Projeto: Memória da Petrobras
Depoimento de Jorge Lins
Entrevistado por Márcia de Paiva
Madre de Deus 7/10/2004
Realização Museu da Pessoa
Entrevista PETRO_CB580
Transcrito por: Maria Luiza Pereira
P/1 – Boa tarde
R – Boa tarde.
P/1 – Gostaria de começar essa entrevista pedindo que o senhor nos diga o seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Meu nome é Jorge Luiz Pina Lins, nasci em Salvador, em 17 de setembro de 1958.
P/1 – Conta para a gente um pouco, como você entrou na Petrobras e como é que foi a sua trajetória aqui dentro.
R – Bom, eu entrei na Petrobras em 1986. Agora, bem antes de 1986 eu já tinha um grande apreço pela Petrobras, até porque meu pai, ele é petroleiro aposentado e então eu, já na adolescência, comecei a admirar a Petrobras até mesmo pelos... via de regra, meu pai trazia presentes e cestas de natal e tal. E essas cestas de natal, naquela época, elas, invariavelmente, iam servindo como berço para os meus irmãos, né? Então aquilo me marcou. Eu ganhei a primeira bicicleta minha, foi dado por meu pai porque ele ganhou um brinde na Petrobras também. Isso aí já me fez eu ter uma certa admiração pela empresa e eu vinha perseguindo essa meta. Em 1986, finalmente, consegui ingressar na Petrobras. Entrei como rádio-técnico.
P/1 – Você acompanhava o seu pai ao trabalho quando você era pequeno?
R – Eu, via de regra, ficava aguardando ele chegar. E ele, o trabalho de turno dele, ele chegava pela madrugada ou chegava pela tarde, ou então pela manhã e eu sempre o aguardava e eu sempre o recebia, né? Então, essa coisa da Petrobras ela já vem desde a minha época da minha adolescência e enfim, eu em 86, 1986, eu fiz o concurso, passei para rádio-técnico. Dois anos depois, 1988, o deputado Domingos Leoneli conseguiu aprovar uma lei que criava a quinta turma de turno e então fiz o concurso, quando foi criada a quinta turma de turno aqui na Transpetro, passei para esse concurso e de lá...
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Depoimento de Jorge Lins
Entrevistado por Márcia de Paiva
Madre de Deus 7/10/2004
Realização Museu da Pessoa
Entrevista PETRO_CB580
Transcrito por: Maria Luiza Pereira
P/1 – Boa tarde
R – Boa tarde.
P/1 – Gostaria de começar essa entrevista pedindo que o senhor nos diga o seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Meu nome é Jorge Luiz Pina Lins, nasci em Salvador, em 17 de setembro de 1958.
P/1 – Conta para a gente um pouco, como você entrou na Petrobras e como é que foi a sua trajetória aqui dentro.
R – Bom, eu entrei na Petrobras em 1986. Agora, bem antes de 1986 eu já tinha um grande apreço pela Petrobras, até porque meu pai, ele é petroleiro aposentado e então eu, já na adolescência, comecei a admirar a Petrobras até mesmo pelos... via de regra, meu pai trazia presentes e cestas de natal e tal. E essas cestas de natal, naquela época, elas, invariavelmente, iam servindo como berço para os meus irmãos, né? Então aquilo me marcou. Eu ganhei a primeira bicicleta minha, foi dado por meu pai porque ele ganhou um brinde na Petrobras também. Isso aí já me fez eu ter uma certa admiração pela empresa e eu vinha perseguindo essa meta. Em 1986, finalmente, consegui ingressar na Petrobras. Entrei como rádio-técnico.
P/1 – Você acompanhava o seu pai ao trabalho quando você era pequeno?
R – Eu, via de regra, ficava aguardando ele chegar. E ele, o trabalho de turno dele, ele chegava pela madrugada ou chegava pela tarde, ou então pela manhã e eu sempre o aguardava e eu sempre o recebia, né? Então, essa coisa da Petrobras ela já vem desde a minha época da minha adolescência e enfim, eu em 86, 1986, eu fiz o concurso, passei para rádio-técnico. Dois anos depois, 1988, o deputado Domingos Leoneli conseguiu aprovar uma lei que criava a quinta turma de turno e então fiz o concurso, quando foi criada a quinta turma de turno aqui na Transpetro, passei para esse concurso e de lá para cá, de 89 para cá tenho trabalhado na área de turno.
