P/1 – Doutor Alberto, eu gostaria que o senhor falasse seu nome completo, local e data de nascimento?
R – Meu nome é Alberto Deodato Maia Barreto Filho. Eu nasci em 21 de fevereiro de 1933 e eu me formei em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais. Após a minha formatura eu segui a carreira do meu pai que era advogado e também professor da Universidade Federal. Eu segui toda a carreira dele e em primeiro de janeiro de 1958 - porque eu me formei em 1956 - eu fui admitido em uma empresa que na época estava sendo adquirida pelo Grupo Votorantim. O Doutor Antônio Ermírio de Moraes esteve várias vezes lá e fez a transação adquirindo as ações da Mineração - chamava-se Mineração e Usina Wigg S.A. Continuei como advogado da empresa a convite, com muito prazer, do próprio Doutor Antônio, que para mim foi uma das pessoas, digamos assim, mais importantes como ser humano que eu já conheci. Trabalhador. E eu tenho o exemplo dele como um dos símbolos que eu pretendo seguir sempre desde que eu estou na empresa. Adquirida a Mineração Usina Wigg pela Votorantim, em breve a Siderúrgica Barra Mansa S.A. a incorporou e eu continuei como advogado da Siderúrgica Barra Mansa - o que até hoje continuo na ativa. Talvez por causa da minha idade sempre tem a pergunta: “Está na ativa ou não?” Mas eu continuo, graças a Deus, trabalhando da mesma forma que eu sempre trabalhei, inclusive lecionando; porque eu leciono uma disciplina jurídica na Universidade Federal de Minas Gerais, onde eu fiz concurso para poder lecionar, mas a minha alegria de pertencer ao Grupo é justamente este que o Doutor Ermírio de Moraes transmite a todos aqueles que compõem as empresas do Grupo. Várias vezes eu fui chamado, também por satisfação minha, para dar assistência a Companhia Mineira de Metais, nos seus primórdios lá em Três Marias, onde está a primeira fábrica de zinco eletrolítico deles. E posteriormente em Vazante, em...
Continuar leituraP/1 – Doutor Alberto, eu gostaria que o senhor falasse seu nome completo, local e data de nascimento?
R – Meu nome é Alberto Deodato Maia Barreto Filho. Eu nasci em 21 de fevereiro de 1933 e eu me formei em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais. Após a minha formatura eu segui a carreira do meu pai que era advogado e também professor da Universidade Federal. Eu segui toda a carreira dele e em primeiro de janeiro de 1958 - porque eu me formei em 1956 - eu fui admitido em uma empresa que na época estava sendo adquirida pelo Grupo Votorantim. O Doutor Antônio Ermírio de Moraes esteve várias vezes lá e fez a transação adquirindo as ações da Mineração - chamava-se Mineração e Usina Wigg S.A. Continuei como advogado da empresa a convite, com muito prazer, do próprio Doutor Antônio, que para mim foi uma das pessoas, digamos assim, mais importantes como ser humano que eu já conheci. Trabalhador. E eu tenho o exemplo dele como um dos símbolos que eu pretendo seguir sempre desde que eu estou na empresa. Adquirida a Mineração Usina Wigg pela Votorantim, em breve a Siderúrgica Barra Mansa S.A. a incorporou e eu continuei como advogado da Siderúrgica Barra Mansa - o que até hoje continuo na ativa. Talvez por causa da minha idade sempre tem a pergunta: “Está na ativa ou não?” Mas eu continuo, graças a Deus, trabalhando da mesma forma que eu sempre trabalhei, inclusive lecionando; porque eu leciono uma disciplina jurídica na Universidade Federal de Minas Gerais, onde eu fiz concurso para poder lecionar, mas a minha alegria de pertencer ao Grupo é justamente este que o Doutor Ermírio de Moraes transmite a todos aqueles que compõem as empresas do Grupo. Várias vezes eu fui chamado, também por satisfação minha, para dar assistência a Companhia Mineira de Metais, nos seus primórdios lá em Três Marias, onde está a primeira fábrica de zinco eletrolítico deles. E posteriormente em Vazante, em Minas Gerais. Bom, esse trabalho que eu tenho desde que eu fui admitido no Grupo, desde janeiro de 1958, para mim foi altamente importante e me deu oportunidade de trabalhar em várias áreas do Direito, o que é muito importante. O patrimônio da Siderúrgica Barra Mansa, exatamente nesse local, situado no município de Ouro Preto, onde tinha a Usina Wigg. Essa Usina Wigg, infelizmente está paralisada no momento, mas já produziu muito. E também com minas, não só em Ouro Preto; no município de Miguel Burnier, como também no município de Itabirito, várias minas em que a empresa se desenvolveu. Mas me deu oportunidade de trabalhar em várias áreas do Direito, como eu ia dizendo, sobretudo em áreas ligadas a terras. E então, praticamente - porque eu me formei em 56 e em 58 eu já estava advogando para a atual siderúrgica Barra Mansa, embora tenha sido admitido na antiga empresa que foi incorporada pela Barra Mansa - me deu uma visão muito boa do Direito, sobretudo nesse aspecto referente a terras e mantive contacto com vários tipos de ações. Lá tive várias ações e ainda tenho, ligadas à posse, propostas contra a empresa ou mesmo algumas que eu mesmo propus, contra algumas pessoas que se arvoraram em proprietários sem ser, de parte de terras que pertencem à empresa, que são de propriedade da empresa. Tive não só ações de natureza possessória como também ações que nós chamamos de dominicais por força da propriedade, inclusive ações demarcatórias estabelecendo os