Projeto 50 anos da Ponte Rio-Niterói
Entrevista de Carlos Roberto Lopes Araujo
Entrevistado por Paula Ribeiro
Rio de Janeiro, 06 de abril de 2024
Código da entrevista: PRN_TM003
Revisão: Paula Ribeiro e Nataniel Torres
P - Boa tarde, Araujo! Vou te chamar de Araujo. Então, muito obrigada pela sua participação aqui, prestando depoimento sobre sua história de vida e trajetória profissional relacionada à Ponte Rio-Niterói.
R - Boa tarde, Paula! Muito obrigado pela entrevista.
P - Bom, vamos começar pelo comecinho pedindo, por favor, o seu nome completo, local e data de nascimento, por favor?
R - Meu nome é Carlos Roberto Lopes de Araújo. Eu sou carioca, nasci no Rio de Janeiro a um certo tempo atrás, um pouquinho mais do que a Ponte, eu nasci no dia 23 de maio de 1947. Sou filho de Ilk Lopes de Araújo, que era um funcionário do Instituto do Açúcar e do Álcool e de Marina Ribeiro Lopes de Araújo, que era chefe de demonstração do Ministério da Fazenda.
P - Em relação aos seus avós, você poderia me dar os nomes e contar se você tem memórias relacionadas aos avós maternos e paternos, por favor?
R - Tenho! São diferentes, a minha origem paterna é portuguesa, meu avô era português, meu bisavô tinha um certo recurso, era comerciante, veio para o Brasil na época que veio a realeza pra cá e plantou um comércio, início do comércio da cidade do Rio de Janeiro, não tinha zona sul, era São Cristóvão, Méier, ele inaugurou o Méier. E ele trouxe um patrício de lá para tomar conta dos negócios dele, que acabou dando o golpe do baú, casou com a filha dele, que é minha avó. Meu avô então era Manuel Lopes de Araújo, minha avó é Zélia Lopes de Araujo. E por parte de mãe, já é mais carioca mesmo, mais autêntico. Meu avô é Adhemar de Campos Ribeiro, ele era comandante do Lloyd, da Marinha. Ele tinha um navio, eu me lembro até hoje, eu era pequenininho, mas lembro, ia pro Pará. Então, naquela época as autoridades não...
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Entrevista de Carlos Roberto Lopes Araujo
Entrevistado por Paula Ribeiro
Rio de Janeiro, 06 de abril de 2024
Código da entrevista: PRN_TM003
Revisão: Paula Ribeiro e Nataniel Torres
P - Boa tarde, Araujo! Vou te chamar de Araujo. Então, muito obrigada pela sua participação aqui, prestando depoimento sobre sua história de vida e trajetória profissional relacionada à Ponte Rio-Niterói.
R - Boa tarde, Paula! Muito obrigado pela entrevista.
P - Bom, vamos começar pelo comecinho pedindo, por favor, o seu nome completo, local e data de nascimento, por favor?
R - Meu nome é Carlos Roberto Lopes de Araújo. Eu sou carioca, nasci no Rio de Janeiro a um certo tempo atrás, um pouquinho mais do que a Ponte, eu nasci no dia 23 de maio de 1947. Sou filho de Ilk Lopes de Araújo, que era um funcionário do Instituto do Açúcar e do Álcool e de Marina Ribeiro Lopes de Araújo, que era chefe de demonstração do Ministério da Fazenda.
P - Em relação aos seus avós, você poderia me dar os nomes e contar se você tem memórias relacionadas aos avós maternos e paternos, por favor?
R - Tenho! São diferentes, a minha origem paterna é portuguesa, meu avô era português, meu bisavô tinha um certo recurso, era comerciante, veio para o Brasil na época que veio a realeza pra cá e plantou um comércio, início do comércio da cidade do Rio de Janeiro, não tinha zona sul, era São Cristóvão, Méier, ele inaugurou o Méier. E ele trouxe um patrício de lá para tomar conta dos negócios dele, que acabou dando o golpe do baú, casou com a filha dele, que é minha avó. Meu avô então era Manuel Lopes de Araújo, minha avó é Zélia Lopes de Araujo. E por parte de mãe, já é mais carioca mesmo, mais autêntico. Meu avô é Adhemar de Campos Ribeiro, ele era comandante do Lloyd, da Marinha. Ele tinha um navio, eu me lembro até hoje, eu era pequenininho, mas lembro, ia pro Pará. Então, naquela época as autoridades não eram tão constituídas, então ele era uma autoridade, ele ia para o Nordeste, não tinha nada, então ele era a autoridade lá quando ele ia para o Pará, mas ele é carioca também. A minha mãe nasceu na Ilha de Paquetá. Posso continuar?
P - Você tem irmãos?
R - Tenho! Eu tenho um irmão de parte de pai e de mãe. Minha mãe morreu eu tinha 8 anos, meu irmão tinha 4 anos. E meu pai continuou mantendo a casa, quando eu tinha 11 anos meu pai casou outra vez. Desse segundo casamento, ele tem mais dois filhos homens, tudo homem, que é hoje Wilson Lopes de Araujo e o Eduardo José Lopes de Araujo, então por parte de pai nós somos quatro, parte mãe, nós somos dois.
P - Queria que você contasse sobre a sua infância. Lembranças da casa dessa infância, como que era?
R - Eu morava em Vila Isabel, morava numa casa grande. E como eu falei, quando a minha mãe faleceu nós continuamos nessa casa, então desde cedo… Claro que uma criança de 8 anos perder uma mãe é muito sofrido, mas por outro lado me amadureceu muito, porque praticamente era eu que tomava conta do meu irmão, tinha a empregada, mas eu que… meu pai trabalhava o dia inteiro e eu ficava tomando conta. E por sorte naquela época a educação pública era muito boa, muito boa, então eu fiz o primário, naquela época chamava-se primário na escola pública, perto da minha casa, Escola Nova República Argentina, ótimos professores. Dali depois fui para o Pedro II, fiz o ginásio e científico no Pedro II, primeiro na sessão da Tijuca, na filial da Tijuca e o científico eu fiz na sede da cidade. Foi uma infância tranquila, muito boa, eu me lembro muito bem, por que? Porque antigamente era menos violência, então as ruas, a gente jogava bola na rua, não tinha campo de futebol e nem nada não, era um gol numa árvore, outro gol na outra árvore e a garotada jogando bola para um lado e para o outro. Íamos para as festas, voltava de bonde, naquela época era bonde, de madrugada, sem problema nenhum. Claro, de vez em quando, você até roubava um litro de leite que ficava na porta de cada um para a gente abastecer. Mas era uma infância muito saudável no Rio de Janeiro, por incrível que pareça. Hoje a gente falando isso é difícil de acreditar, mas o Rio de Janeiro era uma vida muito saudável, muito segura, muito tranquila. Eu fui para o Pedro II com 11 anos, 10, 11 anos, eu ia de bonde, não tinha perigo nenhum, eu ia de bonde e voltava de bonde sozinho, sem problema nenhum. Dá saudade daquela época. Mas enfim tudo evolui, muita coisa evolui para melhor, algumas coisas não tanto, mas enfim, eram outros tempos. Mas era muito muito gostoso. E daí do Pedro II, eu fiz vestibular, naquela época começou o Unificado, então foi Unificado, me classifiquei bem, me classifiquei naquela época para a Escola Nacional de Engenharia, depois Federal do Rio de Janeiro. Mas passei pra onde eu queria, na turma da manhã, tudo direitinho. Fiz os cinco anos de engenharia na Universidade Federal do Rio de Janeiro, no Fundão.