P/1 – Área de turno é o que? Explica para a gente um pouquinho para quem é de fora o que é um turno.
R - Aqui, cada unidade da Petrobras tem a sua atividade-fim, e há atividades que têm que funcionar 24 horas. O horário dos trabalhadores é dividido por turnos ininterruptos. Aqui, no caso, nós trabalhamos na escala cubana em que durante sete dias a gente trabalha como que direto, né? Enfim, essa escala de turno tem que ser coberta por cinco turmas de trabalhadores da operação e eu fazia parte de uma delas. Enfim, entrei no turno e trabalhei até o ano de 2003, quando agora, no mês de março eu fui convidado para o administrativo para cumprir uma outra função.
P/1 – E qual é a função?
R – A minha função atual, eu sou o coordenador da área de segurança, meio-ambiente e saúde do nordeste da Transpetro, né, Transporte de Petróleo S.A. Eu acredito que esse convite se deveu ao meu desempenho, a minha desenvoltura, que eu tive junto a, principalmente às comissões internas de prevenção de acidentes aqui, porque eu sempre tive o desembaraço muito grande nessas atividades.
P/1 – Fala um pouco do dia-a-dia do seu trabalho. Qual é a atividade principal de um coordenador?
R – Bom, a atividade principal de um coordenador de SMS, é como o nome já diz, né, é você estar fazendo a coordenação das atividades relacionadas à assessoria na área de segurança industrial, na empresa que transporta petróleo. E essa assessoria passa pelo cumprimento de diversos procedimentos e esses procedimentos a gente procura estar seguindo a risca. Na realidade a gente vem fazendo um papel que, à medida que o tempo vai passando ele só vai evoluindo no sentido de transformar também a área de segurança industrial da Transpetro, da Transporte de Petróleo S.A., numa área em que se vê excelência, né, em que se busca excelência também. E, efetivamente, nós temos feito o embarque e desembarque de cerca de 50 navios petroleiros aqui no terminal com pouquíssimos acidentes eu diria, inclusive no que diz respeito a derrame de óleo no mar praticamente inexiste, haja visto as medidas que a gente tem feito, medidas preventivas para se evitar qualquer um acidente desse tipo, né? Agora, eu gostaria também de me reportar um outro lado meu, que é o lado de sindicalista, porque eu também estive desde 1996, quando eu fiz o meu primeiro contato na Cipa, quando eu ingressei na Cipa, eu já comecei a despontar nessa área de prevenção de acidentes e o sindicato então me convidou em 2002 para eu participar da diretoria do departamento de saúde.
P/1 – Só um minutinho. Você se sindicalizou desde que você entrou para a Petrobras?
R – Foi, desde que eu entrei na Petrobras, né, em 86. Mas, somente em 1996 é que eu fui convidado; quer dizer, eu fui convidado em 96 para participar, mas, efetivamente, só aceitei em 99, aí eu fui participar da diretoria de saúde do sindicato e graças a experiência que eu adquiri lá, viajando, fazendo parte de comitês, inclusive comitê de benzeno aqui também. Eu fui integrante do grupo de trabalho de benzeno aqui da Bahia, fui um dos líderes desse grupo da área de petróleo, enfim, adquiri muita experiência no departamento de saúde do sindicato. Aqui, enquanto operador, convêm destacar também algumas passagens que eu tive enquanto brigadista. Porque todo operador ele tem que ser brigadista, até porque, no momento do turno há horários com que você só pode contar com aquela mão-de-obra, né, para uma ou outra emergência que exista. Então, enquanto brigadista eu combati cerca de dois incêndios lá na refinaria e eu gostaria de deixar registrado um, que foi uma passagem muito importante na minha vida, que foi no combate a incêndio em 2002 da unidade de nafta petroquímica em que nós... eu fiz questão de ir para extremidades de uma das linhas de combate a incêndio e depois de 45 minutos, né, com aqueles resíduos da unidade caindo sobre a gente, foi dado o encerramento do combate e nós nos dirigimos de volta para a unidade; isso a gente estava pegando aqui 16 à 0, é 4 horas da tarde para terminar meia-noite. Então, a gente voltou para a unidade, mas, quando eu cheguei na unidade eu comecei a tremer. E eu não parava de tremer e aí o supervisor me mandou para unidade médica e enfim, eu não seio que foi que houve, parece que foi alguma reação ao perigo que nós passamos, né, mas...
