P - Então, Loisi, começando pelas formalidades, por favor, me diz o seu nome completo, onde você nasceu e quando você nasceu
R - Bom, meu nome é Loisi Damiani Branco de Andrade, pequenininho, né? Eu tenho 28 anos. Precisa dizer a data? Vinte e oito, nasci em Niterói e moro em Niterói no estado do Rio.
P - Você morou a vida inteira em Niterói?
R - Não. Só nasci em Niterói. Fui criada no interior do Rio, numa cidade pequena. A família da minha mãe toda mora lá. Fui criada numa cidade de interior. Quando eu fiz 18 anos, quando terminei o colégio, e fui pra faculdade eu voltei pra morar em Niterói. Voltei pra morar sozinha.
P - Como chama a cidade?
R - Silva Jardim.
P - Silva Jardim.
R - Isso. É interior do Rio.
P - Vamos falar um pouco sobre isso.
R - Vamos.
P - Você brincava de que?
R - De tudo De tudo na rua, descalça na rua, de tudo que tinha direito.
P - Era meio roça? Meio rural?
R - Era uma cidade pequena, assim, não chega a ser uma roça porque é muito perto da cidade grande. É uma hora e meia do Rio só, da capital. Não é uma roça, mas é um lugar muito pequeno. Hoje em dia tem 28 mil habitantes, trinta mil no máximo. Uma cidade de interior pequena que tem todas as características de uma cidade de interior. Então tudo que se pode imaginar eu fiz na minha infância. Nada... Não brinquei de pipa no ventilador, não; brinquei na rua, de correr na rua.
P - Como era a sua casa?
R - Da minha família?
P - É. Tanto a sua família quanto a vida na casa também...
R - A gente sempre teve casa própria. Eu tenho uma irmã, meu pai e a minha mãe. Meu pai trabalhava fora e eu ficava mais com aminha mãe, eu minha mãe e a minha irmã. Meus primos moravam do lado, então tinha os amigos, os primos, então eu tinha uma convivência boa. Eu tinha casa própria, era tranquilo.
P - Me fala, eu quero saber mais detalhes. Quero que você me conte um pouco mais dessa sua infância mesmo, de como era a relação com a sua...
Continuar leituraP - Então, Loisi, começando pelas formalidades, por favor, me diz o seu nome completo, onde você nasceu e quando você nasceu
R - Bom, meu nome é Loisi Damiani Branco de Andrade, pequenininho, né? Eu tenho 28 anos. Precisa dizer a data? Vinte e oito, nasci em Niterói e moro em Niterói no estado do Rio.
P - Você morou a vida inteira em Niterói?
R - Não. Só nasci em Niterói. Fui criada no interior do Rio, numa cidade pequena. A família da minha mãe toda mora lá. Fui criada numa cidade de interior. Quando eu fiz 18 anos, quando terminei o colégio, e fui pra faculdade eu voltei pra morar em Niterói. Voltei pra morar sozinha.
P - Como chama a cidade?
R - Silva Jardim.
P - Silva Jardim.
R - Isso. É interior do Rio.
P - Vamos falar um pouco sobre isso.
R - Vamos.
P - Você brincava de que?
R - De tudo De tudo na rua, descalça na rua, de tudo que tinha direito.
P - Era meio roça? Meio rural?
R - Era uma cidade pequena, assim, não chega a ser uma roça porque é muito perto da cidade grande. É uma hora e meia do Rio só, da capital. Não é uma roça, mas é um lugar muito pequeno. Hoje em dia tem 28 mil habitantes, trinta mil no máximo. Uma cidade de interior pequena que tem todas as características de uma cidade de interior. Então tudo que se pode imaginar eu fiz na minha infância. Nada... Não brinquei de pipa no ventilador, não; brinquei na rua, de correr na rua.
P - Como era a sua casa?
R - Da minha família?
P - É. Tanto a sua família quanto a vida na casa também...
R - A gente sempre teve casa própria. Eu tenho uma irmã, meu pai e a minha mãe. Meu pai trabalhava fora e eu ficava mais com aminha mãe, eu minha mãe e a minha irmã. Meus primos moravam do lado, então tinha os amigos, os primos, então eu tinha uma convivência boa. Eu tinha casa própria, era tranquilo.
P - Me fala, eu quero saber mais detalhes. Quero que você me conte um pouco mais dessa sua infância mesmo, de como era a relação com a sua família...
