Meu nome é Laerte Vieira Lima, nasci em 10 de fevereiro de 1980, em São José dos Campos, São Paulo.
Ingressei na Petrobras, efetivamente como funcionário, em outubro de 2002, após o curso de formação. Eu estava na faculdade e um dia um amigo me falou: "Vai ter concurso de nível técnico na Petrobras e as inscrições estão abertas". Nem tinha me atentado. Olhei no site, vi como era e resolvi fazer a prova. Fiz, fui classificado e entrei. Fiz o curso de formação durante oito meses e acabei sendo contratado. Após minha entrada na Petrobras, me formei em engenharia civil; isso há cerca de cinco anos. Mas continuo meu trabalho como técnico.
O curso de formação é bem específico. Como não tem uma escola técnica que tenha um curso de formação – eu acho que hoje talvez até tenha – foi um curso em que ficamos grande parte do tempo em sala de aula, tendo noções de uma refinaria de petróleo, do petróleo em si. Eu nunca tinha tido nenhum contato, não conhecia. Assim, as aulas incluíam física e matemática, sempre mais voltadas pra área de refino. Esse curso foi mais – como eles diziam – para dar uma estabilizada na matéria de conhecimentos gerais. Após isso, teve a parte prática, fomos conhecer a refinaria, pra entender um pouco melhor como funcionava o processo de refino e de estocagem de produtos.
Entrei na Petrobras como Técnico de Operações Júnior, na época chamava-se Operador I. O técnico de operação, dependendo do setor em que trabalha, praticamente faz a refinaria funcionar. Eu trabalho especificamente na transferência e estocagem. Recebe-se o petróleo cru, ele é enviado para as unidades de refino e tratamento e, depois, volta acabado. A nossa área mexe com o envio dos produtos terminados – como gasolina, óleo diesel ou querosene – para os clientes, que seriam os terminais, os mercados locais e a área de dutos. Aqui na Revap [Refinaria Henrique Lage] quem faz essa parte é o pessoal da transferência e...
Continuar leituraMeu nome é Laerte Vieira Lima, nasci em 10 de fevereiro de 1980, em São José dos Campos, São Paulo.
Ingressei na Petrobras, efetivamente como funcionário, em outubro de 2002, após o curso de formação. Eu estava na faculdade e um dia um amigo me falou: "Vai ter concurso de nível técnico na Petrobras e as inscrições estão abertas". Nem tinha me atentado. Olhei no site, vi como era e resolvi fazer a prova. Fiz, fui classificado e entrei. Fiz o curso de formação durante oito meses e acabei sendo contratado. Após minha entrada na Petrobras, me formei em engenharia civil; isso há cerca de cinco anos. Mas continuo meu trabalho como técnico.
O curso de formação é bem específico. Como não tem uma escola técnica que tenha um curso de formação – eu acho que hoje talvez até tenha – foi um curso em que ficamos grande parte do tempo em sala de aula, tendo noções de uma refinaria de petróleo, do petróleo em si. Eu nunca tinha tido nenhum contato, não conhecia. Assim, as aulas incluíam física e matemática, sempre mais voltadas pra área de refino. Esse curso foi mais – como eles diziam – para dar uma estabilizada na matéria de conhecimentos gerais. Após isso, teve a parte prática, fomos conhecer a refinaria, pra entender um pouco melhor como funcionava o processo de refino e de estocagem de produtos.
Entrei na Petrobras como Técnico de Operações Júnior, na época chamava-se Operador I. O técnico de operação, dependendo do setor em que trabalha, praticamente faz a refinaria funcionar. Eu trabalho especificamente na transferência e estocagem. Recebe-se o petróleo cru, ele é enviado para as unidades de refino e tratamento e, depois, volta acabado. A nossa área mexe com o envio dos produtos terminados – como gasolina, óleo diesel ou querosene – para os clientes, que seriam os terminais, os mercados locais e a área de dutos. Aqui na Revap [Refinaria Henrique Lage] quem faz essa parte é o pessoal da transferência e estocagem. Assim, a função de técnico de operação acaba sendo bastante ampla, está presente na equipe do próprio refino, do tratamento. Dá um problema, ele vai até a área ver o que aconteceu com o equipamento. Ele trabalha na operação dos equipamentos em geral.
