Projeto Memórias de Serra Pelada
Entrevista de Maria Pereira da Silva
Entrevistada por Maria de Fátima Rodrigues Leite (P/1) e Lucas da Conceição Silva (P/2)
Serra Pelada, 16 de agosto de 2024
Código da entrevista: MSP_HV015
Revisado por Nataniel Torres
P/1 - Obrigada Dona Maria por conceder essa entrevista pra gente, eu e o Lucas e para o Museu da Pessoa, Serra Pelada. Primeiramente eu queria saber qual é o seu nome, data de nascimento e local que você nasceu?
R - Meu nome? Repita aí de novo.
P/1 - Seu nome, data de nascimento e a cidade em que você nasceu?
R - Maria Pereira da Silva, 52, 55, 2 de julho, 55. Desculpa aí, eu errei a fala.
P/1 - Você lembra como foi foi dia do seu nascimento? Te contaram.
R - Foi um dia sábado 17:45 da tarde.
P/1 - Você sabe dizer porque escolheram esse nome pra você?
R - Porque a minha mãe achou nome bonito de Maria.
P/1 - Qual o nome da sua mãe?
R - Antônia Pereira da Conceição.
P/1 - Você lembra como era ela?
R - Lembro sim! A minha mãe era branca, dos olhos azuis, cabelo meio amarelado. Mulherzona, sem medo de trabalhar.
P/1 - E o seu pai?
R - O meu pai, eu não lembro, porque quando ele chegou a falecer eu só tinha quatro anos de idade, não tenho recordação bem dele. Sei da minha mãe falando, que ele era um homem assim, da minha cor também, cabelo liso, os olhos pretos, e trabalhador também, de muita responsabilidade o meu pai.
P/1 - Você sabe me dizer como foi que eles se conheceram?
R - A família do meu pai vieram embora para o Piauí, do Ceará. Aí, lá ele conheceu… os pais dele conheceram os meus avós, da parte da minha mãe e assim começaram aquela amizade e casaram.
P/1 - Te falaram quanto tempo eles tiveram o primeiro filho, após o casamento?
R - Eu vi minha mãe falando que eles, quando eles casaram lá, aí os pais do meu pai vieram embora para o Maranhão, e aí depois meu pai veio mais minha mãe também para o Maranhão, lá ela teve o primeiro filho no...
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Entrevista de Maria Pereira da Silva
Entrevistada por Maria de Fátima Rodrigues Leite (P/1) e Lucas da Conceição Silva (P/2)
Serra Pelada, 16 de agosto de 2024
Código da entrevista: MSP_HV015
Revisado por Nataniel Torres
P/1 - Obrigada Dona Maria por conceder essa entrevista pra gente, eu e o Lucas e para o Museu da Pessoa, Serra Pelada. Primeiramente eu queria saber qual é o seu nome, data de nascimento e local que você nasceu?
R - Meu nome? Repita aí de novo.
P/1 - Seu nome, data de nascimento e a cidade em que você nasceu?
R - Maria Pereira da Silva, 52, 55, 2 de julho, 55. Desculpa aí, eu errei a fala.
P/1 - Você lembra como foi foi dia do seu nascimento? Te contaram.
R - Foi um dia sábado 17:45 da tarde.
P/1 - Você sabe dizer porque escolheram esse nome pra você?
R - Porque a minha mãe achou nome bonito de Maria.
P/1 - Qual o nome da sua mãe?
R - Antônia Pereira da Conceição.
P/1 - Você lembra como era ela?
R - Lembro sim! A minha mãe era branca, dos olhos azuis, cabelo meio amarelado. Mulherzona, sem medo de trabalhar.
P/1 - E o seu pai?
R - O meu pai, eu não lembro, porque quando ele chegou a falecer eu só tinha quatro anos de idade, não tenho recordação bem dele. Sei da minha mãe falando, que ele era um homem assim, da minha cor também, cabelo liso, os olhos pretos, e trabalhador também, de muita responsabilidade o meu pai.
P/1 - Você sabe me dizer como foi que eles se conheceram?
R - A família do meu pai vieram embora para o Piauí, do Ceará. Aí, lá ele conheceu… os pais dele conheceram os meus avós, da parte da minha mãe e assim começaram aquela amizade e casaram.
P/1 - Te falaram quanto tempo eles tiveram o primeiro filho, após o casamento?
R - Eu vi minha mãe falando que eles, quando eles casaram lá, aí os pais do meu pai vieram embora para o Maranhão, e aí depois meu pai veio mais minha mãe também para o Maranhão, lá ela teve o primeiro filho no Maranhão, a minha irmã mais velha. Aí teve mais outro filho, aí morreu. Aí, voltaram para o Piauí de novo.
P/1 - O seu irmão ainda é vivo?
R - A minha irmã, não! Eles foram e depois da família toda, vieram para o Maranhão de novo.
P/1 - Você falou que o seu pai era muito trabalhador. Você lembra do que ele trabalhava?
R - Trabalhava na roça.
P/1 - Plantando…
R - Plantando legumes, colhendo. Sempre tendo responsabilidade pela família toda. Aí, quando ele morreu nós ficamos em quatro filhos, em cinco, ficou duas moças, um rapaz e eu pequenininha. E tinha três casadas.
P/1 - Estão todos vivos, ou só você?
R - Só tem três irmãs vivas.
P/1 - Eles já vieram lhe visitar alguma vez?
R - Uma das irmãs veio me visitar.
P/1 - Dona Maria, a senhora lembra do que a senhora brincava na infância?
R - Ah, fui criada foi trabalhando, não tinha negócio de andar brincando, de andar em festa, não, de jeito nenhum. Aí, quando foi de idade, minha mamãe me botou no colégio, estudei até nove anos. Aí, depois eu fiquei com dó, minha mãe trabalha sozinha, eu larguei pra mim ir trabalhar mais ela.
P/1 - Sim, naquela época os filhos priorizavam o trabalho, né? Para ajudar os pais.
R - É!
P/1 - Mas nas horas vagas você brincava. De que que você lembra de brincar?
R - Eu ficava sempre perto da minha mãe. Às vezes, minha sobrinha que chegava assim, nós conversava, brincava ali, aí ela ia para a casa dela e eu ficava em casa. Que eu era muito apegada com a minha mãe. Não andava assim, brincando. Não, não andava não. Fui criada assim muito dedicada a ela, dentro de casa. A diversão que nós ia, era uma cantoria. E todo sábado ia para a missa.
P/1 - Com os avós vocês iam?
R - Mais minha mãe.
P/1 - Você conheceu os seus avós?
R - Não conheci!
P/1 - Nem de parte do pai, nem de parte de mãe?
R - De nenhum.
P/1 - Tem alguma história que a sua mãe contava quando você era criança, que você lembra?
R - Se ela contava história quando eu era criança?
P/1 - É!
R - Não, sempre ela falava assim, às vezes, eu tava conversando com ela, quando as minhas outras irmãs chegava, ela dizia assim: “Essa menina é diferente de todas filhas minha” Eu procurava assim: “Por que mãe que eu sou diferente?” “Porque é minha filha. Porque você é diferente mesmo. Às vezes, quando ela tava só mais eu. “Minha filha tu é diferente sabe por quê? Minha fia não gosta de andar nas casas, minha fia não gosta de folia. Sempre procura estar perto da minha mamãezinha”. Aí, eu chegava e abraçava ela. “Pois é mãe, que a minha companheira é a senhora”.
P/1 - O tempo passou, você chegou na adolescência. Você lembra de ter ido em festa na adolescência?
R - Fui nada! Nunca fui não! Nunca fui em festa não.
P/1 - Quando você conheceu seu esposo?
R - Pra dizer que eu nunca fui em festa, eu fui em um vesperal uma vez, porque a mulher chegou lá em casa, mamãe disse assim: “Dona Antônia, deixa que vou levar sua menina mais eu, que eu vou buscar umas mangas". Aí, tudo bem! Aí, nós fomos! Aí nessa buscação de manga, nós fomos nesse vesperal. Mas a mamãe não gostou. Eu disse para ela, se eu soubesse eu não tinha ido.
P/1 - Ela tinha motivo para não gostar de você ir à festa?
R - Mamãe?
P/1 - Sim!
R - De jeito nenhum.
P/1 - Ela temia que você arrumasse um namorado, saísse de perto dela?
R - Não! Porque o primeiro namorado que eu arrumei eu casei.
P/1 - Que foi o pai dos seus filhos?
R - Oiá! Eu me casei novinha, ele que tinha 22 anos, eu tinha 12 anos. Pensei em me casar para ajudar minha mãe. Mas aí o destino da gente só Deus dá. Não levei sorte muito tempo com ele. Mas com ele eu tenho cinco filhos, tenho cinco filhos. Morreu dois. Morreu dois. Não! Depois eu casei de novo. Casei não, vivi naquele tempo com uns homens, aí não dava certo, me maltratava, eu não aguentava isso. Fiquei com a minha mãe, mas nunca minha mãe mandou me batendo, nem empurrando, de jeito nenhum. Me ensinou a trabalhar, me ensinou… eu viver. Sempre não gostava assim, de aguentar muita coisa. Eu respeitava, trabalhava, dava um força, trabalhava do começo ao fim, qualquer um serviço, não era de.. “Eu quero isso! Só quero viver em casa”. Não, de jeito nenhum. E meu primeiro marido me levou em festa, mãe não aceitou. “Eu não criei em festa. Não é coisa boa de marido levar a sua mulher pra festa”. E assim, foi assim! Eu levei essa vida assim, até quando chegou o momento que eu adoeci da minha vista. Aí, eu vim para esse lugar aqui, pra Serra, aqui me juntei com um rapaz, que nós vivemos 21 anos. Aí Deus levou ele, eu fiquei só. Fiquei mais ninguém.
P/3 - Dona Maria, na sua infância, que mais assim traz na sua memória, a lembrança assim da sua família, dos seus irmãos? Quais os momentos que sempre está na sua memória?
R - Minhas irmãs? Não entendi bem direitinho. Diga de novo.
P/3 - Na sua memória quais as lembranças que mais vem da sua infância?
R - Ah, tá certo! A lembrança que eu tenho muita… Porque as minhas irmãs moravam longe, aí mês em mês eu ia lá mais mamãe, nós ia passear lá onde elas, passava o dia. Aí, elas vinham lá para casa também, aquela animação assim, com as minhas irmãs, minha sobrinha. Isso eu tenho muita recordação. Muita, muita, muita. Até chegou o momento que minha mãe faleceu, nós ficamos só nós. Aí, nos separamos. Umas já morreram, outras ainda estão vivas. Antes de adoecer da vista eu ainda visitava, agora é difícil de eu sair, porque é muito difícil de eu sair. Muito difícil! Eu vivo mais distanciado deles por causa disso. Mas eles andam aqui. É difícil também, mas anda.
P/3 - Quando sua mãe faleceu vocês ainda moravam juntos, todos os irmãos?
R - Não morava todo mundo junto não. Eu estava em Imperatriz. O meu marido falou assim… Ele veio, foi passear: “Vamos porque sua mãe que lhe ver” Não falou que a minha mãe tinha falecido. Aí nós fomos para lá, pra Lago da Pedra. A minha mãe morava nos Três Lagos, quando chegou no Lago da Pedra, aí uma mulher falou… Uma menina falou pra mim. “Tu sabe que a tua mãe faleceu?” Eu falei: “Como é que é menina? Minha mãe faleceu, não tô acreditando numa coisa dessa”. Fui de pés, não esperei carros, não esperei nada. Ela morava perto de outra irmã minha irmã, mais velha. Foi assim. Depois nós nos reunimos, conversamos todo mundo. Mas aí nós não morava juntos, perto um dos outro não. Sempre moramos distante. Eu fiquei sentida da morte da minha mãe, e passou um tempo eu vim para Goiás, o tempo que era Goiás. Hoje é Tocantins. Aí, de Tocantins eu vim pra cá!
00:13:45
P/3 - A senhora, depois que a sua mãe faleceu, então você continuou morando no mesmo local e desse local veio para qual outro estado?
R - Quando minha mãe faleceu? Não, eu vim embora para Goiás. Passei cinco anos, de lá vim para cá, para essa Serra Pelada.
P/1 - Você lembra a data que você veio para Serra?
R - Se eu lembro quando eu vim, a data? Oiá!
P/1 - O ano?
R - O ano eu não lembro não, mas… Deixa eu ver bem aqui! Não lembro direito não. Eu lembro a data. Eu vim pra cá. Uma mulher disse assim pra mim: “Maria, vamos embora para Serra Pelada, chega lá tu vai arrumar uma condição para tratar da sua vista” Que eu tinha adoecido da minha vista, não tava nem com um ano. Eu digo: “Mas eu não posso ir mulher” “Não, pessoa vai te dar dinheiro e tu vai!” Eu digo: “Mas eu vou levar minha filha, não vou deixar ela não” Que era essa daí. “Pois é, nós vamos!” Aí, eu vim junto com essa mulher para cá, para a Serra, em 1986.
P/2 - Dona Maria você lembra da casa quando quando você era pequena, como era?
R - A casa como era? Ela era de taipo, que é de barro, né! Coberto de palha, bem aterradinha a casa. Num lugar chamado Salgueira, lá onde meu pai faleceu.
P/2 - Mas vocês ouviam música, assistiam?
R - Hum, hum! Não!
P/2 - Quais eram suas brincadeiras favoritas? Você tinha muitos amigos?
R - Tinha uma meninazinha lá da comadre da minha mãe, ela sempre vinha lá em casa, nós conversava, ela trazia uma boneca para mim, aí nós brincava com essa boneca. Ela ia embora e eu ficava em casa. Era assim!
P/2 - Tem alguma comida da infância que marcou?
R - Hum, hum!
P/2 - O que você mais gostava de fazer quando era criança?