P/1 – Que só veio depois?
R – É, depois de alguns dias é que nós recebemos uma carta de elogio da superintendência da refinaria. Mas, esse eu diria que foi o meu batismo de fogo porque depois houve outros e aí já não havia...
P/1 – E o incêndio; para a gente ter uma idéia, de um incêndio, qual é a proporção de um incêndio? Porque a gente não tem a menor idéia.
R – A proporção de um incêndio numa unidade como a refinaria Landulpho Alves, que fica a 4 quilômetros daqui, é algo em que você se apercebe da necessidade de você ter equipes trabalhando em conjunto com você, porque você só pode adentrar ao local do fogo efetivamente para fazer o combate, seja em uma bomba, ou em uma linha se outras equipes estiver molhando você, ou seja, estiver dando cobertura a você. E...
P/1 - Você entra molhado?
R – É, você entra molhado e permanece sendo molhado e eles ficam observando o que está caindo em cima de você, para pedir que você recue ou que você avance. Nós fazemos esse tipo de treinamento, as turmas inclusive hoje aqui, são treinadas exaustivamente, eles sempre comparecem, a gente apresenta as novas técnicas, nós temos feitos, agora, eu como coordenador, eu tenho feito questão de estar trazendo o corpo de bombeiro para aqui para dentro, para poder eles estarem apurando essas técnicas de combate conosco, inclusive eles conhecendo as nossas unidades para em uma necessidade, que eu não quero... é claro que ninguém quer que aconteça, mas em ocorrendo eles possam estar nos ajudando. Mas, é uma experiência em que você se apercebe da importância de que haja um conjunto realmente, de que existe um conjunto, né, das pessoas e é bastante, muito marcante o combate a incêndio na unidade da Petrobras. Eu gostaria também de estar colocando uma outra questão, é a respeito das greves pela qual eu passei aqui.
P/1 – É isso que eu queria perguntar. O que você destacaria do movimento sindical, das conquistas, desse tempo que você trabalha aqui?
R – Bom, veja só, eu passei a integrar o quadro de dirigente sindical em 99. Mas, em 1992 efetivamente, eu diria que foi o meu batismo nessa área de movimento sindical. Eu fiz parte de uma greve em que o comando de greve decidiu por nós fazermos a ocupação do terminal. Então nós estávamos dentro da unidade do terminal e em um dado momento nós nos vimos cercados na entrada do terminal - isso também foi muito marcante na minha vida - e a polícia militar, o pelotão de choque nos cercou, mas nós conseguimos, como que se esquivar dos policiais e conseguimos entrar e o portão foi fechado para que os policiais não entrassem. Mas nem todos os colegas conseguiram entrar. Então o que se seguiu foi uma pancadaria tremenda, nós assistimos dois ou três colegas apanhando, apanharam muito e não podíamos fazer nada, porque eles tinham cães, eles eram em maior número. E, ao final desse embate nós desocupamos o terminal, né, porque havia um contingente de policiais federais, eles queriam entrar para poder nos retirar e chegamos a conclusão de aquilo não era o melhor para a unidade, até porque poderia estar colocando em risco a unidade e nós saímos. E essa greve de 92, ela foi marcante porque a Bahia e o terminal marítimo de Madre de Deus foi destaque. Enfim, eu me recordo também, que depois de tudo resolvido, quando nós estávamos retornando ao trabalho, havia uma lista de demissão de 11 trabalhadores. E, naquele momento nós decidimos não ingressar no turno, saltamos do ônibus e à noite nós não tínhamos para onde ir, porque o superintendente daquela época mandou que o ônibus voltasse vazio, sei lá. Enfim, o pessoal da comunidade cedeu uma casa para a gente, cedeu colchões, cedeu lanches e passamos a noite numa casa, cerca de 17 operadores. Eu me recordo, pela manhã o administrativo se reuniu ao movimento e terminou o superintendente voltar atrás nas 11 demissões, porque não tinha havido demissão em local nenhum do país, foi uma greve geral. Mas, tivemos que negociar duas transferências de dois dirigentes sindicais, que ele não admitia a permanência deles de forma alguma, aí os dois realmente tiveram que sair daqui da unidade. Essa foi uma das coisas que marcou.
