Entrevista de Luiz Domingos Romano
Entrevistado por Luiza Gallo
São Caetano do Sul, 09/08/2023
Projeto Vestindo Memórias: Legado e Identidade
Entrevista número VES_HV004
Realizado por Museu da Pessoa
Transcrita por Selma Paiva
Revisado por Luiza Gallo
P/1 – ‘Bora’ lá, então!
R – Vamos lá!
P/1 – Pra começar quero te agradecer demais por ter ‘topado’, por ter separado esse tempo, trazido aqui a gente e quero que você comece se apresentando, dizendo seu nome completo, a data e o local de nascimento.
R – Tá. Luiz Domingos Romano, nascido e morador aqui em São Caetano do Sul, em 13 de março de 1951.
P/1 – E te contaram como foi o dia do seu nascimento?
R – A minha mãe sempre falava alguma coisa que era um dia bonito, porque era o mês de março, estava terminando o verão, praticamente, então estava virando pra já outono, mas minha mãe sempre contou que foi um dia bonito, que não teve problema nenhum, foi tudo direitinho, foi um parto dentro de casa, como faziam. Tinham as parteiras que faziam o parto dentro de casa e não teve, nunca, nenhum problema também. Nasci pequenininho e de repente cresci muito, rapidinho e todo mundo, minha mãe tinha até medo que alguém roubasse, na época, porque era bonito, olho claro, loirinho e minha mãe contava que ficava com medo, às vezes, de ir em algum lugar comigo, que todo mundo me achava bonito, tinha aquela coisa de imaginar, colocar ‘olho gordo’, umas coisas do pessoal antigo, que falava isso, mas no final deu tudo certinho, nunca aconteceu nada disso.
P/1 – E você sabe como escolheram seu nome?
R – O meu nome é Luiz, porque meu pai e minha mãe sempre muito católicos também, sempre gostavam de São Luiz Gonzaga e quando meu pai e minha mãe se casaram, em 1947, acabaram comprando uma... como eu vou falar? um santo, uma estátua do santo mesmo, São Luiz Gonzaga, doaram pra igreja próxima onde eu tinha nascido, ali, levaram na Igreja Nossa Senhora da Candelária, ali...
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Entrevistado por Luiza Gallo
São Caetano do Sul, 09/08/2023
Projeto Vestindo Memórias: Legado e Identidade
Entrevista número VES_HV004
Realizado por Museu da Pessoa
Transcrita por Selma Paiva
Revisado por Luiza Gallo
P/1 – ‘Bora’ lá, então!
R – Vamos lá!
P/1 – Pra começar quero te agradecer demais por ter ‘topado’, por ter separado esse tempo, trazido aqui a gente e quero que você comece se apresentando, dizendo seu nome completo, a data e o local de nascimento.
R – Tá. Luiz Domingos Romano, nascido e morador aqui em São Caetano do Sul, em 13 de março de 1951.
P/1 – E te contaram como foi o dia do seu nascimento?
R – A minha mãe sempre falava alguma coisa que era um dia bonito, porque era o mês de março, estava terminando o verão, praticamente, então estava virando pra já outono, mas minha mãe sempre contou que foi um dia bonito, que não teve problema nenhum, foi tudo direitinho, foi um parto dentro de casa, como faziam. Tinham as parteiras que faziam o parto dentro de casa e não teve, nunca, nenhum problema também. Nasci pequenininho e de repente cresci muito, rapidinho e todo mundo, minha mãe tinha até medo que alguém roubasse, na época, porque era bonito, olho claro, loirinho e minha mãe contava que ficava com medo, às vezes, de ir em algum lugar comigo, que todo mundo me achava bonito, tinha aquela coisa de imaginar, colocar ‘olho gordo’, umas coisas do pessoal antigo, que falava isso, mas no final deu tudo certinho, nunca aconteceu nada disso.
P/1 – E você sabe como escolheram seu nome?
R – O meu nome é Luiz, porque meu pai e minha mãe sempre muito católicos também, sempre gostavam de São Luiz Gonzaga e quando meu pai e minha mãe se casaram, em 1947, acabaram comprando uma... como eu vou falar? um santo, uma estátua do santo mesmo, São Luiz Gonzaga, doaram pra igreja próxima onde eu tinha nascido, ali, levaram na Igreja Nossa Senhora da Candelária, ali no bairro Oswaldo Cruz mesmo e daí surgiu o nome de Luiz, porque o meu tio também, que foi um dos meus padrinhos de crisma, também era Luiz. Domingos porque era o nome do meu avô, Domênico, que veio da Itália, da cidade de Voghera, província de Pavia. E Romano por causa do meu avô paterno, que também veio da Itália, da cidade de Bojano, região de Campobasso.
P/1 – Que outras histórias você conhece da origem da sua família?
R – Mais do pessoal da época, mesmo, dos meus tios, minhas tias, os amigos do meu pai, da minha mãe, toda essa parte que veio pra São Caetano foi toda uma colônia praticamente italiana que veio pra cá e tudo isso teve um pouquinho de história, tudo descendente de italiano, na verdade, então mais ou menos os vizinhos da época, porque na época, ali, todo mundo se encontrava, todo mundo ‘batia papo’ com todo mundo, se encontrava à noite, lá, sentava fora, nas casas, nos jardins. Isso daí faz parte, um pouquinho, da história geral. A cidade também, de São Caetano, era pequena na época, então população pequena também, então a amizade era muito grande.
P/1 – E seus avós vieram da Itália?
R – Meus avós por parte de pai, meus dois avós: o Romano e meu outro avô, que era Rocco. Minha avó por parte do meu pai era nascida em São Carlos do Pinhal, que atualmente é São Carlos somente e a minha avó por parte da minha mãe é nascida em São Bernardo, numa família também com sobrenome Vertemar, muito conhecida em São Bernardo do Campo. Tudo aqui, no estado de São Paulo.
P/1 – Então, os seus avós dos dois lados se conheceram, já, aqui?
R – Sim.
P/1 – Tiveram os filhos aqui?
R – Tiveram filhos. A minha avó por parte do meu pai teve seis filhos, (risos) por parte da minha mãe também seis filhos. Naquela época o pessoal tinha muitos filhos também.
P/1 – E você chegou a conhecer seus avós?
R – Sim. Eu não conheci o pai do meu pai, que nem meu pai conheceu, praticamente, que quando o pai do meu pai faleceu, meu pai tinha cinco anos de idade. Agora, a minha vó eu conheci muito bem, morreu com mais de setenta anos. O meu avô por parte da minha mãe, sim, meus avós, minha avó Margarida, meu avô Domingos, esses eu conheci bem.
P/1 – Hum-hum. E que recordações você tem com eles?
R – Bastante.
P/1 – É?
R – Eles eram muito agradáveis, muito bacanas mesmo. Principalmente do lado da minha mãe, porque meu avô e minha avó estavam vivos, a família era grande. A casa, na época, como tinha seis filhos, era enorme, então todos os domingos se encontravam os primos, tudo pequenos e ia pra pracinha, escutar a banda tocar, todas essas coisas, então isso era muito bacana e pro lado do meu pai também, os meus primos, só que como a minha avó também, quando meu avô morreu muito cedo, seis filhos pra criar, não conseguia, então cada um dos filhos um foi morar com uma tia, em Santo André; outro na outra tia, em Santo André. Os filhos praticamente se espalharam, porque minha avó não tinha condição de sustentar todos, então as irmãs dessa minha avó que acabaram criando os meus tios, por parte do meu pai.
P/1 – Vocês tinham outros hábitos, não sei, alguma comida muito tradicional, da família, alguma comemoração de festas?
R – Os hábitos sempre foram... (risos) o pessoal fazendo as massas italianas. Sempre, dos dois lados. O pessoal era tudo massa artesanal, porque era tudo feito na mão, batia lá, misturava com a mão, tudo, sempre foi assim. Mais massas e alimentação mais tradicional, porque todas as casas tinham terrenos, eles tinham galinhas, patos, então tinha os ovos, toda essa alimentação mais simples, porque uma que também eles não tinham condições de estar comprando e gastando muito e outra que naquela época, também, não tinha tantos produtos assim. E tem algumas casas que tinham os carneiros, algumas lá que tinham umas vacas, que ainda tinha algumas fazendas aqui, em São Caetano, o pessoal comprava o leite. Com relação a água aqui em São Caetano tem muitas minas de água, então a sustentação era essa mesma, pra sustentar as famílias muito grandes, da época, com bastante dificuldade.
P/1 – E tem outros parentes que você considera bem importantes na sua vida? Tios, primos, ou até amigos dos pais, vizinhos?