limites de prédios, o que me deu oportunidade de me aprofundar na documentação de origem daquelas propriedades. Eu estou assinalando esse aspecto por causa do enriquecimento que eu tive com esse meu trabalho. E quando eu falo de enriquecimento é enriquecimento de conhecimento mesmo, não é enriquecimento monetário, mas é de conhecimento e muito bom conhecimento que eu consegui com esse estudo da origem das propriedades que hoje pertencem à Siderúrgica Barra Mansa. Parece mesmo uma espécie de história, mas estas propriedades pertenceram ao antigo Comendador Wigg, que era um inglês. O Comendador Wigg era um indivíduo que anotava tudo aquilo que se passava com ele durante o dia e então... Ele tem um arquivo, deixou um arquivo farto, arquivo que, ao qual muitas vezes eu recorri tirando cópias para provar no processo, como meio de prova, porque são documentos antigos. Ele já no final do século XIX usava escrituras públicas, uma época em que ainda não era obrigatório, porque o nosso registro imobiliário data, a obrigatoriedade do registro imobiliário, data de 1916, que é a data de vigor do Código Civil, que entrou em vigor o Código Civil, antigo Código - hoje não é mais, recentemente foi alterado. Mas o Comendador Wigg era uma pessoa meticulosa e tudo o que ele gastava ou ganhava ele escrevia, não deixava nada de fora e tudo aquilo, toda a documentação pertencente à terra que eu encontrei me deu um roteiro para analisá-la. É verdade que em algumas passagens tornou-se difícil a pesquisa e às vezes até chegava ao desânimo, no sentido de que pareciam contraditórios alguns documentos, mas um estudo mais profundo demonstrava que realmente eu estava no caminho certo. Bom, eu, como já disse, tive que me referir a esse aspecto porque realmente isso a mim, me enriqueceu bastante e, sobretudo, era um motivo que me levava, digamos assim, a fazer maiores pesquisas no campo do direito e realizar a contento o meu trabalho. Posteriormente, eu continuei advogando sempre, fui advogado deles e realmente foi um dos baluartes na minha vida profissional foram essas empresas que me honraram levando ao meu conhecimento vários fatos ocorridos. No que diz respeito a outros elementos humanos que trabalharam durante esse período todo até hoje, eu só tenho de tecer elogios, porque de uma maneira geral, todos aqueles que trabalham para o Grupo são pessoas de grande experiência e de trabalho esmerado, cada um em seu setor, de maneira que eu não posso ter nenhum reparo à atividade de qualquer pessoa que pertença ao Grupo. Parece que o ideal implantado pelo Doutor Antônio Ermírio de Moraes tem sido seguido à risca.
P/1 – E o senhor teria algumas palavras para tentar definir esse... Porque é algo intangível que está muito presente na Votorantim, esses valores que a família procura perpetuar. Que palavras o senhor teria para tentar descrever um pouco, que valores seriam esses? Trabalho, o senhor já falou, é um muito presente...
R – É preciso dizer o seguinte, que evidentemente, inicialmente o Doutor Antônio teve um trabalho mais árduo. Eu me lembro que ele dirigia as empresas pessoalmente, não é? Ele quando chegava num determinado local, queria saber minuciosamente de tudo que estava ocorrendo. É uma característica. Aconteceu comigo, quer dizer, no setor de direito. Ele chegava e perguntava, nas questões mais simples, como que ia andando, o que tinha sido feito. Então, isto é muito louvável e eu acho que essa vontade de trabalhar, o trabalho desenvolvido por ele e pelos descendentes dele, eu acho que define bem o Grupo Votorantim e, sobretudo, a brasilidade. Eu posso dizer que é um Grupo brasileiro. Brasileiro não no sentido de ser nacional, brasileiro, mas no sentido de gostar do Brasil. Tudo que eles fazem, eles fazem não no sentido de, digamos assim, pensar em maiores fortunas, eles fazem pensando no Brasil. Isso é muito importante, o indivíduo deixar de pensar um pouco em si mesmo para pensar no Brasil em conjunto, não é? E então esse aspecto do trabalho, esse aspecto da brasilidade eu acho que é marcante desse agrupamento, do Grupo Votorantim. Além disso, eu posso dizer como depoimento, que a repercussão desses ensinamentos no meio operário, propriamente dito, sempre foi muito positiva a ponto de fazerem insistência para que o Doutor Antônio Ermírio de Moraes adquirisse outros interesses. Por exemplo, eu tenho um exemplo para dar: havia uma usina que estava numa situação de falência, que se chama Gagé, Usina de Gagé, que uma comissão de operários me procurou, na época, para que eu transmitisse ao Doutor Antônio o interesse que eles tinham que a empresa fosse vendida não para qualquer um, mas para o Grupo Votorantim. Exatamente por esse conceito que os dirigentes da Votorantim tem, não só nos meios empresariais como no meio do operariado. Então nós podemos dizer que essa convivência dos diretores com o operariado é uma outra marca que a gente pode encontrar no Grupo Votorantim.
P/1 – Agora vamos voltar. Agora nós queremos saber também do senhor.
R – Até agora eu falei mais de mim.
P/1 – Não falou, não. O senhor não falou a cidade em que o senhor nasceu.
R – Eu sou de Belo Horizonte. Nasci lá, casei-me lá e vivo lá.
P/1 – Queremos um pouquinho dessas suas lembranças, da sua infância, da sua juventude em Belo Horizonte. O que o senhor lembra da sua infância em Belo Horizonte?