P/1 – Mas não foram demitidos, foram transferidos só?
R –Não, só foram transferidos, é. Em 1995, nós ficamos cerca de 30 dias no trevo da resistência.
P/1 – Fala um pouco desse trevo da resistência.
R- Ah! O trevo da resistência ... (riso)
P/1 - Explica como é que...?
R – É uma espécie de um...
P/1 – Meio simbólico, né?
R – É, ele é um... na realidade, eu diria a você que é um local onde há bifurcação, para aqui, para a unidade do terminal, ou você vai em frente para a refinaria Landulpho Alves, em Mataripe. Fica a cerca de 5 quilômetros daqui. O trevo da resistência assim é conhecido, porque é o local ideal para estar pegando os trabalhadores das duas unidades e estar conversando e estar colocando, digamos assim, os debates que são feitos a nível de federação hoje. A federação tem 10 anos. Naquela época não havia federação, mas já havia o trevo da resistência, Federação Única dos Petroleiros. Então, o trevo da resistência é chamado assim, porque lá realmente resistíamos e resistíamos a polícia militar, resistíamos ao Exército, resistíamos a todas as intervenções. E as lembranças que eu tenho é que nós fazíamos turno também, ininterrupto lá no local do trevo, haja vista a necessidade do bloqueio e nós tínhamos que estar dormitando nos automóveis, né, que os automóveis ficavam cruzando a pista. E via de regra...
P/1 – Era uma barricada mesmo, então?
R – É, no trevo. Porque ali você não tem acesso para a refinaria nem para o lado de cá. Para o lado de cá só passava quem não fosse da unidade. E aí, via de regra, para o lado de lá da refinaria, só era para ir mesmo quem era da refinaria, mas alguns casais de namorado estavam querendo entrar para namorar, aí a gente se via forçado a não deixar passar.(riso) Mas é um aspecto interessante. É uma coisa assim, chega a ser hilário, mas a gente vê muita coisa nesse embate que a gente tinha. Houve ainda um movimento da participação dos lucros e resultados aqui, em 2002, recentemente; só para ilustrar, eu me recordo que estávamos com ocupação em dois portões aqui do terminal, lá embaixo, no Mirim. E via de regra eu me aproximei para saber como estava a situação e tal e eu descobri que havia um embate em um dos portões. Esse embate consistia de uma milícia, a gente chamou de milícia porque o pessoal estava fardado como se fosse militar, mas não era do exército, era de uma empresa que tinha sido contratado e eles estavam como que descendo uma ladeira para se encontrar com os trabalhadores que eram cerca de sete ou oito e já tinham estado lá a noite toda, eles estavam super cansados. E aí, em um dado momento, quando eu percebi que ia haver um embate, inclusive havia suspeita de que eles estavam armados, ou seja, essas pessoas que estavam dentro da unidade, eu chamei um carro da TV Bahia que estava passando, pedi que parasse para estar filmando e o camarada veio fazer a filmagem, quando ele foi fazer, quando ele se apresentou, o câmera-man, para fazer a filmagem daquele embate que estava para acontecer; porque o pessoal da milícia queria abrir o portão e os trabalhadores não queriam deixar abrir o portão e ia ser aberto na raça, a princípio. Aí então o câmera-man se posicionou e começou a filmar, ele aí pararam; pararam, houve o comando de recuo, eles aí recuaram porque havia realmente uma pessoa comandando, mas não perceberam de que a câmera estava com o visor tampado ainda, a tampa do visor ainda estava tampada.(riso) Aí foi interessante isso, mas, depois então, nós assistimos na televisão, porque a TV Bahia filmou eles sendo revistado pela polícia militar que foi chamada, para poder verificar a denúncia de que eles estariam armados. Mas são, enfim, imagens que me vem a cabeça da época de sindicalismo, né, na época dos embates e eu acredito que é graças a esses embates, é graças a essa luta que os trabalhadores conquistaram efetivamente o lugar de destaque que eles tem e a empresa também, conseguiu esse lugar de destaque que ela tem. Essas pessoas que fazem e que fizeram a luta na Petrobras também, a luta sindical, são pessoas que gostam muito da Petrobras, são pessoas que não enxergam a Petrobras como ferro e concreto, enxergam a Petrobras como algo que faz parte deles. Então, é importante ter um registro, ter um depoimento desse tipo, porque eu que eu via no dia-a-dia, foram cerca de 5 anos que eu passei no sindicato e o respeito e a emoção com que se falava dessa empresa era algo indescritível, entendeu?