R - Só ficar com a minha mãe mesmo, eu mamei até cinco anos de idade. Eita meu Deus!
P/2 - Você imagina o que seria quando crescesse?
R - Ah, eu pensava sim. “Minha mãe, quando eu crescer eu vou trabalhar, vou lhe ajudar”. E ela dizia: “Pois é minha filha, que Deus lhe ajude!” Eu vou estudar quando eu tiver maior, né mãe!” “Pois é!” Mas aí eu estudei só até os 9 anos de idade.
P/2 - E onde você estudou?
R - Na Salgueira. Era muito inteligente, nossa, a professora gostava de mim demais, nossa mãe de Deus! Os meninos pegavam, era na época da palmatória, né! Porque iam me fazer procura e eu respondia.
P/2 - A senhora pode falar para nós um pouco sobre Salgueira?
R - Na Salgueira era um povoado grande, não era pequeno não, era grandão, só que era assim, só comprido, entendeu? Só compridão assim. Era perto do Jejuí, Jejuí já era maior, era grandão o Jejuí. Tenho pouca recordação, não tenho muita recordação dela.
P/2 - Qual sua lembrança de quando você estudava na escola?
R - Só que os professores gostavam de mim, os alunos gostavam de mim. Na hora do intervalo assim, aí me chamavam pra brincar. Eu digo: Ah não! Ficava assim! A professora dizia: “Não, minha filha vai ficar aqui perto de mim. Ela é muito dengosa". Que sempre eu fui calada, sempre eu fui calada.
P/2 - A senhora tinha alguma matéria de preferência?
R - Tinha o quê?
P/2 - Matéria de preferência?
R - Que eu gostava? Ah, eu estudei a carta do ABC duas vezes. Naquele tempo a gente estudava direitinho, não era? Estudava a cartilha do ABC duas vezes. Eu tinha velocidade de estudar, eu tinha vontade de estudar mesmo. Nunca tive uma briga com menino de colégio, não, de jeito nenhum. Porque eu era muito chegada à professora. Que a professora era muito amiga da minha mãe, vixe, demais, eles eram tudo cearense, tudo era amigo do meu pai. Nesse tempo eu era criança, né! Que eu estudava lá. Eu tenho muita recordação, muita recordação.
P/2 - O que interrompeu os seus estudos?
R - Eu, trabalhar mais minha mãe, que era quando ela trabalhava sozinha.
P/2 - Tem alguma história que marcou na sua infância na escola?
R - Hum, hum! Só que eu gostava só de estudar, terminava, eu não tinha negócio de ir com amiga, sempre eu andei só. Gosto de ficar só! Sempre eu gostei de andar sozinha, sozinha. Não gostava muito de andar com ninguém não.
P/2 - Tinha algum transporte que você ia para a escola?
R - Não! Ia de pé. Não era longe não.
P/3 - Você ia sozinha, seus pais acompanhavam?
R - Eu ia mais a minha sobrinha, ela morava pertinho, nós era tudo pequena. Aí, depois de grande eu seguia só.
P/3 - Você ainda tem contato com essa sobrinha?
R - Se eu tenho? Tenho, tenho. Tenho contato com as minhas irmãs, minhas sobrinha, prima.
P/2 - Quando a senhora começou a sair sozinha na infância, com amigos?
P/1 - Na adolescência a senhora saia com amigos, ou só com a sua mãe?
R - Não, não, naquele tempo não tinha negócio… a gente andava só com as meninas, negócio de andar com menino, ninguém andava não. Eu fui criada muito diferente, estranho muito hoje, demais, demais, demais. Não tinha esse negócio de amizade, de tá correndo pra acolá, não, não tinha não. Às vezes eu me sentia muito brincando com um cachorrinho que nós criava, Bolinha, uma cachorrinha. Brincava mais ela. Não tinha muito assim, de andar não. Fui criada muito dentro de casa, dentro de casa. Se não fosse no colégio, no trabalho, indo para a casa das minha irmãs, chegava lá, dava um recado que mandavam, e voltava pra casa. Ia logo, não demorava nas casas não.
P/1 - Alguma coisa mudou quando você chegou na adolescência?
R - A mudança que teve quando eu fiquei… Adolescente que você está falando? Não, não!
P/1 - Quando chegou a adolescência você não tinha vontade de sair sozinha?
R - Não, não, não, de jeito nenhum. Porque os nossos passeios eram pra missa, todo sábado.
P/1 - Da igreja católica?
R - É! Até agora, graças a Deus! Não pretendo mudar.
P/2 - E quando você se mudou do Salgueiro vocês foram para qual cidade?
R - Nós viemos para um lugar chamado Escondido, onde tinha uma irmã minha. Foi quando meu pai morreu, faleceu. Aí, uma irmã minha foi buscar nós lá, viemos pra perto dela.
P/2 - Por que da mudança de cidade?
R - Não, porque não quiseram deixar nois só pra lá. Minhas irmãs moravam tudo para cá, né! Acharam melhor ir buscar nós. Aí, quando nós chegamos nesse Escondido, aí casou meus três irmãos, ficou só eu mas minha mãe.
P/1 - Aí a senhora ainda demorou para casar?
R - Demorei. Eu cheguei lá com cinco anos, desde 5 anos, nós chegamos nesse lugar lá, nós demoramos uns anos lá, saí de lá com 10 anos. Aí, outra irmã nossa veio buscar nós, que se mudou para um lugar chamado _________ Aí, foi buscar nós pra lá, nesse_______, cheguei com uns 9 anos, 10 anos, 11 anos, 12 anos eu casei. Não teve nem esse negócio de andar namorando, eu me engracei do rapaz e nós casamos. Casei novinha. Aí, depois de nós casados, eu passei um mês dentro de casa. “Eu não queria esse marido” “Mas você não casou minha fia?” “Mãe, eu não sei nem o que foi isso” Com um mês que eu fui______ esse marido.
P/1 - Você foi morar com os pais dele?
R - Não, fomos morar com a mãe dele. Mas aí logo ele fez uma casinha perto, ficamos lá. Aí, minha mãe veio embora para esse lugar novamente, esse Escondido. Eu passava um monte de dias lá.
P/1 - Quando sua mãe faleceu você já estava casada?
R - Já! Mas minha mãe faleceu num lugar chamado Três Lagos. Eu já não estava mais com esse marido.
P/1 - Tava sozinha?
R - Tava sozinha. Ele me largou, me largou por causa de outra mulher, e eu fiquei mais minha mãe, novamente. Aí, depois eu arrumei outro marido, casei, me juntei. Não casei não, só casei uma vez. Aí, minha mãe foi embora para perto de outra irmã minha. Aí, de lá não me aquietei, fui para Imperatriz. Aí, voltei, minha mãe veio para os Três Lagos, de novo. Aí, foi o tempo que ela faleceu. Aí, nesse tempo vim embora do Maranhão.
P/3 - Quando sua mãe faleceu, qual foi o rumo que você tomou assim, na sua vida?
R - Quando minha mãe faleceu? Que foi que tu procurou aí?
P/3 - Qual foi o seu destino?
R - Ah, o meu destino foi de sair de lá e trabalhar. Novamente fui trabalhei, trabalhei de empregada, para criar os meus filhos. Aí, foi o tempo que o marido me largou, que quando quando minha mãe morreu, eu já estava separada dos meus filhos também. Ele já tinha me largado. Não, desculpa aí! Não tinha ainda não. Minha mãe não tinha morrido não. Ele me largou, com um ano carregou meus filhos, ficaram um ano mais eu trabalhando. Eu trabalhando para sustentar meus filhos mais minha mãe. Aí, eles levaram, ele disse que queria passar uns tempos com os meninos também. Tudo bem! Aí, quando eles levaram os meninos. Foi que mamãe foi embora para um lugar lá perto da Lagoa Grande. Aí, eu digo: “Mãe, eu vou trabalhar, vou lutar na vida” “Tá bom minha fia, tá bom! Que Deus lhe acompanhe”. Aí, eu fui trabalhar. Vom trabalhar em Tucuruí, trabalhei lá uns seis meses, aí voltei de novo. Quando eu sentia falta dos meus filhos eu voltava pra trás e ficava rodeando eles. Sempre a gente discutiu por causa dos meus filhos. Eu não queria que ninguém maltratasse elas, de jeito nenhum. Porque se maltratar meus filhos o negócio não vai dar certo. Tá pensando que eu vou abandonar os meus filhos, de jeito nenhum! Aí, foi o tempo que eu casei também. Aí, já foi o Renato Piloto, mas sempre meus filhos, acompanhava, sempre acompanhava. Aí, foi o tempo que eu ganhei essa daqui. Essa daqui andava pra cima e pra baixo pendurada, mas era mais eu. Até quando eu adoeci da minha vista.
P/2 - E qual foi o seu primeiro emprego Dona Maria?
R - O primeiro emprego foi num supermercado.
P/1 - A senhora lembra como era esse supermercado, primeiro patrão?
R - Era uma senhora. Não lembra mais o nome dela não.
P/1 - Ela gostava de você?
R - Gostava! Mas uma ida ela gritou comigo e eu saí. Porque eu disse para ela que eu fui trabalhar, não pra ninguém gritar comigo. Ela ia me fazer vergonha no meio de gente? Minha mão nunca me fez. Eu me senti envergonhada e sai. Aí, depois eu fui trabalhar nesse trabalho que eu fui trabalhar, aí era diferente. A minha patroa gostava de mim demais, ela admirava muito a mim. Que ela dizia: “Minha fia, todo mundo conversa e tu não conversa nunca". “Quando a gente está trabalhando não tem o que conversar não". “Não, você é calada mesmo". “Eu gosto de ser calada, ficar prestando atenção as coisas".
P/1 - Você lembra uma coisa que marcou muito que você comprou com o seu primeiro dinheiro? Seu primeiro salário, seu primeiro pagamento, você trabalhou para comprar o que?
R - Eu tinha minha casa. Não gostava da casa de ninguém não. Sempre eu trabalhei, sempre empreguei na minha casa. Para ter as coisas, para não andar pedindo nada a ninguém. Nunca gostei disso, sempre gostei de lutar pra isso.
P/1 - Você falou que aí você teve problema de vista. Você lembra qual idade você tinha?
R - A idade que eu tinha?
P/1 - É, quando você perdeu a visão.
R - Eu tinha 28 anos, foi o tempo que eu vim pra cá.
P/1 - Você gostaria de contar pra gente como foi?
R - Você me desculpa, isso me dói! Eu não falo!
P/1 - Tá desculpada!
R - Não desejo mal a ninguém, não tenho nada contra, mas dói muito dentro de mim, eu não gosto de falar. Você desculpa?
P/1 - Está desculpa Dona Maria, a senhora tem todo direito de ficar em silêncio. Tá bom! Você só vai contar pra gente o que você achar importante, viu!
R - Pois tá bom!
P/1 - Você falou que sua a primeira filha foi a Ana, né?
R - Não! Depois dos outros.
P/1 - A Ana foi a caçula?
R - É, a Ana é a caçula das mulheres.
P/1 - Ela te acompanhou até agora.
R - Sempre!
P/2 - Dona Maria, que outro trabalho você fazia? Depois do comércio.
R - Depois do comércio. Ah, trabalhei em hotel.
P/1 - Você guardava um dinheirinho pra comprar as coisas de casa?
R - É!
P/1 - Roupa para os filhos.
R - Nunca andei gastando com bebida, com vaidade, nunca gostei disso não. Sempre fui uma pessoa controlada na minha vida, sempre, sempre, sempre.
P/3 - Dona Maria, quando a senhora veio para Serra Pelada, a senhora estava em que cidade? Estava fazendo o que? Como foi que a senhora ficou sabendo da comunidade de Serra Pelada, do garimpo? Conta pra nós como surgiu a ideia de, “Ah, eu vou para Serra Pelada”?
