IDENTIFICAÇÃO Meu nome é José Maurício Christovão Pinto. Nasci a 28 de fevereiro de 1953, em Nova Iguaçu, Estado do Rio de Janeiro. EDUCAÇÃO / FORMAÇÃO Sou engenheiro civil, formado pela Universidade Federal Fluminense. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Trabalho desde os 19 anos. Durante a faculdade dava aulas em cursinho, como também fiz vários estágios. Fazia fotografia de casamentos e festas de criança. Fiz censo para o IBGE e uma série de atividades antes de sair da faculdade. Meu primeiro emprego como engenheiro foi em uma obra em Cabo Frio; fiquei cerca um ano e meio. INGRESSO NA PETROBRAS Fiz o concurso da Interbrás, mas, por alguns problemas, o escritório em Cabo Frio foi fechado. O programa da Interbrás foi encerrado e toda a turma aprovada no concurso foi defenestrada. Conseguimos marcar uma entrevista com o Shigueaki Ueki no último andar do Edise [Edifício Sede da Petrobras]. Era um homem muito calmo, tranqüilo, usava um Rolex branco de algarismos romanos e estava sentado a uma mesa bonita e grande. Ele nos disse o seguinte: “O Decom, Departamento Comercial, vai abrir um concurso para 20 pessoas, como vocês já são em 11 concursados e aprovados, vou aproveitar o cadastro de reserva da Interbrás para completar a turma.” Assim foi feito. Por alguns meses, fizemos visitas técnicas e começamos o curso em dezembro de 1982, concluído em agosto de 1983. Fiquei mais alguns meses no Edise. O curso era de Comércio e Suprimentos, voltado para o profissional da área do Decom – Departamento Comercial. Hoje, este curso chama-se Colog, Comercialização e Logística, e serve tanto à área de MKC, Marketing de Comercialização, quanto à área de Logística. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Fui trabalhar em São Paulo, onde fiquei três anos. Fui o primeiro da minha turma a conseguir uma chefia: muito mais devido à condição geográfica do que por mérito, pois minha turma era...
Continuar leituraIDENTIFICAÇÃO Meu nome é José Maurício Christovão Pinto. Nasci a 28 de fevereiro de 1953, em Nova Iguaçu, Estado do Rio de Janeiro. EDUCAÇÃO / FORMAÇÃO Sou engenheiro civil, formado pela Universidade Federal Fluminense. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Trabalho desde os 19 anos. Durante a faculdade dava aulas em cursinho, como também fiz vários estágios. Fazia fotografia de casamentos e festas de criança. Fiz censo para o IBGE e uma série de atividades antes de sair da faculdade. Meu primeiro emprego como engenheiro foi em uma obra em Cabo Frio; fiquei cerca um ano e meio. INGRESSO NA PETROBRAS Fiz o concurso da Interbrás, mas, por alguns problemas, o escritório em Cabo Frio foi fechado. O programa da Interbrás foi encerrado e toda a turma aprovada no concurso foi defenestrada. Conseguimos marcar uma entrevista com o Shigueaki Ueki no último andar do Edise [Edifício Sede da Petrobras]. Era um homem muito calmo, tranqüilo, usava um Rolex branco de algarismos romanos e estava sentado a uma mesa bonita e grande. Ele nos disse o seguinte: “O Decom, Departamento Comercial, vai abrir um concurso para 20 pessoas, como vocês já são em 11 concursados e aprovados, vou aproveitar o cadastro de reserva da Interbrás para completar a turma.” Assim foi feito. Por alguns meses, fizemos visitas técnicas e começamos o curso em dezembro de 1982, concluído em agosto de 1983. Fiquei mais alguns meses no Edise. O curso era de Comércio e Suprimentos, voltado para o profissional da área do Decom – Departamento Comercial. Hoje, este curso chama-se Colog, Comercialização e Logística, e serve tanto à área de MKC, Marketing de Comercialização, quanto à área de Logística. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Fui trabalhar em São Paulo, onde fiquei três anos. Fui o primeiro da minha turma a conseguir uma chefia: muito mais devido à condição geográfica do que por mérito, pois minha turma era muito boa. Meu chefe era um japonês, Sussumo Hirata, já aposentado; eu me dava bem com ele. Era uma pessoa boa, mas, por um problema de linguagem brusca, muitas vezes, o japonês passa por grosso, embora não seja. Ele não dizia: “Você podia ver isso aqui?” Era mais comum dizer: “Pega isso para mim” Os japoneses falam assim, mas não significa que sejam bruscos, é a forma de se comunicar. No dia primeiro de janeiro de 1986, quando meu chefe e meu subchefe se aposentavam, a secretária veio me perguntar: “Preciso do seu nome completo e número da sua matrícula?” Eu a informei e perguntei: “Nada a comentar? Vocês estão me demitindo?” No outro dia, o Sussumo veio com uma portaria do Decom que me nomeava chefe interino do Setor, sem ter me perguntado. Eu disse: “Sussumo, não estou entendendo?” Naquele jeitão, ele me disse: “Eu não queria botar você, mas não tinha outro.” Não era muito sutil, nem estimulante, certamente não acompanhava nenhuma técnica moderna de motivação funcional. Mas depois Sussumo se encantou comigo, porque sou uma pessoa muito simples. COTIDIANO DE TRABALHO Eu aprendi muito com o meu antecessor, Valdemar Belo, primeiro chefe na Petrobras. Era uma pessoa muito formal, tudo deveria ser escrito e enviado por Telex – a internet ainda não tinha sido inventada. Ele dizia: “Palavras, o vento leva.” Quando eu assumi o cargo, chamei os coordenadores de companhias de gás e combustíveis – o coordenador representa um grupo de companhias no relacionamento com a Petrobras, embora seja funcionário de apenas uma delas. Eu os chamei e lhes disse: “O negócio é o seguinte: a palavra de vocês vale, quem sai disso está morto.” Eu sei falar com as pessoas, portanto passamos a usar muito mais a palavra, até porque eu tinha a mão na torneira, podia fechar quando quisesse. Eles eram muito responsáveis e eu não tive nenhum problema. A minha gestão foi beneficiada pelo Plano Cruzado, porque não havia aumento de preço. Hoje em dia as pessoas não sabem disso, mas era uma verdadeira guerra da Petrobras com os clientes que queriam aproveitar os períodos inflacionários para aumentarem seus ganhos. Eles mudavam a quantidade de produtos que deveriam entregar, de acordo com a inflação. Mas em 1986, veio o Plano Cruzado e isso acabou. Eu trabalhava na Coordenação Regional de São Paulo que tinha três setores: um de álcool, um de combustível, no qual eu estava, e o outro de logística, que comandava a programação dos diversos dutos de São Paulo. São Paulo tem a maior malha de dutos de combustível do Brasil; são quatro refinarias interligadas por dutos. Eu trabalhava no Setor de Suprimentos Derivados; cuidava da parte de cotas, verificava se os faturamentos feitos pelas refinarias estavam dentro da cota da Companhia. Era tudo feito à mão, existiam alguns mapas grandes, nos quais anotávamos os litros. Utilizávamos calculadoras grandes. Somávamos todos os dias, produto por produto, companhia por companhia. Ficávamos naquilo o dia inteiro. POLÍTICA DE PETRÓLEO Havia pouquíssima autonomia. Até mesmo a Petrobras era controlada pelo antigo CNP [Conselho Nacional de Petróleo], depois pelo DNC [Departamento Nacional de Combustíveis]. Hoje, temos a abertura do mercado, com a nova lei do petróleo e quebra do monopólio, mas naquela época éramos praticamente um órgão do Governo. Havia regras rígidas. O mais engraçado disso tudo era que não havia contratos. As distribuidoras, a Shell, a Esso e todas elas foram e são nossas clientes, mas não se tinha contratos. Tudo funcionava a partir de pedidos. Hoje, não existe um cliente na Petrobras sem um contrato. As companhias eram grandes, existiam antes da Petrobras, que apareceu e começou a fornecer os produtos, porque tinha o monopólio de tudo: importação e transporte do petróleo e seus derivados. As distribuidoras mandavam seus pedidos à Petrobras, aprovados pelo DNC, seguindo um regime de cotas. Era uma coisa bastante rígida. Todo mês, em Brasília, vários representantes da Petrobras e das distribuidoras, os coordenadores das companhias, inclusive da rede ferroviária, da Fepasa [Ferrovia Paulista S.A.], constituíam uma assembléia imensa, cerca de 80 pessoas reunidas em uma sala no antigo CNP. Quando me mudei para o Rio, participei dessa reunião. Negociava-se todo o suprimento do Brasil, todas as transferências que seriam feitas por ferrovias etc. Quando a Petrobras não entregava no pólo previsto, ela bancava essa transferência. Tudo isso acarretava um jogo de fretes, acertados em Brasília. Por anos foi assim. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Depois de São Paulo, voltei para o Rio. Passei um breve período em Recife, na Gerência de Álcool, mas como não me adaptei muito bem, pedi para voltar. Fiquei na Gerência de Álcool mais um ano e fui para a Gerência de Planejamento, em verdade chamava-se Divisão de Planejamento, Diplan. Depois fui para Dicomb, Divisão de Combustíveis; meu chefe também japonês, Suzushi Fukugawa, grande técnico inclusive, sentia-se muito mal com o ar seco de Brasília, seu nariz sangrava. Portanto, nos meses de inverno, eu o representava em Brasília. Cansei de coordenador reuniões do DNC e do CNP. GOVERNO COLLOR Logo que o Collor assumiu a Presidência da República, ele acabou com o antigo CNP, acho que depois dele foi criado o DNC. O problema não é acabar com algo, o problema é encerrar um sistema funcionando e não substituí-lo por outro. Estávamos na Petrobras e o pessoal comentava: “Agora, o que a gente faz?” Os representantes das companhias vieram à Petrobras, porque não sabiam para onde ir. Começou a juntar toda aquela gente e eu falei: “Quem vai coordenar isso?” Um funcionário, talvez da Atlantic, me falou: “Você coordena” “Eu?” Eu era da Divisão de Combustível. Fizemos a nossa primeira reunião com todas as companhias e descobrimos que tal reunião era absolutamente desnecessária, porque o Collor, embora tivesse feito de uma forma brusca, ele tinha razão. Aliás, nunca pensei em dizer essa frase: “O Collor tinha razão.” Ninguém erra totalmente. Ele falou daquelas carroças e, hoje, temos carros importados: graças a ele. No final, ele ajudou na melhoria da qualidade de uma série de artigos. Percebemos que não precisava da tutela do Governo, embora, posteriormente, tenha sido criado o DNC. QUEBRA DE MONOPÓLIO Fiquei quatro anos nessa Divisão de Combustível. Fui chamado para um grupo informal, porque a Petrobras começou a perceber a necessidade de se voltar mais para o cliente. Havia ameaças de abertura e era preciso ficar