P/1 – E hoje essa relação você vê...?
R – A relação...
P/1 – Você como coordenador também agora. Agora você está em uma outra posição.
R – Exato. Eu agora sou coordenador, eu devo obediência. Eu tenho que fazer cumprir as minhas obrigações enquanto coordenador. Eu tenho uma visão gerencial, eu tô sabedor disso, mas eu vejo hoje as relações com o sindicato e com a Petrobras fluindo de uma maneira bem melhor do que antigamente, haja visto que, apesar de ainda haver muitas dificuldades, que eu vejo ainda que há necessidade de um, ou outro posicionamento um pouco mais radical da própria federação e do próprio sindicato as coisas não chegam ao ponto em que eu via acontecendo antes, né? Isso pelo que eu tenho acompanhado por boletins. Agora, eu imagino isso como sendo um aprendizado, eu acho que essa é realmente a melhor forma de estar se fazendo com que as relações elas venham a concretizar algo de bom, algo de construtivo, né, não só para a Petrobras como para o país, né? Eu quero crer que a tendência é melhorar cada vez mais essas relações, até porque ninguém melhor do que o dirigente sindical para estar dizendo à Petrobras ou à direção da Petrobras quais seriam os pontos que poderiam ser melhorado nessa relação capital-trabalho, né? E ainda tem muito trabalho para ser feito, mas, enfim, é isso aí.
P/1 – Tem alguma outra história marcante que você gostaria de destacar, que nesses anos de trabalho tenha ficado...?
R – Histórias marcantes da Petrobras é a impressão que ela nos dá, né? Cada dia que a gente vem para a Petrobras a gente tem certeza, a gente vem trabalhar aqui na Petrobras, a gente tem certeza essa, se não é a maior empresa da América Latina, fatalmente é uma das maiores empresas da América Latina. A gente se surpreende, a gente se emociona em vir, a gente se emociona ao voltar porque a gente tem noção do gigante que ela é. Nós temos noção da capacidade que ela tem, das pessoas que estão aqui. Eu tenho muito orgulho de estar trabalhando com essas pessoas, eu tenho orgulho de ser operador e eu acredito que a própria gestão atual da Petrobras se apercebe disso e sabe da importância que é manter esse quadro de trabalhadores que ela tem aí. É isso aí.
P/1 – E alguma história curiosa, assim?
R – Bom, histórias curiosas...
P/1 – Engraçada, ao longo desses anos todos de trabalho, que você se lembre?