R – Sim. Com relação a amigos, parentes, eu sempre tive muita amizade também com meus primos, tudo. Hoje em dia é um pouco mais difícil, porque alguns faleceram, outros estudaram, estão morando fora de São Caetano, então fica sempre uma... casaram, têm seus filhos também, às vezes seus netos, então... como é que fala? essa aproximação diminui um pouco, mas eu, pela minha personalidade, pelo meu jeito, continuo conversando com todos eles. E os meus tios, infelizmente, tanto lá do meu pai, do lado da minha mãe, são todos falecidos também e fica aí o pessoal, os filhos dos meus primos, tudo, mas já é um pouco mais distante, não como antigamente. Mas, de qualquer maneira, a gente sempre se encontra, se fala por telefone, algum aniversário que tem, que o pessoal convida, assim.
P/1 – E qual é o nome da sua mãe?
R – Minha mãe Teresa Rocco Romano.
P/1 – Como você descreveria o jeito dela?
R – Minha mãe é bem simples também. Falar de mãe é complicado. Mãe é mãe, pai é pai, a gente gosta demais, até hoje. Minha mãe faleceu faz mais de três anos, com 97 anos, completamente lúcida, tudo, sempre boazinha, aquela pessoa calminha, que gostava de ajudar todo mundo, igualzinho meu pai. Meu pai também. Meu pai era mais expansivo, mais falador, tipo o que eu falo. Minha mãe era mais quietinha, ficava na dela, mas uma pessoa muito bacana mesmo, fazia muita amizade, ajudou muita gente também e meu pai também era outra pessoa maravilhosa também. Meu pai, pela profissão dele, tudo, a dificuldade que ele passou, enfim, tudo isso. Trabalhando como... meu pai, primeiro, era comerciante, depois passou a massagista e na área de massagista ajudou muita gente, era uma pessoa muito querida por todo mundo, também. Então, meu pai e minha mãe são dois heróis, considero os dois heróis e meu pai sempre falava pra mim: “Você é meu herói também”. Então, a gente não tem o que... prova disso são todos esses materiais que eu guardo, as exposições que foram feitas em homenagem ao meu pai. Os prefeitos aqui de São Caetano todos homenagearam meu pai. A minha mãe já não gostava muito de aparecer, dessas homenagens. Quantas vezes, por causa da idade dela, do bairro, de conhecer, queriam fazer entrevistas com ela, mas ela não aceitava. Agora o meu pai não, ele era que nem eu: “Vai lá, chama quem conhece, não sei o quê”. Então, a pessoa gosta de falar, também. Então, era mais expansivo, mas tudo gente muito bacana, mesmo. Não é porque é pai e mãe, mas se tivesse que falar alguma coisa contra eu até falaria, mas não dá pra falar. Felizmente eles foram muito bons, mesmo, ajudaram muita gente e a gente reconhece tudo isso também.
P/1 – Ainda da sua mãe, um pouquinho, será que você consegue pensar alguma história que a represente muito bem, ou algum ensinamento que ela tenha deixado pra você?
R – A própria educação, por ser uma pessoa simples, também. Educava. O próprio serviço, que era doméstico. Muito carinhosa com os filhos que tinha. Meu irmão também é quatro anos mais novo do que eu e o carinho que ela dava era igualzinho, pros dois filhos. Apesar que a gente sempre fica: “A senhora gosta mais desse, gosta mais daquele”, mas a minha mãe, a gente percebia que era sempre carinhosa com os dois filhos e tudo que a gente pedia a mãe dava um jeito de fazer. Meu pai era um pouquinho mais bravinho, mas no final ele também aceitava todas as coisas que a gente queria também. Minha mãe é que controlava, era a moderadora do ambiente.
P/1 – Qual o nome do seu pai?
R – Mário Romano.
P/1 – Como você o descreveria pra gente?
R – Também pessoa muito bondosa, trabalhador também, na época. Ele falava muito das dificuldades que ele teve, na época de infância, por causa dessa separação, que ele foi morar com uma tia dele, em Santo André e tudo isso e trabalhava, começou a trabalhar muito cedo também e foi progredindo, trabalhando nas indústrias, aqui em São Caetano. Depois ele mesmo não tinha... tinha somente o curso primário, mas era superinteligente, super criativo também. Então, aí foi ele construindo, depois quando ele casou, também, em 1947, com a minha mãe, ele foi crescendo. Ele próprio falou: “Depois que eu casei eu comecei a fazer isso”, aí ele abriu comércio também. Já na época ele já gostava muito da parte de esporte, sempre gostou, ele jogou muita bola também, aqui em São Caetano do Sul, em várias equipes, também e foi crescendo, aí eu o ajudava no comércio que ele tinha, também. Aí começou com a parte de massagista, que ele já tinha um pouco de dom, ele não fez curso nenhum, nada disso, foi um dom, realmente, de Deus que ele teve, ele tinha e como massagista cresceu muito também, participou de muitas coisas também.
P/1 – E você sabe como eles se conheceram?
R – Meu pai conta que minha mãe trabalhou numa empresa aqui, muito conhecida, em São Caetano, que é Louças Adelinas e as minhas tias, as irmãs, trabalharam nessa Louças, que era uma das indústrias maiores que tinha, em São Caetano do Sul, na área de pintura, de almoxarifado e o meu pai chegou a trabalhar lá, um pouco também, não muito e foi dessa maneira que meu pai conheceu também a minha mãe. Meu pai dizia que, na verdade, o que ele adorava na minha mãe, além do rosto, tudo, eram os cabelos da minha mãe. Ele se apaixonou pelos cabelos da minha mãe. Então, uma coisa engraçada que ele contava pra gente. Eles namoraram acho que quase cinco anos, depois casaram também, com todas as dificuldades desses casamentos, de início, também, pobre, não tinha e foram crescendo juntos também, minha mãe cuidando da casa e meu pai cuidando lá das coisas dele, do comércio. Minha mãe também trabalhou muito no comércio com ele, eu trabalhei muito também, no comércio, já meu irmão trabalhou menos, mas dali pra frente só teve um crescimento.
P/1 – Como eram os cabelos da sua mãe?
R – Eram longos, bonitos e minha mãe tinha uma... era bem bonita, realmente. Todo mundo gostava de tirar fotos dela, tudo e ela não gostava muito de tirar foto, mas todo mundo queria tirar foto dela, dos cabelos, do tipo de penteado da época também. Eu sei tudo isso, porque ela contava, também. Meu pai contava essas coisas dela também. Ela tinha um sorriso muito bonito também.
P/1 – E seu irmão, qual é o nome dele?
R – Meu irmão é Valdir Antônio Romano.
P/1 – Como foi a infância? Como foi a chegada? Você se lembra como foi a chegada dele na família?
R – Diferença de quatro anos. Ele também era uma pessoa bacana, cresceu também, estudou também. O nome de Antônio, porque meu pai e minha mãe também eram devotos de Santo Antônio, também tem isso no nome dele, também sempre foi católico. Estudou também, fez faculdade, é formado e também foi assim, nessa luta pra trabalhar. Ele procurou sempre... eu trabalhei mais no comércio com meu pai e com a minha mãe, o meu irmão já trabalhou muito pouquinho, depois ele mesmo partiu pra outros tipos de trabalho, falou: “Eu não gosto disso, vou trabalhar nisso”. Começou a vender livros, na época, também, dicionários, que eu me recordo e daí pra frente ele foi trabalhando em algumas empresas, também estudou tudo, se formou em Comércio Exterior e até hoje ele está trabalhando nas empresas, está aposentado também, mora aqui em São Caetano do Sul também.
P/1 – E na infância, tem alguma história muito marcante, com ele, que você se recorda?
R – Sim. A infância da gente sempre participando de um monte de coisas juntos, jogando bola, futebol nas ruas, nos terrenos, que do lado da casa do meu pai tinha um terreno e jogava bola junto, tudo. Depois foi crescendo e tanto eu, ele, a gente ia no cinema, ia assistir alguns jogos de futebol, coisas de teatro, coisas de brincadeiras em frequentar circo, cinemas, as épocas, as matinês que a gente ia junto, toda essa parte aí, também. E a gente sempre ficou junto. Não tão junto, mas sempre cada um na sua atividade, mas até hoje a gente se fala muito, conversa muito também. Só que ele é um pouco diferente, tanto do meu pai... meu pai sempre gostou de esporte, eu também, a gente praticou, ele já praticou menos esporte, não é ligado, muito, em futebol. É corintiano também, por causa de um tio meu, que falou, meu tio tinha caminhão, na época, de aluguel: “Se você torcer pro Corinthians eu te levo passear no meu caminhão”. Então foi assim que o meu irmão (risos) se transformou em corintiano, mas ele não é muito fanático, não liga muito pra futebol.
P/1 – Muito bom! E você se lembra da sua casa de infância?