mais atento ao mercado. O comércio foi nossa oportunidade; nada aconteceu com a Petrobras, ela cresceu ainda mais. Em 1988, quando eu estava na Diplan – Divisão de Planejamento, eu havia dito que se podia abrir o mercado. Vinte anos depois, comprovei que estava certo. Tínhamos dez refinarias instaladas e o domínio do mercado. Ou seja, para alguém nos deslocar deveria gastar tanto dinheiro que não seria viável. A nossa posição era muito confortável. Foi o que aconteceu, o monopólio está quebrado há alguns anos e ninguém entrou como concorrente. O Brasil é um mercado relativamente pequeno em termos mundiais, temos um mercado de dois milhões de barris por dia. Quem virá atacar aqui no Atlântico Sul, fora da rota? Não tem sentido deslocar a Petrobras, hoje, com o custo que ela tem. Está tudo pago; as refinarias estão pagas há anos. Abriu-se o mercado e continuamos hegemônicos. Quem se deu mal, e isso era previsto, foi a Ipiranga e a [Refinaria de] Manguinhos, porque a Petrobras vendia petróleo a um preço subsidiado; quando abriu o mercado, elas perderam o guarda-chuva da Petrobras e não sobreviveram por muito tempo. Isso foi em 1994. A Petrobras sempre foi tida como uma empresa de postura um tanto arrogante; muito técnica, muito grande, mas também muito fechada. Felizmente, algumas cabeças dentro da Petrobras perceberam a importância de abrir-se mais para o mercado, de ouvir mais o mercado. Fui convidado por algumas pessoas para compor este grupo; era uma coisa meio informal, mas com carta branca do superintendente, o que seria hoje o gerente executivo. Como eu estava a quatro anos na Divisão de Combustíveis, queria mudar, mas meu chefe não queria me liberar. Acho que ele ficou até meio chateado, porque os gerentes foram chamados na sala do superintendente que disse: “Esses aqui não estão mais com vocês.” Fizemos uma espécie de tropa de choque para começar a entender do que se tratava esse tal mercado, para saber o que é marketing. Fizemos cursos e tivemos alguns consultores, sendo um dos primeiros consultores de marketing a Maria Lúcia Zülzke que tinha sido da Rhodia. A convite meu, ela realizou uma das primeiras palestras sobre marketing na Petrobras. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Em primeiro de agosto de 1996 foi criado o Abastecimento. Eu chamo de “dia do elétron livre”, porque as pessoas podiam ir para onde quisessem, desde que tivessem convites. Eu tinha quatro convites, mas alguns colegas tinham 11, rapazes mais enquadrados. Com o Abastecimento foram criadas novas gerências [que estavam compondo suas equipes]. Aquele grupo de marketing acabou e foi criada em seu lugar a Gerência de Marketing, [para onde seria natural que eu fosse]. Mas achei que já tinha dado a minha contribuição e me perguntei: “O que vai crescer muito e que ninguém está olhando?” Pensei na nafta-petroquímica e liguei para a gerência que cuidava desta área. Disseram-me: “Estávamos pensando em você.” Fui e estou nesta área há 12 anos, o que ajudou muito à minha carreira. Fui da primeira leva de consultores de negócios e da primeira leva de consultores sênior. NAFTA-PETROQUÍMICA Nafta-petroquímica era um produto da Divisão de Produtos Especiais, um produto da faixa da gasolina, líquido, clarinho, transparente e está em tudo o que usamos hoje. Se não fosse a nafta-petroquímica eu nem estaria aqui sentado, porque esta cadeira não existiria. Sempre digo para meus alunos do Colog: “Se não fosse a nafta-petroquímica estaríamos todos pelados e sentados no chão.” Essa bolsa, essa mala, a sola do sapato, tudo desapareceria sem a nafta-petroquímica. A roupa é de algodão, mas a linha é de poliéster, portanto a roupa desmancharia sem este produto. Não vou nem falar na lingerie que é toda de sintético. Enfim, a nafta-petroquímica está em tudo hoje, nos carros e tudo o mais; ela deu origem a todos os plásticos, resinas etc. Dentro da Divisão de Comercialização existia um setor para este produto, mas com pouca ênfase, porque era subsidiado. Foi com a abertura do mercado que esse produto atingiu preços de mercado e eu pude estar na linha de frente, o que foi importante para minha carreira. Meu mérito foi apenas ter visto qual onda eu surfaria, visto que sou um bom analista de tendência. Pensei em mim, confesso. Trabalho na Petrobras e brigo pela empresa, às vezes levo bronca da minha mulher, porque nas férias fico vendo navio passando e digo: “Esse navio é de nafta.” Não é que eu não me desligue nas férias, me desligo bastante, mas não resisto não olhar os navios. No caso da Nafta, ela tinha uma gerência que cuidava disso, mas eu botei bastante ênfase nela, porque não era um produto ainda, não tinha um defensor. Eu e a Rita Mattos, engenheira que trabalha comigo há muitos anos, formamos uma “dupla de vôlei de praia”. Eu gosto de jogar na rede, meu negócio é porrada, mas ela me dá total cobertura. Durmo tranqüilo, porque sei que ela está no fundo da quadra me cobrindo. Formamos uma dupla há muito tempo, ela é uma pessoa bastante centrada e eu já deliro mais um pouco. NAFTA-PETROQUÍMICA/ COMPANHIAS As petroquímicas se ampliaram em degraus, em patamares. É um mercado muito estável. A primeira petroquímica