Meu nome é Nilson Lopes Siqueira. Sou nascido no dia 28 de dezembro de 1968, residente na Praia de Mauá, no quinto distrito de Magé, cidade onde nasci.
A minha entrada na Petrobras foi num período um pouco ruim pra empresa, porque foi na época daquele vazamento de 2000, no reduto da Transpetro, que resultou naquele óleo que chegou até a Praia de Mauá, na Baia de Guanabara. Eu fui voluntário para ajudar a Petrobras na limpeza da Baia. No inicio meu trabalho foi principalmente capturando os pássaros contaminados nos manguezais. Eu aproveitei que conhecia bem a região e ajudei muito na captura dos pássaros. Logo depois que a gente viu que os pássaros estavam se acabando, eu soube que na Ilha d’Água precisavam de mais gente pra limpeza das ilhas da Baia de Guanabara. Como eu conhecia, fui lá e fiz a minha inscrição. Fui chamado também pra trabalhar na limpeza das ilhas. Participei da limpeza de todas as ilhas da Baia de Guanabara. Foi um trabalho muito gratificante, porque eu estava ajudando a Petrobras, cuidando também da minha Baia de Guanabara, minha fonte de renda, porque eu era pescador. Eu vi o acidente em janeiro, só não me recordo o dia certo. O primeiro impacto que eu tive daquele acidente foi que o mar tinha acabado, a Baia de Guanabara tinha acabado. Pensei que não iria mais ter vida nenhuma naquele lugar, pela quantidade de óleo que eu vi chegando à praia. Passado dias, eu comecei a trabalhar como voluntário. Fui ver a quantidade de equipamentos que tinham pra limpar a Baia de Guanabara. Eu trabalhei nisso e, graças a Deus, aprendi muita coisa. Chegaram caminhões e caminhões de barreiras de contenção. Até então eu nem sabia o que era uma barreira de contenção, eu as chamava de bóias. Hoje em dia eu conheço, porque tenho vários cursos dentro da Petrobras, nessa parte de combate a poluição. Eu achei estranho aquele monte de barreiras cercando as praias, mas eles estavam certos em fazer a proteção pra que não...
Continuar leituraMeu nome é Nilson Lopes Siqueira. Sou nascido no dia 28 de dezembro de 1968, residente na Praia de Mauá, no quinto distrito de Magé, cidade onde nasci.
A minha entrada na Petrobras foi num período um pouco ruim pra empresa, porque foi na época daquele vazamento de 2000, no reduto da Transpetro, que resultou naquele óleo que chegou até a Praia de Mauá, na Baia de Guanabara. Eu fui voluntário para ajudar a Petrobras na limpeza da Baia. No inicio meu trabalho foi principalmente capturando os pássaros contaminados nos manguezais. Eu aproveitei que conhecia bem a região e ajudei muito na captura dos pássaros. Logo depois que a gente viu que os pássaros estavam se acabando, eu soube que na Ilha d’Água precisavam de mais gente pra limpeza das ilhas da Baia de Guanabara. Como eu conhecia, fui lá e fiz a minha inscrição. Fui chamado também pra trabalhar na limpeza das ilhas. Participei da limpeza de todas as ilhas da Baia de Guanabara. Foi um trabalho muito gratificante, porque eu estava ajudando a Petrobras, cuidando também da minha Baia de Guanabara, minha fonte de renda, porque eu era pescador. Eu vi o acidente em janeiro, só não me recordo o dia certo. O primeiro impacto que eu tive daquele acidente foi que o mar tinha acabado, a Baia de Guanabara tinha acabado. Pensei que não iria mais ter vida nenhuma naquele lugar, pela quantidade de óleo que eu vi chegando à praia. Passado dias, eu comecei a trabalhar como voluntário. Fui ver a quantidade de equipamentos que tinham pra limpar a Baia de Guanabara. Eu trabalhei nisso e, graças a Deus, aprendi muita coisa. Chegaram caminhões e caminhões de barreiras de contenção. Até então eu nem sabia o que era uma barreira de contenção, eu as chamava de bóias. Hoje em dia eu conheço, porque tenho vários cursos dentro da Petrobras, nessa parte de combate a poluição. Eu achei estranho aquele monte de barreiras cercando as praias, mas eles estavam certos em fazer a proteção pra que não chegasse mais óleo nas praias. No trabalho de captura dos pássaros, eu fiquei em torno de 15 a 20 dias, trabalhando em conjunto com uma ONG [Organização Não Governamental] chamada Harpia. Eu trabalhei com esse pessoal capturando os animais dentro dos currais de peixe. A gente capturava em torno de uns 200 a 300 biguás por dia, o pássaro mais capturado.. Estavam todos contaminados. Salvamos muitos deles. Esses pássaros eram muito bem tratados. Ficavam nos viveiros. Caixas e caixas de sardinhas, sardinhas boas, tudo fresquinho, chegavam para o alimento dos pássaros. Os pássaros passavam por uma lavagem estomacal, pra poder tirar os resíduos de óleo. Eu achava muito interessante a dedicação que o grupo tinha. Entrávamos nos manguezais para capturar pássaros e fazíamos a limpeza deles, era tudo muito importante.