R – Ah, sim. Minha casa de infância é onde hoje é o meu escritório. Onde eu nasci, também. Sempre foi ali a nossa... tanto eu como meu irmão somos todos criados ali, numa casa pequena, com um quarto enorme, uma sala enorme, uma cozinha, dois banheiros. Meu pai, depois, mais pra frente, construiu comércio na frente, mas ali que a gente ficou, até casar. Quando nós casamos, meu irmão casou primeiro do que eu, ele mora aqui em São Caetano do Sul e eu também, depois de uns quatro anos que ele casou, eu casei também, moro aqui em São Caetano do Sul também, então a gente, praticamente, sempre viveu no mesmo bairro, por isso que a gente conheceu muita gente, tivemos muitos vizinhos. Então, foi uma infância muito bacana também, até praticamente a adolescência.
P/1 – Qual é o bairro?
R – O bairro em que eu nasci teve vários nomes. Primeiramente era o bairro Monte Alegre e atualmente é bairro Oswaldo Cruz, onde nós nascemos. Ele praticamente fica no meio, entre o Centro de São Caetano...
P/1 – E vocês ouviam música, assistiam TV? Isso fazia parte da vida de vocês?
R – Sim. Isso é uma coisa muito interessante ali no bairro, na nossa casa, porque naquele pedaço ali, o primeiro a ter uma televisão, na época, preto e branco, foi o meu pai que comprou. Uma TV Empire, acho que era... não sei se era dezenove ou 21 polegadas, aquelas preto e branco da época, era o único que teve televisão e a gente tinha oito, nove, dez anos, por aí e todos os vizinhos se reuniam à tarde, pra ver os desenhos: Picapau, Pato Donald, todas essas coisas, desenhos da época. E ali se juntava todos os vizinhos, toda a molecada, pra assistir, aos domingos, o Circo do Arrelia, que tinha, na época, também e o pessoal que às vezes tinha algumas novelas também, na época, que era na TV Tupi e aí juntava mais as donas de casa, que vinham assistir novela, tal, até um horário. Então, o centro, a casa do meu pai sempre foi o centro e na época de telefonia foi a mesma coisa: o meu pai que teve um primeiro telefone, ali, então ninguém tinha, vinha ligar pra cá, pra lá, ligava pro interior, nesses interurbanos da época, então ali, (risos) a casa do meu pai era a casa do centro.
P/1 – Era o ‘agito’?
R – Sim. Todo mundo, qualquer coisa, vinha lá, pra ver a TV, essas coisas todas, jogos de futebol da época também e as mulheres por causa de novela, algum outro programa que tinha também, à tarde, à noite. Isso foi a infância da gente, foi todo o pessoal ali, os vizinhos. Uma coisa muito interessante da época.
P/1 – O que você mais gostava de fazer quando você era pequeno?
R – Tinha muitas coisas. Jogar bola era a primeira coisa. E tinha, cada época, uma atividade. Época de férias, principalmente em julho, era empinar pipa, que a gente chamava papagaio, tudo isso a gente empinava. Quando era época de férias lá de janeiro, fevereiro, aí era outra atividade que a gente fazia também, além de jogar bola, sempre. Jogar bola era sempre a atividade principal, nossa. Rodar pião, que a gente tinha, também. Época das pipas também. Muitas dessas atividades: andar de carrinho de rolimã nas ruas, a gente montava os nossos carrinhos também. Então, a infância foi muito rica, porque eram coisas que a gente fazia, mesmo. Não tinha um monte de coisa industrializada, na época, era tudo coisas praticamente artesanais. As bolas que a gente arrumava, fazia bola de meia, enchia lá de jornal, pra jogar também, porque era difícil, a gente não tinha dinheiro pra comprar uma bola, o pai e a mãe não compravam, quando comprava não durava muito a bola, acabava furando também. Mas tudo isso foi uma coisa muito... apesar da dificuldade, uma infância muito bacana, com muita atividade também. Então, muito interessante e, com isso, a gente reunia todo o pessoal do bairro, ali. Jogava bola, umas vezes, na rua aqui, na rua ali, ou num terreno baldio que tinha, a gente fazia os nossos campos, construía as nossas traves. Também uma época aí começamos a jogar bola ao cesto, hoje é basquetebol. Na época era bola ao cesto, que a gente fazia nossas tabelas mesmo e colocava o aro, fazia aquelas cestinhas lá, de barbante. Era tudo bem artesanal, mas era uma coisa muito bacana, mesmo. E fazia parte da criatividade da gente, todo mundo criava algumas coisas também. Então, muito... infância muito rica aquela época.
P/1 – E qual é seu time de futebol ‘do coração’?
R – Meu time é Sociedade Esportiva Palmeiras. Isso porque o meu pai também sempre foi palmeirense. Na família dos irmãos do meu pai tinha mais um palmeirense, que é o irmão mais novo; tinha mais outros dois irmãos do meu pai que eram corintianos, então eu era o mascotinho do Palmeiras. Então, todos esses meus tios também, que jogaram bola, me levavam no campo pra assistir futebol, junto com meu pai, tudo e eu sempre ia de mascotinho do Palmeiras e foi aí também que eu fiquei palmeirense e tenho muitas fotos de mascotinho do Palmeiras. Onde ia todo mundo achava bonitinho e tal e vai, não sei o que, tirava foto. Os campos de várzea aqui de São Caetano também, na época também meu pai ia muito no Pacaembu, ia na Rua Javari, ia lá no campo do Nacional, então época muito bacana e por isso que eu comecei a gostar muito de futebol também, de praticar o futebol, mas nunca fui um bom jogador. Jogava bola porque gostava, também joguei basquete, na época de faculdade, já disputando as olimpíadas aqui em São Caetano do Sul, jogando vôlei também. Eu sempre gostei de esporte. Eu gosto muito de futebol. Assisto muito futebol in loco mesmo, que eu prefiro, que é muito aquele alvoroço, aquela gritaria, torcida. Apesar que hoje está um pouco... essa violência que existe hoje, mas de qualquer forma é uma alegria assistir jogo no local. Então, eu sou sócio do Palmeiras também, torcedor. Na medida que eu posso eu vou assistir os jogos ali, no Allianz Parque. Já assistia antes, no Parque Antártica também, mas adoro futebol.
P/1 – Teve algum jogo muito marcante pra você? Ou pequeno mesmo, também.
R – Já tiveram muitos jogos, muitas alegrias e muitas decepções também. Então, a gente não dá pra esquecer as alegrias e as decepções pior ainda, essas que a gente não esquece. Mesmo dos clubes aqui, profissionais, de São Caetano do Sul, que eu acompanhei muito, dentro desse estádio, que é onde nós estamos aqui, eu presenciei muitos jogos de equipes que existiam aqui, em São Caetano do Sul, que disputaram profissionalismo. As equipes que disputaram também os campeonatos amadores aqui, de São Caetano, então alegria tanto no esporte profissional, como no amador, então sempre participando, assistindo os jogos, mas tem muitas. Se eu contar aqui dá pra escrever um livro, de tudo quanto... mas é muita coisa boa.
P/1 – Mas tem uma em destaque, que você queira falar, ou não?
R – Tem várias. Do Palmeiras, principalmente, tem vários campeonatos que o Palmeiras ganhou também, na época da Parmalat, ou da época da primeira academia, da segunda academia, da terceira academia. Agora, está partindo pra uma quarta academia. Mas também do Palmeiras, a própria equipe aqui, também, de São Caetano do Sul, o Saad Esporte Clube também, que deu muitas alegrias pra gente também, disputaram profissionalismo, que se destacou no futebol paulista, aqui de São Paulo também. E ultimamente a equipe aqui, a Associação Desportiva São Caetano, fundada em dezembro de 1989, que cresceu muito, de repente, com o apoio da prefeitura, tudo. O AD São Caetano cresceu muito e disputou, começou nas divisões menores. Foi crescendo, chegou ao campeonato paulista, quase disputou duas Libertadores. Foi quase campeã da Libertadores de 2002. Essa é uma das (risos) decepções que eu tive no futebol: não ver o São Caetano ser campeão da Taça Libertadores da América. Uma decisão de pênaltis, acabamos perdendo, aqui no Estádio do Pacaembu. Essa é uma das decepções (risos) maiores que eu já tive no futebol, porque a gente já estava... praticamente o título era nosso, mas de repente virou tudo e a gente acabou perdendo nos pênaltis esse jogo.
P/1 – É possível, você consegue descrever a sensação de estar no estádio, de ver seu time ganhando? O que acontece no corpo?