Por se tratar de uma área de trabalho meio perigosa, todas as empresas são obrigadas a ter, dependendo do número de funcionários, uma brigada de incêndio, o que hoje chamamos de Grupo de Controle de Emergências. Quando a gente chega aqui, participamos de todo um treinamento de pessoal. Mesmo trabalhando na minha área, específica de técnico de operações, eu fiz o curso e, hoje, faço parte da brigada da Revap. Fazemos treinamentos à parte e, numa situação de emergência, tanto um incêndio como um vazamento, a gente tem que atuar. Cada setor é obrigado a ter uma equivalência numa brigada; esta é composta por pessoas de todas as áreas. Participa o pessoal da transferência e estocagem, como também da destilação etc. No meu setor são duas pessoas que participam. É proporcional ao número determinado pela refinaria. De acordo com o número de pessoas necessário para compor a brigada, eles fazem um cálculo e chegam ao número de pessoas por grupo.
A primeira impressão quando eu cheguei aqui? Fiquei meio impressionado, porque quem vê de fora não sabe que aqui tem uma refinaria. Eu sabia que tinha, mas era uma coisa muito distante, não imaginava. Quando a se entra aqui é que vê a imensidão. Eu ficava pensando: "Será que eu vou saber para que serve esse monte de torre, esse monte de tubulação?”. No primeiro momento a gente fica meio espantado. Começamos a imaginar a partir de nossa experiência de fora; eu já tinha experiência de trabalho fora, tinha estudado, mas não fazia idéia do que era isso aqui dentro: é uma cidade que funciona 24 horas por dia. Quem entra aqui pela primeira vez fica um pouco assustado. Mas isso vira hábito, aos poucos começamos a conhecer, embora nunca se saiba nem metade. Todo dia se aprende. Com o passar do tempo perde-se um pouco do medo, pois a gente começa a trabalhar todo dia com aquilo, sempre aquela rotina. Mas quem está fora, mantém-se sempre um pouco receoso. Principalmente quando tem algum tipo de emergência: dá certo medo. O negócio é bem maior do que a gente imagina, mas vamos nos acostumando.
Pelo o que eu saiba, o carro chefe da Revap é o querosene de aviação. O tipo de petróleo que é processado aqui visa à produção de querosene de aviação, alguns outros, como talvez Viracopos. Nossa primeira meta é manter o querosene de aviação necessário para o funcionamento do aeroporto de Guarulhos, depois vêm os outros derivados, porque o mercado local é pouco, pequeno em relação à produção da refinaria. A refinaria trabalha em grande parte para exportar seus produtos; 80% da produção não ficam no mercado local. O cliente da Revap engloba até o sul de Minas, é um mercado bem extenso, mas seu carro chefe é o querosene de aviação.
A Revap é uma refinaria bem produtiva, apenas a Replan [Refinaria do Planalto Paulista] tem uma produção superior a nossa. Mas a planta da Replan é o dobro da nossa e o seu pessoal não produz o dobro do que a gente produz aqui. Eles não conseguem processar o dobro da carga que a gente processa aqui. Eles têm a Revap como um modelo de refinaria, por manter uma produção muito grande com uma planta enxuta, que não é tão grande assim, quando comparada com outras refinarias. Em carga de produção apenas a Replan nos supera, mas a Replan é o dobro de tamanho: tudo o que temos em um aqui, lá eles têm dois.
