. Fui para área operacional, ser supervisor de operação, lidar com o operador mesmo, fazer gestão dos operadores e tudo o mais. Depois eu fui fazer um projeto de aumento de capacidade de 30% da fábrica. Aí aprendi muito lidar com o projeto, já conhecia o controle de processo e a operação, então foi ajudando a aperfeiçoar isso. Aí depois acaba o projeto, implementa, tem algumas histórias interessantes, de algumas viagens para Austrália, algumas contradições com o nosso chefe, o chefe dizia: “Vamos fazer isso”, a gente ia lá e dizia: “Tudo que a gente não vai fazer, não pode fazer, é o que o chefe está dizendo que quer”. Mas a ideia dele era boa, só que ele não colocou o detalhe, depois a gente teve que ajustar o detalhe e aí ele entendeu o porquê. Mas, assim, nuances. E aí implementamos esse projeto, depois eu voltei para a área de controle de processos, depois já gestor de operação e aí, nessa trajetória com pessoas, eu fui promovido a gestor de uma área inteira, já num outro patamar. Lá a gente chamava de superintendente, equivalente a um gerente sênior. Uma área operacional já bem maior. E aí estava lá um belo dia, o meu chefe disse: “Carlos, o projeto de expansão da duplicação da planta vai voltar. Você quer fazer a interface do projeto com as operações? Porque você conhece bem as operações. Você já fez o projeto, você sabe como funciona o projeto”. Ele falando para mim: “Eu fiz isso” - quando ele trabalhava na redução – “é muito bom. Dá para você aproveitar bastante disso aí, mas se você não quiser ir, fica aí”. Parei e pensei: “Isso eu topo”. E aí fui para São Paulo, fazer um workshop de três semanas, para entender o que era o projeto, saí de lá três anos depois porque, quando eu fui para lá, tinha um líder que era um australiano e a Alcoa, nessa época, estava estudando cinco expansões do mundo: uma em Guiné, outra em Gana, outra na Jamaica, uma na Austrália e São Luís. Eram cinco projetos. Aí ele falou: “Eu estou com time de três ou quatro pessoas, que vão dar um suporte técnico para todos os projetos, eu vou ser o líder, mas eu preciso de um líder de processo em cada um desses projetos. Só um que vai ficar com dois projetos, que é o ‘cara’ que projetou São Luís I, ele vai ficar com os dois projetos da África, Guiné e Gana. Mas eu quero você com São Luís, o outro com a Austrália e o outro com a Jamaica. O da Austrália eu não sei quem vai ser ainda...”. Eu falei: “Não, não, espera aí. Eu vim aqui fazer a interface, foi isso que eu combinei com meu chefe, lá”. Aí ele falou: “Não se preocupa com o seu chefe, com o seu chefe eu resolvo. Eu só quero saber se você topa. Mas você é a minha pessoa”. Liguei para casa, minha esposa com os dois meninos, eu disse: “Olha, é dois anos aqui”. A pergunta que ela fez: “É bom para você?” Eu disse: “É”. Ela disse: “Então, é bom para você, é bom para todo mundo, vamos fazer”. E aí eu fui, entrei como process designer manager do projeto de duplicação da planta, que foi uma experiência fabulosa, lidar com profissionais do mundo inteiro e da planta, uma responsabilidade, também, muito grande. E aí eu fiquei fazendo o projeto. O projeto teve um embargo de seis meses, até que parou o projeto, mas depois retomou. E a gente ficou esses três anos desenvolvendo o projeto. Aí eu vou para São Luís, para fazer a implementação, procurando alguém para fazer a interface. Aí o ‘cara’ que ficou em São Luís falou: “Eu não tenho ninguém para botar na interface, acumule a interface”. Aí o meu chefe aqui falou: “Mas é conflitante, porque é a operação e você é o projeto”. Aí eu falei: “Mas não tem ninguém que fique”. Ele falou: “Vá tocando aí”, mas não é o que eu gostaria e aí eu fui tocando. E aí ele contratou um gerente de comissionamento, que passou três meses e foi embora. Aí o diretor de projeto que veio: “Você vai ser o gerente de comissionamento, depois você vai ser o gerente das conexões da planta nova com a velha”. Eu acumulei algumas funções dentro desse comissionamento e fomos fazendo. O interessante é que a gente não tinha um modelo de como preparar a planta, de como ‘botar’ a planta para operar. Tem alguns modelos prontos aí, no mercado, que eu não gostava deles. Aí eu disse: “Vamos desenvolver o nosso modelo”. Aí a gente começou a desenvolver o nosso modelo de comissionamento. E o que foi muito interessante, que eu sentava na cadeira da operação, que eu conhecia e da manutenção e dizia: “Se eu estivesse lá, como é que eu gostaria de receber?” Aí eu lembrava das dificuldades que eu tinha. Aí eu dizia: “Eu quero receber desse jeito”. Agora, eu estou nessa outra cadeira, como é que eu vou entregar? Eu vou entregar do jeito que eu gostaria de receber. Aí eu fui até criticado: “Mas é muito detalhe, ninguém nunca fez isso”. Eu: “Mas é necessário”. Inclusive algumas pessoas de experiência internas, de caldeira mesmo, fomos buscar uma expertise nos Estados Unidos. “Carlos, mas ninguém faz isso”. Eu disse: “Não, mas nós vamos fazer isso, por isso, por isso”. Ele entendeu e incorporou, isso foi bacana, trouxe muitas coisas boas, mas também entendeu o que a gente estava fazendo e incorporou. E foi interessante que o projeto começou a atrasar e o diretor tinha uma data para terminar e eu tinha que ir ‘botando’ os equipamentos paulatinamente em operação. Só que ele não terminava a construção, mas não mudava a data final. Então, ia comprimindo e o volume de trabalho aumentava. Aí ele chegou assim pra mim e falou: “Você não vai conseguir”. Aí eu falei: “Se você me ajudar, eu tento”. Aí ele disse: “O que você precisa?” Eu disse: “O que nós combinamos, que eu ia utilizar a mão de obra da construção para me ajudar no comissionamento, eu descobri agora que não pode ser, que são skills diferentes, habilidades diferentes. Um é de montagem, o outro é fino, ajuste, controle, calibração. Não dá para contar com essa mão de obra”. Aí ele disse: “O que você precisa?” “Eu preciso de uma mão de obra especializada”. Ele disse: “Faça o que você quiser”. Aí eu fui procurar no mercado e vi que tinha uma empresa que estava fazendo esse trabalho, um petroleiro que estava em Porto Alegre. Esse petroleiro estava há dois meses de ir para alto mar, já com todo o comissionamento feito. E eu fui olhar o que essa empresa fazia lá. E essa empresa batia os conceitos muito com o que eu tinha na cabeça. E eles tinham os protocolos dele. Aí eu falei: “Olha, eu quero contratar você com parte da sua mão de obra, tem outra parte que eu tenho, mas os protocolos são os meus e já estão todos prontos”. Aí a empresa: “Não, mas a gente tem os nossos”. Aí depois ela olhou os nossos: “Parece muito com os nossos, sem problema. A gente precisa de duzentas e cinquenta pessoas para comissionar”. E comissionamos no tempo previsto. Então, assim, é aquela história do vôlei, não tem bola perdida. A gente tem que achar o jeito. Uma coisa vai levando à outra, eu não desperdiço nenhuma experiência. Por menor que seja, ela serve... eu gosto muito de pegar as coisas pequenas e associar para as grandes. E todas essas coisas me ajudaram nessa trajetória profissional.
