IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Lilia Maria Quental de Moura, nasci no Rio de Janeiro, em janeiro de 1960. FORMAÇÃO PROFISSIONAL Fiz Engenharia Civil, me formei em 1982, quando estava uma recessão bastante grande. Recebi um convite para trabalhar na área, mas ao mesmo tempo apareceu um concurso para Interbrás, subsidiária da Petrobras de comércio exterior. Achei interessante o apelo de comércio exterior, de viagem. Fiz o concurso e, no meio do processo, a Interbrás devolveu para Petrobras a área de comércio externo de combustíveis e de petróleo. Nesse meio tempo, fiquei sem saber se ia ser admitida ou não, comecei a fazer mestrado, mas seis meses depois recomeçou o processo de seleção, acabei abandonando o mestrado e fiquei na Petrobras. Meu pai era engenheiro civil e eu fiquei um pouco na dúvida entre Arquitetura e Engenharia Civil. Achei que a Engenharia Civil abriria mais os horizontes, mais possibilidades de atuação profissional. Mas acho que quando a gente decide é muito cedo para se ter uma noção real do que vai ser sua vida profissional. Eu decidi com 16 anos. INGRESSO NA PETROBRAS Fiz o curso de formação Cosup [Curso de Comercialização e Suprimento de Petróleo e Derivados] que começou em dezembro de 1982. Só começamos a trabalhar em setembro de 1983, esses nove meses de curso foi uma época maravilhosa porque já estávamos empregados, estudávamos o dia inteiro com uma turma super bacana, fiz ótimos amigos. Foi um período muito rico, conhecemos um pouco da Petrobras, todo mundo era muito cru. Éramos todos engenheiros, mas de formações distintas. Depois desse curso fui pra área de Suprimento de Petróleo, a minha expectativa era trabalhar com comércio exterior de petróleo, mas acabei indo pro suprimento. Foi uma grande escola porque fazíamos toda a parte de alocação do petróleo, embarcávamos o petróleo, a maior parte era importada. A produção doméstica era pequena; fazíamos...
Continuar leituraIDENTIFICAÇÃO Meu nome é Lilia Maria Quental de Moura, nasci no Rio de Janeiro, em janeiro de 1960. FORMAÇÃO PROFISSIONAL Fiz Engenharia Civil, me formei em 1982, quando estava uma recessão bastante grande. Recebi um convite para trabalhar na área, mas ao mesmo tempo apareceu um concurso para Interbrás, subsidiária da Petrobras de comércio exterior. Achei interessante o apelo de comércio exterior, de viagem. Fiz o concurso e, no meio do processo, a Interbrás devolveu para Petrobras a área de comércio externo de combustíveis e de petróleo. Nesse meio tempo, fiquei sem saber se ia ser admitida ou não, comecei a fazer mestrado, mas seis meses depois recomeçou o processo de seleção, acabei abandonando o mestrado e fiquei na Petrobras. Meu pai era engenheiro civil e eu fiquei um pouco na dúvida entre Arquitetura e Engenharia Civil. Achei que a Engenharia Civil abriria mais os horizontes, mais possibilidades de atuação profissional. Mas acho que quando a gente decide é muito cedo para se ter uma noção real do que vai ser sua vida profissional. Eu decidi com 16 anos. INGRESSO NA PETROBRAS Fiz o curso de formação Cosup [Curso de Comercialização e Suprimento de Petróleo e Derivados] que começou em dezembro de 1982. Só começamos a trabalhar em setembro de 1983, esses nove meses de curso foi uma época maravilhosa porque já estávamos empregados, estudávamos o dia inteiro com uma turma super bacana, fiz ótimos amigos. Foi um período muito rico, conhecemos um pouco da Petrobras, todo mundo era muito cru. Éramos todos engenheiros, mas de formações distintas. Depois desse curso fui pra área de Suprimento de Petróleo, a minha expectativa era trabalhar com comércio exterior de petróleo, mas acabei indo pro suprimento. Foi uma grande escola porque fazíamos toda a parte de alocação do petróleo, embarcávamos o petróleo, a maior parte era importada. A produção doméstica era pequena; fazíamos também a programação de carregamento do petróleo da Bacia de Campos junto com o Departamento Industrial, tinha que destinar aquele petróleo para as refinarias de acordo com o mercado que elas precisavam atender. DIVISÃO DE SUPRIMENTOS O setor de comercialização era o Decom, Departamento Comercial. Dentro do Decom, havia a Divisão de Suprimento de Petróleo. Nesta divisão, tinha