R – É assim, quando eu adentrei aqui no terminal marítimo na minha primeira semana; porque nós estagiamos num tempo muito longo, sabe, para poder estar indo numa unidade dessa para trabalhar, então os colegas fazem muitas brincadeiras conosco e aí, via de regra, pregam uma peça conosco, na gente, né, e me disseram uma certa feita, no verão, aqui mesmo, no parque aqui do (Suape?) do petróleo, me pediram para eu ir buscar um equipamento num tanque que é o que é mais distante da unidade onde a gente estava, o tanque 7109. Me disseram que era para eu ir estar pegando lá o martelo hidráulico. E o martelo hidráulico é um fenômeno que ocorre quando a gente passa o vapor por uma linha e esse vapor nada mais é do que a água condensada. Ele propicia a dilatação e a compressão súbita da linha, porque ela está fria e aí houvesse aquela zuada, aquelas pancadas, né, forte e isso é chamado de martelo hidráulico. E eu passei cerca de 42 minutos debaixo de uma solina dando voltas e mais voltas nos tanques, porque eles insistiam que o martelo hidráulico estava por ali. Somente quando eu me lembrei de que no curso foi comentado essa questão desse fenômeno do martelo hidráulico, que eu comecei a acompanhar os estalos que estavam dando na linha, foi que eu disse: “- É, realmente o martelo hidráulico está aqui, mas eu não vou poder levar para vocês.”(riso) É essa passagem que eu me lembro quando eu era estagiário, né?
P/1 – É ótimo!
R – Mas foi uma coisa assim, notável, porque é a forma como eles tratam a gente, quando a gente entra e no decorrer das coisas a gente... aqui é como se fosse uma família, né, o pessoal...
P/1 – Isso é uma tradição, dar esses trotes assim, para quem está chegando, de pegar alguma...?
R – É, via de regra, é. Via de regra tem diversas formas de se estar pregando uma, ou outra peça, mas sempre uma peça muito bem feita, uma peça que não vai provocar nenhum transtorno nem nada para o estagiário que está acabando de adentrar e eu não esqueço disso nunca, isso foi acerca de 19 anos atrás, mas eu não esqueço disso nunca.(riso)
P/1 – O Terminal tem algum trabalho com a comunidade de Madre de Deus?
R – Tem sim, nós temos, é... nós tivemos... no ano passado nós fizemos uma campanha de educação ambiental e o pessoal de Madre de Deus se inscreveu maciçamente, enfim, essa campanha ela serviu para estar mostrando às pessoas aqui de Madre de Deus, alguns grupos que puderam vir participar de como é o processo de tratamento de resíduos da própria Petrobras e como eles poderiam até estar colaborando com a própria comunidade no tratamento dos resíduos gerados, né, na área urbana da cidade. Também nós temos empreendimentos que fazem com que o terminal de... a cidade de Madre de Deus formem técnicos de segurança. Para que possam, futuramente, vir a ser aproveitados, se for o caso, até aqui na própria unidade. Enfim, nós temos programas de replantio, de manguezal em que eles são convidados também para fazer parte até mesmo como plantador. São essas pessoas que vão fazer a prática da plantação. Agora mesmo nós estamos com um plano de contingência aqui de Madre de Deus, em que a gente está numa relação muito estreita com a comunidade, através da Prefeitura de Madre de Deus e da própria Defesa Civil de Madre de Deus. Nesses planos de contingenciamento, nós traçamos as estratégias para fazermos os treinamentos. Nós já fizemos dois treinamentos em que movimentamos cerca de 1.500 pessoas. É óbvio que por ser uma cidade com 14 mil pessoas a gente procura estar fazendo isso de forma setorial. Então estamos vindo de lá de baixo do Mirim para cá, para o (Suape?) e já chegamos na metade. A idéia agora é estarmos fazendo aqui essa parte aqui do (Caípe?). Já fizemos um no parque de gás, aí a gente está chegando próximo do (Caípe?). E com isso a comunidade vai verificando o nosso nível de adestramento, né, no sentido de estarmos, digamos assim, atuando na possibilidade de uma emergência. Nós temos feito essa integração de uma forma muito boa com a comunidade, eles tem acompanhado e colaborado bastante.
P/1 – Que bom, legal!
R – Pois não.
P/1 – Tem alguma outra história que você gostaria de deixar registrado?
R – Eu poderia estar colocando é... eu não sei, eu imagino assim, que, no meu caso, em particular, eu trabalhei muito tempo na unidade de pier, ali nos navios e o que eu poderia estar colocando são as dificuldades que nós tínhamos de estar lidando com as diversas tripulações. Então nós lidávamos com o grego, ainda lidamos, né, não sei, o japonês, o chinês, hindu...
