IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Ismar Machado dos Santos. Nasci em 21 de outubro de 1956. Sou amazonense, filho, vamos dizer assim, de Ajuricaba, da terra de Ajuricaba, com muito prazer. Nasci em Manaus e vivi a vida inteira em Manaus. INGRESSO NA PETROBRAS Entrei em março de 1976. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Na época, fui contratado como vigilante. Depois de alguns anos, devido à regulamentação da Petrobras, aí passaram a nomenclatura para auxiliar de segurança interna. APOSENTADORIA Fiquei até 1997, quando me aposentei. Mais de 20 anos, direto na Petrobras. Foi meu único emprego, fora o ano nas Forças Armadas. A minha vida, vamos dizer, do trabalho profissional, foi todinha na Petrobras. Foi todo o tempo aqui na refinaria, aqui na Reman. Devido, também, à área de risco, aí pelo 1.4, tinha esse direito de aposentar, um pouco antecipado. PROCEDIMENTOS DE TRABALHO Era um vigilante. Quando entrei era em regime de turno, na época eram quatro turmas. Nós entrávamos, fazíamos a ronda, em volta de toda refinaria e dentro da área industrial, também. Era uma segurança patrimonial, durante o dia e durante a noite. Logo no início, realmente era um trabalho, tanto de risco pessoal - devido, vamos dizer, ao fator de uma infiltração de terceiro, ladrões ou coisa parecida - como nós estávamos sujeitos, a animais peçonhentos. A região aqui, principalmente a refinaria, está dentro de uma área cercada por uma mata e, também, pelo rio Negro. Era freqüente a presença de cobras, aranha caranguejeira, no caminho. As rondas eram feitas a pé, não fazíamos motorizados. Então, era um risco que corríamos, por mais que estivéssemos com lanternas, o risco era constante. Mas graças a Deus, pelo menos nesse período, nunca ocorreu nenhum acidente desse tipo, assim. Geralmente, a gente pegava, mas era mais, assim, durante o dia, eles se infiltravam por algumas áreas da refinaria. Era mais catando essas sucatas. Então, a...
Continuar leituraIDENTIFICAÇÃO Meu nome é Ismar Machado dos Santos. Nasci em 21 de outubro de 1956. Sou amazonense, filho, vamos dizer assim, de Ajuricaba, da terra de Ajuricaba, com muito prazer. Nasci em Manaus e vivi a vida inteira em Manaus. INGRESSO NA PETROBRAS Entrei em março de 1976. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Na época, fui contratado como vigilante. Depois de alguns anos, devido à regulamentação da Petrobras, aí passaram a nomenclatura para auxiliar de segurança interna. APOSENTADORIA Fiquei até 1997, quando me aposentei. Mais de 20 anos, direto na Petrobras. Foi meu único emprego, fora o ano nas Forças Armadas. A minha vida, vamos dizer, do trabalho profissional, foi todinha na Petrobras. Foi todo o tempo aqui na refinaria, aqui na Reman. Devido, também, à área de risco, aí pelo 1.4, tinha esse direito de aposentar, um pouco antecipado. PROCEDIMENTOS DE TRABALHO Era um vigilante. Quando entrei era em regime de turno, na época eram quatro turmas. Nós entrávamos, fazíamos a ronda, em volta de toda refinaria e dentro da área industrial, também. Era uma segurança patrimonial, durante o dia e durante a noite. Logo no início, realmente era um trabalho, tanto de risco pessoal - devido, vamos dizer, ao fator de uma infiltração de terceiro, ladrões ou coisa parecida - como nós estávamos sujeitos, a animais peçonhentos. A região aqui, principalmente a refinaria, está dentro de uma área cercada por uma mata e, também, pelo rio Negro. Era freqüente a presença de cobras, aranha caranguejeira, no caminho. As rondas eram feitas a pé, não fazíamos motorizados. Então, era um risco que corríamos, por mais que estivéssemos com lanternas, o risco era constante. Mas graças a Deus, pelo menos nesse período, nunca ocorreu nenhum acidente desse