Logo depois eu fui pra Ilha d’Água, onde conheci o Seu José Queiros Braga, com quem fui trabalhar, junto a sua turma; também conheci o comandante Távora, da Transpetro. Ingressei nessa turma e começamos a limpeza da Baia de Guanabara. O que a gente fazia? A gente cercava as ilhas onde as pedras estavam contaminadas de óleo. Vinha um hidro-jato que limpava as pedras; aí o resíduo do óleo caía na água de novo, só que estavam contidos por barreiras; depois vinham os equipamentos recolhedores, a Egmopol, uma embarcação recolhedora de óleo, que tem um decantador dentro dela que permite recolher o produto, decantá-lo e devolver a água, ficando somente com o óleo nos seus reservatórios. A gente fazia esse trabalho. Então toda a Ilha de Paquetá, tanto leste como sul, foi limpa com esse processo, pedra por pedra. Algumas máquinas vinham com água doce, porque a água salgada não podia passar por dentro do circuito, mas algumas máquinas vinham preparadas para utilizar a própria água salgada da Baía. Sob pressão de água, tirava-se todo o óleo da pedra, depois recolhia o óleo todinho. E isso a gente fazia por trecho de trezentos metros, porque não podia cercar a ilha toda de barreira. Sempre deixando tudo limpo. Parecia até que não tinha tido óleo naquelas pedras. Esse trabalho durou em torno de seis meses. Eu fiquei quase seis meses nesse trabalho; parei quase em junho. As pessoas que não tem o conhecimento físico da Baia de Guanabara não sabem o quanto ela é grande, muito extensa. Tem muitas ilhas. As ilhas maiores que temos são Paquetá, Ilha de Brocoió, onde tem o palácio do governador do Estado, a Ilha de Pancaraíba, Itapacia, Tapuamas de Dentro e Tapuamas de Fora, Braço Forte e Jurubaíbas, uma Ilha muito visitada por turistas, nos finais de semana. Todas essas ilhas foram limpas com esse processo de hidro-jato, inclusive a Ilha do Rijo, onde tem o comando militar, e Ilha do Boqueirão. Parte da Ilha do Governador era feita por outra turma; e peguei só um pouquinho da Freguesia.
Quando terminou esse trabalho, quiseram me contratar pra eu trabalhar com o equipamento deles, porque, até então, eu tinha um barco alugado pra Petrobras. O nome desse barco era barquinho Rei do Rio. Seu nove está até em ficha de controle da Transpetro, o barco Rei do Rio. Nesse barco trabalhava embarcado eu e meu irmão mais novo. A gente utilizava esse barco pra pesca e, após o acidente da Baia, o utilizamos em trabalhos na Petrobras, nessa parte de limpeza das ilhas. A gente rebocava a barreira com esse barco. Meu irmão não teve a mesma sorte que eu tive, não participou desse trabalho. Quando foi criado o Centro de Defesa Ambiental do Rio de Janeiro, o primeiro do Brasil, esse Seu José Queiros Braga, que trabalhava na Transpetro, tinha ficado com um telefone meu. Quando foi criado esse primeiro Centro de Defesa Ambiental, o CDA, aqui na Reduc [Refinaria Duque de Caxias], ele me telefonou e me convidou pra trabalhar com ele, fazer parte dessa equipe do CDA. Foi quando eu ingressei, em outubro de 2000, no sistema Petrobras.
