Programa Conte Sua História
Vidas, Vozes e Saberes em um Mundo em Chamas - Vidas e Lutas Ameaçadas
Entrevista de Kunumi Wera Dyjoiy (Simão Kaiowá - Norivaldo Mendes)
Entrevistado por Bruna Oliveira e Paulo Endo
Aldeia Kunumi (MS), 06/06/2025
Realizado por Museu da Pessoa
Entrevista n.º: PCSH_HV1473
Revisado por Bruna Oliveira
P/1 - Simão, para começar, a gente vai começar falando das suas origens. Eu queria que você começasse se apresentando, falando seu nome indígena e seu nome não indígena. E essa é a primeira pergunta.
R - Tá. Então, meu nome em guarani, tradicional é Kunumi Wera Dyjoiy. E meu nome verdadeiro é Norivaldo Mendes, é o que está no documento. E eu sou assim, na verdade, eu nasci na Reserva. Hoje eu tenho 46 anos. E a gente soube que a nossa família é desse território daqui, a gente voltou para o nosso território. Então, quando foram expulsos, nossa avó e a nossa mãe, quando eram crianças, vieram para a Reserva e quem não quis vir para a Reserva, a empresa que se chama Matte Larangeira, eles matavam, jogavam embaixo da casa de reza e queimavam, com a casa de reza e tudo. Então, quem não queria morrer, essa Matte Larangeira, queria que eles trabalhassem só a troco de comida, ficavam trabalhando a troco de comida para não morrer. E quem não queria trabalhar, eles matavam. Quem não queria morrer, vinha para a Reserva. Então, a nossa família, um pouco veio para a Reserva e quem não veio, quem não queria trabalhar para a empresa de graça, eles mataram todos.
(00:02:18) P/2 - E que época foi isso, mais ou menos?
R - Isso foi quando criaram a Reserva, na época do SPI [Serviço de Proteção ao Índio], eu acho, que foi quando eles criaram a Reserva aqui. E um dos nossos tios, que ainda está vivo, o Marcolino, eles erraram de vir para a Reserva, ele ficou nesse canto do mato aqui. Na época, ele ainda era jovem. E aí veio um pistoleiro do Matte Larangeira, mandou ele ir pra Reserva. Então, um que sobrou veio...
Continuar leituraPrograma Conte Sua História
Vidas, Vozes e Saberes em um Mundo em Chamas - Vidas e Lutas Ameaçadas
Entrevista de Kunumi Wera Dyjoiy (Simão Kaiowá - Norivaldo Mendes)
Entrevistado por Bruna Oliveira e Paulo Endo
Aldeia Kunumi (MS), 06/06/2025
Realizado por Museu da Pessoa
Entrevista n.º: PCSH_HV1473
Revisado por Bruna Oliveira
P/1 - Simão, para começar, a gente vai começar falando das suas origens. Eu queria que você começasse se apresentando, falando seu nome indígena e seu nome não indígena. E essa é a primeira pergunta.
R - Tá. Então, meu nome em guarani, tradicional é Kunumi Wera Dyjoiy. E meu nome verdadeiro é Norivaldo Mendes, é o que está no documento. E eu sou assim, na verdade, eu nasci na Reserva. Hoje eu tenho 46 anos. E a gente soube que a nossa família é desse território daqui, a gente voltou para o nosso território. Então, quando foram expulsos, nossa avó e a nossa mãe, quando eram crianças, vieram para a Reserva e quem não quis vir para a Reserva, a empresa que se chama Matte Larangeira, eles matavam, jogavam embaixo da casa de reza e queimavam, com a casa de reza e tudo. Então, quem não queria morrer, essa Matte Larangeira, queria que eles trabalhassem só a troco de comida, ficavam trabalhando a troco de comida para não morrer. E quem não queria trabalhar, eles matavam. Quem não queria morrer, vinha para a Reserva. Então, a nossa família, um pouco veio para a Reserva e quem não veio, quem não queria trabalhar para a empresa de graça, eles mataram todos.
(00:02:18) P/2 - E que época foi isso, mais ou menos?
R - Isso foi quando criaram a Reserva, na época do SPI [Serviço de Proteção ao Índio], eu acho, que foi quando eles criaram a Reserva aqui. E um dos nossos tios, que ainda está vivo, o Marcolino, eles erraram de vir para a Reserva, ele ficou nesse canto do mato aqui. Na época, ele ainda era jovem. E aí veio um pistoleiro do Matte Larangeira, mandou ele ir pra Reserva. Então, um que sobrou veio pra cá, outro foi pra Amambai, Reserva Indígena Amambai/Guapo'y, um foi para o Paraguai, então, é uma situação muito forte. Quem morreu mais ali, onde a gente chama Ka’agwyrysy, ali quem morreu mais foi da nossa família Wera. Nossa família Wera, porque a minha mãe se chama Luísa Wera. Então, a mãe dela, que é a minha avó, teve que vir de lá pra cá para não morrer. E o restante que não queria sair do seu território, eles mataram tudo, jogaram embaixo da casa de reza e queimaram. E aí é onde o local se chama Ka’agwyrysy. Aí tem Ka’agwyrysy, tem o Jukeri, Iwupiata'i, Musukwe. Então, ela conhece bastante aqui. Aí, recentemente, a gente perdeu também nossa historiadora, Dona Lenilda, ela morreu com 105 anos. Morreu agora em junho, em junho do ano passado, no caso. Vai fazer um ano agora em junho que ela faleceu. Então, a história que ela vem colocando na nossa mente, como foi a nossa história, como é que eles vieram.
(00:04:16) P/2 - Simão, e desde quando você se lembra dessas histórias? Que idade você tinha?
R - Então, sempre a minha mãe, quando a gente estava na Reserva, sempre a minha mãe falava. E o meu irmão, que é mais velho, hoje está com 60 anos, quando ele começou a lutar pelo território, quando eles fundaram o Aty Guasu, ele e o Marçal de Souza, fundaram o Aty Guasu lá em Pirakwa, onde teve a primeira retomada do povo Guarani Kaiowá na década de 1980. Então, meu irmão já estava começando o movimento, foram eles que fundaram o Aty Guasu. Então, ele já vinha lutando reivindicando o nosso território de volta. E hoje tem mais de 55 retomadas. Então, foi tudo pela organização que eles fizeram desde a década de 1980.
(00:05:22) P/2 - E você tinha que idade? Um ano?
R - Eu acho que eu nem tinha nascido (risos). Na verdade, eu já tinha nascido. Eu sou de 1978.
P/2 - 1978.
R - 1978. Então, eu já tinha dois anos, acho mais ou menos. Dois, três anos. Mas meu irmão já vinha lutando sobre esse território aqui, ele vinha reivindicando. Eles vinham começando. Foi o Pirakwa, depois teve Campestre, Tsukuri, Jagwapiru. E aí a gente foi crescendo. Eu, pra mim, porque a gente não conviveu na retomada, eu era à toa, né? Eu falava até do meu irmão quando eu tinha 15, 20 anos. Falava: “Meu irmão tá arriscando a vida dele à toa em vez de ficar tranquilo no território.” Mas eu não sabia o que era importante pra mim. A partir do momento que eu entrei no movimento e passei a ser a liderança, aí me arrependi de não ter começado antes na luta, porque antigamente não estava tanto assim, esse projeto de lei, esses PL [projetos de leis] que estão vindo aí. Então eram todas coisas mais fáceis e hoje está mais complicado. Mas mesmo assim, hoje, o meu pensamento não é de dizer assim: “Não, eu vou abandonar a luta por devido, vem muita coisa, vem a perseguição, vem ameaça.” Então, falei assim: “Já que eu estou na luta, vou ter que continuar.” Então, isso vem continuando. Isso aqui, na verdade, estava tudo pronto já. O estudo estava pronto, estava completo estudo desde Pindo Roky. E aí é onde começou a nossa retomada aqui na região de Caarapó foi a partir do momento que eles mataram o Denílson Barbosa, o guri tinha doze anos, foi pescar e mataram ele. Mas aqui já estava pronto, né? O estudo só faltava publicar. Então, esse Pindo Roky foi um da retomada, primeira retomada depois da morte do Denílson Barbosa. E o segundo foi o Tey’i Juçu. Tey’i Juçu aqui, em 2014. Aí em 2016, depois que saiu a publicação, devido à pressão, para sair a publicação, nós tivemos que ir para Brasília, fazer a pressão lá na presidência da Funai, porque a gente sabia que o estudo estava pronto. Tivemos que ficar dois dias na Funai para eles publicarem esse território aqui. Então, depois dessa publicação, a família decidiu pegar esse território aqui, foi onde a gente sofreu o massacre, quando se reuniram mais de 80 caminhonetes ali para nos atacar com trator, pá carregadeira. E aí o nosso companheiro Clodiode estava ali no portão, foi um dos primeiros que mataram. Depois atiraram, foi na liderança daqui, foram 18 balas de borracha. Depois deixaram uma professora ferida, dois professores, na verdade, o Jesus também levou um tiro. E o Libercio que ficou três balas, eu acho que no crânio dele. E o Valdilho, que pegou uma bala na barriga dele, que atravessou pra cá. Eu... me acertaram aqui e a bala ficou na capa do coração. E o guri de 12 anos que estava aqui, a gente estava nesse portão aqui. E aí é onde... a gente sofreu o massacre e é onde a comunidade daqui se expandiu, né? Aí fez aqui, refez a retomada ali no Nhandeva, fez lá na outra, foi aqui no Guapuã, onde o pessoal perdeu a paciência de estar esperando, por devido à morte que eles fizeram. Só que até hoje a gente não recebeu a resposta do massacre, teve exumação do corpo, a gente não teve resposta da justiça e também o sobrevivente que já faleceu, Jesus, Zenildo, é... Benegildo e o Lúcio, né? E, recentemente, o meu sobrinho, né? São seis sobreviventes que já vieram a óbito, né? E o que restou agora, só estamos em três, que é sobrevivente do massacre. E a gente tá resistindo aí, até onde der.