R – (risos) Isso é muito engraçado. A adrenalina vai lá ‘a mil’. A gente não sabe se grita, se chora. É muito bacana tudo isso. E o lado contrário também. Teve jogos aí que o Palmeiras ganhou e de repente virou o jogo, acabava o jogo, a gente ficava sentado, não estava acreditando, parece que era um sonho, ficava lá sentado um monte de tempo, depois pra poder ir embora, pra baixar um pouco a adrenalina. E nas derrotas era a mesma coisa, porque eu vi várias derrotas do Palmeiras (risos) dentro do Parque Antártica, na época, que a gente fala: “Não é possível! Estava ganhando, de repente virou tudo” e aí fica lá e não acredita e fica pensando: “Mas o que aconteceu, tudo?” O organismo (risos) fica ‘daquele jeito’, mas é uma sensação gostosa. E outra, também, tem hora que o coração começa a bater mais forte, fala: “ ‘Puta’, será que eu vou ter (risos) algum problema aqui?” Tanta emoção que dá tudo isso, mas é uma coisa muito prazerosa. Pra quem gosta é muito bacana tudo isso.
P/1 – E da escola? Onde você estudou, que recordações você tem?
R – Da escola eu também tenho boas recordações de professores, da minha primeira professora do primário, que eu não esqueço o nome dela, Letícia, uma professora muito bacana, muito bonita, na época eu tinha apenas oito, nove anos. Uma professora muito bacana, mesmo. Aprendi muito a parte de primário também, muitos professores bons também, que eu me lembro até hoje dos professores. Época de ginásio também. De ginásio ainda conversei esse ano mesmo com um professor meu, João, ele dava aula de Geografia e o pessoal o apelidou de Joãografia. Então, eu conversei com ele há pouco tempo. Ele está com 85 anos. Está firme. Então, outros professores também, que eu lembro. Professor de Matemática, de Português. Então, eu também sempre gostei de estudar. Depois passamos do ginásio, comecei fazendo científico, depois, um ano depois mudou pra ser colegial e aí também tivemos muitos professores bons, muita saudade dessa turma, a escola onde eu estudei, de vez em quando eu passo lá, dou uma olhadinha nela, muito bacana tudo isso também e depois, aí, a amizade que a gente cria também, a própria amizade da época dos bailes de garagem que a gente fazia, pra arrecadar fundos também, pra formatura, tanto de ginásio, quanto da parte de colégio também. Então, muito bacana tudo isso, também. A saudade é grande dos professores, dos ex-alunos. Ainda tenho alguns amigos até hoje, que eu tenho do ginásio, do colégio, que eu tenho contato com eles também. Então, a gente começa, às vezes senta, se encontra e começa a lembrar dos professores, das bagunças que a gente aprontava dentro das classes também. Então, teve umas coisas muito engraçadas da época. A gente tinha uma turminha que o pessoal, geralmente, da bagunça, sempre sentava no fundo da classe. Então, teve uma passagem de ginásio pra colégio que no primeiro dia de aula o diretor chamou todos nós lá e falou: “Está vendo todo esse pacote aqui, de folhas? São todas transferências pra vocês aqui. Se vocês continuarem bagunçando, vocês vão todos embora da escola aqui, vão ser transferidos pra outras escolas, onde seus pais quiserem levar vocês. Aqui vocês não vão estudar mais”. Primeiro dia de aula. Porque a gente levava uma fama daquela turminha da bagunça. Não era turminha da bagunça, era porque a gente reivindicava sempre alguma coisa.
P/1 – O quê?
R – (risos) De melhora. Às vezes queria jogar bola e o pessoal não deixava, ou que não podia tal horário fazer aquilo e era uma época a nossa, aquelas anos meio de Ditadura, vamos falar o ‘português claro’, então não podia abrir muito, falar muito, mas tudo isso daí a gente não teve problema nenhum maior, de ser preso, nada disso, mas a gente reivindicava muita coisa. Tinha os diretórios acadêmicos da época também, que a gente fazia parte também, tudo, as organizações que a gente fazia, mas tudo numa boa, não era nada de violência, mas era muito bacana tudo isso. Depois, ali cada um se formou, que depois cada um foi fazer as suas áreas: um foi fazer engenharia, outro foi fazer a parte de Humanas, outro Exatas, toda essa parte aí. Outros foram fazer medicina, cada um aí foi pra sua área. Mas tudo isso é bacana. Fui pra minha área, sempre gostei da parte de desenho, de criação, então eu sempre me dediquei a toda essa parte. Na época do ginásio mesmo, meus cadernos de desenho eram sempre em exposição, então o professor sempre elogiando muito meus trabalhos, meus desenhos, então muito bacana, nessa parte aprendi muito, lembro de muita coisa que eu aprendi nessa época, que o ensino era bom. Eu nunca estudei em escola particular, porque tanto meu pai, quanto minha mãe não podiam, não tinham condições pra esse tipo de escola, mas mesmo assim o que eu aprendi eu não esqueço até hoje. Depois partimos, fizemos cursinho, pra fazer... que o meu sonho era fazer arquitetura. Fiz cursinho durante dois anos, porque eu queria entrar na FAU, na USP. Muita concorrência e acabei fazendo outros vestibulares e acabei entrando na faculdade de arquitetura em São José dos Campos. Cheguei lá, estudei durante dois anos e meio lá em São José dos Campos, São Paulo, no Vale do Paraíba, na parte de arquitetura. E a escola teve alguns problemas na época, com o MEC, com a fundação, acabou fechando a faculdade, aí eles deram as transferências pra todos os alunos, quem queria ir pra cá, ia pra lá, outra faculdade, ou fazer outro curso e na minha área de arquitetura tinha o curso de Desenho Industrial, eu sempre gostei dessa área também e aí eu parti pra uma outra área, de Desenho Industrial, mas antes disso eu trabalhei muito em coisas de desenho, de arquitetura também, que eu sempre gostei, gosto até hoje, então eu fiz a parte de Desenho Industrial durante quatro anos, tudo, também relacionado à parte de Design de Produto, formação, depois me especializei na parte de embalagens também e fiz uma pós-graduação também em Comunicação Visual, aí parti pra Artes Gráficas também, que era minha área. Então, toda essa área envolvendo a parte de criatividade, que eu sempre gostei e eu trabalhei. Na época da faculdade comecei a fazer estágio na Trol, que era uma empresa de brinquedos da época, muito conhecida, que fazia... era concorrente da Brinquedos Estrela. Ou era Trol ou era Estrela. Então, eu fiquei lá durante quase dois anos, um ano e meio de estágio, fui aprovado no estágio, aí comecei, parti pra dentro da Trol, trabalhar na área de desenvolvimento de produto. Então, mexia... na verdade, eu desenvolvia brinquedos, desenho de brinquedos, tudo coisas criativas, próprias, porque eles estavam, na época, a Trol queria montar uma área de design e foi montada uma área. Saímos da empresa, que era aqui no lado da Via Anchieta, tivemos um local especial pra design de produto e de brinquedos e a gente trabalhou, foi alugado um sobrado, uma casa enorme pro nosso departamento, que era Marketing e parte de Design. Por causa de sigilo, toda essa coisa que a gente não poderia deixar o pessoal da fábrica ficar sabendo dos produtos que estavam sendo desenvolvidos. Aí depois eu fui efetivado na área como designer, na própria Trol, fiquei quase... mais de dezesseis anos dentro da Trol. Uma época eu acabei saindo da Trol, aí fui trabalhar na Colgate Palmolive, ali no Jaguaré. Então, fui nessa área de desenvolvimento de embalagens e fui trabalhar com tudo quanto era tipo de embalagens, que a Colgate Palmolive tem até hoje. Aí fiquei mais lá, um ano e meio. Foi onde eu conheci a minha esposa, Ana Makanji Romano, com quem eu estou até hoje, mais de trinta anos de casado. Aí depois eu acabei saindo da Colgate Palmolive, porque aí me chamaram na Trol, fizeram uma proposta, aí eu voltei pra Trol e aí fiquei mais até... infelizmente quase que a Trol entra em concordata e daí, eu sempre como a minha área dentro da Trol, da parte de embalagem e artes gráficas, fazia muito, a gente chamava de freelancer, tinha muitos trabalhos extras da empresa, que não era da empresa, eram uns trabalhos que eu comecei a fazer por fora, outras empresas, pessoas: “Você não quer fazer um desenho pra cá, um desenho pra lá?” “Vou fazer”. E comecei assim a fazer tipo freelancer, que a gente chamava, na época. Aí foi indo. Quando a Trol entrou lá com probleminha, concordata, tal, eu saí antes que tivesse falido, recebi tudo lá, o que eu tinha que receber, aí montei a minha empresa, uma microempresa, na época, em 1988, LD Romano Design Ltda e então mexia com toda essa parte de artes gráficas, criação de logotipos, de marcas, folhetos, catálogos, toda essa parte de comunicação visual, anúncios e a minha empresa (risos) durou mais de trinta anos, sempre nessa área, tendo muitos clientes, depois os clientes foram aumentando, então sempre trabalhei no que eu gosto, até hoje. Então, pra mim foi bacana tudo isso que eu fiz, com gosto.