R - Bom, meu pai trabalhava fora e a minha mãe cuidava da casa, era dona de casa, cuidava da gente. A gente via o meu pai de 15 em 15 dias, ele trabalhava fora em outra cidade. Ele era gerente de uma... Meu pai é do Sul. Ele veio do Paraná pra servir o Exército e casou aqui no Rio, teve uma família, depois ele se separou e depois de uns sete oito anos mais ou menos, ele conheceu a minha mãe lá no interior e foi morar lá. Depois de um tempo ele foi trabalhar nesses restaurantes, numa gerência de um restaurante. O restaurante era numa estrada, sabe, nesses restaurantes de estrada? Então ele foi trabalhar nesse restaurante e ficava lá, fora. Eu a gente convivia geralmente, praticamente fui criada só com a minha mãe, né? Ele ia em casa, ficava dois dias e voltava. Mas a convivência foi muito boa com aminha mãe. Até hoje a gente tem uma convivência muito boa.
P - Com qual dos dois você se identifica mais? Você parece mais com quem?
R - Fisicamente e a personalidade eu sou a cópia da minha mãe. Mas eu tenho uma relação muito de amiga com o meu pai. Com os dois, sabe? Eu sou uma pessoa muito família, então eu tenho uma relação com os dois de muito contato. Mas eu sou a cópia da minha mãe, em tudo, assim, o jeito, fisicamente. Todo mundo que me conhece acha que eu sou a cópia da minha mãe.
P - Mas vocês sempre tiveram essa coisa de serem muito amigos ou veio com a vida adulta?
R - Sempre, sempre. Nesse momento que a gente tinha sozinha... Eu digo sempre que essa relação que eu tenho com o esporte foi por causa do meu pai porque eu tinha dois dias pra conviver com o meu pai e homem gosta de futebol, gosta de esportes. Então esse momento que eu tinha com ele, dois dias, eu queria ficar com ele, né? Queria estar perto dele. Se ele tivesse vendo um jogo, eu sentava perto dele pra ver o jogo, na TV, por exemplo; se ele fosse algum lugar assistir alguma atividade esportiva... Ele sempre quis passar essa questão pra gente de atividade física, por isso que eu acabei me envolvendo com isso. E eu aprendi a gostar de futebol, por exemplo. Meus amigos acham que eu sou homem porque eu gosto tanto de futebol, entendo tanto de futebol que eles acham que eu sou homem, brincam “só falta ser homem”. Porque eu conheço mais que muitos meninos, até. Eu tinha que aproveitar aqueles momentos que eu tinha com o meu pai. Eu entendia que nesse momento se eu ficasse perto dele, era mais um momento que eu tinha com ele. Com isso acompanhava ele e acabei gostando disso.
P - Você tinha quantos anos quando isso começou?
R - Ah, eu tinha uns sete oito anos. Começou assim essa questão. Pra eu ter consciência disso eu acho que foi por aí. Não sei se antes rolava, mas foi por aí.
P - Você joga bola?
R - Não, não jogo.
P - Mas acompanha?
R - Acompanho.
P - E qual é o teu esporte, então? O que você gosta de fazer como exercício?
R - Então, vamos lá. Eu sempre gostei de todos, todos sem nenhuma exceção. Eu sempre joguei tudo, nunca fui boa em nada, entendeu? Eu sempre jogava, também não era a última escolhida, não. Eu sempre gostei de todos, eu conheço todos, todas as regras. Sei de tudo e por isso que eu escolhi o direcionamento da minha área profissional por causa disso, entendeu? Mas, assim, eu não sei te dizer que eu gosto mais naquele ou eu gosto mais desse. Eu gosto de todos
P - Vamos enveredar pro lado profissional, então? Me diz, como é que foi essa... Como você construiu esse trabalho junto com o esporte? Como surgiu e como você foi fazendo a sua trajetória?