A Petrobras tem o programa de visitas que serve para o Brasil inteiro. O que acontece sempre é o pessoal viajar para ajudar nas Paradas. Estas são programadas nas unidades e acontecem a cada três ou quatro anos. Então tem muito isso: o pessoal sai daqui e vai, por exemplo, à Regap, para ajudar na Parada de lá, pois necessita de muita gente. Fora isso, tem alguns treinamentos. Existiam também os CATEs, Curso de Atualização de Transferência e Estocagem: pegava-se todo o quadro geral da TEs [Transferência e Estocagem] do Brasil inteiro e cada época o curso ocorria em um local diferente, seja uma unidade ou uma cidade sem refinaria. Eu mesmo fui pra Campinas, outros foram para o Rio de Janeiro, na Reduc [Refinaria Duque de Caxias]. Tem bastante isso das pessoas irem para fora fazer treinamento.
A Revap abastece desde o estado de São Paulo, interior do estado, incluindo a parte Oeste, até o sul de Minas Gerais. Toda aquela parte é a Revap que atende o mercado. Fora a parte de exportação: fazemos muita gasolina que sai por dutos e vai até o terminal de São Sebastião, onde é colocada em navios e transportada para África, para Nigéria.
Como a Revap é bem antiga, tem cerca de 30 anos, eu não era grande suficiente para saber [o que estava acontecendo, no momento de sua chegada]. Mas me lembro que o pessoal comentava muito, não sabia o que era uma refinaria, como muita gente ainda hoje não sabe. Muita gente ficou com medo. Quando a refinaria veio pra cá, não tinha bairro aqui perto, pelas fotos eu vejo. Hoje, a gente tem bairros bem próximos da refinaria. Eu acho que o pessoal foi perdendo o medo. Na época, eu acho que deve ter sido uma coisa inédita, muita obra acontecendo aqui dentro. Atualmente, a Revap passa por uma modernização e ampliação e existe muita mão-de-obra aqui dentro, o que dá uma mexida com a cidade. Imagino que, quando ela foi criada, deve ter causado um impacto bem grande, tanto na parte do comércio, de pessoas, como também com a curiosidade das pessoas: "Será que é perigoso ter uma refinaria na cidade?" O pessoal tinha muito esse medo; hoje, não tem tanto, também por causa da divulgação que a Revap faz com o pessoal dos bairros: explica, chama aqui pra dentro, informa quando tem os simulados, o que acontece quando toca uma sirene de emergência aqui dentro. Aos poucos o pessoal perde o medo.
Nessa última obra de ampliação, São José não tinha mão-de-obra qualificada. Tinha muita gente desempregada, mas não qualificada para esse trabalho. Em parceria com uma escola técnica aí fora, formou-se um grupo. O pessoal da Revap ofereceu curso técnico junto à Prefeitura, para o pessoal se especializar e trabalhar aqui. Não é um trabalho como outro qualquer. É uma área que envolve risco. A pessoa que vai trabalhar aqui dentro, com o equipamento, vai trabalhar com temperatura alta, pressão alta, com produto inflamável. Por isso foi preciso oferecer esse curso de capacitação, o que envolveu bastante o pessoal aí fora, que desejava uma oportunidade. Mas muita mão-de-obra precisou vir de fora, porque a cidade não tinha gente especializada suficiente.
A modernização começou há cerca de dois anos. Ela não amplia a capacidade de carga, continuaremos processando a mesma quantidade de petróleo. Porém ela veio para cumprir exigências da legislação e da qualidade de produtos. Ela vai produzir novas unidades pra tratar melhor os produtos. Por exemplo, o diesel vai ter uma especificação de enxofre menor, o que exige um tratamento melhor do produto. Outras unidades vão produzir outros produtos. Atualmente, a gente tem um produto que não tem um valor agregado tão alto. Pensa-se em tirar do mesmo produto, outros de valor mais alto. Algumas unidades já passaram por essa modernização e estão em funcionamento; essas unidades pegam o produto que não tem um valor alto, trata e faz todo um processo para tirar outros produtos com valor agregado mais alto. O resto seria essa parte de adequação, porque a legislação ambiental está cada vez mais rigorosa e a refinaria tem que se adequar.