foi a União, bem antiga, tem mais de 30 anos. A segunda petroquímica, nos anos 1970, foi a Copene [Petroquímica do Nordeste S.A.], adquirida pela Braskem. No início dos anos 1990, veio a Copesul [Companhia Petroquímica do Sul]. Cada vez que uma planta dessas entrava em funcionamento, ocorria um pulo no consumo. O [Pólo Petroquímico de] Camaçari é dos anos 1970, também pertence à Braskem, foi nosso primeiro cliente. Houve um grande agrupamento dessas companhias. As petroquímicas nasceram nos moldes do chamado tripartite: um sócio privado estrangeiro, geralmente detentor da tecnologia, um sócio privado brasileiro, um capitalista brasileiro qualquer, e, geralmente, a Petrobras. Por isso foi criada a Petrobras Química, a Petroquisa. Uma coisa que eu não gostei foi que o Collor mandou a Petrobras vender suas participações maiores; acho que isso foi em 1992. Tínhamos 65% da PQU [Petroquímica União S.A.], 30% da Copene e da Copesul. Ele mandou botar no mercado a maior parte das nossas ações, ou seja, ele queria privatizá-las. A Petrobras se retirou e esperou por vários anos uma chance para voltar. O consumo dos combustíveis é vegetativo, acompanha o PIB e a população; a gasolina sofre uma concorrência muito forte do álcool. O diesel é em grande parte importado; a Petrobras produz a maior parte, mas em épocas de safra-agrícola, de outubro a novembro, uma quantidade muito grande de diesel é importada, principalmente para o Centro-Sul que tem a agricultura mecanizada. Portanto, temos que fornecer diesel tanto para as colheitadeiras, quanto para os caminhões que, infelizmente, no Brasil, freta 70% da nossa carga: nossa desgraça, porque somos obrigados a manter uma quantidade enorme de diesel. Enfim, a Petrobras tinha interesse em voltar para a área petroquímica e voltar de outra maneira na cadeia petroquímica, porque existe uma cadeia de empresas. Existe a central petroquímica chamada de Primeira Geração, onde se tortura as moléculas e obtêm-se os petroquímicos básicos: eteno, propeno, benzeno etc. Tem a Segunda Geração que faz os produtos de resina: o plástico, o polietileno, o polipropileno e outros produtos. Tem também o transformador, aquele que compra a resina para fazer os objetos. Em linhas gerais é isso: um cara compra a matéria-prima da Petrobras, faz o petroquímico básico, passa para a segunda geração que faz as resinas e outros produtos químicos e passa para o transformador que fará os produtos para o consumidor final. Enfim, essa é a chamada cadeia petroquímica. A Petrobras era meramente um vendedor de matéria-prima. Com esses últimos movimentos do ano passado, a Petrobras se tornou um ator mais importante. Mas é preciso voltar um pouquinho. Quando houve a privatização feita pelo Collor, saiu gente de tudo o que é lado comprando ações e os acionistas tornaram-se acionistas de si mesmo. Criou-se um feixe que parecia uma macarronada enlouquecida, o que gerou uma perda de escala. Hoje, para ser competitivo precisa ter escala. Se não tiver uma petroquímica grande e forte, o negócio está morto. Sem escala não tem competitividade. Começaram os movimentos de mudança de participação acionária, quase de saneamento, era uma coisa muito louca. Não pode haver uma companhia com 15 donos; é preciso haver um majoritário que defina o rumo, a estratégia da companhia. A Petrobras fez uma série de movimentos em 2007 e 2008, comprou a Suzano e a colocou como dote para criar a Quattor. Antes disso, a Petrobras tinha comprado, com o Grupo Ultra e a Braskem, a participação da Ipiranga. Em acordo, a Ipiranga Petroquímica ficou com a Petrobras e a Ipiranga Distribuidora ficou com o Grupo Ultra. Portanto, hoje temos 30% da Braskem e 40% da Quattor, os dois principais atores da indústria petroquímica brasileira. Temos ainda a Riopol, Rio Polímeros, uma empresa petroquímica que trabalha com gás. Assim, a Petrobras participa da parte mais lucrativa, que não é a primeira geração, mas a segunda geração. Esse mercado petroquímico divide-se entre as empresas que trabalham com gás e aquelas que trabalham com nafta. No primeiro caso, o preço segue o mercado americano, onde o gás é mais forte para a petroquímica; no segundo caso, o preço acompanha o mercado europeu. Todo mês verificamos como o mercado se comportou e fazemos um novo preço que pode subir ou baixar. Esse mês [novembro de 2008] o preço caiu bastante. Hoje, somos bem alinhados com o mercado internacional. Minha gerência trabalha só com o mercado interno. Exportar é muito difícil, geralmente o Brasil não produz toda a nafta que precisa; a Petrobras importa um pouquinho para complementar, mas quem importa a maior parte da nafta são as próprias centrais. A Petrobras era obrigada a atender todo o mercado, mas com a abertura em fevereiro de 2000, concretizada em 2002, a importação dos derivados foi liberada, portanto as próprias empresas podem importar, sem o intermédio da Petrobras. O Brasil talvez produza dois terços do consumo. MERCADO / PREÇO O bom é que sempre temos mercado para nossa nafta. Vendemos a um preço justo, alinhado com o mercado internacional, com a vantagem de não precisar pagar frete de importação. Nossos grandes fornecedores de nafta são a