P/2 – Fiquei curioso a respeito de uma coisa: que brinquedos importantes que o senhor participou, que o senhor ajudou a criar lá na Trol?
R – Nós tivemos lá... eu, quando eu comecei na Trol, fazendo estágio, já me deram um monte de desafios lá, pra eu criar alguns produtos. Eu criei um tipo de um trenzinho que, na verdade, era a forma de um trenzinho, mas que tinha várias coisas... como eu vou falar? um visual do trenzinho, que o projeto seria um plástico, que amarrava no berço da criança, pra criança apertar, mexer, tinha uma coisa que rodava, a rodinha do trem era pra rodar, pra coordenação motora da criança. Um negócio que apertava, que era uma buzina; outro que era um sininho do trem. Então, todas essas coisas foi o primeiro produto que eu acabei criando, dentro da Trol. Depois acompanhei uma outra linha, que a gente tinha, chamada Mundo Feliz, inclusive com a participação do Maurício de Sousa, com os personagens dele. Então, a gente teve muitas reuniões com o Maurício de Sousa, projetando esse produto e a gente fazia parte, a nossa parte era do produto, em si, dos mockups que a gente mesmo fazia, mexia com modelação de madeira, fibra de vidro, os moldes positivo e negativo, tudo era parte pra fazer os mockups, pra fazer apresentação do produto. Então, essa parte aí. Tinha parte também, que a gente participou muito, da nossa equipe, no caso, das embalagens também, de todos esses produtos, que era tudo um apanhado geral, que a gente ia fazer o produto, desenvolvia embalagem, os mockups, toda a parte, saía o produto, ficava prontinho. Tinha a parte quem criava a embalagem, quem desenhava, fazia os layouts pra aprovar, tudo isso daí. Então, eu participei de um monte de produtos na Trol. Era uma equipe grande de designers que tinha. O meu primeiro produto foi esse trenzinho, que era pra pendurar no berço, pras crianças se divertirem, coordenação motora. Esse foi um dos primeiros. Depois teve as outras partes, que era criação de embalagem também. Fazer embalagem, ou fazer um berço pra amarrar o produto, alguns recortes na embalagem, pra proteger o produto. Então, toda essa parte aí, de design, eu participei em quase todos os produtos da época, também. Os catálogos também, que eu participava também e depois de tudo isso a parte gráfica também. A gente fazia de tudo. Como eu sempre gostei de toda essa área, então eu ia aprovar os trabalhos nas gráficas. Embalagens também, os folhetos, os catálogos. Eu era o produtor gráfico também. Então, é isso aí. Eu aprendi de tudo um pouco e até hoje domino toda essa parte. É uma coisa que eu sempre gostei de fazer. Então, por isso que eu falei que eu sempre fiz o que eu gosto.
P/1 – Teve algum projeto muito significativo?
R - Como?
P/1 – Algum desses projetos, pode ser embalagem, ou produto, você tem uma recordação muito marcante, que tenha sido muito significativo pra você?
R – Aí não teve uma assim, especial. Todos, pra mim, porque ao mesmo tempo a gente usava muito a criatividade também e era uma coisa que a gente desenvolvia, cada vez mais, ia aprendendo também. Como eu tinha um pouco, eu aprendi muito também, tive uma noção boa de plástico também, a gente também tinha que desenhar um produto sabendo que aquele produto poderia ser injetado, finalizado também. Então, essa parte de produto também, o que você podia... a parte principal do produto, em si, extrusora das máquinas de injeção de plástico, mas não teve assim, um produto...
P/2 – O senhor participou, por exemplo, do Playmobil?
R – Sim. Eu ia falar do Playmobil. Era uma coisa fabulosa. Era um produto alemão e aqui no Brasil, quem tinha a licença pra desenvolver era a Trol. O Playmobil era o ‘carro’ principal nosso. Então, eu acompanhei muito a Playmobil e a gente tinha que fazer os produtos de acordo que era o Playmobil, não podia estar mudando nada. O que a gente fazia: algumas adaptações aqui, das embalagens, acompanhava a impressão, o produto também, quando estava sendo injetado, tinha um controle de qualidade de tudo isso. E também a gente tinha (risos) empresa em Manaus, fui várias vezes pra Manaus também, pra acompanhar os produtos também, as embalagens. Mas o Playmobil era o ‘carro-chefe’. Muito importante. Eu acredito que vocês conheceram bem o Playmobil. Ainda tenho algumas embalagens guardadas de Playmobil, alguns produtos em casa, ainda. Faz parte lá, do meu museu. E outros produtos, sem ser Playmobil, que eu tenho alguns ainda, guardados lá, como recordação, também.
P/1 – Posso voltar um pouquinho? Eu queria te perguntar se você estudou a vida toda no mesmo colégio.
R – Sim. Estudei no colégio...
P/1 – Com o mesmo pessoal? Formaram um grande grupo, uma grande turma?
R – Sim. Por exemplo: da parte de ginásio pra parte de colégio praticamente era a mesma turma, a não ser quando repetia, porque eu acabei repetindo também. Na primeira série de ginásio eu repeti. E se repetisse mais uma vez eu seria, na época, jubilado e não podia estudar mais em escola do estado. Aí tinha que estudar em escola particular. E me lembro que meu pai falou: “Se você repetir de novo não vou ter dinheiro pra pagar escola sua, não”. Então, aí foi (risos) uma intimação, foi aí que eu comecei a passar e não repeti mais. Mas a turma sempre era a mesma e mesmo repetindo, mudando, a gente tinha amizade com as pessoas, com os alunos, não mudava muito. Então, era diferente, muito bacana tudo isso. Por isso que eu falo amizade da gente, tanto na parte de ginásio, quanto na parte de colégio, que foi tudo no mesmo colégio, a gente se encontrava muito, tinha os grupos de estudo, cada um ia estudar na casa de um, na casa de outro, tudo e tal e o que era legal também é que as famílias ficaram entrosadas, pai e mãe nossos entrosavam com os pais e mães de outros alunos também, então criaram uma amizade muito grande também, tudo isso era muito bacana, foi tudo muito proveitoso pra gente.
P/1 – E juventude, o que você gostava de fazer, como você se divertia?
R – Muito, nossa! (risos) Isso daí, toda essa parte foi maravilhosa. Nossa juventude aí, sempre gostei de muita coisa também, então a gente se divertia muito nos bailes de garagem, que a gente chamava antigamente. Não tinha tantos salões assim. Tinha salões de bailes dos antigos, mas esses bailes de garagem a gente juntava uma turminha lá, arrumava um rádio vitrola lá, pegava os discos da época, LP, compacto simples, compacto duplo e escutava, fazia os bailinhos de casa de sábado, cada um na casa de um, na garagem do outro. Colocava, na época, aquelas luzes negras, toda aquela escuridão. Os bailinhos todos bacanas. E os próprios matinês de cinema também, da época, que também era muito bacana. Que nem eu te falei da prática de esporte também, muito bacana também. Depois os bailes de carnaval também, eu sempre gostei muito de carnaval, tinha os bailes nos clubes, as matinês nos clubes também, aqui de São Caetano do Sul, então foi muito... desfrutei bastante de tudo que podia.
P/1 – E aí você contou que você entrou na faculdade de arquitetura.
R – Sim.
P/1 – Em São Bernardo do Campo.
R – Não, não. São José dos Campos.
P/1 – São José dos Campos!
R – É, no Vale do Paraíba. Lá também a escola era muito maravilhosa, muito boa a escola, mas tiveram uns problemas lá, da própria Fundação Valeparaibana de Ensino e o MEC, na época, acabou encontrando um monte de problemas lá e acabou fechando a faculdade, na época.
P/1 – Você mudou de casa nessa época?
R - Não. Eu cheguei a morar em São José dos Campos, na época. A gente morava numa república, lá. No início eu ia e voltava todo dia, daqui de São Caetano pra lá. Pegava o trem, pegava o ônibus, na época era Pássaro Marrom, ficava lá, voltava, chegava de noite, no outro dia tinha que levantar de madrugada, sair (risos) e pegar o trem e até, na época, a estação ferroviária era na estação ali, da Glicério, tinha que descer no trem na Estação da Luz, andar um pouco a pé lá, pra poder pegar o ônibus Pássaro Marrom. Então, isso eu fiz quase um ano e vai e vem e vai e vem e volta, era muito cansativo. Aí cansava, atrapalhava meu pai, atrapalhava minha mãe também, então foi a hora que eu resolvi morar lá também. Moramos numa república lá, depois acabei morando numa pensão também, que o pessoal da república um saiu, outro foi pra outro lado, aí fomos morar numa pensão lá também, até a hora que a faculdade também teve os problemas lá, depois distribuiu as transferências pra outras faculdades e aí que eu pesquisei outras faculdades também, mas na época, que nem eu falei, a área de Desenho Industrial, que era uma das matérias que eu tinha, na parte de arquitetura, me chamou atenção e era dentro do que eu estava querendo, também e aí eu fui fazer Desenho Industrial. Aí, durante quatro anos fiz Desenho Industrial também.