R - Vamos lá. Eu, desde o colégio, sempre soube pelo meu contato pelo esporte, por essa minha afinidade com o esporte, eu sempre soube que eu queria fazer educação física. Eu estudava educação física na universidade. Eu tenho outra afinidade muito forte com dança. Eu sou bailarina e danço desde pequena, desde novinha. Faço jazz, balezinho. Nunca fiz balé, mas fiz jazz desde pequena, fiz todo tipo de dança e eu gosto de dança. Então eu tenho duas paixões: a dança e a educação física. Só que quando eu fui fazer faculdade, eu já tinha uma certa consciência profissional disso, de carreira e pensei: se eu fizer faculdade de dança eu vou ficar limitada a trabalhar com dança; eu vou fazer educação física porque a educação física me dá habilitação pra trabalhar com danças e me dá habilitação a trabalhar com qualquer outro esporte, qualquer área do esporte ou atividade física, pra ser mais ampla. Não só com o esporte, mas com a atividade física de uma maneira geral. Eu fui... Então, morava lá no interior “quero estudar, isso aqui é muito pouco pra mim, é muito pequeno e eu quero correr atrás do que eu quero. Aqui não tem trabalho, não tem...”. A dificuldade de uma cidade pequena é essa. Minha mãe: “vai pra onde?”. Sempre me deram muito apoio, não posso negar. “Quer ir pra onde? Vai estudar, vai fazer faculdade onde? Em Niterói?” Eu sempre tive contato com Niterói, vamos pra Niterói. “Vai morar sozinha?” “Vou morar sozinha.” “Vamos alugar uma república, vamos dividir apartamento com alguém”, foi isso que eu sempre fiz. Fui, estudei os cinco anos, terminei e me forme em 2004. Não quero voltar pro interior, vou ficar aqui. Consegui um estágio. O primeiro estágio que eu consegui pra me ajudar a me manter fora de casa, eu dividia apartamento pra poder morar fora, foi um estágio, vou procurar um estágio. Eu vi um estágio de uma amiga minha da faculdade: “Ah, faço estágio na Fundação Gol de Letra”, tinha uma Fundação Gol de Letra em Niterói. Eu falei “ah, Dani, quando tiver uma vaga você me fala que eu sou doida pra conhecer esse projeto” “não, claro”. Apareceu a vaga, foi só eu falar com ela e apareceu a vaga. Fui pra lá e me apaixonei: me apaixonei pela Gol de Letra, me apaixonei pelo esporte social, me apaixonei por aquilo tudo Eu tinha a visão do esporte, mas quando eu vi o esporte focado como ferramenta de inclusão, de educação, meu olhinho brilhava, sabe? Eu sou muito apaixonada por criança também. Então eu tenho essa... Fiquei apaixonada. Aí eu falei “meu foco é a área social da educação física, então vamos lá”, aí investi nessa área, fiquei dois anos, até me formar, na Gol de Letra. Meus dois últimos anos de graduação foram lá; lá eu fiz todos os contatos que você possa imaginar, profissionais. Quando você faz um bom, trabalho, as pessoas levam isso. Você se destaca, eu acredito que eu tenha feito um bom trabalho. E a professora que era minha supervisora já estava num outro projeto também, que é o projeto que eu estou até hoje, que é o Instituto Fernanda Keller. Então eu tenho dois trabalhos hoje: eu trabalho como professora de dança – dou aula de balé e jazz numa companhia que chama Clarice Maia, que era professora de dança da Fundação Gol de Letra e que eu conheci a Gol de letra; e eu trabalho no Instituto Fernanda Keller, que a coordenadora de projetos é a Priscila (Rossi?), que era minha supervisora na Gol de Letra. Então, assim, tudo foi me levando junto e hoje estou na coordenação do Instituto Fernanda Keller coordenando o núcleo. Comecei dando aula, depois passei pra coordenação de administração mais interna, sem nenhum contato com as crianças na parte mais burocrática. Fui pra lá, conheci a história toda, conheci tudo que tem relação com a execução da coisa, né? Aí agora... “Eu preciso ver gente, eu preciso ver aula, turma, preciso ver aula acontecendo”, fui coordenar o núcleo, entendeu? Aí fui fazer pós graduação, fui fazer pós-graduação em fisiologia do exercício pra poder entender as coisas, o corpo humano - a parte física - mais bem aprofundado. Eu preferi me aprofundar nisso, entendeu? Estou falando muito, né?
P - Não, você está indo bem. Fica tranquila
R - Quando eu começo, vou embora.
P - Não, é bom. Pra gente é maravilhoso, na verdade. Eu queria que você me explicasse um pouco como que é...
R - Eu te respondi o que você me perguntou?
P - sim, sim. Prosseguindo isso eu queria que você me explicasse com um pouco mais de detalhes como que é esse trabalho no Instituto Fernanda Keller. Você falou que coordena um núcleo, mas como é isso? E como vocês usam o esporte como ferramenta? Como é esse trabalho mesmo?