00:10:36 P/1 - Vocês foram criminalizados, né?
R - O pai do Claudio hoje foi criminalizado 18 anos e 7 meses. Mas aí a gente conseguiu falar com a Defensoria, fomos em São Paulo, em Brasília, falamos com o Conselho Nacional de Justiça, procuramos várias entidades para dar apoio. Conseguimos tirá-lo com 4 anos, mas a condenação dele foi de 18 anos e 7 meses. O pai do Claudiode, que em vez dos fazendeiros serem criminalizados e o pai que não matou, não roubou, foi criminalizado. Falando dele que ele era o chefe de quadrilha. Então, ele foi criminalizado. Inclusive, depois vem... Eu também fui perseguindo, a polícia veio várias vezes atrás pra pegar. Aí eu tive que entrar na proteção dos direitos humanos. Mas aí a gente não tem seguro. Aqui já teve a caminhoneta rodeando em casa todos. E ainda bem que a gente não estava aqui. E o meu filho sempre ficava aqui. E se ele tivesse ficado aqui, aquele dia eu acho que ele tinha sido pego. Mas a gente sofre por causa das ameaças. A gente já recebeu carta ali falando que a gente ia morrer. Teve tiro aqui por cima da casa. Mas a gente sempre tá aí. Por isso que eu falo, a gente não tem essa proteção. Pra falar que eu tenho segurança, eu não tenho. Não tenho proteção nenhuma, né? A gente tá pedindo pro Nhanderu mesmo a proteção pra que protege nós.
00:12:23 P/2 - Simão, você poderia falar um pouco dos seus ancestrais? Também dos seus pais, dos seus avós? Como é que é essa história dos seus ancestrais?
00:12:36 R - Eu não cheguei a ver meu pai. Meu pai morreu quando eu tinha dois anos. Nós ficamos oito, cinco mulheres e três homens. Só que eles são tudo demais. Eu sou o caçulo da família. Então, as três que ficaram, que a minha irmã um pouquinho mais velha do que eu, a outra minha irmã um pouquinho mais velha, eles foram na fazenda com meus irmãos, foram pra fazenda. Meu pai não cheguei. Ele foi liderança, foi muito tempo aqui na aldeia, mas não cheguei a ver ele. Aí ficou a minha mãe. A minha mãe cuidou de mim até que eu acho que oito anos de idade. Aí ela me abandonou. Eu cresci guacho. Então... A minha vida foi bem difícil de crescer. Porque… tive que me virar para comer. Porque a minha mãe me abandonou e foi para a fazenda. Paraguai. E eu tive que ficar sozinho. Na tapera. E... Eu fiquei até 11 anos de idade, sozinho. Aí meus irmãos vieram da fazenda. E esse meu irmão, que estou falando que era de luta, ele é o primeiro da família. Mas ele já andava por ali, conhecendo as aldeias, conhecendo a luta, como foi a luta. Ele foi um do coordenador da Apib também, que ficava mais em Brasília do que pra cá. Então, ele que abriu a minha mente, porque como eu fui abandonado pela mãe, eu me envolvia mais trabalhando em fazenda. Então, depois que eu saí da fazenda, quando eu tive 27 anos, que eu assumi a liderança, aí é onde foi que eu aprendi como foi a luta, né? É importante, né? A primeira reunião que eu participei foi em 2007. A primeira reunião e ali é onde eles já me colocaram para ser o conselheiro do Aty Guasu, né? E aí, então, ali eu fui aprendendo que era bem diferente do que eu estava pensando. É melhor a gente lutar pelo nosso povo do que a gente abaixar a cabeça de não lutar pelo direito do nosso território, da nossa vida. Quando se fala do território, a gente está defendendo a vida, a saúde e a educação. Porque sem território não há saúde e não há educação. Então, a partir dali, eu nunca voltei mais para trás. O que eu aprendi a luta foi mais um pouquinho com a minha mãe, E com a minha avó, né? Que falava da história. Era muito interessante quando ela fala da história. Tem vezes que ela toma chimarrão com nós. Comigo, assim. E ela contando a história dela. Porque ela fala que aqui, de Rio Brilhante até Paraguai, até Rio Paraná, elas percorriam tudo a cavalo. Porque tinha uma época, por exemplo, agora, época de abril e maio até julho, era uma data de jerosy, da nossa reza tradicional. Então, em cada território fazia jerosy em três dias, dois dias. Então, ele saía de casa para percorrer todas as aldeias. Aí chegava na casa dele depois de dois meses. Então, Todo mundo, assim, ele visitava a cavalo. Aí ela falava da história aqui, tinha os moradores, os nossos parentes que ela falava, era uma rezadora muito respeitada. Então, fazia tudo, ia pra Taquara, vinha pra cá, cavalo. Como ela fala assim, como era jovem, meus pais andavam de pé, mas nós andávamos a cavalo. E percorria tudo. Fazia tudo de Erosã, né? Aqui. o povo Guarani-Kaiowá, depois ela era moreira. Aí ela falava assim, com dois meses nós chegava em casa. Depois ficava ali trabalhando, até chegar a época de jerosy de novo, né? Meio de abril, maio, junho, né? Aí saía fazer essa rota de novo. Tinha um ano, né? Cada ano tinha esse encontro, né? E todas as aldeias saia junto. Ela falava que as crianças iam a cavalo onde escurecia, dormiam e no outro dia iam de novo. Tem vezes que ela falava que gastava cinco dias para chegar em um território. E lá a gente ficava três dias fazendo a nossa reza. E de lá a gente saia para outro território. Aí ela falava da Taquara, do Guiraraucá. Aí falava do agora Santiago Pê. Aí falava como é que ela atravessava rio, rio Amambai, né? Falava pra ela assim, mas não tem ponte ali, como é que vocês atravessavam? Ela falava que tinha um lugar lá que elas atravessavam a cavalo. E os pais atravessavam nadando. Então, a história dela a gente aprendeu foi mais com ela, né? Com meus pais mesmo. Eu não cheguei a ver meu pai. E o pai do meu pai também não cheguei a ver, mas ele morreu aqui na aldeia Ataquara. Então o que eu me apeguei mais foi com a minha avó, mãe da minha mãe.
00:18:45 P/1 - E te contaram como que foi seu nascimento?
00:18:49 R - Olha, eles falaram pra mim que, na verdade, eu não nasci aqui. Dizem que eles foram fazer erva aqui perto, aqui, mas a nossa casa era aqui. E aí, a minha mãe foi grávida daqui pra roçar ervão. E aí é onde eu nasci, nem sei pra onde. Me trouxeram pra cá depois de nascido. Mas aí eu fiquei pra cá. E aí eu sou um dos caçulas da família. Aí os outros já é tudo... O mais velho. A outra minha irmã já tem... 62 anos, acho, 63. Esse meu irmão tem 60. Aí o outro já tem cinquenta, cinquenta e pouco, cinquenta e cinco, eu acho. E vem abaixando. Aí eu tô com quarenta e seis hoje.
00:19:44 P/2 - E Simão, e quando sua mãe foi embora, quem cuidou de você?
00:19:49 R - Na verdade, eu me virei sozinho. Na minha casa tinha laranja, né? Poncã. E aí eu comia só poncã, né? Poncã, laranja, goiaba. Então, mas ficava ali. na minha casa, né? Tinha criação, assim, galinha, mas eu não queria matar galinha. Eu preferia comer fruta do que... pegar galinha.
00:20:15 P/2 - Que idade você tinha?
00:20:17 R - Eu tinha oito anos. E aí teve uma época que acabou tudo, né? Acabou laranja, goiaba, abacaxi, acabou. Aí... a minha tia, né, falou pra mim assim, vai lá, pede pra sua mãe, vê se consegue arrumar uma compra lá pra você. Aí ele mandou o meu primo ir junto. Na fazenda. Aí quando eu cheguei lá, o meu padrasto não gostava de mim, né? Porque tinha aquele tambor de 20 litros, eles mandaram eu puxar água com o sarico. E eu não aguentei. E o tambor bem cheio, né? E quando eu levei pra puxar, eu não aguentei, né? E voltou aquele braço do sarico e me acertou bem aqui. Quebrou esse osso aqui. Aí eu fui acordar no hospital. Aí depois, eu tive que vir da fazenda sem nada, sem compra. Porque o marido da minha mãe não queria que dessem nada pra mim. Aí nós tínhamos que atravessar no meio da boiada pra chegar em casa de novo com o rosto quebrado. E foi uma situação difícil pra mim. Por isso que não tive oportunidade de estudar. Eu estudei até quinta série, eu tive que ir trabalhar para a usina. Aí a minha irmã, a outra mais velha veio e ficou comigo, na verdade. E aí, com 13 anos de idade, ela até pensou em casar. Falou assim, eu vou casar para o meu marido cuidar de nós, tratar de nós. E eu falei pra ela assim, em casa não, que eu vou trabalhar. Aí eu saí com 11 anos e fui pra Usina trabalhar, cortar cana. Então eu tive que sair da escola pra ir cortar cana. Fiquei lá 70 dias. Quando eu voltei de lá, a minha irmã já tinha arrumado um cara pra ficar com ela com 13 anos. E aí eu cheguei desse serviço, aí surgiu outro serviço lá perto de Ponta Porã e eu tive que ir pra lá. Aí eu fui trabalhando, sem voltar pra estudar. Porque era uma situação muito difícil que eu tava enfrentando. E hoje tô aí, levando a vida.