P - Então, antes da gente entrar na universidade, queria só rememorar um pouco essa juventude no Rio de Janeiro, o senhor comentou sobre festas. Como era um pouco essa juventude, ouviam que música, iam para bailes, eram bailes em clubes?
R - Como eu dizia, era muito mais saudável, sou de 1947, a minha juventude anos 60, então era Bossa Nova, estava surgindo o Roberto Carlos, Wanderléa, do nosso grupo a irmã da Wanderléa pertencia a nossa turma. Então, a Bossa Nova era a música do momento. E festa geralmente era em clube, então só festas assim durante o ano, no próprio carnaval. Carnaval era aquelas festas com desfile de fantasias magníficas, Monte Líbano, a festa do Monte Líbano eu ia em todas e muito boas. Edi Lincoln, Severino Araújo, eram as orquestras da época. Então, era um período que a gente desfrutou muito a mocidade, eu diria isso. Graças a Deus!
P - Em relação a casa, ou alguma tradição, ou festejo que era muito comemorado em casa, talvez o Natal, a Páscoa, algum feriado que era mais comemorado?
R - Natal tradicional, família católica portuguesa, então o Natal era farto, aquela mesa farta, a família toda. Como nós moramos em casa, geralmente os meus tios, minhas tias, vinham pra lá também, meus primos. Era tudo seis filhos, cinco filhos, então era aquela “turmarada” fazendo a maior farra na casa dos avós, dos meus avós. O que eu posso dizer, uma festa que eu me lembro, festa junina. Festa junina a gente fechava a rua e botava barraquinha e fazia uma festa. Eu tinha um tio, que ele gostava de fazer balão. Hoje a gente sabe que é proibido, mas na época a gente não tinha a consciência que tem hoje. Então, a casa era de dois andares, ele fazia aqueles balões de mais de dois andares e botava cheio de lanterninha para subir, então a rua inteira aparecia para soltar os balões do meu tio. Então, foi bom! Muito bom!
P - E a presença dos avós, mesmo depois do falecimento da sua mãe, eram figuras presentes?
R - Eram. Evidentemente, como a minha mãe faleceu, o contato maior passou a ser com a família do meu pai, não é que a gente não convivia com a família da minha mãe. Muito, muito, muito, meu avô por parte de mãe ele morava numa casa da Tijuca no Largo da Segunda-feira, que era o comandante, machão. O que aconteceu? O meu avô, eu me lembro, ele gostava de caçar rolinhas, eu era o neto preferido para caçar rolinhas com ele. Então ele tinha uma arapuca grande, pegava aquela montanha de rolinhas para comer, a gente fazia frito. Hoje a gente sabe que não faria mais hoje, que tem toda aquela consciência que nós temos hoje que na época não tinha. Então, havia uma participação grande do meu avô e da minha avó por parte de mãe. Mas a família do meu pai tinha um impacto muito maior porque o meu pai estava vivo, evidentemente. Meu avô por parte de mãe tinha seis filhos, então dividia com todos os outros filhos. Por parte de pai, já era família de quatro filhos só, então era mais contato com o meu pai, com a família do meu pai.
P - Alguma tradição portuguesa se manteve na família, comida, por exemplo? Algum ditado que era falado pelos avós que tenha te marcado?
R - Marcado em si, acho que a comida mesmo, aquela bacalhoada todo Natal tinha e era demais. E as tradições de Portugal, claro que a gente traz alguma, eu já fui a Portugal, visitei lá as quintas deles, essas coisas todas. Me recorda muito, me recorda muito, porque meu avô, ele tinha um certo poder econômico bom, razoável, então ele tinha muitos imóveis no Méier, ele era diretor do Sindicato dos Proprietários de Imóveis, então o Centro Transmontano, que era na Tijuca também, eles fundaram, entendeu? Então, a gente tinha muita convivência, muita influência dessa origem Portuguesa.
P - Transmontano?
R - Ele de Trás-os-Montes. E eu me lembro muito que era muito rígido em termos de honestidade, em termos de, entendeu? De princípios, isso marcou muito, tá! Por parte de pai, era aqueles rígidos. Outro dia, até alguém comentou com a minha esposa. “Ah, amarraram o filho na mesa”. Então, você vê, o meu pai foi amarrar na mesa com linha, não é amarrar de corda nem nada não, o castigo era amarrar com uma linha e a pessoa não podia arrebentar a linha, se arrebentasse dançou. E todo mundo ficava bonitinho lá, quando fala de castigo, não era sempre, ficou amarrado com linha. Então, são coisas que a gente hoje não vê, hoje é até proibido, a lei do adolescente. Eu não sou contra nada da lei, eu acho que é a evolução, mas evidente, que naquela época era um tratamento muito mais áspero para os filhos, muito mais rígido.
P - Em relação a religiosidade, você fez primeira comunhão? Como que era isso? Algum santo de devoção da família?
R - Por parte de mãe, a minha avó, vó Neném e o vô Gigi, era muito católica, o Frei Olímpio de Melo, que tem até nome de rua em São Cristóvão, era amigo da família, então a minha avó, pode ser dizer hoje, que era carola, ela ia na igreja todos os dias e frequentava e incentivava a gente. Eu fiz a primeira comunhão, fiz tudo que tem direito lá na religião católica. A parte de pais era um espírita, espírita de mesa, não era espírita… É kardecista que chama. Então, meu avô, ele até fundou, deu um imóvel que ele tinha lá Méier para fazer um Centro Espírita. Eu não frequentava tanto, mas eu sei que eles eram muito frequentadores, numa linha muito suave, mas eram frequentadores de Centro Espírita.
P - As memórias da sua escola, da República da Argentina e depois do Pedro II?
R - Bom, minha mãe morreu quando eu ia começar a terceira série primária, eu me lembro até hoje dos nomes, das caras das minhas professoras do primário, todas elas. Jardim da infância, Professora Iracema, Dona Maria Natal, primeiro e segundo ano, Dona Leda Lobo, terceiro ano. Porque era um tratamento muito próximo dos alunos. A diretora da escola era uma senhora, desculpa, grande, gorda, brava, todo mundo tinha um medo dela. Mas botava moral no colégio, entendeu? O colégio era nos trinques por causa da diretora. Quando via a diretora, todo mundo saia correndo. Então, essa é a lembrança maior que eu tenho. E professoras muito dedicadas, muito competentes, aprendi muito com elas, desde o início.
P - E a ida para o colégio Pedro Segundo, o que já significava nessa época que você foi para o colégio Pedro II em termos de educação?
R - O Colégio Pedro II era referência da época. Hoje colégio de padre, meus filhos, meus netos, estudam no Santo Agostinho, os colégios de padre são muito bons hoje. Mas naquela época a referência era o Pedro II. Então, tinha vestibular, vestibular mesmo, exame, sei lá, não sei quantos mil candidatos para poucas vagas.
P - A gente estava conversando sobre o colégio Pedro II, você contou que tinha um vestibular para entrar. O que já representava essa escola naquele momento?
R - Representava tudo de melhor que havia em educação, toda mãe, todo pai queria que o aluno fosse do Pedro II, porque além de ser um colégio público, era um colégio… era um catedrático da minha época, era um dos senhores catedráticos, antigos. Tinha um nome imenso e uma rigidez total. O Ginásio eu fiz na Tijuca, na filial Tijuca, mas o científico eu fiz na cidade, a cidade então era só… Desculpa, coroa, lá naqueles peixe bravo, não sei o quê, então o nível de exigência era muito grande. E eu acho que é bom, isso só me gerou conhecimento, pra isso eu pude estar preparado para quando surgiram as oportunidades e usar, eu pegar as oportunidade, se eu não tivesse tido o colégio Pedro II na minha vida, não tivesse tido uma Universidade Federal na minha vida, eu talvez não tivesse preparado pro sucesso que eu tive quando eu entrei na minha vida profissional. Então, eu agradeço. Na hora você reclama, claro, estuda demais, mas foi bom!