Foi quando me aperfeiçoei e fiz mais cursos; tirei minha carteira de pilotagem em embarcação. Fiz o IMO 1, o primeiro passo que se faz no controle de emergência ambiental, quando se passa a conhecer os equipamentos. Foi aqui que eu descobri que as bóias eram, na verdade, barreiras de contenção. Passa-se a conhecer os equipamentos e se aprende a parte de pilotagem de embarcação, bem como o nome de vários equipamentos: o Egmopol, as bombas utilizadas para o recolhimento de óleo no mar. Depois desse curso, eu fiz o IMO 2, que é o mais aplicado, atinge a parte de salvamento no mar. Neste curso também se conhece novos equipamentos, como as barreiras mais apropriadas para se fazer a queima de certos produtos; pode-se fazer a queima do produto no mar, para que ele não chegue a contaminar uma praia e, para isso, existem barreiras que resistem a chama. Então a gente passa a conhecer esse tipo de equipamentos e as embarcações grandes. Quando teve aquele evento da P36 [Plataforma 36], em 2002, eu fui naquela equipe de emergência, para caso subisse algum óleo, na bacia de Campos. Estávamos preparados para o recolhimento de óleo. Eu fiquei uma semana em prontidão na Bacia de Campos, em uma equipe que fazia o patrulhamento daquela área, verificando se havia alguma mancha de óleo. Mas não chegou a subir mancha de óleo.
Atualmente, sou supervisor de manutenção dos equipamentos de controle de emergência ambiental. [Controlo] as embarcações do CRE Reduc, Centro de Resposta a Emergência da Reduc, [controlo] os work boat, uma lancha rápida, um mini-rebocador e vários outros equipamentos, inclusive as barreiras de contenção. Eu cuido da parte de manutenção desses equipamentos.
Eu entrei aqui em 2000; faz um pouquinho de tempo. Então, a gente acompanhou a evolução na parte de meio ambiente. Na minha visão, a Petrobras cresceu muito nessa parte de meio ambiente. Eu aprendi muita coisa e passei muita coisa para as pessoas. A Petrobras respeita muito a área de meio ambiente. Onde eu moro, muitas pessoas não tem a visão que a Petrobras tem sobre a área de meio ambiente. A Petrobras sempre se preocupa em preservar. Eu participei também do povoamento dos manguezais com larvas de caranguejo. O pessoal de centro de pesquisa nosso, do Cenpes [Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello], precisava de pessoas com conhecimento na área de meio ambiente. Como eu estava no Sistema, [eu participei desse trabalho]. Eles vinham, pegavam as embarcações aqui da Reduc e, juntos, fazíamos o povoamento dos manguezais, pra levar larvas de caranguejos pra soltar, isso pra repovoar os locais onde tinham sido atingidos por aquele óleo. Locais como no Rio de Suruí, um rio bastante atingido, o primeiro aonde chegou o óleo, hoje em dia, encontra-se de tal maneira que uma pessoa não diria que ele foi atingido. Os caranguejos estão lá à vontade. As pessoas estão ganhando o seu dinheirinho, tranqüilos, porque a Petrobras repovoou todo o manguezal com larvas de caranguejos. Isso foi há cerca cinco anos atrás. Saímos nos manguezais e fizemos uma coleta de amostras de contaminação: coletamos caranguejos aqui próximos, no Rio Miriti, próximo da Linha Vermelha; coletamos caranguejos no manguezal do aeroporto, próximo do aeroporto tem caranguejos; coletamos no Rio Surui, na parte que foi atingida. Após as coletas, fizeram a comparação de contaminação. O caranguejo de lá não tinha mais contaminação nenhuma, em relação aos caranguejos daqui, próximos a esses rios mais poluídos. Eu sempre pesquei na Baia de Guanabara. Muitas vezes o pessoal culpa a Petrobras pela poluição d a Baia. Mas o maior poluente da nossa Baia de Guanabara é o esgoto jogado direto nela. A renovação da água da Baia de Guanabara dura em torno de 67 dias: a água faz um giro total na Baia de Guanabara, entrando no Canal Varrido, que é a parte mais profunda da Baia, que mede em torno de 25 metros de profundidade. O Canal Varrido é por onde entram os navios de abastecimento do nosso píer principal e do píer secundário, próximos à Ilha d’Água: a água [nova] entra por ali. Quando eu fiz o curso de Ambiental eu aprendi isso e essa parte ficou gravada [na minha memória], eu achei essa parte muito curiosa. Enfim, são os rios daqui