tipo, assim. Geralmente, a gente pegava, mas era mais, assim, durante o dia, eles se infiltravam por algumas áreas da refinaria. Era mais catando essas sucatas. Então, a gente pegava o pessoal e orientava para eles saírem, que aqui era uma área de segurança. Aos poucos, a gente ia afastando. Mas, constantemente, nós pegávamos esse pessoal que, na realidade, não era tanto para furtar ou roubar produtos, alguma coisa da Petrobras. Era mais, para vir atrás da sucata. Confronto só houve uma vez. Foi no estacionamento. Nesse dia, eu não estava de serviço, foi com um colega de uma outra turma. Houve dois assaltantes. Eles tentaram roubar os veículos do nosso estacionamento. Isso acabou na morte dos dois. Os próprios seguranças da Petrobras, que fizeram esses disparos. Os assaltantes também estavam armados, eles dispararam, e como defesa, os seguranças tiveram que revidar, se defender. Nesse episódio, graças a Deus, foram os dois meliantes, que foram mortos. Mas nesse dia, não estive. SINDICATO - TRAJETÓRIA SINDICAL Quando da minha entrada, o clima aqui realmente era bom, agradável para se trabalhar. Ao longo do período, começou a se deteriorar, devido às perseguições políticas. Principalmente eu, que sempre fiz parte da diretoria do sindicato. Fui perseguido, praticamente, durante todos esses anos, em que eu estive na Petrobras. Foi um clima realmente muito tenebroso, até os meus dois últimos anos, aqui na Petrobras. Esses dois últimos anos... foi uma fase realmente muito trágica, para mim e minha família. Após a histórica greve de 1995, após 18 anos de serviço de turno, me passaram para o horário administrativo. Com isso, tive uma queda de aproximadamente 60%, 70% do meu salário. E as perseguições foram mais a fundo. Foram dois anos, de muito sacrifício. Tanto para mim, quanto para a família. Mas, felizmente consegui, com a cabeça erguida, nunca baixei a cabeça para esses opressores. Estou aposentado agora. ACIDENTE Casos de incêndios, que aconteceram aqui na refinaria foram dois, na realidade. Um foi numa barragem de contenção, durante a noite, era aproximadamente umas 22h da noite. Essa barra de contenção começou a pegar fogo, só estavam os turnos trabalhando. Nessas eventualidades, é o pessoal do turno, que tem que partir para cima do combate, para combater o fogo. Nessa nossa investida, tivemos realmente que entrar dentro do mato. Era de noite, com as mangueiras, as equipes todinhas desceram e tudo bem. Conseguimos debelar o fogo, aproximadamente, depois de quase uma hora de combate. No outro dia, nós fomos recolher as mangueiras que tínhamos utilizado. Aí é que nós fomos ver que tinham cobras mortas. Encontramos duas cobras mortas, pisoteadas por nós mesmos, na hora do combate ao fogo, sem ninguém perceber. Na hora do combate ao fogo, realmente, a gente parte para cima para debelar, para combater logo o fogo. Então, no outro dia é que fomos ver, que duas cobras realmente estavam mortas, pisoteadas por nós mesmos. Poderíamos até ter sido picados, mas felizmente não aconteceu isso. Uma outra, foi já agora, em 1996. Houve fogo, também, nessa barragem de contenção. Nessa época, também, foi a fase realmente tenebrosa, que eu passei, de perseguição, e houve, novamente, um incêndio nessa barragem. O engraçado, foi que no dia, o fogo estava se alastrando e a maioria dos empregados, companheiros, que estavam combatendo o fogo, vendo o alastramento do fogo, realmente, correram. Ficou só eu, mais três companheiros, combatendo o fogo. Eu tinha confiança no equipamento, que eu estava e continuei combatendo o fogo, praticamente sozinho. Os outros estavam distantes e, praticamente, toda chefia estava, do alto, observando o fogo que estava se alastrando. Numa hora, ninguém via mais nada, estavam realmente acobertados por uma