P - No Pedro II, já no científico, alguma matéria você tinha mais interesse, algum professor que tenha te marcado, que tenha de alguma forma influenciado?
R - Eu sempre gostei muito das Ciências Exatas, da Matemática, da Física. Detestava o inglês. Eu tinha inglês, latim e francês, detestava as línguas. Mas quando eu ia para a aula de inglês, a mulher falava: “Pô, você estuda francês fora, porque tem a pronúncia que vem do francês “il ne parle français”. Então, eu não gostava, mas a Matemática era comigo mesmo. Lembrando agora, você falou de alguém que marcou. No primeiro ano no ginásio eu tinha um professor, Roberto, eu esqueci o sobrenome dele. Mas o cara era bravo, você tinha que fazer o caderno com todos os exercícios e botar na folhinha número por número da página, tudo organizadinho. E ele pegava aleatoriamente: “Você? Eu quero o exercício tal, página tal”. Você tinha que mostrar no seu caderno que você fez. Primeiro mês, claro, ele dava zero quando não tinha feito, primeiro mês ele me deu zero. Eu fiquei com a média, sei lá, fiquei com quatro, dois. “Esse cara me pegou, mas não vai me pegar mais”, porque eu gosto da matemática, se fosse inglês eu saia correndo. Mas, claro, daí pra frente eu recuperei, nunca… Naquela época tinha segunda época, então você ficava de segunda época. Não era CDF não, como dizem hoje, mas eu tinha facilidade do estudo. Depois do Pedro II, eu vou te contar um caso. Estou vendo que a senhora gosta dos casos. Depois do Pedro II era o vestibular mesmo, era unificado, foram todas as faculdades a primeira vez, tudo junto lá. E eu não tava preparado, aí choveu no Rio de Janeiro que encheu tudo, era no Maracanã as provas. Não pode, todo mundo tinha se abrigado no Maracanã, suspenderam as provas por um mês. Foi o mês que eu estudei, foi o mês que eu peguei para estudar mesmo. Eu sempre assistia aula e digo para os meus netos, “presta atenção na aula, é tudo, não precisa estudar em casa não, presta atenção na aula”. E eu prestava atenção na aula, mas estudar mesmo para o vestibular, eu estudei graças a tempestade que caiu aqui e que alagou tudo e tive um mês aí de sobra para poder estudar. E passei bem e fui para o Fundão.
P - Em que ano você entrou na universidade?
R - Eu entrei em 1966.
P - São famosas as chuvas de 1966?
R - E nós estávamos na Revolução, porque em 1964. Então, fui para o Fundão, naquela época… Veja bem, eu acho que tudo tem o lado bom e o lado ruim, nem tudo é tão ruim, nem tudo é tão bom, não tô dizendo também que a revolução foi o pior dos mundos, tem muita coisa ruim, mas também tem muita coisa boa. Essas obras todas grandes, a própria Ponte Rio-Niterói, só construiu em quatro anos porque era Regime Militar. Não tô justificando, nem defendendo, pelo amor de Deus, a ditadura, mas estou falando o que é. Então, o que aconteceu? O exército invadiu o Fundão muitas vezes, comigo lá dentro, tá certo? E era corre corre pra lá, joga bomba de gás lacrimogêneo, era uma diversão, entre aspas. E o bandejão, bandejão era um restaurante tinha lá, era gratuito, gratuito, aumentou, para sei lá, preço de hoje, R$10,00, R$5,00, R$1,00 deve ter aumentado. Foi uma greve de vários dias, várias coisas, quebra pau, porque. “Ah, mas é baratinho, R$1,00”. Mas, pô, começaram a cobrar. Então, isso foi motivo de quebra quebra geral lá, muita coisa. Então, eu peguei o Fundão naquela época de linha dura, quer dizer, que realmente teve muita greve, movimento. É a vida, a vida tem que ter movimento, né? Tem que ter também as coisas boas e as coisas ruins. Vamos lá!
P - Então, como foi o período que você estudou?
R - Aí eu peguei de 1966 a 1970, eu me formei em 1970. Aí começou a minha vida profissional, eu não trabalhei até lá. Eu conheci o Fundão inteiro, Fundão era a minha casa, porque quando eu fui estudar no Fundão, só tinha o bloco A, não tinha mais ninguém funcionando, não tinha A, B, C, D, aqueles blocos não estavam. Fui uma das primeiras turmas do Fundão, tinha aula no Largo São Francisco e no Fundão ainda. Então, conhecia tudo do Fundão. Então, quando começou… Posso entrar já na Ponte? Na Ponte o que aconteceu? Em 1968 eu comecei a trabalhar onde tinha o reator, um reator nuclear lá, que dever ter ainda, no Fundão lá no alto. Eu fui fazer estágio lá no reator, aplicação de radioisótopos, engenharia civil, tomografia e caçadores. Fui no terceiro ano, eu comecei a fazer estágio lá. E era no Fundão, então eu estava lá de manhã, estava de tarde, estava o tempo todo no Fundão. E aí quando foi em 1968, começou a Ponte Rio-Niterói com o primeiro consórcio, fizeram um consórcio para começar a construir a ponte, aí eu já fiquei de olho. “Pô, legal, uma obra grande, é o que eu quero! Será que eu vou um dia conseguir trabalhar numa obra grande?”. Em 1968. E não consegui, porque estava no terceiro ano ainda. Aí depois, houve um problema com o primeiro consórcio, primeiro consórcio saiu, não conseguiu entrar, entrou o segundo consórcio em 1971.
P - Qual era o primeiro consórcio?