pessoas de formações diferentes, junto comigo entraram dois colegas da mesma turma, o Guilherme e o Paulo; tinha um profissional mais antigo, o Fernando Fruguli, que foi o nosso tutor durante pelo menos um ano. Éramos três novos, o pessoal chamava as pessoas novas de “borracha”. Aonde o Fruguli ia, íamos os três atrás e o pessoal começou a chamar a gente de ‘fruguletes’. Foi uma grande escola porque conhecemos todo o Sistema Petrobras, as refinarias, as necessidades, como fazia a parte de suprimento, alocação de petróleo. A rede de relacionamentos se expandiu bastante porque tínhamos contato com o pessoal do Industrial e com a área de Transporte; era Depin, Departamento Industrial, e Detran, que era o Departamento de Transporte. Precisávamos conhecer um pouco da demanda de derivados, área de suprimento de combustíveis, havia alguma relação com eles para entender qual era a demanda de produtos que o petróleo deveria suprir. Buscávamos o petróleo nas suas fontes, seja no Brasil, seja no exterior, quem transportava era o Detran, depois chegava a uma refinaria que era do Departamento Industrial; tudo estava conectado porque o objetivo final era atender ao mercado, a gente deveria disponibilizar produtos nas refinarias. Também tínhamos contato com a área de Planejamento, já havia um sistema de programação linear que buscava otimizar o custo, ou seja, buscava fazer esse suprimento da forma mais barata possível. COSUP No Cosup, que dura nove meses, já comecei a ter um pouco noção da complexidade do mercado de petróleo: tem um período bem básico, de matérias gerais, estatística, geopolítica etc., depois tinha aula com as várias áreas da Comercialização. Quando se começa a trabalhar e efetivamente tem que botar a mão na massa, sente-se como é difícil. Depois a gente olha pra trás e parece que foi fácil, mas quando está acontecendo as coisas são bem complexas. ANTES DA PETROBRAS Até aparecer o concurso, eu não pensava muito no meu futuro ligado à Petrobras, imaginava que ia ser um trabalho mais ligado à Engenharia Civil, na parte de projetos; não me imaginava no mundo do petróleo, nem na comercialização. Quando apareceu o anúncio do concurso: “Por que não?”, mas eu não tinha construído uma expectativa anterior. Com certeza, depois que a gente entra vai se apaixonando porque é um mundo; é uma empresa impressionante, de realizações e de oportunidades. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Recebi um convite para a área de Comércio Exterior, entrei em um setor que importava e exportava produtos especiais: lubrificantes, parafinas, solventes etc. Fiquei bastante tempo nesse setor, pouco depois de chegar lá fui nomeada chefe; entre idas e vindas fiquei uns oito anos. Fazíamos exportação de lubrificante, quando eu cheguei, existia um contrato com a Nigéria, a Petrobras fornecia quase tudo: gasolina, diesel, lubrificante. Era um contrato muito grande, mas estava terminando. Fomos obrigados a buscar novos mercados para o lubrificante da Petrobras. Foi um desafio encontrar um mercado novo que absorvesse os excedentes que tínhamos. Foi um trabalho muito interessante de desenvolver o mercado americano, europeu e indiano. Isso foi no final da década de 1980. CRISE DO ÁLCOOL Em 1989, a minha filha nasceu, fiquei um tempo de licença maternidade e quando voltei foi uma surpresa: estava no meio de uma crise de álcool, havia fila nos postos porque o álcool era fornecido pelos usineiros que começaram a ganhar mais dinheiro vendendo açúcar e simplesmente deixaram de produzir o álcool. Praticamente 100% dos automóveis produzidos no país eram movidos a álcool. Cheguei da licença maternidade totalmente desconectada do trabalho e a primeira atividade que caiu no meu colo foi importar álcool, coisa que a gente não sabia fazer, não tinha a noção de como era. Começamos a buscar fontes de álcool; acabamos na Europa importando uma quantidade enorme de álcool de vinho. A Europa tinha um excedente de vinho que era guardado pra não cair muito o preço, fomos lá e trouxemos esse álcool todo para o Brasil. Nessa época começamos a trazer metanol pra aumentar a disponibilidade de álcool, era uma mistura chamada MEG, metanol, etanol e gasolina; o Cenpes [Centro de Pesquisa e Desenvolvimento] desenvolveu