R – A minha infância foi, digamos, invejável. Eu tenho sete netos atualmente e eu posso dizer que a minha infância foi muito parecida com o que a gente procura dar a esses netos. A satisfação, a assistência, que a gente procura dar a eles, foi à assistência que eu tive, e o meio, sobretudo, é um meio muito intelectual, porque eu fui criado num meio intelectual. Meu pai era professor da UFMG e eu segui os passos dele, primeiro como advogado e depois como professor, e a demonstração, que eu posso proclamar, da alegria que ele tinha, é coisa invejável para qualquer pessoa. Papai era uma pessoa muito alegre e ele tinha, todo mundo que o conheceu comprova isso e acentua que ele era uma das pessoas mais alegres que já existiram e a alegria dele era uma alegria feita em casa, não só na rua, mas em casa também. Então esse ambiente alegre, graças a Deus, foi o ambiente que eu fui criado. Depois que comecei a estudar, eu sempre tive muito gosto pelos estudos, eu fui, não costumo falar, mas tenho que dizer, modéstia à parte, eu sempre fui o primeiro na turma, do grupo escolar até tirar o maior prêmio da minha Universidade Federal de Minas Gerais. Então eu sempre tive muito gosto por estudo e gosto pelo trabalho, porque eu sempre gostei do que eu faço. Isso é muito importante - a pessoa gostar do que faz - e eu sempre gostei do que eu faço.
P/1 – E o senhor sempre pensou em Direito ou pensou em outra coisa qualquer?
R – O meu caso sempre foi a parte, eu posso dizer, sempre foi a parte porque o meu pai sempre foi advogado e professor e então eu já nasci pensando em ser advogado e depois em ser professor. Quer dizer, cumpriu-se àquilo que, desejar, não, eu não posso dizer porque eu era muito novo, mas aquilo que me foi mostrado e realmente me dei muito bem, graças a Deus.
P/1 – A sua primeira atividade profissional já foi como advogado?
R – Sim.
P/1 – Já foi como advogado?
R – Sim. Sim, porque - eu preciso lhe lembrar um aspecto, aspecto de criação - porque o meu pai, no escritório, mesmo quando eu era estudante ele me criou fazendo todo o trabalho que qualquer pessoa fazia, inclusive ele incentivava que eu fizesse dentro do escritório um serviço de catalogação de livros. Papai sempre teve uma biblioteca grande e então, enquanto eu era estudante de Direito, grande parte eu gastava com a catalogação dos livros. Isso é uma coisa muito importante porque você já se forma com uma noção dos livros que você tem e da matéria mais ou menos respectiva de cada autor. Isso para mim foi muito bom. E eu fazia todo esse serviço no escritório antes de formar, além de fazer até atendimento de cliente e me aventurar em umas e outras “questõezinhas”, mas sempre com a supervisão do meu pai. Eu tinha um irmão que era advogado e também trabalhava com a gente. De maneira que eu acho que a direção que meu pai me deu é a direção que eu dei aos meus filhos, procurei dar também aos meus filhos e até nem sei se foi tão boa, se eu consegui, mas foi o que eu procurei passar para os meus filhos, também.
P/1 – E o meio acadêmico, estudantil em Belo Horizonte?
R – Eu gosto muito.
P/1 – Foi o que o senhor viveu na década de cinquenta?
R – É, sim.
P/1 – Como era? Que diferença o senhor nota de hoje?
R – Olha, tem diferença. Quem dizer, quem [diz] não tem diferença está mentindo. Evidente que o estudante de Direito, se você comparar o estudante de Direito com o estudante de outras faculdades você vai sentir uma diferença que existe até hoje, porque eu leciono até hoje e sei que aquele indivíduo vai ser um bom advogado pela maneira dele agir. Então, tem realmente nestas questões de responsabilidade, tem uma diferença entre o estudante de Direito e de outras disciplinas. Eu estou fazendo essa comparação porque eu tive a oportunidade, inclusive, de ser conselheiro do Conselho Universitário da Universidade Federal e como conselheiro eu tive também, não é uma vivência diuturna, de todo dia, é uma vivência razoável com outras escolas, com alunos de outras escolas e professores de outras escolas. Então eu faço essa comparação, e digamos assim, sem nenhum remorso, sem nenhuma ufania e digo que o estudante de Direito tem uma característica que o difere do estudante de outro ramo do conhecimento. Mas, na sala de aula, evidentemente, alguma coisa mudou. No tempo em que eu era aluno os estudantes todos iam assistir à aula de gravata e paletó e hoje os meus alunos não vão, todos eles vão de camisa-esporte e eu não digo que eles não tenham razão porque o clima é quente. Nos dias atuais eu até dou razão, eu acho que enquanto esteja estudando vá assistir as aulas mais à vontade, isso até ajuda a estudar. Mas eu não tenho nenhuma queixa em relação a eles, quer dizer, eu sei que existe professores que não gostam muito dos alunos, mas eu tenho para mim o seguinte: quem não gosta de aluno não deve lecionar. Tem tanta outra coisa para fazer! Eu, graças a Deus, eu estou, sempre estive, estou e continuo estando muito bem com meus alunos e eu me surpreendo muitas vezes torcendo por eles, na vida prática, depois que eles se formam. É muito bonito você ver um ex-aluno brilhar depois da formatura, você seguir os passos do ex-aluno. É evidente que você fala de uma maneira geral, conhece alguns alunos também. Eu, desde que leciono minhas turmas são enormes, sempre mais de duas turmas no mesmo ano e, portanto, uma média de mais cem alunos e tanto. Média, média eu diria que 150 alunos, por aí, e uma verdadeira população desta, evidentemente que o professor não conhece um por um. O professor acaba conhecendo um grupo de alunos, aqueles que mais se salientam e aqueles, também, que depois da aula procuram o professor para fazer suas perguntinhas, porque em Direito tem muito disso, de o aluno fazer perguntas, levam um caso que ele ouviu falar, levam um caso, às vezes, da própria família dele para consultar o professor, mas isso é ótimo, que vá aprendendo logo. Se a gente pudesse resolver com isso, sairia muito melhor. Mas eu me entusiasmo, muitas vezes, com o sucesso do ex-aluno, isso é verdade.