R - Era Consórcio Rio-Niterói. Era Cetenco, era por preço unitário, os preços não eram bons. E a rainha da Inglaterra veio para inaugurar, no primeiro consórcio, por que? Porque o financiamento da obra foi inglês, então a rainha veio, claro, pra autorizar o financiamento. O vão central, a estrutura metálica da Ponte foi feita por firma inglesa. Então, já começou a badalação da Ponte, que todo mundo queria ver. Pô, antes da Ponte, todo mundo sabe, a senhora deve saber, sabe com certeza, era de barca, você atravessava para o lado de Niterói de barca. Eu muitas vezes fui de barca, meu pai tinha casa em Miguel Pereira, mas a gente ia mais final de semana para Miguel Pereira pro lado da Dutra, mas é claro, a gente também ia em Niterói, Cabo Frio, fazer passeio e tudo mais. E tinha uma fila enorme de carro lá para atravessar a Baía, era o que existia. Então, a fila era enorme de barca, por a carro em cima da balsa para atravessar pra o lado de lá. E ninguém queria ir para o lado de lá, por causa disso, a dificuldade da barca. Cabo Frio é muito bonito. Búzios, hoje eu tenho casa em Búzios, Búzios era uma beleza, mas quem ia pegar aquela barca para ir para o lado de lá, ou então dar a volta, contornar a Baía? Então, o lado de cá era mais privilegiado, por isso que o meu pai tinha um sítio em Miguel Pereira, que era na via Dutra. Então, em 1968, quando começou a construção da ponte pelo primeiro consórcio, eu na época. “Legal se eu conseguisse trabalhar para lá”. Mas passou, não foi! Sorte minha. Você não pode dizer sorte que é covardia, mas o consórcio não foi pra frente, teve problema de preço, não conseguia fazer com os preços previstos. E o Andreazza, que era quem tocava a obra, o Ministro do Transporte, que tocava a obra, fez um acordo e tirou o antigo consórcio. Fez lá uma licitação e entrou o Consórcio Construtor Guanabara, em 1971. Era formado pela Camargo Corrêa, que era o Marcolino Batista de Barros, que era o diretor de construção, então toda a área de construção em si, era da Camargo Corrêa. A Mendes Júnior era a parte de administração e finanças. E a diretoria era formada pelo pessoal da Mendes Junior. Na época eram as maiores empresas construtoras, Corrêa e Mendes Junior. E Rabelo, que é mais de projeto, com a parte de engenharia de projeto. E tinha um Diretor Presidente, por cima desses três diretores, era o Lauro Rios, mas ele era do mercado, ele não representava nenhuma das três empresas acionistas, é um cara, foi o presidente do Consórcio Construtora Guanabara, que era um cara bem sucedido, ficou conhecido no mercado. Aí o que aconteceu, falaram: “Vai ter anúncio de jornal para uma uma vaga de engenheiro na Ponte”. Aí eu já estava de olho. “Vou nessa!”. Aí fui lá, fiz a minha inscrição e no processo seletivo estava começando o exame psicotécnico, o exame psicotécnico, na época, era bom, era o melhor negócio, tudo bom, psicotécnico, tudo precisava de exame psicotécnico, davam um valor imenso pro exame psicotécnico. Sorte a minha! Por que? Porque eu fiz um excelente exame psicotécnico, a moça lá do recrutamento se encantou, botou tudo verdinho lá nas barras depois. Aí fez maior propaganda minha lá para a direção lá do Consórcio. “Não, nós recomendamos ele porque ele fez exame psicotécnico”. Eu digo, modesta a parte, eu nunca fui Engenheiro Júnior. Eles chamam de Engenheiro Júnior aquele que está começando e está aprendendo. Eu já fui Chefe de Setor, o cargo é para Chefe de Setor. Então, tinham pessoas com mais experiência e mais velhos do que eu, mas graças ao meu psicotécnico que era o momento da época, me aceitaram. Claro que o engenheiro lá fez entrevista comigo e tudo mais e eu fui selecionado. Então, eu fiquei feliz da vida, porque era o que eu queria. Fiz Engenharia Civil, queria trabalhar em obras grandes, então foi a fome com vontade de comer. O início de carreira foi o meu primeiro emprego. E eu tive na vida poucos empregos, eu pegava obras grandes e muito tempo e graças a Deus ninguém me mandava embora. Então, eu fiquei na Ponte de 1971 à 1974, quatro anos. Depois o Marcolino, que era o Diretor de Construção, gostou de mim, criaram uma regional pra ele, ele ficou responsável por todas as obras da Camargo Corrêa, do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais e Brasília. Então, ele ficou responsável. E quando ele foi, ele montou uma equipe, ele me trouxe como assistente dele. E trouxe o Krueger. Na época da construção da Ponte o Eduardo Krueger era Superintendente das Obras do Mar, que eram as obras mais importantes, mais difíceis. Então, o Krueger foi Diretor da Engenharia da Regional e eu fui assistente do Marcolino. Eu vou dar uma geral no meu lado profissional depois eu volto para poder direcionar. Dali, quando o Marcolino saiu para a Regional, eu fui com ele. Aí foi fazer uma obra em Brasília e aqui a Adutora de Guandu, que tinha desmoronado, ficamos nessas obras. Aí depois abriu uma obra da Venezuela, uma hidrelétrica, a construção da hidrelétrica de Guri, na época a maior hidrelétrica do mundo. Então, o Marcolino foi pra lá ser diretor, claro que me levou também, eu fui para lá, fiquei cinco anos lá. Então, fui um dos primeiros a chegar e o último a sair. E depois quando eu voltei… Na Venezuela eu ganhava em dólar, ganhava bem, então aqui eu já abri uma empresa que eu tenho até hoje, que é a Loar Engenharia, que é consultoria em grandes obras, faz planejamento principalmente e gestão de obras grandes. E aí depois começou as concessões de rodovia. E concessão de rodovia, ela não é uma obra. Quem começou as concessões de rodovias foram as grandes construtoras, Camargo Corrêa, Gutierrez, tudo isso. Então, tem ideia até que a concessão de rodovia é um ramo da engenharia, não é um ramo da Engenharia só, ela é mais ampla, ela pega Economia, ela pega Direito, por que? Porque é um projeto de investimento, a construção, o projeto presta serviços, você faz a obra e vai pagando, toma lá dá cá. A concessão não, você tem que investir um capital grande, a obra tem que ser feita do início, você não pode cobrar, imagine se tudo que eu fiz no início eu fosse botar na tarifa, ia ficar uma tarifa enorme. Então, tem que pegar esse capital que eu investi de reforma, de melhoria da rodovia e diluir nos 25, 30 anos da concessão para ter uma tarifa uniforme ao longo do tempo. Então, no final da concessão, a pessoa fala: “Poxa, não estão fazendo mais obra”. Mas estão amortizando o investimento de obra que foi feito desde o início. Então, eu estava lá, as grandes construtoras começaram a primeira etapa das concessões de rodovia: a Nova Dutra, a Ponte, Rio-Teresópolis, a Rio-Petrópolis e uma no Rio Grande do Sul. E o que aconteceu? Todo mundo está acostumado a trabalhar com projeto de prestação de serviço, com obra. Eu tinha curso de ‘Urgência financeira”, então é fluxo de caixa, é projeto de investimento, então colocaram o cara certo no lugar certo, eu conhecia disso e o resto não conhecia. Então, fui eu que montei esse equilíbrio econômico financeiro dos contratos, o cálculo da tarifa, tudo isso, então, claro, no mercado de concessões eu fiquei com o nome também. Aí, o que acontece, quando foi o contrato da Ponte, quando começou a primeira concessão, os 20 primeiros anos, eu fiquei lá durante 20 anos dando consultoria para eles.
P - Pela sua empresa?
R - Pela minha empresa. E não só nela, depois, Rio-Teresópolis, fui fazer, Rio-Petrópolis. Todas as grandes concessões que começaram, eu fui consultor delas. Então, eu tô ligado muito a Ponte Rio-Niterói. Eu me formei no Fundão, meus grandes ensinamentos foram na Ponte, que eu fiquei 4 anos no início de carreira lá, o meu cargo era um cargo de apropriação e medição, Setor de Apropriação e Mediação de campo. Então, era o que eu queria, porque eu tive a oportunidade de ver todas as obras fazendo, eu rodava a Ponte inteira, acesso ao Rio, acesso a Niterói, obras do mar. Eu acompanhei a construção de todas as áreas da Ponte, porque era eu que apropriava aqui, media os serviços feitos, tudo mais. Quando um cara é engenheiro e trabalha na área de Aduelas, ele só vê a parte de aduelas, só vê a obra do mar. Eu via a obra inteira, então isso me deu um ensinamento muito bom. Então, a minha escola, além da faculdade, a Ponte foi uma escola para mim. Depois eu fui para a Venezuela, fiquei 5 anos lá, enfrentamos lá americanos que queriam tirar a Camargo Corrêa de lá de qualquer jeito, entendeu? Então, nós tivemos que bater de frente lá com americanos, teve uma intervenção. Isso me deu uma experiência fora de série.
P - Eu queria que você contasse um pouco da Ponte. Como era o seu cotidiano? Como eram os canteiros de obra?