(49:54) P1 - Como é que você lidava com todos esses desafios? Era um combustível, para você? Você ia estudar sobre isso? Você ia buscar referência?
R1 - É a vontade, é o compromisso, é o acreditar, é focar. Você acredita, você gosta daquilo que você faz, você acredita. Eu me lembro que a empresa lá, apesar da Alcoa ser (50:18), é um consórcio. Tem a antiga BHP Billiton, que hoje é a South32, que é a parte de alumínio que a South32 assumiu da BHP Billiton, a Rio Tinto e a Alcoa, que é majoritária, mas essas duas são consorciadas, por isso que chama Alumar, Consórcio Alumar. Então, assim, eu era auditado pelas três empresas e o pessoal da BHP Billiton vinha com um manualzinho debaixo do braço, ia nos auditar lá em São Paulo, no projeto e perguntar: “Cadê o seu plano de comissionamento?” Eu falei: “Mas eu não tenho plano de comissionamento”. Doze meses depois eles voltavam lá. Eles auditavam todo mundo: pessoal de compras, o pessoal de engenharia: “Cadê o seu plano de condicionamento?” A gente está começando a fazer o projeto agora, estamos preparando ainda a documentação, o ‘cara’ está me perguntando como é que eu vou partir a planta. Esse ‘cara’ não vai me perguntar três vezes a mesma coisa e eu vou dar a mesma resposta para ele. E era difícil você bolar como iria... e aquilo ficou martelando na minha cabeça. Aí eu falei: “Se esses ‘caras’ estão me perguntando, esses ‘caras’ são senhores, com muitas trajetórias, muita experiência e vêm com o manualzinho debaixo do braço, é porque isso é importante”. E aquilo ficou martelando na minha cabeça. E um dia eu estava num apart-hotel, fui deitar umas 11 horas, mais ou menos e quando deu duas horas da manhã eu acordei. Peguei um monte de desenho que estava comigo, desenhos que eu revisava. Eu virei os desenhos de cabeça para baixo e comecei a escrever a sequência de comissionamento. Eu escrevia assim, à mão, papapapapa, um diagrama de blocos, fui fazendo, fazendo, fazendo, fazendo e eu tinha um engenheiro surinamês que trabalhava para mim, veio me ajudar no projeto. Steve, muito experiente. Ele tinha trabalhado em São Luís também, passou mais de dois anos em São Luís, depois voltou para o Suriname. Aí eu cheguei e disse: “Steve, está aqui o plano de comissionamento. Jogue fora, revise, comente, altere, faça o que você quiser”. Aí ele olhou e falou: “Carlos, eu tenho poucas coisas para acrescentar aqui”. Aí a gente transformou aquilo num diagrama de bloco e foi onde a engenharia se guiou, por aquele plano. Quando eles vieram, que eu mostrei esse plano, aí eles falaram ok. Das outras vezes - eles marcavam um dia inteiro de auditoria comigo - que eles voltaram, ele falou: “Carlos, teve alteração do teu plano de comissionamento?” Falei: “Não” “Então eu preciso de meia hora com você. Na agenda de um dia, meia hora com você”. Aí hoje eu descobri o quanto que aquilo era importante e eu não via. E o quanto foi importante depois. Então, são essas experiências que você vai trazendo para a tua vida. Aí depois ‘botamos’ a fábrica para operar, tivemos desafios, muitos. A história dos 29 anos foi um desafio de tudo que é natureza. Mas esse foi um desafio muito, muito grande. As conexões da planta existente com a planta nova, esse diretor, que era um neozelandês, só trabalhava com megaprojetos pelo mundo afora, falou: “A minha maior dor de cabeça é: eu construo, faço a parte civil, a parte de fundação, a parte de estrutura metálica, mas quando eu vou conectar é onde é a minha maior dor de cabeça do mundo, todas as experiências minhas são dor de cabeça com isso aí”. Aí eu fiz um plano de conexões, que gente chama de (53:43), a gente não perdeu uma grama de produção e não atrasou em nada a construção. Aí ele falou assim: “Você é um benchmark mundial em (53:52)”, porque ele tem uma frustração com ele, né? Até que ele foi fazer uma fábrica lá na Arábia Saudita, que também a Alcoa tinha participação e ele queria me levar pra lá, pra fazer esse trabalho. Eu nunca soube, só soube disso depois, porque ele comunicava com a Alcoa e a Alcoa dizia: “Não, não”. E é interessante essa história da Arava Saudita também. Mas aí, parti a refinaria e ‘botamos’ para operar. Estava lá muito bem, reconhecido pelas três empresas. Ganhei um prêmio da Rio Tinto, que ela não dá para ninguém, nenhuma planta que ela não tem mais do que 50% do controle. Ela tem 10 % e ela me deu esse reconhecimento. Foi bacana, né? A (54:33), que é uma empresa da Austrália, veio, o Sherman veio em São Luís, dar os parabéns, dizer que estava satisfeito. São reconhecimentos que não têm preço.
(54:44) P1 - Em paralelo, você ia escutando sobre Albras, sobre Alunorte, como que você... porque é o mercado, né?
R1 - Alunorte eu conhecia, porque estava aqui. Não conhecia detalhes, já tinha vindo aqui, numa visita esporádica, mas não tinha muito contato. E aí, nessa trajetória, a Edge, que é uma empresa lá dos Emirados Árabes, que estava também partindo uma refinaria lá, discutiu comigo por uns seis meses, tentando me levar para lá, mas não deu certo. Conversamos seis meses e não deu certo, acabou. E aí, depois, meu chefe me chamou para fazer a interface, ele estava na Alunorte e aí ele me chamou: “Você não quer vir pra aqui, pra Alunorte?”