P/1 – Na sua vida de estudante o senhor encontrou também professores que o senhor sentia...
R – Eu encontrei, mas como eu disse a vocês, eu também me considero com sorte porque em matéria profissional foi o meu mentor, que me mostrava os caminhos, o que eu devia fazer e tudo mais. Felizmente eu tive esse privilégio. Você tem que falar em privilégio porque o Brasil está com muita gente que não tem nem a felicidade de poder estudar, infelizmente continua a situação, apesar dos pesares (risos).
P/1 – Bom, Doutor Alberto, o senhor falou muito da sua vida de estudante, e o lazer? Como era esse lazer na sua juventude?
R – Lazer?
P/1 – Isso.
R – Digamos, eu e meus colegas nós tínhamos realmente como lazer naquela época, nós tínhamos cinemas, frequentava-se muito cinema e tinha também lazer de clube; a gente ia ao clube, praticava esporte e além disso tinham as horas dançantes nos clubes, inclusive entre os próprios estudantes se criavam reuniões sociais que a gente ia sempre, encontrando com namoradas e a minha vida de estudante foi igual a de todos os estudantes da época. A turma era muito alegre. Turma muito séria, mas sempre marcava encontros para ir para uma festa e isso tudo. A turma da minha época, a turma que eu formei até hoje está unida, porque depois da formatura a gente fica um pouco desaparecido porque a pessoa pensa em lutar pela vida e esse negócio todo, uns vão ser promotores no interior, outros foram ser juízes, outros entraram no serviço público, por exemplo; e a grande parte seguiu a advocacia. Mas na hora que os anos se passaram nós começamos a entender que é muito bom você conversar com o colega, você continuar gozando aquela amizade que a gente tinha durante o curso todo. E agora, sobretudo, nós costumamos pelo menos uma vez por ano, a gente tem aquela festa de reencontro e outras vezes fora mesmo dessa oportunidade a gente encontra em outras festas, por exemplo, eu mesmo já tenho um convite para sábado que vem, por um colega que vai promover uma festa para a turma porque é aniversário da mulher dele. Outras vezes a gente resolve ir numa cidade perto, geralmente é no fim de semana que é mais fácil se encontrar, a gente resolve, combina e vai nesta cidade e aquela reunião, a gente diz que não teve validade nenhuma porque nós fomos apenas ver como é que iríamos fazer outra festa, mas além dessa reunião a gente continua com as demais. Mas é muito bom a gente sentir este ambiente entre colegas.
P/1 – O senhor casou com que idade?
R – Eu casei logo depois que eu formei, casei em 57.
P/1 – O senhor tinha quantos anos?
R – Casei em abril de 57. Formei em 56, abril de 57 eu me casei e janeiro de 58 eu comecei a trabalhar no grupo.
P/1 – O senhor tinha 21?
R – Eu me formei com vinte e poucos anos, vinte ou 21.
P/1 – Novo, né?
R – Naquela época não era só eu, não. Normalmente formava-se nesta idade. Vinte, 21, 22 no máximo.
P/1 – Casou com 24 e com 25 entrou na Votorantim?
R – Não, vamos dizer, 21, devo ter casado com 22, agora teria que fazer a conta (risos).
P/1 – O senhor conheceu a sua esposa onde? Como o senhor conheceu a sua esposa?
R – Olha, na época, na minha época começaram os cursinhos para entrar para curso superior. Agora, eu me formei num colégio que era um colégio público e que sempre foi, digamos assim, o melhor colégio de Belo Horizonte, é o colégio estadual, do estado. Hoje não dão valor ao estudo secundário feito pelo estado, mas na minha época quem realmente conseguia entrar num colégio estadual era porque estudava muito. Não era todo mundo que conseguia vaga num colégio estadual não, era tudo de concurso; inclusive o colégio estadual na época que eu comecei a estudar tinha os professores, todos concursados, quer dizer, eram professores que defendiam tese para poder lecionar, então era considerado colégio padrão, o colégio estadual. E então nós entramos para o colégio estadual, tivemos a sorte, entramos direto para o colégio estadual, fiz o curso inteiro no colégio estadual e me formei no colégio estadual, mas como tinha esse negócio de cursinho quase todo mundo entrava para o cursinho e eu entrei também. Acontece que eu fiz um curso que era o mesmo curso para Direito e para Letras Clássicas e Neolatinas e a minha mulher frequentava esse curso também, esse pré-vestibular, e foi lá que eu a conheci e acabei me casando com ela pouco depois, porque eu a encontrei quando estava acabando de fazer o colégio. Eu a conheci em 51 mesmo, fiz todo o curso de Direito namorando e casamos em 57. Fiz todo o curso de Direito, praticamente, era namorado dela, mas isso não me impediu de ter alegria, de brincar com os meus colegas, foi ótimo, isso tudo foi ótimo.
P/1 – Foi a primeira namorada?
R – Bom, assim também não (risos).
P/1 – Praticamente, tão novinho!
R – A gente sempre tem namoradas, mas é como o poeta popular diz, que ninguém se esquece da primeira namorada; é o caso, não se esquece da mulher que a gente tem no coração.
P/1 – É, é diferente.
P/1 – Alguma pergunta?
P/2 – O senhor falou muito do seu pai e...
R – É, meu pai tem o mesmo nome, eu é que tenho o mesmo nome, porque ele é Alberto Deodato Maia Barreto e eu tenho mais o Filho, e eu tenho um filho que tem o meu nome também e em vez de Filho é Neto (risos).
P/2 – Eu gostaria de saber um pouco da sua mãe, a influência, eu vejo que seu pai tem um lado bem profissional, norteador.