R - Então, vamos lá! A Ponte, como eu vi a obra inteira, eu conheço bem de tudo. E lá tinha o Consórcio Construtor, CCGL, que ela construía de fato. Tinha o Noronha, que era o projetista, que projeta. Tinha a ECEX, ECEX, foi um órgão do Governo… A Ponte ficou sendo a BR-101, mas não foi a DNIT que tomava conta, naquela época era a ECEX. Criaram uma empresa só para ser a proprietária da Ponte, que era a ECEX, que era o Coronel Guedes. Coronel Guedes era um militar agitado pra caramba. Então, tinham várias empresas trabalhando lá, o Carlos Henrique mesmo trabalhou lá, mas trabalhou mais no projeto, ele não trabalhou na Ponte como construtor. Eu, o Krueger, trabalhamos como construtor. Então, como era a organização? Era isso, o Lauro Rios, aí tinha várias superintendências, tinha um canteiro central, que era no final do Fundão. Final do Fundão e tinha até canteiro de obras dos operários, que era enorme, uma vila enorme e tinha o canteiro de obras dos engenheiros, que vieram de fora, moravam ali. O próprio Andreazza para fiscalizar, morou muito tempo ali.
P - Era um alojamento?
R - Eram casas com família. O próprio operário também tinha alojamento e tinham casas de família, porque veio muita gente de fora. Eu não morei lá porque eu já morava no Rio, eu era carioca, eu tinha casa, mas muita gente veio de fora. O grupo da Camargo Corrêa que eu tive mais contato, as grandes obras começaram com a CESPE em São Paulo, as hidrelétricas, primeiras hidrelétricas que construiu no Brasil. Então, esse grupo da Camargo que veio para lá, era enxutinho, bem formado, que era o pessoal que já estava trabalhando em obras grandes, nas primeiras hidrelétricas de São Paulo. Então, já estava todo mundo bem ajeitadinho. E eu por sorte entrei nesse grupo, fiz o psicotécnico bom, entrei. Eu tive muito boa aceitação, o pessoal reconhecia o meu trabalho, então me juntei a esse grupo, por isso aprendi muito. Então, aí, eu fiquei… Voltando… Então, tinha uma Superintendência de obras do Mar, do Eduardo Krueger, era só responsável pela fundação, pelos blocos, pelo pilar da Ponte, que é a parte mais difícil, que é obra do mar. Tinha o Gragoatá, Gragoatá era um flutuante, uma ilha, igual essa de Petrobrás que tem, que era o escritório do pessoal do mar, dos engenheiros do mar, ficava lá dentro do mar, os pezinhos deles, o Krueger era o chefe ali. Tinha o canteiro central, era na ilha do Fundão, lá no final, que era o canteiro central, onde fabricava as aduelas, o pátio de ferro, a central de concreto, todas as coisas. O escritório central administrativo, ficava tudo ali no Fundão. E tinha acesso ao Rio, porque depois, no time dos pilares, seria construído as aduelas, você ia botando as aduelas e vinha em cima fazendo o pavimento.
P - O que é aduela?
R - Aduela é uma estrutura pré-moldada, que é feito, como é que eu vou dizer, é o que tem na ponte hoje, a ponte… um pilar de um lado, um pilar do outro, aí você vem montando uma aduela do lado e uma aduela do lado, aí ela é aumentando, aumentando, até encontrar o outro pé. Retomando aqui a Ponte, como é que é a logística da Ponte, a construção da Ponte, quando ele começou em 1971 com o novo consórcio, que era o CCGL, Consórcio de Construção Guanabara Ltda, que era a Camargo Corrêa, que era a parte de diretoria e construção, Mendes Bruno, que era Diretor de Administração e Rabelo que era Diretoria de Projeto. Então, você tinha o canteiro central, que era no final da Ilha do Fundão, lá tinha o canteiro administrativo, tinha todo o pátio de ferro, pátio de armação, usina de concreto e a construção das aduelas. Eu tava falando para a senhora o que é aduela, aduela é feito um túnel, imagina um túnel, um retangulozinho com uma aba assim para o lado. Então, aqui é a pista em cima, então você colocava uma do lado da outra e em cima ficava a pista. Então, no canteiro central você construiu tudo isso. Enquanto isso o que estava acontecendo, a fundação, que era com ar comprimido, quando tinha problema, não tinha ar comprimido, armação. Toda a logística era de barco. Eu tinha uma lanchinha, que era 37, eu lembro o número dela até hoje. Então, como eu corria a obra toda, eu tinha o encarregado da obra do mar, tinha o encarregado do acesso ao Rio, outro no acesso a Niterói, outro na superestrutura, cada um tinha um encarregado. Então quando eu ia acesso ao Rio, eu vinha de carro, tinha um fusquinha, agora quando era para ir para a obra do mar, ou para obra de Niterói, tinha que sair de lanchinha. Uma lanchinha pequenininha, dezessete pés, alguma coisa desse tipo. Era 37. Aí eu ia lá, tinha uma equipe. Eu tinha uma equipe que funcionava, era chefe de setor, engenheiro recém-formado. Aí, tinha obras do mar, tinha um encarregado lá, uns peões apontadores, que apontava o que o cara estava fazendo, o que não estava fazendo e media o serviço que foi feito. A mesma coisa no acesso ao Rio, a mesma coisa no canteiro lá do Fundão e a mesma coisa em Niterói. Então, pra mim, fiquei deslumbrado. Poxa vida, a obra inteira aos meus pés. Não que eu mandasse, mas era… eu vendo tudo acontecer, formou muito o meu lado profissional. Por exemplo, o Krueger que eu já falei que me dei muito bem com ele, ele é muito rápido, o cara um tocador de obra de primeira. Para aguentar o ritmo dele, eu tinha que correr também, eu não deixava ele passar por cima de mim não, passava por cima dos outros.
P - Mas como que era pra um recém formado está no meio desses grandes, experientes engenheiros e nessa obra que era considerada uma obra pioneira?
R - Então, modéstia à parte, eu consegui segurar a peteca. O Marcolino falou pra mim uma vez, quando eu fui para regional trabalhar com ele. “Marcolino, tem um monte de gente lá dentro da obra, posso ir lá me meter?”. “Araújo, tá com as bandeirinhas vazias? Vai lá e põe as suas bandeirinhas. Só tem uma coisa, não pode deixar a peteca cair. Se a peteca cair você está fora”. Então, eu fiquei muito com isso, quer dizer, era meu ideal, eu tinha que mostrar serviço, se eu não mostrasse… Pô, eu não tinha padrinho, fui por anúncio de jornal. Se eu não segurasse a peteca bem, eu ia cair fora. Então, meu amigo, vamos embora!
P - Esse anúncio de jornal era de que jornal?
R - Eu tive a oportunidade de recém-formado lidar com engenheiros do melhor nível possível, naquela época para o Brasil. Então eu tinha que me esforçar para poder aproveitar aquela oportunidade. É o que a gente diz, a oportunidade passa pela gente, se a gente não tiver preparado para pegar a oportunidade você perdeu.
P - O que significava aquela obra da construção da Ponte Rio-Niterói naquele momento, naquele período?
R - Eu acho que representava a engenharia do Brasil. Tudo, sobre todos os aspectos. Porque as obras grandes que tinham, tinham hidrelétricas que foram construídas em São Paulo, mas era hidrelétrica, em termos não tinha proporção, não tinha visibilidade que tem uma Ponte Rio-Niterói, todo mundo queria que construísse e que não havia tecnologia no momento. Para poder construir, os engenheiros, não eu, que era jovem, mas os mais graduados, tiveram que ir no exterior buscar experiências e tecnologia para aplicar. Eu não fui lá no exterior para buscar tecnologia, mas eu via a tecnologia aplicada aqui. Então, pra mim foi uma universidade, foi um doutorado em engenharia que eu fiz ali nos quatro anos que eu fiquei trabalhando lá. E eu claro, eu ralei, ralei no sentido de trabalhar o que fosse. Naquela época, era uma época diferente, diferente porque não tinha tantas normas, tantas regras. Não vou dizer explorada, mas o cara trabalhava dez horas, doze horas, trabalhava sábado, domingo, tudo direto. E eu estava solteiro, eu me dediquei realmente. Atendia tudo que me dava para fazer.