P/1 – Você voltou pra cá?
R – São Caetano. Aí fiz a escola, a faculdade de Desenho Industrial, tudo, fiz vários cursos à parte, de embalagens, formei grupos de pesquisa na época da faculdade também, participamos dentro da faculdade de jogos de faculdades também, na época. Foi a parte de estudo. E sempre continuei fazendo cursos também, à parte. Alguns cursos na própria Universidade de São Paulo também. Teve alguns cursos de embalagens lá que eu participei na época, também. Então, eu sempre fui envolvido com essas coisas, sempre gostei de estudar e de pesquisar também. E a coisa andou e a gente vai se transformando também, vai crescendo mais, a idade vai passando também, você vai se envolvendo com outras coisas. Então, coisa de colecionismo, que eu gosto muito também parte de colecionismo de esporte, de futebol, em geral.
P/1 – Como foi essa experiência de sair da casa dos pais?
R – Na época era difícil. A gente, que ficou sempre (risos) dentro de casa, com o pai e a mãe, tinha os nossos costumes, as nossas manias, morar em outro local, na época, foi difícil, mas aí não tem jeito, você tem que se acostumar, não tinha outra escolha, você quer fazer as coisas, quer estudar, tem que... e passou, assim, a adaptação até que foi rápida. Eu tenho um amigo que morava em São José dos Campos, que estudava numa escola de tecnologia, então eu fui, numa época, morar na própria república que ele morava também e aí deu uma ajudada, conheci mais a cidade também, através dele, tudo, depois a gente vai se adaptando. Eu sempre fui fácil pra criar amizade e tudo. Quando eu não conhecia alguém, perguntava aqui, ia fazer amizade, que em São José dos Campos tinha muita gente, não eram estudantes da própria cidade, eram estudantes de várias cidades de São Paulo e do Brasil e esse intercâmbio é muito interessante. Aprendi muito. Muitas cidades lá que a gente não conhecia e com essa relação das cidades: “Nas férias eu te levo lá, vamos lá, viaja pra cá” e eu fui em muitas cidades em volta do Vale do Paraíba, em outros locais aí, por causa dos estudantes também, que a gente fez amizade também. Então, uma coisa muito interessante e a gente acaba fazendo amizade com pessoal. Da própria cidade eu tive pouca amizade com gente da cidade, era mais com o pessoal de fora da cidade que estava estudando na cidade, que a gente se reunia em finais de semana também, em peças teatrais da cidade, alguns shows que tinha na própria cidade também. Era tudo isso daí, um aprendizado muito interessante e a adaptação ajudou bastante.
P/1 – E aí, continuando seu percurso, você foi pra Trol, depois Colgate e foi nesse momento que você conheceu sua esposa?
R – Sim, quando eu fui na Colgate, a minha esposa, secretária trilíngue, eu acabei conhecendo-a na Colgate Palmolive.
P/1 – E como foi esse encontro de vocês?
R – Eu trabalhava na área, no mesmo prédio. Eu trabalhava na área de desenvolvimento de embalagens e artes e tudo essa parte e ela era secretária dos engenheiros da Colgate Palmolive. Então, aí minha esposa é chinesa, nasceu em Xangai, veio com cinco anos aqui pro Brasil, junto com a família e aí a gente começou a conversar, tudo e daí pra frente nós casamos, então...
P/1 – Vocês casaram?
R – Sim, casamos.
P/1 – Teve festa?
R – Sim.
P/1 – Como que foi?
R – Festa pros nossos padrinhos, uma festa nada de muito... como é que eu vou falar? grande, vamos falar assim. Pegamos nossos padrinhos, pais, mães, os parentes mais próximos e casamos ali, na região do bairro da Saúde, que ela era de São Paulo, então casamos ali, na Igreja da Saúde, no bairro Saúde, no Bosque da Saúde, no caso e aí a própria festa nossa foi dentro de uma churrascaria também e moramos aqui em São Caetano, a trouxe pra São Caetano do Sul também. Ela continuou trabalhando, depois ela trabalhou numa empresa de embalagens também, na Igaras, muitos anos, ali no bairro Vila Olímpia e estamos juntos até hoje.
P/1 - Quantos anos?
R – Mais de trinta.
P/1 - E sua esposa é chinesa?
R – É, nasceu em Xangai. Não fala o mandarim, ela fala com as irmãs outro dialeto, porque a China tem mais de 52 dialetos, mas ela fala, conversa com as irmãs tudo lá, em chinês.
P/1 – Vocês já foram pra lá?
R – Não. As irmãs dela já foram, o irmão também já foi. Ela nunca teve intenção de voltar lá.
P/1 – E tem algum costume que faz parte da vida de vocês, da cultura da família dela?
R – A gente, assim, de fazer as comidas, minha esposa cozinha muito bem. As irmãs, minhas cunhadas cozinham muito bem. Então, faz os pratos chineses lá, tem até os pratos orientais também, que elas fazem, então essa parte aí a gente gosta muito também, mas é muito... então, essa junção aí, é muito interessante e depois tem o outro lado também, as comidas, as massas italianas, tudo isso daí é...
P/1 – E você conheceu a família dela, os que estão aqui?
R – Sim. Conheci o pai, a mãe, toda a família e a família dela sempre me adorou, o pai e a mãe sempre me adoraram. Eu nunca tive problemas com eles, eles eram que nem meu pai e minha mãe. Então, sempre me dei bem, muito bem com eles, eles gostavam muito de mim, eu brincava muito com eles também, então a amizade com os irmãos, com as irmãs, foi muito bacana mesmo tudo isso.
P/1 – E você sabe por que eles vieram pra cá?
R – O pai - a mãe era chinesa pura – tinha descendência espanhola, então por causa do próprio regime da China, na época, a intenção era sair de lá e eles, quando o pessoal nascia, pegavam e registravam em consulado - principalmente o pai, que tinha descendência espanhola – espanhol. Então, minha esposa tem passaporte espanhol e as outras irmãs também. Só tem uma irmã que nasceu aqui no Brasil, então essa é brasileira, mas as outras são nascidas todas em Xangai, os irmãos também e tudo com passaporte espanhol, que a intenção deles era vir, sair da China, por causa do regime da época. Então eles escolheram o Brasil. A minha esposa chegou aqui tinha cinco anos, aí passaram muita dificuldade - vieram morar na Vila Prudente, quando chegaram aqui no Brasil – porque também tinham família grande, não sabiam, tinham problema com idioma, que é muito diferente, mas se ‘viraram’ também, se desenvolveram, os filhos estudaram, cresceram também, as filhas todas estudaram também, então foram crescendo também. Depois saíram da Vila Prudente, foram morar lá no bairro Jaguaré, compraram a casa, o meu sogro dava aula de inglês também, pra ajudar. Ele trabalhava também numa empresa, mas no final de semana à noite dava aula de inglês, pra ajudar, até os filhos crescerem mais pra poderem trabalhar. Depois, cada um foi pra sua área, cada um estudou, então todos se realizaram também.
P/1 – E vocês tiveram filhos?
R – Não. Infelizmente não, porque minha esposa teve um probleminha e não pôde ter filhos, mas a gente tem muitos sobrinhos do meu irmão, por parte dele tem dois e por parte da família dela tem vários sobrinhos também. Na época a gente queria adotar, mas depois ela estava trabalhando também, então a gente resolveu ficar assim mesmo, do jeito que estava, a gente estava bem, tinha os sobrinhos, tudo e estamos felizes até hoje.
P/1 – E como foi essa mudança de trabalho, saindo de uma empresa e começando a abrir a sua própria empresa? Esse momento. Apesar de ser da mesma área, mais ou menos, mas teve alguma mudança?
R – Não senti muita mudança. É lógico que aí a gente ia ser o chefe da gente, mesmo. Aí ia ter que trabalhar dobrado, não ia ter horário pra isso, horário pra aquilo, mas eu nunca me importei por causa disso, não, que eu queria fazer os meus trabalhos e eu fui aumentando os clientes também, então a gente foi se desenvolvendo, não tive... essa transformação não teve muito problema, não.
P/1 – Me conta como você começou a se aproximar do Pró-Memória, dos trabalhos pensando em exposições, ou até mesmo esse colecionismo que você comentou.