Argentina e a Nigéria, alguma coisa vem do Mediterrâneo. Isso porque a nafta argentina está longe do mercado europeu e americano, portanto, nós somos o único mercado deles. Para a Argentina vender no mercado americano, gastaria um frete imenso, enquanto o Brasil está ao lado, é rapidinho com o navio. O produto vale não só pela cotação, mas também por onde ele está. Muitas vezes, ouvimos bobagens em jornal, muita reclamação de preço. A Petrobras constrói seu preço a partir do mercado mais representativo daquele produto em nível internacional, mas comprando de nós, evita-se o frete, o que é muito mais razoável. O cliente chora muito e estamos acostumados. Nossos clientes são como o povão que reclama do preço da gasolina, mas não reclamaram quando o petróleo estava a 150 dólares e a Petrobras bancou a diferença. A nafta é vendida apenas para a indústria, não tem um impacto imediato, porque metade da inflação é psicológica. O seu Toshiro Mifuri, feirante em Itaquaquecetuba, toda semana bota alface e tomate na caçamba de sua Toyota e vai para o Ceasa, em São Paulo. Se o diesel aumentar 20%, o Toshiro aumenta 20% no valor do tomate. Toshiro não tem planilha de custo. No Brasil é assim. Se a gasolina corresponde a 10% do seu custo, um aumento de 10% na gasolina corresponderia um impacto real de 0,1% sobre seu custo, mas as pessoas não pensam assim. Tudo fica mais caro. Mas é claro que existe uma série de justificativas, dizem que é culpa da Petrobras. Não sei por que não se aumenta o preço da gasolina com essas oscilações todas. Tem milhões de justificativas, quem cuidar da gasolina que dê a sua. Acho que o Governo mandou: “Você não vai aumentar o preço.” Tanto que o preço da gasolina e do diesel não move grandes variações há dois anos, enquanto aconteceu o diabo com o petróleo lá fora. O GLP [Gás Liquefeito de Petróleo], porque é de cunho social a mamãe Petrobras banca, há não sei quantos anos não se aumenta o preço. ESTRUTURA DA PETROBRAS A Petrobras deu uma modernizada grande. Acho que sumiu o nível hierárquico. Antes, tinha-se o superintendente, os superintendentes adjuntos, os chefes de divisão e os chefes de setor. Hoje, temos o gerente-executivo, os gerentes-gerais e os que eu chamo de gerentinhos. Ou seja, sumiu um dos níveis hierárquicos, o superintendente adjunto. O então chefe de setor ganhava muito pouco pela função. A primeira coisa que fizeram foi valorizar o gerente que teve um acréscimo bastante razoável no salário. Fizeram também a chamada carreira em Y para aqueles que se destacam, mas não têm perfil gerencial. Eu, por exemplo, prefiro pesquisar, prefiro descobrir a solução das coisas a ficar lhe dando com funcionário. O gerente ganha bem, mas tem uma vida complicada, difícil. Por exemplo, é muito fácil chegar ao funcionário que não teve um bom desempenho e dizer: “Você não vai ser promovido”, mas é difícil chegar para dois funcionários que tiveram excelentes desempenhos e dizer que um será promovido e o outro não. Neste ano em que trabalharemos com apenas 30% da verba, é muito difícil ter que escolher um em três para a promoção. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Eu sempre me envolvi em projetos interessantíssimos na Petrobras; sempre fui muito curioso. Sou igual a uma criança, me chamam para uma coisa diferente e eu pulo na frente para ver o que “diabos” acontecerá. Eu vivi grandes fracassos, como o diesel parafínico, o bunker ferroviário e outros produtos fracassados, mas eu aprendi muito com isso. Então existe essa carreira em Y que é o que eu queria ser, esperei muito tempo por isso. Fui consultor de negócios e, hoje, sou consultor sênior da Gerência de Comércio Interno de Nafta e de Matérias-primas Industriais. Tenho uma gerente, Rosane Piras Lodi, e mais oito pessoas que compõem a equipe. Dizem que consultor sênior é uma forma de retenção de talentos, que ele detém um notório saber; não tenho essa pretensão, não sou modesto, mas também não tenho essa pretensão toda de notório saber. Eu conheço bastante o meu metier. Tenho muita experiência nessa área de petroquímica. As pessoas sempre me perguntam muita coisa e eu confesso que gosto de responder, sou meio exibido, gosto que me perguntem coisas. CRISE FINANCEIRA MUNDIAL / 2008 O mercado está doido, muito preocupado, as cotações estão muito voláteis. Eu tirei duas semanas de férias e levei um susto quando me falaram o preço da nafta. O preço caiu pela metade em menos de um mês; estava cotada em 800 dólares a tonelada e chegou a 400. O câmbio subindo e a cotação descendo, o preço final em reais caiu, apesar de o dólar ter valorizado muito. O dólar valorizou cerca 20% e a nafta caiu 50%, temos no final uma queda de mais ou menos 30% no preço. A nafta chegou a custar mais de mil dólares a tonelada, porque o preço dos derivados sobe junto com o do petróleo, mesmo que não haja uma correlação direta. Mas não quer dizer que seja imediato, pode haver um descolamento, porque tem um negócio chamado margem de refino. Milhares de fatores interferem no valor da margem: questões de mercado, escassez na oferta, refinaria que pega fogo, inverno europeu e americano rigorosos, poucas vendas de carros no verão, especulação. Toda