R - Foi assim, eu morava no 16 ali, no 6, lá em Marabá, morava com o pai dela aqui. Aí, depois ele me abandonou lá, foi embora. Aí eu fui para o Axixá, comprei uma casa em Axixá. Fui adoecendo da minha vista, aí essa mulher me convidou. “Maria Índia, vamos para Serra Pelada, lá tem muito ouro, lá tu pede um rack para as pessoas, aí vão te dar, pra tu tratar da sua vista” “Mulher, mas não tem dinheiro pra eu ir, tenho que levar minha filha” “Não, mas as pessoas vão ajudar, eu vou te ajudar, falar para as pessoas te ajudar, dá dinheiro para tu ir". “Então, tudo bem!” Aí, ela falou com umas pessoas lá em Axixá, me deram o dinheiro e eu vim mais ela, aqui pra Serra. Ficamos numa casa lá na beira do garimpo, numa mulher lá. Depois ela ficou com ignorância comigo, porque um conhecido da mulher, que eu andei com ela, ele me deu um dinheiro. “Aqui um dinheiro para você. Você mais sua filha". E ela me pediu esse dinheiro emprestado, e eu emprestei um pouco pra ela. Nessas alturas ela veio com a maior ignorância comigo, aí a mãe dela disse: “Maria, eu tenho umas casas ali para alugar e a Das Dores mora lá. Aí, tu fala lá com ela". Aí a das Dores disse: “Não, eu já estou com plano de tirar ela dali, porque tá difícil demais com ela". Aí, ela foi morar no quartinho. Aí, teve um senhor, um garimpeiro, pago o aluguel da casa. Aí, um dia eu estava sem dinheiro. “Dona Maria, se me desse o dinheiro para comprar as coisas para a minha filha”. Aí ela foi e falou. Ela jogou o dinheiro nos meus pés, assim. Aí, a mãe dela disse: “Porque tu faz isso? Porque tu vê que ela não enxerga. Será que tu não tem dó das pessoas não?” Ela deu uma pisa nela. E eu saí mais a Aninha. “Bora minha filha, sair daqui". Nós fomos para uma casa onde tinha uma venda. Aí nós tava lá, a Dona Maria disse. “O que foi que aconteceu minha filha?” Contei para ela. Os garimpeiros tinha subido do garimpo, estavam tudo lá. “Ela não triscou em você não. Porque se ela triscar em você ela não dá nem um pedaço para cada um de nós” Falei: “Não, mas não carece não, deixa pra lá!” Pois ela veio. O irmão dela disse assim: “Ó, Dona Maria, fique pra lá com a sua meninazinha, que ela pode fazer alguma serviço com a senhora, que ela é muito perversa”. falei: “Meu Deus, o que foi que eu fiz com ela?”. E ela foi lá, não sei o que ela ia levando. Só sei que os garimpeiros. “Se tu quiser viver tu não dá um passo daqui, pra não fazer nada com essa mulher aqui” E aí, ela voltou. Fiquei lá até de noite no castigo mais ela aqui. Com medo de ir pra lá. “Bora mulher, ela não vai fazer nada comigo não, mulher". Aí, chegou um conhecido, esse mesmo que pagou o aluguel da casa, o Seu Raimundo. “Você está aqui por causa disso? Não, mas você vai para o seu barraquinho agora. Bora lá! Ela não vai fazer nada com você não”. Aí, nós fomos, eu mais a Aninha. Chegamos lá, aí ele mandou chamar ela, ela veio, veio com o marido dela. Ele disse: “Dona Iris, você disse que vai fazer alguma coisa com essa mulher bem aqui, você não vai fazer nada com ela não, porque se você fizer alguma coisa com essa mulher bem aqui, você não conta a história. Não tem dó da situação das pessoas não? Uma pobre mãe que não enxerga, com a filha, e você fazer uma perversidade dessas. Você não vai fazer nada com ela não. Você que sabe se vai fazer alguma coisa com ela”. Aí, passou a noite todinha sentando na porta, esperando ela vim. Ela não veio não. Aí, ele foi e comprou um barraquinho para mim. Mas dentro do garimpo também, mas já mais para cá. “Pegue um barraquinho para você não ficar nas casas” Aí eu fiquei mais ela aí. Ela pedia rack, nós vendia. E assim nós fomos vivendo, né! Eu digo: meu Deus! Aí, um garimpeiro disse: “Vou lhe dar dinheiro para você tratar da sua vista”. “Tá bom!” Aí, foi o tempo que mudou o pessoal da beira do garimpo pra cá, pro bairro São José. Aí, eu me mudei mais ela. Fizeram o barraco meu, mulher ajudou, tudo. Sei que fizeram um barraquinho e eu fiquei mais ela______, só uma bandinha. Eu entrei para dentro de casa mais ela. Nós passamos uma vida aqui, que só o nosso pai que sabe, é testemunha, eu com ela bem aqui. Mas eu sofri, mas ela não sofria não, eu pedia pra ela. “Posso passar calamidade, mas a minha filha não passa, de jeito nenhum”, porque Deus não vai deixar, meu pai. Eu quero ver minha filha comendo, eu não passo do jeito que Deus quiser. Nós passamos um tempo aí sofrendo desse jeito aqui, nesse bairro São José. Quer que eu conte a história, né? Aí, eu pensei assim um tanto. “Meu Deus, como ela foi criada, meu!” Fiquei naquela tristeza, aí me deu aquela… umas situações que só o meu pai sabe, aquela tristeza, aquela tristeza, aquela tristeza. E eu chorava, eu chorava. Ela dizia: “Mãezinha o que a senhora tem mãezinha?” “Nada minha filha, nem a mãe sabe o que a mãe tem". Aí eu: “Bora Aninha, bora andar!” Minha filha calça, a mãe pega e bota minha filha no colo, e minha filha vai indicando a estrada pra mãe, modo a mãe não pegar nas coisas". E aí, foi assim! Passamos no meio desse sofrimento. E ela ficava perto de mim, queria chorar. “Chora não minha filha, deixa só a mãezinha, só a mãezinha, deixa só a mãezinha chorar. Deixa estar que Deus vai ter compaixão de nós, com fé em Deus".
P/1 - Esse período foi o período que fechou o garimpo?
R - Não, ainda não! Isso foi num ano, eu cheguei no outro.
P/2 - Qual foi ano que a senhora chegou aqui?
R - 1986, em agosto. Setembro, outubro, novembro, dezembro. Parece que foi de dezembro para janeiro, que a gente se mudou tudo para cá.
P/2 - A senhora ainda tem contato com a sua colega que veio com a senhora?
R - Deus tirou ela já. E nós ficamos aqui sofrendo, sofrendo, pai do céu. Aquilo dava uma dor tão grande dentro de mim de eu ver assim. Mas ela nunca sofreu necessidades que eu não deixava. Até quando uma mulher quis me ajudar. Ela chegou, a menina procurou assim: “Minha filha, porque tu tanto chora? É porque você sofre com a sua filha, um dia eu vi sua filha pondo uns pezinhos de feijão ali. Mas é assim mesmo". “Sei lá porque é mesmo". Aí ela disse assim: “A senhora não quer ir na casa de um curador para fazer uma reza em você?” Eu digo: “Não, não, não! Não senhora". “Não acredita?” “Não é que eu não acredito, é que eu não quero ir". “Não tenho nada a ver, não falo nada mal de ninguém, que seja o que seja, viva como viver, não desacredite em nada, porque Deus deixou de tudo no mundo, mas eu não vou não". “Mas eu gostaria que você…". “Não senhora, me desculpe!” Mas aí, ela me levou enganada. Fui bater na casa desse homem. Ele conversou e disse assim: “Tu tá para sair desse sofrimento, você sabia que você vai trabalhar num centro espírita?”. Eu falei: “Não, sei não!” Mas eu sabia! Que a minha mãe disse. Eu passei essa passagem sem falar. Falei: “Não senhor, eu não sei! Eu queria era ir embora pra minha casa mais a minha filha". “Não, fique aqui, amanhã você vai". Aí, a mulher dele não deixou. “Não, minha fia, fique aqui conversando com a gente". Quando foi dia ela veio me deixar. Ela me deu um quarto de tatu, me deu uns pacotinhos de arroz, me deu um pouco de feijão, e um carvão. E veio me deixar lá no meu barraco. Tudo bem. Aí, mas eu continuei naquela mesma coisa. Eu não comia nadinha. Aí, quando foi um certo dia, eu tô conversando mais Ana, nos deitada num jirauzinho num canto, com uma caminha em cima, bem pertinho assim, na beira do barraquinho. Ela disse assim: “Mãezinha, vou lhe falar uma coisa". “Que é minha filha?” “Tem uma velha lá dentro, bem acolá, dentro de casa". “Uma velha minha filha?” E logo uns dias, tinham me roubado, umas vasilhas, que me deram. “Meu Deus, será que já é ladrão. Meu pai! O meu Jesus Cristo!” “Mãezinha, mas não tem ninguém, mãezinha". “Não tem ninguém Aninha?” “Tem não Senhora. Mãezinha lá vem a velha". Passou bem assim perto de nós. “Cadê Aninha?” “Mãezinha, ta lá no chão ali". “Aninha, tá me enganando?” “Não senhora!” Ela ficou um tempo sem dormir. “Meu Deus, minha filha! Mas eu sei que isso não é coisa de inimigo não, isso é coisa de Deus, porque ele não gosta de Luz". Nós levantamos. “Bora rezar um terço minha filha". Aí ela sentou pertinho de mim, agarrada comigo. Eu rezei o terço. Isso minha mãe me ensinou, entendeu? Mão não me ensinou festa, não. Mas as coisas de Deus ela me ensinou. Tudo bem! Fiquei. Aí nós deitamos, ela logo agarrou no sono. Eu fiquei acordada, pensando, “será meu pai, será que é a minha mãe?”, pensando.
P/1 - Seu sentido foi certinho na sua mãe.
R - Foi, na minha mãe. Eu não dormi, eu já quase não dormia mesmo, essa noite eu não dormi. Amanheceu o dia, eu estava sentada assim. “Mãezinha?” “Oi, minha filha?” “Cadê a velha, Aninha?” “Tá lá não, Mãezinha?” “_______?” “Não, senhora!” Eu passei o dia pensando. Já não chorei mais! Pensando. “Mãezinha o que a senhora pensa?” “Minha filha, isso é Luz Aninha". Quando foi a mesma hora, vem essa luz. Veio e eu fiquei parada, “meu Deus, o que é meu pai, será que eu vou morrer meu Deus, deixar a minha filha só, Jesus Cristo, em nome da minha família”. Aí foi que eu não perdoei a minha cabeça, pensando, pensando. Mas aí eu não vi nada, quando foi na outra noite, na mesma hora, do mesmo jeito. Aí ela disse: “Mãezinha, eu não tenho mais medo dessa velha, não". “Tem não minha filha?” “Não!”. Aí ela deitou pertinho de mim, ficou assim… Eu dormi sem ver meu corpo. Aí, eu vi um homem, vi um índio, e vi duas mulheres. Ele cantou, eu me despertei assim. “Que foi ,mãezinha?” “Tu não viu ninguém?” “Não mãezinha, vi ninguém não, porque?” Eu digo: “Não, nada não!” Eu pra mim que eu dormi, né! Mas não dormi. Eles vieram na coroa, a noite todinha, conversou com ela. Disse: “Olha, minha filha, vocês sofreram até hoje, vocês só vão sofrer daqui pra frente o que Deus permitir, o que nós não poder dar jeito, aquilo que ele quer nós não dá jeito. Mas de hoje pra frente, vai mudar pra vocês demais. Porque Deus é Poderoso. Chegou o tempo dela receber a missão que Deus deu pra ela". Até de manhã. De manhã quando eu estava sentada no chão, ela disse assim:... Eu falei: “Ana, que que a mãe tá fazendo no chão aqui?” “A mãezinha, a senhora não sabe de uma coisa". “Aninha, não fala isso pra ninguém não minha filha". “Não Mãezinha, não vou falar não, mas com sete dias vai trazer uma pessoa aí para a senhora rezar". “Eu rezar? Eu? Mas minha filha, pelo amor…. Não, se é pra rezar um terço eu sei, mas rezar em ninguém não". Ela disse: “Mãezinha, a senhora está bem pertinho da velha". “É mesmo, Aninha?” “É!” Aí, no tempo daquele garimpo da Banana. O pessoal tudo gritando, os garimpeiros. “Eita mãezinha, mas faz horas que homem grita". Eu digo: “E é minha filha?” “Minha filha, mãe vai levantar". “A mãezinha não quer pegar na velha?” “Não, não vou pegar, não". Aí, quando eu me levantei, eu pensei. “Aninha, me leva nessa velha". Que eu voltei assim. “A mãezinha, a velha não tá mais não". Digo: Ô meu Deus! Eu fiquei impressionada com esse negócio, impressionada. E toda noite eu via esse pessoal, eu via assim. Quando foi com sete dias, eu estou conversando mais ela, sentada num banco assim, um pote bem assim no chão. Por nada o pote quebrou todinho. “Minha filha, será que não é cobra, rapara aí, tira esse tijolo". “Não mãezinha, aqui não tem cobra não". “Que água nós vamos beber minha filha, como? Da torneira né Aninha". “Pois é mãezinha. Mas o Seu Ubirajara falou que nós não vamos sofrer mais". Falei: “Minha filha, para com isso!” Aí, nós estamos conversando ali… Aí, vem um pessoal conversando, conversando. Dois casais. Chegaram: “Boa tarde, Dona Maria!” “Boa tarde!” Era mais ou menos uma hora. “Aqui uma velas que eu trouxe para a senhora dar uma olhada em nós". “Olhada em vocês? Mulher, eu nem enxergo". “Mas a senhora não trabalha na ciência?” Eu digo: “Não!” Aí ela coisou assim na minha mão, eu… “Não senhora! Não trabalho com isso ai, não. Lá no pé do morro tem um pessoal que trabalha, mas eu não". “A senhora não é a Dona Maria Índio?” “Sou!” “Pois é você!” Digo: “Não, lhe informaram errado, foi eu não". Passaram pra lá, entreguei as velas. Aninha disse assim: “Mãezinha, Seu Ubirajara disse que 7 dias ele vinha para falar com o pessoal". Digo: “Aninha, para com isso minha filha. Mãe não sabe de nada, pelo amor de Deus, passar vergonha Aninha". O pessoal voltaram de novo. “Mulher é você mesmo". Digo: “Não mulher, vocês estão enganados". “Pois então nós vamos sentar, o sol está muito quente, vamos beber uma água". Digo: “O pote até quebrou. Aninha, vai lá na casa do Seu Jorge, diz para ele mandar uma água para o pessoal aqui". Ela foi, trouxe uma água, eles beberam. “Mas mulher, a senhora não trabalha?” Digo: “Não! Pessoa que trabalha não tem mesa, não tem…. Pois reparei aí, só tem essa salinha, essa cozinha, esse quartinho, não tem nada aqui não”. “Oh, mulher, desculpe!” “Tem nada não". Estamos conversando, ele veio. Ele falou assim: “É aqui mesmo, é porque ela não sabe. Ela sabe, mas ela não acredita que ela vai trabalhar, ela não acredita. Porque ela sabe desde a idade de 2 anos. E ela sabia que a mãe dela falava muito pra ela isso aí. Mas é isso mesmo, não tem problema". Ele foi e consultou as duas mulheres e os dois homens. Era dois casais. Deixou as velas e firmou um ponto assim. “Toma minha filha, acenda essa vela aí!” Ela acendeu! E consultou todos os quatro, aí ele disse assim: “Quanto é a consulta?” “Vou passar um ano trabalhando na cura dela, sem pegar nada de ninguém. Dinheiro nenhum!” Aí, o homem falou mesmo assim: “Mas eu posso dar um dinheiro para a colomizinha?” Ele disse: “É, pode dar! Mas pagar nada não!” Eles deram um dinheiro para a menina. Aí, espalhou-se a notícia que eu ia trabalhar. Quando eles saíram fiquei com tanta vergonha, meu pai céu. Aí, eles disseram: “Mulher, você tem respeito, trabalha com atendimento". “Eu não sabia não! Não sabia disso aí não!” “Mas ele disse que desde 2 anos você sabia. Com 2 anos não disseram para sua mãe?” “Disseram, disseram, mas eu não tava lembrada disso aí não". “Ah, mulher, tu é muito sabida, contou nossa vida todinha aqui". Nesse momento aconteceu uma coisa assim, que foi de admirar. Veio um homem lá em casa procurar um trabalho, e esse homem disse que ia me ajudar que eu não podia seguir um trabalho daquele só. Falei: “Você não tem família não?” “Não, tenho não, tenho não!” Aí, eu fui me embora lá para o fim do bairro São José, lá tinha uma casa dele. Deixei minha casinha pra cá. E, mais era gente, ficava com tanta vergonha quando o povo chegava, meu pai do céu! Tanta vergonha que eu ficava. Meu Deus do céu, será possível meu pai. Aí, mudou mesmo minha vida, entendeu? Nossa vida mudou mesmo, graças a Deus. Foi, foi, foi, foi, fomos fazendo trabalho. Fui chamada para um trabalho em Pindaré. Nós fomos! Lá, não sei por qual foi o motivo, sei que de respeito foi feito numa mesa. Ele disse que eu não sabia acompanhar ele. “Você não serve para me acompanhar no meu trabalho". Você vai embora com a sua família, desta que Deus mostra o jeito de nós trabalhar com ela. Já pensou.