P - E o seu relacionamento com os operários?
R - Eu tinha a minha equipe, eu tinha operários, operários mesmo, que eram os apontadores que ficavam controlando a obra inteira, todas as obras. E tinha os encarregados, os encarregados eram pessoas com mais experiências de obras, mais velhos, aqueles encarregadões antigos. Então, na realidade eles dominavam também a equipe deles. Então, meu relacionamento era mais com o encarregado, claro, se fizesse uma coisa errada e tudo mais, eu apertava também. Mas como tinha uma vila de operários muito grande, essa vila tinha gente do Brasil inteiro. Então, tinha gente boa índole, de má índole e com experiência e sem experiência. Então, a própria vila era uma coisa difícil de você administrar. Como a vila era ali dentro, tinha trabalhador, que ao invés de pegar o barco e ir para a obra lá, iam para casa, entendeu? Não eram todos não, era uma minoria. Mas tinha esses caras, entendeu? Então, eu implantei lá, eu bati de frente com os encarregados que não eram meus, que eu falei: “Pô, os caras…” Aí a ordem de cima falou: “Não, corta o ponto desses caras”. A briga é que eu obriguei a ter relógio, não tinha relógio de ponto. Além do relógio, batia o relógio, ia pra casa, ia pra outro lugar, tinha um que chamei… dois ticks, bateu o cartão, bateu, o peão meu batia lá, “tá no campo, tá!”. É rolo compressor, RC, rolo compressor, relógio e ponto. Tá lá o cara, bateu o relógio, mas botava uma equipe lá para ver se o cara estava no campo trabalhando mesmo, não tava, cortava o dia dele. No início deu revolta lá comigo mesmo. “Po, esse cara pensa que é o que”. Só que eu tive cobertura, não estava fazendo porque eu queria, estava fazendo porque tinha ordens. Então, manteve o negócio, dominou, ficou todo mundo, viu que não tinha jeito, tinha que entrar, entendeu? Mas tinha casos… Bom!
P - E o relacionamento com os militares?
R - Os militares não participavam da obra em si, era só mais alto nível, era mais que nada o Andreazza. E mais que nada, o seguinte: você tem que terminar naquela data. Desde que entrou lá era para terminar 4 de março de 1974. Não admitiam isso, entendeu? Não tinha essa flexibilidade de. “Ah, não, mas atrasou por isso, atrasou por aquilo”. Não! É aquilo mesmo. Então, todo mundo tinha que… Não eu, principalmente os engenheiros mais velhos, todo mundo tinha que providenciar, tinha que engrenar tudo, o fornecimento do material, o trabalhador… Imagina uma obra daquele tamanho, você cumprir a data de quatro anos.
P - Por que tinha esse prazo estipulado?
R - Interesse político dele. Terminava o mandato do presidente tal, ele tinha que entregar a obra, entendeu? Então, a política manda nessas obras grandes todas. Uma política forte. “Ô meu amigo, você cumpre o que eu quero, ou está fora”. Mas a pressão então era muito mais a nível por cima, entendeu? Com os superintendentes, o presidente da empresa e tudo mais. Tinha muita pressão. Mas na obra em si, não tinha fiscalização deles, não tinha militares, não tinha nada. Tinha o pessoal do projeto, da Noronha, da ECEX. A ECEX tinha muito militar lá dentro, porque foi um órgão criado naquela época por eles, desde o Coronel Guedes que era o presidente, tinha muitos. Mas era essa fiscalização mais de obra, de andamento tudo, mas… Veja bem, a Ponte eu posso dizer que influenciou muito na minha vida, talvez tenha sido o cara que mais influenciou, porque o Carlos Henrique (Siqueira) ficou muito tempo, ele é mais profissional, ele conhece a Ponte como ninguém lá, dá aula disso tudo mais. Mas a minha vida se envolveu muito com a ponte, porque que eu digo que se envolveu? Eu estava no Fundão, eu fui trabalhar ali na ponte, continuei no fundão, eu casei estava na ponte, eu estava em 1973, eu estava na ponte. Então, antes de casar, um mês antes de casar, eu capotei com um carro lá dentro do Fundão, eu fui casar com a cabeça raspada aqui, porque cortei. Uma bobagem, porque como eu conhecia o Fundão, quando não tinha movimento, andava pela pista do canto, tinha uma gráfica lá, um sábado, eu trabalhava sábado. Aí correndo, saiu uma Kombi lá velha, de dentro da gráfica lá, do meio do mato lá, entrou na minha frente, eu desviei, mas rolei.
P - Qual foi a data de casamento e o nome da esposa, por favor?
R - 27 de fevereiro de 1973. Então, eu fiquei 1971 e 1972 solteiro e 1973, 1974, casado. Então, eu capotei na Ponte, eu casei na Ponte. Você vê que não tem jeito, está ligado mesmo, as minhas memórias são muito ligadas a ponte.
P - Você estava lá no dia da inauguração?
R - Estava na inauguração. A minha memória, a principal memória, a que vem mais forte, é a indignação com a cobrança do pedágio. Por que? Como eu lhe disse, eu tinha acesso a ponte inteira, me sentia na minha casa, de repente inaugurou, tudo bem, gente pra caramba, aquela confusão toda, fecha. Só que no dia seguinte botaram pedágio lá. Então, eu não podia passar por ali sem pagar pedágio. Eu ficava indignado, porque jovem, ficava, pô, podia ter dado pelo menos um passezinho para eu passar sem pagar. Fiquei revoltado! Claro, que na brincadeira!
P - Como é que foi esse dia, você lembra?
R - Não me lembro, eu não me lembro. Eu acho que estava mais no Rio. Eu sei que seguiu todo mundo pela ponte, atravessaram a ponte, aquele monte de gente fez a inauguração do lado de lá. Tem o obelisco lá, não sei se… Aquele obelisco, hoje tem uma antena lá em cima. No final foi correria, claro que é correria, eu me lembro, na inauguração o que eu me lembro, aquela mediana que fica no meio, era uma coisa que estava atrasada, não ia dar tempo de fazer. Aí importaram uma máquina, que era como se fosse uma forma deslizante, metálica que você vai botando no caminhão, vem com concreto e o outro caminhão puxa a forma e vai fazendo direto, uma forma contínua. Antigamente se fazia com forma de madeira, com corumbá, mas demorava à beça. E aquela forma deslizante foi a salvação, conseguiram terminar a ponte. Outra coisa que eu me lembro, esse Obelisco que tem lá do lado de lá, é um monumento que não tem nada, é um cilindro assim, não sei se vocês repararam, vem direto, não é feio, mas não tem aquela belezura, aquele negócio diferente. Porque era mais rápido para fazer. “Tem que fazer o obelisco! Falta o obelisco!”. Aí tem que fazer o obelisco, forma deslizante. Hoje tem uma antena lá de rádio, sei lá o quê, tem muita gente que pensa que aquilo ali foi feito para botar antena. Não é para botar antena.
P - Araújo, então eu queria que você contasse esse seu retorno à Ponte Rio- Niterói já no período da concessão?
