MEU PAI, HERÓI PERMANENTE.
Luiz Gonçalves Melo
Luz tem até no nome dele. Lembro de um quadro que tinha na sala de jantar da vovó, com a imagem de São Luiz. Linda e memorável quadro, tinham umas luzes por dentro e, à noite ficava todo iluminado, com os pontinhos brilhando em forma de estrelinhas.
Possui um gosto musical por canções do Roberto Carlos, Nelson Gonçalves, Noite Ilustrada, Anísio Silva, Luiz Ayrão, Lupiciinio Rodrigues e todo aquele pessoal dos anos 50 e 60. É uma bênção sua presença no nosso viver!
Papai está com 82 anos, que a gente festeja com muito amor. Na sua festa de 80 anos, dia 14 de fevereiro de 2021, fizemos uma comemoração bem restrita, devido à triste pandemia de Covid 19.
O tema foi musical. Pendurei, no pé de carambola que fica no nosso quintal, 80 trechos de canções que fazem parte da vida da gente, e que só conseguimos escutar quando estamos juntinhos. Foi difícil escolher as melhores canções, pois elas, ainda hoje embalam nosso cotidiano.
Possui uma memória formidável, é um encanto ouvir as histórias do seu tempo de criança e da mocidade. Aos domingos, sempre juntinhos, cultivando o amor, a união e a fé. Ah! Ele tem aquele olhar cativante pela vida, é uma pessoa apaixonante.
Assim é o papai, luz em nossos caminhos. Presença de força, coragem e muita sabedoria. Em suas orações antes de dormir, faz um passeio por toda família, e vai falando com Jesus o nome de cada um da gente, pedindo ao nosso Senhor uma noite abençoada e um amanhecer iluminado. É muito lindo e reconfortante esse momento de fé, é sempre um bálsamo.
Papai casou aos 19 anos com minha mãe Eleonora, também muito nova, apenas 16 anos. Em outras linhas, conto mais sobre esse amor, registrado no meu primeiro livro: Vem que no caminho de falo de flores.
Sim, somos sete meninas nascidas dessa linda roseira. “Minhas sete rosas!” Dessa maneira, mamãe...
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MEU PAI, HERÓI PERMANENTE.
Luiz Gonçalves Melo
Luz tem até no nome dele. Lembro de um quadro que tinha na sala de jantar da vovó, com a imagem de São Luiz. Linda e memorável quadro, tinham umas luzes por dentro e, à noite ficava todo iluminado, com os pontinhos brilhando em forma de estrelinhas.
Possui um gosto musical por canções do Roberto Carlos, Nelson Gonçalves, Noite Ilustrada, Anísio Silva, Luiz Ayrão, Lupiciinio Rodrigues e todo aquele pessoal dos anos 50 e 60. É uma bênção sua presença no nosso viver!
Papai está com 82 anos, que a gente festeja com muito amor. Na sua festa de 80 anos, dia 14 de fevereiro de 2021, fizemos uma comemoração bem restrita, devido à triste pandemia de Covid 19.
O tema foi musical. Pendurei, no pé de carambola que fica no nosso quintal, 80 trechos de canções que fazem parte da vida da gente, e que só conseguimos escutar quando estamos juntinhos. Foi difícil escolher as melhores canções, pois elas, ainda hoje embalam nosso cotidiano.
Possui uma memória formidável, é um encanto ouvir as histórias do seu tempo de criança e da mocidade. Aos domingos, sempre juntinhos, cultivando o amor, a união e a fé. Ah! Ele tem aquele olhar cativante pela vida, é uma pessoa apaixonante.
Assim é o papai, luz em nossos caminhos. Presença de força, coragem e muita sabedoria. Em suas orações antes de dormir, faz um passeio por toda família, e vai falando com Jesus o nome de cada um da gente, pedindo ao nosso Senhor uma noite abençoada e um amanhecer iluminado. É muito lindo e reconfortante esse momento de fé, é sempre um bálsamo.
Papai casou aos 19 anos com minha mãe Eleonora, também muito nova, apenas 16 anos. Em outras linhas, conto mais sobre esse amor, registrado no meu primeiro livro: Vem que no caminho de falo de flores.
Sim, somos sete meninas nascidas dessa linda roseira. “Minhas sete rosas!” Dessa maneira, mamãe chamava a gente, também falava assim: “quando minhas filhas estiverem cada uma em suas casas, vou ter um dia da semana para cada uma”.
Com muito sacrifício e sempre com ajuda do seu genitor Wenceslau, papai construiu sua casa aqui no quintal do vovô. Desde sempre está pertinho, fazendo nossos dias mais prósperos.
Uma casa que abriga a união, a solidariedade e a partilha do pão. Um lar que inspira luz, amor e dedicação. É lá que permanecem o perfume e a doçura dos nossos mais lindos momentos e as mais doces lembranças da nossa infância.
É só fechar os olhos que nosso pensamento leva a gente para a infância. Dá até para ouvir a mamãe chamando as filhas nesse quintal afetivo. Ecoa sua doce voz, é uma canção para nossos ouvidos.
Papai aprendeu precocemente a dor de perder grandes amores, mas nunca deixou transparecer amargura com a vida. Começou a trabalhar bem cedo, e logo se destacou como o melhor motorista de caminhão na empresa de energia elétrica do Ceará.
Destacava-se ao dirigir aquele caminhão com os postes para levar luz para todo o interior. Um trabalho pesado, mas que só deixou leveza no caminho.