R - Vamos lá. Vou tentar contar um pouquinho de como surgiu o Instituto. Bom, Fernanda Keller é triatleta, a carreira dela é incontestável. Ela nasceu na cidade de Niterói. Ela criou o Instituto porque ela viu a realidade dela ao redor e não adianta você ficar olhando, vai se mexer. Ela aproveitou a imagem e a consciência social que ela tem e criou o Instituto. Eu entrei lá e o Instituto já tinha uns seis anos. O Instituto hoje tem uns 11 anos, mas quando eu cheguei lá já tinha seis anos. Ali na região de Niterói, do mesmo lado que tem um bairro com muitas mansões – a parede do morro de um lado são as mansões e do outro lado são as favelas. Então, assim, é um contraste social muito grande. Alguém precisa fazer alguma coisa para eles terem alguma oportunidade. Essa oportunidade foi surgindo através... Como que atrai as crianças pra um ambiente? E todo mundo começou a ver que o esporte é o que atrai, é um atrativo, é uma ferramenta de atração. Você tem que atrair, tem que ter um estímulo pra criança ir até lá. A gente então criou... “Vamos usar, então, o que a Fernanda tem de conhecimento”, ela deve ter pensado assim, né? “O que eu tenho de conhecimento é o triátlon.” E a cidade propicia muito a prática do triátlon porque tem as estradas, tem a orla toda da praia, tem o mar pra nadar, tem um espaço pra correr, tem uma ciclovia na cidade inteira. Então você pode andar a cidade inteira de bicicleta, então, assim, vamos usar isso que a gente tem. E até hoje já foram de inscrições nesses dez anos quase três mil crianças, que já passaram por lá. Atualmente a gente atende umas 450, mais ou menos, em dois turnos diferentes, manhã e tarde, no horário contrário ao da escola, sempre. Antes a gente tinha outro núcleo, que funcionava na Escola de Samba da Viradouro. Só que o presidente da escola aqui convidou a Fernanda pra fazer um núcleo lá. Faleceu e tal, e quando mudou a estrutura toda de presidente, aí eles estruturaram a equipe lá e de repente não quiseram o projeto lá dentro e a gente tem que respeitar a posição também. A gente saiu e continuou onde a gente estava. Tem dois núcleos agora: um que funciona dentro de um quartel do exército – que tem uma área de praia e que a gente usa pra fazer as atividades no mar, de ciclismo e de corrida também – e tem um outro especo, que é esse que eu coordeno, que funciona a parte de natação. Na verdade, todas as crianças passam pelos dois espaços. Tem uma pessoa que coordena um espaço e outra pessoa pra coordenar o outro espaço, ao mesmo tempo eles estão funcionando. Eu fico nessa parte de coordenar os professores, a equipe, tudo que eles precisam pra que as aulas funcionem, né? Porque alguém tem que estar por trás pra ajudar a resolver isso: a relação com os pais, eu faço a relação com os pais; com as crianças antes das aulas começarem, porque enquanto as aulas estão acontecendo, eles estão com uma relação com o professor. É importante uma pessoa que tenha uma vivência com esporte, que tenha uma consciência social, que saiba o que está falando pra falar com eles sobre isso também. É diferente ter uma pessoa, contratar uma secretária, uma pessoa de administração. Não que essa pessoa não possa ter uma visão, mas é um plus, né? Uma pessoa que tem uma relação...
P - Sobre isso, então, contato com gente. Como você falou, você tem contato com os professores, contato com os pais, deve ter contato com a organização do clube, com o espaço e também com os jovens. Tem contato com muita gente e com essa proposta do esporte como transformação. Eu quero que você me conte alguma história de alguma pessoa, algumas dessas - pode ser qualquer uma delas, não necessariamente com um jovem, pode ser de um professor ou um pai – mas alguém que foi transformado, mas alguém que...
R - Que eu percebi que essa transformação aconteceu.
P - Isso. Que você acompanhou alguma coisa, que por causa do esporte você teve ali uma resposta no ser humano.
R - Tem uma menina que está no projeto desde que o projeto começou, o nome dela é Carla. Ela mora na frente da comunidade, onde tem o espaço da piscina que a gente usa, que é a comunidade (Preventório?). É uma favela, mas nessa favela não tem tráfico, mas tem todas as características e dificuldades que uma favela tem. Só que por umas questões lá deles, de uma pessoa que domina a favela, não deixou que entrasse o tráfico ali. Não sei, é um domínio, a pessoa tem um domínio sobre aquela área, isso pode ser positivo ou negativo, eu não sei, né? Mas ela não deixou o tráfico fazer parte lá daquela região. Essa menina Carla, ela começou no projeto desde novinha. Ela começou nadando, correndo e pedalando. Ela não saiu do projeto, freqüenta o projeto até hoje. Ela tem acho que uns 19 anos hoje, ela já foi da equipe de competição e participa de todas as... Porque no projeto tem uma equipe de competição, né? A gente não tem esse foco. O foco não é atividade de competição, mas já que essas crianças e adolescentes chegam nessa faixa etária e tem um desempenho bom, a gente vai federar esses adolescentes. Eles vão ser federados e participarão das competições que quiserem. Eles vão ter o treinamento pra isso e não necessariamente vão ter obrigação de ganhar medalha, de trazer medalha, de estar bem. Mas eles têm se destacado e já que eles têm esse talento, a gente vai apoiar.