pra baixo – o Rio Miriti, o Rio Iguaçu, o Rio Sarapuí, esses próximos da cidade – que acabam com a Baia de Guanabara. Daqui pra lá, da Reduc em diante, onde tem o nosso canal, chamado de Boca Larga, [a água é limpa]. Temos o Rio Estrela, que tem peixe, tem vida ainda. Temos o Rio Suruí, o Rio Iriri, o Rio Magé, Guapí, Guaraí, Guaxindiba e o Rio Macacu. Temos esses rios todinhos. Esses rios têm peixes. Quem salva a Baia de Guanabara é a parte interna, onde tem os manguezais, para onde os peixes vão se reproduzir, essa área mais preservada da Baia de Guanabara. Os outros rios de cá não têm mais vida. Eu fiz o acompanhamento do Rio Iguaçu, que passa aqui detrás; seu nível de oxigênio é zero. A gente fez um comparativo entre a água que a Reduc utilizava pra refrigerar seus equipamentos e aquela que joga no Rio Iguaçu, após o uso e tratamento. Vimos que a gente pegava água do rio, limpava e jogava de volta no rio ainda mais limpa do que quando pegamos. Ou seja, a gente colocava um pouco de vida na água, porque o oxigênio dessa água é zero, não tem mais peixe nenhum no rio Iguaçu. Logo após a poluição, fazíamos esses controles com maior periodicidade, [a questão] estava mais em evidência, então precisávamos fazer os comparativos. Tinha uma equipe da UF [Universidade Federal] aqui na Reduc. Eu acompanhei essa equipe; ela fez muita monitoração desses rios, coletando material sólido, água e tudo o que era preciso: até peixe no nosso canal nós pegamos. Nosso canal da CBR é conhecido lá fora, pelos pescadores, como Boca Larga; era dele que se retirava água pra resfriar os equipamentos.
No momento, eu faço esse trabalho de manutenção nos equipamentos. Isso em épocas de paz. Como não tem poluição [provocada por acidentes], meu trabalho fica um pouco escondido. Mas a gente coloca outras atividades nisso. Eu também auxilio no nosso campo de treinamento de combate a incêndio. Eu auxilio na manutenção de nossos equipamentos de controle e direção dos ventos, as nossas birutas. Faço diversos serviços, aqui a gente não fica parado. Da parte do refeitório da Reduc para atrás, se vê uma mata muito Tem uma atividade aqui dentro que gosto muito de fazer, porque sou um ex-caçador. Eu até fiz uma entrevista sobre meio ambiente, para a Petrobras, numa revista, na qual contei essa história de que eu fui um caçador, quando jovem, e depois passei a trabalhar aqui e deixei de ser caçador. Agora eu sou um preservador. Aqui eu trabalho na captura de animais, animais que se machucam, mas faço isso para resgatá-los. Aqui nós temos capivara, o maior roedor do mundo, chega a atingir até 120 quilos. Temos jacaré da papa amarela. Eu já capturei um jacaré de dois metros e meio. Foi capturado aqui no nosso canal, perto da nossa unidade de coque. Esse jacaré teve a infelicidade de tentar engolir um porco espinho e ficou com aqueles espinhos do ouriço na boca. Eu tive que capturá-lo para levá-lo ao Zôo, onde lhe retiraram todos os espinhos e fizeram uma endoscopia. Depois disso, nós o devolvemos para o próprio habitat, aqui na Reduc, porque o intruso aqui, no caso, é a refinaria. Os animais já existiam nessa área. A refinaria procura sempre preservar. Na parte de manguezal, no brejo, em toda essa baixada fluminense ainda tem bastante vida, tem bastantes animais. Esse jacaré tinha dois metros e meio, era maior do que eu. Eu tenho um metro e noventa, quase dois metros; ele pesava quase cem quilos. Foi uma briga muito violenta pra pegá-lo. Eu tenho foto dele, o pessoal tirou fotos. Como dizia, aqui tem capivara, jacaré, gambá, tatu, paca, aqui tem de tudo. Cachorro do mato, mão pelada, ariranha, lontra. Tudo tem aqui. O problema que eles causam geralmente é esse: eles podem cair dentro da canaleta ou entrar em local onde tem equipamento. Então, a gente geralmente está aqui. A gente tem um contrato com o Zôo de Niterói. É o pessoal do Zôo que faz esse trabalho às quartas-feiras: vem aqui capturar esses animais. Cachorro que entra aqui quer ficar morando. A gente está aqui pra capturar. A gente retira daqui gatos. São retirados muitos animais daqui, muitos mesmo. Aqui são em tordo de treze milhões de metros quadrados. É muito grande. Ela vai daqui da Washington Luis até a Baia de Guanabara.