00:22:49 P/1 - Eu queria saber se além das histórias de luta que você ouvia, essas histórias que sua avó te contava do território, se ela contava outras histórias para vocês.
00:23:04 R - Ela contava assim da reza tradicional, contava assim qual que era a comida típica dela quando chega no Dirossur. Então ela contava assim, dessa caminhada que elas faziam, né? Antes de expulsar pra reserva, né? E depois que expulsaram, que criaram reserva, aí que os fazendeiros não queriam mais que atravessasse por fazenda pra ir em outro território, né? Aí só de falar pra eles que podia ir só pra reserva, não podia mais ir pra outro território que não existia mais, né? Que já tinha expulsado tudo, né? Então, por ali que ela falava pra nós, né? Eu acho que é bom você e o seu irmão se ajuntar e defender a nossa terra. Quem sabe, ela falava pra nós assim, quem sabe se eu não morrer, eu consigo ver ainda o nosso território. E aí ela falava assim, eu tenho vontade de ver o meu território. Quando o pessoal retomar o Pirakuá, Ela falava muito, ela chorava, falava assim, eu queria ver o meu território de volta. Eu acho que eu vou morrer e não vou ver o meu território. E foi muito triste quando teve a morte dela, não chegar a ver o seu território demarcado. Como o seu Tito também, que agora está com 107 anos. E tá naquele pedaço lá, 45 Kitari, né? Que já tá com mais de 40 e pouco anos de luta lá e não consegue ver a sua terra demarcada, né? Já foi despejado, né? Então, a história dela era dessa forma, assim, que contava pra nós. E quando teve Piracuá, ela até lembrou desse aqui, né? Falou assim, quando será que a gente vai entrar no nosso território? e não teve essa oportunidade de ela participar, né? Sou a outra avó da Maria que com 105 anos que ela conseguiu ver não seguiu, não conseguiu ver demarcada, mas conseguiu ver voltando pro nosso território.
00:25:30 P/1 - Como era o nome da sua avó?
00:25:33 R - A minha chama Manuela Vera. A da Maria que morreu recentemente, que vai fazer um ano, Lenilda de Souza. Ela morreu com 105 anos. E ela canta assim, que ela começa a cantar. Tem vezes que eu tento gravar dela, mas ela não quer. Assim, quando se pergunta pra ela pra gravar, ela fala assim, não, não quero. Aí tem vezes que eu ficava escondido dela. Ela sentava aqui fora e ela cantava. Vários cantos assim, de Roçã, é Guahú, Guaxiré. Então ela cantava cada canto bonito assim, eu tentava perguntar pra ela pra gravar dela, ela não queria deixar. E aí só ficava escondido dela, né? Quando ela tava sentada aqui perto da parede, eu ficava pro lado de lá pra gravar dela. Mas mesmo assim eu não cheguei a gravar muita coisa dela. Ela foi uma das mais velhas, né? Da história que morreu. E ela conhece tudo aqui, como ela fala que percorreu todas as aldeias, percorreu, né? E ela conhece tudo onde fica o território. Tem vezes ela fala assim, aquele território lá não era ali, o território era um pouquinho pra lá. Ela falava onde era o local, né? Ela conhecia tudo.
00:27:01 P/2 - E Simão, você se lembra dessas viagens? Você era pequeno, né?
00:27:05 R - Não, nem me lembro.
00:27:06 P/2 - Mas você estava na viagem.
00:27:11 R -
Não, eu não estava. Quem estava era ela, a minha avó. Então eu não estava nessa viagem. Ela que fazia tudo isso com a minha mãe. E eu nasci, foi bem pra cá já, né? Depois que saiu a reserva. Mas a gente sabe pela história que ela conta. Pela história que ela conta, onde é. Então ela falava assim, aqui tinha rezador Souza, tinha Margarida, ela falava assim. Lá onde foi queimado também era uma família Souza. Porque antigamente, o rezador que... Era a cabeça, né? Então a família do rezador ficava tudo em redor da casa de reza, né? Não ficava esparramado, como você vê a reserva que fica a casa aqui, a casa ali, né? Então eles ficavam aqui, uma família aqui em redor da casa de reza. Aí, uma distância depois, outra família que ficava com as suas famílias, né? Rezador. Então não ficava tudo esparramado. Cada território era um grupo de família, né? Cunhado, mora, gerro, neto, ficava tudo em redor da casa, né? Da casa de reza. Mas depois que diz que criou a reserva que foram expulsando eles do território. Então, assim, ela contava pra nós, né? E diz que foi muito triste quando eles vieram pra cá porque eles não queriam sair do território, porque já acostumou, já convivia muitos anos ali. Tive que deixar, falou, muita coisa. Tive que deixar nossa planta, tive que deixar nossas casas, que queimaram tudo. E as pessoas que não queriam sair, eles matavam, né? E quem matava mais os índios era esse Matte Larangeira, né? Que mexia com a erva, né? Então, eles contratavam muito o Paraguai aí pra trabalhar pra eles, né? E aí os indígenas sofriam na mão dele como escravo. Acho que no vídeo até aparece, eu não sei se o Roninho tem esse vídeo.
00:29:32 P/2 - No massacre?
00:29:33 R - Não, os indígenas trabalhavam escravo pra essa empresa, Matte Larangeira. Tem esse vídeo, eu não sei se o pessoal do Cimi (Conselho Indigenista Missionário) tem, porque eu já assisti esse filme. Foi muito triste o pessoal trabalhar escravo, só a troca de boia. E quem não queria sair, nem queria vir pra reserva, eles matavam. E quem não queria morrer, vinha pra reserva. E não saía, ia pra longe. Então... Era bem complicado, né? A situação nossa.
00:30:07 P/2 - E, Simão, e a sua família hoje? Como está?
00:30:10 R - Então, tem a minha família. Parte dos irmãos tá tudo na retomada aqui. Da minha família. Aí, aqui tá o meu irmão. Tá... Um, dois, três, quatro. Quatro, a minha irmã tá aqui. Um tá na reserva. Ela teve que voltar pra reserva por devido à saúde dela. Inclusive, ela deixou a casa dela ali, porque até pra atender à saúde, ele dificulta, né? Fala que na retomada não pegaram litígio, né? Não pode tá entrando no caminhonete direto. E como ela sofre pressão alta e diabética, teve que voltar pra lá pra cuidar da saúde dela. Então, é... E outro meu irmão tá próximo do jacaré. Recentemente ele se acidentou também. O motorista do ônibus tava bêbado. E ele tava vindo dentro do ônibus. Aí o motorista freou. Ele tirou o vidro na cabeça dele e ficou embaixo do motor dele. Aí ele ficou mental, aí teve que voltar. E a filha dela que mora pra lá levou ele pra cuidar dele. Aí aqui tá a minha família, minha irmã tá aí, né? Depois do corvo, lá de lá. E aí eu tô aqui e minha família tá aqui. Aí a tia, os parentes aqui, tá aqui na reserva, só que elas não querem vir pra retomada por devido falta de energia, falta de água. Então quem tá... acostumado com a energia, é difícil de vir para o escuro. Porque toda hora se toma água gelada, tudo isso. Tem frio, tem alguma coisa. Não vai querer encarar a retomada mesmo. Então, tem que ser da luta mesmo para encarar. Hoje eu já estou aqui, na verdade, desde o Rio do Sul, que foi em 2014, que estava na retomada. E aqui vai fazer 9 anos agora, dia 14 de junho. Então, praticamente quase 11 anos já que estou na retomada.
00:32:26 P/2 - Simão, qual é a sua esperança, assim, na sua história de vida, da sua luta? O que você espera?