P/3 - Quem não aceitou, Dona Maria?
R - Não aceito! Foi um de respeito que ele fez na mesa. E ele é muito… Sabe como é um homem de respeito, que eu queria trabalhar comigo… Deus o livre!
P/1 - Muito rígido, né!
R - Ave Maria! Aí ficamos. Aí tinha um médium que trabalhava, aí ficou comigo e a menina. Ficamos lá, ficamos lá. Aí, ele disse assim: “Seu Ubirajara fez isso comigo, fiquei sozinha, procurar as pessoas pra fazer…. Esse homem só para ficar nesse lugar desconhecido, meu Deus". Aí, eu fui no Vida de Barão.
P/1 - Dona Maria, você acha que esse homem que lhe acompanhou Pindaré, ele estava ganhando, assim, ganhando seu dinheiro e não lhe passava?
R - Menina, eu não sei qual foi o motivo, porque eu converso com ele, mas não gosto de procurar ele. Acho que foi negócio de mulherzada… Não sei o que foi não! Eu tenho assim, uma dúvida, entendeu? Mas nunca procurei pra ele. Não sei não! Mas ele alcançou uma coisa dele, entendeu? Mas aí ele me tratava bem. Cheguei do Vida de Barão, ele não estava. Depois eu vou voltar. A menina dele disse: “Não senhora, fica aqui que ele vai chegar de tardezinha". Falou com ele. “Não, diga para essa mulher ficar aí para falar comigo". Muita gente lá. Fiquei, 6 horas ele chegou. “Olha, gente, eu trabalhei até ainda agora, em São Luís, vocês vão ficar nos Hoteis, que amanhã eu atendo vocês”. Ele virou assim pra mim. “Você fica aqui!” Tudo bem. “Com quem você anda?” Eu ando mais uma vizinha e minha menina". Aí, ele disse: “Vamos bem aqui conversar comigo". Aí eu fui conversar com ele. “Que assunto que você quer?” Aí eu falei pra ele. “Pois também não vou te responder hoje, viu. Amanhã eu lhe respondo. Eu vou chamar uma mulher ali para cuidar de você, da sua filha. Vou mandar ela buscar janta para vocês". “Não, nós já jantamos". “Não, vocês não jantaram não". Aí levou nós para um casa por de trás da casa dele, no mesmo muro, tinha piscina, tinha duas camas. “Você fica mais a sua menina, amanhã eu lhe respondo, cedinho!” “Tá bom!” Quando foi no outro dia, ele vem cedinho. “Meninas, bora se arruma logo para gente ir embora, meu Deus do céu, é tanta gente para ele atender quando ele chega, nós temos que chegar lá cedo". Porque eu vim pensando em voltar no mesmo dia. Ele tinha uma casa alugada, muita gente pra fazer tratamento. Aí, nós já tinha banhado, a gente tava assim. Aí ele disse assim,aí nos tava lá: “Mãezinha, bem acola tem um nego veio sentado, mãezinha ele tem uma cabeça assim pra mim". “Para Ana, para com isso minha filha, vira as costas". Ele chegou. “Vixi, vocês já banharam?” Eu disse: “Já!” Ele disse: “Minha fia… Senhora vai com a menina um pouquinho pra lá, que eu vou conversar um pouquinho com essa menina aqui". Ele disse: “Vou falar uma coisa pra ti. Esse homem que vive contigo, foi o teu chefe que mandou ele embora, porque ele não servia, pelo motivo ele não te contou, eu também não vou te contar. E você é uma chefe, você trabalha com homem é muito, respeite aquele homem, por favor! Deus me livre de eu entrar nisso aí, Deus me livre, Deus me livre, eu respeito ele demais, demais". Digo: “Meu Deus do céu! A fiquei calada, não disse nada”. “Você queria me enganar, não era?” “Não senhor!” “Pois é, porque quem souber quem é aquele homem que trabalha com você, não mexe com você mas não". Ele me deu um leite, um café, ele me deu um banho. “Para você cuidar lá, que tem muita gente lhe esperando". Também ele foi me deixar lá na estação. Aí nos viemos embora. Fiquei pensando. Tudo bem, tudo bem. Aí trabalhei. Fui em Pindaré, para ficar pouco dias, passei 5 meses. Nos 6 meses, recebi um telegrama de um moço do Paraná, que vinha pra Serra Pelada e queria falar muito comigo. Falei: Meu Deus, com tanta gente aqui, meu pai do céu, o que que eu faço? Falei: “Seu Ubirajara como é que nós faz?” “Não, nós vamos! Você vai, você vai! Fechar todos os trabalhos, não pode mais serviço de ninguém". “Tudo bem!”. Ele fechou os trabalhos. “Depois eu volto com ela e vamos pegar outros trabalhos aqui". Aí nós viemos pra cá! Cheguei aqui, fui procurar meu barraquinho, tinham arrancado o meu barraco. Meu Deus do céu! Tudo bem, tem nada não! Eu vim para uma casinha bem ali. Dali eu comprei esse terreno aqui, entendeu? Graças a Deus, pessoa que fala de mim, me massacra, faz critica de mim. Meu Deus do céu, eu to me importando meu pai? De jeito nenhum. Entrego na justiça do meu Bom Jesus, meu pai que vai resolver. Se Deus me deu uma missão para eu seguir com tanto sofrimento, de eu passar 3 noites acordada com pessoas doentes. Às vezes umas pessoas me pagam, outras não pagam. “Eu desmanchava!” Eu digo: “Eu? Deus me livre! Deus dá a licença de eu fazer, eu não desmancho. Mesmo assim Deus me dá recompensa, muito mais”. E chegar uma pessoa na minha casa, doente, eu com pezinho no chinelo, não tenho nem para comprar uma vela, chegar um carro cheio de dinheiro, para não ofender ninguém, pois aquele carro de dinheiro volta para trás, aquilo não me serve. Eu recolho para dentro da minha casa, o que eu como eu dou, se tiver roupa eu dou, se tiver um calçado eu dou. Já fiz isso muitas vezes. Aí, as pessoas fazem crítica de mim, diz assim: “Eu não tô me importando não, de jeito nenhum…”
P/3 - Dona Maria, o que a sua mãe falava para a senhora criança ainda sobre esse trabalho que a senhora poderia ter no futuro?
R - Desse trabalho aqui, né? Ela dizia assim: “Minha filha…” O ponto que ela dizia que eu era diferente das outras. “Quando eu estava grávida de você, eu tava apanhando algodão, mais o Angelino no quintal, dia de sábado, de tardezinha, ai eu senti uma dor diferente. Aí eu disse assim: Angelino vamos embora, porque eu sentia assim, uma coisa diferente, vamos embora!” Aí pega algodão, meu pai trouxe, quando chega na porta da cozinha ela disse assim: “Vai ligeiro na casa da Comadre Santa, que o negócio aqui não está de brincadeira". Entrou para dentro do quarto. Que nada, quando mãe Santa chegou já tinha nascido sozinha. Aí deste tamanhozinho. Ela olhou pra mim e disse: “Isso é tamanho de gente?” Tudo bem! Com 2 dias eu adoeci, entendeu? Adoeci. A minha mãe disse assim: “Maria…” Eu nasci num dia, no outro eu adoeci. No outro dia, com dois dias, mãe disse: “Pega minha filha, enrole esse menina no enrolo, pegue ela e leve ali na casa do seu Calixto pra rezar nela". Porque de primeiro o povo tinha respeito pelas pessoas que trabalhava, negócio de macumba de… Tinha respeito, era um rezador. Tudo bem! Aí ele foi lá, ele rezou em mim. Aí, ele ficou me olhando assim: Ele disse assim: “Diz lá para sua mãe, que amanhã eu vou rezar nela lá, nessa criancinha”. “Tá bom!”. Aí voltou. “Mãe, o homem lá falou que amanhã ele vem rezar na nenezinha. “Ó meu Deus, será que a minha filha não vai ser criar". No outro dia ele foi. Ficou lá conversando com o papai, e disse assim: “Eu vim rezar na criancinha". Aí, ele foi lá conversou com mamãe, entrou. Ele rezou e mãe procurou mesmo assim. “Seu Calixto, será que eu crio essa menina, tão miudinha!” Que eu sou a caçula de todos os meus irmãos. De 12 irmãos. Aí, ele disse assim: “Crias sim! Até a idade de 7 anos certeza como cria ela. Quando ela tiver idade de 28 anos, 29 anos, ela vai receber uns encantos importantes, e no mundo ninguém vence essa sua filha, porque é uma coisa de Deus, é de natureza. Não é negócio de ir em salão, nada disso! Não é não! De jeito nenhum! Esse pedacinho de gente é dos encantos, Deus já mandou ela preparada". Aí, mãe disse: “É, tá bom! O que Deus quer ninguém pode desmachar". Mas mamãe não era descrente também não, de jeito nenhum. Ela sempre dizia. E eu ficava mais prostrada do que sadia, até a idade de 7 anos. “É, mamãe graças a Deus, sabe que vai criar minha filha. Eu de idade de 5 anos em diante, passa um mês, dois meses sadia, quando dava fé, de novo. Até quando foi com 7 anos mesmo, aí eu fiquei mesmo sadia, graças a Deus, graças ao meu bom pai. Só que às vezes, eu dizia assim para a mamãe: “Mamãe, será que nós vamos fazer aquele serviço hoje mãe?” “Não sei minha filha, será?” “Sei não mãe, acho que não vai dar tempo da gente fazer tudo não". Sempre aquele intuição comigo. Aí o tempo que eu saí trabalhando pelo mundo, pessoal se encabulava comigo, que eu dizia assim, uma coisa… Vinha assim aquilo na minha mente. Às vezes eu estava conversando assim, tinha pessoas que trabalhavam comigo, ficavam olhando assim pra mim. “E mulher, você é uma mestre muito entendida". “Ó meu amigo, eu não sei nem o que é isso aí, desculpa!”. Eu não admitia ninguém dizer isso comigo, não. Não era porque eu tinha descrença, não. Eu não sei porque era, eu não sei! Eu via uma pessoa trabalhando, dava vontade de chorar, aí eu saia de perto. Era assim! Sofri muito, trabalhei muito. Graças a Deus, graças ao meu bom pai.
P/3 - Dona Maria, a senhora esperava que em algum momento o que tinha sido falado na sua infância iria acontecer?
R - Não acreditava bem. Eu não dizia nada, mas eu não era encurtida assim, não, não, não, de jeito nenhum. Às vezes eu dizia: “É mamãe, o que tem que ser pode ser, né mamãe. Não tem problema. Deus é quem sabe. Deus é quem sabe". Eu sofri uma crise muito grande, eu tinha 13 anos de idade, 13 anos, é! Que o primeiro filho eu perdi, não sei porquê, da Toinha. E aí, tava com 12 anos, dentro dos 13 anos. E aí, eu fiquei muito ruim, eu fiquei prostrada, não falava, eu não conversava com ninguém. Eu via tudo, mas não falava, não conversava. Foram buscar um médico, que veio de São Luís, tava lá na clínica, foram buscar o médico. Veio, me olhou assim, encabulada essa menina. Aí, ele fez uma aplicação de um remédio nos meus pés assim, e me deu umas gotas de remédio, e eu fiquei boinha. Aí, quando o doutor saiu, acho que ele ainda ia no meio da estrada, fiquei do mesmo jeito de novo. Aí, mamãe disse, mais meu cunhado. “Nós vamos buscar um curador, que essa menina não é à toa”. Aí, lá vem o mestre, e fez rezar, e nada. Ninguém, de jeito nenhum. Ninguém resolveu nada. Quando foi com 30 dias, eu vi assim, duas pessoas chegar perto de mim, dizendo bem assim pra mim: “Te levanta, não é pra tu ficar deitada". Me levantei, fiquei! Mamãe disse: “Senhora mãe!” “Não tem nada, não” “Senta normal”. Passei novamente 30 dias assim, eu tava conversando _________ “Vai comer, sim”. “Quero não mãe, quero comer não!” “Come, minha filha!”