R - Então, eu fiquei quatro anos construindo, depois sai dali, fui para a Venezuela cinco anos, fui fazer outras obras grandes. Mas, aí, em 1994 começaram a criar concessões de rodovias no Brasil. A primeira concessão… Hoje tem concessão de Metrô, disso, daquilo, mas naquela época as primeiras concessões foram de rodovias, não havia nem lei, a ANTT que fiscaliza, não existia, era o DNER que fez as concessões, as de rodovia. E ali, como eu disse, é um contrato de investimento, então você tem que ter toda uma política econômica para viabilizar uma tarifa, você não pode… Fiz todas as grandes obras de concessão no início, que a rodovia tá toda com defeito, você tem que consertar tudo, ampliar. Se fosse cobrar tudo aquilo a tarifa ficaria muito alta, então, você pega aquele investimento e dilui. Igual o BNDES, ou Caixa Econômica financia a construção de um imóvel, você paga aquilo em 20 anos. Claro que com juros e correção. Então, essa modelagem, como quem começou essas concessões foram as grandes construtoras, Camargo Corrêa, Mendes Júnior e tudo. E quando quiseram fazer isso eu estava voltando da Venezuela, 1983, voltei para cá, fiquei em outros trabalhos, estava aqui. Aí eu conheci o pessoal do DNER todos. Então, eu montei os primeiros modelos, tinha uma empresa, depois foi contratada pela DNIT lá, para poder, DNER na época, para poder fazer a modelagem, mas modesta a parte fui eu com eles que fiz a modelagem toda. Mais do que isso, depois quando começou as concessionárias, o DNER não tinha equipe nem pra… Hoje faz revisão de tarifa, tem normas, tem regras, tem um monte de gente trabalhando nisso, naquela época não tinha. Então, os primeiros equilíbrios fomos nós que fizemos. Eu que fiz!
P - E a Ponte qual foi a primeira…
R - Então, as primeiras concessões de rodovias que botaram na rua, foi: a Ponte Rio-Niterói, a Dutra, aí em São Paulo, a Rio-Teresópolis, a Rio Petrópolis e lá no Sul, uma que via para o litoral, chama de Concessão de Primeira Etapa, não tinha ANTT, não tinha nada. E a Ponte, você fez a proposta, então eu já comecei trabalhando na proposta, essa é a realidade. Por que? Porque como eu trabalhei em hidrelétrica, nas hidrelétricas não existe difícil, tudo pronto, repetitivo. Tinha proposta técnica, você tinha que fazer as propostas mostrando o que você ia fazer na hidrelétrica, para poder orçar, tudo isso. Então, era um trabalho de engenharia grande. E eu fazia isso para as hidrelétricas. Então, eu fiz as propostas para as empresas que iam concorrer para licitação. Então, eu participei da licitação da Dutra, da Ponte, da Rio-Petrópolis, da Rio-Teresópolis, fazendo para uma empresa construtora.
P - E quem ganhou a da Ponte?
R - Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa. Depois entrou a Servix mas ela… A primeira mesmo, o consórcio que ganhou, foi a Camargo Corrêa e a Andrade Gutierrez. Como a Camargo Corrêa, trabalhava para ela, conhecia… Bom, vamos lá, o detalhe agora, a concessionária que ganhou, Concessionária Ponte S.A., que é uma concessionária anterior a Ecoponte, a EcoRodovias, do grupo EcoRodovias. Depois criaram um Grupo CCR, mas não tinha nem o grupo CCR, era a Camargo Corrêa e a Andrade Gutierrez, não tinha esses grupos que existem hoje. Então, a Camargo Corrêa, botaram quatro diretores. Hoje ninguém tem quatro diretores dentro de uma concessionária, mas naquela época tinha, tinham dois na Camargo Corrêa e dois da Andrade Gutierrez. A Camargo Corrêa era o Roberto Siriani e Sami Farrah, e da Andrade Gutierrez era Flávio Almada, que era presidente e o José Braz, eram os quatro diretores. Além disso, tinha um consultor de cada empresa, para ver a gestão, eu era pela Camargo Corrêa e o Roberto Régis Bittencourt era pela Andrade Gutierrez. Então, na realidade a equipe ali, eram quatro fichados e dois de serviços prestados, eu e o Regis, entendeu? Porque não tinha nada, ninguém sabia o que que era concessão, nem o que não era, como é que montava equipe. Então, desde o início eu fiquei prestando serviço para a Ponte S.A.
P - Qual o período dessa primeira concessão?
R - A primeira concessão já entrou com uma reivindicação. Ou seja, todos os trabalhos você passa seis meses fazendo o que eles chamam de trabalhos iniciais, que é botar condições mínimas para operar, tapar os buracos, botar cabine de pedágios para funcionar, atendimento médico, atendimento mecânico. Ou seja, tirava seis meses para poder começar a cobrar o pedágio. Só que na Ponte aconteceu o seguinte, quem entrou em segundo lugar na concessão, entrou na justiça contra a proposta da Camargo e da Andrade, porque dizia que o tráfego que eles projetaram… Porque a tarifa depende do tráfego, da demanda que você tem, quanto mais gente, igual condomínio, quanto mais gente contribuindo, menor a tarifa. E você tem que fazer uma projeção ao longo dos 20 anos qual vai ser a demanda, qual vai ser o tráfego. Então, o segundo lugar falou que a proposta da Camargo e da Andrade estava errada, porque aquele tráfego era maior do que o que podia passar pela Ponte. Eles botaram um tráfego impossível de passar pela ponte. Então, entraram na justiça. Aí ficamos oito meses brigando na justiça. “Pode, não pode, passa, não pode”. No final desses oito meses, ganhamos e continuamos. Então, um trabalho que era para ficar seis meses sem cobrar pedágio, ficaram quatorze meses. Então, houve um desequilíbrio, eu perdi oito meses de faturamento. Mas não é assim, vou cobrar oito meses a mais, o cara da DNER na época: “Não, dá oito meses de mão de obra pra ele e pronto”. Não é isso, porque uma coisa é receber hoje, outra coisa é receber daqui vinte anos. Tem todo um desequilíbrio, tem um custo também. Eu tive um custo aqui. Bom, insumo, quem foi fazer essa primeira revisão, fui euzinho aqui, então fui eu que fui fazer a primeira revisão das concessões de rodovia no Brasil. Então, claro que eu criei os precedentes, criei as regras, criei todas essas coisas, por isso que eu fiquei conceituado no mercado. Porque, pô, o cara que fez a primeira, então, o pai da criança, então ele sabe das coisas. Então, aí eu fiquei na ponte o tempo todo, todo desequilíbrio econômico financeiro que fazia, planejamento, tem que fazer mais isso, mais aquilo. A ponte. A primeira concessão teve duas melhorias muito significativas, uma delas foi o vão central, o vão central é a estrutura metálica, tem que botar o asfalto por cima, a dilatação com o calor é diferente numa estrutura metálica do asfalto. Então, com a dilatação o que acontecia? Soltava o asfalto, então, vivia esburacada direto, erro de projeto inicial. Então, fizemos um estudo com a COPPE, para poder prender, fixar mesmo com tirante, toda ela, toda, toda o concreto, feito de concreto, não mais de asfalto e totalmente aderente, chumbado ali com as suas metálicas. Resolveu, hoje não tem mais buraco na ponte. Outra coisa foi o problema do vão central também, um vão muito grande, quando dava uma ventania maior, fazia assim a ponte, fazia assim mesmo, a pessoa tinha medo de passar por ali. Estava previsto aquilo, não ia cair nem nada, mas você tinha que fechar a ponte para não passar, o povo ficava com medo de passar. “Ah, vai cair!”. Um desespero. Aí criou um sistema feito… Não tem contra terremoto? São pêndulos que compensam essa movimentação da ponte. Então, hoje ainda tem, quando venta muito forte ainda tem uma ondulação, mas uma coisa muito pequena em relação ao que era. Então, quando você faz essas coisas, evidente que você não previu isso no início, então você tem que adequar a sua programação, a sua tarifa para poder absorver essas coisas, que é justamente o que eu fazia. Outra coisa, a luminária da ponte, vocês não lembram mais. A luminária da Ponte, no vão central, não era igual a de hoje, por causa do aeroporto, do Galeão, quando foi feito o projeto, na construção, a luminária era no chão, no meio fio, no guarda corpo, entendeu? Porque não podia passar daquela altura porque senão o aeroporto do Galeão, não podia. Hoje com a evolução da Aeronáutica, eles já aceitaram botar os postes para lá. Então, a rodovia é dinâmica, você não consegue achar que você vai prever tudo que tem que fazer no início dos 20 anos, a medida que vai evoluindo… É o interesse do usuário, da comunidade ir melhorando as condições, né? Se fosse uma coisa de curto prazo, mas uma coisa de vinte, vinte cinco anos, não é possível que não vai se prever uma melhoria. É obrigação nossa. Você tem que reequilibrar para ficar viável.