R – O meu pai é de uma liberalidade que você precisava ver. A amizade dele com os alunos é interessante, apesar de ter sido um profissional mesmo, na época tinha poucos advogados em Belo Horizonte e ele era um desses poucos e grandes advogados de Belo Horizonte e ele era de uma alegria muito grande e muito comunicativo. A comunicação dele era uma coisa invejável de tal forma que ele saía das aulas dele acompanhado pelos alunos, todo mundo conversando, todo mundo rindo, inclusive ele contando anedota. Ele teve uma época, eu me lembro, uma época em que o médico falou para ele não fumar, então ele tinha uma vontade de fumar e ele aproveitava a presença do aluno para filar cigarro. Veja só, professor filando cigarro do aluno. Então papai era muito comunicativo. Agora mamãe já era mais recatada, era igual, digamos assim, a essas senhoras brasileiras mais antigas, teve uma educação muito do lar, muito dedicada ao lar e assim era minha mãe. Digamos assim, o reino dela, era a família, eram os filhos, para cuidar dos filhos; e a minha mãe lá no Rio de Janeiro, porque ela nasceu em Campos, Rio de Janeiro, e foi estudar no Rio de Janeiro, numa cidade do Rio de Janeiro. Campos é estado do Rio de Janeiro e ela foi estudar na cidade do Rio de Janeiro. Perdeu os pais muito cedo e foi criada por um avô dela que era até português, a descendência dela era portuguesa, era português e um senhor muito tradicional, que a criou e então... Acontece que meu pai, a essa altura, porque ele nasceu em Sergipe, no nordeste, numa cidade chamada Maruim, mas naquela época todos os rapazes quando chegava na época de começar os estudos costumavam vir para o sul, para Bahia, para o Rio de Janeiro, e papai veio. O pai dele tinha um engenho lá em Sergipe, lá em Maruim, na cidade de Maruim. Quando chegou a época dele entrar para o colégio ele veio para o Rio de Janeiro, onde cursou o Colégio Pedro II no Rio de Janeiro e posteriormente ele fez a faculdade, naquela época era Faculdade Nacional de Direito, ele fez a faculdade lá no Rio de Janeiro e nesse meio tempo ele conheceu minha mãe. Agora papai sempre foi escritor também, sempre escreveu, ele fazia, inclusive mesmo quando estudante, ele fazia peças para teatro, escrevia partitura para opereta. Ele tem partitura de opereta escrita por ele. Naquela época ele escrevia muito e fazia essas peças e escrevia livros, romances e conheceu mamãe, começaram a namorar. Papai se formou lá na Faculdade Nacional de Direito e então, segundo ele contava, houve um aspecto que definiu muito a vida dele porque o presidente Raul Soares, de Minas Gerais, foi ao Rio e por acaso ele foi a uma peça escrita pelo papai que estava sendo representada – eu me lembro até dele falando que era no Teatro Recreio. E ele ficou tão entusiasmado que muito tempo depois ele, segundo papai, deve ter pensado: “Fulano de tal já deve ter formado”. Porque ele foi lá no camarim depois da peça e se apresentou, então ele deve ter pensado: “Deodato, já deve ter formado”. E então estabeleceu contato com ele. Estabeleceu contato com ele e falou assim: “Ah, porque você não vem para Minas?” E papai estava querendo casar e não tinha nenhum emprego fixo, porque ele escrevia peças, mas não tinha uma relação que mantivesse o emprego; e papai aceitou logo para vir para Minas, quando então ele foi nomeado, naquela época era nomeação, para a promotoria de uma cidade do interior chamada Rio Pardo de Minas, que é no norte de Minas - uma cidade muito pobre e até hoje é muito pobre. O norte de Minas é muito pobre e ele então foi ser promotor lá. Naquela época tinha uma diferença muito grande entre a promotoria atual e a promotoria daquela época, porque o promotor podia advogar também, então ao mesmo tempo em que ele foi promotor, ele foi advogado do norte de Minas; e a comarca dele era enorme, ocupava praticamente até a Bahia, o norte de Minas praticamente todo. Então papai conta muita história daquela época, porque muitas vezes ele, para ir para uma comarca assim perto ele saía a cavalo e tinha lugares que a pessoa parava para pernoitar, continuava no dia seguinte e voltar no outro dia e então ele contou, digamos assim, essa atividade dele era muito rica porque a visão dele era sempre uma visão de alegria e de brincadeira. Então ele fantasiava muito e então sempre tinha uma história para contar sobre essa época. Mas então ele acabou em uma comarca no norte de Minas. Não é que posteriormente o Raul Soares ainda continuando no governo estabeleceu um contato com ele, era tudo muito longe, esses contatos eram demorados, uma resposta demorada, esse negócio todo e falou com papai: “Olha, é melhor te trazer um pouco mais para baixo, eu estou precisando de vocês aqui, de você aqui em Pouso Alto. Já era sul de Minas, e lá foi o papai para Pouso Alto e de lá de Pouso Alto ele foi chamado. Agora eu contei essa história toda porque mamãe saiu de uma família de posse, porque o português que a criou tinha posse e com aquela educação finíssima de, digamos assim, da mulher de dentro de casa com aquela formação para os filhos, ela saiu do Rio de Janeiro e foi com papai até o norte de Minas, um lugar que estava muito pouco desbravado e a única condução possível era lombo de burro. Subindo o Rio São Francisco a partir de Pirapora até Manga era navegável, de Manga para ir o Rio Pardo era não sei quantas léguas. Um lugar ainda bem longe, mas era lombo de burro e mamãe acompanhou papai até lá no norte de Minas, acompanhou depois para Pouso Alegre e depois eles foram para Belo Horizonte, também a chamado do Raul Soares. Então o Raul Soares teve, digamos, participação importante na vida de papai e, portanto para ele poder vir para Belo Horizonte foi muito importante a direção que o Raul Soares deu à vida dele.