P/1 - A senhora entrou numa tristeza profunda porque a senhora queria muito ter aquele filho, né?
R - Hum! Menina, eu sofri demais, eu sofri demais. Sou uma pessoa que eu tenho sofrido na minha vida por isso, que nesse trabalho meu, às vezes, muitas pessoas chegam na minha casa assim: “Ô Dona Maria, não tenho condição de nada, eu vim de uma situação, eu sofri isso assim e assim, será que a senhora pode me atender?” Eu digo: “Atendo sim! Atendo sim! Com fé em Deus, Deus vai me dar forças de resolver o seu problema”. Que eu sou uma pessoa que tenho sofrido demais. Demais não, o tanto que é para mim sofrer. E sempre continuei, porque eu enfrentar uma luta dessas sem enxergar. O meu marido faleceu, o que me ajudava, Deus tirou ele, tem 14 anos, vai fazer dia 10 de setembro. Eu continuei a batalha sempre só. Mas não é só, é com as forças do meu divino pai, senhor Jesus. Não desamparo ninguém, muita criança, eu gosto de cuidar de muita criança. Chega criança saindo do hospital, vem quase morto. Eu digo: “Ó meu Jesus Cristo do céu, me ajuda meu bom Deus”. Vai, sai das minhas mãos bonzinho, graças a Deus! Aqui em Serra Pelada, quantas crianças aqui meu Deus, quantas crianças que já cresceram que eu podia ser muito protegida, de muita gente aqui, mas as pessoas fazem críticas, tem pessoas que eu faço benefício, faz crítica. Eu fico assim: tem dia que eu choro assim, meu pai. “Porque meu pai? Tanto que eu ajudo as pessoas, tanto que eu faço caridade para as pessoas, tanto que eu levanto as pessoas, tiro as pessoa do perigo, as pessoas fazem isso comigo, por quê?” Aí, eu choro, meu pai do céu! Não é que eu tenha que estar chorando indignada, alimentando aqui o sofrimento que as pessoas fazem comigo. “Se eu fosse você eu fazia isso e isso". Não tenho, eu não tenho licença de Deus para mim fazer isso, mesmo assim eu não tenho coração de ofender o próximo. Pode fazer o que quiser comigo, Deus resolve, está na justiça do bom pai, que ele que resolve por mim. Não faço isso com ninguém, com ninguém, com ninguém. “Ah, mas tu é muito besta". “Besta! Besta sou é nada. Deus me livre! De jeito nenhum!”
P/1 - Dona Maria, fala um pouquinho do Ubirajara, seu amigo?
R - O Seu Ubirajara, ele foi um índio, sempre ele foi afastado das aldeias, ele gostava de andar só, a história, ele me contou, né! Sempre gostava de andar só. Aí, chegava nos pais dele, o pai, os irmãos, tudo, mas estavam na mata, quando dava fé, o caboclo caçava ele, estava sozinho. “Meu Deus, pra onde aquele menino tá? Onde aquele curumim tá?” Quando dava fé, ele chegava assim, de momento assim. Aí, ele, disse que passou aqui, Serra Pelada era um lugar muito bonito, ele tinha 17 anos de idade, era uma mata muito bonita. Quando foi com 23 anos, ele encontrou um pessoal aqui, mas só que era de um canto também, não tinha ninguém… O Brasil não era descoberto ainda. Ele disse que chegou numa caverna, uma casona assim, tinha aquele horror de homem vestido só de roupa verde. “Para, para!” Ele disse: “Pois não?” “De onde você veio?” “Ah, eu estou pelas matas". “Com quem você anda?” “Não, meu pai Oxalá” “O que você anda fazendo?” “Só ando por dentro das matas". Ele disse assim: “Ser grande na sua mente, não é no seu coração, um dia, um dia, você tem uma missão muito forte". Aí me trouxe pra cá! Ele disse: “tá bom! Se era isso que vocês me pararam aqui e disseram” “Pois pode tocar a sua viagem”. Quando foi com 33 anos, ele se encantou. Com 33 anos, ele se encantou. Aí não apareceu mais. Ele trabalhava mais nos outros países. Aí quando ele descobriu aqui… Que ele é muito dificil em salão, né! Ele é um guerreiro muito forte, ele briga muito em guerra, à favor da humanidade, entendeu como é que? Ele não é homem de ser vingativo por nada. Ele só é um homem justo, ele é daquele jeito, já é daquele jeito mesmo, entendeu? Ele não gosta de… Aqui no salão às vezes chega pessoas falando, ele fica olhando: “Ó meu amigo, meu filho, você não sabe nem o que você está falando. Às vezes, você não está sabendo o que você está falando, vá para sua casa vá, fique com Deus! Não fique assim, não. Então, você fique aqui, pense em Deus e preste atenção aos trabalhos como é que é. Eu não aceito desrespeito no meu trabalho, de jeito nenhum”. Tudo bem! Ele é um Capitão de exército dos astrais, ele é! Ele é autoridade, ele é um homem muito ranzinza. Eu vou lhe falar bem aqui uma coisa, ele é muito devoto a Deus. Ele me dá tantas explicação assim, quando eu comecei o trabalho, eu ficava assim, pensando, “meu Deus”, coisas que eu não sabia, coisas que eu ia lia da bíblia, que o meu cunhado estudava muito, assistia muito. Cresci, li um pouco. E me falava muitas coisas: “Ó, minha filha, eu vou falar bem aqui uma coisa, ninguém nunca vai pela humanidade, porque os nossos irmãos, tem deles que não tem fé em Deus, tem muitos deles que falam as coisas que não sabem o que fala, então ninguém não se importa, e entrega na justiça do pai, que Ele que resolve os nossos problemas, porque nós sem Ele, não somos nada, não existe sabedoria nenhuma, tudo que nós temos é pela força dele. Então, não tema ninguém, não fique com raiva de ninguém, não marca ninguém. Se a pessoa disser as coisas pra você, lhe perseguir, entregue na justiça de Deus, vai rezar, se apague de Deus com o coração. ‘Ah, vou vingar!’ Não tem isso! Não tem isso! Não tem isso! De jeito nenhum! Não existe vingança. Ó, o pai, ele veio na terra para nos salvar. Fizeram o que fizeram. Teve vingança?” Digo: “Não senhor!” “Pois é isso! E nós tem que seguir na terra e fazer por onde o que nós pedir a ele, receber. Não é sendo perverso pra ninguém, não é. ‘Ah, fulano fez isso comigo, mas ele vai me pagar!’ Não, não fala isso. Não faça isso, de jeito nenhum! Deixa esse povo ingrato, tem muitos dos nossos irmãos ingratos, não sabe o que fala. Deixa pra lá! Deixa pra lá! Desta vamos tirar a nossa missão como Deus nos deu”.
P/1 - Nós tivemos uma doença que veio de longe muito séria, impactou em tudo, Coronavírus, covid. Mudou a sua rotina, devido a sua doença?
R - Não! Ele dizia assim:... “Seu Ubirajara, tem que tomar essas vacinas?” “Não! Não carece você tomar não, minha fia! Porque Deus vai lhe defender. Isso é um exemplo da pouca fé do povo em Deus. Isso aí é uma coisa que a pessoa pensa que é uma coisa e é outra diferente, vem muita troca de…” Não foi essa palavra que ele falou. “Nesse momento vem muitas trocas de maldade sem ser”. Quem que entende essa palavra?
P/1 - Tem muitos líderes maus, né? Que quer fazer o mal. Mas Deus é maior, né Dona Maria?
R - É! Exatamente!
P/1 - Estamos vivos, graças a Ele.
R - Aí, eu fico falando para ele. “Seu Ubirajara tem uma doença aí, que só em pensar nós…” “Minha filha, tenha fé em Deus! Tenha fé em Deus! Tenha fé em Deus, não esqueça de Deus no momento. Não existe isso, não existe, doença só no pensamento, existe maldade no pensamento, a doença não”. Digo “É! Tá bom seu Ubirajara”.
P/2 - Dona Maria, quais os principais trabalhos que você faz com o guia Ubirajara?
R - Curo as pessoas. Se tiver um casal desmantelado, por causa de perseguir, ele resolve, indireita aquele casal, afasta aquelas pessoas para não perseguir mais. Tem pessoa que pega rixa. “Eu vou matar fulano". Pessoa vem aqui. “Seu Ubirajara eu não devo". “Não meu fio, ninguém vai te matar não, ninguém lhe mata não, pode ter fé em Deus, vai cuidar no seu serviço. Ele tira aquela pessoa, tira o pensamento daquela pessoa para não fazer aquilo, entendeu como é que? Se tem assim, uma família que está descontrolada assim. “O Seu Ubirajara, meu filho está desse jeito". Ele chama: “Eu vou falar para vocês bem aqui, vocês tem que prestar atenção que o criamento hoje está muito feio, os pais não dá moral para os filhos. Aí, que moral os filhos pode dar para os pais. Vocês voltem, recolhe, chama eles atenção, ora a Deus, ensina as coisas direitinho, dá conselho, da boa explicação a todos. E eu vou orar a Deus por vocês endireitarem sua família”. Se vem criança doente, como veio uma criança aqui, tá bem aqui esse de prova do meu lado. Passou 15 dias chorando, não foi não Lucas? Não foi verdade? Essa criança se espantava com o tempo, não dormia, e naquele sofrimento. Levado na casa de um moço lá pra baixo, não resolveu. Aí trouxeram aqui. Aí, a menina me falou. Falei assim: “Fia, deixa eu rezar nessa meninazinha". Ela me deu. Quando eu rezei nela, eu digo. “Você firma um ponto para seu Ubirajara e para seu Zé Pilintra, e depois você traga essa menina aqui pra eu falar com ele”. Aí, não vieram, foram para outro lugar. Mas retornaram, vieram. Bem aqui nesse salão. Nós tava ali ainda, mas quando foi tratado a menina, nós tava aqui, nós tava se mudando pra cá. Ele disse assim: “Eu vou curar a sua filha, nunca mais ela vai sentir esse movimento". Aí, ela mandou amornar uma água com as flores, mandou sentar a menina dentro da água. Vim aqui, ele ficou lá na mesa, de lá ele rezou na menina, não tocou nem na criança. Aí, o pai dela: “Seu Ubirajara, minha filha vai ficar boa?”. Ele disse: “Você tem fé em Deus?” Ele disse: “Tenho!” “Pois de hoje em diante ela não vai sentir mais isso". Aí, ele foi embora. A Suzana chegou pegou a menina, benzeu a menina. E ele disse: “Pois é rapaz, pois o homem tirou as coisas dessa criança". Tá aí, a menina tá curada! Graças ao meu bom pai, graças a meu bom Jesus, meu pai.
P/2 - Dona Maria, além do Ubirajara, quais são as principais entidades a umbanda?
R - Como é que é?
P/2 - Além do Seu Ubirajara?
R - Além do Seu Ubirajara?
P/2 - Sim!
R - Que trabalha comigo.
P/2 - Sim!
R - É seu Zé Pilintra, Cigana, aí tem a Maria Légua, tem o dia das correntes. Que ele comanda 84 correntes, Seu Ubirajara. Agora eu não resisto esse horror de homem, mulher, mas ele sacoleja nos trabalhos, entendeu como é que? Agora daqui do salão que acompanha na luta dele, das correntes, Seu Légua, primeiramente os caboclos dele, dos Índios, do Seu Légua, Cigano, dos Preto Velho, das Mães D'água. E tem o seu Tranca Rua, que ele é de encruzilhada, mas ele vem com maior respeito, respeito, porque respeita Seu Ubirajara, quando dão um trabalho para eles fazerem, eles vem, faz o trabalho e vão embora. Não é negócio dizer, não, fica com indagação, tudo aqui. Não tem isso, não tem isso! Chega aqui a Cona Cigana, que ela conversa muito com o pessoal, o pessoal gosta muito dela, é uma mulher muito entendida, muito sabida. Seu Zé Pilintra era um homem muito perverso, trabalhava nas trevas, Seu Ibirajara tirou, porque ele é um médico muito bem entendido também, ele é um preto muito entendido. Tirou ele das trevas por causa que ele queria companhia no trabalho dele. E aí, quando é trabalho muito pesado, tem também as filhas de Rei Sebastião, que é das corrente dele. É assim, esse pessoal todo.
P/2 - E quais são os maiores desafios que a senhora tem com o trabalho aqui?
R - Desafio, assim como? Das pessoas me maltratarem, é?
P/2 - Também! Da senhora estar sozinha aqui.
R - Ah tá! Tudo bem! Muitos mestres assim, já pelejaram para me botar para trás. Não bota não, de jeito nenhum, porque eu não tenho nada contra ninguém, fico aqui. Depois que meu marido faleceu, aí ali, Seu Ubirajara. “Minha filha, você tem que mudar essa casa daqui, não tem mais condições de você ficar aqui". “Seu Ubirajara, como eu mud, a condição". Ele disse: “Não, Deus vai mostrar!” Graças a Deus, mudei a casa para cá. Às vezes, as pessoas: “Mulher, como você vive só?” Eu digo: “Só? Não tô só não, eu tenho Deus por mim, e tenho os encantos também, abaixo de Deus, o povo do meu pai, tudo comigo". Aí as pessoas vem para querer fazer as coisas, mas não fazem porque Deus não deixa. Vem aqui, quebra o negócio aí pra trás. Eu fico só sentada. E eu não sei dizer: “Deixa que eu vou fazer um negócio…” Que negócio que nada! Deus que resolve os meus problemas, tá na mão do meu pai.
P/1 - Dona Maria, quais são os principais rituais que a senhora realiza na hora da sessão? Durante a noite, quando a senhora fica trabalhando.
R - Antes de começar o trabalho?