A parte de meio ambiente é bem vasta. A Petrobras sempre se preocupa, principalmente por causa da sociedade. A gente tem um pessoal muito próximo da Refinaria e a legislação fica cada vez mais rigorosa. O pessoal aqui dentro tenta, por exemplo, emitir o menos possível de poluentes e descartar menos no rio. Teremos uma unidade nova de tratamento de águas, para reuso, ou seja, o que a gente tira do rio será tratado e jogado fora, essa água não voltará pro rio, voltará para o processo e será utilizado. A água é um recurso muito importante e vamos começar a pagar por isso. Esse interesse, além de ambiental, é econômico. Pagaremos pelo o que se pega e pelo o que se volta para o rio. Faremos essa parte de reuso de água, como comentei do diesel. Será tirado o máximo de enxofre para se adequar e se ter menos emissão de partículas de monóxido de enxofre e dióxido de enxofre. O processo de modernização das unidades faz isso, faz novas unidades para melhorar [esse quadro]. Ela tenta se adequar, cada vez mais, às legislações, aliás, ela está à frente da própria legislação e cumpre com todas as suas exigências. Ela pensa no futuro e prevê que a legislação ficará mais rigorosa, porque essas mudanças não é uma coisa que se faz da noite para o dia. Uma unidade nova leva dois ou três anos, dependendo do tamanho, para poder ficar pronta e envolve um custo muito alto. Por isso, a Petrobras trabalha nessa modernização. Algumas exigências foram já colocadas em operação, outras precisam ser feitas. Ela já faz tudo isso nesse pacote novo.
A Petrobras ajudou na construção de uma escola. Mantém parceria com uma escolinha, junto com as sociedades amigos do bairro. A Petrobras mantém esse contato direto. Caso o pessoal se interesse, tem esse programa aqui dentro. Eu acho que ela tem mais uma escola técnica que faz essas parcerias com uma incubadora tecnológica. Sempre têm associações com escolas, universidades, essas coisas assim.
No começo, quando se falou em crise, o pessoal ficou meio com medo: "Será que vão terminar [com o processo de modernização]? Será que não vão?" Até então eu vi que está tudo normal. No cronograma tem algumas coisas que devem estar um pouco atrasadas, não sei dizer. Mas não falaram em corte de verba para essa parte da modernização. Trata-se de um gasto previsto, um investimento previsto. Não se falou em cortes de verbas, pelo menos pra essa modernização eu não ouvi dizer.
O pré-sal, talvez por ser um pouco recente, anda não se fala muito por aqui. Ao menos pra mim não chegou informação se a gente vai ter alguma alteração nessa parte de produção. Não temos essa informação.