(55:27) P1 - Que ano?
R1 - Isso foi em 2015. Quer dizer: a gente partiu a refinaria em 2011, 2012 estava estabilizando. Quer dizer; eu fiquei lá mais uns três anos. E aí eles começaram a me chamar pra vir pra cá. Eu: “Não, não, não”. Mas aí vim e estou aqui há dez anos.
(55:48) P1 - O que te convenceu a vir?
R1 – Foram tantos os motivos. Eu poderia sumarizar aqui, mas foi muita reflexão e muita conversa. Primeiro, pelo que eu escutava falar, pelo que eu conhecia das outras refinarias, a gente tem a melhor refinaria do mundo, que era a refinaria de São Luís, mas não é a maior. Aí eu falei: “Que tal fazer da maior a melhor também?” Então, isso foi um motivador. Outro motivador eu disse assim: “Daqui a pouco eu vou pensar em aposentar. Eu não acho justo que os meus conhecimentos fiquem retidos. Eu quero continuar compartilhando, acelerar a trajetória. As pessoas não precisam esperar 29 anos para conhecer o que eu conheço. Se elas conseguirem conhecer, eu conseguir transmitir para reduzir esse tempo, eles vão ganhar outras experiências, mas a que eu tenho eu quero compartilhar o mais rápido possível. Talvez eu possa fazer isso, talvez lá precise um pouco mais disso do que aqui”. E outros fatores também que ponderaram foi assim: meus filhos começaram a ingressar na indústria. E minha filha estagiava em São Luís e meu filho estagiou e foi contratado.
(57:09) P1 - Na área de engenharia também?
R1 - Na área de engenharia. Ele é engenheiro químico também e engenheiro de produção. Eu sou químico, engenheiro químico. Eu fiz Química Industrial e Engenharia Química. Ele fez Engenharia de Produção e Engenharia Química. Minha filha fez Engenharia de Produção e Química. E aí ele começou a trabalhar lá. Ela começou a fazer estágio também no laboratório, depois na área de porto. E eu falei também: “Acho que é hora de eu abrir, deixar a trajetória deles aqui e eu ir embora, para outros lugares. Eu vou para lá, passo uns dois anos lá. Acho que menos de dois anos, não”. O cálculo foi assim: em dois anos eu posso não gostar da empresa, em dois anos a empresa pode não gostar de mim. Eu acho que menos que isso, só se for uma coisa muito grave, tanto de um lado quanto do outro. Ela não vai dizer que não gosta de mim em seis meses, só. Vai levar uns dois anos para ela calibrar, né? Dois anos está dentro do plano, depois eu vou ver o que eu vou fazer. E eu vim pra cá e estou há dez anos aqui, a fábrica nunca tinha chegado na produção alvo, chegou quando eu estava aqui, então, muito orgulho de ter trazido a fábrica para capacidade produtiva. E eu gosto muito desse ramo do alumínio, faço tudo com muita dedicação, muito ownership da coisa. Se você não tiver ownership, não adianta, vai procurar outra coisa.
(58:33) P1 - E aí você se mudou para Barcarena, ou para Belém?
R1 - Eu me mudei para Barcarena e a família ficou lá. Minha filha não ficou na Alumar, mas ficou por uma contratada que trabalhava para a Alumar, na área portuária. Aí abriu o programa de trainee, que foi um programa com cento e cinquenta, duzentas pessoas inscritas e foi fazendo os filtros, filtros, filtros e ficaram quarenta e alguma coisa trainees, foram selecionadas e ela foi selecionada. Aí ela veio pra cá, pra entrar no programa de trainee. Até hoje ela trabalha na Alunorte. Ela já veio pra cá e ficou minha esposa com o Rodrigo lá e eu e ela aqui. A gente ia, final de semana, pra São Luís, né? E eu fiquei naquele vai e volta. E aí, um belo dia, abrem uma vaga aqui, meu filho se inscreve e não fala nada pra mim, o pessoal daqui gostou dele e o contrata. Aí eu falei: “Olha, eu saí de lá por causa de vocês, agora os dois vêm pra cá. Eu não tenho mais responsabilidade nenhuma sobre isso”. E aí ficamos aqui.
(59:47) P1 - Todo mundo veio?
R1 - Todo mundo veio, aí mudamos todo mundo para Belém. Meu filho ficou dois anos aqui e foi chamado para ir para Arábia Saudita, nessa fábrica que estava sendo construída, que quase eu fui para lá. E hoje ele mora lá. Está lá, há dois anos.
(01:00:04) P1 - E a família está em Belém: você, sua esposa e sua filha?
R1 - Aqui em Belém.
(01:00:07) P1 - Vocês se adaptaram bem com tantas mudanças? Barcarena, tão diferente de São Luís?
R1 - Adapta, né? Eu acho que a gente tem o trabalho, que consome grande parte do nosso dia, né? O resto do dia eu não sou uma pessoa muito exigente com as coisas, né? É um lazer, é um churrasco, estar com os amigos, vai num shopping de vez em quando, fazer umas compras. Não sou uma pessoa exigente, nesse aspecto. Então, adapto fácil aos ambientes, né? Aqui tem uma culinária... todos os locais têm prós e contras, né? Desde que eu entrei lá em São Luís, em 1986, que eu digo assim: “A vida é uma compensação. Você não vai ter tudo que tem de bom em São Paulo e ter o trânsito da melhor cidade do mundo, o clima da melhor cidade. Você vai ter um monte de coisa boa em São Paulo e você vai ter a complicação do trânsito, disso e daquilo outro. Tudo é uma compensação. Você não vai ter a praia mais bonita do mundo em São Paulo, em São Paulo não tem praia. Então, tudo é uma compensação. Vai ganhar uma coisa e você vai perder outra. Se você valorizar demais as que você perde, não fica. Se você ponderar aquelas que perde e valorizar as que você ganhou, você adapta”.
(01:01:19) P1 - Quase uma conta exata.
R1 - É uma conta. Você não vai ter um paraíso: o melhor trabalho, a melhor cidade, a melhor natureza, o melhor tudo, no mesmo local. Você vai ter umas compensações. E a vida é assim.
(01:01:36) P1 - E aí na tua carreira, de tempos e tempos você fazia esse balanço?
R1 - Fazia esse balanço, fazia esse balanço. Até para você trocar de emprego você faz esse balanço. Você vai ganhar umas coisas, você vai perder outras. Você não só vai ganhar as coisas boas que você tinha no passado, você não as traz e só acumula as boas. É uma ponderação. E aí você pondera o que faz sentido pra você, pra vida.
(01:01:59) P1 - E o que te interessou, quando você entrou na Alunorte? O que te fez ficar mais interessado em continuar nela?