P – Aí eles se fixaram em Belo Horizonte e os filhos nasceram lá?
R – É, e lá ele teve a família dele, teve os filhos. Só o filho mais velho é que nasceu em Rio Pardo, mas os demais - éramos seis irmãos, hoje estamos vivos três, três homens. Éramos três homens e três mulheres. Hoje somos três homens vivos, não, perdão, somos três mulheres vivas, eu estou invertendo, três mulheres vivas e eu de homem só, sou o único que está vivo, então somos quatro. Mas o meu irmão mais velho nasceu lá em Rio Pardo de Minas, no norte de Minas, mas os outros, todos os demais, nasceram em Belo Horizonte.
P/1 – E lá viveram. E a sua mãe então deveria ser a disciplina, o senhor diz que o seu pai era muito alegre, ele era liberal, e ela era o...
R – É. Realmente a mamãe era aquela disciplina com muito amor, mas muito severa.
P/1 – Mas como era um meio intelectual, deveria haver uma outra liberalidade, uma outra…
R – É, era. Mas ela dirigiu bem o trabalho doméstico e a carreira dos filhos também. Todos eles saíram muito bem, felizmente.
P/1 – Doutor Alberto, voltando um pouquinho a sua trajetória na Votorantim, o senhor deve ter… Essa sua função com a posse das terras ela se refere ao Brasil inteiro ou só à região de Minas Gerais?
R – Não, a região de Minas Gerais.
P/1 – Minas Gerais, basicamente Minas Gerais.
R – É.
P/1 – E como é essa relação da Votorantim com as comunidades onde ela está? O senhor deve ter muito contato com esse tipo de...
R – Olha, os estabelecimentos da empresa que estão perto de Belo Horizonte, ou seja, Ouro Preto e Itabirito, sempre foi muito querido naquela região. Pelo que pude observar nesse estudo que eu contei sobre a origem da propriedade, o Comendador Wigg era um camarada muito severo no sentido de querer fazer prevalecer a autoridade dele e então ele deixou alguns inimigos lá, mas esses inimigos, digamos assim, não foram herdados pela empresa, não. Porque todas as terras da siderúrgica Barra Mansa provêm do Comendador Wigg. Uma curiosidade que também merece destaque é que todas as terras que a Siderúrgica Barra Mansa – bem, eu não posso generalizar, quase todas ficaria melhor, porque a Siderúrgica Barra Mansa é proprietária lá em Miguel Burnier, têm a seu favor um chamado Registro Torrens. Registro Torrens, que é uma lei ainda vigorante, uma lei do início do século, mas vigora ainda, submete as propriedades que o quiserem, quer dizer, o indivíduo já é proprietário, submete a um processo diferenciado porque se o indivíduo quer livrar a propriedade de qualquer dúvida quanto aos direitos que a ele a lei confere, esse indivíduo pode querer colocar a sua propriedade no chamado Registro Torrens. É um registro especial. Além do registro normal que todo mundo tem, tem o Registro Torrens. Esse Registro Torrens é um processo complicado, grande, que leva a publicação de editais para quem tem alguma dúvida quanto aquela propriedade, esse negócio todo e culmina com o juiz mandando o proprietário depositar uma importância e qualquer pretenso direito de terceiro passa a ser sobre a importância depositada, não mais sobre a propriedade. Então o que o Registro Torrens traz à propriedade? Limpa a propriedade de qualquer dúvida. A propriedade fica enxuta, livre. Agora é preciso dizer aos senhores que em São Paulo não existe Registro Torrens a longo tempo, mas em Minas existe. Certos lugares, como em Ouro Preto, por exemplo, que é um deles, que tem o Registro Torrens. Eu conheço, na verdade, Registro Torrens de Ouro Preto, de Montes Claros que é no norte de Minas, fora disso não sei qualquer outro lugar que tenha esse Registro Torrens. Registro Torrens tem no Brasil todo, é possível qualquer pessoa, qualquer brasileiro colocar sua propriedade no Registro Torrens, mas é, digamos, ter usado o Registro Torrens. Então tem, que eu conheço, só em Minas Gerais nessas duas cidades: Ouro Preto e Montes Claros, no norte de Minas.
P/1 – Que a propriedade fica sem dúvida nenhuma.
R – É. Então o Comendador Wigg pôs todas as propriedades de Miguel Burnier no Registro Torrens. Tentou, pelo histórico que vi, colocar as propriedades que tinha em Itabirito também no Registro Torrens, mas houve um problema qualquer que parece, a gente não pode ficar adivinhando também, mas em todo caso, entre ele e a mulher dele, que ele parou o Registro Torrens das propriedades em Itabirito. Eu cheguei a achar o primeiro edital, que ele chegou a publicar o primeiro edital para colocar as propriedades no Registro Torrens, mas não seguiu em frente, mas praticamente o Registro Torrens, apesar de existir nesses dois, nessas duas comarcas em Minas Gerais, é totalmente em desuso lá também fora disso.
P/2 – Onde o senhor conseguiu essas informações sobre o Comendador?
R – Eu virei traça (risos). Fui atrás de papel amarelado, papel comido. Eu não disse que tudo que ele fazia ele escrevia? É por isso que eu encontrei muita coisa.
P/2 – Arquivo que...
R – É, arquivo que você... Primeiro ele foi conservado com muito remédio contra traça, então você pega aquele negócio e já começa a ficar com o nariz entupido só de chegar perto, depois você vai folheando, tem muita poeira, mas eu consegui ler razoavelmente o que interessava.
P/1 – Isto está com a Votorantim ou está em arquivo público?
R – Não, não está em arquivo público, não.
P/1 – Não?