P/1 - Durante o trabalho.
R - Ah, durante o trabalho. Que eu tenho essa mesa aqui e tem outra lá dentro. E eu tenho uma obrigação muito forte lá dentro na minha mesa, eu fazendo devoção, ali eu tenho que fazer todo dia, antes de eu me levantar da minha cama tenho que fazer devoção, antes de ir para aquela mesa, faço devoção lá. Lá os ponto é fixo, de segurança, pela humanidade, meus irmãos todos, minha família, peço a Deus, oro a Deus por todo mundo, não olho quem, não sou contra ninguém, não. Dizer assim: “Ah, negócio de política”. Não tenho nada a dizer, meu pai! Se eu não puder ajudar, derribar eu não derribo ninguém. E agora mesmo uma pessoa falou assim: “Gente, que Deus está no céu, Deus está sabendo o que vai acontecer, nós não sabemos. Vamos pedir força a Deus, vamos lutar”. Dia de meu trabalho aqui, por todo dia eu tenho que firmar meus ponto tudo aqui, os cruzeiros, as almas, tenho devoção com as almas, tenho devoção com o povo de Oxossi, da Mata, nesse outro cruzeiro da frente. Tenho que firmar meus pontos aqui tudo, faço corrente, oro nessa mesa pra “Deus, meu pai, dá licença, me defender do mal, me defender de tudo, iluminar meus irmãos”. Tem uma devoção de um Santo bem aqui em cima que eu peço por mim e por minha família, por todos os meus irmãos do mundo inteiro. E levo essa missão por todo dia. Se eu faço uma viagem, onde eu paro eu faço essa missão, entendeu? Às vezes, chega pessoas aqui. “A senhora que é chefe do salão?” “Sou!” “Ah, eu vim aqui para a senhora fazer isso assim, assim e assim". Digo: “Meu amigo, eu sinto muito, sua viagem na minha casa, mas isso eu não faço para ninguém". “Eu não acredito, dizem que a senhora é uma mestre muita sabida". Digo: “Muito bem, mas eu resolvo de outro jeito, isso que você está falando eu não resolvo, porque eu não faço mal para ninguém. Pra ninguém! Nem se a pessoa me perseguir, eu não faço mal. De jeito nenhum!”
P/1 - Você só faz um trabalho se a pessoa contar a história deles?
R - Não! Ele não conta. E nem pra mim aceito ninguém contar, porque o Seu Ubirajara não aceita. Não deixo ninguém contar o que vem atrás, porque assim vai dizer: “Não, só porque eu contei". Pra você ver o tanto que ele é, entendeu como é que? E ele levou meu marido nessa caverna que ele andou aqui quando o Brasil não era nem descoberto, só que ninguém não sabe onde é. Ele levou ele lá.
P/3 - Essa caverna é aqui em Serra Pelada?
R - Oiá! Ele disse assim: “Meu filho, tu quer saber aonde eu vim aqui em Serra Pelada?” Ele disse: “Quero, Seu Ubirajara". “Topa ir lá comigo?” Ele disse: “Vou sim senhor!” “Pois é! Pois amanhã 6:00 horas, você firma os pontos todinhos, e pega o aparelho, um maço de velas e vai aqui rumo o bairro São José, pode ir! Não tem umas obras de um pessoal lá? Chegar lá, eu chego com vocês e levo ela". Aí, foi assim. Eu disse: “Meu bem, pra onde é que nós vamos?” “Na caverna de Seu Ubirajara". “Meu Deus, aonde é isso rapaz? Agora você vai dar conta". “Não, vamos embora mulher, vamos embora!” Aí nós saímos, atravessamos um arame, passei por cima. Quando eu passei, ficou perto de uma água assim, vazando tammmm. Ele chegou. “É rapaz!” “E Seu Ubirajara, rapaz aqui…” Já sem saber… Pois é! Eles atravessam a água aqui. O olho d’água assim. Subiram o morro, subiram o morro, chegou lá em cima. Ele disse: “Matona bonita, né meu filho?” “Subir na mata que sai serra, que tem serra assim”. Ele disse: “Bora descer aqui". Aí, desceram, outro baixão, desceram, desceram. Atravessou o baixão, “bora subir outro". Subiu, subiu, subiu. “Nossa, Seu Ubirajara, tó muito encabulado". “De que rapaz, tá encabulado?” “Essas matas". “Oxente, aqui é Serra Pelada, vamos embora". Aí, chegou lá em cima, ficou conversando com ele. “Bora descer de novo!” Desceu, desceram. Quando subiu outro morro, aí lá tinha assim, uma metade do morro cortado. “Ixi, muito bonita. Eita, Seu Ubirajara, é bonito demais". Aí perguntou pra nós. “É rapaz e tem muito ouro”. E lá no outro baixo haja muita gente conversando, e menino sorrindo, gritava, mulher dava gaitada, e aqueles homens conversando. Ai ele disse: “Ah,meu bem. Onde é que homem não aguenta?” Ele disse: “Bora lá?” “Sé se o senhor me contar". “Não! Bora lá para você ver". “Não, Seu Ubirajara, eu não vou não. O Senhor me desculpa?” “Desculpo sim! Você não que ir lá onde o pessoal, rapaz! Então, vamos na nossa viagem". Aí, subimos, foram, foram, na chapada, foi, foi, até quando saíram na caverna. Meu bem disse que a caverna, assim, do tamanho dessa casa ali, sem ser o salão e a outra casa de lá. Só que tinha a casa, tinha o peitoril assim, do mesmo jeito da casa ali, Lucas. Entendeu Lucas, como era aquela casa ali?
P/2 - Sim!
R - Ai, disse: “Rapaz, que caverna bonita, rapaz!” No meio da mata, só aqueles capinzinhos arredor, mais lindo! Tinha uma pedrona assim. “Ó, meu filho, sente aí nessa pedra bem aqui!” “E foi, Seu Ubirajara?” “Foi!” “Mas faz tempo, não faz Seu Ubirajara?” “Ih, nem te conto!” Aí ficaram na pedra conversando, conversando. Disse: “Bora entrar lá dentro?”. Ele disse: “Vamos!”. Quando ele entrou com a lanterna, a lanterna pã, apagou. “Mas homem era pra você…” “Eu sei!” “Acende os pontos". Ele acendeu, de lá de cima, das paredes até o chão. E tinha os retratos dos índios tudo assim, uma apontando para o outro, aqueles retratos bonitos. “Viu, rapaz?” “Mas que caverna, Seu Ubirajara!". “Mas agora vamos bora ali. Bora descer ali". Aí tinha três degraus assim, para descer. Quando meu bem desceu… Ele desceu na frente. Quando ele desceu no dois, aí deu um estrondo tão grande, tão grande, que a caverna balançou e ele afastou pra trás ali, ele deu uma gaitada. “Que isso homem? Deixa de ser medroso, bora ali!” “Seu Ubirajara, sinto muito, não é desrespeitando o senhor, não é nada, mas eu não tenho coragem". Ele achou graça. “Mas rapaz, você é muito fraco homem. Bora lá, rapaz!” “Não Seu Ubirajara…” Subiu, ficou conversando com ele. “Tudo bem, você não quis ir lá mais eu, tá tudo bem! Respeito, respeito". Foi lá para a pedra, conversaram muito. Eu sei que chegaram em casa, faltava cinco minutos para seis horas. Aí ele veio na minha coroa toda vida. “Não vou deixar não, porque é muito difícil para ela ir, né meu filho?” “Tá bom! Vamos embora". Vieram, vieram, vieram, passaram de novo, o pessoal lá no mesmo movimento. “Mas Seu Ubirajara, me explica". “Bora lá, rapaz!” “Não Seu Ubirajara, não tenho coragem não, só se o senhor me disser. Eu já estou nervoso". “Que nervoso, rapaz! Deixa de conversa rapaz!______. Ele falando pra ele, né! O Lucas sabe como ele conversa, não sabe Lucas? Aí, eles vieram. “Viu, meu filho, tem tanta coisa bonita em Serra Pelada, e ninguém sabe, meu filho!” Mas Seu Ubirajara, do tempo que o povo atravessava com cachaça pra cá…” “Não, mas não é essa que é a direção, não". E aí, foi assim!
P/1 - O seu esposo trabalhava com você aqui?
R - Como é que é?
P/1 - Seu esposo?
R - Trabalhava? Aonde?
P/1 - Aqui com você! Na Umbanda.
R - Quem acompanhar?
P/2 - Seu esposo acompanhava?
R - Ah, acompanhava. Ah, ele era meu braço forte, nossa mãe de Deus. Mas ele me ajudava, né! Ele fazia com os guias… Ele falava, ele acompanhava ele. Ele era muito sabido também de oração. “Seu Ubirajara…” “Você tem que rezar muito, meu filho, tem que rezar que a nossa luta é pesada, nossa luta é pesada, nossa luta é pesada, não é fácil, porque tem muito ser humano perverso, tem muito ser humano que não tem fé em Deus. E nós temos que combater essas coisas com as forças de Deus.
P/1 - Como era o nome do seu esposo?
R - Benedito. Benedito Santos Filho. Chamava ele de Grande.
P/1 - Quando você conheceu ele?
R - Eu conheci ele assim: Fez o aniversário do salão de um ano, aí foi convidado muita gente, foi quando foi bater tambor. Não tinha tambor, eu trabalhava só na mesa, só na mesa. Passei um ano trabalhando, não cobrava nada de ninguém, nem dinheiro, nem nada, não pedi nada. O pessoal dava por conta mesmo, por conta deles, não que ele pedia. Aí, foi fazer comemoração de um ano de tambor, aí já tinha o salão. Inclusive, foi esse homem do Paraná que fez o salão. E aí, veio muita gente. E tinha o salão da Dona Maria ali, no Telepará, foi convidada. Esse pessoal que trabalhava. Tinha muito salão aqui. Vieram todo mundo, aí ele veio também, que ele namorava com a filha dessa mulher, entendeu? Aí, ele bateu tambor. Ele muito bom de bater no tambor. “Ah, eu vou bater esse tambor". “Tudo bem, tudo bem meu filho". Aí bateram o tambor, foi, terminou tudo. Aí, ele ficou vindo, entendeu? Era dia de sábado, ele vinha bater o tambor. Aí, não sei porque lá ele separou lá da menina. Eles faziam era namorar, não era negócio de ter nada… Entendeu? Até naquele tempo existia namorar sério ainda. Tudo bem! Ele saiu de lá porque a mulher começou a perseguir ele, a própria mãe. Disse: “Ave Maria meu Deus. Seu Ubirajara me ajude! Seu Ubirajara me ajude! Ave Maria! Deus me defenda!” [intervenção] Aí, quando foi um dia, foi no dia 27 de fevereiro, dia 23 de fevereiro. Aí, teve um guia, falou bem assim pra ele. Foi uma mulher, falou assim: “Menino, tu quer saber de uma coisa?” Ele disse: “Hum, eu quero sim!” “Tu sabe de uma coisa?” “Não, não sei não!” “Quer saber?” “Quero!” “Tu tem uma responsabilidade muito grande, tu quer casar com essa pereba? ________ Seu Ubirajara. Mas você conversa com ele, eu tô falando assim, porque você tem um dom muito bonito para ciência. Porque teve uns homens aí que pensou de assumir responsabilidade com ele, mas não deu, não deu, não deu, mas você assume". “É, quem sabe, né?” “Mas você conversa com você. Seu Ubirajara, viu! Tô só te explicando". “Tá bom!” Aí, nesse dia o tambor parou umas 8 horas do dia. Aí, todo mundo saiu, Seu Ubirajara ficou conversou com o irmão. “Será Seu Ubirajara que eu tenho responsabilidade de assumir?” “Tem meu fio, tem, tem!” “Muito bem! “Mas fique só dando uns dias, viu!” “Tá bom!” Aí, quando Seu Ubirajara saiu, tava só ele sentado assim. Falei: “Aninha?” “Senhora, mãe?” “O povo foi embora e tem um rapaz conversando aí". Meio cismada. Aí, ele foi embora, escondido de mim, foi embora! Ninguém me falou nada, fiquei calada. Todo mundo ficou calado, ninguém me disse nada. Aí, quando foi com quatro dias, ele chegou uma hora, batendo: “Dona Maria, Dona Maria!” “Opá! Quem me chama?” “O Grande”. Aí, eu abri a porta para ver o que era. “Não, é que eu vim conversar com você. “Tudo bem. ________ pra você mais sua menina". Aí, ele falou que queria morar comigo. “Rapaz, eu tenho até medo de arrumar uma pessoa, porque eu já lutei com duas pessoas e não respeitaram Seu Ubirajara, foram embora. Ele disse: “Não, eu já conversei com ele". “Você conversou com ele?” “Conversei!” “Que foi que ele falou?” “Ele disse que eu assumo a responsabilidade com ele". Digo: “É rapaz, quantos anos tu tem?” Ele disse: “Eu tenho 26 anos. Não é por isso que você é mais velha do que eu que não vai me respeitar não". Ele veio no meu aniversário de 32 anos. “Tudo bem! Tá bom!” Aí, ele foi buscar as coisas dele, ficou. E eu fiquei assim, pensando. “Seu Ubirajara disse…” “Eu concordei com ele meu fio, isso aí é um homem de respeito". “É né, Seu Ubirajara?” “É!” “Só que saiba levar com ele, que tem horas que ele é meio violento, é o planeta dele". “Tá bom!” “Mas ele vai ter muito cuidado com você, vai assumir meus trabalhos todos". Realmente foi mesmo. Quando foi com 20… para completar outubro, novembro, dezembro, janeiro, fevereiro, 4 meses para completar 21 anos, Deus me levou ele. Mas também não quis mais ninguém, de jeito nenhum! Fiquei só mesmo. Aí, tem dia que eu sofro. Eu mando uma pessoa fazer um serviço pra mim, não faz direito. Tem que ter uma pessoa, assim, se aproveita, né? Mas não tem nada não, meu pai do céu, não tem nada não. Deixa estar que um dia Deus vai me ajudar, vai chegar uns parentes meu… É assim. Minha vida é assim. Sempre as pessoas me consideram demais, ave Maria, já trabalhei em quartel, policia respeita muito o meu trabalho, demais. Eles não tiraram vantagem não, tiraram não, porque o meu trabalho é um trabalho muito sério, muito sério, graças a Deus meu pai. No dia 22 de julho completou 36 anos, 36, 37 anos.