fumaça negra. Foi quando começamos a injetar a espuma no fogo, então ficou aquela fumaça de negra, esbranquiçada. De longe, o pessoal, comentaram depois que pensavam, realmente, que o fogo tivesse passado por nós, que tinha nos envolvido. Mas não, nós realmente continuamos, eu e mais dois companheiros. Debelamos esse fogo, praticamente, só os três. Foi isso, que na realidade facilitou, de uma certa forma, a minha saída da Petrobras, pacificamente. Se fosse pelo superintendente, que estava na época, eles teriam me demitido, porque a idéia deles era me demitir. Porque eu sempre participava de todas as greves. Mas depois desse acidente, os outros chefes comentaram para ele, da minha atuação nesse dia desse incêndio. Quando ele realmente falou, como ser humano. Foi me agradecer por eu ter participado, heroicamente, para debelar esse fogo. Falou que não ia mais colocar nenhum empecilho. para a minha saída. Então, de lá para cá, começaram a dar realmente uma certa atenção, para o meu pedido de aposentadoria. APOSENTADORIA Foi em 1997 que eu saí. SINDICATO - TRAJETÓRIA SINDICAL Desde quando entrei na refinaria, fui sindicalizado. Comecei a entrar na direção do sindicato, mas foi uns 10 anos após. Entrava como conselho fiscal, ou um outro diretor, mas sempre estive ativamente no sindicato. Saí, mas ainda ocupo um cargo. Atualmente, eu faço parte do departamento de aposentados. Nessa greve de 1995, para ter uma idéia, acho que fui o único auxiliar de segurança interna da Petrobras, na região Norte, a fazer greve. Na Reman, nós tínhamos um quadro de aproximadamente, eu acho, uns 20 auxiliares de segurança interna. Fui o único a entrar, ativamente, no movimento grevista. Então, isso daí, fazia mais ainda ,com que os próprios superintendentes quisessem, de uma certa forma, me perseguir. Eu nunca me dobrei, sempre estive ao lado da classe trabalhadora. Atualmente, meu trabalho é, praticamente, só dentro do sindicato, vendo o lado dos aposentados. Quando há algum movimento grevista, já que faço parte da diretoria, fico também nas manifestações, aqui na porta da unidade, ajudo nas panfletagens. Eu digo assim, ainda tenho um vínculo muito grande com os ex-companheiros, que não estão na ativa, realmente, devido a esse meu período. Eles me chamam ainda, me chamavam de Bico Seco. Por quê? Eu nunca me dobrei, nunca molhei o bico, então sou conhecido como Bico Seco, daqui da refinaria. Nunca me dobrei aos opressores. APOSENTADORIA Quando saí não senti falta, devido a esse clima de opressão, que reinava aqui na refinaria. Felizmente, esse quadro está mudando, espero que mude mesmo, de fato. Com a eleição do presidente, do Lula, espero, realmente, que essa paz volte a reinar no seio da Petrobras, em especial com os trabalhadores. Que essa terceirização acabe e seja efetivada, uma contratação desses terceirizados, que sejam funcionários efetivos da Petrobras. Até mesmo, enquanto eu ainda estava trabalhando, o que sempre foi um hobbie meu, foi plantas. Eu tinha um pequeno sítio, cuidava desse sítio, criação de peixes, plantações, eu tinha uma atividade rural. Incentivava, também, os outros agricultores da área, a reivindicar os seus direitos. Então, o meu tempo ficou foi mais fechado, ainda. Porque eu assumi outros compromissos, mais com o pessoal dos trabalhadores rurais, que até hoje, também, faço um trabalho de acompanhamento, com eles nas reivindicações, na região, só de Manaus. CULTURA PETROBRAS Na realidade, eu não quis entrar na Petrobras. Eu estava já estudando e a minha idéia, realmente, era me formar em Engenharia. Eu era um bom estudante, levava mesmo a fundo. Era pobre, meu salário era o salário mínimo, mal dava para eu me sustentar. Nessa época, já morava só, então para bancar todo o meu estudo era realmente uma