a formulação. Da noite pro dia, a Petrobras virou o maior movimentador de metanol no mercado internacional. Foi uma necessidade do mercado interno que gerou uma demanda de comércio no exterior. Entrei em um período de recessão, já tinha tido a primeira crise, na segunda crise a gente foi pego nessa situação com os usineiros. Ao longo da década de 1980, o desenvolvimento do mercado de álcool doméstico foi forte, dependência muito forte do álcool, de repente tivemos que nos virar pra conseguir suprir a demanda via mercado externo, via exportação. Quando teve a segunda crise de petróleo, por um lado a gente tinha desenvolvido uma alternativa que era o álcool, via etanol ou metanol; por outro, foi um dilema porque parte do mercado não dependia só da gente, os usineiros tinham objetivos próprios e uma forma própria de lidar com a produção, com o mercado. A Petrobras foi obrigada a fazer estoques de álcool no mercado doméstico, tinha uma interferência bastante grande no apoio à política de Governo relativa a álcool. GOVERNO COLLOR Foi uma época muito conturbada, trabalhando no dia-dia não sabia direito o que estava acontecendo. Aos poucos, vimos a participação da Polícia Federal dentro Departamento Comercial, teve demissão de um superintendente, superintendente-adjunto e um chefe de setor. Foi um momento muito intranqüilo, porque a gente sentia que o clima não estava legal, estava acontecendo alguma coisa que interferia na Companhia, tinha relação com o Governo, mas não sabia exatamente o quê era. Foi uma das épocas em que me afastei desse setor de Comércio Externo de produtos especiais. Colocaram uma pessoa no meu lugar, esse chefe de setor depois foi uma das pessoas demitidas. Por um lado foi bom porque me afastaram na hora em que estava acontecendo algo estranho, o meu nome não ficou vinculado a nenhuma situação mais complicada. Por outro, é muito desconfortável ver colegas envolvidos em situações não muito ortodoxas. Foi uma época negra, cheguei até a pensar em sair da empresa. Mas esse ciclo passou, a gente voltou a trabalhar com confiança e deixei de lado a história de sair da empresa. O preço de combustíveis no Brasil era controlado, era uma época de hiperinflação, era meio enlouquecedor: você recebia o salário num dia, corria pro supermercado para fazer as compras do mês porque no dia seguinte já não conseguia comprar a mesma coisa. Isso acabava afetando também o trabalho porque o Governo usava os preços dos combustíveis para controlar a inflação, se o preço do combustível acompanhasse a superinflação era como se tivesse uma realimentação e as coisas ficariam mais graves. Por um lado, amenizou um pouco pro povo, a questão da hiperinflação; por outro, limitava a atuação da empresa, que sofreu muito no final da década de 1980 e início da década de 1990 por não ter os preços reajustados de acordo com a inflação. Em todos os desafios de investimentos a empresa tinha menos caixa, foi uma época de vacas magras, uma época difícil. Me lembro de ter que postergar carregamento de navio de petróleo pra poder empurrar um pouco mais pra frente o pagamento. ESCRITÓRIO DE NOVA YORK Neste período do Governo Collor, fui afastada, fiquei um tempo numa área que fazia importação de GLP, gás liquefeito de petróleo, e exportava óleo combustível. Depois voltei pra área de especiais, fiquei um tempo; ocupei a posição rotativa no escritório no exterior, fui para o de Nova Iorque, fiquei quatro meses lá, desenvolvendo mercado de lubrificante pela área de produtos especiais. Foi uma experiência bem bacana porque o escritório de Nova Iorque fazia muito negócio de combustíveis, exportávamos muita gasolina pros Estados Unidos, exportavam óleo combustível, mas não fazia nenhuma operação de produtos especiais. Foi um trabalho de iniciar uma atividade nova. A oportunidade de estar em um lugar onde tem uma atividade comercial muito intensa foi um aprendizado muito bacana. O vínculo dos escritórios no exterior com o Brasil era muito forte, seguíamos as orientações do pessoal do Brasil, não tinha autonomia de tomar riscos ou posições. Por outro lado, como você estava lá dentro do mercado vislumbrava os negócios e oportunidades que quem estava no Brasil, não via. Tínhamos autonomia