P - E hoje qual é a sua relação com a Ponte Rio Niterói?
R - Vamos lá! Então, acabou a Ponte S.A., aí ganhou o grupo EcoRodovias, ganhou a concessão, a segunda concessão da ponte, e criaram uma empresa chamada Ecoponte. Claro que eu conheço o grupo de outras concessões, de outras coisas, mas eu não trabalhava para eles, não trabalho para eles. Mas por ironia do destino, ou destino, eu sempre tive essa afinidade com a Ponte. A ponte é minha, pô! É minha e de todos os cariocas, todos os brasileiros. Mas eu que vivia lá esse sentimento de pertencimento, de posse, de afinidades, sei lá, de tudo isso, a emoção é grande. Então, por coisas do destino, a minha filha trabalhava na Loar Engenharia, que é empresa de consultoria também. E como eu falei para você, a gente dava consultoria para outras concessões, a CRT, a Rio-Teresópolis… A minha filha, primeiro de tudo, quando ela estava se formando em engenharia, ela fez um trabalho lá na ponte, porque facilitei a chegada dela lá, então ela também começou a ter aquele carinho pela ponte, além, claro, de ouviu eu falar bem da Ponte, várias coisas, também tem aquele carinho. Bom, ela trabalhava naquela época na CRT, Rio-Teresópolis. Só que quem ganhou a Rio-Teresópolis, foi o mesmo grupo, EcoRodovias. Então, ela ficou gerente de contratos da EcoRodovias, quando veio a nova concessionária, chamou ela para trabalhar. E como é um grupo do Julio, ligado também a Ponte, depois chamaram ela para trabalhar também na Ecoponte. Então, hoje ela é gerente tanto da Rio-Minas, que é da EcoRodovias, como da Ecoponte. Pra mim, pô…
P - O que significa pra você?
R - Satisfação, orgulho, pô! Veja bem, você com todo o seu conhecimento, toda história de vida sua, não só profissional como pessoal tá ligado a Ponte, você tem uma continuidade, a geração sua seguinte a você, sua filha está trabalhando lá e reconhecida, porque o pessoal reconhece ela. Não é porque ela é minha filha que tá lá, é porque o pessoal gosta dela. Ela é meio caxias também, meio não, muito. Então, pra mim, pô! Fico orgulhoso. Meus netos verem isso, contanto a história. Então, você vê que isso além de influenciar muito a minha vida pessoal e profissional, também está influenciando a minha continuidade, meus filhos, meus netos, tudo mais. Então a Ponte faz parte da minha vida, não tem jeito!
P - Qual é o nome completo dos filhos e dos netos, por favor?
R - Bom, vamos lá! Os filhos, eu tenho o meu filho mais velho, é Roberto Lopes de Araujo e ele trabalha também comigo na Loar e ele presta serviço para outras concessões, como ele é advogado, principalmente para o Metrô Rio, que é concessão também, que concessão não só engenharia, obra de engenharia, qualquer concessão… Ele tem uma filha chamada, Ana Beatriz Boulos de Araujo, ela tem 15 anos, que a mesma idade da minha outra neta por parte de filha. Minha filha é Mariana Lopes de Araujo Gomes da Silva, que tem um casal de filhos, a Giovana Araujo Gomes da Silva, que também tem 15 anos hoje e tem mais um neto, que é Arthur Lopes de Araujo Gomes da Silva, que tem 14 anos. Então, tá continuando. Então, a Ponte vai viver, é claro, mais 50 anos, com certeza, porque uma obra daquele tamanho vive uma eternidade. E eu talvez não esteja mais aqui, talvez não, certamente não vou estar mais aqui, nesse plano. E vai estar a minha família lá ainda. Então, claro que de onde estiver eu vou estar super orgulhoso, super satisfeito de saber que a gente tá continuando contribuir, não pela construção em si, mas pela manutenção e operação daquilo que precisa. Se não tiver manutenção, conservação, operação eficiente, não adianta nada a concessão, né? Então, ela está preservando aquilo que eu ajudei a construir. Então, poxa, o que que eu quero mais da vida? Nada, né! Posso descansar em paz!
P - Eu agradeço! Você gostaria de comentar mais alguma coisa? O que achou de dar esse depoimento?
R - Fico feliz de poder deixar registrado aí a minha história, meu vínculo forte que eu tenho com a Ponte Rio-Niterói. Olha, é o que eu digo, parece que não, mas o fato de ter casado lá. Ah, contar só um detalhe do casamento, interessante. Naquela época era duro, você tinha três dias de folga para casar, não tem mais do que isso, três dias. Aí eu malandramente, vou falar que eu vou casar terça-feira de carnaval de noite, trabalhei de dia, de noite eu fui casar na cidade lá. Para ficar quarta, quinta e sexta, que era os meus três dias e emendar a semana de carnaval. “Pô, vou ganhar uma semana para a lua de mel, pô!”. Malandro! Só que na ponte, naquela época, tinha sorteios de dia de plantão, para ficar no carnaval. Claro, euzinho fui sorteado para o domingo de carnaval. Aí, furou todo o meu esquema, vou ter que voltar domingo para trabalhar. Aí fui no Marcolino, que era o Diretor de Obras, ele gostava de mim, eu gostava dele: “Marcolino, pô, quebra o galho aí!”. “Não pode, não pode dar exceção, senão o negócio não fica bem, não sei o que”. Não meu deu o dia, não deu! Aí eu consegui, um engenheiro que estava na terça-feira, trocou comigo, ele veio para o domingo e eu fui para a terça. Mas terça-feira de carnaval, tinha que estar aqui trabalhando, larga a lua de mel, larga tudo e vem.
P - Onde é que foi a sua lua de mel?
R - Bom, eu não tinha nada marcado, como ia marcar? Não sabia, não sabia. A única coisa que tinha marcado era o hotel, naquela época o Hotel Nacional estava recém-inaugurado, era o bacanão na época, então eu marquei o primeiro dia no Hotel Nacional. Aí depois eu falei assim, vou sair em frente pra ver… Até hoje eu faço isso, minhas viagens são assim, saio sem rumo, alugo um carro e vejo no que dá. Aí sai pela Dutra andando, fomos para… Itatiaia, Hotel Simon, para lua de mel era o badalado da época. Só que o Hotel Simon, tinha lugar até sábado de carnaval, sábado de carnaval estava lotado por causa do carnaval, então eu fiquei só até sexta-feira, sábado já tive que descer. Ai desci, vou dar a volta e descer por Cunha, Dutra, por Cunha e volto por Angra dos Reis, não sei o que. Chuvarada. Então não consegui descer, desci em Cunha, era terra pra lá, não passava, não dava para passar, tive que voltar. Foi ótimo! Tenho um monte de coisas para contar. Mas acho que perrengue faz parte da vida.
P - A Ponte Rio Niterói faz parte completamente da sua vida, da sua história profissional e familiar.
R - É isso aí!
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