00:32:36 R - Então, a esperança que eu tenho, como eu falei, que tempo atrás quase morri, a esperança minha é de deixar essa terra demarcada, né? Não só aqui, né? Que agora eu tô na coordenação da Apib também, né? E coordenando o Aty Guasu. Então, eu quero deixar tudo essa luta, né? Pra toda aldeia, pra cada liderança, né? Que a gente já visitou. Eu, na verdade, eu tô visitando 61 aldeias, né? É a única aldeia que eu não fui aqui ainda. Aqui sete placas. e Laranjal, mas o resto das aldeias eu já visitei tudo. Inclusive a gente faz a nossa assembleia em cada aldeia diferente. Então eu entrei em 2007 na organização, no movimento. Então já percorri todas as aldeias e muitas aldeias me conhecem. Por exemplo, Laranjeira e Nhanderu. Quando teve o Dauto, a Clara e o Gualói que levaram o preso, a gente teve que ir lá ajudar, pra hoje ele estar ali na retomada deles. Quando teve massacre aqui no Guapuú, a gente teve que ir ali pra defender eles, deixar eles ocuparem o território deles. E aí quando teve a morte do do Alex. A gente teve que ir lá também. Lá no Diopará, né? Em vários territórios. No Marangatu, quando teve o massacre, a gente teve que estar lá. Então, as pessoas já conhecem a minha luta, né? Então, eu saí de lá, eu fui para a Europa levar essa denúncia, né? O que estava acontecendo aqui com o povo Guarani Kaiowá, né? Dentro do Mato Grosso do Sul. Então, a esperança minha hoje que eu quero que saia a demarcação do território Guarani-Kewa pra que não haja mais morte, né? Porque é muita morte acontecendo aqui pra nós, né? Porque só depois que eu assumi, teve vários assassinatos, né? Depois do Nizio Gomi, né? Tem vários assassinatos, né? Tem o Clodiode, né? Tem o Nilson Barbosa, Jesus, né? Aí tem o... o Vítor, né? Aí teve o Alex, aí teve Churiti Lope, Dorival Benito, Simeão Vilhalva, Churiti, né? Então é muita morte acontecendo. Recentemente, quando teve outro massacre, foi o... Esqueci o nome dele do rapaz. O Aldeniro, acho. Esse que morreu por último. Aí teve atropelamento, por causa da retomada, teve duas mortes em atropelamento. Teve aqui em Douradina, massacre. Então, quando a gente tá na organização, a gente tem que levar a nossa voz pro da comunidade. Então, a esperança nossa é que um dia, que esses territórios indígenas, que seja tudo demarcado. Mas tá difícil. Tá difícil de sair do papel. Quando sai, eles começam a derrubar uma hora pra outra. Então é muito complicado a... Ojetar, né? Como que a gente consegue... Recentemente aprovou, né? Essa... Essa lei de novo, né? Contra... A homologação dos territórios indígenas, limô do cavalo, né? Então... A gente é... É assim, não tem... É assim... De falar assim, não... Ano que vem a gente vai ter a nossa terra demarcada, né? Vai ser luta, né? Porque... Quando aplica... É... Essa lei ali contra o morro de cavalo, com certeza vão querer aplicar no outro território também, como foi o Marco Temporal. O Marco Temporal era pra terra de Xokleng, né? Não, pra Raposa Serra do Sol. E aí, incluiu todo mundo nesse Marco Temporal. E aí, cada vez mais estão alimentando ele, né? Colocando lei, né? 14.701, agora com PEC 48, né? Então a gente de um lado e de outro vai ser luta, né? Não vai ser tão fácil de a gente conseguir o nosso território. Pra eles tomar o nosso território foi bem fácil, né? Só expulsaram nós, né? Agora pra nós conseguir o nosso território vai ter que encarar vários projetos de lei aí que tá vindo.
00:37:23 P/2 - E Simão, e o que que você tem encontrado nessas aldeias todas que você visitou? O que que você tem sentido quando você visita essas aldeias?
00:37:33 R - Então a gente sente o descaso dos parentes, né? Por exemplo, em cada aldeia que a gente vai, Ipohi mesmo, Ipohi, Sombrerito, Potreiro, Laranjal, a gente vai, é descaso total. Lá não tem o Nasa, SESAI, que atende por parte da saúde, não tem educação. A pessoa encara quilômetros, estrada, para chegar na escola. Quando não chove, né? Quando chove também as crianças já não vão mais pra aula por devido muito barro, né? E aí não tem apoio da Funai para levar a agricultura pras famílias, né? Então é uma situação que é descaso total, né? Quando você vai reivindicar algum projeto, eles falam que não, a área está em litígio, a gente não pode e aplicar projeto do governo, porque a área está em litígio. Então, de um jeito ou de outro, a gente sofre. E aí, onde as pessoas que retomam o seu território, vem o arrendamento. O pessoal vem, fala assim, ó, a gente negocia ali o arrendamento com você e tanto o valor, nem aquele valor adequado, oferece alguma enxaria e é onde o pessoal acaba entrando no arrendamento. E aí vem essa outra lei que Terras indígenas não podem ser arrendadas, mas só que a política pública não está sendo implantada para a comunidade. É ônibus para estudantes, caminhonete para levar o pessoal que está doente. Lá em Sombrerito, o médico vai lá uma vez por mês. Não tem nem uma casinha daquela para atender o paciente, atende embaixo da árvore. É uma situação, mulher grávida, como que vai fazer embaixo da árvore? A gente leva isso para as autoridades, né? Na época do Bolsonaro era bem mais ruim, né? Agora que tá melhorando um pouco, né? Que o pessoal tá sendo atendido onde era uma vez por mês, agora tá sendo duas vezes por mês, de quinze em quinze dias, né? Que tá sendo atendido onde está faltando mesmo, mas aí já falta água, né? Aí já não tem água. Água encanada, o pessoal tem que tomar aquela água contaminada por veneno, né? É tudo. É uma situação que a gente enfrenta lutando mesmo. É difícil a gente enfrentar assim e falar que a gente vai... Pega a nossa retomada e a gente vai viver tranquilo, né? A gente enfrenta várias situações, né? Que nem aqui. Estou com nove anos, aqui não tem energia, já mandei várias vezes para trazer energia para nós, eles falam que tem que ser a via judicial. Aí eu consegui cavar o poço aqui normal, que foram quinze metros, aí eu saí na laje. Aí não consegui cavar mais. Aí a água que a gente está trazendo é aquela caminhão-pipa da prefeitura. Quando não quebra, né? Se quebrar também a gente fica quatro, meio, três meses sem água aqui. Então aí a gente tem que ir descer lá pro Corgo. O Corgo daqui dá 1.200 metros. E aí a gente tem que ir com o balde lá pra trazer. Tem uma situação que a gente enfrenta que é descaso, né? Onde a gente passa. Se aqui, por exemplo, aqui é mais centro, né? Caarapó, Dourados é mais centro. Se aqui já tá nessa situação, imagina o que tá lá na divisa do Paraguai, né? É bem pior, né? Então, é muito complicada a situação. Quando você vai reivindicar alguma coisa, é sempre os alegres. Não, a área está idêntica, a gente pode aplicar projeto ainda. Aqui eu perdi quatro alqueires de mandioca. Eu perdi feijão. Eu perdi arroz. Eu perdi criame de peixe. Não consegui vender porque eu tinha que ter CNPJ. Aí a Graer, que poderia ajudar, pequeno produtor. Aí eles levaram tudo, minha documentação. E aí eles falaram. Depois de dois anos. Aí eu fui, tava entregando mandioca descascada pro mercado conhecido nosso. Aí o fiscal me pegou bem na porta do açougue. Falou pra mim que eu tinha que correr atrás do selo, do SNPJ. Aí eu falei pra ele que a graia já tava fazendo pra mim. Aí ele falou, não, eu acho que é melhor, então, você correr atrás pra você trabalhar mais tranquilo. E se eles tão fazendo, ele falou, acelera ele pra liberar o papel pra você vender tranquilo a sua mandioca. Aí eu fui falar com ele, né, perguntar pra ele, porque ele já tinha levado minha documentação há tempo, né. Aí, quando eu cheguei lá, eles falaram pra mim que não podia fazer porque eu estava na área de litígio. Aí, ele falou que eu tenho que estar na área regularizada. Aí, eu acabei perdendo o mandioca com a talqueira, perdi o meu feijão e perdi o criame de peixe, pessoal, porque eu estava cuidando, né? Depois que... Não teve selo nenhum. Ficou difícil de a gente vender. Aí, de 1.500 que eu soltei, só peguei 300. Tambaqui. Aí eu larguei a mão também. Então, é complicado, né?
00:43:27 P/2 - E como é que você sobrevive hoje?
00:43:29 R - Então, hoje, eu tenho a minha rocinha ali. E hoje eu tô na coordenação da Apib, então eu recebo ajuda de custo da Apib. Então, é o que tá ajudando um pouco, né? Mas quando eu fiquei doente aqui, a minha situação foi muito pior, né? Tive que fazer cirurgia, né? E aqui, até isso, o médico, quando eu tomei o tiro, que eu fui pro hospital, O médico falou assim pra mim, na próxima vez que você invadir a fazenda, não vou fazer esse corte pequeno não, vou cortar esse pescoço, falou pra mim. E aí quando a apêndice estourou, eu entrei juntamente com esse médico de novo. E aí é onde o pessoal do Cimi, da Funai, da Sesai, Ministério Público, foram lá no hospital. Eu falei pra ele que eu não ia fazer cirurgia com esse cara. Porque eles iam caçar um jeito de me matar, né? E aí é onde se reuniram lá, todo o órgão lá, foram lá e pressionaram na excepção ou na diretoria, eu acho. Falaram que eu tô só a pena com o Apêndice, né? Que ia acontecer alguma coisa, porque aqui, esses quatro óbitos que tá aí, aqui, foi tudo com esse médico. O médico conhece quem é a família do Claudio, então veio tudo a óbito. Então, a gente até suspeitamos, né? E aí, quando a gente falou pro Ministério Público, ele falou assim pra mim, você tinha que ter gravado. Como que eu ia gravar? Porque eu já tava... Porque eles deixaram até pra mim morrer, né? A minha cirurgia tava pra marcar no mesmo dia que eu tomei o tiro, né? Eles deixaram pra mim fazer a cirurgia no outro dia. E o sangue já tava cheio no pulmão, né? Não conseguia mais respirar. Então aí a diretoria do hospital lá veio e falou, né? A cirurgia dele tava marcada pra onde? E por que que não fizeram cirurgia? Aí, eu chamaram a atenção dos médicos lá e depois eles me levaram lá, né? Lá que eles falaram pra mim, né? Que se eu invadisse de novo fazenda, ele não ia fazer corte pequeno, ele ia cortar minha cabeça, meu pescoço, né? E até isso a gente passa aqui, né? Quem tá reformado, vai no hospital, é atendido mal e mal, né? A mesma doença que eu operei, de apendicite, o outro cara também operou, a costura dele foi bem costurada, né? E a minha é o que eles fizeram. Eu não morri por pouco. Cortaram e... Mesma coisa de costurar um saco assim, longe um do outro.