coisa muito difícil. Eu não queria entrar, porque meu sonho era me formar em engenharia. Entrar na Petrobras, trabalhar em turno, iria tomar o meu tempo, eu iria faltar às aulas. E também entrar como vigilante, o meu sonho era outro. O salário na época era bom. Era nem bom, era ótimo. Mas foi por pressão familiar. Eu tinha mais dois irmãos, que já trabalhavam aqui na refinaria, todos concursados também, então, eles pressionaram para entrar. INGRESSO NA PETROBRAS Na realidade, fiz o curso, passei, se não me engano, em terceiro lugar. Então entrei. Aconteceu uma coisa até hilariante na época. Quando eu passei admitido, tivemos que fazer exames médicos. Antes, eu trabalhava como auxiliar de laboratório e, vez por outra, fazia meus próprios exames, de sangue, fezes, urina e tal. Aí, quando foi feito o exame aqui, pela Petrobras, deu que eu estava com albumina. Albumina geralmente dá em mulheres gestantes. O médico aqui da refinaria disse que não. Eu não podia entrar, porque eu estava com albumina e eu tinha que fazer um tratamento. Foi mais uma revolta que eu tive, quer dizer, na época todos os colegas tinham passado também, assinaram a carteira, entraram, e eu fiquei fora. Aí falei com o chefe do setor de pessoal: “olha, eu não quero mais entrar aqui não, eu não quero” Eu já não queria mesmo: “chama outro do cadastro de reserva”. Aí ele: “não Ismar, tem que ter calma. Vou te dar mais uma semana para ti pensar, aí se tu não quiser mesmo, nós vamos chamar mais um outro, do cadastro de reserva, ta?” Quando saí da refinaria fiquei pensando: “Depois de todo esse tempo, três meses de curso, faltando aulas, esse negócio todo, não entrar na Petrobras por um exame de urina” Eu sabia que não tinha aquilo ali. Eu fazia esse exame constantemente, em mim. “Tá, vou fazer esse tratamento, vou mostrar para esse médicozinho, que ele está errado e tal”. Fui fazer o tratamento e foi comprovado que, na realidade, eu não tinha nada. Quando o médico viu aquilo ali: “é, realmente Ismar, tu não tinha nada”. Então, tive que falar algumas verdades para o médico, porque, pô, aquilo que ele estava fazendo. realmente, vamos falar assim na gíria, era uma sacanagem. Depois de passar um tempão, ser reprovado no exame de urina, ah, espera lá, paciência. Foi quando assinei a carteira, depois de 15 dias, e entrei na Petrobras. Mas os outros companheiros, que entraram junto comigo, fizeram o curso, entraram antes do que eu, porque não deu nenhum problema no exame de saúde deles. RELAÇOES DE TRABALHO O período que eu me arrependo, até minha saída, foram esses anos de perseguições, porque eles só davam valor aos puxa-sacos, àqueles que estavam trepados, ou segurando o saco dos chefes. Então, só eram esses que cresciam dentro da Empresa. Os bons profissionais não subiam, não tinham aumento, não recebiam níveis, simplesmente por estarem, sempre, do lado da categoria, do sindicato, reivindicando os seus direitos. Então, éramos marginalizados. Esse daí foi, realmente, um período de revolta para a gente. Parece que está mudando agora, pelo menos parece que está começando a mudar esse cenário. ENTREVISTA Isso daí vem mostrar que está mudando, começou a mudar. Acho que daqui a mais um ano, ou anos, todo esse cenário será realmente favorável, à classe trabalhadora e não aos entregadores da Petrobras, que ainda estão dirigindo a Petrobras. Esses caras, que estão aqui na Refinaria de Manaus, em muitos cargos de confiança, ainda são aqueles mesmos opressores. Ainda, não houve uma mudança de fato, dentro da direção daqui da Refinaria. É ótimo, foi uma iniciativa realmente que merece aplausos. Acho, que são iniciativas como essas, que vão fortalecer não só a Petrobras, mas toda a classe trabalhadora.
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