P/2 - Dona Maria, a senhora falou que o Ubirajara foi para pegar o aparelho, né? A senhora pode explicar para nós sobre o aparelho?
R - O aparelho?
P/2 - Sim!
R - Não é eu! Ele me chama aparelho.
P/2 - Por que?
R - Por que? É porque eles têm o poder que Deus deu, a possibilidade de chegar na minha coroa, o meu espírito afasta um pouco, e ele fica com 45 metros de altura, e ele domina a minha matéria. Quer dizer que eles chamam o aparelho deles, que eles labutam, lutam, trabalham. Às vezes, eu não tô nem a mensagem, chega uma pessoa doente, ele chega, “meu fio, você resiste, vamos fazer o trabalho”. “O meu aparelho tá meio adoentado, mas eu vou fazer o trabalho para ajudar". Porque eles fazem tudo para ajudar todo mundo. E eu também sou desse jeito. Não repara aqui, não repara aqui. Só que no trabalho tem que existir o respeito, pode ser quem for, não é porque é uma mulher da vida, ser um homosexual, ser uma pessoa que faz o que não pode lá… Não tem nada a ver! Respeitou bem aqui, dali para cá… Mas se não fizer como ele diz, não presta de jeito nenhum, de jeito nenhum, de jeito nenhum. Um tempo, marcação das pessoas, uma marcação com o pessoal da Bahia. Eu nem, meu Deus, vê uma besteira de lá, ele disse: “Minha filha, você vai levantar 6 horas, chama o menino aí, levanta horas, firma todos os pontos e vai lá para frente". “Por que seu Ubirajara?” “Quem são as pessoas para lhe matar?” “E é seu Ubirajara?” “Sim é, senhor!” “Meu Deus! E aí, Seu Ubirajara?” “Não tem nada! Você não tem fé em Deus?” “Eu tenho!” “Pois vá!” Eu fui! Realmente vieram, só que não tiveram possibilidade de fazer o que eles queriam. Fui embora. E era um pessoal… Sem eu fazer mal a ninguém. Aí, ele disse: “Rogue a Deus por eles". Desse jeito.
P/3 - Dona Maria, agora pouco a senhora pediu uma pausa, a senhora estava conversando com os seus guias? Eles estavam aqui?
R - É, porque ele chegou aqui, ele chegou aqui. Ele chegou, ele tá aqui.
P/3 - Ubirajara?
R - Tá! E que ele veio com uma equipe de homens, aí os homens afastaram e ele ficou. Ele mandou afastar os outros e ele ficou, ele tá aí! Ele tá aí, tá a cigana, tá Dona Mariana, eles estão aí. Eles estão observando, vieram observar o que era isso aqui, entendeu como é que?
P/3 - Dona Maria, assim que as pessoas começaram a procurar a senhora, bem no início, com pouco tempo a senhora já abriu esse salão aqui já para atendimento mesmo?
R - Foi! Já mudei esse salão aqui para três lugares, era lá na frente daquele pezão de manga grande, de lá foi mudado pra ali, dali foi mudado pra cá. “Seu Ubirajara, por que muda isso?” Porque não pode passar muito tempo no mesmo lugar, só num local. Eu digo: então tá bom! Eu falo: “Seu Ubirajara eu queria ir embora". “Desta que na hora que Deus prometer você vai minha filha". Eu arranjei uma missão aqui dentro. Eu falei: “Meu Deus, será que eu vou…” “Mas eu vou embora, né Seu Ubirajara, vou para o outro lado". “Confia em Deus, confia em Deus!” Mas eu já passei muita amargura nesse lugar, meu Deus.
P/3 - Dona Maria, de todos os trabalhos que a senhora fez aqui, de tantos anos ajudando as pessoas, qual foi assim o dia que a senhora realmente leva na sua memória? O trabalho que a senhora fez para alguém que marcou muito a sua vida?
R - Rapaz, marcou um trabalho muito grande, veio uma mulher aqui na minha casa, que ela tinha feito o teste daquela doença de aids. Aí, a pessoa mandou um recado pra mim, que tinha uma mulher que queria muito falar comigo, era longe. Aí, fui e falei com a pessoa no telefone, queria falar comigo, queria que eu fosse dar uma olhada pra ela, porque ela estava numa situação triste, não tinha consolo na vida. Tá bom. Aí, eu falei assim: “Seu Ubirajara, a mulher falou assim, assim, pra mim". Ele disse: “Tá bom, vou mandar seu Zé Pilintra ir lá". Aí, ele foi! Ele foi, aí com 3 dias, ele chamou a menina: “E, liga esse negócio aí que eu quero falar com essa mulher". Aí ligou, ele falou. Ele disse: “Olha, não tome esses remédios que você não está com essa doença, vem para cá que eu te trato". Aí, a mulher veio. Ele tratou dela, ficou boazinha. “Agora vá e faça o exame". Ela foi! Fizeram duas vezes, não deu nada. Aí foi para o lugar de novo, pro médico. “Vá, vá pra lá, não se importe, vá para o médico que você vai receber seu dinheiro". “Eu não tenho dinheiro para receber". “Tem! E sempre você leve seus negócios. Nunca mais trisque nesses remédios". Esse negócio me marcou demais. Outro, chegou três homens aqui em casa, ali, nesse tempo o salão era ali. Esses homens chegaram quase mortos. Meu Deus do céu! Meu pai do céu, como é que pode uma situação dessas? “Seu Joaquim…” “Não, chama meu padrinho, meu padrinho". Aí, eu chamei ele. Nesse dia eu trabalhei 24 horas para esses homens. Quando foi 24 horas, ele disse: “Agora eu vou dar um descanso para o meu aparelho, que ela tá muito cansada". Que sempre eu trabalhei em ser médium, porque tinha outros médiuns, mas começaram com muita fofoca. Tudo bem! Porque eu não gosto de fofoca mesmo, não gosto não. Tudo bem! Aí, graça a Deus, ficaram bom. Falei: “Meu Deus, do céu! Como é que pode?”. Rapaz, e nesse tratamento dessas três pessoas, veio uma mulher, parece que me dar uma pisa na minha casa. Eu falei: “É?” Eu nem vi, eu nem vi essa mulher. Só que ela pegou uma penitenza muito forte, muito forte, que ela começou a mexer demais, demais. Eu nem vi essa mulher, nem vi. Aí Seu Ubirajara: “Não se importe, isso é tentações do trabalho, deixa isso pra lá minha filha, deixa pra lá! Pessoa que não tem fé em Deus fica com coisa”. E é assim. E muito trabalhos, vixe, nem conto os trabalhos que eu trabalho, assim de feiticeiro vim para me acabar, tudo assim. E não, não, empatar trabalho, de jeito nenhum! Ele disse: não se importe, não se importe, se apegue com Deus. De levantar pessoas mortas, quase mortos assim. “Meu Deus, essa pessoa não tem jeito, meu Jesus Cristo. Eu tratei um rapaz lá em Pindaré, ele só se mexia daqui pra baixo, daqui pra cima não se mexia não. Trataram dele, ficou bom, bonzinho. Pagamento que ele veio me dar, foi vim querer me bater. Só que nesse dia o pessoal pegaram ele, bateram muito ele, a polícia chegou, cercou minha casa lá de muita polícia, e depois conversaram com o Seu Ubirajara. “Rapaz, para com isso, deixa homem, rapaz! As forças de Deus que vai Dona Maria”. “Mas Seu Ubirajara não pode, não pode”. “Ave Maria, você é muito bom demais". “Que é isso rapaz, a gente tem que dar o exemplo para esse homem. “Não, não, não, dar exemplo pra ninguém não, deixa pra lá". Aí o sargento disse: “Seu Ubirajara eu quero que o senhor vá fazer um trabalho lá no quartel, o senhor vai?” “Vou sim!” “Você é homem demais rapaz, você é bom de natureza demais". “Pois é!” Aí, outro trabalho também que me marcou, tinha um filho de um Tenente de São Luís, ele trabalhava com um negócio de carroada de boi, de carregar, entendeu como é que é? Ai sumiu um boi dele na chegada. Chegou Sargento, Coronel de São Luís, foram para casa do filho lá, sumiu um boi desses. Aí ele disse assim: “Aqui em Pindaré para fazer o mal tem demais, mas para fazer o bem. Mas aqui tem uma mulher do Pará, que acho que ela foi…” “Ah, vamos lá! Vamos lá! Eles chegaram, eu tava trabalhando com o povo, entraram, sargento falou com ele, o tenente, coronel, tudo falaram com ele. “E rapaz, com que tá aí?” “Tá bom! E vocês?” “Nós viemos aqui porque sumiu um boi do meu filho aqui, queria que você me desse um rumo para onde foi esse boi". Aí ele disse assim: “Você vem aqui à tardezinha que você vai saber onde está esse boi". “Tá bom!” Foi embora. Aí, ele bota seu Zé Pilintra para indagar onde está esse boi. Seu Zé Pilintra não gosta muito de polícia, não. Não sei porquê. Aí, ele: “Tá bom Seu Ubirajara. Eu vou falar com esses homens, dizer onde é que tá. Pelo senhor". Aí, eles vieram de tardinha. “Vixe, essa mulher trabalha de noite?” “Trabalha!” Eles chegaram. “Mas menino, a gente tava esperando, esperando vocês. Procura trabalho todo dia”. Zé Pilintra não gosta muito de policia não, não sei porque não. Ele disse que é porque eles mataram_______ Aí, “oiá, no meu canto aqui não tem um muro?” Ele disse: “Tem!” “Quem vai para Santa Inês, quem segue aqui vai para Santa Inês, vocês vão, vão, vão, passa do muro, atravassa, entra naquela capoeira, acola tem um caminho assim, você entra que vocês acham o bolo de vocês lá. Só que só tá a caveira, mataram o boi, carregaram a carne, pelaram a cabeça, só carregaram a carne". Mas pegaram o cara. Porque policia gosta de prova, né! E é como todo mundo mesmo. Aí eles foram, saíram em cima do boi, do couro, da cabeça, do fato, das canela do boi. “Mas rapaz!” Aí voltaram. Aí chegaram com o carro, pararam. “Achou?” Ele disse: “Achamos! “Rapaz, assim é que eu gosto de ver a verdade!” Ele disse: “Agora, eu não vou te falar quem roubou, porque foi os bandidos largaram tudo a. “Não vai fazer diferença não. Não queria só saber onde tava o boi?” “Pois é! Ele tá aí!” ______não, não vou dizer não!” “Muito obrigada! A verdade já chegou". Foi embora. Depois me contaram isso aí. Eu digo: Mas meu Deus! Porque eu não enxergo, não sabia onde tava o boi, né não. Aí tá ai a prova. Eu fiquei assim. Muitos trabalho deles, que eles trabalham assim, eu me encabulo. Mas como é que pode, meu Deus! Como é que pode? Mas é muitos, é muitos, não é um só não, é muitos que eu fico pensando. Meu pai do céu, será possível, meu Jesus! Não é eu não, meu pai do céu. E é assim! Muitas coisas. Tenho lutado muito, graças a Deus, já dei prova de muitos trabalhos aqui dentro de Serra Pelada. As pessoas, porque, não sei porque, porque não! Mas graça a Deus, esse menino que está aqui tem de prova um trabalho muito grande que fizeram pra ele. Não foi não Lucas?
P/2 - Sim!
R - Aí, é assim! Graças a Deus meu pai! Graças ao bom pai! Tem pessoas que passam tradição. “Não eu vou lhe pagar, eu vou lhe pagar, vou lhe pagar". Aí, vai embora, não paga nada. Ah, deixa pra lá! Vem outro e recupera aquilo tudinho. Tem médium que conversa assim comigo. “E irmã, você era para ser uma mulher muito rica pelo seu trabalho". Digo: “Eu sou, graças a Deus!” “Mas você é muito séria no seu trabalho". Digo: “Sou! A pessoa para assumir a graça de Deus, tem que assumir como ele dá". “Não, mas…” “Não, não, não, de jeito nenhum!” Não adianta nem conversar que eu não sou uma pessoa para fazer isso não. E é assim! Eu fico pensando, é assim que esse pessoal trabalha, enganando as pessoas. Nan! Deus me livre rapaz! Deus me livre! A pessoa…
P/1 - Dona Maria, quais são os principais ensinamentos que a umbanda traz para seus praticantes?
R - A umbanda?
P/1 - É!
R - Não entendi bem!
P/1 - Umbanda é seu trabalho?
R - É! Um centro espírita, é umbanda.
P/3 - Quais os principais ensinamentos que traz a umbanda para os praticantes?
R - Olha, a umbanda, ela é um livro aberto, entendeu? A umbanda é um livro aberto. Agora a pessoa segue no caminho de Deus, não vai seguir em outro caminho, porque tem… Ela mostra o bem e mostra o mal.
P/1 - Então ele ensina a praticar o bem, né?
R - Praticar o bem, exatamente, o mal não!
P/1 - Quando chega uma pessoa procurando fazer o mal ele nega?