pra isso, observar o que estava acontecendo e contar pra cá, e inserir um negócio que não estava sendo vislumbrado pelo Brasil. Os profissionais da Petrobras sempre foram muito respeitados no mercado exterior. Pra mim, foi uma experiência legal porque tirou um pouco aquele preconceito que a gente mesmo tinha de ser país subdesenvolvido. No exterior a gente lidava de igual pra igual com qualquer outra companhia do mundo, isso ajuda a se sentir mais confiante, mais forte. Até hoje, a Petrobras é reconhecida uma player confiável e muito bem estruturada no comércio exterior. PETROBRAS ARGENTINA De Nova Iorque voltei pro Brasil, fiquei um tempo aqui e fui convidada pra assumir outra posição no exterior, não era mais o rotativo. Fui convidada pra ficar um ano, que foi se estendendo, fiquei quatro anos na Argentina, de setembro de 1995 a dezembro de 1999, voltei na virada do ano de 1999 pra 2000. Essa experiência ampliou muito meu campo de ação porque era um escritório pequeno. Na Petrobras Argentina éramos 19 ou 20 pessoas, quatro brasileiros e 15 argentinos, era um escritório montado mais para a parte de produção-exploração de petróleo e gás, mas a atividade comercial começou com a abertura do mercado argentino no início da década de 90. Tivemos a oportunidade de estar na Petrobras Argentina e conhecer a abertura de mercado deles enquanto ela acontecia, um pouco: ‘eu sou você amanhã’, porque começaram a acontecer mudanças no Brasil também. O Governo do Fernando Henrique começou a apontar para uma abertura do mercado brasileiro e, enquanto isso se estruturava, a gente estava na Argentina vendo como ela estava lidando com a abertura. A Argentina era o maior fornecedor de petróleo do Brasil, a gente fazia a comercialização de petróleo e também tinha uma atividade intensa de combustíveis, vendíamos gasolina, comprávamos nafta, diesel, às vezes vendíamos diesel, lubrificante, parafina. Éramos duas pessoas na área comercial, a gente tinha que se dividir em vários pra dar conta de toda a atividade comercial que havia lá. A produção nacional já estava começando a crescer, mas ainda estava longe da autonomia. A Argentina está muito próxima do Brasil, na época ela era grande exportadora, tinha uma produção maior do que a brasileira e o mercado era menor, então havia um excedente. Esse excedente passava na frente da costa brasileira para ir aos Estados Unidos, principalmente; estava a quatro, cinco dias de viagem, dependendo da onde era carregado o petróleo. Era uma alternativa econômica que chegava ao Brasil, chegamos a importar mais de cem barris por dia de petróleo da Argentina. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Voltei da Argentina porque já estava lá há bastante tempo, essas posições no exterior não se fica tanto tempo, são posições de um ou dois anos, quatro anos não era comum; eu já tinha a expectativa de voltar. Recebi um convite para vir pra área de Comércio Interno para aproveitar a experiência que eu tive de abertura do mercado argentino. Fui preparar a abertura do mercado brasileiro. Voltei no finalzinho de dezembro de 1999, comecei a trabalhar com comércio interno em janeiro de 2000. ABERTURA DE MERCADO A expectativa era que o mercado brasileiro abrisse em 2001, abriu só combustíveis de aviação. Na parte de gasolina e diesel, a abertura foi em janeiro de 2002. De 2001 a 2002 foi um período de estruturação, muita negociação com o Governo; a gente não sabia como seria a regulamentação, a ANP [Agência Nacional de Petróleo] só a definiu no final de dezembro de 2001, com o mercado abrindo em primeiro de janeiro de 2002. A gente inferiu muita coisa ao longo do tempo, tivemos que estruturar os contratos, negociar com as companhias distribuidoras, se estruturar internamente para a formação de preço, que não seria mais controlado; a Petrobras ia ter liberdade de formar o próprio preço. Assim que cheguei da Argentina, eu fui para o Setor de Combustíveis, responsável pela comercialização de gasolina e diesel com as companhias distribuidoras de âmbito nacional. Por volta de 1996, quando eu estava na Argentina, acabou o Departamento Comercial como era conhecido. Houve uma reestruturação e foi criado o Marketing e Comercialização. Quando eu cheguei da