P/1 – E como é que era esse contato? Isso é interessante...como é que...?
R – A gente, em via de regra, emprega o inglês, né, mas uma coisa interessante é que nós recebíamos advertência sobre vários aspectos, só depende da procedência e eu não sei, mas quando se tratava de japonês a gente tinha que estar tirando o sapato para estar adentrando no escritório do japonês porque eles botavam um tapete que tinha quase 10 centímetros de altura, aí ele pedia para a gente tirar o sapato. Os gregos pediam para a gente não ir com relógio, eu não entendia porque, mas... (riso)
P/1- Eles mesmos mandavam essas recomendações, ou vinha da Petrobras?
R – Não, os outros mais experientes pediam a gente, a gente sempre repassa. Enfim, o... que se eu me recordo bem, tinha o... um grupo que eles, eles eram avessos a informações que tivessem revistas com mulheres ou alguma coisa assim, então eles entravam e via de regra, estavam lá batendo na porta da gente para perguntar se havia revista da Playboy tudo mais, mas só podiam assistir lá os muçulmanos.
P/1 – Muçulmanos.
R – É. E aí, resultado, isso criava um problema sério para agente, porque eles as vezes pediam para a gente estar policiando a janela para ver se o chefe dele não estava chegando. Mas, enfim, a gente vai aprendendo com a própria cultura do estrangeiro que desembarca aqui, a gente tem contatos, a gente aprende, a gente conversa muito e vê as diferenças que tem.
P/1 – Eles podem desembarcar?
R – É, eles desembarcam desde quando eles passam por uma fiscalização dos Órgãos de Vigilância Sanitária lá na entrada, na Baía de Todos os Santos. Eles vem com um comunicado, dão a gente, a gente passa para o nosso supervisor, via de regra nosso supervisor recebe antes mesmo esse comunicado e só aí que eles podem desembarcar.
P/1 – Aí eles desembarcam e ficam aqui um tempo, é isso?
R – É, na folga deles eles ficam em Madre de Deus, na localidade de Madre de Deus e depois eles retornam para o trabalho e nessa passagem é que eles têm um contato com o operador que está lá no pier, né?
P/1 – Essa passagem dura quanto tempo? Só para a gente ter uma idéia.
R – Não, eles ficam uma média de 24 horas. Os navios vêm com a... não pode passar de 24 horas, eles tem que fazer a operação deles aqui de 24 horas. E nós temos cerca de 5 piers e nesses 5 piers nós hoje estamos com uma média de 50 navios por mês, entendeu? É o segundo maior terminal em movimentação do país é aqui no Terminal Marítimo de Madre de Deus. Então, culturalmente, é rico, eu diria assim, né?(riso)
P/1 – Bastante.
R – Então.
P/1 – Jorge, eu gostaria de terminar essa entrevista perguntando o que que você acha da iniciativa do sindicato e da Petrobras fazerem esse projeto Memória e se você gostou de ter participado?
R – Ah, eu gostei, eu fiquei entusiasmado quando eu soube que havia essa possibilidade de estar participando. Eu imagino assim, que existem acertos e existem erros e que nós aprendemos muito com os erros da gente, né, aliás, a própria Petrobras ela pede que as pessoas aprendam com os erros aqui no âmbito da própria dinâmica do pessoal dela. Mas, efetivamente isso foi um acerto muito grande, porque essa parte da história precisava ser contada. Eu acho que... eu acho não, eu tenho certeza de que ela vai servir como uma das partes mais importantes do acervo da Petrobras. A gente está podendo transmitir o nosso sentimento, a gente está podendo transmitir as nossas experiências que nós passamos quando nós visávamos pura e simplesmente garantir a empresa que ela é hoje. E garantir também aos trabalhadores um local saudável de trabalho. Essa é minha perspectiva, né, em relação a esse projeto, vocês estão de parabéns.(riso)
P/1 – Muito obrigada pela sua participação.
R – Eu que lhe agradeço a oportunidade.
(Fim da fita Mpet/TMadre 007)
(Suape?) / (Caípe?)
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