R – Não. Olha, eu não vou teimar que esteja comigo porque eu me lembro que conversando com o procurador da Siderúrgica Barra Mansa na época lá em Ouro Preto eu falei no Registro Torrens e ele pediu os livros. Eu entreguei a ele os livros. Agora, eu no momento, eu tenho que ver o meu arquivo, porque eu tenho um arquivo também, que demonstra se está comigo ou não. Eu sou muito cuidadoso também com esse negócio, então eu examinando o arquivo eu posso dizer se está comigo ou não, ou não voltou.
P/1 – Esses são os diários do...
R – Cada livro é um calhamaço de todo tamanho.
P/1 – Isso deve ser uma fonte histórica fantástica.
R – Cada livro fantástico. De todo tamanho. Livro grande, aquele. Você já viu livro de cartório?
P/1 – Já.
R – Daquele tipo, você folheia assim, ó.
P/1 – E ele escrevia tudo, tudo...
R – Tudo escrito. Tudo escrito e copiado. Ele escrevia e tirava a cópia.
P/1 – Mas ele registrava...
R – Tinha um papel, eu sei que a escrita nos papéis, eu sei que é cópia porque os que apareceram fora os livros que me foram entregues na época para eu estudar, os papéis eram esse tipo de papel, esse papel que a gente tira cópias quando menino vai fazer uma cópia, então eu sei que é copiado e a letra dele era uma letra muito bonita, toda floreada, umas palavras grandes e tal, então eu sei disso.
P/1 – Ele registrava casos ou era só um registro contábil?
R – Também. Casos também.
P/1 – Casos. Ele registrava tudo?
R – Ele contava histórias, porque os terrenos são muito grandes, ele contava até história de... O camarada procurou a origem das terras, encontrou um sujeito do mato, o sujeito do mato se dizia proprietário e que estava vendendo pela importância de tanto, a coisa esparsa assim. Ele era minucioso, por isso que eu digo que ele era minucioso. Registrava tudo que passava. Eu acho que tinha mais tempo, disponibilidade de mais tempo, né?
P/2 – E qual foi o trajeto de chegada do Comendador até a Votorantim?
R – O meu trajeto foi o seguinte...
P/2 – Não, o trajeto dessas terras.
R – É, as terras lá de Miguel Burnier que eram do Comendador, porque posteriormente houve compras também, inclusive depois que eu entrei, houve compras, eram as terras do Comendador lá em Miguel Burnier e tinham terras do Comendador lá em Itabirito, e ambas continuam até hoje. Lá de Miguel Burnier a trajetória é a seguinte: é o Comendador, posteriormente a mulher do Comendador que chamava Dona Alice - Dona Alice continuou à frente da empresa do Comendador que era Usina Wigg - e quanto à origem das terras lá de Itabirito, depois eu vou dizer o encontro dessa origem, quanto às terras situadas lá em Itabirito, o Comendador fez uma sociedade que se chamava Minerações... Não, Siderúrgica... Siderúrgica Brasileiras. Era S, Siderúrgica... Siderúrgica... Ah, no momento eu não estou bem o nome total, era Brasileiras. Siderúrgicas, não sei o que, Brasileiras. Não sei se era Siderúrgica Brasileiras Reunidas, era um negócio assim. Bom, o Comendador morava em Miguel Burnier e Miguel Burnier não é muito longe do local que eu estou falando em Itabirito, não é longe, é bem perto. Então ele saía de Miguel Burnier e ia para o meio do mato, mato mesmo, porque naquele tempo não tinha nada lá e o Comendador procurava, inclusive aquele pessoal, que ele sempre teve gente vigiando, eram os vigias vigiando as terras e então ele chegava lá e tomava conhecimento das propriedades daquele pessoal rústico que morava lá, e ele ia adquirindo os terrenos. Ele mandava levantar o mapa e ele ia adquirindo já com o mapa pré-organizado. Ele ia adquirindo até adquirir tudo que ele queria ou quase tudo, digamos, que ele ia adquirindo e depois de adquirir isso, o que ele fez? Ele juntou a sociedade com outro industrial - chamava-se Trajano Viriato - e junto desse industrial ele fez essa sociedade, que era essa Mineração e Brasileiras, que eu não estou me lembrando bem corretamente o nome. Bom, então ele ia adquirindo como aumento de capital, à medida que ele ia adquirindo ele passava para a sociedade. As terras de Miguel Burnier continuaram em nome dele, salvo uma parte que a mulher dele, Dona Alice, doou uma parte das terras para a igreja local. Essa igreja é uma igreja muito bonita lá em Miguel Burnier, tem até um altar de mármore que é uma maravilha, muito bonitinha, é uma igreja de boa apresentação, como se diz. É uma igreja muito boa. Dona Alice doou a parte, uma parte circunscrita, bem detalhada, porque o Comendador tinha uma ideia muito atualizada em matéria de topografia. Ele tinha os topógrafos dele que faziam o serviço direitinho. Bom, as terras lá de Miguel Burnier, salvo isso que a Dona Alice doou, continuaram no nome do Comendador. Essas terras, esses terrenos lá de Itabirito, então o Comendador ia passando para essa empresa de mineração e juntamente com esse amigo dele, o industrial. Chegou uma certa época, os dois resolveram se separar e estabeleceram uma linha divisória no mapa: de um lado continuava com o Comendador e do outro lado passava a ser do Viriato, do Trajano Viriato. As terras que ficaram com o Comendador, depois da morte do Comendador, a Dona Alice vendeu o que existia em Miguel Burnier. Não só o Alto Forno como também as terras situadas lá em Miguel Burnier que estava em nome do Comendador Wigg. E na parte de Itabirito o Comendador continuou na sociedade porque o Trajano saiu, e posteriormente... Aí já começa a história mais atual. Em 1946, quer dizer, eu ainda não tinha entrado como advogado não, mas 1946 esta empresa que não era mais, era da Dona Alice, as ações do Comendador passaram para a Dona Alice, então parece que a empresa fez uma escritura, a empresa nessa época chamava-se Companhia de Mineração - eu hoje estou ruim para o nome dessas companhias. Companhia... É, Companhia de Mineração Serra da Moeda que é exatamente ao lado da Serra da Moeda que é a mesma empresa Minerações Brasileiras não sei o quê, é a mesma. Então vendeu para a Mineração e Usina Wigg e a viúva vendeu separadamente a parte dela, referente aos terrenos lá em Miguel Burnier para a Mineração Usina Wigg também. Então essa Mineração e Usina Wigg chegou aos terrenos a partir de 1946 para o nome da Mineração Usina Wigg, posteriormente a Siderúrgica Barra Mansa adquiriu as ações da Mineração Usina Wigg e fez a incorporação. A Mineração Usina Wigg foi incorporada na Siderúrgica Barra Mansa e aí continua até hoje. É essa a trajetória.