Tem uma saída pra Baia, de onde saem embarcações pra controle de emergência. Em torno de 15 em 15 dias, a gente faz o acompanhamento das nossas bóias de sinalização dos nossos canais. Tem bóias que sinalizam o canal pra navegação noturna, para segurança de embarcações de tripulantes; são bóias que acendem à noite. A bóia serve para guiar a embarcação: se vê o pisca e se vem em sua direção, serve para acertar a embarcação no canal. Saindo do canal se tem uma área muito assoreada, o que risca de encalhar a embarcação e ficar à deriva, agarrado na lama. Nossa marcação dá a profundidade pra se navegar com segurança. É preciso seguir as regras. É até engraçado: entra-se no canal solteiro e sai casado. Entra com a luz de bombordo, no lado do coração, o lado vermelho, enquanto a boresta fica do lado azul. Então se entra no canal solteiro, com as cores alternadas, e sai casado. Se essas regras não forem infringidas, se não se deixar fugir dessa regra, consegue-se sair do canal certinho. Entra e sai dele sem sair fora do canal. Porque aqui tem uma área muito assoreada, então a embarcação encalha. Enfim, o trabalho está em uma época muito calma. Tem algumas coisas muito pequenas, mas coisa insignificante, coisa que nem chega a atingir nada. Então faz muito tempo que não tem acidente grave, muito tempo mesmo. Depois de 2000 teve um evento, mas não foi nem Petrobras. Foi na refinaria de Manguinhos, num abastecimento próximo ao cais do porto, uma embarcação abalroou na linha. A Feema acionou a Petrobras, pra ajudar no recolhimento. Esse foi o evento mais recente de maior proporção. Os vagões desencorrearam próximo à Itaboraí, no Rio Macacu. Acho que esse foi um dos maiores eventos, porque viraram os vagões de diesel. Os da Petrobras que estavam nesse trem não foram nem atingidos. Foram outros vagões, de outras empresas que viraram, mas a Feema acionou a Petrobras. Eu mesmo fui acionado e fui pro local, com a embarcação da Reduc, pra ajudar no recolhimento desse produto.
Hoje em dia eu não faço mais parte da equipe do CDA, do Centro de Defesa Ambiental, do pessoal da Alpina Briggs. Eu fiz um trabalho com o pessoal do SMS [Segurança, Meio Ambiente e Saúde] da Reduc e meu amigo, já aposentado, o Roberto Pinheiro, me chamou para trabalhar no SMS Reduc, onde estou agora. Eu estou no SMS há cerca de quatro anos. No SMS eu não tenho mais que combater fora da área da Reduc. O CDA é que vai a todo o Brasil. Eu só atuo aqui na área da Baia de Guanabara. Eu sou [contratado] pela empresa Hope Consultoria Limitada, uma empresa que tem um contrato de técnicos de segurança com a SMS. Eu sou supervisor de manutenção. Às vezes, termina o contrato da empresa e ela não ganha o novo contrato. Então, a gente contratado troca de empresa. Eu já trabalhei na Aymoré, na Esege e, agora, estou na Hope.