Argentina já era Marketing e Comercialização, no final do ano 2000 houve uma outra estruturação interna e fui nomeada gerente de Comércio Interno de Gasolina. Eu, com gasolina, e o Rubens, como gerente de Comércio Interno de Diesel, fizemos a estruturação do mercado para a abertura, com uma participação muito forte da Ticiana, que era a gerente de Preços e acompanhava de perto toda a parte de regulamentação e estruturação de preços. No caso da Gerência de Gasolina e da Gerência de Diesel, foi uma experiência que eu nunca tinha tido antes e depois também não tive mais, foi um trabalho em dupla, de integração total. Nunca imaginei ter um trabalho tão coordenado e tão fácil com uma complexidade tão grande. Muito disso foi também pela disponibilidade do Rubens, que foi excepcional, e das equipes também; elas trabalhavam de uma forma completamente integrada, foi muito bacana. Nessa época teve um marco importante: a Petrobras na década de 90, praticamente, não admitiu ninguém para a área comercial, tem um gap entre as turmas que foram admitidas na década de 80, e depois acho que só em 2001, 2002 é que voltou a ter concurso para a área comercial, exatamente nessa época, começamos a receber gente nova. Foi uma mudança de paradigma, depois de tantos anos de monopólio, o mercado estava se abrindo, estávamos reestruturando a empresa pra enfrentar esse cenário novo e ao mesmo tempo recebendo funcionários recém-admitidos que estavam trazendo sangue novo, oxigênio, formas diferentes de pensar. Passamos por um momento de construção de equipe muito legal. A abertura de mercado começou a ser preparada no final da década de 1990, a lei do petróleo, do jeito que ela é hoje, foi promulgada em 1998, eu não estava no Brasil, mas acompanhei, foram alguns anos pra fazer essa transição; de 1998 até janeiro de 2002 aconteceram alguns passos. Primeiro, a liberação de mercado de lubrificantes e solventes; segundo, o mercado de aviação, em 2001; gasolina e diesel ficaram por ultimo, em janeiro de 2002. Foi um período de transição dinâmico, bem agitado. Teve a criação de uma Gerência de Marketing. Foi uma mudança cultural, de passar de um cenário de monopólio – onde se tem autoridade, poder total e ao mesmo tempo uma influência muito grande do Governo – para um mercado aberto, o mercado é que vai ditar as necessidades, você vai ter que aprender a ouvir e se adaptar ao que o mercado demanda. Foi uma mudança muito forte, demandou muito trabalho com a equipe para mudar a cultura. ESTRUTURA MARKETING E COMERCIALIZAÇÃO Os nossos clientes diretos são as companhias distribuidoras, BR, Shell, Esso, Ipiranga, Texaco e várias companhias regionais, menores que trabalham, em geral, com foco mais naquele local onde foram criadas; desde a década de 90 teve um estímulo para a criação dessas distribuidoras regionais. Na reestruturação do final do ano 2000, houve a criação de gerências gerais regionais: uma gerência-geral regional em São Paulo e uma em Recife, a idéia era justamente que elas estivessem mais próximas do mercado e pudessem atender e gerir o suprimento pra essas companhias regionais, tanto no Sudeste-Centro-Oeste, quanto no Norte-Nordeste. As percepções e a relação comercial eram sempre com as companhias distribuidoras. LIBERAÇÃO DOS PREÇOS A liberação dos preços é um trabalho de várias áreas, quem estava mais próximo à gasolina e ao diesel era a área de preços, a gerente era a Ticiana, ela participou junto com o gerente-geral, gerente-executivo, diretor, das negociações com Governo, discutindo como ficaria a legislação e a regulamentação específica disso. Comercialmente tentamos reproduzir o que seria um preço justo no mercado aberto; foram feitos estudos pela Gerência de Preços de como as empresas formulavam preços nos Estados Unidos, na Europa, na própria Argentina onde a gente tinha experiência; Através dessa prática mundial, procuramos adaptar a realidade brasileira e construir a relação comercial com base nisso. HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS Queria trabalhar com petróleo, no curso fui a melhor aluna de petróleo, achava o petróleo o máximo; no final do curso a gente podia dizer quais eram as três primeiras opções, onde gostaríamos de trabalhar, escrevíamos num