P - Mas e a Carla?
R - Aí a Carla foi, participou das competições, ela se destacou e estava no ranking como a primeira. Então, assim, ela não tinha oportunidade nenhuma onde ela estava. Ela ia pra ali porque era na frente da casa dela, ela passava o dia inteiro em casa sozinha. Ela ia pro projeto, ficava lá o dia inteiro, treinava e ela hoje... Ela ia sair do projeto porque ela tem 18 anos e ela tem de correr atrás da vida dela. A gente batalhou, conseguiu uma bolsa numa faculdade pra ela continuar treinando. Ela está treinando, hoje é estagiária do projeto e estuda de graça numa faculdade, coisa que ela não ia ter condição de fazer. Ela hoje é uma estagiária do projeto, ela vai se tornar uma professora, com certeza. Estou só dando um exemplo dela, que é um exemplo que veio na minha cabeça, porque ela é uma pessoa que cresceu, viveu dentro do projeto e ela pode fazer com que isso aconteça com outras crianças. Não que todas que estão ali tenham que fazer parte do Instituto, mas, assim... É o exemplo que veio na minha cabeça na hora. Você queria uma coisa mais forte, né?
P - Não, não. Bacana...
R - Foi o que veio na minha cabeça. Tem vários, mas foi o que veio na minha cabeça agora. Só para comparar, tem outra menina que mora numa outra região. Essa é a Rafaela, ela é um talento, a menina pode virar uma Fernanda Keller daqui a um tempo. Ela não está no projeto esse ano porque ela tem que trabalhar e ela ainda não está em idade de universidade. A Carla, a gente deu sorte, porque a Carla estudou, fez o terceiro ano, fez vestibular, passou e vai estudar. Mas a Rafaela ainda não chegou nessa fase, ela ainda não terminou o ensino médio. Então ela largou o projeto, parou de treinar e está trabalhando no McDonalds. Nossos dois melhores atletas estão trabalhando. Então, assim, a gente ainda não teve uma chance de fazer com que ela fique no projeto não trabalhe. Essa é uma outra proposta que a gente tem que pensar.
P - Então para concluir, se você tiver que colocar um objetivo ou uma meta o que você gostaria de ver concretizado, de ver realizado de fato no se trabalho?
R - Eu acho, assim, que é muito fácil você abrir a porta de um projeto e chamar as crianças pra brincar, pra jogar, pra treinar. Não estou desmerecendo isso. Mas no exemplo da Rafaela, eu me sinto impotente enquanto pessoa. Não enquanto profissional, mas eu me senti um pouco impotente porque eu dei todas as oportunidades que eu podia pra ela, ela aproveitou e num momento desse eu larguei ela ali, joguei ela no mundo. Claro que ela já é outra pessoa porque tudo que ela construiu na vida do esporte, dentro do projeto que ela teve com a disciplina, com todos os valores que o esporte colocou na vida dela, chegou um momento que ela precisou sair um pouco da poesia e ir pro real. Ela precisou ir trabalhar para ajudar a sustentar a casa dela, pra ajudar o pai e a mãe que moram no morro a colocar umas coisas em casa, que é uma questão de sobrevivência. Então na hora que apareceu esse trabalho, ela foi. Não que esse trabalho não vai ser digno, só que eu tenho a impressão e todo mundo que está dentro do projeto tem a impressão de que ela tinha rumos melhores pra seguir. Oportunidades maiores e melhores Eu me senti assim, um pouco impotente porque eu acredito que ela tem muito potencial. Não que ela não possa ainda conquistar isso, mas a idéia é você colocar uma sementinha lá onde elas estão. A partir daí ficou ali, eu tenho certeza que ficou. Só que eu acho que você tem que direcionar melhor para que depois, na hora que ela ficar na vida solta, ela saiba aproveitar melhor as oportunidades, entendeu? Respondia sua pergunta?
P - Sim, sim. Então é isso. Muito obrigado, Loisi.
R - De nada.
P - Obrigada pela conversa.
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