No SMS, nossa meta é acidente zero. Estamos com bastante treinamento. O pessoal se aplica ao máximo na liberação de trabalho. Temos treinamento do pessoal mais aprofundado na área de SMS. A refinaria cresceu muito nessa área. Melhorou bastante mesmo. Antes do acidente [de 2000], o SMS já tinha um trabalho na parte de segurança industrial. De lá pra cá foi só evoluindo. Hoje em dia, o assunto em pauta é SMS. Chega-se ao ponto de não se poder acessar a refinaria com salto alto. Tem algumas mulheres que pensam ter perdido um pouco da beleza. Aqui tem a medida máxima de salto, não se pode ultrapassar certa medida, tem que ser saltinho baixo. Tem a estatística de acidente. A gente tem o DDS nosso diário, que relata tudo o que aconteceu no dia anterior: quantos números de acidente, com afastamento ou sem afastamento, há quantos dias nós estamos sem acidentes. Neste ano nós só tivemos três acidentes com afastamento e acho que onze sem afastamento. Conta-se desde um tropeção em que a pessoa caiu e se ralou. É tudo quantificado, é já colocado como acidente. Tem algumas classificações: se uma pessoa cai, mas não derruba nenhum equipamento, não é acidente, mas um incidente. Temos a nossa pirâmide, na qual se registra isso, porque isso entra em uma estatística. Sabemos quantos incidentes podem gerar um acidente. A gente trabalha também nessa parte de registro dos incidentes. Com os incidentes se aprende muito, pode-se evitar um grande acidente ao se registrar os incidentes. A Petrobras tem um serviço, um contato muito bom com a comunidade. Ela tem pessoas que fazem contato com a comunidade, avisa quando vai acontecer um simulado, um toque de uma sirene, tudo é avisado. Aqui nós temos o PAM, Plano de Ação Mútuo, que envolve alguns locais próximos da Refinaria. O pessoal dessas comunidades é treinado para caso tenha que haver uma evacuação da área. Todo mundo do torno da refinaria está bem treinado, bem avisado sobre isso.
HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS
Tem a história do jacaré que foi tentar engolir o ouriço, como tem histórias tristes também. Vou contar uma coisa que pode parecer um pouco triste. Naquele evento de 2000, aconteceu um caso muito relevante, para nós que trabalhávamos todo o tempo exposto. Ocorreu um acidente grave com um companheiro. Eu não o conhecia, porque eu ainda não fazia parte do Sistema, eu era voluntário. Teve o óbito de um companheiro, na Praia de Mauá. O companheiro estava próximo a uma árvore e teve um temporal daqueles de verão. Veio cair um raio próximo a ele e ele veio a falecer. Foi uma coisa que marcou muito. Ele trabalhava conosco, acho que de vigilante da Petrobras. Ele foi montar um posto de pagamento na Praia de Mauá. Esse posto foi se abrigar próximo a uma árvore. Caiu um raio no chão e ele veio a falecer. Eu nem cheguei a conhecê-lo. O pessoal me falou que ele era gente boa, ainda rapaz. Foi uma coisa que marcou. Eu perdi dois amigos navegando no mar; caiu um raio, acho que na embarcação, e eles vieram a falecer. Acho que isso foi em 2007. A vida da gente tem essa parte: a gente aprende, às vezes, com a infelicidade de outros. Hoje em dia, se tiver um temporal, [sei como agir]. Aqui na refinaria, temos um controle de incidências de raio, feito por uma empresa contratada, a Simepar. Se estiver caindo raios daqui a 30 quilômetros da Refinaria, qualquer tipo de trabalho em área aberta é paralisado. Temos também essa parte de segurança pra incidência de raio. Eu perdi dois amigos na Baia de Guanabara, dois amigos pescadores. Quando tem uma tempestade grande, geralmente, eu que já tenho um pouco de experiência sei que, no mar, é preciso olhar sempre para os horizontes. Quando se vê as formações de nuvens grandes, quando escurece, geralmente se sabe que vai vir um temporal. Então o mais indicado é procurar abrigo. Sair da embarcação e procurar um local fechado. Sair de perto de árvore, sair de locais aonde o raio pode vir a cair. O mais indicado é sair antes que o temporal venha. Caso ele pegue antes, é melhor encostar-se numa ilha e entrar num abrigo: sair do local aberto é o mais indicado. Geralmente se consegue sair antes.
Eu queria deixar registrado o meu orgulho de ser uma pessoa humilde, da Praia de Mauá, que teve oportunidade de entrar para o Sistema Petrobras. Orgulho porque dei minha ajuda na limpeza da Baia e tive a sorte de ingressar nesse grupo que é a Petrobras. Eu me sinto quase um petroleiro; precisaria estudar um pouco mais [para ser petroleiro], prestar o concurso e conseguir passar pra casa. Dizem que se eu tivesse entrado há 15 ou 20 anos atrás, já seria um petroleiro há muito tempo.
É muito gratificante estar aqui com vocês e contar a história. Muitas vezes não temos a oportunidade de falar para as pessoas tudo o que a gente conhece. Eu queria deixar registrado o seguinte: se as pessoas quiserem me procurar pessoalmente, para conhecer algumas partes da bonita Baia de Guanabara, podem me procurar que eu as levo lá com todo o prazer. Tem muita área bonita nessa nossa Baia de Guanabara.
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