P/1 – Viu como tinha mais gás? (risos).
R – (Risos) É verdade. Você sabe, é uma história para mim, digamos assim, que eu sinto muito porque eu vivi, então eu sei muita minúcia, inclusive por mais estranho que pareça, eu conheço até esse pessoal do mato que mora ali perto, porque tantas vezes que eu fui lá acabei conhecendo. Conheci também os trapalhões, lá. Tem umas histórias interessantíssimas como, por exemplo, tinha um camarada - eu também não vou dizer nomes, não, porque fica chato - tinha um camarada de Belo Horizonte que resolveu uma vez que era proprietário de grande parte dessas terras. O que ele fez? Comprou arame farpado enferrujado, comprou mourão - sabe que mourão da cerca, cheio de cupim - então um belo dia amanheceu no meio do terreno uma cerca de arame farpado velha, cerca velha, mourão velho, tá? Apareceu de repente, e com aquele negócio me alertaram e eu cheguei a quem era e fui a essa pessoa, procurei, falei: “Olha, infelizmente o senhor vai ter que tirar a cerca de lá”. Nas boas maneiras, dizendo a origem, tudo com jeitinho. E ele falou: “Não, você é que está enganado, tanto é que a cerca é velha, até os mourões estão cheios de cupim, é coisa velha mesmo. Está lá no terreno há longo tempo”. Eu falei: “ô, miserável” (risos). Naquela época ainda entrei com ação contra ele. Ganhei na liminar, o juiz mandou imediatamente reintegrar na posse. E o que ele fez? Ele pegou o processo, botou debaixo do braço e sumiu, desapareceu esse processo. Desapareceu o processo mas nós estamos na posse, eu tenho uma certidão de que estamos na posse, não tem problema nenhum. Mas foi coisa muito antiga, procurei esse processo de todo jeito, mas não houve prejuízo porque continuamos na posse e a qualquer momento eu provo que me foi dada a posse e tem a escritura que demonstra que a propriedade é do cliente. Agora, esse camarada, da primeira vez eu iniciei a ação, da segunda vez que ele fez uma tentativa, ele botou uma cerca semelhante num outro local já um pouquinho mais distante e eu falei: “Ai, ai, ai, esse camarada cada vez que ele for lá eu vou ter que entrar com a ação”. Então na época eu conversei com o procurador que estava lá, procurador da Siderúrgica Barra Mansa e ele virou para mim e falou assim: “O que você acha se a gente fizer desaparecer essa cerca?” Eu falei: “Topo. Ele não é besta de queixar a ninguém, porque a propriedade é nossa”. Arrancou a cerca e guardou a cerca lá num cantinho. Daí a pouco não é que o sujeito vem atrás de mim? Ele falou: “Ah, vocês arrancaram a minha cerca lá!” Eu falei: “Mas só que a cerca por acaso estava dentro do terreno da minha cliente”. “Ah, mas eu vou dar queixa” (risos). “Pode dar, esteja à vontade” (risos). Essas coisas acontecem, acontece e aconteceram; e não foi só uma vez não, com outras pessoas também aconteceram, mas hoje está tudo bem.
P/1 – Eu queria que o senhor falasse um pouquinho também, para finalizar, como foi essa sensação de falar um pouco dessas histórias, o que o senhor sentiu dessa iniciativa da Votorantim?
R – Olha, para mim é uma grande satisfação por causa da estima que eu tenho, sobretudo - e apesar de eu não me considerar nenhum gênio nem nada, eu acho que em parte há um reconhecimento de trabalho da minha parte também. Então eu só poderia ficar alegre como estou realmente. Imediatamente quando eu recebi a carta eu entrei em contato com a Cristina a esse respeito e até a Cristina falou: “Ah, o pessoal já adiou uma vez, nós vamos ver aí e tal”. Então está certo, quer dizer, uma semana depois eu estou aqui. Então foi muita satisfação, muita alegria da minha parte. Para mim é realmente um, digamos assim, uma espécie de condecoração.
P/1 – Mais alguma coisa que nós não perguntamos e que o senhor gostaria de falar?
R – Olha, eu, para te falar a verdade, é tanta história que a gente poderia contar, mas a gente tem é medo de passar a não ter nenhum interesse porque eu já contei tantas coisas que continuar contando fica parecendo até que eu estou querendo abusar da paciência dos outros. Mas eu quero repetir que eu tenho muito a agradecer a empresa que fez parte da minha própria formação como advogado - e além desse agradecimento, eu quero proclamar a alegria que eu senti ao receber este chamado. Muito Obrigado.
P/1 – Nós é que agradecemos.
P/2 – Obrigado.
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