R – De colecionismo eu peguei um pouco do meu pai. O meu pai sempre colecionou muitas coisas, sempre gostou de guardar muitas coisas também. Na própria sala onde ele atendia o pessoal tinha muitas coisas, coleções de flâmulas de futebol, coleções de chaveiros, álbuns de figurinhas também que ele, na época, colecionava. Meu pai sempre gostou disso, eu peguei um pouco disso dele também e eu acabei... a gente vai conhecendo muita coisa e vai gostando e guarda isso, guarda aquilo, guarda não sei o que, depois você acaba indo pra um outro caminho: “Eu vou colecionar camisas de futebol, chaveiros, figurinhas de futebol, álbuns de futebol, selos”, que eu sempre gostei de selos também e foi por isso que é essa parte de colecionismo também, uma é aprendizado também, que a gente tem, de conhecer tudo, o significado de toda essa parte de coleção, também. E a parte da Fundação Pró-Memória, porque eu sempre gostei dessas coisas, por exemplo, de museu, essas coisas eu sempre fui interessado em Museu do Rádio, museu disso, daquilo, todas as áreas sempre fui interessado, sempre gostei. Obras de arte, tudo, essas exposições que existiam, tanto da área de futebol, da área de quadros, toda essa parte e aí também foi fundada a Fundação Pró-Memória, que tem mais de trinta anos também e eu acabei entrando. Morando em São Caetano, conhecendo muita gente, muita coisa, o progresso da cidade, o desenvolvimento de tudo, a gente vai guardando muitas coisas na memória. Então, lembrando de muitas passagens, de muitas coisas históricas de São Caetano, relacionado tudo com a infância também e aí acabei, o meu pai mesmo, na época, chegou a dar muitas entrevistas. Meu pai também, por ser homenageado por todos os prefeitos, pela área dele e tudo, foi muito conhecido também e aí fizeram várias entrevistas na Fundação Pró-Memória, inclusive na revista Raízes ele apareceu muito também e eu também comecei a participar e depois, de repente, me convidaram pra participar da Fundação Pró-Memória, eu levava muitas coisas pra serem mostradas nas revistas, que a gente até hoje tem 66 exemplares. E aí fui participando, depois acabaram me convidando: “Você não quer fazer parte do Conselho Diretor aqui?” Falei: “Tudo bem, eu gosto, participo” e estou há mais de dez anos no Conselho Diretor da Fundação Pró-Memória e participo muito, sempre faço alguns artigos na própria revista Raízes, pego de empresas a parte esportiva também, que eu gosto muito também, empresas que fizeram história, participaram da história de São Caetano do Sul. Então, é isso aí. É coisa que eu gosto, que eu acabo desenvolvendo, por ser um historiador, um pesquisador. Então, é uma coisa muito interessante.
P/1 – Qual é o objetivo dessa fundação?
R – Da Fundação Pró-Memória? É manter a história viva, da cidade, que mostra as coisas antigas, as pessoas antigas, que passaram, a história dos prefeitos, dos antigos comerciantes, das lojas antigas que se iniciaram aqui, em São Caetano. Então, é pra manter a história viva. Então, cada um tem os seus depoimentos, tem várias pessoas, vários jornalistas que escrevem na revista. Então, é isso aí. A revista é muito interessante, por isso que nós estamos no número 66, já. E a fundação, além da revista Raízes, cuida da parte... a gente tem uma biblioteca também, um acervo de jornais antigos do ABC também, tem uma pinacoteca, que é no próprio prédio da fundação. Então, é uma fundação muito interessante aqui, pra São Caetano e pro ABC também.
P/1 – E o seu pai, chegou a te dar alguma camiseta, alguma peça, algum objeto muito significativo? Teve essa passagem?
R – Meu pai sempre me presenteava com alguma coisa. Então, em geral, me deu camisas. Uma coisa muito bacana mesmo: eu sempre gostei de relógio de pulso e ele me falou: “Quando você tirar o diploma do curso primário eu vou te dar um relógio”. Fiquei contente. Tirei o diploma lá, no dia de receber o diploma ele já veio com o relógio e me deu. Eu tenho esse relógio guardado até hoje. Um relógio bem antigo, bem simples, mas está guardado até hoje. Outras coisas que ele sempre ne presenteou também, (risos) depois me deu outros relógios também, mas eu tenho muita coisa dele também, guardada, do acervo dele também.
P/1 – Alguma coisa desse acervo dele ele te deu diretamente? Alguma camiseta de algum time, algum uniforme?
R – Sim. Ele me deu umas vezes, ele ganhou uma camisa do Clube Atlético Tamoyo, que é o clube onde ele começou, como massagista, tudo. Tem até uma foto que eu estou de mascotinho do Palmeiras e ele de massagista, uma foto de 1952, que ele fala que essa é a foto principal dele, da carreira dele essa é a foto marcante. Ele me deu uma camisa lá, do Clube Atlético Tamoyo, falou: “Essa camisa é sua”. Depois uma outra também, acabei desenhando uma camisa pra esse clube também. Ele pegou, na época também me deu a camisa. Então, ele me deu muita coisa. Aliás, quase tudo (risos) que ele me deu é difícil, porque eu com meu pai, a gente era muito unido. Então, o meu pai era um baita companheiro meu, pra tudo. (choro)
P/1 – Qual é a importância dessa camisa, pra você?
R – Uma pelo clube também, que eu sempre gostei também, sempre acompanhei o clube também e outra é uma coisa histórica que a gente tem, que a gente lembra, vê, dá saudades, então é muito interessante tudo isso. O próprio relógio, que nem eu falei.
P/1 – Você que é o guardião do acervo dele?
R – Sim. Ainda tenho muita coisa guardada, que em 2000 e... ele faleceu em 2002, em 2003 foi feita uma exposição no Museu Histórico, aqui de São Caetano do Sul, com todo acervo dele, de flâmulas, troféus, medalhas, fotografias, camisas dos clubes que ele trabalhou, muita coisa foi feita nesse museu, na época, em 2003. Uma exposição muito grande e foi uma das exposições mais visitadas da época, do Museu Histórico de São Caetano do Sul, que fica no bairro da Fundação.
P/1 – Você ajudou a participar dessa _______?
R – Sim. Eu fui um dos que participou, por conhecer todas as coisas do meu pai, toda a história, junto com o pessoal, que foi através da Fundação Pró-Memória, da presidente Sônia Xavier, que era, na época, junto com uma outra pessoa que conheceu muito meu pai também e que ajudou a fazer, realizar essa exposição.
P/1 – Como foi? Esse acervo ficou com você?
R – Ainda está comigo, na casa da minha mãe. Está na própria sala que ele atuava, como massagista. Está tudo lá. Antes estava tudo bonitinho, nas paredes. Quando foi pra colocar no museu eu desmontei tudo, tirei tudo. Primeiro fotografei toda a sala, em todo lugar, a sala inteirinha, com quadros, medalhas, flâmula pendurada no teto, inteirinho forrado. Então, isso está tudo guardado. É muita coisa, mesmo. Muitas fotos. Então, é um acervo muito grande. Então, está tudo guardadinho lá, bonitinho.
P/1 – E foi uma decisão de que ficaria com você? Como foi o processo?
R – Não. Simplesmente ficou comigo. O meu irmão também, que nem eu falei, sempre gostou também, mas ele deixou tudo comigo também, porque eu que participei de tudo isso, que organizei tudo, mas ele falou: “Não, fica tudo com você, que você sabe”. Ele sabe que eu cuido, que eu gosto também e sabe que eu sei o que o meu pai tinha na época, conheço todo o acervo do meu pai.
P/1 – E como era, pra você, ser esse guardião, mesmo? O que isso representa, pra você?
R – (risos) É uma satisfação disso também, de todas as coisas que ele conquistou, também. A gente acaba recordando tudo isso, de ver as fotos, as pessoas, as fotos que estão lá ainda, das homenagens que ele recebeu, tudo isso pra gente é uma... não tem preço isso. Muito interessante. As bolas de futebol que tem lá guardadas, as flâmulas, as medalhas. Se a gente começa a olhar tudo isso começa a reviver tudo, então é uma coisa que eu acho muito interessante, porque a gente que participou junto é uma glória tudo isso.
P/1 – E como você se relaciona com essas coisas? Quando você está com saudade você visita? Ou quando tem algum projeto, exposição?
R – Isso daí é assim: quando tem alguma exposição, que alguém precisa de alguma foto, alguma coisa, a maioria do pessoal já sabe com quem procurar: “Você tem essa foto assim, desse clube? Você tem isso, aquilo?” Então, aí eu acabo ajudando as pessoas também, fornecendo e tudo. A gente acaba sendo muito solicitado, pra um monte dessas coisas mais antigas, que as pessoas lembram: “Seu pai acho que tem isso, aquilo”. Então eu vou dar uma olhada em coisas que eu lembro, ou se não lembro, eu vou dar uma olhada. Então, é assim, mas tudo muito...
P/1 – E quais são as camisetas mais importantes pra você?
R – Que meu pai tem?
P/1 – Hum-hum.