R1 - O desafio.
(01:02:05) P1 - Como foram esses dez anos?
R1 - O desafio da Alunorte ter feito as três expansões, estar com os equipamentos lá e nunca ter chegado na capacidade nominal. Isso me motivou a motivar as pessoas, a fazer as pessoas acreditarem, a engajar as pessoas, que não é fácil, é uma unidade muito grande, desafio todo minuto, é a maior refinaria do mundo com desafios internos e externos de pessoas, de equipamentos, de comunidade, de tudo, de tudo, de tudo. E você conseguir equilibrar essas coisas e traduzir isso num resultado. Então, isso é muito gratificante. Agora, mais recentemente, a gente fez a conversão da matriz energética, um projeto extremamente desafiador, que a gente conseguiu fazer num espaço de tempo extremamente recorde. Eu diria que grande parte das pessoas que tomam conhecimento desse projeto não têm noção do desafio e da dimensão que era isso, porque a gente conseguiu fazer tão rápido, implementar tão rápido e foi tanto sucesso, que as pessoas não conseguem dimensionar o desafio.
(01:03:19) P1 - Conta pra gente.
R1 - Primeiro, vamos fazer o projeto. Começou que o projeto não era desse tamanho todo, era em parte dos equipamentos, eu falei: “Não faz sentido fazer em parte dos equipamentos, só faz sentido fazer em tudo. Eu vou fazer um negócio pra fazer pela metade?” Aí me deram alguns exemplos, que não me convenci, aí eu dei uns contraexemplos, que aí depois me deram razão, que teria que fazer todo mesmo. E o desafio era mexer com 13 equipamentos. O navio que trazia o gás atrasou, então a gente teve que ir segurando o projeto, segurando a conversão. A gente foi duas vezes em Singapura, para ver o navio sendo totalmente reformulado. Era um navio que transportava gás e ele passou, tirou toda aquela parte de transporte e ele ganhou uma unidade industrial de beneficiamento dentro dele, é uma indústria flutuante. E aí ele veio e ancorou no Porto de Vila do Conde, para ficar ali regaseificando o gás, que ele tem líquido, forma líquida e colocá-lo e distribuí-lo na região. A gente acompanhou essa trajetória, esse navio atrasou, que dá um processo gigantesco fazer essa transformação, então ele atrasou e ficou bem comprimido e tinha que fazer tudo isso e aí nove meses para fazer tudo isso e com a refinaria operando. E você lá, com todo mundo, para os equipamentos um atrás do outro e isso perturba a rotina da refinaria inteira, tanto as partes de segurança, a parte de planejamento, a parte de operação. Mas assim, o foco é assim: não podemos errar. Se a gente errar no primeiro, atrasa o resto todinho. Então, não podemos errar no primeiro. Tem que ter muito foco, muita previsão do que estava acontecendo, para você se antecipar aos problemas, aos possíveis desafios e tentar equacioná-los antecipadamente. E executar bem executado. Mas aí fizemos tudo isso. Em paralelo também colocamos as caldeiras elétricas, tudo no mesmo ano. Esse foi o maior projeto da Hydro Mundial no ano 2024. A gente entregou os resultados que a Hydro precisava com um ano de antecedência. Ela tinha um plano de descarbonização para 2025, a gente o entregou todinho no final de 2024. O impacto que a gente esperava, a entregou mais do que estava prometido, em termos de resultado. Foi responsável por 99% dos objetivos da Hydro, foram entregues por nós no ano de 2024, que era para ser entregue no final de 2025, um ano antes a gente já está com isso totalmente implementado. Isso é gratificante, é uma vitória, mas as vitórias não vêm... é muito fácil você ver a vitória depois que ela acontece, mas o quanto você trabalha para ela acontecer faz um diferencial. Se você não trabalha, ela não acontece na proporção que você imagina. Tem que se antever muito, tem que planejar muito, tem que visualizar na frente, ‘botar’ a cabeça para antecipar situações. E foi isso um pouco do que a gente fez lá na outra e a gente traz essas experiências pra cá. E com isso você vai compartilhando essas experiências com quem está ao seu redor, pra que eles vão ganhando essa experiência e vão tocando esse negócio no futuro.
(01:06:46) P1 - Mudou muito em dez anos?
R1 - Eu acho que sim, bastante. Eu digo isso até por uma simples observação: teve pessoas que visitaram aqui, aí passaram cinco anos sem vir, ou dez anos sem vir, quando eles vieram: “Nossa, isso é outra refinaria”. Você consegue isso com trabalho, através das pessoas, engajando as pessoas, trazendo pessoas competentes, tendo pessoas competentes ao seu redor e compartilhando essas experiências, para que as pessoas cada vez mais se engajem. Então, essa história de ter o ownership, se antecipar, querer fazer, querer ter sucesso, não desistir, não fracassar na primeira dificuldade. Dificuldades vão existir. Você tem que ir achando formas: escutar, ter foco nas coisas que são necessárias, ter convicção de que você está correto, está fazendo a coisa certa e ter compromisso de fazer a coisa certa. Eu acho que isso é algo inerente nesse tipo de negócio: tem desafios todos os dias, todos os anos, independente do que esteja acontecendo. E quanto mais coisas acontecem fora, mais impacta lá dentro. Então, são coisas que você sabe que vai ter desafios contínuos. Não vai ter alívio. Ora o foco está mais um lado, ora está no outro, ora está no outro, ora está no outro, daqui a pouco ele volta novamente, mas é contínuo, o desafio é contínuo para todos, não é? Não é pra um ou pra outro, é para todos.
(01:08:17) P1 - No seu dia a dia você lida mais na gestão de pessoas, para que elas executem todo o plano ou você fica mais na parte olhando para operacional, para matéria? Como que é o seu dia a dia?
R1 - É mais ou menos como um todo, como é nós estamos organizados? Quando eu vim aqui para Hydro eu era o diretor da Alunorte. Aí, depois, quando eu saí da diretoria da Alunorte, eu vim para chefiar as operações de bauxita e alumina. Ou seja, elegi um diretor para me substituir e tinha um outro diretor em Paragominas, que é onde é a mina e os dois respondem para mim. Então, esse hoje é o modelo. A Alunorte tem um diretor industrial e um vice-presidente, por causa do consórcio, que a gente tem um joint venture, então requer um diretor-presidente e um mais operacional e na mina a gente só tem um diretor operacional, que é também o diretor-presidente e esse grupo responde para mim e aí tem a parte de implementação de projetos. Até alguns anos atrás a turma de projetos tocava outros projetos, muito próximo de mim, mas esses dois grandes projetos, que era a caldeira elétrica e o fuel switch ficaram diretamente comigo. E aí, depois que eles terminaram agora, aí incorporei o resto dos projetos e então fica...