O que mudou foi o perfil do pessoal. Quando eu entrei aqui, há sete anos, fazia quase 20 anos que não entrava ninguém aqui, principalmente no nosso setor, na área de operação. Então, quando eu entrei aqui, eu e mais 28 pessoas, foi meio um impacto. O pessoal que já estava aqui dentro tinha uma rotina de trabalho. A maioria do pessoal que entrou aqui era relativamente nova – hoje, eu tenho 30 anos, mas quando eu entrei aqui tinha 24 anos, saindo da faculdade. O pessoal ficava: "Pô, agora vem essa rapaziada nova aí, querendo dar opinião." A gente chega com aquela vontade de sempre buscar o melhor, dar opinião, ver a melhor maneira de se fazer. Às vezes, quem está ali não tem uma visão de quem vem de fora. Eu vi que mudou bastante. Talvez tenha sido um pouco difícil, tanto para o pessoal que já estava aqui, quanto para nós. Para o pessoal que veio depois de mim, mais novo, já foi mais fácil, porque a gente já estava aqui. Eu pude passar para eles: "Isso aqui é assim, isso aqui é assado", pude mostrar como era o caminho das pedras. Quando eu entrei, o mais novo tinha entre 37 e 40 anos, com 15 ou 20 anos de empresa. Eu senti um pouco de dificuldade, por não ter aquela troca de experiência. O pessoal falava, mas não no meu linguajar, de um jeito mais fácil. O pessoal ficou meio com o pé atrás, com a gente. Acho que esse perfil mudou. A Petrobras contratou muita gente nesses últimos anos, e eu vi que o perfil mudou. Quando eu entrei, eu era a minoria: da minha idade só tinha eu no grupo, a maioria era com 35, 40 ou 50 anos. Hoje, eu já ensinei para quatro pessoas, o que aprendi em seis anos aqui dentro. Vejo a cara das pessoas no grupo e percebo que a média de idade caiu bastante. Ficou mais fácil para quem está chegando hoje. Mudou tanto a média de idade, quanto o jeito do pessoal mais velho. Eles trataram comigo de certa forma e, agora, perceberam que também nós viemos para contribuir e não para disputar cargos. Viemos para somar.
Há muito tempo atrás, devia ter esse negócio de concurso interno, hoje, tudo se dá por concurso público. As oportunidades que são dadas no setor não diferenciam um engenheiro de um com outra formação. Ocorre é que cada um tem a sua área específica, porque dentro do setor existem funções diferenciadas. Por exemplo, um trabalha com a parte de faturamento, outro com a parte de operação, outro já vai pra parte de manutenção, outro para a parte de auditorias. Essa mudança pode ocorrer, mas se eu quiser passar pra engenheiro aqui dentro, eu tenho que fazer outro concurso aí fora, disputar com todo mundo aí fora. Não tem nenhuma facilidade. Aqui não tem concurso interno. Hoje, a Petrobras tem uma sistemática um pouco diferente, ela desvinculou esse negócio de cargo e função. Então a pessoa hoje tem certo cargo, mas pode exercer uma função diferente. Eu posso, por exemplo, exercer uma função de gerente aqui dentro; nada impede, tanto que o nosso gerente de setor começou como técnico de operações, assim como eu. Não precisa ter terceiro grau pra ser gerente. Só que isso não é em forma de concurso, é com o desempenho da pessoa.
Desde quando entrei na companhia, sou filiado ao sindicato de petroleiros de São José. Participo assim como todo mundo aqui dentro costuma participar. Vamos às reuniões, participamos das assembléias na porta da refinaria. Participei de greves. Certa vez, fiquei preso aqui dentro. Como trabalhamos de turno, durante as greves, estamos sujeitos a ficar lá fora ou ficar aqui dentro. Infelizmente, foi onde nos pegou de calça curta. A gente estava aqui e, como o pessoal não entrou na rendição, ficamos aqui dentro por dois dias. Há muito tempo atrás foi criado uma federação, a Federação Única dos Petroleiros [FUP]. Ela foi criada pra representar os sindicatos na hora das negociações com a Petrobras. O sindicato ficou todo esse tempo vinculado à Federação, que respondia pela categoria, até que mudou a direção sindical e o pessoal optou por não fazer parte mais dessa federação, da FUP. O pessoal decidiu se desfiliar da FUP e seguir por conta própria. Disseram que a FUP não representava bem a nossa categoria junto à Petrobras, que os anseios que a gente colocava aqui não eram os mesmo colocados em pauta lá. O sindicato aqui se juntou a outros sindicatos e formaram outra federação, que não existe ainda, mas que se chama FNP, Frente Nacional dos Petroleiros.
