A história de vida de Maria de Fatima Caragiu Guajajara: Importante falar na gíria!

Importante falar na gíria!

Esta história contém:

Maria de Fátima frisa sobre a importância do ensino, a manutenção e a perpetuação da língua, dos cantos e da ritualística tenetehar entre os parentes, pois durante boa parte de sua juventude negligenciou os ensinos da cultura que vinha de seus pais e irmãos, afirmando que sofreu bastante por falta de um tempo adequado para o aprendizado dos elementos culturais devido a perda de seus familiares. Não deixar que a cultura se perca é um lema de sua história. Nesse papel, ela afirma que é necessário interagir com outras aldeias, pois assim o conhecimento é expandido. Depois ela diz que não falaria tudo de sua vida porque foram longos acontecimentos que envolvem casos com encantados e lendas. Em seguida, ela lembra que algo marcante em sua trajetória é a preocupação com a tradição do moqueado, com os cantos adequados para cada etapa, que vai da caça do peixe, o transporte, o armazenamento e o preparo. Por fim, ela descreve o artesanato que aprendeu com a mãe, e que hoje repassa aos demais, para que prossiga nas gerações futuras, na tentativa de que os elementos não sumam com o tempo.

Maria de Fátima Caragiu Guajajara, nasceu em 14 de novembro de 1955, atualmente reside na Aldeia Januária, município de Bom Jardim-MA, cresceu com os pais, mas ambos já faleceram, assim como as suas irmãs, atualmente é mãe, avó, dona de casa e artesã, para além, também cumpre importante papel na aldeia na ocorrência dos rituais do moqueado, auxiliando no preparo do peixe e durante a cantoria da festa, para tanto, por vezes regeu o mesmo ritual em aldeia diferente da que reside. Maria de Fátima assume uma figura de uma grande professora da aldeia, cheia de coragem, evoca o espírito da coletividade, contendo muito cuidado em ensinar os elementos importantes da cultura da tenetehara, para que não se perca, principalmente a comunicação na língua materna, a instrução do artesanato e dos cantos tenetehar entre as gerações mais jovens.

Um dia eu gostaria de contar tudo o que aconteceu na minha vida, a minha mãe sabia falar na gíria, eu nunca perdi o que papai e mamãe me disse, me ensinaram a cantar, aprendi com a mamãe e com a irmã que eu tinha, aí tudo que eles me ensinaram eu aprendi, eles me ensinavam quando iam para cantoria, mas eu não ia não, botava maior banca pra não ir a cantoria e ficava pensando: o que mamãe estava fazendo nessa cantoria?

O que minha irmã passava a noite todinha lá? Mas quando mamãe morreu e minha irmã morreu, só deu pra mim! Nunca pensei que ia parir, nunca pensei que teria neto que nem tenho vocês, o que minha mãe dizia, hoje eu tô passando! No dia que tu prometer colocar o moqueado no fogo, tu não vais mais largar, vai ficar o tempo todo assim, por isso o pessoal não gosta de fazer isso aí, o pessoal do Carú manda chamar a gente e nós vamos, nós vamos para pintar, pois quem é que vai na frente?

Nós temos que estar lá! Pois só rodando aqui dentro, meu filho, vocês não saberão de nada! E eu não vou estar aqui o tempo todo para ensinar pra vocês! É importante falar na gíria!

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