(01:09:34) P1 - No meio disso tudo, qual que é seu maior desafio?
R1 - O maior desafio é manter a harmonia de tudo isso, manter o equilíbrio de tudo isso. Cuidar da segurança das pessoas, cuidar adequadamente do meio ambiente, cuidar dos stakeholders externos, cuidar da produção, cuidar do negócio, do business, tudo isso só existe porque existe um business, você tem que cuidar desse business, né? Mas como cuidar desse business? Garantir que as pessoas estão bem, que estão motivadas, que elas trabalham com prazer, que elas são respeitadas, que elas não estão se expondo à questão de segurança. Quando você olha pros seus processos, pro respeito ao meio ambiente, a Hydro procura buscar as melhores tecnologias que tem disponível no mundo inteiro, ela não se furta em a gente trazer pra cá e colocar em benefício do que tem. Cuidar do resultado, o resultado precisa continuar acontecendo, diante dos desafios mundiais. As guerras que estão acontecendo no mundo, a questão geopolítica mundial influencia, né? É uma comodity, então influencia no preço do nosso produto e influencia no preço das matérias-primas. Então, quando essa combinação não está muito legal, a pressão, você começa a ter matérias-primas caras e o teu produto não acompanhou. Às vezes, quando os movimentos são iguais, a matéria-prima sobe, mas o teu produto sobe? Há um certo equilíbrio, você tem que cuidar dele. Mas quando ocorre um movimento, às vezes não do mesmo lado, o teu produto cai e a matéria-prima sobe, aí a pressão é maior. Então, equilibrar tudo isso e manter esse equilíbrio, essa harmonia entre todas as necessidades. Os stakeholders externos precisam estar todos bem cuidados, a questão ambiental. A gente tem muita coisa que é um diferencial. Por exemplo: a nossa mineração não tem mais barragens. Hoje o rejeito que é gerado na mineração volta de volta para a área onde ele é. A gente não constrói mais barragens, não constrói mais áreas de depósito. Isso é uma inovação na indústria e é um marco importante. Com toda essa preocupação ambiental, você não construir mais depósitos é um diferencial e isso passa a ser uma referência na indústria. Hoje a gente é certificado pelos órgãos internacionais de controle de gestão, integrada de barragens e rejeitos, é um órgão mundial. A gente hoje é afiliado a ele, todos os protocolos que ele tem, a gente atende. Então, a gente busca seguir os padrões internacionais e estar com as melhores tecnologias. O filtro-prensa, que a gente já opera há muito tempo, permite que o resíduo gerado na refinaria, que já não é mais na mina, é na refinaria, que é uma preocupação da indústria mundial do alumínio, só 5% desse resíduo tem aplicação industrial no mundo inteiro, desde que ele foi criado. Então, com essa tecnologia, a gente consegue ter um resíduo bem seco. Então, o nosso depósito já não é barragem, que as barragens que contêm água são mais susceptíveis aos incidentes. Nosso resíduo é totalmente seco, como se tivesse aqui, em cima de uma coisa sólida. E permite que a gente encontre aplicações para essa resina, aplicação industrial. Agora a gente vai, em conjunto com a New Wave, entrar em operação de uma planta de menor escala, cinquenta mil toneladas, que nós vamos extrair ferro do resíduo. E é um ferro de baixo carbono. Um ferro para ser colocado no mercado e ele tem baixo carbono. Então, é através dessas tecnologias, que permite que outras tecnologias venham, através de forno de micro-ondas, extrair o ferro que tem no resíduo e transformar isso num produto industrial. Então, isso é muito bom, isso é um passo que a gente dá, muito na frente da indústria. Com as preocupações de sustentabilidade hoje, a nossa indústria está se redescobrindo. Nós colocamos as caldeiras elétricas, tem emissões zero, as nossas emissões foram reduzidas mais de 1,4 milhões de toneladas, no final de 2024. Agora a gente já tem aqui no Pará o açaí, que é conhecido mundialmente, mas aqui no Pará ele é extremamente forte, a indústria do açaí aqui é mais forte. E o caroço do açaí é um resíduo, é uma preocupação o que fazer com o caroço. E nós já queimamos mais de cento e cinquenta mil toneladas de caroço como combustível da indústria e estamos continuando os testes, se tudo se comprovar, ele pode ser... o que era um resíduo, passa a ser uma matéria-prima para a indústria do alumínio, na geração de vapor. Então, você transforma um resíduo num produto, você resolve um problema ambiental, social, porque o caroço ficava, vai sendo armazenado nos locais e aí vai ‘botá-lo’ para onde? É um problema. Hoje em dia já tem uma empresa que coleta tudo isso, leva, processa, seca e manda para nossa indústria e a gente usa como matéria-prima. Então, você começa a resolver um problema de uma área, de uma indústria alimentícia, para ser uma matéria-prima que não tem emissão de carbono, na indústria do alumínio. Essas inovações, essas tecnologias, essas implementações, que não ocorrem da noite para o dia, precisam de tecnologia, de desenvolvimento, de perseverança, de acreditar, vão acontecendo paulatinamente, mas quando a gente descobre que tem uma veia boa, a gente acelera. Então, tudo isso é o que dá prazer trabalhar nessa indústria. Ela é muito desafiadora, mas a gente vê quando gente vai encontrando essas veias, que vão tornando o nosso produto cada vez mais sustentável. O alumínio é necessário para o mundo, porque ele é leve. A indústria automobilística precisa do alumínio, para diminuir emissões. A indústria automobilística começa a ver como é que foi gerado esse alumínio, como é que processado esse alumínio. O ‘cara’ lá da indústria automobilística vem aqui nos visitar e vê como Paragominas opera. Sem rejeito, com a reabilitação. Todo hectare que a gente desmata, a gente recupera e agora estamos indo além, recuperando mais do que nós estamos desmatando. Aí, quando ele vê o mineroduto, que é o melhor modo de transporte de bauxita, o mais eficiente do mundo, deixa de emitir com os combustíveis, não tem problema de segurança. Chega aqui o nosso resíduo, a gente está transformando esse resíduo num produto, está diminuindo as nossas emissões, está pegando um rejeito e o transformando como uma matéria-prima, dando um suporte. A gente tem uns programas sociais dentro do corredor por onde passa o nosso mineroduto, desde Paragominas até Barcarena, todos os nossos programas sociais que a gente tem. Então, quando a indústria que está lá na ponta, vendendo um produto para o consumidor final, vê que o alumínio que ele usa lá tem essa rastreabilidade, tem todo esse conceito, a gente acredita que gente está diferenciando o nosso produto nesse contexto de necessidade de sustentabilidade mundial, que a gente sabe que ele é necessário, por isso que a gente acredita, por isso que a gente vai nessa linha.