00:46:33 R - E aí depois de dois meses eu sofri acidente ainda. Ainda resolvi o problema lá na aldeia que teve no Pelito. E aí é onde piorou a minha saúde, né? E aí não pude fazer mais força, não pude mais trabalhar na roça, né? Aí quem tava trabalhando pra mim era o Tadeu. Só que hoje também ele sofreu um acidente, né? E aí a gente tá levando o que pude, plantando o que pude.
00:47:04 P/1 - Eu queria perguntar uma coisa. Assim como sua avó contava pra você as histórias, hoje você repassa essas histórias?
00:47:16 R - Sim, repasso. Repasso com meu filho. Tem vezes que a gente vai na universidade, noites políticas, a gente fala pro pessoal, pro estudante, né? Inclusive, na escola mesmo, a gente tem vezes que a gente são chamados para falar das histórias e a gente repassa isso para as crianças. Então, a gente não guarda só para nós. A gente quer que as outras crianças também aprendam como é a nossa luta e como é o nosso direito. Então, a gente está repassando, sim.
00:47:50 P/1 - Eu queria perguntar pra você, eu queria voltar um pouco pra fazer umas outras perguntas, mas depois a gente vai pra frente de novo. Eu queria perguntar, como que você recebeu o seu nome?
00:48:04 R - Foi o batismo da... com a minha avó. Esse nome indígena. Aí a outra lá, eu acho que a minha mãe inventou.
00:48:13 P/1 - E como é que é esse...
00:48:20 R - Esse batismo dura no começo da noite até meia-noite. O espírito desce nele e eles dão o nome. Agora, como o rezador mesmo que faz batismo está indo tudo embora, É quase difícil de você encontrar já o batismo hoje. Só quando tem o Aty Guasu mesmo. Aí junta alguma liderança e cacique, né? Que é rezador, que faz batismo. Mas é difícil de você ver mais batismo assim, na reza mesmo. Hoje tem muito evangelho dentro da aldeia. Então aí o evangelho acaba trazendo outra visão do que a do nosso próprio rezador, né? E aí, tem vezes que nosso rezador até é chamado de diabo, né? Então, muda a visão das pessoas. Então, aí o rezador não está sendo mais valorizado, né? E aí a gente vai acabando... Assim, a gente está fortalecendo as crianças que têm interesse de aprender, né? pra fazer reza, né? Aprender com... com... com... com nossa avó. E... e tá tendo bastante já as crianças agora que... tá... tá sendo bem incentivado, né? Que nem Kênio, tem o Germano, e tem outro, Douglas. Eles tão bem treinados já pra... pra rezar, né? Então aí a gente tá levando também pras outras crianças aprender, né? É só perguntando que eles contam, né? Se não perguntar, o rezador também não conta. Então até eles estão achando que está sendo incluído, né? Assim. Mas não, aí a gente tá correndo atrás pra que ele seja valorizado, né? Aqui mesmo a gente tinha nosso rezador, a Leonilda. E aí queimou a casa de reza, né? Sem a gente inaugurar. E aí a gente ficou sem rezador, né? A gente aprende alguma coisa, mas a gente não aprende o que o rezador mesmo reza. Pra segurar tempestade, pra segurar reza de cura. reza de defesa, então a gente não tem esse canto. Então o rezador tem esse mesmo canto para proteger. Por exemplo, quando eu vou sair para viagem, que eu vou para Brasília mesmo, tem vezes que ela chama aqui e fala assim, Simão, vou rezar por você, que você vai bem, chega bem e do seu retorno de volta. Sempre ela reza por mim quando eu vou sair. Então ela tem aquela reza de proteção. Quando a polícia estava correndo atrás, ela pegou e me falou assim, esse aí vai acabar, não precisa se preocupar, vai acabar. Então ela rezava por mim e hoje eu não tenho nada no nome, através da reza dela. Então aí sempre a gente é protegido pelo rezador, mas como aqui só tem um só, que é o Lídio, que tem a casa de reza, que reza ainda por alguma pessoa. Inclusive ele tá ensinando os alunos ali na aldeia, ali na escola, e ele que tá ensinando. Mas é os poucos que a gente tem, né? Os mais antigos já foram todos.
00:52:23 P/1 - E qual que é a importância da reza para o Guarani Kaiowá?
00:52:29 R - Então, a nossa reza é importante para nós porque é para o nosso espírito, né? A nossa proteção, como eu falei, serve para curar, para livrar de algum perigo. Então, a nossa reza é importante para nós, que fortalece a nossa vida. Então, se a gente não tiver ela, a reza mesmo, a gente não é protegido, a gente pode é passar por cada situação, né? Picada de cobra, algum atropelamento, alguma audição, né? E a nossa realeza protege com isso, né?
00:53:07 P/1 - Quando você estava contando as histórias que sua avó contava do território que ela vivia, né? Que vocês foram retirados de lá, ela contava como que era lá?
00:53:25 R - Então, era mato, né? Era mato. Então, ela falava que aqui era tudo mato. Só tinha picado, assim, pra eles... Pra atravessar o mato, atravessar o corvo, só era uma picada. Só teria de cavalo mesmo. De cavalo e estrada de carro pra circular. Era picadão. Fazia uma picada e montava a cavalo e ia. E as pessoas saíam de a pé. As crianças iam a cavalo e o pai e a mãe iam de a pé.
00:54:00 P/1 - E tinha rio?
00:54:01 R - Aqui só tinha Ximambai, que é mais grande. O resto é tudo corvo, né? E as crianças, a cavalo já levava a boia, né? Pra onde escurecer. Dormem ali, comem. Depois no outro dia segue a viagem, né? Assim que ela falava, né? Levar mandioca, milho verde. Tem vez que no mato eles matavam tatu, né? Então levava o bicho de caça pro rango do dia, né? E assim eles caminhavam, tudo por dentro do mato, né?
00:54:42 P/1 - E você estava contando que quando você começou na luta você tinha 27 anos, né?
00:54:50 R - Sim.
00:54:51 P/1 - O que que fez você ir pra luta?
00:54:54 R - Então, é... Porque como eu falei, né? Que eu não... A minha intenção não era de lutar por direito, né? Minha intenção era trabalhar na fazenda, ter... manter a minha família pronta na fazenda, porque eu tinha curso de máquina pesada, né? Então, eu trabalhava com a carregadeira, a patroa, a esteira, então, a escavadeira hidráulica. Pra mim era divertido trabalhar com o maquinário na fazenda. Inclusive, quando eu entrei no movimento, Eu já tava fazendo tudo em entrevista pra entrar numa firma que duplicou o asfalto ali, né? E logo eu entrei, eu me elegi, foi no dia 6 de dezembro de 2007. 2006, aí pra mim liderar a aldeia aqui em 2007. E aí é onde Logo quando eu entrei, me chamaram para essa reunião que eu ativo a sul. E aí, eu percebi muitos parentes, com muita lembrança, falando sobre o seu território. Reivindicando o seu território, reivindicando escola, educação, saúde, dentro dos seus territórios. E aí é onde eu fui ver a situação que eu estava perdendo de defender o nosso povo. Aí é onde, dali pra cá, eu continuei lutando. Aí em 2000, até 2000, de 2007 até 2016, eu só fazia parte, assim, do membro do conselho. Aí de 2006 pra cá, aí eu passei de ser conselheiro do Aty Guasu. Aí em 2019 eu assumi a coordenação. Hoje eu estou na coordenação. Eu até pedi para sair, mas eles não quiseram que eu saísse. Recentemente a gente teve o Aty Guasu. Foi agora, semana passada. A gente teve o Aty Guasu lá em Pirakwá. Então o pessoal viu a minha articulação com as autoridades, de trazer várias autoridades no Aty Guasu. Então eles pediram que eu não saísse, né? Tocasse mais um pouco até achar outro que vai levar depois, né? Inclusive a gente até falamos do Roninho, né? Pra eu entregar pra ele, né? Que eu tava bem ruim de saúde, né? E aqui a articulação pra gente fazer é muito complicada, né? Porque quando você tá na coordenação é muita demanda, né? E a gente ficar sem energia, sem internet, é complicado. Agora mesmo, tô com dois dias já sem energia. A energia só tem ali no vizinho. A gente já tá com dois dias sem energia. E quando a gente carrega e abre, é um monte de demanda. Tem vezes que a gente nem consegue atender todo mundo, porque tem vezes que chegam mil mensagens e a gente não consegue olhar tudo, então é complicado. Até por isso que eu tinha pensando em entregar, porque é muita demanda e aqui pelo jeito não vai chegar tão cedo a energia. Os Direitos Humanos ficou de trazer placa solar, colocar quatro câmeras aqui, mas até agora não falaram mais nada.
00:58:41 P/2 - Simão, Na sua experiência, na sua opinião também, o que você acha que fortalece a luta indígena e o que enfraquece?
00:58:54 R - Então, por exemplo, o que fortalece a luta indígena? Você fala por parte dos apoiadores ou...
00:59:06 P/2 - De todas as partes. O que você acha que... Então, o.
