P - Para começar eu gostaria que você dissesse seu nome completo, local e data de nascimento. R - Maurício Silva Lima, nasci em Anápolis, Estado de Goiás, 09 do 06 de 1961. P - Em que ano você entrou no Aché? R - Em dois de maio de 1991. P - E antes você trabalhava com o quê? R - Eu trabalhei no departamento pessoal. Em Ituiutaba tinha um frigorífico muito conhecido em São Paulo, como Frigorífico Central, depois passou a ser frigorífico Ituiutaba. Eu trabalhei cinco anos no Departamento Pessoal e Social. P - E como você ficou sabendo do Aché? R - Tinha um colega que tinha entrado no Aché como representante e depois passou a ser treinador. Aí surgiu uma vaga, porque um outro colega tinha ido para a White. Aí ele me ligou e perguntou se eu queria. Eu perguntei: “O que precisa fazer?” Ele disse: “Você faz um curso de 15 dias, inclusive você não vai ter concorrente. Estou chamando você e a gente está precisando de mais três colegas de outras cidades, Rio Verde, Goiás e Brasília.” “Eu vou fazer o seguinte, eu tenho férias vencidas aqui, eu vou tirar férias e vou.” Fui lá, fiz o curso e pensei: “Se não der certo eu volto e continuo a minha vida.” Passei e eles me chamaram. P - Então, compensava. Você já tinha pensado em trabalhar com produtos farmacêuticos antes? R - Não, nunca. P - E foi em Anápolis? R - Não, foi em Ituiutaba. Na época, eu estava com 28 anos, quando surgiu essa oportunidade. P- E como foi seu primeiro dia de propagandista, você lembra? Q- Lembro. (risos) Inclusive o meu supervisor, que era o Damião, que morava em Uberlândia, assim que eu saí da reunião, ele falou: “Segunda-feira eu estou lá no campo, você me espera entre sete e meia e 15 para as oito, eu vou levar seu material e a gente vai junto dar início à sua entrada no campo.” Mas eu estava tenso. Cheguei na porta do hospital que a gente tinha combinado, cheguei antecipado, às...
Continuar leituraP - Para começar eu gostaria que você dissesse seu nome completo, local e data de nascimento. R - Maurício Silva Lima, nasci em Anápolis, Estado de Goiás, 09 do 06 de 1961. P - Em que ano você entrou no Aché? R - Em dois de maio de 1991. P - E antes você trabalhava com o quê? R - Eu trabalhei no departamento pessoal. Em Ituiutaba tinha um frigorífico muito conhecido em São Paulo, como Frigorífico Central, depois passou a ser frigorífico Ituiutaba. Eu trabalhei cinco anos no Departamento Pessoal e Social. P - E como você ficou sabendo do Aché? R - Tinha um colega que tinha entrado no Aché como representante e depois passou a ser treinador. Aí surgiu uma vaga, porque um outro colega tinha ido para a White. Aí ele me ligou e perguntou se eu queria. Eu perguntei: “O que precisa fazer?” Ele disse: “Você faz um curso de 15 dias, inclusive você não vai ter concorrente. Estou chamando você e a gente está precisando de mais três colegas de outras cidades, Rio Verde, Goiás e Brasília.” “Eu vou fazer o seguinte, eu tenho férias vencidas aqui, eu vou tirar férias e vou.” Fui lá, fiz o curso e pensei: “Se não der certo eu volto e continuo a minha vida.” Passei e eles me chamaram. P - Então, compensava. Você já tinha pensado em trabalhar com produtos farmacêuticos antes? R - Não, nunca. P - E foi em Anápolis? R - Não, foi em Ituiutaba. Na época, eu estava com 28 anos, quando surgiu essa oportunidade. P- E como foi seu primeiro dia de propagandista, você lembra? Q- Lembro. (risos) Inclusive o meu supervisor, que era o Damião, que morava em Uberlândia, assim que eu saí da reunião, ele falou: “Segunda-feira eu estou lá no campo, você me espera entre sete e meia e 15 para as oito, eu vou levar seu material e a gente vai junto dar início à sua entrada no campo.” Mas eu estava tenso. Cheguei na porta do hospital que a gente tinha combinado, cheguei antecipado, às sete horas e ele não chegava, eu ansioso. Aí deu 20 para as oito, ele chegou. Lembro que minha primeira propaganda foi para um pediatra, doutor Hélio. Aí ele me orientou lá fora, falou o seguinte: “Olha, você vai fazer a propaganda de Biofenac gotas, se der branco, você só fala o nome do produto e a posologia.” Aí, como era uma literatura extensa, que abre, eu abri e... Deu branco. (risos) Eu falei: “deu branco” Mas eu falei: “É Biofenac anti-inflamatório, uma gota por quilo de peso, três vezes no dia.” Ele, do meu lado: “Não, tranqüilo, beleza.” Aí os outros produtos era Sorine, já era mais fácil. Mas aí na primeira você quebra o gelo, na segunda você já vai engrenando e foi... P - E quando você começa, você viaja ou fica só numa cidade? R- Isso dependeu muito da época. Tinha épocas que eu só voltava para casa no final de semana, porque quando eu fazia o setor do Triângulo Mineiro e sudoeste goiano, eu ia até quase a divisa de Goiás com Mato Grosso. Naquela época se andava