(01:17:29) P1 - Pensando especificamente na Alunorte, o que faz dela uma referência e por que ela é uma boa empresa para as pessoas construírem suas carreiras, seus filhos trabalharem?
R1 - Ela é gostosa pelo tamanho. Ela é a maior refinaria do mundo. Ela não se furta de trazer as melhores tecnologias que estão disponíveis no mundo. Então, você estando lá, você vai ter contato com essas tecnologias. Ela tem desafios, que as pessoas são movidas por desafios. Ela dá oportunidade de crescimento. Você saber que o teu produto é um produto que vai ser necessário para a humanidade por muitos e muitos anos. O mundo vai continuar precisando do alumínio. Então, você sabe que você está numa indústria que é duradoura, é responsável, traz as melhores tecnologias, tem desafios para você vencer, motivar vencer desafios. Então, tudo isso. Ela é uma boa empresa de se trabalhar. O respeito pelas pessoas, você é bem tratado e é exigido que você trate bem das pessoas, dentro de todos os conceitos. Então, esse conjunto de coisas, quando você olha isso, que está presente numa única empresa, isso te motiva a estar dentro dessa indústria. Apesar dos desafios, ela traz esse outro arcabouço de coisas, ela acredita no futuro, nós vamos conseguir chegar a ser um diferencial. Nós temos a meta do nosso alumínio ser todo produzido com zero emissões de carbono. Não é uma coisa que acontece da noite para o dia, mas olha o passo que a gente já deu. E não é uma narrativa, não é uma intenção. Os projetos já estão implementados e já estão entregando os resultados. Não é uma apresentação de PowerPoint. Está materializado.
(01:19:29) P1 - São muitos funcionários, né?
R1 - São muitos funcionários. Só de diretos, na Alunorte, nós temos dois mil e duzentos. Mas, dependendo da quantidade de projetos que a gente tem lá, três a quatro mil indiretos, só na Alunorte. Mais mil e seiscentos, mil e setecentos em Paragominas, mais uns mil indiretos. Então, cuidar de todas essas pessoas adequadamente para que elas estejam bem tratadas, pra que elas possam desenvolver suas atividades de forma tranquila dá trabalho.
(01:20:02) P1 - E tem um investimento na carreira delas, né?
R1 - Tem um investimento na carreira, tem um investimento na garantia que elas estejam bem e seguras, para executar o seu trabalho. Todos os programas que nós temos pros nossos funcionários, nós utilizamos com os contratados, não tem diferenciação. Entrou no portão todo mundo tem os mesmos procedimentos, mesmos treinamentos de segurança, de preparação para executar suas atividades, não tem diferenciação. Então, tem tudo isso.
(01:20:32) P1 - Esse selo de Empresa Cidadã, o que significa?
R1 - Ele significa, eu simplificaria, né? É como você está se relacionando com a comunidade que está ao seu redor, com todos os stakeholders, com o respeito com as comunidades, como você está se relacionando, como a comunidade enxerga você, né? Então, tudo isso é muito importante, né? E é interessante porque, às vezes, a gente tem reunião com os líderes comunitários e eles reconhecem, falam assim: “A gente sabe que isso não é responsabilidade da Hydro, mas a gente precisa do suporte da Hydro”, porque a Hydro, às vezes, tem acesso a canais que eles não conseguem ter. Eles reconhecem isso, mas eles precisam da gente. Então, a gente também tem que atender parte desses anseios. Ele sabe que não é a responsabilidade, aquela entrega específica não é nossa, mas ele sabe que nós podemos influenciar naquilo positivamente.
(01:21:33) P1 – E emprega muita gente, também.
R1 - A empregabilidade é muito grande, porque tem os empregos diretos e os indiretos. Hoje Barcarena tem um volume de indústrias que estão ao redor, ali, que estão em função daquele negócio. Então, as pessoas também são conscientes que precisam preservar esse negócio, para que esse desenvolvimento continue.
(01:21:57) P1 - Hoje tem alguma missão da Hydro Alunorte bem detalhada, qual é missão dela em 2025?
R1 - Tem, por exemplo: a questão da sustentabilidade. A gente tem a descarbonização, que era o que a gente estava falando. Ela queria reduzir as emissões mundiais 10% em 2025. Qual era a contribuição da Alunorte para esses 10% em 2025? Era 16%. A gente entregou 32. Dos 16, a gente entregou 32, um ano antecipado. O que ela esperava em 2025 nós já entregamos em 2024. O dobro. Aí, em 2030 ela quer reduzir 30%. A gente está trabalhando já, como chegar nesses 30%, a Hydro todo está trabalhando, nós também. E ela quer, em 2050, ter um produto isento de carbono. Então, esses desafios, essas trajetórias precisam ser trabalhados. E muitas vezes, quando você já tem a tecnologia disponível, é uma questão de aplicar a tecnologia e buscar, precisa dos investimentos e tudo mais. Mas tem hora que você tem que desenvolver a tecnologia. Você tem que começar um desenvolvimento para, quando você chega naquele determinado momento, você já tenha desenvolvido essa tecnologia, que às vezes ela não está disponível. Por isso que a gente chama de transição energética. Você não pode sair do ponto A para o B de um pulo só. Porque, às vezes, você esbarra em várias situações, que impedem você ir de uma vez só. Desde a financeira até tecnológica, são várias etapas que você tem que vencer. Às vezes não é só a sua vontade, mas também você precisa de outros meios, que vão viabilizando isso. O importante é que você acredita que você vai chegar naquilo, que você precisa chegar naquilo. Como a gente acreditou que poderia fazer aqui, fez e antecipou em um ano. Então, isso é bacana. Hoje a gente consegue, a gente está num momento de COP. As pessoas que vierem aqui: “Vamos visitar a Alunorte” vão ver concreto, um projeto que não está numa narrativa, está já executado. Os dois processos estão executados e ainda tem outros em andamento. Então, isso que é bom, você concretizar. Eu tinha uma missão e hoje eu estou concretizando essa missão. Essa missão continua com novos desafios e eu estou trabalhando nesses novos desafios.
(01:24:31) P1 - Você me disse que, quando chegou na Alunorte o que te motivou era fazer da maior a melhor. E aí?