Hoje, viajando por esses lugares no sertão do meu Ceará, vem-me à lembrança meu pai levando energia para esse povo tão necessitado de conforto. Onde vejo um poste de luz, vem a claridade do seu trabalho tão louvável. Onde vejo uma cidade iluminada, lembro da capacidade que o homem tem em promover algum benefício ao próximo.
Imagino o sacrifício em passar tanto tempo viajando, dormindo e fazendo as refeições no caminhão. Uma delicia ouvir suas histórias e tem até causos de assombração! Bom mesmo era quando ele chegava e estacionava o caminhão na rua da gente, era uma festa para nossos olhinhos.
Papai Tem em sua essência algo bom para oferecer e está sempre disposto a ajudar sem distinção. É amável com todos e homem muita de fé. Podemos dizer com firmeza que ele é bom demais para os outros. Ele é nosso herói diário.
Por falar em herói, o ano de 1975 foi precisamente marcado por coragem, amor e bravura. Naquela manhã de domingo, pertinho já do dia de natal, dia 21 de dezembro, a família foi passar o domingo em uma praia em Fortaleza.
Dormíamos em beliches e minha cama era na parte de baixo. Lembro que ficamos eufóricas para o dia amanhecer, afinal um passeio sempre alegra a criançada. Acordamos cedo, e mamãe preparou o habitual café com pão. Vestimos, com alegria nossos biquínis. O passeio foi realizado na Kombi branca do papai, uma animação tão grande!
Nosso carro não tinha banco suficiente para acomodar todos. Naquela época não existia a obrigação e nem a preocupação com o cinto de segurança. Essa parte era bem animada, pois em cada solavanco do carro, mudávamos de posição. Mas papai dirigia com muita propriedade, isso nos deixava bem tranqüila nessas horas.
Tudo era divertimento e ainda tinha uma trilha sonora especial que tocava no rádio. Então era uma algazarra, afinal estávamos em férias do período escolar. Dentro de alguns dias chegaria a tão esperada Noite de Natal e receberíamos presentes do tio Murilo, que se vestia de papai Noel para alegrar nossa vida.
Mas infelizmente...
O dia em nada, deu sinais que aquela manhã, mudaria para sempre o destino de uma família feliz: meu pai, minha mãe e suas sete filhas.
O que era uma manhã de luz passou a ser escura e dolorosa. Estávamos tomando banho para o retorno de casa. De onde estávamos dava até para fazer castelinho de areia. Esse lugar é o encontro do rio com o mar e por debaixo passava uma corrente muito forte. Essa corrente não era percebida, pois aparentemente o mar estava calmo, propicio para banho. Nesse momento, formou-se um redemoinho que cedeu a areia e caímos na água. Era como se fosse uma areia movediça. Dá aflição só de lembrar! Meu Deus, como foi triste!
Papai encontrava-se nadando pertinho da gente e viu o exato momento em que estávamos nos afogando junto com a mamãe. Lembro de gritar e não ouvir minha vóz, eu tinha apenas sete anos, sou a quinta filha de Luiz e Eleonora. Infelizmente e infelizmente, os minutos seguintes foram de pânico e desespero.
Meu pai, o único que sabia nadar, foi tirando as filhas daquele mar de fúria. Quando foi socorrer minha mãe, ela disse suas ultimas palavras: “Salve minhas filhas!” E assim, meu pai, salvou cada uma das filhas. Mamãe deu o ultimo suspiro com apenas 32 anos e passou a ser nossa linda estrelinha.
Com ajuda do vovô e da vovó, papai seguiu cuidando da gente. Foram dias pesados sim. Foram longas noites de aflição e saudade. Uma saudade que permanece em nossos corações.
Mesmo trabalhando muito, papai fazia o possível para chegar à nossa casa a tempo de fazer uma oração com as filhas. Mesmo algumas já dormindo, o beijo de boa noite era sagrado.
No ambiente profissional, algumas pessoas se ofereceram para cuidar da gente. Alegavam que papai aos 34 anos não poderia criar as sete filhas, que uma adoção seria a solução para a família.
Então papai mais uma vez salvou suas filhas! Dessa vez não foi das ondas do mar. Falou com firmeza para as assistentes sociais e outras pessoas do seu local de trabalho: “do meu poder, não sai nenhuma filha minha.”
Esses dias, precisamente no dia do meu aniversário, encontrei uma senhora que estava presente quando o papai falou essa frase lá no ano de 1975: “do meu poder não sai nenhuma filha minha”. Fiquei super emocionada com essa afirmação tão familiar.
O tempo passou e papai casou novamente. Dessa união, outros frutos vieram. Um irmão e uma irmã. Assim, somos oito meninas e um menino. São nossos docinhos também.
Tempos depois, meu pai ficou viúvo novamente. E mais uma vez provou força, coragem e fé.
Seguimos pedindo sua benção. Todo dia, a gente aprende um pouco com sua sabedoria, sua perseverança e seu amor.
Hoje, por exemplo, ao fazer a oração antes de dormir, faço igualzinho o papai: um passeio em pensamento por toda a família. Começo pedindo saúde e benção para ele, depois para seus filhos, netos e bisnetos, que são meus irmãos e sobrinhos.
Pai, nosso herói somos todos gratos por sua dedicação, amor, força e coragem.
Jacqueline Marques Melo
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