vez que o [presidente americano George W.] Bush colocava a mão na arma e queria invadir o Irã, o preço do petróleo subia. Mas ninguém esperava que o preço fosse a 150 dólares. Não há explicação, é muita especulação. Os americanos precisam do petróleo estrangeiro, porque consomem muito mais do que produzem, embora sejam grandes produtores. Eles estão no Golfo do México, no Alasca; se viram para reduzir essa dependência. Como são muito ligados ao Oriente Médio, criaram esta balela de invasão do Iraque. Eu posso garantir que se o Iraque plantasse rabanete ou beterraba, poderiam invadir o Kuwait quantas vezes quisessem que os Estados Unidos não iriam lá defender democracia. Estão lá para pegar petróleo. A mesma coisa no Afeganistão, é uma rota importante para passar o oleoduto. Dizem que petróleo é uma commodity, eu tenho uma teoria muito diferente: o petróleo é o sangue da terra, petróleo derruba Governo, mata gente. IMAGEM DA PETROBRAS Sinto muito prazer por trabalhar na Petrobras, mas não tenho ilusões. O petróleo é um negócio de cachorro grande, é preciso tomar muito cuidado. Se não fosse a Petrobras, posso garantir, o Brasil estaria muito pior do que está. A Petrobras é muito simples, ela tem competência e persistência. A maior parte dos petroleiros só pensa em suprir o país. Esse negócio da auto-suficiência, nós perseguimos há muitos anos. Tem petróleo em lugar que ninguém consegue furar: a dois mil metros de lâmina d’água, o que corresponde a dois quilômetros. Chegamos a este resultado porque dedicamos uma baba de dinheiro, todos os anos, no Cenpes, naquele celeiro de craques que nós temos, onde até a mulher do cafezinho tem Ph.D. Isso porque quando se investe em tecnologia e há persistência, obtém-se resultados; é simples e matemático. A Petrobras tem essa vantagem de ser coerente com seus propósitos; no longo prazo se consegue resultados. O grande problema que eu vejo no Brasil é que as ações são erráticas, não existe constância. A Embrapa é outra empresa que está na linha de excelência, porque há anos faz a mesma coisa. Eu realmente temi pelo futuro da Companhia na época do Collor, porque ele veio com um discurso que levaria à privatização. Não temia a abertura, porque as duas refinarias privadas, juntas, nunca passaram de 5% de gasolina e diesel. Nenhuma dessas empresas jamais fez querosene de aviação. Não era este o problema, eu temi mesmo pelo futuro da Companhia. Eu gosto da Companhia. Apesar de todas as críticas que se possa fazer, ela é um patrimônio do povo, do Brasil. Não vejo problema no fato da Petrobras manter ações na Bolsa e vender ações nos Estados Unidos. Isso é muito saudável, desde que o Governo brasileiro detenha seu controle acionário. Isso nos obriga a sermos mais atentos e a manter uma governança corporativa. Não fiquei preocupado com o fato de termos acionistas. Fiquei preocupado pela possibilidade de se desmembrar a Petrobras. Corria o boato de que o Collor seguiria o modelo venezuelano e dividiria a Petrobras para facilitar sua venda. Não temo as crises, porque sei que elas vêm e vão e o mundo continua. Temos petróleo suficiente para os próximos 20, 30 anos. E a Petrobras se prepara para o futuro, busca energias alternativas, investe em energia eólica. Talvez, no futuro, não se utilize mais o petróleo como combustível, seu uso seja restrito à indústria petroquímica, porque os materiais sintéticos vieram para ficar. PETROBRAS BOLÍVIA Sou um cara muito curioso, muito aventureiro, gosto de fazer coisas, de conhecer gente e lugares diferentes. Em 1999, me chamaram para fazer o take over de uma refinaria que iríamos comprar na Bolívia. Montamos uma equipe que trabalhava até oito ou nove horas da noite, inclusive aos domingos. Tínhamos 600 contratos para serem lidos antes da entrega da refinaria que ocorreria no dia primeiro de dezembro daquele ano. É interessantíssimo como os bolivianos fazem seus contratos: da cláusula sete se vai para a cláusula 20, da cláusula 20 para a sete. Nunca tinha visto algo parecido. E o espanhol é uma língua traiçoeira. Eu trabalhava com o dicionário ao lado, primeiro porque, apesar de ter lido muitos contratos, não sou advogado e segundo porque meu espanhol era um portunhol horrible. Muitas coisas interessantes aconteceram na Bolívia em decorrência de um choque cultural. Eu respeito muito o lugar onde estou e, embora seja muito brincalhão, tomo muito cuidado. Na Bolívia, éramos imperialistas, estávamos lá para comprar – depois o nosso amigo Evo Morales quis tomar a refinaria de volta, uma coisa desagradável, porque nós não a roubamos, mas a compramos. A refinaria era muito primitiva, quase não tinha computadores, havia apenas um computador com internet, na sala do superintendente. Como estávamos comprando uma refinaria em Cochabamba e outra em Santa Cruz de la Sierra, tínhamo-nos dividido em dois núcleos, um em cada cidade, para firmar os contratos. Para transmissão de dados entre esses dois núcleos, fazíamos os contratos em um disquete e, à noite, íamos a uma lan house no meio da garotada usar a internet. Lembro de uma história do Augusto César de Carvalho, um bom gerente que posteriormente assumiu a Refinaria de