papelzinho, a minha primeira opção foi comércio externo de petróleo, só que eu não fui pro comércio externo de petróleo; fui pra área de suprimento de petróleo e fiquei bastante chateada com isso porque fui boa aluna, foi minha primeira opção, por que não? No meu primeiro dia de trabalho, em vez de ir para a minha sala, fiquei na portaria do andar esperando o superintendente de petróleo chegar, ele tinha sido nosso professor e, literalmente, fui tomar satisfação dele. Fiquei sentada, esperando ele chegar, o Eraldo Porto. Quando ele chegou, eu disse que queria falar com ele, que me chamou pra sua sala. A primeira coisa que ele falou: “Primeiro: aqui na Petrobras existe um negócio chamado hierarquia, quando você quiser falar comigo, tem que falar com o seu chefe de setor; o seu chefe de setor vai falar com seu chefe de divisão e o seu chefe de divisão vai falar comigo. Essa coisa de vir tomar satisfação não está legal. E segundo: um dia, você ainda vai me agradecer por ter te colocado na área de Suprimento de Petróleo em vez de Comercialização porque você vai aprender muito.” Dez anos depois, eu estava no escritório de Nova Iorque, rotativa por quatro meses, teve uma mudança de gerente; o gerente da área foi embora e veio um novo gerente. Quem era o novo gerente do escritório de Nova Iorque? O Eraldo. Um dia, o chamei para almoçar, só nós dois, e falei: “Você pode não se lembrar, mas estou te chamando pra almoçar para te agradecer por ter me botado primeiro na área de Suprimento, porque realmente foi um super aprendizado pra mim.” Ele não se lembrava mais (risos). Depois desse almoço, tanto eu quanto ele, contamos essa história pro pessoal novo que chega porque a gente não tem idéia do que vai acontecer da nossa vida profissional depois que começa. A riqueza da experiência foi muito legal, o Eraldo foi um grande professor, hoje está aposentado e depois disso nos tornamos amigos, até hoje tem alguma conexão profissional quando precisa, ele trabalha muito com o IBP [Instituto Brasileiro de Petróleo], quando precisa de algum apoio nos falamos, ele é casado com uma colega que continua na área Comercial na ativa. São pessoas que acabam marcando a vida da gente de uma forma bacana. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Desde dezembro de 2006, estou na Gerência de Combustíveis de Aviação, comércio interno de combustíveis de aviação, a gerência responsável pela venda de QAV [Querosene de Aviação] e gasolina de aviação para as distribuidoras. As distribuidoras vendem pras companhias aéreas ou companhias que usam aeronaves. Está sendo uma experiência bem legal, uma outra fase da vida. De uns anos pra cá, comecei a buscar equilibrar um pouco mais a vida pessoal com a vida profissional. Durante muitos anos fui meio workaholic, muitas horas de trabalho, chegando tarde; comecei a procurar equilibrar um pouco isso, fazer atividades fora do trabalho, estar mais próxima da família, da minha filha. Já estava a algum tempo na Gerência de Gasolina quando o gerente-executivo falou: “De repente era legal você respirar, ver outras coisas, outros lugares.” Me ofereceu a Gerência de Comércio Exterior, falei pra ele: “Vivi 15 anos com comércio exterior, já sei como é. Acho que quero outra coisa pra minha vida agora.” Negociamos e fui pra área de combustíveis de aviação que é menos estressante do que a que eu estava, gasolina, ou mesmo do que o comércio exterior; mas permite uma riqueza muito grande porque você consegue se aprofundar no trabalho, no planejamento, na organização da atividade. Acabou sendo um caminho bom porque consegui equilibrar a vida pessoal com a vida profissional. Ao mesmo tempo, estou conseguindo dar uma contribuição que está me trazendo compensação profissional e abrindo desafios novos para a equipe. Estamos fazendo o trabalho de forma diferente, procurando acompanhar o crescimento rápido que teve no mercado de aviação. Nos primeiros vinte anos de vida profissional, o Brasil sempre esteve mais ou menos em recessão ou com dificuldade. De três anos pra cá, a economia começou a crescer, a demanda de combustíveis em geral começou a crescer e a demanda de aviação cresceu quase que o dobro do PIB [Produto interno bruto], um negócio que não se via há muito