00:59:11 R - Que fortalece a nossa luta de vida para defender tudo? Tem alguns dos apoiadores que estão nos ajudando. Por exemplo, no transporte, pelo menos ir para Brasília para reivindicar o nosso direito. Então, tem vezes que a gente consegue alguns apoiadores que levam a gente até lá. Então, a gente consegue reivindicar e segurar, por exemplo, quando tem alguma reintegração de posse. Quando tem alguma reintegração de posse, a gente conversa, a gente busca vários parceiros para que a gente vá para Brasília para defender a integração de posse. Porque quando tem a reintegração de posse, O policial não quer saber se tem criança lá dentro, se tem idoso lá dentro. Ele vem com tudo, né? Pra tirar de qualquer jeito. Querendo sair ou não querendo, eles querem tirar de um jeito ou de outro. E aí é onde acaba as crianças sendo machucadas, os idosos, né? Então é essa parte. E o que fortalece também a nossa comunidade é a gente plantar no nosso território a gente cuidar da nossa terra. Por exemplo, é o que defende, não suponha um. Os indígenas estão plantando, estão produzindo. A gente não tem como tirar de um jeito ou de outro, porque os indígenas estão plantando. Então, é um desses caminhos que a gente se fortalece dentro do território. E agora, o que esfraquece a nossa luta é quando vem essa esse arrendamento. Porque quando chega o arrendamento dentro do território, os apoiadores, vamos supor, o Ministério da Justiça, o Ministério Público Federal, que ajuda para não acontecer a entregação de posse, Então vem até desanimando, fala assim, a gente não vai defender para o outro estar se enriquecendo em cima da luta dos povos indígenas, em cima do nosso trabalho. Então ali é onde nós acabamos sendo esfraquecidos dentro do território. E agora o que segura o território é a gente plantando do nosso modo de viver. Plantando mandioca. É que muitas pessoas Como eu falei, né? Volto a falar porque quando não tem política pública e as pessoas que não têm interesse de trabalhar, e aí é onde eles vêm se envolvendo com arrendamento. E aí é onde a gente acaba esfraquecendo a nossa luta dentro do território, né? De a gente correr atrás do Ministério Público, correr atrás dos nossos advogados, desembargadores, então, aí o pessoal sempre joga na nossa cara, né? Fala assim, como que a gente vai defender para os fazendeiros irem lá plantar soja transgênico lá, então é complicado, mas mesmo assim a gente consegue falar, tem vezes que se está no Supremo Tribunal Federal, se está com algum do ministro de reintegração de posse, a gente sempre corre lá para defender, para suspender a reintegração de posse. Tem muito território aí que eles não anularam a reintegração de posse, só suspenderam, né? Então, qualquer hora desse pode voltar a reintegração de posse. Então, tem muito território que já tem identificação, que já tem homologação e que está um pouco seguro, né? Mas tem território que eles retomaram e não tem nada de estudo ainda, nem antropólogo fez estudo. Então, essas aldeias que correm risco de serem despejadas. Então, mas muita vez a gente corre atrás do dos autoridades, atrás do parceiro, para que consiga algum viatura para nós ir lá para Brasília e falar com o ministro, falar com o ministro da justiça para segurar, suspender a reintegração de posse. Porque a gente já viu acontecer a integração de posse. Deixaram vários ossos quebrados, a perna da criança quebrada. E a gente não quer que aconteça isso. Em cima disso vem a morte ainda. eles acabam matando. Então a gente não quer que aconteça isso, a gente corre pra falar com as autoridades. Quando teve o massacre em Guapuã, eu estava falando com a ministra Rosa Weber e Cármen Lúcia. Quando caiu o vídeo do Vítor assassinado, eu tava falando com Carmen Lúcia e com Weber. Falei pra Rosa Weber assim: “Ó, o que tá acontecendo nesse exato momento lá no território.” E a gente não quer que aconteça mais isso, porque aqui pode acontecer pior. E aí é onde veio a morte do Vítor. Então aí a Carmen Lúcia e a Rosa Weber correram e suspenderam a reintegração de posse e mandaram os policiais se afastarem de lá. Mas os policiais aqui iam fazer coisa pior lá. Mas mesmo assim ainda saiu uma morte lá e deixaram vários feridos também. A criança de oito anos. A barriga dele cortou com um fuzil, né? A barrigada dele caiu. Então, teve tudo isso aí, né? Então, a gente não quer que aconteça isso. Aqui, quando teve a reintegração de posse do Guapo-I, veio 60 viaturas, né? E três comboios, né? Da Polícia Federal. Veio várias Polícia Federal. Força Antártica, veio Militar, Civil, Federal. E a gente correu na Carmelúcia e falei, Carmelúcia, eu quero que você suspende. E vai acontecer alguma coisa pior. A aldeia toda, tava tudo pra lá. E a aldeia aqui tem sete mil pessoas, né? Ia dar um confronto bem feio ali no Guapuru. E aí eles faltavam dez quilômetros pra chegar, a Carmelúcia suspendeu a reintegração de posse. Não ia acontecer, inclusive, o helicóptero até já Tinha chegado ali para... olhando já o pessoal lá. Estava o corpo de bombeiro lá no meio da turma. E aí a coisa ia ficar feia ali. E aí a gente corremos, falamos com o Caimelucci. A gente quer que vocês suspendam a reintegração de postos. E aí é onde a gente conseguiu, através da articulação com os outros advogados também, falar com ela para suspender. E ela suspendeu a reintegração de posse, mas faltava cinco quilômetros para chegar na comunidade. E aí envolvemos todo mundo.
01:06:28 P/2 - Ia ser um outro massacre.
01:06:29 R - Ia ser outro massacre. E depois dessa aí ainda teve outro, que até prenderam o senhor, inclusive foi o irmão dele, o Ambrosio. O Ambrósio, ele é meio mental da cabeça, né? E ele tava lá no meio, a polícia foi lá, atiraram nele naquela roupa, assim. E aí...
01:06:52 P/1 - Ele é do seu Tito?
01:06:54 R - Não. É o irmão dele, o Ambrósio. Ele é mental, ele é senhor de idade, né? Ele não gira muito bem da cabeça. E aí prenderam ele. E falaram que ele tinha atirado na polícia. Como que ia atirar? Ele era coitadinho que estava lá no meio. Aí prenderam ele e prenderam o outro rapaz. E falaram que ele tinha arma. Né? Não tinha nem arma. Que não tinha nem condições de comprar arma. Aí... Teve que correr em vários parceiros. Com advogado, com MPF, DPU. Pra liberar ele. Ficou 30 dias preso. Conseguimos tirar 30 dias. Só que ele é mental, né? Ele pode até falar assim, você matou? Eu matei, né? Ele pode até falar isso. Eu não sei se ele falou isso também lá. Porque ele nem sabe falar em português. Aí nós falamos que precisamos de tradutor para ele, porque ele não sabe falar em português, né? E aí, com 30 dias, conseguimos tirá-lo da cadeia. Só que ele estava bem magrinho já. Aí a polícia encheu a fazenda ali. Quase 20 dias pra ninguém tomar. Aí os indígenas deram a resposta pra ele, ó, a gente não quer essa fazenda, a gente tá pegando o que é nosso, o que tá dentro do estudo, mas se quiser ficar aí pode ficar. A gente não tá aqui pra pegar o que quer de ninguém, a gente tá aqui pra pegar o que é nosso, o que tá dentro do estudo. E aquele lá estava fora do estudo, mesmo assim eles atropelaram a comunidade ali e prenderam o Ambrosio. Mas foi assim, sempre é perseguido. A gente... De defender o nosso próprio parente. Porque se a gente não defender, acontece morte, massacre. E o que a gente já conseguiu defender em vários lugares.
01:08:58 P/1 - Quando teve a retomada, um dos motivos foi a morte do Edmilson. O que vocês sentiram naquele momento?