R1 - Ela hoje é a melhor. É lógico que tem refinarias novas sendo implementadas agora, no mundo inteiro e elas trazem tecnologias mais novas, mais modernas. Nem sempre é fácil trocar uma tecnologia para uma planta já existente, com trinta anos, como é caso da Alunorte. Às vezes você introduz algumas tecnologias novas, mas não dá para você mudar tudo. Então, tem empresas novas, refinarias novas que estão sendo inauguradas, é lógico que elas, então, vão trazer o que tem mais recente. Mas, mesmo assim, a gente continua sendo bastante competitivo, em todos os aspectos. Essa parte de descarbonização eu não vi nenhum projeto tão grande de descarbonização, como o nosso. Então, isso é um exemplo de ir se tornando a melhor.
(01:25:26) P1 - Seu legado, qual você acha que, até este momento - tem muito pela frente - qual o seu legado, nessa história?
R1 - Eu acho que tem... uma refinaria que nunca tinha produzido sua capacidade nominal. A gente demonstrou que poderíamos entregar essa capacidade nominal. Esse é um legado. As pessoas sabem que podem, que é possível fazer uma conversão do tamanho que a gente fez sem perder produção, fazendo em um tempo recorde, implementar projetos com mais qualidade, com precisão, extremamente desafiadores, é possível. Então, esse legado fica para as pessoas utilizarem esses exemplos em projetos futuros. Esse compromisso ambiental é outro legado. O desenvolvimento das pessoas. Hoje a gente já tem pessoas que a gente moveu de uma área para outra, de Paragominas para Alunorte, da Alunorte para Paragominas e essas pessoas estão cada vez mais ganhando experiência e maturidade, para assumir esse negócio no futuro. Então, para mim isso é um legado. Era um compromisso pessoal que eu tinha e trabalhei para isso, desenvolvendo as pessoas, capacitando-as cada vez mais, para serem os futuros líderes maiores, vamos dizer assim, dessa empresa. Eu acho que esse é um legado muito positivo. Acho que essas são as... isso já é bastante. (risos)
(01:27:12) P1 - Isso que eu ia dizer. E legado pessoal?
R1 - Tem neto, esse meu filho que foi para a Arábia, esse meu neto nasceu lá. E, por coincidência, ele nasceu no mesmo dia que eu e ele tem o primeiro nome dele o mesmo que o meu. Então, isso, pra mim, é muito orgulho. Meu filho está lá, as pessoas gostam dele lá, isso também me deixa prazeroso. Minha filha trabalha, está no mesmo ramo também, me dá muito orgulho. Ela trabalha com muita dedicação, com muita responsabilidade, eu estou vendo-a desenvolver isso, isso me dá orgulho.
(01:27:50) P1 - Tiveram inspiração.
R1 - Tiveram inspiração. Então, isso é muito gratificante.
(01:27:58) P1 - Você continua jogando vôlei?
R1 - Não. Só vendo, na televisão.
(01:28:04) P1 - Como está a sua vida hoje, então?
R1 - Bastante ‘puxada’. Muitas viagens, muitos compromissos. Às vezes em Rio, às vezes em Brasília, em Barcarena, Paragominas, Belém e assim a gente vai. Às vezes tem alguma outra reunião, em outros locais. Em Oslo tem que ir de vez em quando, também. Sempre. Agora, no início de agosto, eu já vou para Brasília, passar dois dias lá, que tem algumas reuniões, em função do nosso contrato do porto, que está sendo revisto. Então, a gente tem algumas reuniões com autoridades. Então, tem que cuidar do negócio em si, mas tem que cuidar desses ao redor, que são também relativos ao negócio.
(01:28:46) P1 – Aquele menino, lá na cidade onde nasceu, imaginava que chegaria onde está hoje?
R1 - Nunca. Nunca imaginei, nunca planejei isso. Isso foi acontecendo paulatinamente.
(01:29:00) P1 - E olhando em retrospectiva, como é que você se sente?
R1 - Muito orgulhoso disso, muito satisfeito. Não veio de graça, não veio. Foi muito trabalho, muitas noites sem dormir, muito estresse, muito estresse. E tudo isso tem... traz resultados. Não é uma linha reta. Vou sair daqui para ali, eu vou querer chegar ali. Não. Isso vai acontecendo na sua vida. Você vai pegando as oportunidades. Isso aqui é bom, então vou pegar. Se isso aqui vai me trazer alguma outra coisa positiva, o tempo vai dizer. Como eu vou trabalhar essa oportunidade é que vai dizer. E aí você vai construindo isso.
(01:30:00) P1 - E o que te manteve firme, nesse tempo todo dos altos e baixos, que é natural da vida?
R1 - A certeza que está fazendo a coisa correta. A confiança. O apoio. Teve um episódio que eu não lhe contei, mas é um episódio interessante, que foi o de 2018, quando eu tinha saído da Alunorte para essa nova posição e teve aquela chuva intensa em Barcarena, em que nada aconteceu, mas infelizmente algumas fotos e a mídia tomou conta de ir numa situação, uma fake, que foi... que quase que virou uma verdade. Não foi, eu fui até para uma CPI. Mas eu tinha tranquilidade de informar que tudo aquilo não tinha acontecido. Então, essa certeza que você fez a coisa certa, fez o melhor. Nunca deixei de botar a minha cabeça no travesseiro e dormir. Não. Preocupado com a situação, claro, não é bom. Ninguém gosta de passar por uma situação dessa. Mas a certeza que nada tinha acontecido de errado, essa eu tinha. Essa eu tinha. Então, a minha consciência sempre foi muito tranquila com relação a isso. E é difícil você enfrentar essas situações, né? Porque mexe com você, todo o teu emocional, mexe com tua família, mexe com tudo. Mas a tranquilidade que não tem nada de errado, então não tem o que temer. Então, isso, pra mim, é muito forte: ter a certeza que você está fazendo a coisa certa.
(01:31:47) P1 - O apoio veio de quem?
R1 - Veio da família, veio da empresa. Veio do presidente mundial mandar um e-mail pra mim, elogiando. O atual presidente que, nessa época, estava aqui interinamente, ele tinha outra função, estava aqui. Quando eu saí da CPI, que eu cheguei do escritório, estava ele no meio, uma roda de pessoas me aplaudindo pelo comportamento, por tudo lá dentro, os questionamentos que foram feitos. Você chega, você não queria passar por aquela situação. Mas você está naquela situação e você encontra esse apoio. Então, isso faz parte da sua história.
(01:32:32) P1 - E participar desses trinta anos da Alunorte?