Cochabamba; tornou-se conhecido e virou um ídolo, virou nome de rua em Cochabamba, porque modernizou o refeitório; saiu carregado em triunfo pelos operários. Ele era do Depin [Departamento Industrial] e não tinha muita sutileza, tanto que era conhecido como Augusto Cachorrão. Eu ainda tentava falar um espanholzinho, mas ele não se esforçava, falava em português. Uma vez sua secretária me perguntou: “Maurício, qué es esto?” Ele a mandou escrever a palavra “ciente”, mas ela não entendia. Eu lhe falei: “Núbia, ele está dizendo que está ciente do que nós estamos falando.” Tínhamos que demitir 20% da força de trabalho, porque se tinha filhos de ministros ocupando vagas e coisas parecidas. Alguns diziam “Vocês são uma empresa privada” “Não, não somos, Petrobras é também uma estatal, mas temos governança.” Tomamos a refinaria. Na cerimônia, eu fotografei o Hugo Banzer de pertinho. Eu fui estudante nos anos 1970 e tenho o Banzer como um grande sacana, ditador na Bolívia. Mas no seu discurso eu quase chorei, sou obrigado a reconhecer que ele é bom em retórica. Pegamos a refinaria no Natal e, em fevereiro, voltei para o Brasil. HISTÓRIAS / CAUSOS/ / LEMBRANÇAS Andei em aviões inacreditáveis na Bolívia. Certa vez, estava viajando para Guayaramerín, quando acabou a gasolina do avião; ele era redondo por dentro, tinha uma cadeirinha de um lado e duas do outro. Depois de muito sufoco, conseguimos pousar. Quando desci, perguntei: “Cadê o taxi?” “Não tem taxi, quer ir de moto?” “Moto não, porque eu estou com mala.” Acabei utilizando um triciclozinho parecido com aqueles tailandeses. Quando cheguei ao hotel, um misterioso BMW, igual ao do James Bond, estacionado na porta. Pensei: “O que está fazendo um BMW num lugar onde as estradas são de terra?” Não perguntei a ninguém, porque eu não sou doido. No outro dia, fui à base, mas acabou a gasolina da base. A TV de Guayaramerín queria me entrevistar, porque eu era o homem da Petrobras. Liguei imediatamente para meu chefe, o Marcos João Costa da Silva que estava em Santa Cruz de la Sierra, que me disse: “No puede hablar.” Fui verificar os tanques e tirar algumas fotos. Sou um cara aventureiro, mas naquela ocasião, confesso, fiquei com medo. Existia a chamada La entrada del hombre, uma porta aparafusada no tanque, estanque, retirada para fazer obras de limpeza. Eles tinham aberto aquela porta e estavam retirando o lastro, um resíduo que se acumula no fundo do tanque: sujeira com água misturada. Mas daquela porta jorrava vapor quente. Estávamos no mês de fevereiro, quando a Amazônia Boliviana está à 42 graus. Os operários enfrentavam aquele vapor com uma bomba de motorzinho de explosão Honda, na tentativa de retirar aquela meleca, jogando-a por cima do muro no tanque. Graças a Deus, este negócio não explodiu. Eles estavam acostumados a trabalhar com motores ainda pior, motor de Corcel velho: situações altamente perigosas. Quando se trabalha em ambientes explosivos, normalmente, tudo é blindado, não se pode ter nenhuma centelha, até celular é considerado perigoso. Portanto, é um absurdo trabalhar nesses lugares com um motor à explosão. Bom, acabei a minha missão em Guayaramerín. No retorno à Santa Cruz de la Sierra, o avião parecia melhor, era um jatinho. O avião era operado por um piloto boliviano, um co-piloto peruano e um mecânico russo, um sujeito enorme, cumprido, mal-humorado. Eu perguntei: “Que avião é esse?” “Yakovlev-40.” Outro dia caiu um na Ucrânia e matou 32 pessoas. Sentei-me na janela. Uma aeromoça linda veio ao meu encontro e me disse: “Caballero, quieras andar detrás?” “Por quê?” “Para auxiliar el despegue.” Ou seja, ela queria deixar a frente do avião mais leve, para que ele subisse melhor. Mudei-me de lugar a percebi que as pessoas entravam com casacos pesados, embora estivéssemos numa temperatura de 42 graus. Em pouco tempo, subiu uma fumaça do chão, ninguém gritou, como não tenho bom olfato, não sabia do cheiro. Não era fumaça de fogo, mas de frio. O avião era russo e o ar condicionado era siberiano. Meu pé congelou com aquele vapor d’água: fez um frio de 15 graus. Mas eu gosto dessas aventuras, agradeço à Petrobras por ter me proporcionado esses momentos. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Fui requisitado na Bolívia, porque eu era um funcionário com certa experiência. Trabalhei em várias gerências do antigo Decom, possuo muita experiência com combustível e entendo bastante de logística. O Marcos João Costa da Silva, meu ex-chefe, me chamou para esta missão. Mas acredito que o principal motivo do convite tenha sido a minha habilidade em lidar com as pessoas, em ter a mente flexível. Ninguém sabia o que esperar na Bolívia. Tecnicamente, existem pessoas melhores do que eu, não tenho dúvida quanto a isso. Mas era preciso alguém com jogo de cintura, porque se tratava de trabalhar em um lugar diferente, com cultura diferente e estávamos comprando uma refinaria que, até então, pertencia ao Estado. Não podíamos ser muito impositivos, nem ter arrogância. Não devíamos ser bonzinhos, mas era preciso o mínimo de flexibilidade. Eu sempre falo para os meus alunos no curso do Colog [Comercialização e Logística]: “Se você não recebeu um