tempo. Foi muito legal estar nessa área no momento em que esse crescimento começou, porque é aprender a fazer coisas que nunca tinha feito e se adaptar a um crescimento muito rápido; a infra-estrutura da empresa não tem essa velocidade toda, mas o mercado está lá demandando e a gente tem que dar a solução. CRISE ECÔNOMICA MUNDIAL / 2008 Estamos num momento de muita expectativa. A crise aconteceu muito rápido, não é só do Brasil, o mundo inteiro estava com crescimento muito forte nessa área de aviação, é como se estivesse uma bonança generalizada, a Ásia crescendo muito, a China crescendo muito, a Índia crescendo muito, puxando o mercado todo. De repente, a crise aconteceu. Ainda não sabemos dizer todos os impactos que ela vai ter. Vai haver uma desaceleração? Provavelmente sim, mas os especialistas com quem a gente conversa, o pessoal de mercado, ninguém imagina que vai chegar a cair o mercado. Tem um mercado em crescimento, de repente pode até amenizar um pouco essa inclinação da curva de crescimento, mas a expectativa é que continue a crescer. Vamos precisar nos adaptar a esse novo ritmo, estávamos tentando nos adaptar a um crescimento muito rápido, agora vamos ter que nos adaptar a um crescimento não tão rápido. Mas o mercado brasileiro é um mercado com potencial muito bom nessa área, porque as distâncias são muito grandes, o Brasil tem uma dimensão continental e hoje já conseguimos ter passagem de avião competitiva com passagem de ônibus. As empresas aéreas buscam atingir esse potencial, gente que nunca viajou de avião e começa a viajar. Tem uma perspectiva muito boa nesse mercado. PRÉ-SAL O pré-sal está afetando, por enquanto, a área de Planejamento; provavelmente muitos recursos que estavam sendo destinados a outras áreas vão ter que ser carreados pro pré-sal, mas na área Comercial não temos acesso a todas as decisões e nem todas as decisões já foram tomadas, é como se abrissem mais possibilidades pra empresa. Além de ter petróleo suficiente pro mercado doméstico, vamos ter muito mais petróleo de qualidade e produzido na frente do mercado principal que é São Paulo e Rio de Janeiro. É tudo que uma empresa de petróleo podia querer, todos os sonhos sendo realizados: ter abundância de petróleo próximo ao seu principal mercado e te dando uma possibilidade e uma flexibilidade incríveis. A perspectiva é toda boa, a questão é conseguir recursos pra fazer isso e todo o resto que precisamos fazer para atender o mercado. CRISES MUNDIAIS As crises de petróleo com certeza foram, para a comercialização, como um todo, momentos muito críticos. Me passou agora a lembrança do início da Guerra do Golfo, foi a primeira guerra televisionada. Tanto pessoalmente quanto pra empresa, foi um momento de susto porque era uma guerra no meio do Oriente Médio, que é o maior produtor, os impactos que isso poderia ter. Ao mesmo tempo, a minha filha era recém-nascida, como é que eu vou criar um filho no mundo em guerra, como vai ser esse negócio? Aquele momento foi difícil também porque o Brasil estava numa situação de recessão, com as divisas baixas, ainda com uma dependência muito grande do petróleo, importávamos uma parte do petróleo que era refinado aqui. Aquele foi um momento muito complicado. Outro momento que passa na minha cabeça foi o 11 de setembro, lembro que eu estava indo para a sala do gerente-executivo, passei por uma sala de reunião que tinha uma televisão ligada, exatamente, na hora em que o avião bateu na torre, pensei: “Poxa, que estranho, são dez horas da manhã e o pessoal aqui vendo filme.” Não era filme, já tinha acontecido o primeiro ataque; avisaram e o pessoal ligou a televisão para ver o que estava acontecendo, Eu passei exatamente na hora em que o segundo avião estava batendo. Ficou todo mundo em estado de choque, falei: “Caramba, um ataque desses, como vai ficar?” Depois, foi tendo outras notícias, parou os Estados Unidos inteiro, os aviões não saíam, o pessoal do escritório desesperado, as bolsas pararam, foi um caos mundial. HISTÓRIAS /CAUSOS / LEMBRANÇAS As realizações são sempre bacanas, o trabalho conjunto na criação da Gerência de Gasolina e Diesel foi um momento muito bacana de construção, de começar um trabalho do zero e modificar a realidade. Quando