R1 - Ah, é muito bom, porque a Alunorte tem uma história muito bonita. A gente teve com o Victório, alguns dias atrás, fizemos um café da manhã, ele foi pioneiro em tudo isso, enfrentou os desafios da época, de levantar todo esse complexo industrial, que tem uma importância fundamental para a cidade, para o Pará, para o Brasil, pra história do alumínio. Construir uma refinaria desse tamanho não foi uma coisa fácil, tiveram muitos desafios e ele... a gente compartilhar um pouco das nossas histórias foi muito bacana, escutar dele. Desde quando foram os primeiros dias, os embargos que ele passou: para o projeto, depois retoma, tudo isso são... ele tem uma história de vida muito bonita e ele escreveu essa história da Alunorte e agora a gente faz parte dessa última década, dando contribuições adicionais do que todos aqueles outros que já passaram, que deram excelentes contribuições. A gente... chegou a nossa vez de dar alguma contribuição também. Com certeza muitos outros virão pela frente, com novas contribuições, para que esse negócio continue sendo uma referência mundial, que as pessoas continuem acreditando nesse negócio, que as comunidades entendam. Um negócio desse é necessário para o desenvolvimento local. Vai haver diálogos, vai haver trocas, mas é um negócio que ajuda muito a região. E essa harmonia precisa continuar existindo. Com os stakeholders regulatórios, com as comunidades, com o meio ambiente, com o negócio. É uma harmonia, é você harmonizar tudo isso. O segredo é conseguir harmonizar tudo isso. Eu acho que esse legado está ficando para quem vai viver os mais próximos dez, dez, dez e dez. Cada dez eu espero que eles façam um sumário de como foram os últimos dez e continuem, como nós nos motivamos pelo que o Victório fez, a gente está dando uma contribuição agora, eles também continuem se motivando pelo Victório, por um pouco do que nós estamos fazendo e continuem contribuindo, porque é um negócio muito bonito, muito interessante, muito importante e essencial para o ser humano. Então, o segredo é achar essa forma de interagir e encontrar os equilíbrios. Os equilíbrios é o que é mais importante. E tudo isso se consegue através de muito diálogo, muita conversa, muita transparência. Tem que ter bastante transparência. Todos os desafios que você está enfrentando tem que enfrentá-los com transparência e com diálogo. E a Hydro tem demonstrado fazer isso, muito e a gente tem buscado, em tudo que a gente faz, ser transparente e dialogar. Às vezes não é no primeiro diálogo que todo mundo vai entender tudo, mas é através do diálogo que você vai esclarecendo e vai entendendo. Um lado vai entendendo melhor o outro e com isso você vai equilibrando cada vez mais.
(01:36:06) P1 – Eu quero saber o que é importante pra você, hoje, não só profissionalmente, à sua pessoa e o que você quer daqui para frente.
R1 - Olha, eu já estou nesse negócio há um bom tempo. Enquanto eu puder contribuir positivamente para esse negócio, eu acho que eu ainda tenho alguma energia para contribuir, mas cansa, porque ele é ‘puxado’, é muito ‘puxado’. Então, assim, também ter tempo de conviver mais com a família. O neto está longe, quilômetros e quilômetros de distância. Então, quando tivermos oportunidade de conviver com eles é importante para a nossa vida. Conviver também um pouco com os irmãos, que ficaram lá, que não são mais garotos, são todos velhos e com os amigos também. Mas, assim, continuar contribuindo. Eu acho que ainda tem algumas contribuições para fazer.
(01:37:10) P1 – Tem algum sonho?
R1 – Não. Eu acho que toda essa minha trajetória não foi um sonho, porque ela não foi antecipada, as ela foi acontecendo e hoje eu acho que ter uma história para contar já é muito bonito, né? Desde daquela rebeldia de não querer mais ir assistir a aula, até construir um dos maiores projetos de duplicação, como foi na outra, até está contribuindo com transição energética desse tamanho, são lembranças positivas que a gente tem ao longo dessa trajetória e, entre elas, muitas outras histórias menores, não menores, não menos importantes, mas não narradas aqui. Acho que isso já é um motivo de muito orgulho. É uma trajetória vencedora. Eu me considero um vencedor. Eu não tenho o que reclamar da vida. Eu sou muito satisfeito. Sempre gostei muito do que eu faço. E só estou até hoje porque gosto, senão eu já tinha parado.
(01:38:24) P1 - Porque gosta e acredita.
R1 - Porque gosto e acredito. Como a gente fazia os projetos, gostando e acreditando e tendo ownership e tendo a melhor responsabilidade.
(01:38:34) P1 - Não é sonho sonhado, é um sonho realizado.
R1 - É um sonho realizado.
(01:38:38) P1 - Minha última pergunta é como foi pra você contar parte da sua história, um pequeno pedaço dela, mas que ela fique ali registrada.
R1 - Olha, pra mim, primeiro foi muito bom, muito gratificante, até agradeço a forma com que você conduziu. Um dia eu estava ainda em São Luís, eu já tinha assumido a refinaria toda, depois de implementar o projeto de expansão, eu era o gerente geral da refinaria e eu fiz uma mesa redonda com os engenheiros, engenheiros químicos de processo. Eu disse: “Olha, eu tô aqui um momento com vocês, façam as perguntas que vocês quiserem. Aí começaram a perguntar desde a faculdade até, né... e eu passei duas horas conversando com eles, contando um pouco dessa história, encerrei e tal, fui pra minha sala, aí estava na sala de reunião e um deles -depois ele mudou pra Austrália, até hoje mora na Austrália - bateu na minha porta e: “Carlos, posso entrar?” Eu disse: “Claro! Pode, entra aí”. Ele disse assim: “Você nunca pensou em escrever um livro dessa história, não?” Olha, eu só contei quase um pouco do comissionamento e de lá para cá teve mais histórias. Ele: “Você não quer escrever um livro?” E aquilo ficou na minha cabeça. Eu disse: “Mas para que vai servir esse livro”, né? E acho que hoje você me deu a oportunidade de talvez isso vai ficar registrado e talvez seja um início de um livro, talvez para que eu mesmo leia. Não sei se alguém vai se interessar por isso, mas me deu essa oportunidade de sumarizar um pouco de toda essa trajetória.
(01:40:17) P1 – Então, o Carlos Neto vai poder assistir a sua história. (risos)
R1 - Espero.
(01:40:22) P1 - Vai estar lá no arquivo do Museu da Pessoa. Qualquer pessoa vai ter acesso e é uma história que inspira muita gente.
R1 - Obrigado.
(01:40:28) P1 - Obrigada, viu?
R1 – Obrigado vocês todos, pela contribuição e oportunidade também, de contar essa história. Me sinto muito gratificado por esse momento.
(01:40:40) P1 - Haja coragem! (risos)
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