01:09:19 R - Olha, a gente, na verdade, a gente tava esperando com a boa vontade do governo, né? Nós aqui de Caarapó foi muito pacífico. Como a gente soube que o estudo tava pronto, tava pra publicar, a gente esperamos. Então, aqui tava pronto desde 1988, 1985 parece que tava pronto o estudo aqui. E não publicaram, né? E aí é onde o pessoal perdeu a paciência quando teve a morte do Denílson Barbosa, né? Atiraram na criança e depois jogaram na caminhoneta e foram jogar lá na estrada. E aí próprio ele foi falar pra polícia que tinha achado um rapaz morto. Só que o irmão dele que tava junto viu o que tinha acontecido com ele, porque ele era surdo, né? O outro irmão dele, quando viu a caminhoneta, ele já se escondeu. e gritou pra ele se esconder, mas aí não deu tempo de se esconder. Aí veio e atirou na cabeça dele. E aí é onde ele foi, jogou o guri na estrada e é onde ele foi falar pra polícia que tinha achado um corpo de um guri na estrada. Aí a polícia veio, avisou a liderança, Aí só que esse irmão dele já tinha falado pra liderança que o Ladino tinha matado o irmão dele. E aí é onde a liderança pegou e falou pra ele, ó, não mexe o corpo que nóis vai dar unhada lá. Aí polícia chegaram onde o corpo dele tava e aí a liderança chegou junto, né. Aí o Guri foi junto, né, o irmão dele. Aí o Guri pegou e falou pra polícia, foi ele que matou. Eu vi lá, porque ele tava junto comigo. E ele colocou o meu irmão na caminhonete e trouxe. Foi ele que matou. E aí é onde... Ele falou, não, não matei, não, não fui eu que matei. Aí o guri afirmou, né, que foi ele que tinha matado. E aí, onde teve a primeira retomada, tá aqui. Porque aquele lá já tá dentro do estudo. Aí é onde acabou a paciência da comunidade de Caraapó, da Teicuilha. Aí é onde foram aluno, professor, liderança, comunidade, foi tudo pra lá. E aí eles enterraram a criança lá, lá no território. E aí é onde o cara foi preso também. Só que ficou pouco tempo, né? Os caras que matou aqui mesmo só ficaram dois meses, E a nossa liderança ficaram quatro anos, né? E ele foi condenado ainda há 18 anos e 7 meses. E ele até agora não foi condenado, né? Tá em solto. E a gente não teve resposta de nada, né? Mesma coisa de lá. Ele ficou só dois meses preso e saiu. E nem foi condenado, não teve julgamento nenhum, né? E o pessoal daqui também... Nada. Eu acho que em toda parte onde aconteceu o massacre. O policial fez o massacre, só que até agora o policial não foi afastado do trabalho. Tá lá. Eles falaram que sabem quem estava no helicóptero, quantas pessoas estavam no helicóptero, e eles conhecem, mas não fazem a justiça. Nem saiu do serviço, né? E o que matou lá também, no Marangatu. Policial, né? Tava com arma pesada ali, né? E acertou num rapaz lá e até agora também não saiu do cargo. Tá trabalhando ainda normal, né? E lá foi uma cena de guerra também. Inclusive, eu tinha acabado de chegar lá e a gente quase foi pego por ele. Eles tinham ido me chamar, né? Quando aconteceu o massacre, a gente foi. E... quase que foi pego. Eu e a minha esposa. A gente... não pegaram nós porque quando eles chegaram, a Força Nacional chegou junto, né? E a Força Nacional me conheceu, né? Aí ele pediu pra mim, sobe, sobe, sobe. Aí veio 30 viaturas da PM. Eles até pediram pra mim não correr. Eles gritaram pra mim não correr. A sorte que a Força Nacional chegou junto. Aí a Força Nacional mandaram nós subir pro carro. Aí não respeitaram nem a Força Nacional. 30 PM com duas viaturas da Força Nacional. Ia sair uma briga ali entre polícia e polícia. E foi feio. A Força Nacional não teve nem voz lá de defender, nem de gritar lá. Mas foi bem, bem tenso ali. Então, é uma situação que a gente enfrenta dia a dia do nosso território. Quando não acontece aqui, acontece lá em outro lado. Acontece em vários territórios. Mas, assim, os indígenas estão aí, né? Reivindicando o seu território, querendo voltar para o seu território. E eles dizem que não. Então, a luta é constante, né? Não vai parar por aqui, né? E não é hoje que vai sair demarcação também, não. Pelo jeito, né? Sai presidente, entra outro presidente e a luta continua o mesmo. Que Lula tinha prometido, né? com o mandato dele ia sair e ter de Guarani-Kaiowá o que estava pronto. Até agora não sei o nenhum. Do papel não sei o nenhum, né? Eles falaram no discurso dele pra nós que a prioridade ia ser pessoal de Yanomami e povo Guarani-Kaiowá. Só que até agora a gente não teve esse resultado que ele falou, né? Que ele falou que ia trazer o nosso dissei pra cá pro Conessu, né? Do povo Guarani-Kaiowá. E ia sair demarcação do... a homologação do Arrui-Ocorá e do Lagoa Rica. E... e Potreira, né? Que já tá só com homologação suspendida, né? Então eles falou que ia... publicar isso, mas só que até agora. não publicou nem o que ele prometeu em 14. Então, é bem complicado a nossa situação. Entra presidente, sai presidente e a situação continua a mesma coisa. A luta continua a mesma coisa.
01:16:46 P/1 - Simão, eu só queria te perguntar, além das reintegrações de posse que são muito violentas, Tem o veneno também, né?
01:16:58 R - Tem. Eles passam veneno. Inclusive, meu filho, que está para a escola agora, a gente sofreu no avião. Eles passaram o avião em cima de nós e depois eles vieram com o trator. Despejou em cima do meu barraco. Aí o meu filho estava com 18 dias de vida. E aí a Maria pegou ele, quando quis correr, correndo do trator, o veneno caiu dentro do zóio dele, desse lado de cá. E até agora tá escorrendo água do zóio dele. E aí a gente tá correndo atrás, ver se consegue arrumar um médico pra ele. Que aí a Maria não podia correr, Tratou e quase pegou na cabeça dela. Então, a gente já enfrenta cada coisa, né? E o veneno que passou de avião deixaram muita pessoa doente. Aquele dia lá, a maioria dos nossos parentes foi para o hospital. Não foi para o hospital porque era muito, né? Então ficou tudo aqui no postinho, veio dar remédio para eles. Mas eles passaram, bem baixinho assim. Chegou morrendo nós. E aquele que veio com o trator, que passou em cima dela, despejou mesmo. Parou em cima do barraco, ergueu a barra, despejou em cima do barraco. E eu tava longe, né? E até eu chegar lá, eles tinham ido embora. E aí a gente já sofreu outra situação. Por exemplo, aqui o massacre, depois do massacre, que fiquei oito dias no hospital. Saí do hospital, né? Que eu não podia correr, não podia fazer nada, que a minha casa era atrás do mato aqui, né? Eles entraram por aqui, deixaram a caminhonete aqui e foram lá atrás querendo me matar, né? Aí eu falei pra Maria assim, tá vindo pessoal aí, mas corre que melhor você correr, deixa que eu fico. Aí ela falou assim, se esconde então. Aí ela pegou e correu e veio avisar o pessoal aqui, né? E a minha sorte que só tinha uma moita de colonhão. E eu fiquei, não podia correr, né? Fiquei atrás do colonhão. E aí a Maria correu. Correu com a criança e caiu dentro do poço. Eu não sei como ela conseguiu sair de dentro do poço e veio avisar aqui. Aí o pessoal, todo mundo foi pra lá e a gente viu que a caminhoneta saiu dali e foi embora. Eram duas caminhonetas. E tava tudo com farol bom, né? Não sei como é que eles não me viram atrás da moita de colonião. Porque eu não conseguia correr, né? Porque a cirurgia e a bala tava doendo. Porque aqui eles me cortaram no cru, né? Esse médico. Não esperaram ter efeito de anestesia, né? Aplicaram e já me cortou. E... Assim, foi para tirar o sangue do pormão. Aí, a minha salvação foi isso, porque a minha vestra já estava amarelando tudo. Aí, me cortou no cru, conseguiu tirar sangue e consegui respirar normal. Eu achei que ia até morrer aquele dia, porque estava numa situação fraca já, que o sangue não conseguia mais respirar. Depois de sair ainda eu passei essa perseguição. E a gente sempre pede pro nosso Deus que proteja. Pra onde eu saí, pra onde eu ia. No caminho eu já apanhei da polícia. Depois da Laranjeira. Eu tava indo pra Brasília. Aí... Aí me mandaram eu descer do ônibus só pra bater. Aí falaram pra mim que eu tinha articulado tudo, né? Pra fazer a retomada, tudo. Eu falei, não fui eu. Eu falei, é o povo, a decisão é do povo. Eu tô apenas acompanhando. Aí falaram pra mim, foi você mesmo, seu covarde vagabundo. Deu uma tapa na cara. Assim, eu cheguei em Brasília, tudo com rosto roxo. Aí só me mandaram descer do ônibus só pra bater mesmo, depois mandaram continuar a viagem. Aí eu achei que ia prender, até falei pra ele, se quiser prender, prende, não fica torturando não, que isso aqui vai ser pior pra você. E aí, o outro que tava na viatura falou, deixa ele ir embora. Aí me deu um empurrão pra subir no ônibus. Aí eu encontrei o Luiz Eloy, que hoje é executivo do MPI, Eu falei com ele e ele me falou assim, ó. Você... Eu não tô falando pra você não fazer boletim de ocorrência ou fazer. Porque você sabe que a corda arrebenta pro lado mais fraco. Porque quando você mexe com a polícia, você tem que mexer fundo. E aí é onde você vai ser perseguido, porque você tá entrando contra a polícia. Ele falou assim, a única coisa que eu quero fazer, se você deixar, vou levar você para os direitos humanos e para você entrar na medida cautelar ali e ver a sua segurança, como a gente pode fazer. Então, até por isso, eu não abri o Boletim de Ocorrência contra ele, porque estava a Força Nacional e o IPM. Aí perguntou até para onde eu ia. Eu falei para ele que eu ia em Brasília, Aí falou assim pra mim, você tava com a ministra, né? Eu falei sim, a gente tava sim. Aí começou a fazer a pergunta que eu tava organizando um ônibus tudo pra levar, eu falei não, é o povo que se ajuntaram e pagaram o ônibus, não fui eu. E aí alguém falou pra ele que eu que paguei o ônibus. Então aí é onde eles me bateram na estrada, né? E hoje eu tô aí sem proteção, né? Sem segurança, né? Pra sair daqui, eu tenho que sair, por exemplo, pra mim ir pra Brasília, eu tenho que pegar o carro, esperar um tempão na rodoviária, pra pegar o ônibus e pra seguir a viagem. Porque como eu tô na proteção, eu tinha que sair daqui escoltado, né? Por exemplo, tem um dos nossos parentes que também tá na mesma situação que eu tô, mas ele sai escoltado, né? Com a Força Nacional, com o carro da Funai, Só que eu já não tenho isso, né? Pra me sair daqui, eu tenho que ir com um carro particular e ficar esperando ainda na rodoviária. E é um risco, né? Aqui em Caarapó mesmo, policial, todo mundo me conhece. E aí, no dia que eu fui pra Brasília, eles me seguraram quase duas horas lá na praça. E eu perdi até o ônibus por causa deles. Aí perguntaram o que eu ia fazer em Brasília, quem que chamou, por que que eu vou. E aí falaram pra mim, senta aí, não levanta daí, fica aí. Pegaram o meu documento, passou o telefone não sei pra quem, depois ficou com o meu documento e eu fiquei sentado lá. E aí, eu queria comunicar com com a Maria, né, pra relacionar o advogado. Aí ele não queria que eu mexesse nem no celular. Aí eu falei pra ele assim, mas eu tenho direito de ligar pra algum advogado o que que eu fiz. Aí ele falou, não, depois a gente liga. E não queria que nenhum mexesse com o meu celular. Aí segurou, é de duas horas. Aí depois ele pegou e me falou assim, É... É... Pode ir. Só me entregaram o meu documento e me liberaram. Não sei porque que segurou. Eu perdi um ano por causa dele. Então, é muito complicado a gente tá aí na linha de frente do movimento, né? A gente sofre por tudo isso. É... Perseguição.