Lembrei uma história engraçada, ocorrida com um rapaz que hoje é presidente do sindicato. Temos aqui os simulados de emergência, realizados nas quintas-feiras, dentro do possível. Teríamos um simulado no terminal, no Tevap, que usaria o conjunto autônomo, a capa contra incêndio; hoje é uma roupa, um macacão até pesado. Eu ainda não era brigadista, apenas fazia treinamento em área, os acompanhava. Quando temos os simulados em dia de semana, participam tanto o setor diretamente envolvido, como as outras gerências, de comunicação, gerente geral etc. Todo mundo assisti o simulado de emergência, para ver como o pessoal reage. O rapaz que estava comigo tinha tido um dia bem complicado e não havia se inteirado sobre o simulado de emergência. A sirene já tinha tocado e a gente fazia uma manobra que não tinha como largar, por isso chegamos um pouco atrasados. Ele viu o pessoal usando o cilindro de oxigênio, o conjunto autônomo de oxigênio, e resolveu vestir o conjunto autônomo e a capa por cima. Mas ele não conseguiu abotoar a capa, porque o correto seria colocá-la primeiro e o conjunto autônomo viria por cima dela. Então ele ficou com uma corcunda. O pior foi o vexame, porque o nosso setor era esperado para o simulado e aparece justo o rapaz, tentando encaixar o conjunto e andando com o conjunto debaixo da capa. Foi um negócio bem engraçado, todo mundo começou a dar risada; nosso gerente não sabia onde colocar a cara, porque o rapaz era o brigadista do setor, aquele que deveria fazer tudo certinho. O técnico fez a maior presepada, porque ele chegou atrasado e entrou correndo no meio do pessoal que não agüentou e começou a dar risada. Foi uma história bem engraçada que eu lembrei aqui. Depois, lhe demos o apelido de dromedário, do corcunda de Notre-Dame. O episódio foi lembrado por muito tempo. O pior foi ver a cara do gerente, a vontade dele era pegar o cara e apertar o pescoço. Mas ele viu que não era de propósito. Ele viu que o cara chegou atrasado, na pressa, querendo vestir a capa junto com o conjunto. Foi sem querer
Ser petroleiro é estar aqui dentro, nessa cidade e nesse mundo que a gente vive. Acaba sendo mesmo um mundo, uma cidade à parte. Temos uma família aqui dentro. O pessoal do meu grupo é a minha família aqui dentro; talvez eu os veja até mais do que a minha própria família lá fora. Trabalhamos em revezamento de turnos, por isso já passei o Natal e o Ano Novo aqui dentro. Trabalho feriado, sábado, domingo, trabalho à noite. Ser petroleiro é isso, é ter a empresa como quase a sua segunda casa. O tempo que se passa aqui dentro acaba por ser bastante grande e, às vezes, não é nem pelo espaço de tempo, mas sim pelas datas passadas aqui. É um negócio bem interessante, cada grupo acaba sendo uma família, pelos laços que se criam.
Foi uma surpresa para mim quando recebi o telefonema dizendo que eu tinha sido escolhido. É interessante, porque tem muita gente aqui dentro que tem experiências grandes e só essas pessoas podem contar. Hoje, conto a minha história e, no futuro, talvez daqui a 20 ou 30 anos, isso vai servir, será um memorial, ficará como material pra ser usado. É bastante interessante. Não sei como começou a Revap, quem pode contar são as pessoas que estavam aqui na época: acho que são poucas. É legal ter e disponibilizar essa informação. Às vezes, o pessoal traz fotos e a gente dá risada: "Pô, você tinha cabelo", "Você era magrinho". É bem interessante ver como era aqui antigamente, é legal.
Não sei se é sorte. Estou aqui há 7 anos, já ocorreram algumas emergências, até de grande proporção, mas foram todas controladas, sem vítimas. Graças a Deus, durante todas essas ocorrências, eu estava de folga, inclusive, em duas delas, eu tinha trocado com um colega, por problemas de faculdade. Foi um pouco de sorte não estar aqui dentro nessas ocasiões. Nunca estive aqui dentro numa situação de emergência e, portanto, nunca precisei atuar.
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