bom pedaço do bolo, fica calmo, faça o seu serviço o melhor que puder, trace sua rede de conhecimento e, depois, mude.” Nada é definitivo na Petrobras. Eu passei por lugares onde não queria ficar. Eu comi filé, mas também roí osso. Hoje, estou com um contrafilé bem ajeitado e temperado. Neste curso do Colog, mais do que dar aula, eu procuro passar minha experiência, porque o pessoal fica muito ansioso. Sempre lhes digo: “Se você tiver paciência na Petrobras, não precisa esperar dez anos, mas com um pouco de paciência, você vai conseguir fazer o que quer.” A Petrobras é muito grande. Eu mesmo penso em mudar de área; atualmente, faço um MBA em responsabilidade social. Sempre digo que sou um homem do “19”. Isso significa que sou do 19º andar, sou da tradição do Departamento Comercial, onde trabalho há 21 anos, mas não tenho medo de mudar. Depois de me aposentar, talvez siga a área acadêmica de responsabilidade social e sustentabilidade. É importante ter um projeto viável nesta área. Não adianta ficar fazendo bonequinho de palha de milho e esse tipo de coisa para aumentar a renda, é preciso ter um projeto que realmente sustente a pessoa e dê um ganho à comunidade. A Petrobras está com um grande plano de negócio sustentável, com vários projetos importantes. É importante mudar de área e a grande vantagem na Petrobras é que se as pessoas quiserem, podem mudar. Eu mesmo mudei, trabalhei em cinco gerências diferentes. IMAGEM DA PETROBRAS Tenho grande prazer em trabalhar na Petrobras. Ela é um patrimônio do povo brasileiro, do país e, espero que dure mais 55 anos. A Shell tem 100 anos e nada impede a Petrobras de chegar a esta cifra, a não ser que nós brasileiros não queiramos. Espero que as pessoas entendam o que a Petrobras deseja fazer, o que os funcionários da Petrobras pretendem. Pensamos muito em atender o país, esta é a nossa preocupação. Não faço isso porque sou bonzinho, porque acho isso bonito. Faço porque realmente acredito nisso. A Petrobras é uma prova clara do que o povo brasileiro pode fazer. A Petrobras é um marco de excelência, apesar de todos os problemas. Quem está dentro da Petrobras, conhece seus podres, mas estes não cancelam a importância desta empresa. A Petrobras teve sorte, mas também teve diretrizes coerentes que lhe permitiram atingir certo patamar. Espero que nós não joguemos isso fora. Espero realmente que a Petrobras permaneça e que possa ajudar o país a crescer. Temo que, no futuro, as pessoas não olhem isso com cuidado. Não tenho medo de privatização, mas o problema é se isso continuará sob o controle do Brasil. É bom para a Petrobras ter acionistas, não importa se estrangeiros ou não; importante é que o controle continue nas mãos da União. A Petrobras é perfeitamente capaz de cuidar do pré-sal e do que quer que seja. Desde que a Petrobras foi criada, quantas crises tivemos? E nunca faltou combustível no Brasil, inclusive durante a guerra do Irã e do Iraque que a Petrobras comprava petróleo desses dois países. O Brasil não é inimigo de ninguém, tem um bom apelo no Terceiro Mundo e consegue viver bem com outros povos. A Petrobras é uma embaixatriz, representa muito o país lá fora. Enfim, espero que a Petrobras sobreviva e continue a servir o Brasil. Parece até mensagem de político, mas não é. Eu acredito nisso. AVANÇOS TECNOLÓGICOS Hoje, a Petrobras é um dos maiores usuários de telefonia do Brasil. De qualquer unidade e escritórios da Petrobras, inclusive nos exterior, se pode discar o meu ramal e se conseguirá falar comigo. A Petrobras tem um sistema de comunicação invejável. Logo que eu entrei na Petrobras, começaram os primeiros computadores, do tamanho de uma máquina de lavar, com disquetes de oito polegadas. Ficava na mesa do chefe, mas não servia para nada, porque o chefe não sabia usa-lo. Hoje em dia, cada um tem um ramal telefônico. Quando se é transferido de gerência, leva-se o número de ramal. Temos um computador por pessoa e um telefone por pessoa. Temos vários softwares. Temos o SAP R-3. Mas é preciso verificar o que realmente traz valor para o seu trabalho. Não adianta ter um computador e continuar desorganizado, porque isso só causará uma desorganização eletrônica. A Petrobras tem milhares de computadores num só prédio e é feito um bom trabalho para manter a rede estável. A Petrobras é muita avançada tecnologicamente MEMÓRIA PETROBRAS Gostei muito de participar do Memória Petrobras. É um trabalho importante e estimulante para o pessoal mais antigo que começa a esquecer a história. Eu tenho uma memória poderosa para números, mas me esqueço de muitas coisas. E ninguém melhora com a idade, somente alguns vinhos melhoram com o tempo. Foi bom deixar isso para as pessoas do futuro. Espero que este depoimento vá para este Museu da Pessoa, porque eu achei interessante essa proposta de museu. É preciso, também, entrevistar as pessoas mais antigas, que fizeram tudo isso acontecer. A Petrobras vem se modernizando, é uma empresa de classe mundial. Não sou muito de seguir slogan, sou totalmente anti-slogan, mas preciso concordar que “o desafio é a nossa energia”. Não temos medo de desafios, nós os encaramos.
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