muito e você também tinha que vender na mão, e receber. Então chegava em casa na Sexta-feira, tarde. P - Quantos quilômetros você viajava por mês, por semana, você tem um cálculo? R- Dava uma média de cinco a seis mil quilômetros por mês. P - Como eram as paisagens, você viajava de um lugar para outro, mudava a paisagem, o clima, a temperatura? S- Se você perguntar para mim hoje, no Triângulo Mineiro e em Goiás, o que eu não conheço, é pouca coisa. Por exemplo, eu fazia Caldas Novas, clima e água totalmente diferentes, águas termais, né? Do lado do Mato Grosso você vê a Chapada dos Guimarães, então tem muita coisa bonita, cenários realmente... Mas tinha uma estrada que você ia de Jataí para Mineiros, que parecia aquelas estradas do Texas, você só via paisagem, não via de vez em quando um posto de gasolina. Era coisa de solidão mesmo a viagem, porque de Ituiutaba a esse lugar que eu fazia, eram 500 Km para ir e para voltar. Mas são várias cidades, várias culturas, fazendas, lugares bonitos. P - Você falou da solidão, não é? E como era? Você não tinha um companheiro, não tinha viatura compartilhada? R - Passou a ser, e depois melhorou, pelo menos tinha a convivência de um colega. Mas quando eu viajava sozinho era difícil. Batia a solidão, lembrava da música da Blitz: “Longe de casa há mais de uma semana.” Mas como você falou, compensava. Aí, depois melhorou, porque solidão é difícil. P - Lima, e você viajando, como era essa história de hotel, o Aché já deixava a reserva, como funcionava esse esquema, essa logística? R - O Aché dava a diária, você tinha um teto. Pagava quilômetro rodado, o carro era nosso e tinha um teto para almoçar, para jantar e para gasolina. E como a gente vendia na mão, você fazia o seu salário. Quando você tinha as farmácias, a gente dominava, se o cara não te ajudasse, a gente agradava os caras também. Teve um forte elo com esse pessoal da farmácia. P - E tinha algum ponto de encontro que vocês encontravam com outros propagandistas? R - Sempre tem. Por exemplo, hoje eu faço Uberaba. Então quando você está na Faculdade tem uma lanchonete onde os próprios médicos tomam café e os colegas de outras empresas chegam lá, a gente bate papo. Então a gente conversa no horário do café, isso em Uberaba. Em outras épocas, era um pouco difícil esse ponto de encontro, mas a gente tinha. Às vezes, encontrava um colega da própria empresa fazendo a mesma região que você, mas com linhas diferentes de produto. E depois que eu passei a fazer Uberlândia, aí você encontrava na Faculdade lá também. Tinha o famoso ponto de encontro dos representantes do Aché, onde os colegas de outros laboratórios achavam interessante e passavam também para a Diretoria deles e foi nascendo um ponto de encontro. Até hoje existe, em muitos laboratórios. P - E há diferença na estratégia de propaganda do Aché e dos outros laboratórios? R - Tem sim. Na minha opinião, não menosprezando ninguém, mas o representante do Aché é um cara mais bem visto, é um cara com quem o médico não se cansa. Porque muitas vezes os colegas não entendem o lado do médico, muitas vezes o médico não está a fim de ouvir você debulhar uma literatura para ele. Ele quer mais rapidez, porque ele tem o que fazer. Então alguns colegas insistem nisso, e o médico quando vê um representante que ele não é daqueles que agradam, ele fala para secretária dizer que não dá para ele atender. E o representante Aché tem um carisma com os médicos. Nesse tempo de casa que eu estou, eu pude observar isso, se bem que agora eu estou tendo um novo desafio: eu fui para uma região em que não conheço nada, em termos de comportamento médico, que é Uberaba. P - E tem um jeito seu próprio de fazer a propaganda? R - Tem. Porque eu sou um cara carismático. A primeira coisa quando entro no consultório, é que eu olho para o rosto do médico. E por aí eu já sei, se ele me abrir um sorriso, eu faço meu trabalho, mas eu não aporrinho o médico. Tem certas coisas que ele não quer ouvir e você tem que falar o que ele quer ouvir. Hoje eu acho que propaganda é isso, tem que ser eficiente e falar o que o cara quer ouvir. P - Se você chega e ele está de cara amarrada, o que você faz? R - Depende, eu procuro buscar só um produto alvo. Se eu tenho uma grade de cinco a sete produtos, e eu chego e vejo que o médico não está bem, eu escolho um produto só e ofereço para ele. P - Nossa, sete produtos E tem uma média de tempo para propagar esse monte de produtos? R - Depende do médico, tem médico que te dá espaço. Mas devido a hoje ter um grande número de propagandistas, você tem que ser objetivo. Senão, a gente se queima e isso é terrível. P - E o médico atende mais de um propagandista de uma vez, ou não? R - Depende. Hoje são tantos representantes... Por exemplo, agora que eu