01:25:55 P/2 - E por que que você não é escoltado?
01:25:57 R - Não sei. Então, pra me sair, por exemplo, eu vou pra Brasília. Se eu tô na proteção, eu tenho que sair daqui já direto pra Campo Grande escoltado, né? Só que eu não tenho isso, né? E aqui era pra instalar câmera, não tem essa segurança, né? Que nem o meu filho estuda sozinho, ele vai esperar o ônibus lá na curva. Tem 10 anos, né? A gente até... Tem dia que a gente fica com medo de ele ser sequestrado ou alguma coisa, né? Aí só vai ele e a outra menina da vizinha ali. Então, é uma situação que a gente enfrenta, né? Porque a gente não tem essa segurança, né? Pra gente falar que a gente tá protegido, né? Fica muito complicado. Viu, né, Mandiriguassui? Então, isso que a gente, por exemplo, por muita dificuldade, a gente tá aí, né? Levando a vida, defendendo o nosso povo. E não sabe até quando, né? Mas a gente tá aí. Pra defender o nosso povo.
01:27:24 P/1 - E você conheceu a Maria aqui?
01:27:30 R - Maria?
01:27:32 P/1 - Sua companheira.
01:27:34 R - Sim, conheci aqui. A gente vai fazer... A gente casou em 2011, eu acho. Fez 10 anos agora. Mais de 10 anos, 13 anos já, eu acho. Foi em 2011 que nós casamos. De 2010 para 2011. Aí a gente só tem um filho com ela. Mas ela tem outro. Que hoje está trabalhando na cidade.
01:28:17 P/1 - E o que é importante?
01:28:21 R - Para mim, é importante ter a família junto, né? É importante ter a família. Por exemplo, mesmo que a gente não tenha A segurança, né? Pelo menos as famílias veem o que tá acontecendo. Aqui sempre quem me visita mesmo é o Roninho e a Renata. Elas sempre vêm aqui. Por exemplo, quando ela manda mensagem que eu não respondo, aí eles falam, a gente vai ter que ir lá ver o que tá acontecendo. Porque talvez descarregue a bateria e a gente fica sem falar. Aí sempre ele fala assim, eu vou lá ver o que está acontecendo. Então ele vem. Mas como nossos filhos não estão aqui por perto, era mais importante que a gente tivesse toda a nossa família por perto, né? Para ver o que está acontecendo com nós. Então, a vez que a polícia veio aqui querendo pegar, prender, né? Aí só estava a Maria, né? Inclusive, o meu filho estava brincando, queria que o meu filho subisse no camburão. Aí a Maria foi obrigada a sair, né? Aí perguntou pra ele o que eles queriam. O que eles queriam é que, falou assim, trouxe papel, trouxe alguma intimação, que a gente pode procurar advogado. Aí falaram que não, só era pra mim ser ouvido, Só abri a casa, a casa queimada. E eu falei pra ele que não abri Boletim de Ocorrência. Quando queimou a minha casa, eu tava em Brasília. Eu tinha ficado pra lá, não tava aqui. E eles acham, caçam o jeito de me prender. Mas o nosso advogado já olhou, não tem nada no sistema, e até falou só se for sigiloso mesmo. Porque no sistema não aparece nada. E recentemente, semana passada, logo que eu cheguei do Aty Guasu, também já teve, eles vieram atrás, né? E falaram que teve reunião em um portão, que os fazendeiros, pequeno proprietário já recebeu a indenização que precisava que eu falasse. Mas eu falei assim, mas essas coisas militares não tem nada a ver. Quem pode falar isso é federal ou o Ministério Público Federal. Aí pediu que eu me comparecesse na delegacia. Só que aí o Anderson, nosso advogado, entrou lá em contato e falaram que não tem nada. Não tem nada no nome. É que eles estão caçando o jeito que eu vou pra delegacia e me prender. Porque já fizeram isso comigo.
01:31:20 R - Me levaram para a delegacia e de lá eu não saí mais. Eu saí depois de 30 dias já. Então, eles estão caçando o jeito. Eles querem terminar a luta, né? Mas como eu sempre falo para a liderança das bases, né? Eles podem até me prender, me torturar dentro da cadeia, mas você está aí para seguir em frente. Porque nosso companheiro, eles prenderam e torturaram. Dois nossos companheiros prenderam e torturaram dentro da cadeia. Quebraram o queixo dele, costela dele. E saiu tudo quebrado de lá. E é o que eles querem fazer com nós, né? Pra nós silenciar, né? Mas vai ser difícil pra eles, né? Porque... A gente tá lutando por defender a vida e o direito. Então, a gente passa e... Todas essas coisas a gente passa, né? De estar na linha de frente do movimento. Sei que Eliseu também já passou por isso, né? Eliseu, Genito também já passou por isso aí. Foram perseguidos, né? Então, todos que a gente... Foram na linha de frente do movimento sempre passam por essa situação, né? É... A gente pensa que tá seguro hoje, mas aí amanhã pode acontecer alguma coisa pior, né? Aqui, já chegaram caminhonete aqui. A gente não chegou a ver porque a gente tava em reunião e meu filho tinha ido pra casa da irmã dele. Aí a caminhonete aqui, moeu aqui em redor. E eu não sei como é que não queimaram a casa, né? E aí, sempre... Como eu falei para... Porque aqui eu não sei... Meu filho que estava aqui... Não sei o que eles iam fazer, né? Se eles achassem ele, né? Mas... É bem triste. Ontem à noite chegou o pessoal de Dourados. À noite, né? Eu quase não levantei, né? E era a minha tia que veio com o pessoal da cesárea aqui, pedindo socorro, porque foi demitido, né? Chegaram às nove horas da noite. Chegou com o carro, né? Eu até falei pra Maria, não sai, porque pode ser alguma coisa. Aí a sorte que a minha tia saiu, ela chamou pelo nome, né? Aí eu falei, não, é a tia. Aí eu levantei, né? Porque a gente fica até assim, sem saber, né? Por exemplo, chega um carro. Você vai saber se o carro é de outra pessoa, né? Então, a gente nem que sai de noite, né?Quando chega carro particular. A gente até escuta primeiro, né? Quem que tá chegando, né? Então é bem complicado a situação que a gente passa e enfrenta dia a dia. Mas a gente tá aí, levando a vida.
01:34:54 P/2 - Bem, né? Então, você quer encerrar?
01:34:58 P/1 - É, tem duas perguntas a mais, mas você quer fazer alguma antes?
01:35:02 P/2 - Não, eu ia propor uma coisa pra finalizar.
01:35:05 P/1 - Tá bom, eu vou fazer uma pergunta, daí você faz assim.
01:35:15 R - Ele desfoca.
01:35:18 P/1 - Eu queria saber se tem alguma história que a gente não perguntou que você queira contar da sua vida.
01:35:27 R - História...
01:35:29 P/1 - Algum momento da sua vida. Se não tiver, também tudo bem. Mas se você quiser contar um que eu não tenha perguntado...
01:35:40 R - Eu acho que é a história meu que foi o que eu contei. que a gente tá passando, né?
01:35:47 P/1 - E uma mensagem? Você quer deixar uma mensagem?
01:35:52 R - Sim. Então, a mensagem que a gente quer deixar é que um dia a gente quer ter essa nossa terra, nosso território, né? Não só pra mim, mas pra todo povo indígena Guarani Kaiowá, né? Que a cada um vem sofrendo, a cada situação diferente. Então, a mensagem que a gente quer deixar tanto para o governo, tanto para os apoiadores, a gente não quer que aconteça mais morte no nosso povo. A gente quer ter o nosso território para que a gente tenha a vida em liberdade, de ter direito de viver, de plantar, de colher, não ser perseguido como a gente está. Então, a mensagem que eu quero deixar para todos os apoiadores, que nos apoia, que torce junto com nós para que a gente tenha nossa vida e nosso direito de território, nosso direito de educação e saúde. Então, é o que a gente nunca teve, né? A gente quer ter e a gente agradece, né? Para todos os apoiadores que nos apoiou e que abraçam também a causa indígena. Acho que para nós isso é importante. A gente quer que todo mundo que torce, que a gente tenha a vida e liberdade para todo mundo.
01:37:12 P/2 - Eu queria te agradecer demais pelo seu tempo, pela sua vida e pela sua luta. Para nós foi muito importante ouvir você e ter você nessa coleção que a gente está fazendo.
01:37:30 R - Também agradeço a vocês pela visita. de visitar o meu rancho aqui. De visitar o meu rancho aqui, né? Que não é todos que vêm pra cá, né? Talvez a gente se conhece mais em Brasília, em outro canto, mas a gente agradece de vir conhecer o nosso rancho aqui, o nosso território. Então, eu autorizo a minha entrevista que fica no museu. A gente agradece que vai ficar para a história, para os outros, memorar que é a nossa luta aqui de vida e dia a dia, no cotidiano da nossa luta.
[Fim da Entrevista]
Recolher