R – Meu pai tem muitas camisas dos clubes que ele trabalhou, como massagista, então tem muita coisa. Meu pai sempre guardou com carinho, por isso que também todo esse material está com ele. Na época era difícil, às vezes, alguém ficar com uma camisa, meu pai… o time ficava campeão, ele tinha uma camisa. Onde ele ia, ele tinha o próprio uniforme dele. Algumas empresas que fizeram algumas camisas pra ele, personalizadas, tudo. Então, essas coisas são todas marcantes, também. E marcava pra ele também, dele lembrar das passagens que ele teve por esses clubes, mas a maior parte mesmo foi pelas fotografias, que todos os times que ele trabalhou ele tem fotografias. Então, ele sempre gostou de foto, quando não, os fotógrafos iam atrás das fotografias todas, pegava, montava em álbuns, tem muita coisa tudo montado em álbuns e depois, uma época, eu que montava tudo pra ele. Tudo tem em álbuns, cadernos, tudo essa parte aí. Tanto nessas fotos também, não só de esporte dele, mas dos amigos, das reuniões dos amigos dele, os amigos dos meus pais também, que meu pai sempre gostou de fotografia, eu também fiz curso de fotografia, sempre gostei de fotografia, sempre tirei fotografia. Tiro muitas fotos, até hoje. Então, eu gosto muito também, tenho tudo isso e eu, numa época, que controlava tudo, montava esses álbuns pra ele e álbuns de fotos muito antigas também, tem fotos quando meu pai e minha mãe fizeram bodas de prata. Fotos quando fizeram, em 1997, cinquenta anos, bodas de ouro. Tenho álbum, tudo bonitinho. Foi feita toda uma coisa muito bacana, mesmo. Está tudo guardadinho, lá, comigo, tudo na casa da minha mãe ainda. Então, eu que tenho tudo lá, certinho, que conheço tudo isso também.
P/1 – Se você puder contar pra gente um pouquinho dessa trajetória do seu pai, como ele foi construindo esse acervo, que lugares que ele passou, por que ele se envolveu tão fortemente com essa área.
R – É, ele começou essas coisas mais na parte esportiva, mesmo, dos clubes que ele trabalhou, esses clubes da época que nem eu te falei, essa coleção que ele tinha, de flâmulas de futebol, em todos os clubes nos quais ele trabalhou, ou nos quais jogavam contra, ele conseguia essas flâmulas, que ele guardava, tudo e foi essa medida. Os livros que ele acabava comprando também, na parte de futebol. As fotografias que nem eu te falei, que era o forte dele, que marcou toda essa parte dele em um caderno que ele tinha, que eu comecei a escrever também, de ano pra ano. O caderno está guardado, contando que ele foi campeão em tal ano, por esse clube, foi campeão de tal ano, por aquele outro clube. Eu escrevia tudo isso. Ele falava e eu fazia toda a parte de arte lá. Nesse caderno eu tenho tudo guardado também. E ele foi trabalhando em todos esses clubes também, jogos abertos no interior, no litoral, isso continua até hoje.
P/1 – Quais clubes?
R – Aqui ele trabalhou nos clubes amadores de São Caetano, em quase todos. Em uns clubes que não existem mais, praticamente, sobraram alguns. Depois ele trabalhou também na Seleção Paulista de Basquete. É uma recordação essas coisas que a gente tem guardada, dele, então um símbolo também e dos clubes que ele trabalhou, ele sempre gostou muito dessa área também, de massagista. Sempre gostou bastante. Trabalhou em muitos clubes e conheceu muita gente também. Então, uma coisa muito importante pra ele, cresceu bastante dentro também, disso. Conheceu, que nem eu falei, muitas... que nem eu falei, participou de seleções aí de São Paulo: basquete feminino, basquete masculino de toda essa época. Trabalhou em todas as modalidades, aqui em São Caetano do Sul também, nessa área de outros esportes, além do futebol. E depois ele também trabalhou muito no Escrete da Rádio Bandeirantes, que era dirigido por uma criação de um dos maiores locutores esportivos do Brasil, Fiori Gigliotti. Meu pai trabalhou mais... quase doze anos, praticamente. Viajava pra todas as cidades aqui do estado de São Paulo, às vezes saía fora do estado também. Isso já foi, vamos falar, um final da própria carreira dele, de cinquenta anos da área de massagista. Ele também ‘curtiu’ muito a vida, viajava muito também, gostava muito de viajar, gostava muito de baile também, adorava baile, ia muito nos clubes de terceira idade, aqui de São Caetano do Sul. Então, ele também desfrutou bastante e cresceu bastante nessa área, na amizade que ele sempre teve, fazia amizade fácil e todo mundo gostava muito dele também.
P/1 – Esse trabalho de massagista, como funcionava? Todos os jogadores recebiam? Era quase uma soltura do corpo pós-treino?
R – Assim: ele tinha a sala dele e nos clubes ele fazia o trabalho dele, que era preparar os jogadores pra entrar em campo, lá, fazendo os preparativos, as massagens que se fazia na época, e depois, no jogo, o pessoal se contundia, qualquer coisa atendia, isso daí. E ele tinha, fora disso, a parte dele, que era a sala, que era lá na casa dele mesmo, onde ele atendia pessoas fora do futebol. Uma pessoa tinha qualquer problema lá, de torcicolo, algum nervo fora, algum problema de coluna, ele atendia a pessoa, mas também os jogadores dos clubes onde ele trabalhava, que tinha que ter um tratamento mais longo, fazia com ele também. E ele tinha uma clientela muito grande. Todo mundo conhecia, vinha muita gente, de várias cidades aqui, de São Paulo, pra ser atendido por ele. Ele teve um dom ‘fora de série’. Ainda te falei: ele só fez o curso primário. Nem terminou o curso primário, na verdade. Então, ele era um dom, mesmo, que a gente falava: “Mãos mágicas”. Foi um dom de Deus que ele teve. E tudo isso foi a trajetória dele como massagista também.
P/1 – E aí eu queria te perguntar como é pra você ser guardião desse acervo, receber essa herança com todas essas memórias, histórias? O que isso representa, significa pra você, poder guardar toda essa caminhada do seu pai?
R – É uma coisa bacana. Eu gosto, porque é uma recordação também, que eu participei também, conheci tudo as coisas que ele participou também, o acompanhei muito sempre e guardar isso daí é a gente conservar essas coisas. Não sei um dia, mais tarde, o que vai ser feito disso também, a gente tem que pensar um pouco nisso também. Eu conservo tudo bonitinho, tudo guardadinho, mas como é muita coisa não sei o que isso, mais pra frente, pode... o que eu vou fazer com tudo isso, onde eu vou guardar. Enquanto eu estiver vivo eu vou conservar tudo isso bonitinho, guardadinho. Agora, uma hora que não estiver mais não sei o que... provavelmente eu vou doar pro museu, vou deixar alguma coisa escrita, pra doar pro museu. Então, todas essas coisas vão ter uma importância. Eu gostaria que aproveitassem tudo isso como uma matéria, como alguma coisa de história, de alguém que passou pela vida, que construiu muita coisa.
P/1 – Como que você conserva, guarda essas coisas?
R – Na verdade, agora está um pouco na casa da minha mãe, então está um pouco assim... não está organizado, porque está dentro de algumas caixas, separadinho, no armário, mas não está exposto, porque teria que ter uma área muito maior, pra expor todo esse acervo, mas está tudo organizadinho. As próprias fotos estão nas caixas, estão em ‘albinhos’, álbuns grandes, álbuns pequenos, está tudo acondicionado, não tem nada jogado. Os jornais mesmo estão todos dobradinhos, num plástico. Meu pai guardava muita coisa. As revistas também, tenho tudo guardadinho, tudo bonitinho. Não está exposto, porque não tem um espaço enorme, adequado, pra colocar tudo isso numa exposição, mas está tudo guardado. Se precisar, falar: “Vamos fazer uma exposição novamente das coisas do seu pai”, eu sei como expor, como organizar as etapas que ele teve, da trajetória dele. As camisas que eu tenho, tudo guardadas, tudo bonitinhas, tudo em plástico. Então, quanto a isso daí está tudo guardadinho, bonitinho. Não tenho problema de estragar nada também, está tudo conservado.
P/1 – Se você tivesse que escolher uma, duas, ou três camisetas mais importantes pra você desse acervo, quais seriam?
R – Uma seria do clube que ele iniciou, do Clube Atlético Tamoyo. Tem a própria camisa do Escrete do Rádio, que é interessante, que eu tenho também. Alguma camisa lá de umas empresas que fizeram a camisa personalizada pra ele, que ele usou também. Uma camisa que ele ganhou de jogador também. Então essas coisas assim que seriam interessantes.
P/2 – Essas camisas estão aqui?
P/1 – Essas camisas estão aqui?
R – Algumas sim. Não trouxe todas, não.
P/1 – Se você quiser mostrar pra gente, enquanto fala um pouco.
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