R - Eu despacho logo, nem deixo falar com eles. Lá em Pindaré chegou uma mulher. “A senhora que é a mestre do paradigma?” “Sou sim senhora!” “Eu quero uma conversa com a senhora certa". Aí falei: “Tá bom, pode conversar". Ela pegou um dia e colocou assim… “Não, pegue seu dinheiro, diga primeiro o que a senhora quer". Tem muitas pessoas que pensam que eu sou comprada por dinheiro, não sou comprada por dinheiro não. “Fale mulher, o que a senhora quer?” Aí ela disse assim: “É porque eu tenho um vizinho que me atenta demais, me persegue, não sei o que…” Contou tanta coisa. Eu lhe dou esse tanto de dinheiro que coloquei na sua mãe pra você dar um fim nele. “Vixe Maria! Santa Mãe de Deus! Não tenho uma missão pra isso não, mulher. Deus me defenda! Sangue de Jesus tem poder. Não faço isso com ninguém, com ninguém, com ninguém! Não quero seu dinheiro não! Não faço de jeito nenhum. Agora, se a senhora quiser que eu tire ele de perto da senhora, para ele ser feliz para lá, e a senhora para lá, aí eu faço". “Não, mas eu quero tirar…” “Senhora aqui em Pindaré tem muita gente informal, porque a senhora…. porque eu mesma não faço não. De jeito nenhum. Eu não faço, não faço. Nem adianta a senhora insistir". Pois essa mulher saiu me esculhambando, você acredita? E eu me benzi. Meu pai, essa mulher veio acompanhada com uma coisa ruim. Saí pra lá, nojenta. Faço não!
P/1 - Dona Maria, estamos chegando ao final da nossa conversa, da nossa entrevista. Eu queria que você falasse aqui para nós qual a coisa mais importante pra você hoje?
R - A coisa mais importante para mim hoje é eu ver a minha família em paz e eu assumir e respeitar o trabalho que eu levo. Não tem dinheiro para decepcionar meu trabalho, de jeito nenhum! Negócio de dizer: “Ah, o negócio de acolá”. Gente, ninguém se importa com a vida de ninguém não. A pessoa vive do jeito que ela quiser, oxente! Não tenho nada a ver. “Ah, mas a senhora é muito sabida". Pra fazer o bem, mas para fazer o mal não vem. Perseguir ninguém, pra derrubar ninguém, acabar com a vida de ninguém. Não venha, não venha, que não é comigo, de jeito nenhum! Sou muito contente, graças a Deus, a missão que ele me deu, venho trazendo até hoje. Novinha, eu já tenho essa idade graças a Deus. Trabalho, nunca senti fraqueza em trabalho meu. Tem pessoa que já veio dentro do meu salão para me ofender e não teve coragem, Deus tirou ele, me deixou em paz. E como assim eu tenho esse prazer na minha vida e agradeço a meu pai por tudo isso.
P/1 - Dona Maria, quais os seus sonhos?
R - Meu sonho? Meu sonho é sair daqui, ir embora para outro lugar. E enfrentar sempre a luta que eu tenho, quando eu não puder mais assumir um tambor, que é muito pesado, eu ir na mesa só, sempre fazendo os meus trabalhos, minhas devoções. Se eu não puder ficar em pé, fico sentada, e assumir até o dia que Deus me der licença de eu ajudar a humanidade. Sou muito feliz, sou muito feliz, por tudo aquilo que as pessoas fazem, me julga, fala certas palavras comigo, e eu não tô me importando, o meu testemunho é nosso pai, que um dia nós vamos assumir na frente dele, todos nós.
P/1 - Muito bem Dona Maria! Você gostaria de acrescentar mais alguma coisa na sua história de vida, ou você falou tudo?
R - Bom…
P/1 - A sua Aninha, a sua filha. O que é sua filha hoje pra você?
R - Essa? Graças a Deus… Ela sofreu muito, todas as minhas filhas, que elas são 6 mulheres, ela e a mais velha, o meu Deus do céu! Mas graças a Deus me sinto muito feliz com a minha filha, demais, amo todos os meus filhos, nossa Senhora! Amo meus filhos demais! Só que o lugar dessa, não sei porquê, os outros não ocupa, mas eu amo meus filhos tudinho, entende como é que é a palavra?
P/1 - Eu entendo!
R - Ave maria, amo meus filhos, eu tenho três filhos em Goiânia, Ave Maria, Deus o livre, eu gosto dos meus filhos. Minha filha, essa filha mais velha, eu também sinto muito por ela, menina sofrida, muito minha filha, Ave Maria. Amo meus filhos, amo meus filhos, todo dia no meu levantar eu entrego meus filhos a Deus, minha família todo. E vou fazer devoção, entrego meus filhos, que Deus tome conta deles todos, pelo poder da humanidade, da humanidade, do mundo, meu pai tem misericórdia_______ meu Jesus Cristo. As perversidades, as pessoas não respeitam mais a voz, meu Senhor, os pais não respeitam os filhos, os filhos não respeitam mais os pais. Meu Pai, tem misericórdia, meu Jesus, tenha misericórdia meu pai. Isso por todo dia eu tenho essa palavra a pedir ao meu pai. Às vezes, tem pessoas que essa casona grande, tem dia que a casa é pequena, muitas pessoas doentes, muitas pessoas vêm de longe. E eu me sinto muito feliz, graças a Deus, de ajudar as pessoas. Eu disse assim pro mestre: “Eu sou muito rica, Graças a Deus, a minha casa é cheia de gente, não falta um bocado, alimentação na minha casa não falta, graças ao meu bom pai”. Eu tinha Bolsa Família, me tomaram, tiraram, não tem nada não, meu pai do céu, Deus me mostra outro jeito. Deus me abençoa, meu bom Jesus do céu. Quando as pessoas faz assim uma coisa comigo.. “Ah que…” Não, eu não gosto de xingar, eu não gosto, porque a pessoa chama por Deus, pelo inimigo não, porque já vinha tentando dia e noite, a pessoa fica xingando, eu não gosto! E também ninguém xingando na minha casa, eu não gosto, não, não, pare, eu não aceito isso aí. Chama por Deus. Vai chamar logo o que não presta, não quero isso não, não quero! Não aceito, não aceito! Sinto muito feliz das pessoas chegar aqui na minha casa doente e sair bom, se não me agradecer, eu tenho o agradecimento de meu pai, que minha missão é essa, minha obrigação é essa, graças a Deus meu pai. Nunca uma pessoa… “Ah, Dona Maria me enrolou, Dona Maria me enganou…” Eu tenho certeza que eu não tenho isso comigo. Às vezes, o pessoal, “Ah, ela fez o mal para mim!”. Não! Tudo bem, que é meu testemunho é o bom pai lá do céu, então não importa que ninguém diga isso comigo não. Diz? Diga, que tem boca diz o que que. Só que eu não vou pagar isso, porque eu não devo! De jeito nenhum! Eu nunca fiz, nem faço! Menina, eu tenho pegado muito assim, essas situações assim, que as pessoas ficam falando tanta besteira. Eu fico olhando, digo “meu pai céu!”. Pessoa que não sabe, porque o meu bom pai, senhor Jesus, na hora da morte dele, ele suspendeu pra cima e disse assim: “Pai, perdoe meus irmãos que eles não sabem o que estão fazendo". É a mesma coisa das pessoas me fazerem certas coisas…. Às vezes, a pessoa vem procurando serviço. “Não, essa mulher não mora mais aqui não! Essa mulher não mora, já foi embora, já foi embora". Bem bater aqui. “Mas por que, Dona Maria?” Digo: “Eu não sei porque não, não sei porquê".
P/3 - Dona Maria, o que mais deixa a senhora triste?
R - É a pessoa me julgar sem eu dever. E sabendo que eu luto, sabendo que eu luto, do que eu faço pelas pessoas, pela humanidade, não reparo a quem. E as pessoas falam esse tipo de coisa comigo, aí eu fico assim… Tô falando para vocês, tem dias que eu até choro. “Mulher, tu é muito besta, tu faz é vingar isso daí". Eu digo: “Eu não! Deus me livre! Não! Deus me livre!
P/3 - E o que mais deixa a senhora feliz, Dona Maria?
R - Me sinto feliz de eu ver uma pessoa chegar doente na minha casa e sair bom. Quando chega as pessoas assim, quase aleijado, chega a pessoa em casa, a pessoa traz na mão, e sai andando. Aquilo pra mim é uma felicidade muito grande que eu tenho, só em eu receber essa graça do meu pai. Entendeu? Às vezes, eu tô assim, num aperreio assim, às vezes, eu faço uma conta assim, meu pai do céu, como é que eu faço? De repente assim, chega uma pessoa. “Dona Maria, eu vim deixar um dinheiro para a senhora, que faz tempo que eu não lhe paguei". Não é tão bom isso?
P/1 - É bom demais.
R - Porque se não pagou, aí eu vou. “Não, porque não sei o quê, não sei o quê, não sei o quê…” Não! Eita meninas! Porque às vezes eu nem penso, mas quando dou fé, a pessoa chega. “Dona Maria, tá aqui o dinheiro!” Não, tem nada não. Não é tão bom uma coisa dessas? Agora a pessoa que só me fazer… porque a pessoa não paga, às vezes, não tem condição no momento. Eu ajeitei outro negócio para agir. Aí, se não quer pagar, mas Deus toca no coração dele. Que ela não merece. Aí, é desse jeito. Eu sou muito feliz por isso. To muito feliz da pessoa me agradecer. Como eu fiz o tratamento da dona Graça bem ali, que ela tinha um negócio nas pernas, meu Deus, tudo ferido, aquele buracão, coisa mais horrível. Ela não dormia a noite, meu pai. Nem ela dormia, nem o marido dela dormiu, há 5 anos. Aí, trouxeram ela aqui. “Meu Deus, o que é isso dona Graça?” “Ô, Dona Maria, só a senhora pode saber o que é". “Seu Ubirajara que pode saber Dona Graça. “Minha fia, eu trato você. Deus vai tratar de você". E ficou boazinha, bonzinho, boa, boa. Ah, mas quando ela chega me abraça. “Ó, essa aqui é a minha doutora, aqui é a minha mãe!” Eu sou muito feliz com esse tipo de coisa. Muito feliz, muito mesmo assim. Eu fico feliz de eu receber a graça do meu pai de eu fazer isso.
P/1 - Muito bom Dona Maria. Agora a última pergunta. Como a senhora se sentiu contando a sua história?
R - Como é?
P/1 - Como você se sente agora contando a sua história?
R - Graças a Deus, graças a meu bom pai, pelas horas que são, bem acompanhada pelo meu bom Jesus, minha mãezinha, todos os meus santos, povo do meu pai, meu mandado de luz que muitos estão presentes. E eu falar uma verdade, isso aí e muitos falaram o mesmo que eu falo, tem uma capacidade… Agradecer a Deus de eu ter a capacidade por isso, de receber as pessoas na minha presença, e saber agradecer como essa menina que tá mandando esse áudio pra mim, que eu nunca tinha visto ela, ela vê meu trabalho, viu como foi o trabalho, graças ao meu bom pai. Eu sou muito feliz, no passado também, que eu ia contar para vocês, mestre não reza em mim, crente não reza em mim, fui no homem lá de ______, ele me olhou, e disse que não podia mexer comigo. Aí, eu fico pensando, procurando a mim mesmo. Porque meu pai? Será porque meu Bom Jesus? E faço serviço pra mestres, já levantei muito mestre caído. Já levantei crente caído, doente. E agradeço muito a meu pai. Não tenho nada contra crente, não tenho nada contra lei nenhuma. Eu não concordo é a pessoa ser perversa e nem fazer o mal a ninguém.
02:06:19
P/1 - Muito obrigada, Dona Maria! Foi um prazer fazer essa entrevista com você.
R - E muito mais meu. Eu sinto felicidade de receber essas pessoas assim, e receber elogio das pessoas de longe, de capacidade. Graças a Deus meu pai, graças ao meu pai. Vixe Maria, se você vê a autoridade quando chega a mim, você ver o jeito que eles me tratam, você vê. Graças a Deus, graças ao meu bom pai. Daqui um tempo… vou adiantar uma palavrinha. Aqui um tempo, tinha muito salão aí, aí o Seu Ubirajara chamou todo mundo. “Meus irmãos, vocês firmam os pontos de vocês mais direito, agradeça ao meu pai. Negócio de trabalho da ciência, isso não existe fazer, vaidade, não existe coisas que não pode, que não agradece a Deus. Se vocês não prestarem atenção no que vocês estão fazendo, vocês vão ter um vexame, porque o meu trabalho, aonde eu trabalho, tem que ser tudo combinado, é firme e respeitando a Deus". Saíram sorrindo dele. Aí os salões saíram tudinho. Ficou só esse. Outro dia eu conversei com uma mestre. “Ó, Maria, eu queria tanto ter ficado aqui com tu ficou". “Pois é menina! Pra tu ver como são as coisas, é assim mesmo, minha irmã". Só disso isso pra ela, só! Não disse mais nada.
P/3 - Obrigada, Dona Maria!
R - De nada! Obrigada vocês também!
P/3 - Dona Maria, a senhora pode tocar um pouquinho o tambor?
02:08:10
R -
A estrela Dalva ela é o meu guia,
Ubirajara é Caboclo valente.
A estrela Dalva ela é o meu guia,
Ubirajara é Caboclo valente.
Seu Ubirajara mora lá nas matas,
na grota funda, lá no fim do mundo.
Seu Ubirajara mora lá nas matas,
na grota funda, lá no fim do mundo.
A estrela Dalva ela é o meu guia,
Ubirajara é Caboclo valente.
A estrela Dalva ela é o meu guia,
Ubirajara é Caboclo valente.
Seu Ubirajara mora lá nas matas,
na grota funda, lá no fim do mundo.
Seu Ubirajara mora lá nas matas,
na grota funda, lá no fim do mundo.
Ó, Seu Ubirajara!
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