teve a abertura de mercado já tínhamos tudo estruturado, tínhamos o que oferecer pro mercado. O trabalho em conjunto era uma demanda legal, de mercado, estrutural; precisávamos nos adaptar, ninguém sabia como ia ficar. O número de pessoas e áreas foi muito maior do que as nossas gerências, foi um pouco estruturar uma coisa enquanto ela estava acontecendo, não tinha quem orientasse. Diretor ou gerente-executivo, ninguém sabia o que orientar pra gente, foi um trabalho construído junto; a cada passo, diretor, gerente-executivo e gerente-geral acompanhavam e redirecionavam, mas pudemos propor e fazer muita coisa porque ninguém tinha a resposta certa. EXPERIÊNCIA PESSOAL / ARGENTINA Em setembro de 1995, eu tinha pouco mais de um ano de separada. Fomos eu, a Daniela e a Dine, uma pessoa que ia me ajudar lá, ela foi mais do que empregada, era meio governanta, babá tanto da Daniela como de mim. Fomos as três mulheres sozinhas para um país estrangeiro, a Dine tinha 20 anos, a Daniela seis e eu 35. A adaptação foi difícil, mas depois você olha pra trás e vê que foi muito bom, nós três crescemos muito, aprendemos muito. A Daniela foi pra escola americana, foi uma experiência riquíssima porque a Argentina estava num boom de crescimento, com empresas estrangeiras vindo. Para se ter uma idéia, na sala dela eram 20 alunos e tinham dez nacionalidades diferentes; ela teve desde muito pequena que aprender a conviver com a diversidade e aprender culturas diferentes, às vezes ela ia pra casa de uma amiguinha japonesa e tinha que comer comida japonesa, deixava o sapato do lado de fora da casa. De repente, estava com uma americana, uma inglesa, uma norueguesa, foi uma experiência muito rica. Pra mim, aprender a viver num país estrangeiro além de todo o desafio profissional também foi muito legal, a gente tinha uma relação muito grande com a comunidade brasileira na Argentina; fiz ótimos amigos, tanto brasileiros quanto argentinos, foi uma época muito rica. A gente acabou criando um grupo que era o pessoal da Petrobras com os jornalistas correspondentes brasileiros na Argentina, uma comunidade muito bacana, amigos muito legais. A Dine foi para lá com vinte anos, eu combinei com ela que pagaria metade de tudo que ela quisesse estudar. Ela aprendeu espanhol, voltou fluente em espanhol, escrito e falado, aprendeu tudo de computador, aprendeu a dirigir. Para as três mulheres foi uma experiência muito bacana. LAZER Voltei a namorar (risos). Estou com um namorado há quatro anos, o Alexandre, que também é funcionário da Petrobras, mas não da área Comercial. Estou reconstruindo a vida familiar. Gosto de aprender coisas novas, fui cantar, aprendi a tocar piano, nado, estou sempre procurando aprender alguma coisa que não tenha nada a ver com a atividade profissional em si, meio que expandindo as áreas de conhecimento e os horizontes da vida. MEMÓRIA PETROBRAS Eu vejo, conversando com o pessoal da equipe, que uma das principais riquezas da experiência e das oportunidades que eu tive na área comercial foi a história da rede de contatos que falei no início. Hoje, eu olho pra trás: “Caramba, conheço muita gente em áreas diferentes da Petrobras.” Conseguir compartilhar isso com as pessoas da equipe, com as pessoas que estão chegando, poder compartilhar esse conhecimento, a riqueza dessa rede talvez seja uma das atividades mais difíceis, porque não é algo estruturado, por mais que falem em programa de tutoria, depende muito do pessoal mesmo, de você se disponibilizar. Informalmente, eu tenho tentado fazer com um rapaz que começou na Petrobras nessa época da Gerência de Gasolina e Diesel comigo e com o Rubens, hoje ele está gerente, mas é muito novo; combinamos de fazer uma tutoria informal, está sendo muito bacana. Mas não deixo de pensar: “Como eu posso fazer diferença na vida dessas pessoas que estão chegando agora?”, porque fizeram isso comigo. Eu queria poder compartilhar também esse conhecimento e essa experiência com o pessoal que está chegando. Fiquei muito feliz quando vocês fizeram o contato comigo porque há algum tempo venho pensando nisso, de como compartilhar. É uma forma simples, um pouco de contar histórias, mas fiquei muito feliz.
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