tenho trabalhado em Uberlândia, tem médicos que agendam três representantes num dia, outros agendam 10, isso depende. Tem médico que no intervalo, estão lá seis, sete. Por exemplo, em Ituiutaba tem um hospital onde os médicos atendem os representantes depois das sete da noite. Os mais difíceis são os cardiologistas, tem que ser na hora que eles podem e pronto. P - E aí tem que ser rapidinho. E um fica observando a propaganda do outro quando está junto? R - Depende. Quando é lançamento, às vezes a gente deixa o colega falar sozinho, dá esse espaço para ele. Porque não tem como forçar ele a ser rápido, a gente nesse ponto respeita o propagandista. Agora quando o médico já chama todo mundo, não tem jeito, você tem que fazer. P - Nesses 11 anos tem algum produto que você tenha tido mais simpatia ao fazer a propaganda? R- Nesses 11 anos eu devo ter lançado cinco a seis produtos, então teve um produto que me acompanhou desde a entrada, o Biofenac. Aí esse ano de 2002 mudou minha linha totalmente, e aí você fica assim: “É o produto que eu briguei, que eu acompanhei, eu sei como é...” Então o produto com que eu me identificava mais era o Biofenac. P - Por quê? R - Porque eu lancei... (risos) Ele veio junto comigo. Eu lancei outros produtos, mas não chega a ser... Para mim era uma classe, e como eu tenho uma certa amizade com vários ortopedistas e clínicos, eu tinha moral para cobrar deles e eles atendiam. P - Você tem casos pitorescos de trabalho? R - Uma coisa que me marcou, como eu estava comentando, é que eu tinha um colega e a gente estava vindo para uma reunião à tarde... Nada contra maçom, nada contra maçom, viu? (risos) Eu achei interessante que estava chovendo muito e aquela época a gente viajava junto, um mês ia com o carro de um e no outro mês com o carro do outro. Eu tinha comprado um e fomos estreá-lo na ida para Goiânia. E no retorno, chovendo muito, tinha um buraco e a gente perdeu uma roda. Colocamos o estepe e mais para frente, a uns 20 km para chegar em Itumbiara, uma cidade que faz divisa com Minas, eu estava dirigindo e caí em outro buraco e perdemos outra roda e sem estepe e chovendo muito. Era quase uma hora da manhã. Eu falei assim: “E agora, como vamos fazer? Vamos ter que dormir no carro, né?” Ele falou: “Não vamos fazer o seguinte: vamos tentar uma carona.” Eu falei: “Como pegar uma carona? Quem é que vai parar com essa chuva num descidão desse aqui?” Aí ele disse: “Entra no carro e fica lá.” Eu falei: “Cara, você vai ficar nessa chuva, você está doido?” Não sei o que ele tirou do bolso ou da sacola, eu não entendi, para mim era um mostruário como se fosse de tinta. Passava um carro, ele mostrava aquilo e estendia a mão. Eu pensando: “Esse cara é doido, vai pegar um resfriado.” Eu ia chamá-lo, e ele viu um carro importado. Ele fez esse gesto e o cara parou e retornou. E ficaram conversando. Ele falou: “Fica tranqüilo que eu vou arrumar o pneu e já volto.” “Pô, cara, você vai me deixar aqui nesse breu sozinho, não posso ir junto?” “Não, é porque o cara está com a família e o carro está cheio, só cabe um.” “Mas, e eu vou ficar sozinho? E se alguém me assaltar, e se roubar esse carro?” Ele falou: “Não, fica tranquilo.” E pedi para ele deixar a chave, que qualquer coisa, eu colocava o carro para funcionar, sem roda mesmo. Daí, depois de uns 40 minutos ele voltou, o cara trouxe ele de novo. Aí eu perguntei: “Mas o que você fez que o cara parou?” Ele disse: “Isso é um código de maçonaria.” E eu falei assim: “Código de maçonaria? Isso aí é macumba, cara” (risos) Isso aí é uma norma, eu não sei, é uma coisa deles, parece que um tem que ajudar o outro. E para nós realmente foi uma ajuda que caiu do céu, senão a gente estava enrolado. Foi uma coisa interessante, que para mim marcou, né? Como se diz, onde a gente sofreu mais, né? (risos) P - Lima, e qual é a coisa que mais agrada no Aché? R - Olha, eu gosto muito da amizade. O Aché está passando por várias transformações, e eu espero que continue assim. Eu acho que a empresa hoje tem que olhar o horizonte com outros olhos, não o que passou que não deu certo. Não, o que passou foi maravilhoso e a gente agora tem que seguir outra trilha. Mas a gente espera que o Aché continue sendo a grande empresa que é. E a amizade que a gente tem aqui, nada substitui. O salário, o carro, sei lá, não tem nada que substitui. P - Para terminar, o que você achou de deixar registrado esse pedaço da sua história? R - Espero que todo mundo veja. (risos) É gratificante, eu nunca esperava que fosse acontecer isso na empresa. A gente que é mais antigo e tem mais bagagem, tem coisas que marcam a vida da gente. P - Então, muito obrigada pela sua participação. R - Que é isso. Obrigado a você.
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